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Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 1 EMBRIOLOGIA DO APARELHO URINÁRIO - O sistema urogenital se desenvolve a partir do mesoderma intermediário, que se estende ao longo do corpo do embrião; - Uma elevação desse mesoderma, chamada de crista urogenital, forma-se em cada lado da aorta dorsal; - A parte da crista que origina o sistema urinário é o sistema urinário é a crista nefrogênica (porção lateral), e a que origina o sistema genital é a crista gonadal (porção medial); - O sistema urinário começa a se desenvolver na 4ª semana e termina na 38º; FORMAÇÃO DOS RINS - Formam-se três sistemas renais que se sobrepõe craniocaudal nos embriões humanos: o Pronefro: rudimentar e as estruturas nunca são funcionais; o Mesonefro: bem desenvolvido e funciona brevemente; o Metanefro: torna-se os rins permanentes; Pronefro - No início da 4ª semana, a crista nefrogênica (que surgiu do mesoderma intermediário), na altura dos somitos cervicais, diferencia-se no pronefron; - São estruturas bilaterais e não funcionais na região do pescoço, formado por grupos de células e estruturas tubulares; - Os ductos prónéfricos se dirigem caudalmente e se abrem na cloaca; - O pronefro logo se degenera, mas a maioria dos ductos pronéfricos persiste e é utilizada pelos próximos rins; Mesonefro - Forma-se no fim da 4ª semana, caudal ao pronefro. Permanecem como rins provisórios por cerca de 4 semanas, até os rins permanentes se desenvolverem; - É o primeiro rim funcional, com glomérulos, túbulos mesonéfricos e um ducto mesonéfrico que drena a urina embrionária para dentro da cloaca em divisão; - Os túbulos mesonéfricos se abrem em ductos mesonéfricos (que antes eras os ductos pronéfricos); - O mesonefro degenera no final do primeiro trimestre, mas não totalmente. Essa degeneração é diferente entre homens e mulheres: Obs: nos homens os ductos e túbulos mesonéfricos permanecem e se diferenciam nos túbulos e ductos do aparelho genital masculino. Ex: túbulos mesonéfricos → túbulos eferentes; ducto mesonéfrico → ducto deferente; - A porção caudal do mesonefro sofre uma evaginação na 5ª semana, formando o broto uretérico; Metanefro - É o primórdio dos rins permanentes. Começa a se desenvolver no final da 5ª semana e passa a funcionar cerca de 4 semanas depois; - A formação da urina continua ao longo de toda a vida fetal, sendo excretada no líquido amniótico → os produtos da excreção são transferidos pela membrana placentária para o sangue materno, para eliminação pelos rins da mãe; - Os rins permanentes surgem a partir de duas fontes: o BROTO URETÉRICO ou divertículo metanéfrico, que se forma a partir de uma evaginação do ducto mesonéfrico; o BLASTEMA METANEFROGÊNICO ou massa metanéfrica se forma a partir da parte caudal da crista nefrogênica, induzida pelo broto uretérico; - À medida que se alonga, o broto uretérico penetra no blastema metanéfrico de mesoderma intermediário; - O pedículo do broto se torna o ureter e sua extremidade cranial passa por diversas ramificações que se diferenciam em túbulos coletores do metanefro; - As 4 primeiras gerações de túbulos aumentam e confluem para formar os cálices maiores, e as 4 gerações seguintes coalescem para formar os cálices menores. As demais gerações formam os túbulos coletores; - A extremidade de cada túbulo coletor arqueado induz células mesenquimais do blastema metanefrogênico a Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 2 formarem vesículas metanéfricas, que se alongam e se tornam os túbulos metanéfricos; - Conforme os túbulos metanéfricos se desenvolvem, suas extremidades proximais são invaginadas pelos glomérulos. Os túbulos se diferenciam em TCP, TCD, alça néfrica e cápsula de Bowman; - Assim, forma-se o túbulo urinífero, que tem duas partes embriologicamente diferentes: o Um néfron, derivado do blastema metanefrogênico; o Um sistema coletor renal, derivado do broto uretérico; - O broto uretérico e o blastema matanefrogênico interagem e induzem um ao outro → indução recíproca; - O aumento no tamanho do rim após o nascimento resulta do alongamento dos túbulos contorcidos proximais e aumento do tecido intersticial; - A filtração glomerular começar na 9ª semana fetal, mas a maturação funcional dos rins e o aumento da taxa de filtração ocorrem após o nascimento; Obs: os rins fetais são subdivididos em lobos, que desaparecem na infância, à medida que os néfrons aumentam e crescem; Ascensão renal - Inicialmente, os rins definitivos ficam próximos um ao outro na região pélvica. Devido ao crescimento do abdome e da pelve do embrião no sentido caudal, os rins ascendem para a região abdominal, logo abaixo das glândulas adrenais – atingindo a posição adulta na 9ª semana de desenvolvimento; - Nessa ascensão, o rim sofre uma rotação medial de quase 90° → por isso o hilo renal fica medial em relação às bordas laterais dos rins; - Conforme os rins ascendem, as artérias renais mudam de origem, que, inicialmente, é nas artérias ilíacas comuns. À medida que sobem, os rins passam a receber o suprimento sanguíneo da extremidade distal da aorta. Assim, outras artérias se formam e as antigas entram em degeneração; - Quando alcançam o nível mais alto, as artérias renais vêm a aorta abdominal. Normalmente, os ramos caudais sofrem involução e desaparecem; MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS ❖ Agenesia renal Unilateral - A agenesia renal unilateral é relativamente comum (1 a cada 1000 recém-nascidos), sendo os homens mais afetados que as mulheres; - Geralmente, o rim esquerdo que está ausente; - A ausência unilateral de um rim frequentemente não causa sintomas e não é descoberta na infância, pois o outro rim pode sofrer hipertrofia compensatória para compensar o rim em falta; - Deve-se suspeitar da agenesia renal unilateral em crianças com uma única artéria umbilical; Bilateral - Já a agenesia renal bilateral é associada ao oligoidrâmnio (pouca qtd. de líquido amniótico), porque pouca ou nenhuma urina é excretada na cavidade amniótica; - É incompatível com a vida pós-natal devido à hipoplasia pulmonar associada. A maioria das crianças morre pouco depois do nascimento ou nos primeiros meses de vida; - Tem uma aparência facial característica: olhos bem separados e com pregas epicânticas, orelhas baixas, nariz largo e achatado, queixo recuado e defeitos nos membros; - A ausência dos rins ocorre quando os brotos uretéricos não se desenvolvem ou os primórdios dos ureteres degeneram, pois se os brotos não penetram no blastema Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 3 metanefrogênico, nenhum néfron é induzido a se desenvolver; ❖ Rins ectópicos - Um ou ambos os rins podem estar em uma posição anormal. A maioria dos rins ectópicos se localiza na pelve, mas alguns podem estar na parte inferior do abdome; - Rins pélvicos e outras formas de ectopia resultam da não- ascensão dos rins; - Com frequência, a rotação anormal dos rins está associada a rins ectópicos (ex: hilo na parte posterior, quando deveria ser medial); - Os rins pélvicos ficam próximos um do outro e podem se fundir para formar um rim discóide (“panqueca”). Os rins ectópicos recebem suprimento sanguíneo de vasos próximos a eles (art. Ilíacas interna ou externa e/ou aorta). Frequentemente, são supridos por vários vasos; - Algumas vezes, um rim cruza para o outro lado, resultando em uma ectopia renal cruzada – ambos os rins no mesmo lado do abdome. Essa ectopia pode ser com ou sem fusão; - Quando há fusão, temos o rim fundido, quando os rins em desenvolvimento se fundem quando estão na pelve, e um rim “ascende” para sua posição normal, levando o outro consigo; ❖ Rim em ferradura - Os polos dos rins são fusionados (geralmente os polos inferiores). Esse grande rim em forma de U geralmente fica no hipogástrio, anterioràs vértebras lombares inferiores; - A ascensão dos rins fusionados é impedida porque eles ficam presos pela raiz da artéria mesentérica inferior; - O rim em ferradura comumente não apresenta sintomas, pois seu sistema coletor se desenvolve normalmente e os ureteres se abrem na bexiga; - Porém, se o fluxo urinário é impedido, podem aparecer sinais e sintomas de obstrução e/ou infecção. Essa anomalia aparece em 7% das pessoas com síndrome de Turner; ❖ Estenose da junção ureterovesical (JUV) - É uma constrição no ureter junto a entrada na bexiga, causando obstrução total ou parcial ao fluxo da urina para a bexiga; - Esse estreitamento pode ser tanto intrínseco (na própria junção) quanto extrínseco (por compressão externa); - É a causa de ureterohidronefrose (acúmulo de urina nos rins e ureteres) em crianças; - O diagnóstico é feito pela uretrocistografia e tomografia computadorizada com contraste venoso, ou na vida pós- natal após quadros repetidos de infecção urinária ou hematúria; - A correção cirúrgica busca aliviar a obstrução e preservar as funções dos rins; ❖ Estenose de junção ureteropiélica (JUP) - Consiste no estreitamento da junção entre a pelve renal e o ureter, impedindo a saída da urina em direção à bexiga e, logo, causando um acúmulo de urina do rim (e consequente dilatação desse órgão); - Os sintomas típicos são a dor lombar do tipo cólica com períodos de melhora e piora associada a náuseas, vômitos ou infecções urinárias de repetição; - A JUP pode acometer até 1 em cada 1000 pessoas, podendo ser primária (malformação congênita dos rins) ou secundária (cicatrização exagerada da região após a passagem de um cálculo); - O diagnóstico pode ser feito por USG (levanta suspeita diagnóstica), tomografia computadorizada e cintilografia renal. O achado mais comum é a dilatação de um dos rins; - O tratamento é por meio da cirurgia Pieloplastia, que retira a região do ureter obstruída e reconstrói o trato urinário; Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 4 ❖ Refluxo vesicoureteral (RVU) - Normalmente, a porção intravesical do ureter tem disposição oblíqua, e fica comprimida durante a micção pela contração do músculo detrusor, impedindo o retorno da urina para os ureteres (mecanismo valvar); - O RVU é a passagem de conteúdo vesical para o ureter, principalmente durante a micção, por falência da válvula ureterovesical, quando há aumento da pressão intravesical; - Isso facilita o acesso de bactérias do TUI para o TUS, e mantém urina residual na bexiga; - O RVU pode ser de 2 tipos: o PRIMÁRIO → anomalia congênita da junção vesicoureteral, onde a deficiência da musculatura no trajeto intravesical do ureter leva a um mecanismo valvular incompetente; o SECUNDÁRIO → causada por fatores ↑ a pressão vesical, ultrapassando os limites do sistema valvular da junção ureterovesical, como bexiga neurogênica e instabilidade detrusora; - A suspeita diagnóstica existe quando há infecção urinária e febre. Para confirmar o diagnóstico, realiza-se uma radiografia da bexiga e uretra, chamada de uretrocistografia miccional (consiste em colocar substância visível ao raio x (contraste) dentro da bexiga e observar a saída da urina (micção)). Caso haja subida do contraste para um ou ambos ureteres ou rins, conforma-se o diagnóstico; - Pode ser classificado em graus: o Grau I – Refluxo só para o ureter; o Grau II – Refluxo até o rim, sem causar dilatação renal ou ureteral; o Grau III – Refluxo até o rim, causando pouca dilatação renal; o Grau IV– Refluxo até o rim, causando moderada dilatação renal; o Grau V– Refluxo até o rim, causando intensa dilatação renal e tortuosidade dos ureteres; ❖ Doença Cística do Rim - A doença policística renal autossômica recessiva é quando os dois rins contêm muitas centenas de pequenos cistos, que resultam em insuficiência renal. A morte ocorre pouco depois do nascimento; - A doença renal multicística displásica resulta de alterações morfológicas durante o desenvolvimento do sistema renal, e o prognóstico é bom, pois em 75% dos casos a doença é unilateral. Tem menos cistos; EXAMES DE IMAGEM o Radiografia simples; o Ultrassonografia; o Tomografia computadorizada; o Ressonância magnética; o Urografia intravenosa; o Uretrografia retrógrada; o Cistografia; IMUNIDADE DO APARELHO URINÁRIO INATA - O trato urinário é um meio estéril, com exceção do segmento distal da uretra; - O trato urinário não possui células especializadas de defesa, como o trato respiratório (que possui células ciliadas e produtoras de muco), sendo os principais atuantes na defesa: o Integridade do revestimento epitelial; o Fluxo urinário e as características da urina (alta osmolaridade, concentração de ureia e ácidos orgânicos, baixo pH e anticorpos); o Peristalse ureteral; o Mecanismos de válvula; - O epitélio urinário é fundamental na geração do processo inflamatório das mucosas, pois ele produz citocinas e quimiocinas, que recrutam leucócitos para essa região. Também produz peptídeos com ação antimicrobiana, como as defensinas, a catelicidina e as lactoferrinas, que competem com os sideróforos do microrganismo pelo ferro (nutriente essencial as bactérias uropatogênicas) - Nos homens, as secreções prostáticas possuem um alto teor de zinco (mineral com ação anti-microbiana); - O sistema inato é formado por receptores reconhecedores de padrão, como os Toll-Like (TLRs), NOD-like, RIG-like, lectinas do tipo C; - Os TLRs estão em células móveis, como macrófagos e monócitos, e em células fixas/teciduais (células do urotélio, células mesangiais e enterócitos). Os mais comuns são: TLR2 (ácido lipoteicoico ou lipoproteína), TLR3 (RNA fita dupla), TLR4 (LPS), TLR5 (flagelina), TLR9 e TLR11; - Após sua ativação, produzem mediadores inflamatórios, pela transcrição do fator de transcrição NF-kB e a proteína ativadora 1 (AP-1). Esses fatores regulam a expressão gênica de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-alfa, IL-1, Il-6, IL-8 e IL-12; Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 5 Proteína Tamm-Horsfall (THG) ou uromodulina - É uma glicoproteína uromucoide produzida pelas células tubulares do ramo ascendente espesso da alça néfrica que inibe a aderência bacteriana, pois pode se ligar à fímbria tipo 1, impedindo a interação com os receptores de uroplaquina; - É secretada na urina após a clivagem de sua molécula precursora, e seus oligossacarídeos podem se ligar a diferentes tipos de receptores; - A deposição anormal de THG pode formar cálculos renais. É um bom fator de defesa contra Escherichia coli, Staphylococcus saprophyticus, Kleibsiella pneumoniae e Proteus mirabilis; Bexiga - A bexiga tem vários mecanismos de proteção, além do fluxo de urina: o Camada de glicosaminoglicanos, que protege a superfície da bexiga e dificulta a adesão de bactérias; o Fator antibacteriano produzido pelas células do urotélio, plasmócitos da mucosa genital ou vindos da circulação; MULHERES - Nas mulheres, existe a flora normal vaginal, do períneo e da uretra, que contém microrganismos Lactobacilos (Staphylococcus coagulase negativo e Streptococcus), que formam uma barreira contra uropatógenos; - Em fase reprodutiva, o estrógeno faz o epitélio vaginal se tornar maduro e se diferenciar em células ricas em glicogênio. Os Lactobacilos metabolizam esse glicogênio em ácido láctico, gerando um pH ácido à vagina (4,5), que junto com o peróxido de hidrogênio (H2O2) e bacteriocinas (também produzidos pelos Lactobacilos), conferem a proteção natural da vagina, inibindo o crescimento de microrganismos; - Em condições normais, há competição entre os uropatógenos e a microbiota vaginal, mas como essa microbiota é sensível às alterações hormonais, ao pH e aos antibióticos, a colonização é facilitada pelo uso delese má higiene; - A presença de IgA nos fluídos vaginais é também um fator protetor, ela se liga às fímbrias tipo 1, inibindo a aderência da bactéria ao tecido uroepitelial; Obs: na gravidez, ocorre ITU devido ao aumento do útero obstruir principalmente o ureter e causar estase urinária. A dilatação do trato urinário também essa estase e favorece o crescimento bacteriano; HOMENS - Uretra: maior, longe do ânus e jato forte de urina que limpa o trato urinário; - Em idosos, a próstata tende a crescer, causando o esvaziamento incompleto da bexiga; ADAPTATIVA - Existe pouca especialização regional da imunidade adaptativa na mucosa geniturinária. A maioria são anticorpos residentes do tipo IgG produzidos por plasmócitos da mucosa genital ou vindos da circulação; - A partir da apresentação dos antígenos pelas APCs (via MHC de classe II) aos linfócitos T CD4+ naive, eles se diferenciam em dois perfis: o TH1 → Eliminação de patógenos intracelulares; produzem IFN-y (ativação de macrófagos); o TH2 → Eliminação de patógenos extracelulares; secretam IL-4, IL-5, IL-10 E IL-13 (promovem a imunidade humoral); - A imunidade humoral é a principal resposta protetora contra bactérias extracelulares. Os mecanismos efetores são: o Neutralização de suas toxinas (mediada por IgG e IgA); o Opsonização (subclasses de IgG); o Ativação da via clássica do complemento (IgM e IgG); - As APC também apresentam o antígeno aos linfócitos via MHC de classe I, ativando os linfócitos T CD 8 (citotóxicos), que destroem as células que contêm patógenos intracelulares (pois produzem perforinas e granzimas); INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO (ITU) - É definida pela presença de bacteriúria, tendo como limite mínimo definido a existência de 100 000 unidades formadoras de colônia por mililitro de urina (UFC/mL); - Representa um tipo de infecção recorrente, que acomete tanto indivíduos em comunidade, quanto indivíduos internalizados em unidades hospitalares; Classificação - Pode ser classificada quando à localização em ITU baixa (cistite) e ITU alta (pielonefrite); quanto à presença de fatores complicadores em ITU complicada* (quando há Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 6 alterações funcionais e estruturais do sistema geniturinário) e não complicada (sem comorbidades); em aguda e recorrente; e se é sintomática ou assintomática (bacteriúria assintomática); *A ITU complicada são aquelas que acontecem em pacientes com comprometimento do trato urinário ou do sistema imunológico, como obstrução urinária, retenção urinária, imunossupressão, insuficiência renal, transplante renal, gravidez e presença de corpo estranho, como cateter ou cálculo. Sinais e sintomas - Os sinais e sintomas associados à ITU incluem polaciúria, urgência miccional, disúria, alteração na coloração e no aspecto da urina (torna-se turva) e alterações no sedimento urinário, como hematúria e piúria (>10 000 piócitos/mL). Também é comum a dor abdominal na região do hipogástrio (projeção da bexiga) e dorso lombar (projeção dos rins), podendo apresentar febre; - Um paciente é considerado portador de ITU de repetição quando acometido por 3 ou mais episódios de ITU no período de doze meses; ITU baixa (cistite) → apresenta-se habitualmente com disúria, urgência miccional, polaciúria, nictúria e dor suprapúbica. A febre não é tão comum. A urina pode estar turva, pela presença de piúria, e/ou avermelhada, pela presença de sangue; ITU alta (pielonefrite) → inicia habitualmente com um quadro de cistite, sendo acompanhada de febre elevada, calafrios e dor lombar uni ou bilateral (tríade de sintomas da pielonefrite); AGENTES ETIOLÓGICOS - Os agentes etiológicos mais frequentemente envolvidos na ITU adquiridas em comunidade são, em ordem de frequência: a Escherichia coli sorogrupos O, K e H (80%), o Staphylococcus saprophyticus, espécies de Proteus e de Klebsiella, e o Enterococcus faecalis; - Já na ITU adquirida em ambiente hospitalar, há predominância das Enterobactérias, com redução na frequência da E. coli e crescimento de Proteus sp, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella sp, Enterobacter sp, Enterococcus faecalis e de fungos, com destaque para Cândida sp; ❖ Escherichia coli - Gram-negativa; anaeróbia facultativa; bacilo flagelado; família Enterobacteriaceae; - Faz parte da microbiota gastrointestinal normal dos seres humanos, auxiliando na manutenção da homeostasia da flora bacteriana no intestino; - Assim, apenas em condições especiais ela se torna patogênica, como quando as barreiras gastrointestinais são danificadas; - Liga-se ao epitélio da uretra e da bexiga; - Pode permanecer latente em grandes reservatórios bacterianos no hospedeiro e ser reativada para causar infecções no futuro; - A E. coli possui diferentes cepas, como: cepas comensais (90%), cepas patogênicas intestinais e extra-intestinais (ExPEC – “Extraintestinal Pathogenic E. coli”), que juntas, somam 10% do total; - As cepas extra-intestinais possuem genes codificadores de virulência que propiciam a colonização e a ocorrência de eventos que alteram a fisiologia hospedeira; - Produz endotoxinas (hemolisina), possui cápsula, é resistente a algumas classes de antibióticos (pois produzem beta-lactamase), sequestra fatores de crescimento e varia a produção de antígenos de superfície (evasão); - Apresenta, em sua parede celular, fímbrias do tipo I (manose sensitivos, liga-se às moléculas de manose das bactérias) e do tipo P (manose resistente, liga-se à glicopeptídeos), que permitem a adesão das bactérias às células do hospedeiro. Assim, resistem aos mecanismos de eliminação bacteriana, como o fluxo de urina e a mobilidade intestinal; - Os antibióticos para o tratamento podem ser: aminopenicilina, cefalosporinas, quinolonas, estreptomicina, ácido nalidíxico, ampicilina, cefalotina, ciprofloxacina, gentamicina, levofloxacina; ❖ Staphylococcus saprophyticus - Coco; gram-positiva; anaeróbia facultativa; imóvel; não esporuladora; não encapsulada; 0,5 a 1 mm de diâmetro; ❖ Proteus mirabilis - Gram-negativa; anaeróbio facultativo; família Enterobacteriaceae; - Comum no solo, na água, em materiais contaminados pelas fezes e no trato digestivo; - Os proteeae fazem parte da flora fecal normal e podem causar infecção em pacientes cuja flora normal foi alterada por terapia antibiótica. Os Proteeae constituem pelo menos 3 gêneros de microrganismos gram-negativos: Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 7 o Proteus: P. mirabilis, P. vulgaris, e P. myxofaciens; o Morganella: M. morganii; o Providencia: P. rettgeri, P. alcalifaciens, e P. stuartii; - É sensível a ampicilina, carbenicilina, ticarcilina, piperacilina, cefalosporinas, fluoroquinolonas, aminoglicosídeos e resistente a tetraciclinas; ❖ Pseudomonas - Gram-negativas; bacilares, ubíquas (encontradas em diversos ambientes; família Pseudomonadaceae; - Maioria das cepas tem motilidade por meio de um ou mais flagelos; - A espécie mais patógena é a Pseudomonas aeruginosa, pois causa infecções respiratórias, urinárias ou bacteremia oportunistas em pacientes hospitalizados, com cateteres ou imunodeprimidos, otite em crianças e conjuntivite em quem usa lentes; - Pessoas com diabetes, queimaduras e fibrose cística são mais vulneráveis. Podem ser tratadas com imipenem, meropenem, ciprofloxacina e gentamicina; ❖ Enterococos - Enterococcus faecalis e E. faecium; - Cocos gram-positivas; anaeróbias facultativas; - Fazem parte da flora intestinal normal, e pode causar uma variedade de infecções, como endocardite, ITU, prostatite, infecção intra-abdominal, celulite, infecção em feridas e bacteremia; ❖ Klebsiella - Bacilo gram-negativo; não móvel; capsuladas; família Enterobacteriaceae; medem de 0,5 a 5 um; ❖ Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) - “Superbactéria”encontrada em fezes, água, solo, vegetais, cereais e frutas; - É uma bactéria restrita a ambiente hospitalar, cuja característica é a produção de uma betalactamase denominada carbapenemase, que tem a propriedade de inibir a ação dos antibióticos carbapenêmicos; - Pode causar pneumonia, infecções sanguíneas, ITU,etc; VIAS DE ENTRADA BACTERIANA - As bactérias atingem o trato urinário superior por 3 vias: o Ascendente, canalicular ou urinária; o Hematogênica ou descendente; o Via linfática; VIA ASCENDENTE - É a principal via responsável pela invasão do trato urinário, ocorrendo em mais de 95% dos casos; - A maioria das bactérias que entram no trato urinário são da flora intestinal, que colonizam a uretra. Elas ascendem até a bexiga, onde inicia a multiplicação bacteriana quando há redução dos fatores locais de defesa, podendo atingir os ureteres e ascender aos rins; - Nesta migração, as bactérias podem invadir o epitélio urinário e causar resposta inflamatória em qualquer nível, que resulta em diferentes tipos ITU, de acordo com a localização anatômica; - Essa ascensão da infecção é um processo complexo, pois depende da adesão e virulência da bactéria, estrutura anatômica, resposta humoral e fatores genéticos do hospedeiro; VIA HEMATÓGENA - Trata-se de uma via menos frequente de invasão bacteriana no trato urinário (5% dos casos). É a principal via das ITUs em neonatos; - Relacionada a patógenos que causam infecções primárias em outras partes do corpo e, por meio da corrente sanguínea, atingem o sistema urinário, podendo resultar em abcessos focais renais; - As infecções podem derivar de endocardites, infecção pulmonar, septicemia e endomiometrites; - Causadas por Staphylococcus aureus, Candida spp., Salmonella spp. e Mycobacterium tuberculosis; VIA LINFÁTICA - As bactérias são transportadas pelos vasos linfáticos regionais a partir do foco séptico para o conduto torácico, podendo alcançar os rins pela corrente sanguínea; - A provável existência de conexões linfáticas indiretas entre o trato urinário inferior e o intestino favorece essa rota de contaminação; FATORES DE RISCO Gênero - Nas mulheres, a uretra mais curta e mais calibrosa, e sua vizinhança com cavidades naturalmente contaminadas favorecem a penetração de microrganismos coliformes. A aderência bacteriana também parece ser favorecida por Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 8 fatores hormonais femininos, tais como o estrógeno e a progesterona; - No homem, o líquido prostático exerce uma função protetora natural contra bactérias coliformes, pois possui função antibacteriana; Gravidez - Associa-se, predominantemente, à bacteriúria assintomática, resultado da estase urinária consequente da dilatação fisiológica dos ureteres e da pelve durante a gravidez; Obstrução urinária - Também, a partir do 2º mês de gravidez, devido ao efeito hormonal da progesterona há ↓ do peristaltismo e ↓ do tônus contrátil do músculo detrusor. A compressão pelo útero aumentado da bexiga parece não ter influência nas ITU; - Essa obstrução urinária pode ocorrer: na uretra (hiperplasia prostática), na bexiga (bexiga neurogênica, cálculos renais, etc), nos ureteres e na pelve renal (anomalias congênitas, cálculos renais, etc.); e no interior dos rins (cristais de ácido úrico); Diabetes Mellitus - Diabéticos têm maior risco de desenvolver ITU, provavelmente devido à neuropatia vesical, às lesões vasculares e ao próprio distúrbio metabólico Isquemia renal - Regiões isquêmicas dos rins são mais sujeitas a infecções, pois a redução do fluxo sanguíneo determina hipóxia e dificulta a chegada de leucócitos; ANTIBIÓTICOS BETA-LACTÂMICOS - Bacteriolíticos; têm como mecanismo de ação destruição da parede celular da bactéria, pois tem a habilidade de interferir na síntese de peptideoglicanos (componente da parede celular bacteriana), devido se ligar às proteínas ligadoras de penicilina (PLP’s) na bactéria. Ex: penicilinas (benzilpenicilina e amoxicilina), cefalosporinas (cefalexina), carbapenens e monobactans; - Inibe a enzima de transpeptidação que faz a ligação cruzada das cadeias peptídeas; - Os mecanismos de resistência bacteriana envolvem enzimas inativadoras (β-lactamases), que impedem a interação do antibiótico e a PBP-alvo, e a modificação da estrutura das PBP; o Cefalosporinas de 1ª geração: muito ativas contra cocos gram-positivos e atividade moderada contra E. coli, Proteus mirabilis e K. pneumoniae; o Cefalosporinas de 2ª geração: maior atividade contra bactérias entéricas gram-negativas; o Cefalosporinas de 3ª geração: mais potentes contra bacilos gram-negativos; o Cefalosporinas de 4ª geração: resistentes às B- lactamases e ação sobre bactérias gram-negativas; QUINOLONAS - Bactericidas; têm como mecanismo de ação a inibição de uma enzima essencial à replicação do DNA bacteriano, a DNA-girase (DNA-topoisomerase II) e DNA topoisomerase IV, que torna o DNA compacto e biologicamente ativo. Logo, quando inibida, o DNA passa a ocupar grande espaço no interior da bactéria e suas extremidades livres determinam síntese descontrolada de mRNA e, assim, de proteínas. Ex: ciprofloxacina, levofloxacina, gatifloxacina, moxifloxacina e gemifloxacina; - Ativo frente a bactérias gram-negativas (principalmente) e gram-positivas. Para muitas bactérias gram-positivas (S. aureus), a DNA topoisomerase IV é a principal inibida pelas quinolonas. Já para muitas gram-negativas (E. coli), o principal alvo é a DNA-girase; - Microorganismos: Klebsiella, Enterobacter, Proteus, E. coli, Pseudomonas, Haemophilus, Moraxella, Legionella e Staphylococcus; NITROFURANTOÍNA - Bacteriostático e bactericida; efetivo contra gram + e -; - Efeito bacteriostático: inibição da Acetil Coenzima A (interferência no ciclo de Krebs), ↓ metabolismo energético → alteração na síntese de RNAm → alteração na síntese proteica (ribossomo); - Efeito bactericida: quando em altas concentrações, pois atua no DNA bacteriano. Utilizado no tratamento da cistite, uretrite e pielonefrite; - Deve ser evitado no final da gestação e crianças com menos de 3 anos, devido ao risco de toxicidade; - Espectro de ação: E. coli, Klebsiella spp, Enterobacter spp, Enteterococcus spp, Staphylococcus saprophyticus; FOSFOMICINA - Bactericida; tem largo espectro contra germes gram- positivos e gram-negativos; - Interfere na biossíntese da parede celular bacteriana, por meio da inibição da enzima citosólica MurA, UDP-N- Laíse Weis ;) Problema 4 – Módulo 9 9 acetilglicosamina-enolpiruviltransferase, que catalisa a etapa inicial da síntese de peptideoglicano; - Também reduz a aderência da bactéria às células epiteliais urinárias. De forma semelhante, suprime os receptores do fator de ativação plaquetária nas células epiteliais respiratórias, reduzindo a adesão de Streptococcus pneumoniae e Haemophylus influenzae; - A fosfomicina pode penetrar em biofilmes e reduzir ou erradicar as bactérias destes sítios; - Usada para tratar ITU causadas por Escherichia coli ou Enterococcus faecalis. Ex: Traturil, monuril. Efeitos adversos: diarreia e náuseas; FUNÇÕES RENAIS - Os rins são conhecidos como órgãos que excretam produtos de degradação, mas eles exercem várias outras funções essenciais, como assegurar a integridade dos ossos e manter a pressão arterial; - Os rins trabalham cooperativamente e de modo interativo com outros sistemas com outros sistemas, sobretudo o cardiovascular; 1. Excreção - Os rins fazem a excreção dos produtos de degradação metabólica e de outras substâncias estranhas, que em altas concentrações podem ser prejudiciais ao corpo; - Alguns desses produtos são a ureia (proveniente das proteínas), o ácido úrico (dos ácidos nucleicos), a creatinina (da creatina muscular), a urobilina (produto da degradaçãoda hemoglobina que confere cor à urina), os metabólitos de hormônios e fármacos comuns; - Os rins podem trabalhar junto ao fígado, pois este metaboliza moléculas orgânicas em formas hidrossolúveis, que são eliminadas facilmente pelos rins; 2. Regulação do equilíbrio hidroeletrolítico - Os rins variam a excreção de eletrólitos e água para preservar essas substâncias em níveis adequados e constantes no organismo; - Os rins podem responder tanto ao aumento quanto ao déficit de água e eletrólitos no organismo. Por exemplo, se houver um ↑ de água no corpo, aumenta-se a eliminação de urina. Porém, se há pouco dessas substâncias, os rins vão reduzir ao máximo sua eliminação; 3. Regulação do volume de LEC - É resultado do equilíbrio hidroeletrolítico. Ajuda a manter o volume do LEC, do qual o plasma é um componente significativo, contribuindo para a volemia adequada e a circulação normal; 4. Eritropoetina (EPO) - A produção de hemácias pela medula óssea é estimulada pela eritropoetina (hormônio peptídico produzido nos rins no adulto, e no fígado no período embriológico); - É secretada por um grupo particular de células no córtex renal (fibroblastos peritubulares); - O estímulo para sua secreção é a ↓ pO2 no ambiente local. Além disso, como o metabolismo renal é intenso, a oxigenação renal diminui quando há anemia, que pode ser causada por hemorragia, hipoxia arterial ou fluxo sanguíneo renal inadequado; Obs: na insuficiência renal crônica, ↓ o metabolismo renal, causando ↓ consumo de O2 e, logo, ↑ oxigenação tecidual local. Isso “engana” as células secretoras de EPO, que ↓ sua secreção; por isso é um importante fator etiológico de anemia associado à doença renal crônica; 5. Produção de vitamina D - A forma ativa de vitamina D (1,25-dihidroxicitamina D), ou calcitriol, é produzida nos rins, sendo sua síntese regulada por hormônios que controlam o equilíbrio do c´lacio e do fosfato, bem como a integridade do osso; - A produção endógena começa mediante a absorção de raios UVB → agem no 7-desidrocolesterol presente na epiderme → Pré-vitamina D3 → vai se transformar na vitamina D3 (ou colecalciferol) e ser armazenada no interior dos adipócitos. Quando ocorre um aumento na demanda de Vit.D, o colecalciferol entra na corrente sanguínea até chegar no fígado, onde sofre uma hidroxilação (pela enzima 25 hidroxilase), formando a 25 hidroxicolecalciferol (calcidiol). O calcidiol então vai para os rins (no túbulo proximal) onde sofre uma segunda hidroxilação (pela enzima 1 alfa hidroxilase), formando enfim a Vit.D → 1,25 dihidroxicolecalciferol (calcitriol); - Vitamina D aumenta a reabsorção de cálcio no intestino; 6. Gliconeogênese - O SNC utiliza glicose do sangue. Sempre que o aporte de carboidratos é interrompido por muito mais que metade de um dia, o organismo começa o processo de gliconeogênese (síntese de glicose a partir de fontes diferentes de carboidratos – como aminoácidos das proteínas e glicerol dos triglicerídeos); - A maior parte da gliconeogênese ocorre no fígado, mas também pode ocorrer no rim, sobretudo após jejum prolongado;