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4 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7 2 A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO E DO LETRAMENTO NO PROCESSO EDUCACIONAL .......................................................................................................... 8 3 ABORDAGENS METODOLÓGICAS DA ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ............................................................................................................. 13 3.1 A Abordagem Sintética como Método de Alfabetização ..................................... 14 3.2 Desvendando o Alfabeto como Caminho para a Leitura ..................................... 16 3.3 Desvendando os Sons da Escrita: A Abordagem Fonética................................. 19 3.4 Trilhando os Caminhos das Sílabas: A Estratégia Silábica na Jornada de Alfabetização 21 3.5 Decifrando o Todo pelas Partes: A Abordagem Analítica na Formação de Leitores 23 3.6 A Estratégia da Palavra como Abordagem de Alfabetização .............................. 23 3.7 Construindo o Significado das Palavras: A Abordagem da Sentenciação na Alfabetização 25 3.8 A Abordagem dos Contos como Método Global de Alfabetização ...................... 25 4 PRÁTICAS METODOLÓGICAS NO ENSINO: UMA ABORDAGEM NA EDUCAÇÃO .............................................................................................................. 27 4.1 A Metodologia de Ensino Tradicional: Princípios e Práticas ............................... 27 4.2 A Metodologia Tradicional Sociointeracionista no Ensino ................................... 29 4.3 Explorando o Potencial Infinito: Metodologia Montessoriana na Educação ... Erro! Indicador não definido. 4.4 Emancipação e Transformação: A Metodologia Freiriana no Ensino como Instrumento de Mudança Social ................................................................................ 31 4.5 Construindo Saberes: A Metodologia Construtivista no Processo de Ensino- Aprendizagem ........................................................................................................... 32 4.6 Aprendendo Fazendo: A Metodologia de Ensino Ativa na Promoção do Engajamento e Autonomia dos Alunos ..................................................................... 34 5 PERSPECTIVAS SOBRE ESCRITA E LEITURA: COMPREENDENDO AS CONCEPÇÕES E ABORDAGENS ........................................................................... 36 6 A VISÃO CONTEMPORÂNEA DA EDUCAÇÃO ................................................... 40 6 7 O PAPEL DO EDUCADOR NO PROCESSO DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: DESAFIOS, RESPONSABILIDADES E CONTRIBUIÇÕES ...... 45 8 NUTRINDO A SEMENTE DO SABER: O PODER DO AMBIENTE ALFABETIZADOR NA JORNADA EDUCACIONAL .................................................. 48 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 54 7 1 INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a)! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro — quase improvável — um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 8 2 A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO E DO LETRAMENTO NO PROCESSO EDUCACIONAL A alfabetização e letramento são conceitos fundamentais no campo da educação, especialmente no que se refere ao processo de aprendizagem da leitura e escrita. A alfabetização diz respeito ao ensino e aprendizagem do sistema de escrita alfabética, envolvendo o reconhecimento e a associação dos sons da fala às letras correspondentes. Já o letramento vai além do simples domínio do código escrito, abrangendo a compreensão e utilização social da leitura e escrita em diferentes contextos. Ambos os conceitos são interdependentes e complementares, uma vez que a alfabetização proporciona as habilidades básicas necessárias para o letramento, e este, por sua vez, promove a ampliação das práticas de leitura e escrita, fomentando a participação ativa dos indivíduos na sociedade letrada. O desenvolvimento de uma sólida base em alfabetização e letramento desde os estágios iniciais da educação é crucial para o sucesso educacional e para a formação de cidadãos críticos e participativos. Veja na figura 1 a individualidade e complementaridade dois termos. Figura 1 – Alfabetização em comparação a Letramento Fonte: https://shre.ink/HHfH 9 Segundo o dicionário Houaiss (2009), alfabetização é: “1 — Iniciação no uso do sistema ortográfico. 2 — Ato de propagar o ensino ou difusão das primeiras letras.” Desta forma, podemos dizer que, a alfabetização é a ação de ensinar/aprender a ler e escrever. É o processo pelo qual as crianças aprendem a decodificar os elementos que compõem a escrita. Essa decodificação inclui a memorização de letras, a identificação delas e a ligação de sílabas. Segundo Soares (2004), a alfabetização consiste no processo de adquirir e internalizar o sistema de escrita. Além disso, ela engloba um conjunto de habilidades relacionadas ao uso da leitura e da escrita em contextos sociais específicos. O autor acrescenta que, para se inserir e participar plenamente no mundo do conhecimento, é necessário que o indivíduo desenvolva duas habilidades distintas. A primeira diz respeito ao domínio do sistema alfabético e ortográfico, adquirido durante o processo de alfabetização. A segunda está relacionada ao desenvolvimento de habilidades e competências para utilizar a escrita de forma adequada em diversas situações e contextos, o que é alcançado por meio do letramento. Seguindo a mesma vertente, Freire (1983) afirma que a alfabetização é um ato criador, no qual o sujeito é agente da aprendizagem enquanto vai aprendendo e compreendendo a leitura e a escrita. Segundo ele, esse processo não se dá de forma mecânica ou desvinculada de um universo existencial, ele exige uma atitude e uma postura de criação e recriação. Freire (1991), conclui que apenas dominar a escrita não é o bastante, é indispensável inserir o sujeito nesse mundo para desenvolver uma leitura crítica das relações sociais. Assim, a alfabetização é um processo de aprendizagem onde os indivíduos desenvolvem habilidades de escrita e leitura, enquanto o letramento envolve a função social da alfabetização. São processos complexos, mas devem ser combinados, talvez seja o maior desafio que os alfabetizadores enfrentam. Já o letramento é muito mais profundo do que a alfabetização, corresponde à interpretação e ao domínio da linguagem, não se restringindo a codificação de palavras. Quando um aluno consegue entender o texto, contar histórias, falar com clareza e se expressar com eficácia por meio das palavras que usa, ele se torna uma pessoa considerada letrada. Portanto, letramento, segundo seus defensores, como Soares (2004), por exemplo, refere-se à apropriação da leitura e da escrita para uso social, trazendo consequências (políticas, sociais, econômicas, culturais)para 10 indivíduos e grupos que se apropriam da escrita, fazendo com que esta se torne parte de suas vidas como meio de expressão e comunicação. Efetivamente, o conceito de letramento e alfabetização denota duas dimensões distintas, embora intrinsecamente aplicadas, no âmbito do processo educacional. A alfabetização compreende o aprendizado fundamental da leitura e escrita, visando ao domínio do sistema alfabético, incluindo a correspondência entre os trilhos da linguagem oral e as letras correspondentes. No entanto, é essencial destacar que a alfabetização, por si só, não assegura o letramento pleno. Ser alfabetizado não implica automaticamente na capacidade de compreender textos apresentados em jornais, revistas e demais conteúdos escritos complexos. Além disso, um indivíduo pode enfrentar dificuldades ao escrever ou expressar suas opiniões e críticas por meio do texto escrito. Nesse sentido, o letramento transcende a mera decodificação do código escrito, envolvendo a habilidade de utilizar a leitura e escrita em contextos diversos e de forma socialmente significativa. É de extrema importância reconhecer a significância de ambos os processos, uma vez que a aquisição da alfabetização estabelece a base essencial para o desenvolvimento do letramento, o qual, por sua vez, fomenta a participação ativa e reflexiva do indivíduo em uma sociedade voltada à escrita e à leitura. A conceituação do letramento apresenta uma abordagem mais aprofundada e analítica em comparação à conceituação da alfabetização. Enquanto a alfabetização está centrada na decodificação dos signos linguísticos, o letramento adota uma perspectiva minuciosa em relação ao uso social da linguagem. No entanto, é a integração desses dois processos resultando na compreensão e faz parte do processo de significação do indivíduo. É importante ressaltar que a situação de letrado está diretamente relacionado ao sentido atribuído à leitura e escrita pelo sujeito, enquanto a mera alfabetização indica apenas a aquisição das habilidades básicas. Como afirma Kleiman (1995, p. 20), “[...] o fenômeno do letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita”. Uma pessoa letrada pode utilizar da linguagem em inúmeros contextos sociais e podendo produzir textos de diferentes níveis segundo a necessidade contextual. Para Ferreiro (2002), ser letrado é: 11 [...] poder transitar com eficiência e sem temor numa intrincada trama de práticas sociais ligadas à escrita. Ou seja, trata-se de produzir textos nos suportes que a cultura define como adequados para as diferentes práticas, interpretar textos de variados graus de dificuldade em virtude de propósitos igualmente variados, buscar e obter diversos tipos de dados em papel ou tela e também, não se pode esquecer, apreciar a beleza e a inteligência de um certo modo de composição, de um certo ordenamento peculiar das palavras que encerra a beleza da obra literária. (FEREEIRO, 2002, p. 16). Conforme afirmado pelo autor mencionado, é comum termos uma visão limitada ao considerar o aprendizado da leitura e escrita como um processo exclusivamente escolar, negligenciando que o desenvolvimento dessas habilidades tem início muito antes do ingresso na instituição educacional. Tal perspectiva restringe nosso entendimento acerca do papel dos contextos familiares, socioculturais e das interações cotidianas na formação das bases para a alfabetização e letramento. Aprender a ler e escrever é um processo complexo que se estabelece desde a primeira infância, por meio de experiências pré-escolares e interações com a linguagem oral e escrita no ambiente familiar, contribuindo para a construção de habilidades e conhecimentos essenciais que serão alicerces para a educação formal posterior. Indivíduos com habilidades de alfabetização podem compreender uma narrativa, podendo ler e expressar sua compreensão de forma aceitável. Nesse sentido, crianças que adquiriram a alfabetização têm conhecimento em leitura e escrita, enquanto sujeitos letrados demonstram habilidades para aplicar a alfabetização conforme as demandas sociais. Pessoas letradas possuem a capacidade de organizar discursos, elucidar textos e refletir sobre as informações lidas. Assim, podemos afirmar que a principal distinção entre alfabetização e letramento está relacionada à qualidade do domínio e à frequência da utilização da leitura no cotidiano, além da capacidade de explicar e lidar com as exigências sociais. É importante destacar que tanto a sociedade quanto a língua estão sujeitas a transformações constantes. Diante desse contexto dinâmico, além de aprofundar as investigações acerca da concepção de letramento, torna-se essencial compreender que novos gêneros e discursos emergem. Portanto, é fundamental acompanhar e analisar as mudanças sociais e linguísticas, a fim de manter-se atualizado e apto a lidar com as demandas comunicativas contemporâneas. Diante da evolução tecnológica e do progresso das formas de comunicação, duas novas perspectivas teóricas emergem no cenário do letramento: letras múltiplas 12 e multiletramentos, conforme identificado por Rojo (2012) e Baptista (2016). Embora as terminologias possam parecer semelhantes, elas se referem a concepções distintas. A noção de letramentos multiplamente aborda a diversidade de práticas de letramento que envolvem a leitura e a escrita, incorporando abordagens dos gêneros discursivos e questionando a origem desses gêneros nos espaços digitais. Por outro lado, a concepção de multiletramentos diz respeito à pluralidade de linguagens, não apenas de gêneros. Isso se deve ao fato de que os usuários da língua contemporaneidade leem e interpretam por meio de diversas modalidades, que vão desde imagens até o uso de emojis. Dessa forma, pode-se concluir que as perspectivas de letramentos múltiplos e multiletramentos representam avanços conceituais importantes na compreensão das práticas de letramento na era digital. Essas concepções reconhecem a diversidade de gêneros discursivos que surgem no contexto digital, bem como a multiplicidade de linguagens utilizadas pelos indivíduos na leitura e escrita. Ao considerar tais abordagens, os educadores e investigadores são instigados a refletir sobre como mudaram nas práticas de letramento e promover estratégias pedagógicas que atendam às demandas contemporâneas, capacitando os alunos para uma participação efetiva e crítica na sociedade digital. Embora possam ser consideradas distintas, pois duas perspectivas abordadas não se anulam, pelo contrário, elas se complementam e se enriquecem mutuamente. A primeira perspectiva evidencia o papel relevante dos diversos gêneros textuais na comunicação humana, ressaltando sua influência social e sua função como ferramentas comunicativas. Por sua vez, a segunda perspectiva enfatiza a dimensão “multi” das expressões linguísticas, reconhecendo a capacidade intrínseca de uma língua em desenvolver múltiplas variações e expressões, em resposta à diversidade cultural, geográfica e temporal. A convergência dessas duas perspectivas oferece uma abordagem holística e abrangente para a compreensão das complexidades da linguagem e da sua interação com a sociedade. 13 3 ABORDAGENS METODOLÓGICAS DA ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Ao longo da história, o ensino no Brasil tem sido influenciado por diversos métodos de alfabetização. A compreensão dos principais métodos requer um conhecimento simultâneo do período histórico em que foram aplicados, a fim de compreender as implicações cognitivas, psicológicas e sociais desses processos. Essa compreensão prévia é essencial para discutir as metodologias didáticas e as especificidades de cada método. No entanto, é importante ressaltar que por décadas, o cenáriopedagógico tem sido permeado por discussões acerca do ensino e da aprendizagem da leitura e da escrita, envolvendo preocupações e reflexões por parte dos educadores. Esses profissionais têm buscado identificar e empregar os métodos mais eficazes para alcançar resultados satisfatórios nesse processo educacional. O termo “métodos” pode ser definido, conforme o dicionário Houaiss, como um conjunto de regras e princípios normativos que regulam o ensino e a prática de uma arte, ou como um processo organizado, lógico e sistemático de pesquisa, instrução, investigação e apresentação. No contexto da alfabetização, os métodos referem-se a abordagens específicas adotados para auxiliar as crianças na aprendizagem da leitura e escrita, fornecendo diretrizes metodológicas para a codificação e decodificação dessas habilidades. Considerando esses conceitos, é possível compreender que os métodos de alfabetização consistem em estratégias pedagógicas que visam facilitar o processo de aprendizagem da leitura e escrita por parte das crianças. Esses métodos são fundamentados em princípios educacionais teóricos e práticos que buscam fornecer um ensino consistente, coerente e progressivo. Durante anos, uma variedade de métodos é empregada no contexto da alfabetização, cada um com suas características distintas. Esses métodos evoluíram consoante as pesquisas e reflexões sobre a aquisição da linguagem escrita, bem como com as mudanças nas concepções educacionais. Alguns dos métodos históricos incluem o método fônico, o método global, o método silábico, o método fonético-analítico, entre outros. 14 O primeiro método utilizado para o aumento da taxa de alfabetização do Brasil foi chamado “método sintético”, que priorizava a leitura através das cartas do “ABC”, baseando-se em um modo de associação de estímulos visuais e auditivos, e dando uma maior prioridade a memorização. 3.1 A abordagem sintética como método de alfabetização De acordo com Albuquerque (2012), o método sintético de ensino surgiu no século XVII como resposta às mudanças históricas que ocorriam na sociedade, as quais atribuíam maior importância à leitura e escrita. Naquele período, a maioria da população não possuía habilidades de leitura e escrita, o que levou ao surgimento de discussões sobre a necessidade de um método que permitisse a decodificação do código escrito, visando à expansão da educação para o restante da população, focando, especialmente, a prática escolar da leitura. Na visão de Larocca e Savelli (2001), o método sintético de alfabetização tem como objetivo principal decodificar sinais gráficos. Compreende o ensino das partes para o todo, ou seja, do simples para o complexo, de unidades menores para maiores, do fonema (som) para o grafema. Para tanto, primeiramente ensina-se a sílaba, para depois a palavra e frase, finalmente chegando-se ao texto. O método sintético é o mais antigo, todavia ainda é muito utilizado nas escolas, todavia seu auge foi na época do Império no Brasil. Nesse método, o aluno segue uma sequência de aprendizagem que começa com o reconhecimento das letras individuais, seguido pela identificação das sílabas e das letras dentro de cada sílaba, culminando na leitura de palavras completas. Durante esse processo, a criança é exposta a atividades que envolvem memorização e familiarização com as letras e traçados, visando promover um aprendizado mais efetivo. As cartilhas ou livros desempenham um papel fundamental nesse método, sendo utilizados como recursos principais pelo professor e representando o primeiro contato da criança com material impresso. Para uma melhor compreensão do método sintético, é importante considerar as três fases distintas caracterizadas pelos métodos, alfabético, fônico e silábico. A Figura 3 ilustra a capa de um livro utilizado no contexto de alfabetização por meio de cartilhas. 15 Figura 3 – Livro de cartilhas de alfabetização Fonte: https://shre.ink/H1HN Esse método tem sido alvo de críticas por parte de especialistas, teóricos da educação, educadores e pais. Os críticos incluem teóricos da corrente construtivista, que defendem a importância de construir o conhecimento a partir das experiências prévias e da interação com o ambiente. Esses críticos argumentam que o método sintético falha em considerar os conhecimentos prévios da criança, não valorizando sua capacidade de construir significados a partir de suas experiências. Emília Ferreiro e Ana Teberosky apresentaram críticas específicas ao uso de cartilhas na alfabetização, principalmente em relação ao enfoque mecânico e descontextualizado das palavras-chave utilizadas. Elas questionaram a abordagem que se limita à memorização das sílabas sem um entendimento linguístico mais amplo sobre a importância das sílabas na construção e segmentação correta das palavras na escrita. É importante destacar que essas autoras não se posicionaram contra o 16 ensino da sílaba em si, especialmente em línguas neolatinas, onde a noção da sílaba é intuitiva na fala dos aprendizes. Porém, pesquisas evidenciam que a falta de ensino da sílaba na alfabetização resulta em dificuldades na escrita dos alunos. Produções escritas por alunos de diferentes tipos de escolas, incluindo aqueles considerados de alto nível e com abordagem construtivista, demonstram uma falta de consciência quanto à separação de sílabas. Os alunos tendem a segmentar palavras no final das linhas das páginas e cometem erros ortográficos, como substituições de letras. Esses problemas indicam que o conteúdo de “família silábica” não foi satisfatório durante o processo de alfabetização, o que torna mais exigente corrigir essas falhas posteriormente. É evidente que é mais eficaz aprender corretamente desde o início do que corrigir um aprendizado incorreto. Esther Pillar Grossi, em sua obra, alfabetização em classes populares: didática do nível pré-silábico (1985), caracteriza suas aplicações da teoria de Emília Ferreiro. Em suma, conforme a abordagem didática do nível pré-silábico, ela defende que a alfabetização vai além da simples correspondência entre sons e letras escritas. Nesse estágio, é enfatizada a criação de um ambiente rico em materiais e experiências de leitura e escrita, onde as crianças têm a oportunidade de entrar em contato com todas as letras e palavras, sem uma seleção ou ordenação prévia. Essa abordagem reconhece a importância de proporcionar um ambiente de aprendizagem diversificado e estimulante, que vá além do ensino mecânico das habilidades de decodificação, buscando uma compreensão mais ampla e significativa da linguagem escrita. 3.2 Desvendando o alfabeto como caminho para a leitura Sim, o método alfabético, também conhecido como método de soletração ou método ABC, é uma abordagem de ensino que se baseia na aprendizagem e memorização das letras do alfabeto como uma etapa fundamental no processo de alfabetização. Nesse método, as letras do alfabeto são ensinadas sequencialmente, começando pela ordem alfabética. Inicialmente, as crianças aprendem as letras na ordem convencional, repetindo seu nome e associando-as a suas formas escritas. Por 17 exemplo, elas aprendem a letra “A” e associam à sua forma escrita em caixa alta ou minúscula. Em seguida, as letras são responsivas no sentido inverso, para que as crianças também aprendam a reconhecê-las nessa ordem. Por exemplo, após aprenderem a letra “A”, elas aprendem a reconhecê-la quando apresentadas como “Z”. Após a familiarização com as letras na ordem alfabética e inversa, as crianças são incentivadas a reconhecer as letras compreensivamente, ou seja, identificando cada letra quando apresentar separadamente das demais. Isso envolve a habilidade de identificar e nomear as letras fora do contexto do alfabeto completo. O método alfabético é uma abordagem tradicional e amplamente utilizadano ensino da leitura e escrita, especialmente nos recursos iniciais da alfabetização, como mostra a figura 4. Figura 4 – Alfabeto Fonte: https://shre.ink/Hy7F 18 No método alfabético tradicional, a ênfase inicial é na memorização das letras e sílabas, com menos ênfase na compreensão da relação entre a escrita e a fala. No entanto, à medida que a criança progride na alfabetização, espera-se que ela desenvolva a habilidade de associar as letras e as combinações de letras aos seus respectivos sons na língua falada. Essa habilidade é crucial para a leitura e escrita eficazes, permitindo que a criança compreenda e se expresse com fluência. Segundo Frade (2007), as famílias silábicas são apresentadas às crianças de forma que elas possam fazer todas as combinações possíveis. No método alfabético, ainda é comum utilizar a estratégia de cantar as letras e sílabas para auxiliar na memorização. No entanto, essa abordagem pode tornar o processo lento e ter um impacto limitado na compreensão e significado para a criança. Carvalho (2005, p. 22) ainda complementa que o método alfabético “[...] baseia-se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se da memorização como estímulo didático — o nome da letra é associado à forma visual, as sílabas são aprendidas de cor e com elas se formam palavras isoladas”. Essa abordagem tende a apresentar limitações, tais como a falta de conexão entre as palavras e a ausência de compreensão contextual. É relevante notar que sua utilização é mais frequente em situações de alfabetização realizadas no âmbito doméstico, pelos familiares, ou conduzidas por professores com formação limitada. Nesse sentido, é imprescindível considerar abordagens mais abrangentes e integradas, que promovam uma alfabetização mais eficaz, estimulando a interrelação entre a escrita, a oralidade e a compreensão textual. O método alfabético, embora enfatize a memorização das letras e sílabas no início do processo de alfabetização, visa estabelecer a relação entre a escrita e a fala conforme a criança avança. Ao apresentar as letras em diferentes sequências e promover a formação de sílabas e combinações silábicas, o método alfabético tem em vista desenvolver a habilidade de associar os sons às suas representações escritas. Embora possa haver críticas sobre a ênfase na memorização inicial, o método alfabético continua sendo amplamente utilizado e adaptado em diversos contextos de alfabetização, fornecendo uma base sólida para a aprendizagem da leitura e escrita. 19 3.3 Junção do som e da escrita: a abordagem fonética No método fônico, a unidade de ensino parte dos sons e tem como principal objetivo estabelecer a relação entre a letra e o som que ela representa. A união da consoante com a vogal auxilia a criança a trabalhar a pronúncia das sílabas que estão sendo formadas, relacionando a palavra falada à escrita. Num primeiro momento, por possuírem nomes e sons iguais, esse método trabalha as vogais, depois palavras formadas apenas por elas. No segundo momento, são apresentados as consoantes e as formas mais complexas dos seus sons na palavra. A figura 5 retrata a etapa de fusão de vogais. Figura 5 – Atividade com fusão de vogais Fonte: https://shre.ink/HyPQ 20 Para Frade (2007, p. 23), o objetivo do método fônico é fazer a relação de que: “Cada letra (grafema) é aprendida como um fonema (som), que, junto a outro fonema, pode formar sílabas e palavras”. A partir da formação das palavras, surgem as frases e os textos. Esse método é muito utilizado atualmente e possui suas vantagens e desvantagens. Uma das vantagens reside na compreensão da correspondência entre letras e fonemas por parte do aluno, o que permite uma decodificação mais rápida e sem grandes dificuldades. Isso é especialmente relevante ao escrever palavras contendo as consoantes P, B, T, D e V, nas quais os fonemas correspondem diretamente às letras na escrita. Por outro lado, algumas consoantes exigem o suporte de uma vogal para que seus sons sejam identificados, mesmo que essa vogal não seja pronunciada. Um exemplo disso é o fonema /m/, que requer a presença da letra "m" para ser corretamente referenciado. Entre as restrições, é importante mencionar que as letras podem representar sons diferentes e fonemas dependendo de sua posição dentro da palavra. Esse processo de transição até que uma criança alcance o nível ortográfico pode ser mais lento devido a essa complexidade. Além disso, as variações na pronúncia das palavras podem gerar confusão durante a escrita, uma vez que uma mesma palavra pode ser falada de forma diferente da sua escrita, devido a influências regionais e variações linguísticas em todo o país. Essas inconsistências podem representar um desafio adicional no processo de aquisição da escrita. Em suma, ele visa desenvolver a compreensão dos padrões regulares de correspondência entre os sons e a escrita, visando capacitar a criança a identificar os fonemas e realizar a leitura de palavras. Ao enfatizar a conexão entre o som e a soletração, o método fônico oferece uma abordagem sistemática e estruturada para o ensino da leitura e escrita. 21 3.4 Trilhando os caminhos das sílabas: a estratégia silábica na jornada de alfabetização O método de silabação, também conhecido como método silábico, tem como princípio a combinação de consoantes e vogais para formar sílabas, conforme mencionado por Frade (2005). Contudo, assim como em abordagens pedagógicas anteriores, a apresentação das unidades ocorria progressivamente, partindo das mais simples para as mais complexas. Inicialmente, o ensino era focado nas vogais e nos encontros vocálicos, e os educadores estabeleciam conexões entre as letras e as palavras iniciadas por elas, por meio de ilustrações ilustrativas. Por exemplo, “A de árvore” e “E de escada”. Em uma etapa subsequente, as sílabas simples passaram a ser sistematizadas, adotando-se a mesma abordagem que destaca as sílabas iniciais nas palavras, como exemplificado por “PA de panela” e “MA de maçã”. A partir dessa introdução, o foco se volta para o estudo das famílias silábicas que compartilham a sílaba destacada na palavra. Por exemplo, se a sílaba em destaque for “PA” em “panela”, passa-se a explorar a família silábica “pa/pe/pi/po/pu” e a formação de novas palavras (Frade, 2005). A figura 6 apresenta a abordagem desse método. Figura 5 – Música usando o Método Silábico Fonte: Adaptado de https://shre.ink/HM5N 22 Nesse contexto, ao ser incentivada a escrever uma palavra, a criança é orientada a considerar inicialmente a família silábica correspondente. Por exemplo, ao escrever a palavra "banana", ela deve primeiramente pensar na família do fonema /b/ (ba/be/bi/bo/bu) e na família do fonema /n/ (na/ne/ni/no/nu). Essa abordagem visa auxiliar a criança na identificação dos agrupamentos silábicos e na seleção das letras correspondentes, facilitando assim o processo de escrita. O ensino das famílias silábicas compostas por essas letras é apresentado às crianças de forma que a sílaba é indicada e estudada sistematicamente. A partir do estudo das famílias, partia-se para a formação de palavras, frases e textos que continham as sílabas já trabalhadas anteriormente. Os apoiadores do método silábico acreditam que o processo acontece de forma mais concreta e rápida, pois se estabelece a relação entre os segmentos da fala e da escrita. As cartilhas com o método silábico têm como conteúdo palavras que partam da sílaba trabalhada. Dentro dessa letra, são apresentadas várias palavras, frases e textos onde a sílaba ensinada ganha destaque, com o intuito de que as famílias silábicas possam ser trabalhadas e evidenciadas pelas crianças. Também nesse método, os textos e narrativas têm o propósito de exercitar e aprimorar o ensino das sílabaspor meio de uma abordagem mecanizada. Nesse sentido, os métodos sintéticos, sejam eles alfabéticos, fônicos ou silábicos, visam progredir das unidades mais simples para as mais complexas. Além disso, enfatizam a aprendizagem das partes individuais em relação ao todo, por meio da decodificação, análise fonológica e conexões entre letras e sons. Como resultado, os métodos de marcha sintética se mostram inflexíveis e tendem a negligenciar os usos e funções sociais da escrita, atribuindo pouca importância ao significado dos textos no contexto das crianças (FRADE, 2005). 23 3.5 Decifrando o todo pelas partes: a abordagem analítica na formação de leitores Com o intuito de contrapor os métodos sintéticos de alfabetização, surgiram os métodos analíticos. Esses métodos visam romper com o princípio da decodificação e ensinar a criança a perceber o todo antes das partes, ou seja, a analisar globalmente a palavra, a frase ou o texto e, em seguida, considerar e decompor as unidades menores. Conforme descrito por Frade (2007), os métodos analíticos adotam como principal estratégia perceptiva a ênfase na percepção visual. O propósito é capacitar o aluno a adquirir compreensão do significado textual, habilidades de pontuação e ortografia, por meio da utilização de um contexto que seja relevante e relacionado à sua realidade. Ao adotar essa abordagem, o processo de alfabetização transcende a abstração e passa a ter uma significância ampliada. Nessa linha de raciocínio o professor deve apresentar às crianças palavras, frases ou textos, explorando-as o maior tempo possível, para só depois analisar e decompor as partes. Para entender melhor o método analítico, pode-se analisar as três fases distintas desse método: palavração, sentenciação e global de contos. 3.6 A estratégia da palavra como abordagem de alfabetização Esse método tem início com a apresentação da palavra, geralmente acompanhada de ilustrações e associada ao universo da criança. O objetivo é estabelecer conexões entre a forma escrita e a representação visual da palavra. Durante a aplicação desse método, as palavras são lidas e escritas repetidamente até que sejam memorizadas. Somente após essa etapa de escrita é que as palavras são divididas em sílabas, estudadas e relacionadas a novas palavras que contenham as sílabas já abordadas anteriormente. A figura 6 mostra com clareza uma atividade baseada no método de palavração. 24 Figura 6 – Atividade de palavração Fonte: https://shre.ink/HMLZ A partir das palavras e do estudo das sílabas, avança-se para a relação entre grafemas e fonemas, em que a criança identifica os sons que representam cada unidade. Em seguida, ocorre a etapa de construção de frases utilizando essas palavras e a elaboração de textos com as frases previamente trabalhadas. De acordo com Frade (2005), uma diferença fundamental entre o método da palavração e o método silábico de marcha sintética reside no fato de que, no método da palavração, não há a exigência de que as palavras sejam decompostas no início do processo de alfabetização. Pelo contrário, é necessário que as palavras sejam compreendidas e reconhecidas em sua totalidade antes de serem analisadas em detalhes. Além disso, ao contrário do método silábico, no método da palavração não existe a lógica de começar a alfabetização com as palavras mais simples. O critério utilizado é se as palavras possuem sentido e significado para os alunos. Para ilustrar o método da palavração, considera-se a palavra "boca" como exemplo. Inicialmente, a palavra é analisada em termos de suas sílabas (bo-ca). A partir dessa análise, o trabalho é direcionado para explorar as famílias silábicas presentes na palavra (ba/be/bi/bo/bu), culminando no aprendizado das letras que compõem a palavra (b-o-c-a). Frade (2005) identifica, entre as desvantagens da 25 abordagem da palavração, as dificuldades enfrentadas pelos alunos ao escrever palavras novas, uma vez que não são incentivados a analisar e reconhecer as partes constituintes das palavras. 3.7 Construindo o significado das palavras: a abordagem da sentenciação na alfabetização Frade (2007) aponta que, no método de sentenciação, a aprendizagem toma como partida a utilização da sentença ou da frase que, após contextualizada, é dividida e decomposta em palavras. Depois, são abordados os elementos mais simples e as unidades menores, as sílabas. As frases, assim como no método da palavração, são formadas e consideram o contexto do aluno. Após a apresentação das frases, ocorre a etapa de leitura e escrita, que envolve um processo de memorização. Durante esse processo, as semelhanças entre as palavras dentro de cada sentença são observadas e comparadas entre si, visando formar grupos contendo novas palavras. Somente após essa fase é que as sílabas e as relações entre fonemas/grafemas são introduzidas. Esse processo visa a construção gradual das habilidades de leitura e escrita, com base na compreensão das estruturas e padrões das palavras. 3.8 A abordagem dos contos como método global de alfabetização Conforme destacado por Frade (2007), o método global de contos, textos ou histórias se fundamenta no reconhecimento global do texto, o qual é memorizado ao longo de um período com o intuito de promover a sua leitura, escrita e compreensão. Esse método emprega recursos como cartazes ou livros que contêm partes ou textos completos, selecionados de forma a serem significativos para os alunos, visando facilitar o processo de aprendizagem. Após a apresentação inicial e um maior contato do aluno com o texto, ocorre o desmembramento em frases ou sentenças, avançando para o reconhecimento das palavras e, por fim, das sílabas e letras. É importante destacar que todo esse processo ocorre de forma gradual e cuidadosa, evitando pressa, uma vez que as unidades menores podem não fazer sentido para a criança se forem introduzidas 26 prematuramente. A progressão é realizada de maneira mais lenta, permitindo que a criança assimile e compreenda gradualmente as diferentes partes da escrita. Nesse método, de acordo com a abordagem adotada, as cartilhas foram relegadas a um plano secundário devido à priorização do trabalho com textos. A seleção dos textos deve ser pautada por temas relevantes para o universo infantil, buscando a compreensão do "todo" como algo concreto e tangível a ser assimilado. Em resposta a essa abordagem, passou-se a produzir livros e cartazes que serviriam como recursos de apoio para o trabalho do professor. Existem opiniões divergentes em relação ao método global, sendo que alguns argumentam que ele proporciona à criança um reconhecimento mais amplo e uma aprendizagem mais significativa, uma vez que a leitura é ensinada antes mesmo do conhecimento das partes menores ou do nome das letras. Por outro lado, há defensores da posição de que nesse método a criança não aprende verdadeiramente a ler, mas apenas memoriza os textos trabalhados em sala de aula, revelando o que está escrito (Frade, 2007). No contexto da tentativa de promover a decodificação e a leitura por parte da criança, acredita-se que esse processo ocorre de maneira mais ágil quando baseado em palavras familiares e enfocando a memorização global. No entanto, experimentou questionamentos relevantes, especialmente em relação à efetiva aprendizagem dos alunos. Tornou-se necessário que o professor fosse capaz de identificar se o processo de leitura estava ocorrendo de fato ou se a aula se limitava a um momento de memorização de textos, histórias ou recitação de palavras. Essas reflexões buscam garantir uma abordagem mais eficaz no ensino da leitura. Ao considerar os métodos analíticos estudados até o momento, é possível concluir que todos compartilham o foco na compreensão do significado da aprendizagem a partir do reconhecimentodo todo. Como vantagem, tais métodos proporcionam à criança a oportunidade de realizar, desde o início do processo educacional, a leitura de palavras, frases ou textos que possuam significado para ela. No entanto, é importante ressaltar que, caso não seja devidamente conduzido e orientado pelo professor, esse processo pode representar um ponto de dificuldade para o aluno, uma vez que há o risco de perder o sentido diante da introdução de novas palavras. 27 4 PRÁTICAS METODOLÓGICAS NO ENSINO: UMA ABORDAGEM NA EDUCAÇÃO A metodologia, no contexto educacional, é o direcionamento utilizado para alcançar um objetivo específico e obter o resultado desejado. A palavra tem sua origem no termo em latim “methodus” e se estabelece como um campo de estudo no meio educacional, abordando como o conhecimento é gerado e transmitido. Na área da educação, a metodologia pedagógica refere-se ao modelo teórico que embasa a construção do currículo escolar e orienta o planejamento curricular, abrangendo desde a entrega do conteúdo escolar até as informações de contato entre educadores e estudantes. De acordo com Ferreiro (2011): Nenhuma prática pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem. São provavelmente essas práticas (mais do que os métodos em si) que têm efeitos mais duráveis a longo prazo, no domínio da língua escrita como em todos os outros. Conforme se coloque a relação entre o sujeito e o objeto de conhecimento, e conforme se caracterize a ambos, certas práticas aparecerão como “normais” ou como “aberrantes”. É aqui que a reflexão psicopedagógica necessita se apoiar em uma reflexão epistemológica. (FERREIRO, 2011, p.33). As instituições de ensino têm a responsabilidade de definir uma visão, missão e valores que sejam coerentes com a realidade dos estudantes, a fim de escolher a metodologia educacional mais apropriada. Essas escolhas devem visar inspirar os alunos por meio de princípios de gestão sólidos e motivá-los em seu desenvolvimento. Para atingir esse objetivo, é essencial apresentar diferentes metodologias de ensino, considerando a diversidade existente. Assim, a escola pode selecionar aquela que melhor se harmonize com as necessidades dos estudantes, proporcionando uma experiência educacional significativa. 4.1 A metodologia de ensino tradicional: princípios e práticas Segundo Rocha e Bessa (2015), para compreendermos melhor os aspectos da educação formal, é importante fazer uma análise das três temporadas que vivenciaram para sua construção e definição. Durante a década de 1970, as políticas educacionais refletiam ideais militares, e a educação era focada nos aspectos morais e cívicos dos indivíduos. Nessa época, havia uma forte ênfase na disciplina corporal, 28 inclusive na educação física. Esse modelo de educação se assemelhava aos valores cultivados na estrutura de produção fabril. No entanto, é importante considerar que esses valores e abordagens podem ter limites quando se trata de promover a criatividade, o pensamento crítico e o desenvolvimento holístico dos alunos. Portanto, é fundamental buscar uma educação mais abrangente, que valorize não apenas aspectos disciplinares, mas também estimule a capacidade de reflexão. Uma abordagem de ensino tradicional se baseia no princípio de que o professor desempenha o papel de narrador, enquanto o aluno atua como ouvinte passivo. Nesse método, os educadores preparam cuidadosamente o conteúdo com antecedência e o transmitem aos alunos, que são responsáveis por absorver e recordar o que foi ensinado. A ênfase dos professores está na transmissão clara do conhecimento, permitindo que os estudantes aprendam passivamente. Como resultado, caso não alcancem as metas estabelecidas, os alunos podem ser reprovados. No entanto, é importante ressaltar que existem outras abordagens educacionais que valorizam uma participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem, incentivando a criatividade, o pensamento crítico e a autonomia. Uma vantagem do método tradicional é que o professor desempenha um papel central no processo de aprendizagem, o que lhe confere um maior controle sobre as aulas. No entanto, essa abordagem também apresenta obediência, pois pode dificultar para o professor a explicação da aplicação prática dos conceitos por meio de aulas expositivas. Da mesma forma, os alunos podem ter dificuldade em compreender a conversão e a aplicabilidade da teoria apresentada. É importante considerar alternativas que estimulem a participação ativa dos alunos, promovendo uma reflexão crítica e uma conexão entre a teoria e a prática. Dessa forma, os alunos podem desenvolver habilidades mais abrangentes e ter uma compreensão mais profunda dos conteúdos, além de se tornarem mais engajados e motivados em sua jornada educacional. 29 4.2 O método tradicional sociointeracionista no ensino Para Vygotsky (1987), o indivíduo não é meramente um produto das influências culturais, ou seja, não é uma “tábula rasa” ou um ser passivo que apenas reage às pressões do ambiente. Pelo contrário, o indivíduo é um sujeito ativo que desempenha um papel organizador ao interagir com o mundo, podendo influenciar e transformar a própria cultura. Nessa perspectiva, reconhece-se que os indivíduos não são apenas moldados por circunstâncias externas, mas conseguem agir e exercer sua influência sobre o ambiente em que vivem. Eles não são apenas receptores passivos de informações e estímulos, mas são agentes ativos na construção de significados e na criação de novos conhecimentos. Dessa forma, acredita-se que os indivíduos têm o potencial de modificar a cultura existente, trazendo novas ideias, perspectivas e práticas. Eles podem desafiar as normas protegidas, questionar as estruturas existentes e propor mudanças e inovações. Essa visão reconhece a capacidade humana de agência e a importância da ação individual na construção e transformação da cultura. Uma abordagem sociointeracionista da metodologia tradicional de ensino se baseia na preservação da interação entre o sujeito e o ambiente ao seu redor. Nesse método, o conhecimento é adquirido por meio da interação social, cultural e dos processos sociais. Acredita-se que o conhecimento real da criança seja o ponto de partida para o desenvolvimento de seu potencial cognitivo. Conforme esse enfoque, o aluno é visto como um ser ativo, capaz de construir seu próprio conhecimento por meio do contato com os outros e com o mundo. A troca de experiências e a participação em atividades práticas e colaborativas desempenham um papel fundamental no processo de aprendizagem. Dessa forma, as crianças são expostas a diferentes perspectivas, ideias e conhecimentos, permitindo-lhes construir uma compreensão mais rica e contextualizada do mundo ao seu redor. Essa abordagem sociointeracionista incentiva o pensamento crítico, a resolução de problemas e a criatividade, uma vez que os alunos são estimulados a explorar, questionar e refletir sobre as informações e situações que encontram. O diálogo, a cooperação e a colaboração são aspectos valorizados nessa metodologia, visando criar um ambiente de aprendizagem enriquecedor e significativo para o desenvolvimento integral dos alunos. 30 4.3 Desbravando horizontes ilimitados: a Metodologia Montessoriana No livro “Mente Absorvente” (1949), Maria Montessori destaca a importância de um ambiente envolvente e estimulante para a criança, por ser através dele que a mente da criança absorve conhecimento e se desenvolve. Montessori enfatiza a necessidade de criar um ambiente que desperte o interesse da criança e que seja atraente o suficiente para nutrir sua mente em sua jornada de construção e aprendizagem. Isso implica em cuidados especiais na elaboração de um ambiente que ofereça estímulos adequados e desafiadores,para encorajar a criança a explorar, experimentar e aprender de forma autônoma e significativa. Em uma de suas obras ela cita que: [...] a mente absorvente da criança se orienta na direção do ambiente; e, especialmente no início da vida, deve tomar cuidados especiais para que o ambiente ofereça interesse e atrativos para esta mente que se deve dele nutrir para a própria construção (MONTESSORI, 1949, p.113). No contexto das instituições de ensino Montessoriano, os educadores desempenham o papel de observadores, acompanhando de perto o progresso e desenvolvimento das crianças e jovens. Esses professores examinam cuidadosamente a evolução dos alunos, identificando obstáculos que interfiram em sua aprendizagem. A avaliação é realizada principalmente por meio da observação direta em sala de aula. Nesse método, as salas de aula são equipadas com uma variedade de materiais e atividades, permitindo que os alunos tenham a liberdade de escolher suas tarefas durante as aulas. Além de garantir a organização das atividades para promover o crescimento de todos os alunos, os educadores nas instituições Montessori desempenham um papel crucial como orientadores e facilitadores. Eles estão presentes para esclarecer dúvidas, oferecer suporte e auxiliar os alunos a superarem dificuldades encontradas durante o processo de aprendizagem. Montessori enfatizou a importância do meio ambiente no seu método educacional. Ela acreditava que o ambiente era fundamental para nutrir a criança, sendo cuidadosamente planejada para atender às suas necessidades de autodesenvolvimento e para revelar sua personalidade e padrões de crescimento. Isso implica que o ambiente não deve apenas fornecer os recursos necessários para 31 a criança, positivamente, mas também deve eliminar quaisquer obstáculos que possam impedir seu crescimento e aprendizado. Com isso Montessori nos mostra a importância de criar um ambiente adequado ao aprendizado, oferecendo estímulos que nutram a mente da criança em seu processo de construção e aprendizagem. Suas ideias e práticas continuam a influenciar a educação atual, proporcionando uma abordagem centrada na criança e em seu desenvolvimento integral. 4.4 Emancipação e transformação: a Metodologia Freiriana no ensino como instrumento de mudança social De acordo com Freire, o educador estabeleceu, a partir de sua convivência com o povo, as bases de uma pedagogia onde tanto o educador como o educando, homens igualmente livres e críticos, aprendem no trabalho comum de uma tomada de consciência da situação que vivem (FREIRE, 1967, p. 26). A formação metodológica de Freiriana é altamente relevante para abordar os problemas e necessidades contemporâneas, bem como promover o desenvolvimento da consciência crítica. Esse método foi desenvolvido na década de 1960, inicialmente para atender às demandas de alfabetização de adultos. No processo de desenvolvimento do pensamento crítico proposto por Freire, pode-se identificar três fases distintas. A primeira fase é a investigação temática, na qual os educadores e os alunos exploram e analisam os temas relevantes para suas vidas e contextos. Essa etapa envolve a identificação de problemas e desafios enfrentados pela comunidade, buscando uma compreensão mais profunda da realidade em que estão inseridos. A segunda fase é a tematização, em que os temas investigados são transformados em conteúdos teóricos. Os educadores buscam estabelecer uma conexão entre esses temas e o conhecimento formal, promovendo uma aprendizagem mais contextualizada e relacionada com a vida cotidiana dos alunos. A terceira fase é a problematização, na qual os temas são discutidos de forma crítica, estimulando a reflexão, a análise das contradições existentes e a busca por soluções coletivas. Nesse estágio, os alunos são encorajados a questionar e transformar sua realidade, desenvolvendo uma consciência crítica e participativa. 32 Essas fases do método de Paulo Freire enfatizam a importância do engajamento ativo dos alunos no processo de aprendizagem, bem como o papel do educador como facilitador do diálogo e da reflexão crítica. Essa metodologia de ensino, destaca-se como uma abordagem transformadora e emancipatória na educação. Ao colocar o diálogo, a reflexão crítica e a participação ativa dos estudantes no centro do processo de ensino-aprendizagem, essa metodologia visa promover a conscientização, a autonomia e o engajamento dos alunos. Por meio da problematização das realidades sociais, da valorização dos saberes prévios dos estudantes e do estímulo à leitura de mundo, a metodologia Freiriana tem em vista desenvolver uma educação libertadora, que visa à transformação social e à construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Ao adotar essa abordagem, os educadores têm a oportunidade de fomentar a formação crítica e cidadã dos alunos, capacitando-os a se tornarem agentes ativos na construção de seu próprio conhecimento e na transformação de suas comunidades. 4.5 Construindo saberes: a metodologia construtivista no processo de ensino- aprendizagem Inspirado nas teorias de Jean Piaget, o método construtivista visa despertar a curiosidade nos alunos, incentivando-os a encontrar respostas com base em seu próprio conhecimento e interação com a realidade e com os colegas. Ele esclarece que dependendo da fase de desenvolvimento da criança, as intencionalidades vão se modificando, num protagonismo com fases de interesse que deve ser respeitado, quando diz: Quando interrogamos crianças de diferentes idades sobre os principais fenômenos que as interessam espontaneamente, obtemos respostas bem diferentes segundo o nível dos sujeitos interrogados. Nos pequenos, encontramos todas as espécies de concepções, cuja importância diminui consideravelmente com a idade: as coisas são dotadas de vida e de intencionalidade, são capazes de movimentos próprios, e estes movimentos destinam-se, ao mesmo tempo, a assegurar a harmonia do mundo e servir ao homem. (PIAGET, 1982, p.173-4) Emília Ferrero, uma aluna de Piaget, ampliou a teoria construtivista para o campo da leitura e da escrita, chegando à conclusão de que, desde que as crianças estejam imersas em um ambiente que estimule o contato com letras e palavras, elas conseguem aprender a ler e escrever por si. Portanto, o construtivismo representa um 33 ideal epistemológico, psicológico e pedagógico que permeia práticas e educação educacional. Consequentemente, o construtivismo propõe que os alunos se envolvam ativamente em seu próprio processo de aprendizagem por meio de experimentos, pesquisas em grupo e estímulo à dúvida, desenvolvendo assim seu pensamento e habilidades cognitivas. No método construtivista, em contraste com o método tradicional, o aluno desempenha um papel ativo no processo de ensino-aprendizagem, enquanto o professor atua como um facilitador que orienta o aluno a buscar e construir seus próprios conhecimentos. Os alunos são os protagonistas de seu próprio processo de aprendizagem, o que significa que a educação vai além de simplesmente transmitir conhecimento; ela se torna um processo que apoia e permite que os estudantes criem e vivenciem o conhecimento e a aprendizagem. Além disso, as salas de aula no método construtivista são compostas por um número reduzido de alunos, o que possibilita aos educadores oferecer uma atenção personalizada durante as aulas, conforme necessário. Isso estimula o desenvolvimento do conhecimento e respeita o ritmo de aprendizagem de cada aluno. Consequentemente, o construtivismo propõe que os alunos se envolvam ativamente em seu próprio processo de aprendizagem por meio de experimentos, pesquisas em grupo e estímulo à dúvida, desenvolvendo assim seu pensamento e habilidades cognitivas. Esse método coloca ênfase na valorização do erro como uma oportunidade de aprendizado, em vez de considerá-locomo um obstáculo. A teoria construtivista rejeita a rigidez no processo de ensino, a utilização de avaliações padronizadas e o uso de materiais de ensino que sejam distantes do mundo pessoal dos estudantes. Em vez disso, busca-se promover um ambiente educacional mais flexível, adaptado às necessidades e interesses individuais dos alunos, para poderem se engajar significativamente em seu processo de aprendizagem. Segundo Becker (1993): Construtivismo significa isto: a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que 34 podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento (BECKER, 1993. p.88). Já para Ogborn (1997), o construtivismo educacional também promove o progresso da pesquisa do processo de ensino-aprendizagem, que ele resume corretamente nos quatro aspectos a seguir: A importância do envolvimento ativo do estudante para o alcance dos entendimentos; A importância do respeito pelo estudante e por suas próprias ideias; A compreensão de ciência constituída de ideias criadas por seres humanos; A primazia por uma concepção de ensino que capitaliza e usa o que os estudantes já sabem, com o intuito de superar suas dificuldades para a compreensão de novos saberes com base na sua visão de mundo (OGBORN,1997, p. 131). A implementação das práticas construtivistas tem um impacto positivo na avaliação dos alunos em relação ao processo de aprendizagem, uma vez que os conteúdos exibidos adquirem um maior significado e resistência para eles. Como resultado, os alunos demonstram um melhor desempenho na assimilação e aplicação dos conhecimentos adquiridos. Além disso, a prática construtivista impulsionou a evolução do papel do educador, que se torna mais animado e engajado, proporcionando melhores oportunidades para o desenvolvimento do pensamento construtivo nos alunos. O educador demonstra uma maior disposição para interagir com os alunos, estimulando a troca de ideias, a reflexão e a participação ativa em discussões. A intervenção do educador desempenha um papel fundamental no processo de ensino, ao criar um ambiente construtivo, reflexivo e estimulado ao debate. Isso incentiva os alunos a serem mais autônomos, críticos e reflexivos em sua aprendizagem, permitindo que eles desenvolvam habilidades de pensamento criativo e analítico. 4.6 Aprendendo fazendo: a metodologia de ensino ativa na promoção do engajamento e autonomia dos alunos De acordo com Lopes (2015), o conceito de metodologia ativa está fundamentada nas ideias de John Dewey, desde a década de 1930, sobre alunos ativos e construção do conhecimento em situações que superem a tradicional aula expositiva, em que a finalidade é a reprodução e memorização do conteúdo de ensino. 35 Ainda corroborando com Lopes (2015), Nascimento e Coutinho (2017, p.136), afirmam que, as metodologias ativas de aprendizagem (MAA) são formas inovadoras de educar, que estimulam a aprendizagem e a participação do aluno em sala de aula, fazendo com que ele utilize todas as suas dimensões sensório/motor, afetivo/emocional e mental/cognitiva. A metodologia de ensino ativa é uma abordagem que visa estimular o engajamento e a autonomia dos alunos, proporcionando-lhes um papel ativo em seu próprio processo de aprendizagem. Essa metodologia representa uma transformação na relação entre professores e alunos, buscando despertar o interesse e a participação ao longo do semestre. Na educação infantil, diversas estratégias de metodologia ativa são empregadas, como a aprendizagem baseada em projetos, onde os alunos desenvolvem trabalhos relacionados a temas de seu interesse. Pode ser utilizado também a organização da sala de aula de forma “invertida”, na qual os alunos têm acesso ao conteúdo antes das aulas, permitindo que as atividades em sala sejam mais interativas e de aplicação do conhecimento. Outras abordagens incluem atividades em dupla ou em equipe, que incentivam a colaboração e o trabalho em grupo. O uso de estudos de caso promove a análise de situações reais e a tomada de decisões. As exposições permitem que os alunos compartilhem seus trabalhos e descubram novos conhecimentos. A gamificação, por meio de elementos de jogos, torna a aprendizagem mais divertida e envolvente. Além disso, a adoção de modelos de ensino híbrido combina aulas presenciais e recursos digitais, enriquecendo a experiência de aprendizagem. A aplicação de metodologias ativas na educação infantil se mostra altamente benéfica ao promover um ambiente de aprendizagem estimulante e participativo. Essas abordagens envolvem as crianças de maneira ativa, incentivando a curiosidade, a autonomia e o protagonismo na construção do conhecimento. Além disso, a metodologia ativa proporciona um aprendizado significativo, permitindo que as crianças relacionem o que aprendem com sua vida cotidiana. Ao adotar essas abordagens, as instituições de educação infantil criam um ambiente propício para o desenvolvimento integral das crianças, promovendo uma educação mais participativa, dinâmica e efetiva. 36 5 PERSPECTIVAS SOBRE ESCRITA E LEITURA: COMPREENDENDO AS CONCEPÇÕES E ABORDAGENS O uso da linguagem possui uma profunda significação histórica. Através da prática da leitura e da escrita, o ser humano iniciou o registro da cultura, das emoções e da poesia, ampliando sua perspectiva sobre o mundo. No entanto, é importante ressaltar que as formas de expressão antecedentes à escrita, como o desenho, já existiam, embora tenham sido a escrita que impulsionou o aprimoramento das habilidades comunicativas. O ensino da língua está intrinsecamente ligado à compreensão da interação humana, da linguagem e do contexto em que os indivíduos estão inseridos. Ao longo da história, diversas concepções de linguagem, língua e ensino emergiram, derivadas dessa compreensão. Segundo Marin (2001, p.119) “ler, é compreender o que lemos, dotar essa operação de reconhecimento da estrutura de significante de uma significação, [...] Ler também, é enfim, decifrar, interpretar, visar, talvez adivinhar o sentido de um discurso”. Entretanto, aprender a ler e escrever é um processo com formas diferentes do que apenas decodificar símbolos. A jornada da alfabetização conduz a uma compreensão profunda da nossa própria existência, revelando que a escrita é o registro dos eventos da criação e da experiência humana. A leitura, por sua vez, é um processo que leva à construção de novos significados, desvendando os sentidos ocultos nas entrelinhas, pois quanto mais se entrega à leitura, mais o conhecimento se expande. Através desse ato, consegue-se lembrar, comparar e despertar emoções, nutrindo a capacidade de criar e atribuir significado. No processo de aprendizagem da leitura e escrita, encontra-se uma aparente simplicidade nos símbolos utilizados. No entanto, para desenvolver habilidades de alfabetização, é essencial compreender a própria existência e reconhecermos o poder da escrita em registrar os acontecimentos da vida humana. Conforme destacado por Coscarelli e Novais (2010), a leitura se revela como um processo cada vez mais complexo, exigindo habilidades adaptativas para lidar com textos em situações reais de comunicação, uma vez que se trata de uma atividade dinâmica que demanda constante evolução. Nesse sentido, é por meio dessa jornada desafiadora que abrimos as portas para um mundo de possibilidades e significados, expandindo nosso 37 horizonte de compreensão e interação com o universo das palavras. Decorre, disso,que o ato de ler envolve considerar os elementos gráficos presentes, bem como. Segundo Coscarelli e Novais: [...] a produção de inferências e a depreensão da ideia global, a integração conceitual, passando pelo processamento lexical, morfossintático, semântico, considerando fatores pragmáticos e discursivos imprescindíveis para à construção do sentido. (COSCARELLI; NOVAIS, 2010, p. 36). A escrita é amplamente reconhecida como um processo essencial para o desenvolvimento humano, ao desempenhar um papel fundamental na comunicação, preservação do conhecimento e na evolução da sociedade. Por meio da escrita, os seres humanos podem registrar e transmitir informações, ideias e experiências ao longo do tempo e do espaço, permitindo que o conhecimento seja compartilhado e preservado para as gerações futuras. Além disso, a prática da escrita promove o enriquecimento externo, uma vez que as escritas convidativas permitem a conexão entre indivíduos de diferentes culturas, contextos e perspectivas. A escrita também desempenha um papel fundamental no desenvolvimento intelectual e cultural do ser humano, estimulando a reflexão, a expressão criativa, o pensamento crítico e a capacidade de argumentação. Segundo Silva 2000. a habilidade de dominar a linguagem falada e escrita desempenha um papel fundamental na plena participação social, ao permitir ao ser humano se comunicar, adquirir informações, expressar e defender opiniões, construir uma visão de mundo e, por meio desse intercâmbio, criar novos conhecimentos. Nesse sentido, é responsabilidade das instituições de ensino garantir que todos os estudantes adquiram as competências linguísticas necessárias para exercer sua cidadania, por ser um direito inalienável de cada indivíduo. Dessa forma, ao promover um ambiente propício ao desenvolvimento dessas habilidades, construísse uma sociedade mais inclusiva, empoderada e capaz de se expressar com clareza e assertividade. É importante ressaltar a importância da leitura contínua e o papel do professor como mediador no desenvolvimento da capacidade dos alunos em produzir e compreender textos, considerando o valor intrínseco da leitura e a compreensão dos profissionais e dos textos como uma unidade significativa carregada de redes de significados. De maneira crucial, o ensino deve capacitar os alunos a se tornarem 38 indivíduos sociais capazes de lidar com a complexidade dos contextos presentes na sociedade. Conforme apontado por Rezende (2009), a prática frequente da leitura está diretamente relacionada ao aprimoramento do desempenho do leitor. No entanto, é importante ressaltar que, caso não haja conhecimentos prévios que possibilitem um diálogo significativo com o texto, é necessário criar condições que aproximem o leitor da leitura. Essas condições podem incluir estratégias de mediação, incentivo ao interesse pelo tema abordado, atividades de pré-leitura e exploração de conhecimentos prévios, visando facilitar a compreensão e a interação do leitor com o texto. Assim sendo, é inegável que a conquista de habilidades sólidas em leitura e escrita requer um esforço significativo por parte dos estudantes, juntamente com a orientação cuidadosa e segura dos educadores. Para aprofundar nossa compreensão sobre os mecanismos subjacentes à leitura e escrita, é essencial examinar o papel central dos alunos nesses processos, compreender suas perspectivas e abordagens, assim como valorizar a relevância e as visões dos educadores na promoção do desenvolvimento das habilidades textuais. Dessa maneira, estaremos construindo uma base sólida para a construção textual, reconhecendo a importância do engajamento ativo dos estudantes e da orientação pedagógica no alcance da proficiência em leitura e escrita. Esses aspectos são de extrema relevância e merecem a reflexão por parte dos professores, principalmente em um contexto em que a linguagem oral prevalece e é amplamente utilizada. Embora a comunicação oral seja eficaz e abrangente, é fundamental que as pessoas não subestimem a importância da expressão escrita. Saber expressar as ideias de maneira correta tanto oralmente quanto por escrito e ter habilidades argumentativas eficazes são fatores indiscutíveis para alcançar o sucesso pessoal na sociedade contemporânea. A escrita proporciona um meio de comunicação duradouro, permite a reflexão sobre os conteúdos e contribui para a organização das ideias de forma clara e coerente. Além disso, a competência na expressão escrita amplia as oportunidades de inserção no mercado de trabalho, favorece a participação em debates e contribui para a construção de uma cidadania mais ativa e consciente. Portanto, valorizar e 39 desenvolver as habilidades de expressão escrita é essencial para o desenvolvimento integral dos indivíduos na sociedade atual. De acordo com Branco e Simonian (2010): As práticas com a oralidade, além de atenderem objetivos específicos de comunicação e serem consideradas atividades mais comuns na Educação Infantil, se aplicam a todas as faixas etárias de alunos porque preparam os aprendizes para as situações mais formais de contato com a produção escrita, sendo a de ouvir a leitura de histórias efetuadas pelos adultos. Essa leitura faz com que os aprendizes entrem em contato com novos padrões linguísticos, diferentes da linguagem coloquial com a qual estão acostumados. Ouvindo a linguagem empregada nos livros de história, e nas notícias, os alunos se expõem aos modelos da “linguagem que se escreve” e que eles deverão distinguir e adquirir muito antes de aprender a escreve (BRANCO; SIMONIAN, 2010, p.59). Nesse sentido, é fundamental reconhecer que as instituições de ensino desempenham um papel central na promoção do desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita. Elas são espaços onde os estudantes embarcam em uma jornada em busca do domínio dessas habilidades, e é essencial que não haja exclusão de informações e competências cruciais nesse processo de aprendizagem. Mediante um ambiente educacional inclusivo e enriquecedor, os alunos têm a oportunidade de explorar e dominar as diversas facetas do ato de ler e escrever, adquirindo as ferramentas necessárias para se tornarem leitores críticos, escritores proficientes e participantes ativos na sociedade do conhecimento. Branco e Simonian (2010) destacam que a atividade de escrever é intrinsecamente reflexiva e cognitiva, não se limitando a uma simples reprodução mecânica ou memorização. Para escrever efetivamente, é necessário ter conhecimento das palavras que se deseja expressar, indo além do mero conhecimento das letras do alfabeto, embora sejam os instrumentos utilizados na escrita. Os alunos não possuem apenas um conhecimento isolado das letras das palavras que desejam escrever, mas também estão familiarizados com os textos presentes no ambiente sociocultural e escolar. Eles possuem uma compreensão mais ampla dos elementos linguísticos e contextuais envolvidos na escrita, permitindo-lhes expressar suas ideias de forma mais coerente e significativa. A escrita, portanto, é um processo complexo que exige habilidades linguísticas. Existem várias razões que podem levar os alunos a enfrentarem dificuldades na escrita. Uma delas é a abordagem predominantemente gramatical adotada pelas instituições de ensino, que enfatizam apenas as regras gramaticais e impõem os 40 temas a serem desenvolvidos, sem proporcionar oportunidades para os alunos expressarem sua criatividade. Além disso, a falta de feedback e orientação adequada por parte dos educadores também pode contribuir para dificuldades na escrita, uma vez que os alunos não recebem comentários construtivos para aprimorar suas habilidades escritas. Outro fator é o desinteresse e valorização da escrita em comparação com a leitura, o que pode resultar em menos oportunidades de prática e desenvolvimento da escritacriativa nas crianças. É importante que as instituições de ensino reconheçam a importância da escrita como uma forma de expressão e comunicação, e adotem abordagens que incentivem a criatividade, forneçam retorno construtivo e promovam um ambiente de apoio para o desenvolvimento das habilidades de escrita dos alunos. Segundo Coelho e Dutra (2018), o ensino da leitura apresenta-se como um desafio significativo e imprescindível para as instituições educacionais. Além de ser um requisito indispensável para o êxito acadêmico, a leitura desempenha um papel fundamental no desenvolvimento profissional, social e cultural dos indivíduos, uma vez que permite a ampliação do conhecimento, facilita a compreensão dos acontecimentos e promove a flexibilidade no modo de perceber e interpretar a realidade. Portanto, é inegável a importância da leitura como uma ferramenta vital para a formação integral dos estudantes, capacitando-os a enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgem ao longo de suas trajetórias educativas e além delas. 6 A VISÃO CONTEMPORÂNEA DA EDUCAÇÃO A educação está passando por um momento significativo, uma vez que a sociedade está cada vez mais atenta às instituições de ensino como pilares fundamentais para a formação das pessoas. Diante da globalização e do avanço tecnológico, surgem diversas demandas que precisam ser atendidas. A redução das distâncias e a disseminação dos meios de comunicação proporcionam um acesso rápido às novidades, ao mesmo tempo, em que a revolução tecnológica tem impactado de maneira significativa os setores produtivos e as formas de interação social. 41 É importante ressaltar que as instituições de ensino são espaços onde diferentes gerações convivem, o que pode levar a conflitos e contradições. Nesse contexto, é essencial que os problemas sejam considerados para serem negociados e resolvidos, a fim de garantir o sucesso do processo educativo. A diversidade de perspectivas e experiências presentes nas instituições de ensino pode ser uma fonte rica de aprendizado e crescimento, ao serem promovidos o diálogo, o respeito mútuo e a busca por soluções que atendam às necessidades de todos os envolvidos. Ao enfrentar e superar esses desafios, as instituições de ensino podem se tornar ambientes mais inclusivos, acolhedores e incentivados ao desenvolvimento pleno dos estudantes. Costa (1995) afirma que: Não podemos deixar de reconhecer, hoje, a incidência de consideráveis modificações operadas no mundo do trabalho pela sofisticação dos mecanismos do capitalismo, o que é registrado mesmo por teóricos de orientação marxista. O surgimento de um amplo espectro de atividades burocráticas e de prestações de serviços, e as alterações no interior de práticas ocupacionais reconhecidas e tradicionais, tem produzido mudanças nas relações de trabalho e na estrutura de classes [...]. (COSTA, 1995, p. 189). Além disso, espera-se que as instituições educacionais proporcionem aos estudantes uma educação abrangente, abordando o desenvolvimento de capacidades cognitivas, culturais, psicológicas, sociais e produtivas. Nesse contexto, é inegável que ao longo da história da educação, nunca houve tantas demandas atribuídas às escolas de ensino fundamental, médio e superior, tornando a tarefa da educação tão complexa quanto aos desafios enfrentados pela sociedade contemporânea. É amplamente reconhecido que a educação formal desempenha um papel fundamental na superação desses desafios. As transformações progressivas na sociedade demandam que ela se adapte aos novos desafios de sobrevivência surgidos das novas formas de organização social, cultural e econômica. Nesse sentido, os indivíduos são estimulados a buscar atualizações profissionais contínuas, alinhadas às novas demandas do mercado. Essas mudanças estão relacionadas à evolução dos sistemas produtivos, à globalização e ao avanço tecnológico, que impulsionam a necessidade de habilidades e conhecimentos específicos em diferentes setores. Para se manterem competitivo, precisa-se adquirir e aprimorar constantemente habilidades técnicas e 42 socioemocionais, além de se adaptar às demandas em evolução do mercado. A formação contínua e a busca por atualizações profissionais tornam-se essenciais para se enfrentar os desafios presentes e futuros, garantindo uma participação eficaz na sociedade contemporânea. O ambiente educacional no Brasil foi impulsionado a se adaptar às demandas das novas formas de organização econômica. O conceito educacional proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), baseado na teoria construtivista, ressalta a importância da educação no desenvolvimento de habilidades e competências. O objetivo é proporcionar aos alunos uma construção abrangente do conhecimento, preparando-os para a participação efetiva nesse tipo de organização social. Crivelaro 2013, aleta que, atualmente, as instituições de ensino assumem um papel cada vez mais abrangente, sendo percebidas como uma fonte potencial de soluções para os desafios ocasionados pelo sistema capitalista. A educação transcendeu seu escopo tradicional de transmissão de conhecimentos, abarcando aspectos que antes eram considerados responsabilidade primordial das famílias. Além disso, busca-se enfrentar a mistura que permeia as relações humanas e lidar com as consequências da industrialização em larga escala sobre o meio ambiente. Em certos momentos, a importância da educação transcende seu papel puramente social, tornando-se um pré-requisito fundamental para a transformação crítica da realidade e para a formação de cidadãos conscientes e informados. Nesse contexto, o currículo e suas disciplinas desempenham um papel essencial ao moldar e reinventar a cultura da sociedade global, gerando um conhecimento único, conhecido como saber escolar. Essa construção curricular representa uma oportunidade de promover a compreensão e a reflexão sobre o mundo, permitindo aos estudantes uma visão mais abrangente e crítica da realidade, capacitando-os a contribuir ativamente para a transformação da sociedade em que vivem. Contribuindo com esta reflexão, Luckesi (1993), expressa que: [...] educador é aquele que, tendo adquirido o nível de cultura necessário para o desempenho de sua atividade, dá direção ao ensino e aprendizagem. Ele assume o papel de mediador entre a cultura elaborada, acumulada e em processo de acumulação da humanidade (LUCKESI, 1993, p.115). Atualmente, observa-se um aumento significativo na proporção de crianças e jovens enfrentando dificuldades de aprendizagem nas escolas de todo o país, ao passo que a taxa de analfabetismo apresenta uma diminuição. Entretanto, a qualidade 43 da educação em todos os níveis é amplamente considerada insatisfatória. Em muitos casos, os estudantes necessitam de intervenções específicas em suas atividades de aprendizagem, porém, a burocracia das políticas públicas acaba enfraquecendo o desenvolvimento acadêmico e social de inúmeros indivíduos, perpetuando assim um ciclo vicioso de baixo desempenho, sem a implementação adequada de medidas pedagógicas de intervenção. Diante desse cenário desafiador, é imprescindível buscar soluções criativas e eficazes que promovam uma educação de qualidade, valorizando as necessidades individuais dos estudantes e proporcionando um ambiente propício ao desenvolvimento pleno de suas potencialidades. De acordo com Netto e Falcão: Vista sob um certo ângulo, a vida cotidiana é em si o espaço modelado (pelo Estado e pela produção capitalista) para erigir o homem em robô: um robô capaz de consumismo dócil e voraz, de eficiência produtiva e que abdicou de sua condição de sujeito, cidadão (NETTO; FALCÃO, 1989, p. 19). Conforme observado por Abad (2004), quando a escola não consegue estabelecer relações que estejam em consonância com as características, interesses, expectativas
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