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Brunna Meira Bonfim Aguiar – Medicina 9º semestre Delirium Síndrome clínica caracterizada por um estado agudo de confusão mental devido a um rebaixamento do nível de consciência, organicamente determinado. Inclui déficits de atenção e desorganização do comportamento, déficits cognitivos e perceptivos, alterações na excitabilidade, ciclo alterado de sono-vigília e características psicóticas (alucinações e delírios). Delírio é a alteração do juízo de realidade proveniente de um pensamento patológico, porém a lucidez da consciência, atenção e memória permanecem preservadas. Epidemiologia: Condição presente em 10-30% dos pacientes idosos atendidos no departamento de emergência. Estima-se que até 60% dos casos não sejam diagnosticados, sendo apenas cerca de 12 a 35% dos episódios de delirium clinicamente reconhecidos. Tem correlação com aumento da morbimortalidade em população não cirúrgica: aumento de 72% da mortalidade em 6 meses quando comparados idosos admitidos com e sem delirium. Podem cursar com comprometimento do nível de consciência evidenciado por sonolência e torpor, mas estados de hipervigilância e agitação são mais comuns (até 80% dos casos diagnosticados). Etiologia: 98% da manifestação é por insulto orgânico adjacente, principalmente infecciosa (pneumonia e ITU). A identificação dos fatores precipitantes é essencial, uma vez que a investigação e o tratamento devem ser direcionados a eles. É importante reconhecer os fatores predisponentes para compreender o risco de delirium de cada paciente e realizar diagnóstico diferencial adequado com suas condições de base e limitações funcionais prévias. Fatores predisponentes para quadros de delirium: Idade > 70 anos Diagnóstico prévio de demência Perda prévia de funcionalidade Imobilidade Múltiplas comorbidades Polifarmácia Déficits sensoriais (auditivo, visual) Acidente vascular cerebral (AVC) prévio Depressão Etilismo Episódio prévio de delirium Fatores que podem precipitar episódios de delirium: Infecções: ITU, pneumonia, infecção do SNC, infecção de pele e partes moles ou abdominais; Distúrbios metabólicos: distúrbios hidroeletrolíticos, disglicemias, hipoxemia, distúrbios tireoidianos, encefalopatia hepática, uremia; Neurológico: AVC, crise convulsiva, TCE, encefalopatia hipertensiva; Cardiovascular: IAM, IC, arritmias; Medicações/intoxicações: psicotrópicos, suspensão abrupta de medicamentos, introdução de novos medicamentos, intoxicação crônica por medicamentos de uso regular, intoxicação ou abstinência a álcool e a drogas de abuso; Outros: contenção física, dispositivos invasivos (sonda vesical, sonda nasoenteral), privação de sono, mudança de ambiente. Fisiopatologia: acometimento do sistema ativador reticular ascendente e comprometimento global da função cerebral cortical, como de estruturas subcorticais, notadamente nos lobos frontais; deficiência de neurotransmissores, principalmente, da acetilcolina; e, por fim, a presença de uma resposta inflamatória sistêmica desencadeada pela causa precipitante do delirium, levando ao aumento da quantidade circulante de citocinas e ativação endotelial, parece atuar sobre o fluxo sanguíneo cerebral e sobre a atividade neuronal. Quadro clínico: Alteração qualitativa e quantitativa da consciência, com evolução aguda e caráter flutuante ao longo do dia: Alteração na atenção. Desorientação e confusão. Alteração do nível de consciência (sonolência, torpor). Alterações comportamentais. Mudança no ciclo sono-vigília. Distúrbios da percepção (delírio, alucinação, ilusão, delusão). Comprometimento da funcionalidade. Por ser de difícil reconhecimento, a condição de diagnóstico clínico requer alto índice de suspeição e rastreio. Sugere-se que o delirium seja uma condição ativamente pesquisada, principalmente naqueles pacientes com fatores predisponentes. É importante ainda realizar reavaliações constantes destes pacientes, uma vez que, devido ao caráter flutuante dessa condição, o diagnóstico pode não ser realizado em uma primeira avaliação. Rastreamento: sCAM – Short Confusion Assesmente Method Brunna Meira Bonfim Aguiar – Medicina 9º semestre Classificação: após rastreamento positivo, analisar qual das 3 formas o delirium se apresenta: • Delirium hipoativo: o paciente apresenta letargia, está apático e pouco reativo a estímulos externos. • Delirium hiperativo: caracteriza-se por hiperatividade, labilidade emocional, agitação, pode incluir recusa do tratamento pelo paciente. • Delirium misto: consiste em uma alternância entre os dois primeiros; o paciente pode se mostrar com nível de reatividade normal, mas com alteração de atenção ou flutuação do nível de consciência. Exames complementares: ABC do paciente grave + mensuração de glicemia capilar + oximetria de pulso. ATENÇÃO à presença de sinais e sintomas que indiquem acometimento neurológico com sinais localizatórios para realização de TC precoce. Na ausência de suspeição clínica da doença subjacente, rastreio infeccioso e metabólico: • Hemograma, hemocultura, gasometria arterial, creatinina, ureia. • Eletrólitos: sódio, cálcio, magnésio e fósforo. • Urina 1, urocultura. • Raio X de tórax. • Eletrocardiograma. • Estudo toxicológico se uso de drogas com considerável potencial tóxico (benzodiazepínicos, antipsicóticos, lítio, digoxina). • Avaliação de função hepática, tireoidiana e adrenal pode ser útil. 2º passo se rastreio inicial não esclarecedor: TC de crânio. EEG pode ser útil se suspeita de estado de mal epiléptico não convulsivo. A punção lombar se suspeita de meningismo e encefalite (mesmo sem sinais localizatórios, realiza se apenas se nenhuma outra causa for identificada); SE ainda sem identificação de fator precipitante: mantidos em observação para avaliação do curso clínico. Diagnóstico diferencial: Ao contrário do quadro agudo do delirium, os outros diferenciais apresentam processos insidiosos que se prologam por meses ou anos. Tratamento: verificação dos sinais vitais e a mensuração imediata da glicemia, assim como oferecer suporte circulatório e respiratório conforme necessidade. Procurar e remover as possíveis causas e tratamento sintomático. Eliminar o fator precipitante é o principal objetivo inicial. Mnemônico - ADEPT: Assess: avaliar o paciente através de história clínica completa e exame físico. Diagnose: rastrear o delirium em qualquer paciente idoso agitado ou confuso, pesquisar outro distúrbio neurocognitivo. Evaluate: avaliação focada na queixa de agitação/confusão. Prevent: levantar fatores para prevenção do delirium. Treat: tratamento não farmacológico e medicamentoso. Tratamento não farmacológico: fatores ambientais melhoram orientação e reduzem provação do sensório. Promover uma comunicação clara com o paciente, evitando linguagem médica e repetindo sempre que necessário o dia e local. Disponibilizar relógios, calendários, uso de óculos e aparelhos auditivos. Visitas e envolvimento de familiares para reorientação e conforto. Brunna Meira Bonfim Aguiar – Medicina 9º semestre Ambiente calmo e escuro à noite com o uso de protetores de ouvido, ajudando o ciclo circadiano, assim como ofertar um ambiente claro e adequado durante o dia. Protocolos de sono podem ajudar a melhorar os sintomas. Controle de dor ou outros sintomas que podem estar incomodando o paciente (como retenção urinária ou obstipação), monitorizando débito intestinal e urinário, preferencialmente sem o uso de sonda vesical de demora ou outros dispositivos invasivos (excetuando-se retenção urinária aguda), e disponibilizar dieta laxativa ou até mesmo uso de laxantes. Estimular a deambulação quando esta não indicar perigo ao paciente. Evitar a contenção físicae, se e quando indicada, deve ser descontinuada o mais precocemente possível. Tratamento farmacológico: Uma análise cuidadosa deve ser feita em relação aos riscos e benefícios de se usar uma terapia medicamentosa. O tratamento farmacológico deve ser limitado a pacientes muito agitados, principalmente quando existe o risco para si e para terceiros, ou em pacientes com sintomas psicóticos e delirantes. Muitas drogas têm potencial de causar ou piorar os sintomas de delirium. Antipsicóticos: não existe evidência que reduza incidência, gravidade, evolução ou mortalidade. É utilizado para controle do sintoma de agitação no delirium hiperativo (sem objetivar sedação; apenas uma dose seria suficiente para diminuir esse sintoma); • Haloperidol 1-2 mg + doses adicionais a cada 30 a 60 mins até o efeito desejado; outras opções seriam olanzapina e risperidona. Comece com doses menores que as calculadas para adultos jovens e observe a condição clínica do paciente, aumentando aos poucos quando possível e sempre revendo possíveis efeitos colaterais. Benzodiazepínicos: são escolhidos quando delirium tem provável causa na abstinência alcoólica ou no uso dos próprios benzodiazepínicos. É também a 2ª opção se refratariedade a outras formas de tratamento da agitação; Preferência para drogas com início de ação e duração pequenos como Lorazepam. Uma vez identificada e tratada a causa precipitante e o paciente estando com a agitação controlada, a alta hospitalar pode ser considerada, mesmo que o paciente ainda não tenha voltado ao seu estado de consciência basal. As indicações de UTI são dependentes do fator precipitante, como sepse, distúrbio hidroeletrolítico grave ou pós-operatório de grandes cirurgias. FONTE: Medicina de emergência: abordagem prática / [autores Adalberto Studart Neto ... [et al.]]; editores Irineu Tadeu Velasco ... [et al.]. - 16. ed., rev., atual. e ampl. - Santana de Parnaíba [SP] : Manole, 2022
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