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Fo to s: D iv ul ga çã o B el o M on te REVISTA BRASILEIRA DE COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS ANO IV Nº 04 MAIO 2017 COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS EDIÇÃO ESPECIAL BELO MONTE COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS – CBDB REPRESENTANTE DA COMISSÃO INTERNACIONAL DE GRANDES BARRAGENS (ICOLD-CIGB) NO BRASIL DIRETORIA PRESIDENTE BRASIL PINHEIRO MACHADO VICE-PRESIDENTE FABIO DE GENNARO CASTRO DIRETOR-SECRETÁRIO LUCIANO NOBRE VARELLA DIRETOR DE COMUNICAÇÕES RICARDO AGUIAR MAGALHÃES DIRETOR TÉCNICO CARLOS HENRIQUE MEDEIROS SUPERINTENDENTE PEDRO PAULO SAYÃO BARRETO NÚCLEOS REGIONAIS - DIRETORES BA - ROBERTO FACHINETTI CE - ANA TERESA DE SOUSA PONTE GO/DF - ÁLVARO ARAÚJO MG - TERESA CRISTINA FUSARO PR - CARLOS INFANTE PE - AURÉLIO ALVES DE VASCONCELOS RJ - CELSO JOSÉ PIRES FILHO RS - LÚCIA WILHELM VÉRAS DE MIRANDA SC - SÉRGIO CORRÊA PIMENTA SP - FABIO LUIZ RAMOS DE ABREU COMISSÕES TÉCNICAS NACIONAIS - COORDENADORES BARRAGENS DE CONCRETO JOSÉ MARQUES FILHO BARRAGENS DE ENROCAMENTO COM FACE DE CONCRETO E NÚCLEO DE ASFALTO BAYARDO MATERON BARRAGENS DE REJEITOS JOAQUIM PIMENTA DE ÁVILA BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO RICARDO AGUIAR MAGALHÃES CONDICIONANTES REGULATÓRIOS À REALIZAÇÃO DE BARRAGENS E RESERVATÓRIOS RAYMUNDO GARRIDO FORMAS DE CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO RICARDO HEY ANDRZEJEWSKI HIDRÁULICA EM BARRAGENS BRASIL PINHEIRO MACHADO IMPACTO AMBIENTAL DE BARRAGENS E RESERVATÓRIOS SANDRA ELISA FAVORITO RAIMO OBRAS DE PROTEÇÃO E CONTENÇÃO DE FLUXO DE DETRITOS DIMITRY ZNAMENSKY REGISTRO DE BARRAGENS SÉRGIO CORRÊA PIMENTA SEGURANÇA DE BARRAGENS CARLOS HENRIQUE MEDEIROS USOS MÚLTIPLOS DE RESERVATÓRIOS FÁBIO DE GENNARO CASTRO CBDB - Comitê Brasileiro de Barragens Rua Real Grandeza, 219 - Bloco C - Sala1007 Bairro Botafogo - Rio de Janeiro/RJ - Brasil CEP 22281-900 FAX 055 21 2528 5959 TELEFONES 055 21 2528 5320 | 055 21 2528 5283 E-MAIL cbdb@cbdb.org.br WEB www.cbdb.org.br ICOLD - International Commission on Large Dams CIGB - Commission Internationale des Grands Barrages Comissão Internacional de Grandes Barragens 61, avenue Kléber - 75116 - Paris - France TÉL. FAX +33 1 4704 1780 FAX +33 1 5375 1822 E-MAIL secretaire.general@icold-cigb.org WEB http://www.icold-cigb.net COMITÊ EXECUTIVO BRASIL PINHEIRO MACHADO CARLOS HENRIQUE MEDEIROS RICARDO AGUIAR MAGALHÃES GERÊNCIA DE PUBLICAÇÕES PEDRO PAULO SAYÃO BARRETO COORDENAÇÃO EDITORIAL RICARDO AGUIAR MAGALHÃES JORNALISTA RESPONSÁVEL CLÁUDIA RODRIGUES BARBOSA PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO URSULA FUERSTENAU FOTOLITO / IMPRESSSÃO GRÁFICA PALLOTTI TIRAGEM 1.000 EXEMPLARES Publicação de responsabilidade do CBDB COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS A Revista Brasileira de Engenharia de Barragens (RBEB) é uma publicação técnica aperiódica do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), distribuída em todo o território nacional e direcionada aos profissionais que atuam na Engenharia de Barragens em geral e em obras associadas. Os artigos assinados são de expressa responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do CBDB. Todos os direitos reservados ao CBDB. Nenhuma parte de seus conteúdos pode ser reproduzida por qualquer meio sem a autorização, por escrito, dos editores. A Revista Brasileira de Engenharia de Barragens (RBEB) tem por objetivo a publicação de artigos científicos e de relatos técnicos inerentes à Engenharia de Barragens em geral, de modo a explicitar os conhecimentos técnicos atualizados, que sejam úteis tanto para a operação das empresas que projetam, constroem ou operam barragens, como para os centros de pesquisa e as universidades que se dedicam ao desenvolvimento da Engenharia de Barragens. O Conselho Editorial, abaixo nominado, é o órgão responsável pela definição da linha editorial e pela qualidade técnica dos trabalhos. Está composto por membros selecionados entre os sócios do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) com comprovada experiência profissional ou acadêmica em cada um dos 16 temas a seguir relacionados. TEMAS E COMPOSIÇÃO DO CONSELHO EDITORIAL HIDRÁULICA E VERTEDORES MARCELO GIULIAN MARQUES, NELSON LUIZ DE SOUZA PINTO GEOTECNIA E FUNDAÇÕES ALBERTO DE SAMPAIO FERRAZ JARDIM SAYÃO, MILTON ASSIM KANJI GEOLOGIA DE ENGENHARIA RICARDO ANTÔNIO ABRAHÃO HIDROLOGIA HEINZ DIETER FILL, MÁRIO CICARELLI PINHEIRO ENERGIA FLÁVIO MIGUEZ DE MELLO, JERSON KELMAN, FRANCISCO LUIZ SIBUT GOMIDE CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS SELMO SHAPIRA KUPERMAN, WALTON PACELLI DE ANDRADE, JOSÉ MARQUES FILHO EQUIPAMENTOS HIDROMECÂNICOS PAULO CEZAR FERREIRA ERBISTI, JOÃO CARLOS MATHEUS BARRAGENS DE TERRA E DE ENROCAMENTO CIRO HUMES, PAULO TEIXEIRA DA CRUZ, CÁSSIO BAUMGRATZ VIOTTI BARRAGENS DE FACE DE CONCRETO E DE NÚCLEO ASFÁLTICO BAYARDO MATERÓN, CIRO HUMES INSTRUMENTAÇÃO ARSENIO NEGRO JR., JOÃO FRANCISCO ALVES SILVEIRA, RUBEN JOSÉ RAMOS CARDIA BARRAGENS DE CONCRETO COMPACTADO A ROLO (CCR) FRANCISCO RODRIGUES ANDRIOLO, WALTON PACELLI DE ANDRADE MEIO AMBIENTE MARÍLIA PIRONI SCOMBATTI, SÍLVIA HELENA PIRES SEGURANÇA DE BARRAGENS CARLOS HENRIQUE DE A. C. MEDEIROS, TERESA CRISTINA FUSARO TÚNEIS TARCÍSIO BARRETO CELESTINO RECURSOS HÍDRICOS BENEDITO PINTO FERREIRA BRAGA JÚNIOR MUDANÇAS CLIMÁTICAS MARIA ASSUNÇÃO FAUS DA SILVA DIAS 3REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS EDITORIAL Edição Especial - Belo Monte Nesta Edição Especial dedicada ao Complexo Belo Monte, localizado no rio Xingu, no Estado do Pará, apresentamos inovações de Engenharia resultantes de muito empenho na interpretação do sítio e amplo debate sobre formas de aproveitamento responsável da Amazônia. Os artigos aqui publicados fornecem visão geral e detalhes técnicos relevantes sobre este grandioso empreendimento, com soluções que comprovam a qualidade e expertise da Engenharia de Barragens brasileira. A logística complexa das estruturas do empreendimento é compartilhada pelos autores, bem como o planejamento construtivo, inclusive de aspectos importantes em relação às barragens de terra e terra-enrocamento. Veremos os desafios para a construção dos diques e do Canal de Derivação, considerado o maior canal artificial do mundo, com extensão de 16 km. Conectado pelo Reservatório Intermediário, que consiste em um lago artificial paralelo à calha do rio Xingu, o Canal de Derivação não possui precedente em termos de vazão de adução. Seu volume de escavação foi superior a 100 milhões de m3, fato que exigiu rigoroso estudo das etapas de construção e da disposição dos materiais escavados. Conceitos de Engenharia conduziram para a definição da geometria e o resultado foi a concepção do manejo e sistema de drenagem dos igarapés que afluem ao Canal. A Revista aborda também os condicionantes geológico-geotécnicos e as soluções adotadas para construir, na área do Graben do Macacão, um espigão de arenito que funciona como barragem natural na região geológica. Segundo os autores, as técnicas utilizadas para este desafio são diferentes das usadas nas fossas tectônicas, com flancos trapezoidais não alongados e arcabouço estrutural controlado por linhas de fraqueza, constituindo zonas de falhas em degraus. A UHE Belo Monte é do tipo fio d’água, ou seja, ela permite a geração de mais energia no período de cheia e menos energia no período de seca, com foco nos condicionantes sociais e ambientais inerentes ao entorno do local de implantação do empreendimento. Em outras palavras: a UHEBM não opera com reservatório de regularização. Chama a atenção a estrutura do Vertedouro com elevado grau de afogamento por jusante, o que diferencia sua concepção. Tabelas, fórmulas e muitas imagens demonstram aos leitores dados de projeto, construção e controle tecnológico das estruturas de concreto. Cabe ressaltar o conteúdo sobre a avaliação do desempenho das dosagens de concreto à resistência à compressão axial, com foco na economia de recursos e no consumo dematerial cimentício. Acompanhe a descrição do sistema AutoLab, que gerencia processos de coleta, análise das informações da Central de Concreto e Laboratório, em tempo real, para Controle de Qualidade. São relatados os procedimentos e aspectos do monitoramento e do desempenho através do Plano de Segurança de Barragens (PSB), que monitora as barragens, os diques e as demais estruturas - apoiadas sobre os mais diversos tipos de fundação. Esperamos que vocês tenham uma boa e proveitosa leitura sobre projeto, construção e operação do Complexo UHE Belo Monte e seus grandes desafios. Carlos Henrique Medeiros Diretor Técnico CBDB ARTIGOS SUMÁRIOSUMÁRIO Tema: Energia Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Geotecnia e Fundações Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais Tema: Energia Tema: Segurança de Barragens A construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte - quarta maior do mundo em capacidade instalada 05 UHE Belo Monte - Canal de Derivação: maior canal artificial do mundo para geração hidrelétrica 22 Reservatório Intermediário conecta Canal de Derivação à Casa de Força Principal 31 Condicionantes geológico-geotécnicos e soluções de tratamento dos arenitos do Graben do Macacão 52 Material cimentício para o Projeto Belo Monte59 Análise da eficiência dos concretos do Projeto Belo Monte 69 Verificação da estabilidade de revestimento em enrocamento no fundo do Canal de Derivação da UHE Belo Monte 79 Revisão de conceitos para projetos de vertedouros de baixa queda com elevado grau de submergência – aplicação ao Vertedouro de Belo Monte 86 Estudos hidráulicos de alternativas de defletores de gabiões para o Canal de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte 92 Autolab - Sistema de Gerenciamento do Controle Tecnológico 108 Minimização de infiltrações entre concreto de primeiro e segundo estágios para turbinas tipo Bulbo 122 UHE Belo Monte - sítio Pimental e o desvio do Xingu129 O sítio Belo Monte e seus desafios para atingir 11.000 MW 100% brasileiros 99 Segurança de Barragens da UHE Belo Monte39 4 WWW.CBDB.ORG.BR Atualização dos Inventários Hidroenergéticos dos rios brasileiros Erton Carvalho O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) dá sequência aos dois projetos selecionados como os mais importantes pela entidade para todo o País: a implementação da Lei de Segurança de Barragens (lei nº 12.334 de 20 de setembro de 2010) e a campanha para priorizar o uso múltiplo da água. Dentro dessas relevantes tarefas, convém ressaltar a análise da atual situação do Inventário dos Potenciais Hidroelétricos das Bacias Hidrográficas Brasileiras. Afinal, após a década de noventa, o referido Inventário vem sendo limitado mediante o uso exclusivo de reservatórios sem contemplar volumes para a regularização de vazões. O sistema elétrico nacional tem como suporte os grandes reservatórios, implantados no período de 1960 a 1980, que totalizam mais de 250 bilhões de m3 de volume útil. A atual política é de disponibilizar para o nosso sistema elétrico aproveitamentos denominados a fio d’ água, isto é, com reservatórios sem volumes para a regularização de vazões. Basta dizer que no período de 1990 a 2015, o volume útil total disponibilizado nos reservatórios foi somente da ordem de 8,5 bilhões de m3. A proposição do CBDB é implementar e disponibilizar os reservatórios para atender ao uso múltiplo da água. Recentemente, as crises de abastecimento para o uso do homem foram marcadas pela falta de água em cidades brasileiras do porte de São Paulo, por exemplo. A capital paulista foi precisou enfrentar um rigoroso racionamento. As justificativas são as limitações impostas pelos órgãos ambientais devido aos impactos causados pelos reservatórios ao meio ambiente. Eles deveriam ser também analisados considerando as consequências devido à obrigatória substituição da energia hidráulica pela energia gerada com o uso de combustíveis fósseis - que emitem gases de efeito estufa, o que contribui para as mudanças climáticas no globo terrestre. Ambas são responsáveis pelo suporte de energia na base do sistema elétrico brasileiro. O principal impacto ambiental produzido pelos reservatórios ocorre com maior importância no próprio curso d’água, com ou sem reservatório de regularização de vazões. O impacto complementar com o acréscimo dos volumes para obter regularização de vazões pode ser compensável com reposição ou indenização de bens tangíveis, e assistência educacional e social às populações atingidas. O Inventário das Bacias Hidrográficas Brasileiras foi iniciado com o trabalho realizado pelo grupo CANAMBRA, que fez o Inventário Hidrelétrico de toda a região Centro-Sul do País. Tal produção contou com o fundamental apoio organizacional e técnico da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), de Furnas Centrais Elétricas S.A. e da Companhia Energética de São Paulo. Surgiram, então, as primeiras grandes hidrelétricas nacionais. Entre elas estavam: as usinas de Furnas (no rio Grande), Três Marias (no rio São Francisco) e, ainda, as hidrelétricas do Complexo Urubupungá e as usinas de Jupiá e Ilha Solteira, no rio Paraná. Os Inventários das Bacias Hidrográficas dos rios Tocantins e Araguaia e da Bacia Amazônica foram realizados pela Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (ELETRONORTE). Desse inventário, destaque para os empreendimentos em fase de geração no rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), Tucuruí no rio Tocantins e Belo Monte no rio Xingu. Em decorrência da importância em aperfeiçoar o uso dos nossos recursos hídricos, o CBDB enviou, em dezembro de 2013, uma carta dirigida para a Presidência da República. O documento solicitava providências para que o órgão responsável providenciasse uma atualização do citado inventário, de modo a considerar os reservatórios de regularização de vazões. Ressalvamos que tal providência vem ao encontro das atuais e futuras necessidades do Brasil. HOLOFOTE Erton Carvalho. Engenheiro Civil, especialização em Hidrologia e Hidraúlica. Foi Professor Assistente da Universidade Federal de Goiás e Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Experiência de 50 anos em estudo e projetos de empreendimentos hidráulicos tais como Aproveitamento Hidrelétrico de Capanda (Angola), UHE Santo Antonio, Itumbiara, Corumbá , Serra da Mesa e Teles Pires, entre outros. Experiência em inspeção e auditoria de barragens construídas. Publicou 32 artigos em Congressos Internacionais e Nacionais. Palestrante sobre os temas: Matriz Energética Brasileira, Desvio de Rios, Desempenho de vertedouros e Segurança de Barragens. No Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB: Diretor Administrativo -Financeiro, Diretor de Comunicações, Diretor Técnico e Presidente. 5REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS ENERGIA A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA José BIAGIONI de Menezes | Diretor de Construção – Norte Energia S.A. Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia – Norte Energia S.A. Daniel Teixeira LEITE | Engenheiro Civil Sênior – Norte Energia S.A. O Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, cujo objetivo é a geração de energia elétrica, está sendo construído no rio Xingu, no Estado do Pará, abrangendo áreas dos municípios de Altamira e Vitória do Xingu. A operação comercial de sua primeira unidade geradora iniciou em abril de 2016. Até março de 2017, já tinham sido instaladas cinco unidades geradoras com turbinas Francis e potência nominal igual a 611,1 MW, no sítio Belo Monte, e mais seis unidades geradoras do tipo Bulbo com turbinas Kaplan de eixo horizontal e potência nominal igual a 38,85 MW, no sítio Pimental. Com isso, o totalde potência instalada foi de 3.288,6 MW. O número representa 29% da potência total a ser instalada: 11.233,1 MW - o que corresponde a 24 unidades geradoras nas duas Casas de Força. O arranjo das estruturas compreende quatro sítios distintos e distantes entre si, desde as obras do barramento principal no Xingu, no sítio Pimental, até o local onde está sendo construída a Casa de Força Principal, no sítio Belo Monte. A distância em linha reta de cerca de 40 km torna esse empreendimento diferente de qualquer outro já construído no Brasil ou no exterior, em complexidade e logística. São seis barragens de terra e terra-enrocamento, 30 diques, um Canal de Cerivação (considerado o maior canal artificial do mundo), duas Casas de Força, e um Vertedouro com 18 comportas e capacidade de vertimento de 62.000 m³/s. Todo esse complexo de obras civis necessário para permitir o início enchimento dos reservatórios principal e intermediário, foi executado num tempo recorde de 4,2 anos. Sua conclusão ocorreu em fevereiro de 2016. Aproximadamente 35 mil trabalhadores estiveram envolvidos com a empreitada durante o pico das obras. Atualmente, as obras civis se concentram na montagem das unidades geradoras remanescentes e na execução do concreto de 2° estágio da Casa de Força de Belo Monte. Belo Monte HPP, whose objective is the generation of power has been built on the Xingu River, in the State of Pará, Brazil, it encompassed areas of the towns of Altamira and Vitória do Xingu, it started the commercial operation of its first generating unit in April 2016,. By March 2017 had already been installed with five generating units with Francis turbines with nominal power equal to 611.1 MW in Belo Monte site and six generating units of type bulb with Kaplan Horizontal Axis turbines, with nominal power equal to 38.85 MW in Pimental site, totaling 3,288.6 MW of total amount of 11,233.1 MW to be installed. The layout of the structures comprises four distinct and distant sites, since the works of the main dam on the Xingu River in the Pimental site to Belo Monte, the site of the the main powerhouse, with a straight distance of about 40 km. This one makes this project different from any other one already built in Brazil or abroad, in complexity and logistics, with six earth and earth-rockfill dams, thirty dikes, a power canal considered the largest artificial one in the world, two powerhouses and a spillway with eighteen gates, with a flow capacity of 62,000 m³/s. The entire civil works complex necessary carried out to allow the start of the filling of the main and intermediate reservoirs in a record time of 4.2 years, in November and December 2015 respectively, and its conclusion in February 2016, involving approximately thirty-five thousand workers at the peak of construction. Currently, the civil works are concentrated in the assembly of the remaining generating units and in the placement of the concrete of second stage of Belo Monte powerhouse. RESUMO ABSTRACT 6 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO Construir uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo na região Amazônica foi um dos grandes desafios de engenharia, logística e socioambiental que a Norte Energia S.A. (empreendedora do Complexo Hidrelétrico) e todas as demais empresas envolvidas com a construção da UHE Belo Monte tiveram que enfrentar. O Complexo Hidrelétrico de Belo Monte está sendo construído no rio Xingu, nos municípios de Altamira e Vitória do Xingu, no Estado do Pará. Quando estiver totalmente construído, em 2020, terá uma capacidade nominal instalada de 11.233,1 MW e será a quarta maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, com 24 unidades geradoras, sendo seis do tipo Bulbo com 233,1 MW, no sítio Pimental e 18 unidades do tipo Francis com 11.000 MW, no sítio Belo Monte. O Arranjo Geral do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, que é uma usina a fio d´água, se caracteriza por apresentar sítios de obras distintos e distantes entre si, desde as estruturas do barramento propriamente dito do rio Xingu, no sítio Pimental, até o sítio Belo Monte, onde será construída a Casa de Força Principal do empreendimento. A distância entre estes dois sítios, em linha reta, é de aproximadamente 40 km. Entre estes dois sítios, o sistema de adução da Casa de Força Principal é constituído pelo Canal de Derivação, com 16,2 km de extensão, e pelo Reservatório Intermediário, conformado por diques e canais de transposição. Dentre os principais desafios de engenharia al- cançados nesta obra, des- taque para a produção de 69 milhões de m³ de aterro, a escavação de 166 milhões de m³ de terra e rocha, e o lançamento de 3 milhões de m³ de concreto em um período de 4,2 anos. Em termos de movimentação de obras de terra e rocha, a UHE Belo Monte supera as maiores usinas hidrelétricas do mundo, conforme evi- denciado pela Figura 1. FIGURA 1 – Comparação dos volumes de produção das principais usinas hidrelétricas FIGURA 2 – Arranjo Geral da UHE Belo Monte 2. ARRANJO GERAL A UHE Belo Monte se caracteriza por ser uma grande usina de derivação, onde o barramento principal ocorre no sítio Pimental e a derivação do rio Xingu ocorre pelo maior canal artificial para geração hidrelétrica do mundo, com extensão 16,2 km. Ele alimenta o Reservatório Intermediário, que faz a adução da Casa de Força Principal, no sítio Belo Monte. O empreendimento não possui reservatório de acumulação, operando em regime de fio d´água, sendo que o nível do Reservatório Principal se situa na elevação 97,00 m. A queda bruta da Casa de Força Principal no sítio Belo Monte é da ordem de 91,50 m e a vazão máxima turbinada é de 13.950 m³/s, possibilitando uma potência total nominal instalada de 11.000 MW. A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 7REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 1 – Números da UHE Belo Monte FIGURA 3 – Arranjo do sítio Pimental As principais características das estruturas do sítio Pimental são apresentadas na Tabela 2. EMPREENDIMENTO POTÊNCIA TOTAL INSTALADA: 11.233,1 MW GARANTIA FÍSICA: 4.571 MW MÉDIOS PRAZO DA CONCESSÃO PARA A NORTE ENERGIA, A PARTIR DE 26/08/2010: 35 ANOS ÁREA DOS RESERVATÓRIOS PRINCIPAL: 359 KM²; INTERMEDIÁRIO: 119 KM² E TOTAL: 478 KM² CASAS DE FORÇA: PRINCIPAL, EM BELO MONTE COMPLEMENTAR, EM PIMENTAL SÍTIO BELO MONTE TURBINAS: 18 TIPO FRANCIS POTÊNCIA INSTALADA: 11 MIL MW GARANTIA FÍSICA: 4.419 MW MÉDIOS POTÊNCIA DE CADA UN.: 611,11 MW SÍTIO PIMENTAL TURBINAS: 06 KAPLAN DE EIXO HORIZONTAL POTÊNCIA INSTALADA: 233,1 MW GARANTIA FÍSICA: 152,1 MW MÉDIOS POTÊNCIA GERADORA UNITÁRIA: 38,8 MW 02 DIQUES CANAL DE DERIVAÇÃO EXTENSÃO: 16,2 KM PROFUNDIDADE TOTAL: 25 M LÂMINA D’ÁGUA: 22 M LARGURA NA BASE: 210 M LARGURA NA SUPERFÍCIE: 359 M DIQUES DO RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO QUANTIDADE: 28 DIQUES ATERRO: 31.000.000 M³ DE VOLUME TOTAL DIQUES MAIOR ALTURA: DIQUE 8A, COM 68 METROS MAIOR EXTENSÃO: DIQUE 13, COM 1.987 M MAIOR VOLUME: DIQUE 13, 5.757.662 M³ 2.1 SÍTIO PIMENTAL O sítio Pimental compreende o barramento principal do empreendimento, que contém o Reservatório do rio Xingu, a partir do qual a água é desviada por um canal de derivação para a formação do Reservatório Intermediário. As principais estruturas que fazem parte do sítio Pimental são: Barragem Lateral Esquerda, Casa de Força Complementar com Tomada d’Água incorporada, Vertedouro, Barragem do Canal Direito, Subestação, Sistema de Transposição de Peixes e Sistema de Transposição de Embarcações. A Figura 3 apresenta o Arranjo Geral do sítio Pimental. São apresentados alguns números referentes à UHE Belo Monte na Tabela 1. VERTEDOURO O Vertedouro apresenta perfil vertente do tipo Creager, com crista da ogiva na El. 76,00 m e com 18 comportas com dimensões de 20,0 m de largura e 22 m de altura (cada). O Vertedouro foi dimensionado para uma vazão de projeto de 62.000 m³/s, com nível do reservatóriona El. 97,50 m, correspondente à Cheia Máxima Provável (CMP). 8 WWW.CBDB.ORG.BR CASA DE FORÇA E TOMADA D’ÁGUA A Casa de Força é composta por seis unidades geradoras do tipo Kaplan de eixo horizontal (Bulbo), com potência unitária de 38,85 MW. A Casa de Força possui três blocos com 38,10 m (cada um abrigando duas unidades geradoras). Por se tratar de um aproveitamento de baixa queda, a Tomada d’Água e a Casa de Força formam uma única estrutura. SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES O Sistema de Transposição de Peixes está localizado adjacente à Casa de Força. Este sistema apresenta um comprimento total de 1.200 m e é constituído por quatro partes principais: canal com diques dotados de aberturas para passagem dos peixes, canal de entrada, canal de saída e o sistema de água de atração. O Sistema de Transposição de Peixes foi dimensionado para uma vazão de 40,0 m3/s, sendo 12,0 m3/s no Canal de Transposição de Peixes e 28,0 m3/s de água de atração de peixes. SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE EMBARCAÇÕES O sistema de transposição de embarcações foi implantado na ombreira da margem direita do rio Xingu. O sistema é composto por três semi-canais escavados para aproximação das embarcações. Sobre as estruturas dos semi-canais, foram BARRAGEM DO CANAL DIREITO Localizada na margem direita do rio Xingu, possui 834 m de comprimento e 40 m de altura. Ela possui seção homogênea, com enrocamento incorporado a montante, totalizando um volume de 1.142.121 m³ de aterro. BARRAGEM LATERAL ESQUERDA (BLE) Com 5.100 m de comprimento e altura máxima de 14 m, vai da margem esquerda do rio Xingu até as estruturas de geração e vertedouro (passando pelas ilhas do Forno, Pimental, construídos píeres para a operação de pórticos tipo Travell Lift. No nível do píer foi construída uma plataforma para a manobra e o posicionamento de uma carreta especial auto propelida, denominada transporter. O volume de movimentação de escavação, aterro e concreto foi 415.000,00 m³, 155.000,00 m³ e 9300,00 m³, respectivamente. A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 9REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 2 – Características das estruturas de Pimental Marciana / Reinaldo e pelos canais do rio Xingu). O maciço da BLE apresenta seção homogênea em solo compactado, coroamento de crista na El. 100,00 m, e cut off desincorporado a montante, totalizando um volume de 3.920.000 m³ de aterro. 2.2 SÍTIO CANAIS Para o escoamento da vazão máxima turbinada de 13. 950 m³/s, desde a calha do rio Xingu até o Reservatório Intermediário, que alimenta a Tomada d’Água principal em Belo Monte, foi construído um dos maiores canais de derivação do mundo. Com seção trapezoidal com largura no fundo de 210 m, 25 m de altura e aproximadamente 16,2 km de comprimento, o Canal de Derivação foi totalmente revestido com enrocamento, com a finalidade de controlar e uniformizar a rugosidade ao longo do canal. As obras de Manejo de Igarapés que interceptavam o canal exigiram um projeto de drenagem para desviar e amortecer o fluxo de água afluente à região de escavação. O objetivo foi conduzir as águas dos igarapés interceptados pelo canal para possibilitar a escavação do mesmo, conforme mostrado nas Figuras 4 e 5. FIGURA 4 – Arranjo do Canal de Derivação [2] FIGURA 5 – Fotos ao longo do Canal de Derivação 10 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 6 – Arranjo do Reservatório Intermediário [2] A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 2.3 RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO - DIQUES O Reservatório Intermediário é formado por 28 diques que fecham selas ou talvegues de igarapés e estão distribuídos ao longo de todo o Reservatório. Além destes diques, na região de Belo Monte, o Reservatório é limitado pela Barragem da Vertente de Santo Antonio, pelas Barragens de Fechamento Lateral Esquerda e Lateral Direita, e pela própria Tomada d’Água. Para possibilitar a condução das vazões ao longo do Reservatório Intermediário sem perdas de cargas excessivas, foram escavados sete Canais de Transposição, além de três canais para possibilitar o enchimento do Reservatório Intermediário. Os diques, todos com seção homogênea em terra e construídos com solos migmatíticos, totalizam 31 milhões m3 de aterro. O Dique 8B é o mais alto, com 68 m de altura, enquanto que o Dique 13 é o mais ex- tenso, com 1.987 m de comprimento. Ele é também o de maior volume de aterro, com 5.757.662 m³, cuja seção típica é mostrada na Figura 7. A Tabela 3 apresenta um resumo das principais características dos diques do Reservatório Intermediário. 11REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 3 - Principais características dos diques do Reservatório Intermediário 2.4 SÍTIO BELO MONTE O arranjo das estruturas localizadas no sítio Belo Monte compreende o circuito de geração propriamente dito, formado por: Tomada d’Água, Condutos Forçados, Casa de Força, e Canal de Fuga, duas Barragens de Fechamento Laterais de terra e enrocamento e a Barragem da Vertente do Santo Antônio. As estruturas de concreto do barramento do sítio de Belo Monte são formadas por 18 blocos de Tomada d’Água, um Bloco Central de concreto-gravidade e dois Muros Laterais de Fechamento e de abraço das barragens de terra e enrocamento das margens, com extensão total de cerca 819 m e coroadas na El. 100,00 m. EXTENSÃO ALTURA VOLUME (m) (m) (m³) DIQUE 1 80,00 6,00 5.120 DIQUE 1A 185,00 23,00 140.882 DIQUE 1B 100,00 5,00 5.902 DIQUE 1C 740,00 33,00 844.466 DIQUE 6A 850,00 53,00 1.020.221 DIQUE 6B 300,00 9,00 36.112 DIQUE 6C 1.515,00 63,00 4.134.404 DIQUE 7B 1.270,00 49,00 1.786.684 DIQUE 8A 1.030,00 68,00 5.227.785 DIQUE 8B 672,00 48,00 1.864.570 DIQUE 10B 353,00 24,00 219.734 DIQUE 11 617,00 10,00 154.063 DIQUE 12 74,00 6,00 4.642 DIQUE 13 1.987,00 53,00 5.757.662 DIQUE 14A 852,00 29,00 404.620 DIQUE 14B 235,00 9,00 34.954 DIQUE 14C 820,00 54,00 2.564.501 DIQUE 14D 651,00 40,00 458.346 DIQUE 14F 511,00 19,00 160.043 DIQUE 14G 242,00 6,00 17.253 DIQUE 18 180,00 18,00 93.191 DIQUE 19B 1.500,00 43,00 4.161.829 DIQUE 19C 295,00 7,00 20.063 DIQUE 19D 300,00 12,00 62.783 DIQUE 19E 190,00 18,00 39.811 DIQUE 27 358,00 14,00 62.647 DIQUE 28 1.141,00 32,00 1.508.779 DIQUE 29 521,00 21,00 207.869 ESTRUTURA EXTENSÃO ALTURA VOLUME (m) (m) (m³) DIQUE 1 80,00 6,00 5.120 DIQUE 1A 185,00 23,00 140.882 DIQUE 1B 100,00 5,00 5.902 DIQUE 1C 740,00 33,00 844.466 DIQUE 6A 850,00 53,00 1.020.221 DIQUE 6B 300,00 9,00 36.112 DIQUE 6C 1.515,00 63,00 4.134.404 DIQUE 7B 1.270,00 49,00 1.786.684 DIQUE 8A 1.030,00 68,00 5.227.785 DIQUE 8B 672,00 48,00 1.864.570 DIQUE 10B 353,00 24,00 219.734 DIQUE 11 617,00 10,00 154.063 DIQUE 12 74,00 6,00 4.642 DIQUE 13 1.987,00 53,00 5.757.662 DIQUE 14A 852,00 29,00 404.620 DIQUE 14B 235,00 9,00 34.954 DIQUE 14C 820,00 54,00 2.564.501 DIQUE 14D 651,00 40,00 458.346 DIQUE 14F 511,00 19,00 160.043 DIQUE 14G 242,00 6,00 17.253 DIQUE 18 180,00 18,00 93.191 DIQUE 19B 1.500,00 43,00 4.161.829 DIQUE 19C 295,00 7,00 20.063 DIQUE 19D 300,00 12,00 62.783 DIQUE 19E 190,00 18,00 39.811 DIQUE 27 358,00 14,00 62.647 DIQUE 28 1.141,00 32,00 1.508.779 DIQUE 29 521,00 21,00 207.869 ESTRUTURA EXTENSÃO ALTURA VOLUME (m) (m) (m³) DIQUE 1 80,00 6,00 5.120 DIQUE 1A 185,00 23,00 140.882 DIQUE 1B 100,00 5,00 5.902 DIQUE 1C 740,00 33,00 844.466 DIQUE 6A 850,00 53,00 1.020.221 DIQUE 6B 300,00 9,00 36.112 DIQUE 6C 1.515,00 63,00 4.134.404 DIQUE 7B 1.270,00 49,00 1.786.684 DIQUE 8A 1.030,00 68,00 5.227.785 DIQUE 8B 672,00 48,00 1.864.570 DIQUE 10B 353,00 24,00 219.734 DIQUE 11 617,00 10,00 154.063 DIQUE 12 74,00 6,00 4.642 DIQUE 13 1.987,00 53,00 5.757.662 DIQUE 14A 852,00 29,00 404.620 DIQUE 14B 235,00 9,00 34.954 DIQUE 14C 820,00 54,00 2.564.501 DIQUE 14D 651,00 40,00 458.346 DIQUE 14F 511,00 19,00 160.043 DIQUE 14G 242,00 6,00 17.253 DIQUE 18 180,00 18,00 93.191 DIQUE 19B 1.500,00 43,00 4.161.829 DIQUE 19C 295,00 7,00 20.063 DIQUE 19D 300,00 12,00 62.783 DIQUE19E 190,00 18,00 39.811 DIQUE 27 358,00 14,00 62.647 DIQUE 28 1.141,00 32,00 1.508.779 DIQUE 29 521,00 21,00 207.869 ESTRUTURA FIGURA 7 – Seção Típica do Dique 13 [3] A Tomada d’Água, o Muro Central e os Muros Laterais foram executados num misto de concreto convencional e Concreto Compactado com Rolo (CCR). A Tomada d’Água, do tipo gravidade, é constituída de 18 blocos com 33 m de largura, dos quais partem os condutos forçados em igual número, expostos e paralelos entre si, sendo um para cada unidade geradora. Esses blocos são dispostos em dois grupos, sendo que oito blocos se agrupam na esquerda hidráulica e os dez restantes na direita. Esses dois grupos são separados por um muro central de gravidade, também com 33 m de largura. A Casa de Força Principal da Usina de Belo Monte abriga 18 unidades com turbinas do tipo Francis de eixo vertical. O rotor da turbina pesa 316,6 t e possui um diâmetro de 8,68m. O rotor do gerador pesa 1.250,0 t e possui um diâmetro de 18,73 m. O conjunto total de uma unidade pesa 2.160 t. Eles são acoplados a um gerador trifásico de corrente alternada. A potência de cada unidade geradora é de 611,11 MW, totalizando uma potência instalada de 11.000 MW. Os blocos das unidades geradoras possuem 33 m de largura cada, sendo oito na margem esquerda, denominados Circuito de Geração 1, e dez na margem direita, denominados Circuito de Geração 2. Eles são separados fisicamente por um septo natural de rocha rema- nescente da escavação do local. Este septo possui aproximadamente 32 m de largura e se estende ao longo do canal de fuga, dividindo-o em dois canais. A Subestação de Manobra que interliga a usina ao sistema de transmissão é do tipo blindada, isolada a gás SF6, na tensão de 500 kV, e está localizada a montante dos transformadores elevadores, no deck principal da Casa de Força Principal. A Tabela 4 apresenta as principais características das barragens do sítio Belo Monte. A restituição das águas turbinadas ao rio Xingu é feita por um Canal de Fuga escavado em solo e rocha, com cerca de 1,2 km de comprimento e 620 m de largura média. Sobre o canal de fuga: a cerca de 700 m a jusante dos blocos da Casa de Força, foi construída uma ponte com 614 m de extensão e que faz parte da rodovia Transamazônica (BR 230.) 12 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 8 – Arranjo da UHE Belo Monte [3] FIGURA 9 – Circuito de Geração da UHE Belo Monte [3] A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 13REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 10 – Fotos do sítio Belo Monte TABELA 4 – Descrições das barragens do sítio Belo Monte A Barragem de Fechamento Direita está coroada na El. 100,00 m, altura máxima da ordem de 54 m e extensão de 780 m, totalizando 1.374.839 m³ de aterro. A Barragem da Vertente do Santo Antonio está à esquerda das estruturas da Tomada d’Água em posição vizinha à Barragem de Fechamento Esquerda. A barragem apresenta a crista coroada na El. 100,00 m, com a cota mais baixa da fundação aproximadamente na El. 30,0 - que resulta em uma estrutura com altura de 70 m. A crista possui uma largura de 7 m e extensão da ordem de 1.310 m, totalizando 6.122.390 m³ de aterro. A Barragem de Fechamento Esquerda tem o coroamento na El. 100,00 m, altura máxima da ordem de 88 m e extensão de 1.100 m, totalizando 7.790.326 m³ de aterro. 14 WWW.CBDB.ORG.BR 3. A CONSTRUÇÃO DE BELO MONTE 3.1 PRINCIPAIS VOLUMES DE ATERRO, ESCAVAÇÃO E CONCRETO Para se ter uma ideia da escala do Projeto, as quantidades previstas e executadas acumuladas até novembro de 2016 estão mostradas na TABELA 5. TABELA 5 – Volumes gerais de serviços previstos e executados acumulados 3.2 PRINCIPAIS EVENTOS CONSTRUTIVOS DA OBRA São apresentados a seguir os principais eventos construtivos da UHE Belo Monte, em ordem cronológica. ANO DE 2011 - Início da construção das obras civis. ANO DE 2012 Dentre os desafios enfrentados na construção da UHE Belo Monte, a execução do primeiro acesso para interceptar o rio Xingu, no sítio Pimental, foi um deles. Para dar condições de andamento nas obras do canteiro de obras da Ilha Marciana, a execução deste acesso era fundamental. Entretanto, a vazão de 20.078 m³/s, ocorrida em 31/01/2012, não permitiu o fechamento do acesso na ilha Pimental. Com a proximidade do acesso à ilha e o estrangulamento do fluxo de água houve um aumento da velocidade da água, o que favoreceu a ocorrência de erosões na margem da ilha Pimental. Com isto, a continuidade da execução do acesso teve que aguardar o período seco. A Figura 11 mostra fotos deste evento. No mês de maio de 2012, com o rio Xingu apresentando vazões menores, a execução dos acessos foi concluída, dando condições ao andamento do Desvio de 1ª Fase em Pimental, conforme mostrado nas Figuras 12 e 13. FIGURA 11 – Execução do acesso de jusante em Pimental em 31/01/2012 A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 15REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 12 – Ilustração do Desvio de 1ª Fase – Pimental [1] FIGURA 13 – Execução do acesso de jusante em Pimental em maio de 2012 FIGURA 17 – Desvio de 1ª Fase até as ilhas Marciana e da Serra, em janeiro de 2013 FIGURA 14 – Escavação do Canal de Derivação em novembro de 2012 FIGURA 15 – Escavação do Circuito de Geração do sítio Belo Monte em novembro de 2012 FIGURA 16 – Inauguração do Sistema de Transposição de Embarcações, no sítio Pimen- tal, em janeiro de 2013 As Figuras 14 e 15 mostram outros eventos ocorridos no ano de 2012. ANO DE 2013 Em janeiro de 2013, grandes metas foram alcançadas com a conclusão do Desvio de 1ª Fase e início da operação do Sistema de Transposição de Embarcações. Dentre as metas alcançadas em 2013 estão o início da concretagem das Casas de Força de Pimental e do sítio Belo Monte. 16 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 18 – Avanço das estruturas de concreto no sítio Belo Monte e Pimental em outubro de 2013 FIGURA 20 – Descida do pré-distribuidor da UG 1 de Belo Monte em junho e início da montagem das comportas do vertedouro em Pimental, em julho de 2014 FIGURA 19 – Avanço das obras do Canal de Derivação e no sítio Bela Vista, em outubro de 2013 As obras nos sítios Canais e Bela Vista avançaram também neste período. As fotos a seguir, ilustradas na Figura 18, mostram a execução da escavação do Canal de Derivação e do aterro do Dique 19B, respectivamente. ANO DE 2014 A montagem eletromecânica ganhou relevância em 2014 com o início da operação da ponte rolante no sítio Belo Monte. Na ocasião, houve a descida do pré-distribuidor da Unidade Geradora 1 (UG 1) da Casa de Força. A montagem das comportas do Vertedouro no sítio Pimental foi iniciada em julho de 2014. As fotos da Figura 20 mostram respectivamente esses dois eventos. Ao final de 2014, a UHE Belo Monte atingiu o pico de construção da obra com mais de 35 mil trabalhadores. Grandes avanços foram alcançados nesta época! Em novembro de 2014, as escavações já haviam superado 160 milhões de m3, bem como tinham sido executados 40 milhões de m3 de aterro e mais de 2 milhões de m3 de concreto. As Figuras 21 a 23 representam o estágio da obra em novembro de 2014 nos principais sítios. A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 17REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 21 – Sítio Pimental em novembro de 2014 FIGURA 22 – Canal de Derivação em novembro de 2014 FIGURA 23 – Sítio Belo Monte em novembro de 2014 ANO DE 2015 Dois eventos de magnitude foram realizados em 2015 no sítio Pimental: o Desvio de 2ª fase do rio Xingu pelo Vertedouro em julho e o fechamento do canal direito com as ensecadeiras de 2ª fase em agosto. Com isso, foi possível começar o enchimento do Reservatório em novembro de 2015. Dando início ao desvio de 2ª fase, em 31 julho de 2015 ocorreu a remoção da ensecadeira de 1ª Fase. Sequencialmente ocorreuo fechamento do Canal Direito em 07 de agosto, conforme mostram as Figuras 24 e 25. FIGURA 24 – Desvio de 2ª Fase – sítio Pimental [1] 18 WWW.CBDB.ORG.BR Para cumprir esse desafio, foi necessário montar uma verdadeira “operação de guerra”. Eram três turnos de trabalho durante 24h/dia. Foram alocados equipamentos de alto desempenho de compactação (CAT 825 de 35t), mostrados na Figura 26. FIGURA 26 – Praça de trabalho da Ensecadeira Barragem, em setembro de 2015 FIGURA 28 – Enchimento dos reservatórios FIGURA 27 – Coroamento da Ensecadeira Barragem em outubro de 2015 A Ensecadeira Barragem atingiu a cota de coroamento em 22 de outubro de 2015, conforme evidenciado na Figura 27. Após o coroamento das estruturas, em 24 de novembro de 2015, foi iniciado o enchimento do Reservatório Principal do rio Xingu e, em 12 de dezembro de 2015, começou o enchimento do Reservatório Intermediário por meio de um Vertedouro com duas comportas, localizado na margem direita, no início do Canal de Derivação. As fotos da Figura 28 mostram o Vertedouro de Pimental durante a etapa de enchimento do Reservatório Principal, localizado no rio Xingu, e o enchimento do Reservatório Intermediário pelo Vertedouro de enchimento no Canal de Derivação. TABELA 6 – Características da Ensecadeira Barragem A Ensecadeira Barragem possui seção homogênea, com o coroamento na El. 99,00 m, altura máxima da ordem de 40 m e extensão de 948 m, totalizando um volume de 1.183.475 m³. FIGURA 25 – Abertura da Ensecadeira de 1ª Fase e fechamento do Canal Direito Construir um barramento no leito do principal braço do rio Xingu, com 1,2 milhões de m3 em 80 dias e 40 metros de altura, foi o grande desafio que a Norte Energia, junto com todos envolvidos na construção da UHE Belo Monte, teve que enfrentar. As incertezas quanto às condições de fundação no leito do Canal Direito levaram os projetistas a desenvolverem uma Ensecadeira Barragem, ver Tabela 6, para suportar por um ano o reservatório até a construção definitiva da Barragem do Canal Direito. A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 19REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 29 – Conclusão do enchimento dos reservatórios ANO DE 2016 A conclusão do enchimento dos reservatórios ocorreu em 15 de fevereiro de 2016, conforme registrado na Figura 29. Em outubro de 2016, foi concluída a barragem do Canal Direito, em Pimental, pois entre o início do enchimento do Reservatório, em novembro de 2015 e outubro de 2016, o barramento no Canal Direito vinha sendo desempenhado pela Ensecadeira Barragem. Na Tabela 7 são relacionadas as principais metas atingidas de geração comercial durante 2016 e início de 2017. META DATA SÍTIO BELO MONTE (5x 611,1 MW= 3.055,5 MW) Início da operação comercial da UG 1 Abril 2016 Início da operação comercial da UG 2 Julho 2016 Início da operação comercial da UG 3 Novembro 2016 Início da operação comercial da UG 4 Janeiro 2017 Inicio de operação comercial da UG 5 Março 2017 SÍTIO PIMENTAL (6x 38,85 MW= 233.1 MW) Início da operação comercial da UG 1 Abril 2016 Início da operação comercial da UG 2 Junho 2016 Início da operação comercial da UG 3 Agosto 2016 Início da operação comercial da UG 4 Novembro 2016 Início da operação comercial da UG 5 Janeiro 2017 Início da operação comercial da UG 6 Janeiro 2017 TABELA 7 – Principais metas de geração atingidas em 2016 e 2017 no empreendimento TABELA 8 – Características dos principais equipamentos eletromecânicos 3.3 CARACTERÍSTICAS DOS EQUIPAMENTOS ELETROMECÂNICOS PRINCIPAIS A Tabela 8 apresenta as características dos principais equipamentos eletromecânicos dos sítios Belo Monte e Pimental. 3.4 POTÊNCIA INSTALADA, ENERGIA FIRME, FATOR DE CAPACIDADE E AREA DE RESERVATÓRIO A capacidade total instalada das Usinas de Pimental e Belo Monte será de 11.233,1 MW, com garantia assegurada de 4.571 MW médios, assim distribuídos: Casa de Força Principal no sítio Belo Monte com capacidade instalada de 11.000MW e garantia assegurada de 4.418MW médios, e Casa de Força complementar no sítio Pimental, com capacidade instalada de 233.1 MW e garantia assegurada de 151,1 MW médios. A usina é do tipo fio d’água e isso significa que ela vai gerar mais energia no período de cheia e menos energia no período de seca, ou seja, devido aos aspectos sociais e ambientais, o empreendimento foi construído sem reservatório de regularização. O empreendimento terá um fator de capacidade de 41% como consequência dos seguintes fatores: i. Redução da área do reservatório de 1.225 km2 para 478 km2 com a eliminação da capacidade de regularização das vazões afluentes a Belo Monte e com a finalidade de evitar inundação de áreas indígenas; ii. Retirada de outros aproveitamentos a montante na bacia que permitiriam maior regularização das vazões, conforme Resolução 06/2008 do Conselho Nacional de Política CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS ELETROMECÂNICOS UHE BELO MONTE UHE PIMENTAL 20 WWW.CBDB.ORG.BR TABELA 9 – Principais características de geração e área de reservatórios de usinas hidrelétricas brasileiras Energética (CNPE) que estabeleceu Belo Monte como o único aproveitamento hidrelétrico possível no rio Xingu; iii. Adoção de um hidrograma de consenso mínimo com os órgãos ambientais para permitir vazões defluentes mínimas mensais a jusante de Pimental (para assegurar as condições de pesca, navegação e outros usos das comunidades indígenas e ribeirinhas). Apesar de ser a única hidrelétrica autorizada a ser construída no rio Xingu, pela Resolução 06/20018, ela não pode ser considerada como uma usina isolada e, sim, como hidricamente intercomunicada. Isto por que ela é interligada eletricamente ao SIN com o resto do País. Uma vez que o rio Xingu tem suas cheias quase dois meses depois das cheias dos rios das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a possibilidade de armazenamento em Belo Monte diminui também fortemente os riscos de carência de energia. Apesar do fator de capacidade de Belo Monte ser de 41%, ela se situa bem entre a média das hidrelétricas brasileiras, que têm um fator de capacidade estimado em valores situados entre 50% e 55% Além disso, ela fica acima das hidrelétricas internacionais. Na Europa, este fator fica entre 20% e 35%, em média, sendo um pouco maior na China. Nos EUA, os valores atingem 45%. Se considerarmos a área alagada do reservatório, Belo Monte tem um dos maiores índices de energia firme gerada relacionada com a área de reservatório - representado pela relação entre a energia firme gerada e a área alagada (MW/km2), evidenciado na Tabela 9. [4], [5], [6] A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 21REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Oscar Machado Bandeira Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) em 1969, tem 40 anos de experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas. Atuou como Engenheiro Residente, Engenheiro Consultor, Coordenador de Obras Civis, Superintendente de Engenharia e Construção nas hidrelétricas de Itaparica, Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã). Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S/A como Superintendente de Engenharia e Construção da UHE Belo Monte e Coordenador dos Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento. Daniel Teixeira Leite Coordenador de Segurança de Barragens e Geotécnico na UHE Belo Monte, atuou nos projetos e execução de 33 barragens e diques, duas casas de força, um vertedouro, do maior canal do Brasil (com aproximadamente 20 km de extensão), e na Coordenação e Implantação do Plano de Segurança de Barragens. Possui experiência em Estudos de Arranjos de usinas hidrelétricas, tendo participado na elaboração de diversos projetos: UHE Caçu (65 MW), UHE Coqueiros (90 MW), UHE Ferreira Gomes (252 MW), UHE RibeiroGonçalves (113 MW), UHE Riacho Seco (276 MW), UHE São João (60 MW), Cachoeirinha (45 MW), entre outros. José Biagioni de Menezes Engenheiro Civil graduado pela Escola de Engenharia Kennedy, em Belo Horizonte (1978). Possui experiência em Fisca-lização, Acompanhamento, Gerenciamento Técnico e Comercial de Obras para implantação de usinas hidrelétricas. Trabalhou nas empresas VSL Protensão, Itaipu Binacional, Monasa Engenharia e ELETROBRAS ELETRONORTE, onde foi Gerente das áreas Técnica e Comercial nas obras de Balbina e Tucuruí, de 1982 a 2012. Desde 2012 trabalha na Norte Energia S.A., onde exerceu as funções de Superintendente de Obras e de Contratos e atualmente responde pela Diretoria de Construção. 4. PICOS DE PRODUÇÃO A UHE Belo Monte, um motivo de orgulho nacional, foi construída no Brasil por mais de 35 mil brasileiros e quebrou vários recordes de produção nos serviços de terra e rocha: - PICO DE PRODUÇÃO MENSAL DE CONCRETO ESTRUTURAL: 110.000 m³ no mês de setembro / 2014; - PICO DE ESCAVAÇÃO COMUM MENSAL: 6.600.000 m³ no mês de julho / 2015; - PICO DE ESCAVAÇÃO EM ROCHA MENSAL: 2.500.000 m³ no mês de julho / 2015; - PICO DE PRODUÇÃO MENSAL DE ATERRO: 6.280.000 m³ no mês de julho / 2015. 5. AGRADECIMENTOS Em nome da Norte Energia, os autores agradecem aos mais de 35 mil trabalhadores que participaram da construção deste empreendimento. Construída e projetada pelas maiores empresas nacionais, parabenizamos a engenharia brasileira e a todos os envolvidos na construção deste empreendimento. Apesar das adversidades, conquistamos todos juntos a vitória de construir uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo na região Amazônica. 6. PALAVRAS-CHAVE Belo Monte, Arranjo Geral, construção, ficha técnica, volumes. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] IEP – Consórcio Projetista. Projeto Básico Consolidado da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. 2012. [2] IEP – Consórcio Projetista. Projeto Executivo da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. 2012 2016. [3] CCBM – Consórcio Construtor Belo Monte. Relatório Mensal de Progresso. 2016. [4] ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. BIG – Banco de Dados de Informações de Geração. Atualizado em 06 de fevereiro de 2017. Disponível em http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/ energiaassegurada.asp. Acesso em 06 de fevereiro de 2017. [5] ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Cadernos Temáticos ANEEL 3 – Energia Assegurada. Brasília, DF, Abril de 2015. [6] Silva, P. J. Usinas Hidrelétricas do Século 21: Empreendimentos com Restrições à Hidroeletricidade. Tabela 3, pg. 87. Disponível em <http://www.brasilengenharia. com/portal/images/stories/revistas/edicao619/619_energia.pdf >. Acesso em 6 de fevereiro de 2017. 22 WWW.CBDB.ORG.BR HIDRÁULICA E VERTEDORES UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA Franciele REYNAUD | Engenheira Civil – Intertechne Consultores S.A. Marcus Fernandes ARAÚJO Filho | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. Renato GRUBE | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. Rogério PIOVESAN | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. The Belo Monte Hydroelectric Plant Diversion Channel, with a length of 16 km, is unprecedented in the world in terms of magnitude of flow with its 13,950 m³/s. The Channel connects the Main Reservoir in the Xingu River with the Intermediate Reservoir and takes the water to the Main Power House, which has a total installed capacity of 11,000 MW. This article describes the main characteristics of the Diversion Channel as well as the engineering studies that led to the definition of the geometry and to the design of the water management and drainage system of the streams that flow into the channel. The excavation volumes of the channel exceeded 100 million cubic meters and, being part of the critical path of the scheduled, required careful planning of the construction steps and the disposal of the excavated material. RESUMO ABSTRACT O Canal de Derivação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, com uma extensão de 16 km, não tem precedente no mundo em termos de vazão de adução: 13.950 m³/s. Este Canal interliga o Reservatório Principal, na calha do rio Xingu, com o Reservatório Intermediário e conduz a vazão de geração para a Casa de Força Principal com capacidade total instalada de 11.000 MW. O presente artigo descreve as principais características do Canal de Derivação, bem como os estudos de engenharia que conduziram à definição da geometria e à concepção do manejo e do sistema de drenagem dos igarapés que afluem no traçado do Canal. Os volumes de escavação do Canal de Derivação superaram 100 milhões de m3 e, estando no caminho crítico do empreendimento, exigiram minucioso planejamento das etapas de construção e da disposição dos materiais escavados em pilhas de bota-fora. 23REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 1. INTRODUÇÃO O aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte está no rio Xingu (Pará) onde há uma queda natural desenvolvida ao longo de um trecho de corredeiras denominado de Volta Grande do Xingu. No trecho a montante, o rio Xingu é represado por um barramento, denominado de sítio Pimental, no qual se localizam o Vertedouro e a Casa de Força Complementar. Logo a jusante desse local iniciam as corredeiras. Ao término das corredeiras está o sítio Belo Monte, onde está situada a Casa de Força Principal. O empreendimento não possui reservatório de acumulação, operando em regime a fio de água, sendo que o nível do Reservatório Principal fica na elevação 97,00 m. A queda bruta da Casa de Força Principal é da ordem de 91,50 m e a vazão máxima turbinada de 13.950 m³/s, possibilitando a implantação de 18 unidades geradoras tipo Francis, com potência instalada total de 11.000 MW [1]. A interligação entre o sítio Pimental (Reservatório Principal) e o sítio Belo Monte (Casa de Força Principal) é propiciada pelo Canal de Derivação e pelo Reservatório Intermediário, sendo que o Arranjo Geral do empreendimento pode ser visto na Figura 1. O Reservatório Intermediário consiste num lago artificial situado fora da calha do rio Xingu, onde se encontram 28 diques (barragens) que servem para o fechamento de drenagens que afluem esta área. FIGURA 1 – UHE Belo Monte – Arranjo Geral 2. CANAL DE DERIVAÇÃO A conexão entre o Reservatório Principal na calha do rio Xingu e o Reservatório Intermediário é feita pelo Canal de Derivação, cuja configuração geral é apresentada na Figura 2. O canal foi dimensionado para escoar a vazão máxima de 13.950 m³/s. O comprimento do canal é de 16,2 km e seu desenvolvimento é intercalado por trechos retilíneos e curvos, que possuem raios de curvatura tipicamente de 600 m. Aproximadamente a 1.000 m do início do Canal de Derivação, foi construído, na lateral direita do canal, o vertedouro de enchimento, cuja finalidade foi propiciar a alimentação de forma controlada de vazões de até 1.000 m³/s para o enchimento do Reservatório Intermediário e Canal de Derivação. Para ligação entre as duas laterais do Canal de Derivação foi construída uma ponte de acesso aproximadamente a 13,5 km do início do Canal de Derivação. Junto ao Reservatório Principal, o canal apresenta um patamar com cerca de 160 m de comprimento na elevação 87,00 m com 500 m de largura. Em seguida vem uma rampa descendente com comprimento de 270 m até o fundo do canal na elevação 75,00 m, onde então apresenta 210 m de largura até o seu final. Na fase de construção do canal, uma ensecadeira de solo foi implantada na elevação 87,00 m para proteger as atividades de construção. No trecho final, o Canal de Derivação se conecta ao Reservatório Intermediário, formando um canal submerso. Neste trecho submerso, o canal é escavado possuindo cerca de 4 km de extensão, fundo horizontal na elevação 75,00 m e largura do fundo de 280 m. Neste trecho final que está submerso no reservatório, o canal é parcialmentecontido por diques laterais submersos que causam o espraiamento do fluxo. A Figura 3 apresenta seções transversais típicas que con- figuram o Canal de Derivação. Nas laterais do piso do canal estão canaletas de drenagem utilizadas durante a fase de construção. O piso do canal foi sistematicamente revestido com 24 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 3 – Seções típicas do Canal de Derivação 3B). Os taludes verticais são escavados com declividade de 0,5H:1,0V com a largura das bermas escavadas em rochas ampliadas de modo a manter o gabarito de escavação em solo do canal. Como pode ser observado na Figura 3C, os taludes de escavação em solo ou constituídos por aterro são revestidos por material de enrocamento denominado 5D com 0,60 m de espessura aplicado sobre uma camada de transição de 0,20 m de espessura. Este material possui granulometria mais grossa que o material 5D´ UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA FIGURA 2 – Planta geral do Canal de Derivação [2] enrocamento processado denominado 5D´, com 0,60 m de espessura, sendo a finalidade deste revestimento propiciar uniformidade da rugosidade do canal. Nos trechos em que o fundo do canal se encontrava em solo, foi aplicada uma camada de transição de 0,20 m de espessura sob o material 5D´. Os taludes laterais escavados em rocha do Canal de Derivação possuem declividade de 0,5H:1,0V, e os taludes escavados em solo possuem declividade de 2,5H:1,0V. Nas laterais do canal existem pistas de acesso na elevação 100,00 m, que delimitam a borda do canal (linha A) distante a 179,50 m do eixo. Nas elevações 84,00 m e 93,00 m, os taludes são intercalados com bermas intermediárias que, para uma configuração de escavação em solo (Figura 3A), possuem 6,00 m de largura. Esta configuração de seção escavada em solo (ou conformadas por aterros) se constitui no gabarito típico e nas situações em que o topo rochoso fica acima do fundo do canal (Figura 25REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 4 – Sistemas de Manejo dos Igarapés 3. MANEJO DOS IGARAPÉS O eixo do Canal de Derivação é desenvolvido ao longo da calha de dois igarapés perenes, o Galhoso e o Paquiçamba. Estes igarapés são alimentados por outros pequenos igarapés com vazões perenes e intermitentes. Para a construção do Canal de Derivação, foi necessária a implementação de um sistema de drenagem para desviar e amortecer o fluxo de água afluente ao canal. Este sistema de drenagem foi denominado de Manejo dos Igarapés. No total são sete sistemas de drenagem, conforme apresentado na Figura 4: Sistema Galhoso, Xingu, Di Maria, Bacias Intermediarias, Ticaruca, Paquiçamba e Interno do Canal [1, 2]. Os sistemas podem ser divididos em três tipos. No primeiro grupo, as cheias produzidas pelas sub-bacias são contidas por diques nas regiões de bota fora, sendo a vazão efluente reduzida em relação à afluente por efeito de amortecimento. As vazões efluentes são drenadas para fora da região de amortecimento por galerias de passagem e canais coletores. A Figura 5 ilustra este método de desvio utilizado nos sistemas Galhoso, Xingu e Di Maria. O segundo tipo de sistema também considera o amortecimento de cheias em reservatórios criados por diques. No entanto, as vazões efluentes são conduzidas para dentro do Canal de Derivação através de galerias localizadas sob os acessos nas margens do canal. Este sistema foi utilizado para as Bacias Intermediárias que, por estarem localizadas na região central do Canal de Derivação, não possibilitavam o esgotamento da água da chuva para fora da região de construção do mesmo. Esta concepção está apresentada na Figura 5. O terceiro tipo de sistema é composto por canais de ligação entre as sub-bacias, onde o amortecimento ocorre nas áreas de bota-fora e também ao longo dos próprios canais de drenagem. Este tipo foi utilizado nos sistemas Paquiçamba, Ticaruca e Interno do Canal. A Figura 6 ilustra um destes sistemas. (aplicado no piso), tendo sido obtido diretamente das escavações obrigatórias do canal. A declividade dos taludes laterais em solo foi adotada como 2,5H:1,0V de modo a permitir o trânsito de equipamentos (tratores) ao longo do próprio talude para aplicação do revestimento de enrocamento [2]. 26 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 6 – Amortecimento por canais – exemplo: Sistema Ticaruca 4. ESTUDOS DE ENGENHARIA PARA DEFINIÇÃO DO ARRANJO SELECIONADO 4.1 DEFINIÇÃO DO EIXO E SEÇÃO TRANSVERSAL ÓTIMA O alinhamento do Canal de Derivação se desenvolve ao longo do eixo de dois igarapés, o Galhoso e o Paquiçamba, que por se situarem em região com elevações mais baixas, resultam em FIGURA 5 – Galhoso, Xingu e Di Maria (esquerda) | Bacias Intermediárias (direita) menores escavações para a execução da obra. A seleção deste alinhamento foi resultado de um amplo estudo de alternativas e configurações, onde se avaliaram canais únicos, dois canais separados e canais que se bifurcam em dois tramos ou separados que se unem num único tramo comum. Assim, durante a fase de Projeto Básico, foram analisadas 12 variantes principais [1]. A Figura 7 ilustra estes estudos de alternativas. Simultaneamente, foi realizado o estudo da seção transversal do canal. Devido à configuração variável da topografia do terreno e do horizonte do topo rochoso, a seção transversal do canal é variável, o que resulta em várias configurações. Para a UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA 27REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 7 – Estudos de alternativas do Canal de Derivação definição das características da seção transversal ótima, com menor custo total, foi desenvolido um programa em CAD para análise das alternativas. Como dados de entrada do programa, foram fornecidas as restrições hidráulicas de vazão e perda de carga, restrições geométricas, materiais constituintes e a configuração topográfica do terreno. De posse desses dados, o programa selecionava a geometria de seção transversal mais econômica, com base nos custos unitários das principais quantidades associadas (escavações em solo e em rocha, aterros e revestimentos) que atendesse aos requisitos hidráulicos de dimensionamento. Ao longo dos estudos de otimização, realizados durante o Projeto Básico, foram analisados também os diversos componentes do Circuito de Geração, incluindo Canal de Derivação, Canais de Transposição e Unidades Geradoras (rendimentos) buscando a redução dos custos associados a obras civis (escavações, aterros e revestimentos) de modo a se obter perdas de carga ao longo do circuito compatíveis com os requisitos 28 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 8 – Distribuição de velocidades (m/s) energéticos do empreendimento (Energia Firme). Nos Estudos de Viabilidade Técnica-Econômica (EVTE) era previsto volumes de escavação comum e em rocha da ordem de 176,6 milhões de m³. Os volumes finais dos estudos de otimização resultaram em 121,9 milhões de m³. Ou seja, houve uma redução de 54,7 milhões de m³. Adicionalmente, o EVTE considerava o Canal de Derivação revestido parcialmente com concreto convencional, o que gerava um volume de 1,1 milhões. Ao término da otimização, o revestimento em concreto foi substituído por revestimento de enrocamento num volume da ordem de 3,9 milhões de m³ no Canal de Derivação e 2,8 milhões de m³ nos Canais de Transposição do Reservatório Intermediário. 4.2 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO Uma vez definida a seção transversal ótima, o dimensionamento hidráulico foi confirmado por meio do software HEC-RAS (unidimensional). Este dimensionamento consistiu na determinação da perda de carga levando em conta suas características geométricas e de revestimento (rugosidades). Conforme descrito anteriormente, o Canal de Derivação possui uma seção transversal que sofre variações ao longo de sua extensão. Definida de forma a evitar perdas de cargas localizadas,o fluxo é totalmente confinado dentro do canal. Para as superfícies escavadas em rocha, revestidas com materiais 5D e 5D´, foram obtidos coeficientes de Manning- Strickler de 32,0, 34,0 e 35,67, respectivamente. Para se determinar a rugosidade equivalente se foi utilizado o método de ponderação proposto por Lotter. Tal metodologia acabou sendo a mais adequada para as características do canal. Para a vazão de 13.950 m³/s, a perda de carga atribuída ao Canal de Derivação é de 2,03 m. 4.3 MODELAGEM COMPUTACIONAL Tendo em conta as dimensões atípicas do Canal de Derivação e a própria vazão de adução (13.950 m³/s), se julgou necessária uma avaliação mais detalhada dos efeitos das curvas do canal no escoamento ao longo do mesmo. O estudo buscou tanto avaliar o comportamento em si do escoamento nas curvas, como avaliar o impacto na estabilidade dos revestimentos do canal (enrocamento). Por essa razão, foi desenvolvido em conjunto com a equipe do Laboratório de Hidrossistemas Ven Te Chow (Universidade de Illinois), um estudo de modelagem computacional tridimensional do Canal de Derivação. O estudo foi realizado em duas etapas com dois modelos numéricos distintos. O primeiro modelo avaliou toda a extensão do canal utilizando o programa TELEMAC3D. Para a segunda etapa do estudo, estudo foi selecionado o trecho mais crítico do canal (curvas mais acentuadas e próximas entre si). Então, foram estudados os efeitos tridimensionais do escoamento com o programa Ansys-Fluent. O modelo foi composto por três partes principais: (i) uma pequena porção do Reservatório de Principal a montante do Canal de Derivação, a qual teve por objetivo reproduzir as condições de entrada do canal, (ii) o Canal de Derivação propriamente dito e (iii) um trecho de jusante que representa as condições de escoamento no Reservatório Intermediário. A Figura 8 ilustra a configuração estudada e o resultado da simulação em termos de velocidades do fluxo [3]. Ao analisar a Figura 8, pode ser notado que a distribuição de velocidades ao longo do canal, até as proximidades da curva 3, UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA 29REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS são muito semelhantes a um canal retilíneo. O efeito devido às curvas começa a ser mais pronunciado quando o escoamento se aproxima da curva 3 e em seguida está sujeito a uma sequência de curvas próximas entre si. Existe uma concentração de velocidades em algumas regiões do escoamento, representada pela região avermelhada, principalmente no talude direito da curva 4. Esse efeito de concentração de velocidades (regiões com velocidades da ordem de 3,5 m/s) segue até praticamente o final do Canal de Derivação. A concentração de velocidades resulta em um acréscimo de tensões tangenciais com potencial erosivo superior ao existente no trecho retilíneo. Enquanto que nos trechos mais retilíneos do canal as tensões tangenciais são da ordem de 20 a 25 N/m², na margem direita da curva 4 aparecem valores da ordem de 40 N/m². Esses valores FIGURA 9 – Distribuição de velocidades (m/s) e tensões tangenciais do modelo Ansys Fluent (N/m²) FIGURA 10 – Aspecto final do canal antes do enchimento (acima) e em operação (logo abaixo) foram considerados adequados, uma vez que as tensões tangenciais máximas admissíveis para os revestimentos são de 44 N/m² para o material do fundo (5D´) e 56 N/m² para o material dos taludes laterais (5D). Apesar do estudo com modelagem de águas rasas (TELEMAC3D) ter concluído pela condição de estabilidade dos revestimentos, se optou por estudar a porção mais crítica do Canal de Derivação: curvas 3 e 4, com um modelo numérico tridimensional Ansys-Fluent para a solução das equações de Navier-Stokes. A Figura 9 mostra o perfil de velocidades resultante do modelo e o mapa de tensões tangenciais junto aos revestimentos do canal. Ao se analisar esta figura, é possível observar que os padrões e magnitudes, tanto da distribuição de velocidades quanto das tensões tangenciais, resultaram muito semelhantes aos obtidos pelo TELEMAC3D, ratificando as conclusões quanto à estabilidade dos revestimentos [3]. Adicionalmente, para auxiliar o projeto do Canal de Derivação foram desenvolvidos estudos em Modelo Hidráulico Reduzido. As pesquisas foram realizadas nos laboratórios do Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza - Lactec (CEHPAR). Em linhas gerais, foram feitas as seguintes avaliações: (i) Estabilidade dos 30 WWW.CBDB.ORG.BR revestimentos, (ii) Impacto do processo de enchimento sobre os revestimentos e (iii) Comportamento do fluxo nas curvas 3 e 4. 5. FOTOS DA OBRA A Figura 10 mostra fotos do Canal de Derivação, durante sua construção e operação respectivamente. 6. CONCLUSÕES No presente artigo estão as principais características do Canal de Derivação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. São justamente estes aspectos que possibilitam a condução de uma vazão de 13.950 m³/s. Trata-se do maior canal do mundo para geração hidrelétrica. Para viabilizar a construção do Canal de Derivação foi executado um amplo conjunto de obras de drenagem (denominado Manejo dos Igarapés). Foram também apresentadas, de forma sintética, os estudos de engenharia que conduziram à configuração do referido canal. Foram várias etapas até a conclusão da empreitada. Entre elas estão: seleção de eixos, estudos para seção transversal ótima, dimensionamentos hidráulicos unidimensionais, análises numéricas bidimensionais e tridimensionais, além de estudos hidráulicos em modelo reduzido. 7. PALAVRAS-CHAVE Belo Monte, Canal de Adução, revestimento de canais, perdas de canais, rugosidade de canais, manejo de igarapés, análises numéricas, Modelo Reduzido. 8. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos engenheiros Kamal F. S. Kamel, Lourenço J. N. Babá e Roberto E. Bertol pelos ensinamentos ao longo do desenvolvimento do projeto. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Básico Consolidado. 2012. [2] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Executivo. 2012-2016. [3] GARCIA, H. M. DUTTA, S. FYTANIDIS, K. D. SANTACRUZ, S. S. WARATUKE, A. Identification of potential high shear stress zones in the 16 km-long diversion channel of Belo Monte Hydroelectric Project using multiple 3-Dimensional numerical model. Ven te Chow Hydrosystems Laboratory. University of Illinois. Urbana-Champaign. 2013. Franciele Reynaud Engenheira Civil formada em 2006 e mestra em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2008 pela Universidade Federal do Paraná. Atua na Intertechne Consultores S.A. desde 2008. Possui experiência de 10 anos em atividades de Projeto, Planejamento, Execução, Coordenação de Interfaces e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no exterior. Foi Coordenadora Técnica dos Estudos Básicos da UHE Belo Monte. Atualmente é a responsável pela Gerência Geral do AH Molineros, na Bolívia e da Barragem de Palo Redondo, no Peru. Marcus Fernandes Araujo Filho Engenheiro Civil formado em 2008 e mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2014 pela Universidade Federal do Paraná. Concluiu a pós-graduação em Gestão de Projetos pela FAE Business School em 2016. Trabalha desde 2007 na Intertechne Consultores. Tem experiência de oito anos em projetos de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no Exterior. Engenheiro hidráulico responsável por dimensionamentos de estruturas hidráulicas da UHE Belo Monte, incluindo o Canal de Derivação. Há um ano e meio faz parte do Grupo de Desenvolvimento de Projetos em Energia Renovável (solar e eólica). Renato Grube Engenheiro Civil formado em 1994 com mestrado em Engenharia Hidráulica em 2001 pela Universidade Federal do Paraná. Experiência de 22 anos atuando como Engenheiro Hidráulico, Chefe de Departamento, Coordenador e Supervisão Técnicaem projetos hidráulicos e hidrelétricos (Inventário, Viabilidade, Básico e Executivo) no Brasil e exterior. Seus projetos de maior destaque são: Belo Monte, Santo Antonio, Teles Pires, Irapé, Chaglla, Baixo Iguaçu, Sinop, Estreito, São Salvador, Cana Brava, Capim Branco, Santa Clara, Fundão, Manduriacu, Múgica, Picachos, Salto, Verdinho e Itiquira. Rogerio Piovesan Engenheiro Civil formado em 1998 pela Universidade Federal do Paraná com pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas em 2002. Experiência de 18 anos em atividades de Construção, Projeto, Planejamento, Execução, Coordenação de interfaces e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no exterior. Atualmente é o responsável pela Gerência Geral do Consórcio Projetista da UHE Belo Monte, bem como pela Gerência do Projeto da UHE Santo Antonio (RO). Atuou também como Gerente dos Estudos Pré-leilão da UHE São Luiz do Tapajós (PA). UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA 31REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS HIDRÁULICA E VERTEDORES RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL The Belo Monte HPP has a derivation type generation circuit, in which the Xingu Big Bend, with a length of over 100 km, is bypassed by the generation circuit composed of the Derivation Channel, Intermediate Reservoir and Tailrace Channel. The Intermediate Reservoir is an artificial reservoir created in an already anthropized area, made up of 28 dikes and dams of earth and rockfill, and has seven channels for the transposition of basins, with a total superficial area of 119 km². This Intermediate reservoir connects to the Main Reservoir of the Xingu River, through the Derivation Channel, to the Main Powerhouse generation circuit, which has an installed capacity of 11,000 MW. This article presents the engineering studies that included the optimizations of superficial area and the general layout of dikes and transposition channels and the analysis of head losses along the generation circuit. RESUMO A UHE Belo Monte possui um circuito de geração do tipo derivação, no qual a Volta Grande do Xingu, que se desenvolve ao longo de 100 km de extensão, é cortada pelo circuito de geração composto pelo Canal de Derivação, Reservatório Intermediário e Canal de Fuga. O Reservatório Intermediário da UHE Belo Monte é um reservatório artificial criado em uma área já antropizada, conformado por 28 diques e barragens de fechamento de terra e enrocamento. Ele conta ainda com sete canais de transposição de selas topográficas, totalizando uma área alagada de 119 km². Este Reservatório Intermediário se conecta ao Reservatório Principal do rio Xingu por meio do Canal de Derivação e integra o circuito de geração da Casa de Força Principal com capacidade instalada de 11.000 MW. Os estudos de engenharia que contemplaram as otimizações em termos de área de inundação e de disposição dos diques e canais de transposição, e as análises de perdas de carga ao longo de todo circuito de geração, são apresentados de forma sintética no presente artigo. Franciele REYNAUD | Engenheira Civil – Intertechne Consultores S.A. Marcus Fernandes ARAUJO Filho | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. Renato GRUBE | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. Rogerio PIOVESAN | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. ABSTRACT 32 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO Para possibilitar a adução da vazão de 13.950 m³/s, o Canal de Derivação e o sítio Belo Monte são conectados pelo Reservatório Intermediário - um lago artificial fora da calha do rio Xingu. Com o nível de água máximo normal na elevação 97,00 m, o Reservatório Intermediário inunda uma área de cerca 119,0 km² [1]. A criação do Reservatório Intermediário decorre do fato de que o terreno natural na região que interliga o Canal de Derivação e o sítio Belo Monte se situa predominantemente abaixo da elevação 97,00 m, sendo necessária a criação de diques de contenção para possibilitar esta interligação. A Figura 1 apresenta a configuração geral do Reservatório Intermediário. O trecho inicial é um prolongamento do canal de derivação submerso numa extensão de cerca de 4,0 km, sendo que nesta região ocorre o espraiamento do fluxo. Neste trecho, o piso FIGURA 1 – Arranjo Geral do Reservatório Intermediário do canal está na elevação 75,00 e apresenta uma largura de fundo de 280,0 m, onde o mesmo também é revestido com enrocamento [2]. Para a formação do reservatório foram construídos 28 diques de terra-enrocamento além da Barragem da Vertente Santo Antonio, Barragem de Fechamento Esquerda, Barragem de Fechamento Direita e a própria estrutura da Tomada dÁgua no sítio Belo Monte. A título de exemplo, a Figura 2 apresenta o arranjo do Dique 8A e os diversos diques executados. É possível perceber que alguns se constituem em estruturas de grande porte. Em linhas gerais, o Reservatório Intermediário ocupa total ou parcialmente oito áreas de drenagem (bacias) denominadas de: Paquiçamba, Ticaruca, Cajueiro, Cobal, Santo Antonio, Aturiá, Vertente do Santo Antonio e Tomada dÁgua. Para diminuir as perdas de carga ao longo do Reservatório Intermediário, foram escavados sete Canais de Transposição denominados de: CTPT1, CTPT2, CTPT3, CTTC, CTCS, CTCA e CTSA. A título de exemplo, a Figura 3 apresenta o arranjo do Canal de Transposição Paquiçamba-Ticaruca 2 (CTPT2) [1]. RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL 33REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 2 – Dique 8A [2] Os Canais de Transposição apresentam revestimento de enrocamento somente em regiões nas quais se buscou evitar processos erosivos nas suas margens. Além dos Canais de Transposição, foram escavados três canais de enchimento com a finalidade de propiciar, de forma controlada, a operação de enchimento do Reservatório Intermediário após a conclusão da construção. 2. ESTUDOS DE ENGENHARIA PARA DEFINIÇÃO DO ARRANJO Comparativamente ao Canal de Derivação, o Reservatório Intermediário apresenta maior grau de complexidade no que concerne aos dimensionamentos hidráulicos. Isso porque o fluxo no reservatório é predominantemente bidimensional, enquanto que no Canal de Derivação o fluxo é predominantemente unidimensional. No Reservatório Intermediário, o fluxo se divide em inúmeros braços com distintas partições de vazões, levando a uma determinada distribuição das perdas de carga ao longo deste reservatório. Ao considerar as escavações dos Canais de Transposição distribuídos ao longo do reservatório, a partição das vazões e das perdas de carga são alteradas. Para um mesmo volume escavado, é viável configurar diferentes alternativas de disposição de Canais de Transposição que, pela complexidade do escoamento, resultam em distintos valores de perdas de carga. A própria delimitação do Reservatório Intermediário, associada à disposição dos diques, influencia as características hidráulicas do escoamento e perdas associadas. Tendo em conta esta complexidade do fluxo, para o cálculo de perdas de carga ao longo do escoamento, foi utilizado o software de modelagem bidimensional River 2D. O sistema te como base as equações de Saint-Vennant, sendo as mesmas solucionadas por uma formulação de elementos finitos. Para as análises numéricas, os dados de entrada necessários foram: (i) caracterização topográfica do terreno incluindo a configuração dos canais escavados (transposição e enchimento); (ii) parâmetros de rugosidade das superfícies e (iii) Condições de contorno (vazão escoada total e níveis junto à Tomada d’Água). A Figura 4 é um exemplo de resultado do modelo, na qual são apresentadas as velocidades ao longo do Reservatório Intermediário. Nessa figura é possível constatar a complexidade do escoamento: características tipicamente bidimensionais com fluxo divididoem diversas ramificações. A perda de carga resultante para a vazão máxima turbinada de 13.950 m³/s foi de 1,19 m [2]. Devido à natureza do Reservatório Intermediário, existem diversas configurações possíveis para a geometria e localização dos canais de transposição, bem como inúmeras variantes de disposição dos diques e barragens que delimitam o reservatório. Assim, a metodologia adotada para definir a melhor configuração técnica-econômica para o Reservatório Intermediário teve como base a análise de diversas alternativas de disposição de canais e diques,. Foi preciso identificar os locais mais efetivos para implantação destas estruturas, ou seja, onde as escavações dos Canais de Transposição traziam uma maior redução nas perdas de carga (em confronto com o custo das obras civis associadas). 34 WWW.CBDB.ORG.BR Nessas análises, além das simulações hidráulicas de perdas de carga, foram avaliados os custos de escavações e revestimento dos canais e o volume de aterro dos diques. Ao longo dos estudos também foram avaliados aspectos associados à utilização das escavações obrigatórias e a disponibilidade de jazidas para a construção dos diques - sempre buscando um melhor aproveitamento dos materiais e diminuição da distância média de transporte durante a construção. Cada alternativa estudada era composta por um determinado arranjo de Canais de Transposição associado a um determinado arranjo dos diques. Para cada alternativa, eram alteradas, de maneira paramétrica, as dimensões dos canais, calculando as perdas de carga e os volumes de escavação da alternativa em questão. Em cada alternativa estudada de arranjo dos canais foram feitas diversas variantes (largura, elevações de fundo dos canais, etc.) de modo a definir a configuração mais atrativa para os Canais de Transposição. O resultado da aplicação dessa metodologia gerou gráficos comparativos de perda de carga (para a vazão de 13.950 m³/s) versus volume de escavação dos Canais de Transposição, conforme o exemplo apresentado na Figura 5. Destas análises se concluiu que a partir de uma configuração hipotética com o reservatório não escavado (volume de escavação nulo), a execução de escavações com proporções relativamente pequenas resultavam em benefícios significativos na redução das perdas de carga. À medida em que se ampliavam as escavações (aumento do custo), o beneficio (redução da perda de carga) decorrente do aumento das escavações diminuía, existindo configurações intermediárias que resultavam em relação custo-benefício mais atrativa. Analisando o gráfico da Figura 5 é possível notar que para uma determinada perda de carga existem diversas alternativas de arranjo que satisfazem essa condição. Analogamente, para um determinado volume de escavação podem corresponder distintos valores de perdas de carga. Dessa maneira, a seleção da configuração dos canais de transposição foi realizada em busca da configuração ótima. Ou seja, em linhas gerais, atende a curva envoltória inferior das alternativas estudadas. A seleção da alternativa de arranjo foi feita através de uma análise em conjunto com o Canal de Derivação e o Canal de FIGURA 3 – Canal de Transposição Paquiçamba-Ticaruca 2 (CTPT2) [2] RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL 35REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 4 - Análise numérica do Reservatório Intermediário /velocidades (m/s) Fuga. No local foi determinado o menor custo global de implantação do sistema de adução. Nestas análises foram estudadas distintas partições de perdas de carga entre o Canal de Derivação, o Reservatório Intermediário e o Canal de Fuga, para manter os requisitos energéticos do empreendimento (Energia Firme). Neste processo de busca da condição ótima, que incluiu também aspectos de eficiência energética dos equipamentos de geração (rendimentos do conjunto turbina-gerador), foram obtidas expressivas reduções nos custos de implantação do sistema de adução. Outro aspecto importante, que deve ser ressaltado, foram os diversos estudos de alternativas de arranjo com o intuito de aperfeiçoar os impactos técnicos, financeiros e ambientais do projeto. Dentre essas diversas alterações, duas delas se destacam, como segue. A primeira foi a eliminação das estruturas do sítio Bela Vista, presente no arranjo original do Estudo de Viabilidade. Esse sítio era composto por vários diques e um vertedouro complementar, sendo que a sua eliminação (com respectivo aumento da capacidade de descarga do vertedouro no sítio Pimental) resultou em benefícios econômicos e redução da área inundada do Reservatório Intermediário. A Figura 6 mostra comparativamente essa alteração. FIGURA 5 – Estudo de alternativas de arranjo do Reservatório Intermediário [1] 36 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 6 – Eliminação do sítio Bela Vista [1] FIGURA 7 – Mudança de eixo da Barragem Santo Antonio [1] RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL A segunda alteração importante na configuração do Reservatório Intermediário ocorreu no sítio Belo Monte, local da Casa de Força Principal, onde o eixo da barragem da Vertente Santo Antonio foi rotacionado em aproximadamente 90º. Com essa alteração, foi possível encontrar condições geológicas mais favoráveis para implantação desta barragem com redução significativa de sua altura e, consequentemente, do volume de aterro a executar. Além disso, houve redução significativa de área ocupada pelo Reservatório Intermediário. Essa configuração está ilustrada na Figura 7. 37REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 9 – Reservatório Intermediário / 16 etapas de enchimento 3. ENCHIMENTO DO RESERVATÓRIO O controle do enchimento do Canal de Derivação e do Reservatório Intermediário foi necessário em função das possíveis erosões que poderiam ser causadas pelas velocidades desenvolvidas pelo fluxo no Canal de Derivação e nos Canais de Transposição. O processo de enchimento foi propiciado pela utilização de um vertedouro controlado por duas comportas radiais. Localizado na margem direita do Canal de Derivação, ele foi interligado ao Reservatório Principal. A Figura 8 mostra esquematicamente esta configuração. Foram estabelecidas 16 etapas de enchimento. Elas foram definidas para que o processo de transposição do fluxo (enchimento) entre as bacias não comprometesse a integridade dos revestimentos dos Canais de Transposição e do Canal de Derivação. Para isso, foram determinadas restrições das vazões de enchimento para atingir, de forma controlada, os níveis de água e os volumes acumulados nos vales, bem como os tempos parciais e totais para o enchimento[2]. Estas etapas estão apresentadas na Figura 9. A etapa inicial ocorreu com a abertura gradual do vertedouro de enchimento, com controle das comportas até a vazão de 100 m³/s. Esta vazão foi mantida até que o nível de água dentro do Canal de Derivação alcançasse a elevação 76,0 m. Na sequência, as comportas do vertedouro foram abertas para descarregar uma vazão de 200,0 m³/s, tendo sido mantida esta afluência até que o nível de água atingisse a elevação 71,0 m entre os vales do Paquiçamba e Aturiá, cumprindo assim as etapas 2 a 11. Com o fundo dos vales preenchidos com água até a elevação 71,00 m foi possível aumentar o fluxo de água através do vertedouro para 500 m³/s. Posteriormente, o fluxo subiu para 1.000m³/s, diminuindo o tempo total de enchimento e finalizando o processo. O enchimento total do Canal de Derivação e do Reservatório Intermediário ocorreu em um período de cerca de 45 dias. FIGURA 8 – Configuração esquemática para enchimento do Reservatório Intermediário na entrada do Canal de Derivação 38 WWW.CBDB.ORG.BR 4. CONCLUSÕES No presente artigo foram apresentadas as características e os estudos de engenharia realizados para a definição da configuração final do Reservatório Intermediário, que tem como função propiciara conexão entre o Canal de Derivação e a Casa de Força Principal da UHE Belo Monte. Todas as etapas de desenvolvimento foram importantes para a determinação da perda de carga em função das características dos canais de transposição e diques que compõem o Reservatório Intermediário. Ao longo dos estudos foram obtidas expressivas reduções nos custos de implantação do circuito de adução decorrentes da diminuição das escavações do Canal de Derivação e dos Canais de Transposição. O mesmo ocorreu com os volumes de aterro dos diques e barragens que delimitam o Reservatório Intermediário. A título de exemplo nos Estudos de Viabilidade, o volume de aterros dos diques e barragens que delimitam o Reservatório Intermediário era da ordem de 53,2 milhões de m3, sendo que ao final dos estudos de otimização os volumes de aterro resultaram em cerca de 42,2 milhões de m3. Neste processo de otimização, a área inundada do Reservatório Intermediário foi reduzida em cerca de 10%. Para o início da operação da usina, uma etapa importante foi o enchimento do Canal de Derivação e do Reservatório Intermediário: por montante, dentro do prazo estipulado de aproximadamente 45 dias e sem comprometer os revestimentos de proteção dessas estruturas. 5. PALAVRAS-CHAVE Reservatório Intermediário, UHE Belo Monte, Canal de Derivação, perda de carga, análises numéricas. 6. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos engenheiros Kamal F. S. Kamel, Lourenço J. N. Babá e Roberto E. Bertol pelos ensinamentos ao longo do desenvolvimento do projeto. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Básico Consolidado. 2012. [2] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Executivo. 2012-2016. Franciele Reynaud Engenheira Civil formada em 2006 e mestra em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2008 pela Universidade Federal do Paraná. Atua na Intertechne Consultores S.A. desde 2008. Possui experiência de 10 anos em atividades de Projeto, Planejamento, Execução, Coordenação de Interfaces e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no exterior. Foi Coordenadora Técnica dos Estudos Básicos da UHE Belo Monte. Atualmente é a responsável pela Gerência Geral do AH Molineros, na Bolivia e da Barragem de Palo Redondo, no Peru. Marcus Fernandes Araujo Filho Engenheiro Civil formado em 2008 e mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2014 pela Universidade Federal do Paraná. Concluiu a pós-graduação em Gestão de Projetos pela FAE Business School em 2016. Trabalha desde 2007 na Intertechne Consultores. Tem experiência de oito anos em projetos de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no Exterior. Engenheiro hidráulico responsável por dimensionamentos de estruturas hidráulicas da UHE Belo Monte, incluindo o Canal de Derivação. Há um ano e meio faz parte do Grupo de Desenvolvimento de Projetos em Energia Renovável (solar e eólica). Renato Grube Engenheiro Civil formado em 1994 com mestrado em Engenharia Hidráulica em 2001 pela Universidade Federal do Paraná. Experiência de 22 anos atuando como Engenheiro Hidráulico, Chefe de Departamento, Coordenador e Supervisão Técnica em projetos hidráulicos e hidrelétricos (Inventário, Viabilidade, Básico e Executivo) no Brasil e exterior. Seus projetos de maior destaque são: Belo Monte, Santo Antonio, Teles Pires, Irapé, Chaglla, Baixo Iguaçu, Sinop, Estreito, São Salvador, Cana Brava, Capim Branco, Santa Clara, Fundão, Manduriacu, Múgica, Picachos, Salto, Verdinho e Itiquira. Rogerio Piovesan Engenheiro Civil formado em 1998 pela Universidade Federal do Paraná com pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas em 2002. Experiência de 18 anos em atividades de Construção, Projeto, Planejamento, Execução, Coordenação de interfaces e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no exterior. Atualmente é o responsável pela Gerência Geral do Consórcio Projetista da UHE Belo Monte, bem como pela Gerência do Projeto da UHE Santo Antonio (RO). Atuou também como Gerente dos Estudos Pré-leilão da UHE São Luiz do Tapajós (PA). RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL 39REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS SEGURANÇA DE BARRAGENS SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia – Norte Energia S.A. João Francisco SILVEIRA | Engenheiro Civil Sênior – Consultor Daniel Teixeira LEITE | Engenheiro Civil Sênior – Norte Energia S.A. The challenge of ensuring the safety of 36 Dams and Dykes, two Intakes and Power Houses and a Spillway, supported in various foundations types such as sandstone, alluvium soils and rocky massifs, was the pioneer work that the Dam Safety Team managed at the Belo Monte Hydroelectric Plant. This paper presents some aspects of the implementation of Dam Safety management and monitoring systems of more than 40 structures. RESUMO ABSTRACT O desafio de garantir a segurança das 36 barragens e diques, duas Tomadas d’Água, Casas de Força e um Vertedouro, apoiados nas mais diversas fundações (tais como solos areníticos, aluvionares e maciços rochosos), foi um trabalho pioneiro que a equipe de Segurança de Barragens da UHE Belo Monte teve que enfrentar. Aspectos sobre a implantação do sistema de gestão da Segurança de Barragens, bem como do monitoramento das mais de 40 estruturas, serão abordados neste artigo. 40 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO O tema Segurança de Barragens ganhou maior importância em novembro de 2015 com o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, onde ocorreu um grande desastre ambiental atingindo 40 cidades no Leste de Minas Gerais e causou 18 mortes. A partir deste evento, a Lei 12.334/2010, sobre Segurança de Barragens, passou a estar no foco dos agentes fiscalizadores e de todos envolvidos na execução e operação de barragens no Brasil. Para garantir a segurança das barragens da UHE Belo Monte, a Norte Energia implantou o Plano de Segurança de Barragens, que monitora 36 barragens e diques, duas Tomadas d’Água, Casas de Força e um Vertedouro. Convém ressaltar que as estruturas estão apoiadas sobre os mais diversos tipos de fundação, tais como solos migmatiticos com canalículos, solos areníticos, solos aluvionares e maciços rochosos, além de um espigão de arenito que funciona como uma barragem natural na região geológica denominada como Graben do Macacão. Neste artigo serão abordados aspectos sobre o Plano de Segurança de Barragens e aspectos sobre o monitoramento e desempenho das estruturas da UHE Belo Monte. 2. PLANO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS Acidentes com barragens quando ocorrem acarretam grandes prejuízos devido ao volume de água liberado instantaneamente ao rompimento, causando prejuízos materiais, ambientais e humanos. Segundo o Relatório Anual de Segurança de Barragens de 2015[1], nos últimos quatro anos ocorreram 39 acidentes / incidentes, com um total de 20 vítimas. O Plano de Segurança de Barragens é um instrumento de gestão da segurança com a finalidade de mitigar os riscos associados ao rompimento de barragens. Ele funciona através de monitoramento e manutenção dos barramentos, além de fornecer diretrizes em caso de uma ação emergencial para salvaguardar as vidas nas áreas de risco. Com mais de 40 estruturas distribuídas em quatro grandes sítios, com cerca de 40 km de distância entre si, a UHE Belo Monte exigiu um Plano de Segurança de Barragens diferenciado para garantir a segurança destas estruturas. Dentro do Plano de Ações Emergenciais (PAE), foram realizados 33 estudos de Dambreak. O objetivo foi avaliar a propagação da onda em caso de rompimento dos diques e barramentos, bem como analisar os impactos nas áreas de risco a jusante de cada estrutura. Dentro das exigências da Lei 12.334 e sob as premissas da Resolução Normativa ANEEL nº696, se classificou as estruturas da UHE Belo Monte quanto categoria de risco e dano potencial associado. Todas as estruturas de Belo Monte, foram classificadas com ”B”, ou seja, risco baixo e dano potencial alto (ver Tabela 1). Tabela 1 - ANEEL - Matriz de classificação de barragens Esta classificação estabelece as inspeções de segurança regular que, no caso da UHE Belo Monte, deverão ser realizadas anualmente - ou sempre que houver alteração do nível de segurança da barragem. 3. MONITORAMENTO DAS ESTRUTURAS DA UHE BELO MONTE Monitorar as condições de segurança das estruturas da UHE Belo Monte foi um grande desafio que a equipe de Segurança de Barragens teve que enfrentar. A partir do início do primeiro enchimento do Reservatório Principal, em novembro de 2015, começou o processo de inspeção de campo com foco na Segurança de Barragens. 3.1 INSPEÇÕES DE CAMPO As inspeções de campo têm por objetivo identificar anomalias ou condições que possam afetar a segurança da barragem. Assim, é importante observar todas as regiões da barragem: talude de montante, talude de jusante, crista, ombreiras, reservatório, etc. Caminhos preferenciais foram definidos para serem percorridos de modo que pudessem ser observadas todas as partes relevantes da estrutura, facilitando as inspeções regulares, otimizando o tempo e garantindo a qualidade. A seguir, na Figura 1, está o caminhamento proposto para inspeção regular do Dique 7B. Para inspecionar todas as estruturas de Belo Monte durante o enchimento dos reservatórios, os mais de 30 técnicos e engenheiros tiveram que percorrer cerca de 120 km diariamente. SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE Dano potencial associado Categoria de Risco Alto Médio Baixo Alto A B B Médio B C C Baixo B C C 41REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 4. INSTRUMENTAÇÃO Conhecer o comportamento das estruturas mediante o enchimento dos reservatórios e comparar com as análises de projetos só foi possível devido aos 1.998 instrumentos instalados nas estruturas da UHE Belo Monte, conforme lista resumo de instrumentos na Tabela 2. Figura 1 – Caminhamento proposto para inspeção regular do Dique 7B Tabela 2 - Lista de instrumentos instalados na UHE Belo Monte 4.1 INSTRUMENTAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE TERRA-ENROCAMENTO São apresentados a seguir os principais aspectos referentes à seleção dos instrumentos que foram empregados para essas medições, bem como alguns exemplos do arranjo da instrumentação nas estruturas de terra-enrocamento da usina, englobando tanto as estruturas de grande porte, quanto aquelas de pequeno porte - que foram também instrumentadas. Os objetivos básicos sempre foram a avaliação do desempenho dessas estruturas e a comparação com os Valores de Controle previstos em projeto. 4.1.1 TIPOS DE INSTRUMENTOS UTILIZADOS Dentre os instrumentos instalados nos maciços de terra- enrocamento da UHE Belo Monte, são: • Deslocamentos Superficiais: Marcos superficiais na crista das estruturas de concreto e maciços de terra-enrocamento; • Deslocamentos Internos Horizontais: Inclinômetros para a medição dos deslocamentos horizontais do aterro e da fundação nas barragens com problemas particulares na fundação; • Deslocamentos Internos Verticais: Medidores de recalque tipo magnéticos nas barragens de terra de maior porte; • Supressões e Poro-Pressões: Piezômetros de corda vibrante na interface aterro-concreto junto aos muros de ligação dos abraços direito e esquerdo, no sítio Belo Monte; Piezômetros tipo Standpipe e medidores de NA no aterro e no filtro horizontal dos maciços de terra-enrocamento; Piezômetros tipo Standpipe na fundação das barragens de terra. • Infiltrações: Medição através de medidores de vazão triangulares. 4.1.2 ARRANJO GERAL DA INSTRUMENTAÇÃO Nas figuras a seguir são apresentados a relação de instrumentos, as principais seções instrumentadas e o Arranjo Geral da instrumentação na na Barragem Vertente do Santo Antonio (BVSA), uma das que constitui uma das principais estruturas de terra-enrocamento da UHE Belo Monte, com 70 m de altura máxima e 1.310 m de comprimento. É importante ressaltar que em Belo Monte, mesmo as estruturas de terra-enrocamento de pequeno porte, como o Dique 1B, por exemplo, com apenas 5 m de altura máxima e 100 m de comprimento, foram bem instrumentadas. Neste caso com cinco Piezômetros Standpipe, quatro Marcos Superficiais e um Medidor de Vazão a jusante, totalizando 11 instrumentos e atendendo assim às atuais recomendações do ICOLD, em seu boletim Nº 157 [2]. 42 WWW.CBDB.ORG.BR Figura 3 – BVSA - seção 3 - instrumentação 4.1.3 PLANO DE INSTRUMENTAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO São apresentados a seguir os principais aspectos referentes à seleção dos instrumentos que foram empregados para as medições e suas razões, bem como alguns exemplos do Arranjo Geral da instrumentação nas estruturas de concreto da usina e suas fundações. Os objetivos básicos sempre foram permitir a avaliação do desempenho dessas estruturas e a comparar com os valores de controle previstos em projeto, particularmente nas fases de enchimento do reservatório e operação do empreendimento. 4.1.4 TIPOS DE INSTRUMENTOS SELECIONADOS Para a medição dos parâmetros indicados no item anterior foram selecionados os seguintes tipos de instrumentos: • Deslocamentos Absolutos: Marcos Superficiais para medição dos deslocamentos absolutos em termos de recalques e deslocamentos horizontais; Extensômetros de Hastes na fundação para medição dos deslocamentos e avaliação de deformação da rocha de fundação. • Deslocamentos Diferenciais: Medidores triortogonais de junta para a medição dos deslocamentos diferenciais entre blocos ao longo de todas as juntas de contração nas galerias de drenagem; • Temperatura do Concreto: Termômetros elétricos embutidos no concreto; • Deformações autógenas: Rosetas de deformímetros (strain-meters) para a medição das deformações autógenas do concreto; • Subpressões: Piezômetros Standpipe e elétricos de corda vibrante para os casos em que não havia acesso diretamente na vertical; • Infiltrações: Medidores de vazão tipo triangular ou trapezoidal. 4.1.5 ARRANJO GERAL DA INSTRUMENTAÇÃO A seguir está o Arranjo Geral da instrumentação das estruturas de concreto da UHE Belo Monte. Destaque para os SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE Figura 2 – BVSA - Planta da instrumentação 43REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 206 diversos instrumentos instalados na Tomada d’Água do sítio Belo Monte. Ela é uma das principais estruturas de concreto do empreendimento e possui 600 m de comprimento. Na Figura 6 é apresentada uma seção típica de locação dos instrumentos na Casa de Força do sítio Belo Monte, outra importante estrutura de concreto do empreendimento, com quase 800 m de comprimento (incluindo-se a área de montagem). 5. DESEMPENHO DAS ESTRUTURAS A seguir apresentaremos alguns casos mais relevantes para ilustrar o desempenho das estruturas da UHE Belo Monte, que estão distribuídas sobre os diversos tipos de fundação: 5.1 SOLOS MIGMATITICOS O solo residual de migmatito, predominante nos três sítios da UHE Belo Monte, serviu como material de aterro para a maioria das barragens e diques, bem como material de fundação destas estruturas. Este solo possui permeabilidade relativamente baixa, da ordem de 10-4 à 10-3 cm/s, tanto para o solo residual maduro como o jovem, respectivamente. Entretanto, a presença de canalículos de pequeno e de grande Figura 4 – Locação em planta dos piezômetros instalados na Tomada d’Água do sítio Belo Monte, com o bloco 4 destacado diâmetro levaram a projetista a adotar a execução de uma trincheira exploratória longitudinalmente aos diques, com 3 m de profundidade, para inspeção das condições de fundação e tratamento dos eventuais canalículos. Nos trechos onde foram encontrados canalículos, esta trincheira foi aprofundada até 6 m. Os canalículos com diâmetros superiores a 2 cm foraminjetados com calda de cimento fator a/c = 0,7. Também foi executado um dreno cego (um filtro de areia com ~40 cm espessura para distribuição dos gradientes oriundos dos fluxos pelos canalículos de menor diâmetro) no talude de jusante desta trincheira. A Figura 7 apresenta um detalhe típico da trincheira de inspeção adotada em todos os diques e barragens da UHE Belo Monte. Logo após o enchimento, alguns instrumentos instalados nas fundações dos diques e barragens apresentaram resposta rápida. Em alguns casos a apresentaram a condição de artesianismo (ver Figura 11). Além disso, foi observado o afloramento de água por meio de canalículos - em especial a jusante do Dique 7B, conforme mostra a Figura 12. Estes fatos vieram indicar que as camadas mais profundas eram mais permeáveis que as de superfície, ocasionando gradientes de saída mais elevados e artesianismo. A solução adotada pelos projetistas para combater o fluxo de água a jusante destas estruturas foi a execução de filtro invertido, delimitado por um gradiente hidráulico máximo de 15% pela 44 WWW.CBDB.ORG.BR fundação. Ou ainda, nos casos de surgências que apresentem carreamento de partículas de solo e/ou vazões muito elevadas (ver detalhe do filtro invertido na Figura 14). Dos 28 diques do Reservatório Intermediário, até o momento, 12 receberam (ou estão em fase de implantação) filtro invertido a jusante devido aos gradientes de saída elevados (maior que 15%) e surgência de água a jusante destas estruturas. Entretanto, estas surgências de água, de um modo geral, não vieram comprometer a segurança das estruturas, ao passo que a execução dos filtros invertidos garantem a segurança destas estruturas contra possíveis pipings. Importante salientar que na maioria dos diques, alguns com até 60 m de altura, a piezometria revelou um comportamento normal com pressões neutras inferiores aos valores de controle previstos em projeto, conforme mostra a Figura 15. Figura 5 – Seção instrumentada do bloco 4 da Tomada d`Água Figura 6 – Seção instrumentada da Casa de Força Principal SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE 45REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Figura 7 – Locação da trincheira de inspeção Figura 9 – Execução de injeção dos canalículos na trincheira exploratória do Dique 19B Figura 11 – Ocorrência de artesianismo a jusante do Dique 7B Tabela 3 - Dique 7B - Parâmetros de projeto Figura 8 – Locação do “dreno cego” Figura 10 – Canalículo recuperado em ensaio após injeção Figura 12 – Dique 7B - Fluxo d`água por meio de canalículos Figura 13 – Detalhe de canalículo com diâmetro aproximado de 5cm, fluindo água 46 WWW.CBDB.ORG.BR Figura 16 – Dique 8B - seção 3 – piezometria Figura 14 – Detalhe de filtro invertido Figura 15 – Dique 14C - Comparação entre valores medidos e de projeto SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE 47REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 5.2 SOLOS ARENÍTICOS Na região denominada de Graben do Macacão (ver artigo sobre o Graben do Macacão) a fundação predominante é o solo arenítico. Este solo tem permeabilidade relativamente alta, variando de 10-3 cm/s na superfície até atingir as regiões mais profundas (até 15m). Nestas regiões mais profundas o arenito possui coerência C4 (que corresponde a SPT maiores que 3/1 golpes e permeabilidade da ordem de 10-4 cm/s). Três grandes diques foram construídos sobre esta fundação: Dique 6C (ombreira direita), Dique 8A (ombreira esquerda), e Dique 8B (totalmente). O grande desafio que a projetista teve que enfrentar foi o de interceptar e controlar o fluxo pela fundação destes diques. Por se tratar de um arenito com permeabilidade alta e coesão baixa, este material facilmente era carreado, mesmo com baixo gradiente. A solução adotada pela projetista foi a adoção de cut-off de até 12 m de profundidade. Assim, foi possível interceptar as camadas superficiais do arenito até atingir as camadas mais profundas, alcançando o arenito com coerência C4 e permeabilidade menor (10-4 cm/s). A jusante do dique foi construído um grande filtro invertido, o qual se estendeu de ombreira a ombreira junto com uma linha de poços de alívio a jusante do dique, com espaçamento de 12m entre si e 15m de profundidade (ver Figura 16). Conforme observado na Figura 17, os piezômetros locados na fundação. apresentaram uma resposta rápida. Entretanto, não houve nenhum registro de surgência de água ou artesianismo no filtro invertido a jusante do dique. Os valores de projeto apresentados na Tabela 4 demostram que as cotas piezométricas estão bem abaixo dos valores medidos. A vazão específica medidas nos medidores de vazão é da ordem de 2 l.min.m, uma vazão menor do que a de muitos diques com fundação em migmatito. Figura 17 – Dique 8B – gráfico da piezometria Até o momento as estruturas sobre o Graben, com fundação arenítica, não apresentaram anomalias. Isto indica uma boa eficiência no tratamento realizado para interceptar e controlar o fluxo de água. Tabela 4 - Dique 8B - Comparação entre valores medidos e de projeto Instrumento Valor de controle Leitura em 31/01/2017ATENÇÃO ALERTA PZ - 11 93,95 96,25 84,27 PZ - 12 93,95 96,25 88,73 PZ - 13 87,30 88,20 82,19 PZ - 14 87,30 88,20 81,86 PZ - 24 - - 72,66 PZ - 25 - - 76,26 PZ - 27 - - 56,46 5.3 FUNDAÇÕES EM ROCHA / ESTRUTURAS DE CONCRETO A rocha que serviu de suporte para a fundação das estruturas da UHE Belo Monte foi o migmatito. No sítio Belo Monte, a Tomada dÁgua ficou apoiada em um maciço rochoso bastante competente com coesão superior a C2 e pouco fraturado. O bloco TA-04 da Tomada d’Água do sítio Belo Monte foi instrumentado em duas seções com os piezômetros PZC-41/42 e PZF-41 instalados na seção distante 9,75 m à esquerda do eixo da unidade. Os Piezômetros PZC-43/44 e PZF-42 ficaram afastados 11,25 m à direita do eixo da UG, conforme Figura 18. Na Figura 19 estão estes níveis piezométricos em escala, sendo indicados na seção transversal do bloco TA-04. Foi rápida a resposta de todos os piezômetros ao enchimento do reservatório. Os níveis piezométricos atingiram um pico máximo próximo da data de final de enchimento do reservatório. 48 WWW.CBDB.ORG.BR Depois, eles mostraram tendência de queda das subpressões. Apesar de se ter constatado em alguns blocos da Tomada d’Água subpressões um pouco acima dos valores de projeto, mesmo a jusante da cortina de drenagem, foi verificado que as mesmas não implicavam em problemas de estabilidade. Importante ressaltar, entretanto, que no geral foi constatado um bom desempenho do sistema de drenagem na fundação da T.A., no qual os drenos conectavam um túnel de drenagem cerca de 20 m abaixo do contato C/R (ver Figura 19). Observações importantes: • Rápida resposta dos piezômetros ao enchimento do reservatório, tendo o pico das subpressões medidas ocorrido praticamente tão logo o NA do reservatório atingiu a El. 97,00 m (NA máx normal); • Níveis piezométricos mais elevados a montante da cortina de drenagem com queda expressiva a jusante da mesma, o que vem indicar um bom desempenho da cortina de drenagem; • Tendência geral de queda dos níveis piezométricos após o pico ocorrido em meados de fev/2016, quando o NA do reservatório atingiu a El. Máxima. Foram instalados 26 medidores triortogonais nas juntas entre blocos da Tomada d’Água ao longo da galeria de drenagem, com numeração seguindo a ordem crescente do Muro Esquerdo em Figura 18 – Bloco TA-04 e evolução dos níveis piezométricos com o tempo direção ao Muro Direito. Os maiores deslocamentos diferenciais foram até meados de outubro/2016. Confira: • Recalque diferencial ..................... 0,42 mm; • Deslizamento horizontal ............... 0,56 mm; • Abertura da junta .......................... 0,75 mm. Esses valores estão bem abaixo dos valores observados em outras barragens, conforme mostrado na Tabela 6. Com relação ao sítio Pimental, distante cerca de 40 km do sítio Belo Monte, ondese localizam as estruturas do Vertedouro e da Casa de Força secundária, a Figura 20 apresenta o Arranjo Geral da instrumentação em um “bloco-chave” no Vertedouro. Na sequência, estão as análises das leituras realizadas nos PZ’s desta seção. Os piezômetros foram instalados no contato C/R e na fundação do Vertedouro. As seções principais foram instrumentadas com seis Piezômetros Standpipe e dois PZ’s elétricos de corda vibrante (a jusante), enquanto as seções secundárias foram instrumentadas com quatro Piezômetros Standpipe cada. A Tabela 7 apresenta as leituras realizadas nos Piezômetros tipo Standpipe e elétrico localizados em duas “seções-chaves”: uma principal (bloco VT-09) e outra secundária (bloco VT-11), no dia 17/03/2016. Nesta mesma tabela são apresentados os valores de “Atenção” e “Alerta” estabelecidos pela projetista para SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE 49REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Tabela 5 - Comparação entre valores medidos e de projeto para o bloco TA-04 Instrumento Valor de controle Leitura em 01/08/2016ATENÇÃO ALERTA PZC-41 73,97 74,17 87,22 PZC-42 56,93 57,06 64,44 PZF-41 46,08 46,18 48,00 Tabela 6 - Deslocamentos diferenciais máximos entre blocos nas barragens de gravidade de concreto em CCR Barragem em CCR Deslocamento diferencial máximo (mm) Abertura de junta Recalque diferencial Deslizamento horizontal Fundação Crista TA Belo Monte 0,75 0,42 0,56 - Dona Francisca 2,30 0,75 3,40 - Monte Claro 1,30 1,20 1,40 3,10 Castro Alves 4,10 0,50 1,50 3,05 14 de Julho 2,00 1,25 1,00 - Canoas I 3,36 1,65 1,35 - Canoas II 1,25 0,65 0,35 - Arvoredo 1,20 1,30 2,00 - estes instrumentos, considerando condições de CCN e CCE, respectivamente. Todos os piezômetros do Vertedouro apresentam níveis abaixo dos valores de controle. Mesmo após oito meses do enchimento do reservatório, todos estão praticamente estabilizados ou com ligeira tendência de redução. Essa constatação vem indicar o bom desempenho da cortina de drenagem na redução das subpressões na fundação do Vertedouro. Na sequência são apresentados os gráficos das duas “seções- chaves” típicas da piezometria na fundação do Vertedouro. Tabela 7 - Valores medidos e de controle para os piezômetros do Vertedouro do Pimental - blocos VT-9 e VT-11 (mar/16) Piezômetro Posição cortina drenagem Valores de Controle (m) Nível Medido Atenção Alerta PC-PI-VT9-1 Mont. 94,57 96,54 90,58 PC-PI-VT9-2 Mont. 92,08 95,63 66,28 PC-PI-VT9-3 Jus. 90,82 95,05 72,69 PC-PI-VT9-4 Mont. 97,00 97,50 91,28 PC-PI-VT9-5 Mont. 93,62 96,21 64,77 PC-PI-VT9-6 Jus. 90,63 94,92 64,69 PE-PI-VT9-1 Jus. 89,53 94,15 72,89 PE-PI-VT9-2 Jus. 88,89 93,70 72,81 PC-PI-VT11-1 Mont. 94,02 96,36 75,42 PC-PI-VT11-3 Jus. 90,83 95,06 70,95 PC-PI-VT11-4 Mont. 96,60 97,35 95,42 PC-PI-VT11-6 Jus. 90,44 94,78 65,86 Figura 19 – Comparação entre valores de projeto e medidos em 01/08/2016 para o bloco TA-04 6. CONCLUSÃO Normalmente em um empreendimento de usina hidrelétrica existem poucas estruturas para serem monitoradas, entretanto em Belo Monte, devido ao seu tamanho e extensão, mais de 40 estruturas precisaram acompanhamento. De um modo geral, as estruturas da UHE Belo Monte apresentaram um bom desempenho durante o enchimento dos reservatórios. Algumas anomalias foram constatadas pela equipe de Segurança de Barragens, tais como subpressões um pouco mais elevadas na fundação da Barragem Lateral Esquerda, no sítio Pimental, e artesianismo a jusante de alguns diques. Nesses locais houve execução de filtro invertido. A alternativa escolhida vem apresentando um bom desempenho. A implantação do Plano de Segurança de Barragens na UHE Belo Monte possibilitou um bom monitoramento das mais de 40 estruturas deste empreendimento e reduziu significativamente os riscos de acidentes. Foi necessário organizar um acompanhamento detalhado ao longo do tempo para enfrentar o desafio. 50 WWW.CBDB.ORG.BR SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE Figura 21 – Subpressões no contato concreto/rocha e fundação - bloco VT-09 Figura 20 – Seção transversal de “bloco-chave” instrumentado no Vertedouro do sítio Pimental 51REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Oscar Machado Bandeira Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) em 1969. Possui 40 anos de experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas, tendo atuado como Eng. Residente, Engenheiro Consultor, Coordenador de Obras Civis, Superintendente de Engenharia e Construção nas Hidrelétricas de Itaparica, Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã). Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S.A. como Superintendente de Engenharia e Construção da Usina de Belo Monte e como Coordenador dos Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento. João Francisco Silveira Atua na área de Instrumentação e Segurança de Barragens desde 1973, tendo participado do Projeto e Análise da Instrumentação das Usinas Hidrelétricas de Itaipu, Água Vermelha, Marimbondo, Três Irmãos, Xingó, Itá, Itapebi, Dona Francisca, Jirau e Belo Monte, dentre outras. É autor de cerca de 120 trabalhos técnicos e de dois livros dedicados à Instrumentação e Segurança de Barragens. Presidiu a Comissão Internacional “Ad Hoc Committee on Small Dams” do International Commission on Large Dams (ICOLD), no período entre 2005 e 2011. Daniel Teixeira Leite Coordenador de Segurança de Barragens e Geotécnico na UHE Belo Monte, atuou nos projetos e execução de 33 barragens e diques, duas Casas de Força, um Vertedouro e do maior Canal do Brasil, com aproximadamente 20 km de extensão. Atuou também na Coordenação e Implantação do Plano de Segurança de Barragens. Possui experiência em Estudos de Arranjos de usinas hidrelétricas, participando na elaboração de diversos projetos: UHE Caçu (65 MW), UHE Coqueiros (90 MW), UHE Ferreira Gomes (252 MW), UHE Ribeiro Gonçalves (113 MW), UHE Riacho Seco (276 MW), UHE São João (60 MW), Cachoeirinha (45 MW), entre outros. Figura 22 – Subpressões no contato concreto/rocha e fundação - bloco VT-11 7. AGRADECIMENTOS Agradecemos a contribuição das seguintes empresas: - Norte Energia S.A. por ceder as informações necessárias para este artigo; - SBB Engenharia pela contribuição na elaboração deste texto; - Pimenta de Ávila e Engecorps, por elaborar o Plano de Segurança de Barragens da UHE Belo Monte. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ANA - Agência Nacional de Águas. Relatório de Segurança de Barragens – 2015. Brasília – DF, Brasil, 2016. [2] ICOLD – International Comission on Large Dams. Boletim Nº 157 - Small Dams, Design, Surveillance and Rehabilitation. 52 WWW.CBDB.ORG.BR GEOTECNIA E FUNDAÇÕES CONDICIONANTES GEOLÓGICO- GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE TRATAMENTO DOS ARENITOS DO GRABEN DO MACACÃO Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia do Proj. Belo Monte – Norte Energia S.A. Raimundo Marcondes CARVALHO | Geólogo Sênior do Projeto Belo Monte – Norte Energia S.A. Nestor Antonio Mendes PEREIRA | Geólogo Sênior do Projeto Belo Monte – Norte Energia S.A. Martim Afonso de CAMARGO | Geólogo Supervisor do Projeto Belo Monte – Intertechne Consultores S.A. During the Feasibility Studies of the Belo Monte HPP, in the early 1980s, a Graben (tectonic depressed block bordered by faults) located in the crystalline basement and filled with sandy sediments contemporaneous with the Trombetas Formation was identified in a region located about 2 km upstream of the plant, of the Paleozoic. On this structure, a relatively narrow spigot, about 3 km in length was modeled, that forms the right divider of the intermediate reservoir, between the dikes 6C and 8A of the plant arrangement. The geomechanical characteristics of the sediments, conditioning the percolation of the water of the reservoir by the divisor, and are presented, in general, the treatments performed in the Graben region, in light of the greater hydrogeotechnicalknowledge acquired after the investigations of the executive design phase. Durante os Estudos de Viabilidade da UHE Belo Monte, no início da década de 1980, foi identificada em região posicionada a cerca de 2 km a montante da usina uma fossa tectônica (Graben), encaixada no embasamento cristalino e preenchida com sedimentos arenosos contemporâneos à Formação Trombetas, do Paleozóico. Sobre essa estrutura, foi modelado um relevo em espigão relativamente estreito, com cerca de 3 km de extensão, que constitui o divisor direito do reservatório intermediário, entre os diques 6C e 8A do arranjo da usina. São abordadas as características geomecânicas dos sedimentos, condicionantes da percolação da água do reservatório pelo divisor e apresentados, em linhas gerais, os tratamentos realizados na região do Graben, à luz do maior conhecimento hidrogeotécnico adquirido após as investigações da fase de projeto executivo. RESUMO ABSTRACT 53REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 1. INTRODUÇÃO A UHE Belo Monte está implantada no domínio de rochas cristalinas de idade Arqueana[1], remobilizadas no Proterozóico Inferior e pertencentes ao Complexo Xingu[2], bem próximo da borda da Bacia Sedimentar do Amazonas. Nos sítios Belo Monte e do Reservatório Intermediário, o embasamento cristalino é constituído por migmatitos, litologia que representa adiantado estágio de remobilização das rochas mais antigas do Complexo Xingu. A Bacia Sedimentar está representada por ritmitos, folhelhos e arenitos pertencentes à Formação Trombetas, do Siluriano. Eles estão presentes não só nas fundações das ombreiras das barragens e diques próximos à usina, mas também sustentam um espigão de arenito no divisor direito do reservatório - localizado entre os Diques 6C e 8A do arranjo da UHE, no interior de uma fossa tectônica (Graben). Além dos sedimentos da Formação Trombetas, ocorrem ainda nessa região arenitos pertencentes à Formação Maecuru, do Devoniano, situados em nível topográfico mais elevado que a unidade anterior e sem interferência com o arranjo, além de uma espessa soleira de diabásio da Formação Penatecaua, do Mesozóico, intrudida entre essas duas unidades, igualmente, sem interferência com as fundações. Por fim, estão os sedimentos semiconsolidados arenosos com lentes argilosas da Formação Alter do Chão, do Terciário, que ocupam o topo dos morros mais elevados e os depósitos aluvionares do Quaternário, restritos ao leito e margens do rio Xingu e dos principais igarapés contribuintes. A referida fossa tectônica, identificada durante os Estudos de Viabilidade da UHE Belo Monte, no início da década de 1980, recebeu a denominação de Graben do Macacão durante o desenvolvimento do projeto. A denominação é oriunda do nome pelo qual os moradores da região chamavam o relevo elevado: morro ou serra do Macacão. Ela está encaixada nos migmatitos do embasamento cristalino com arcabouço estrutural controlado por falhas verticais coincidentes com antigas linhas de fraqueza do Complexo Xingu, que lhe conferem uma geometria aproximadamente trapezoidal [3]. A Figura 1 mostra a localização dessa estrutura tectônica no arranjo da usina. 2. ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS DA REGIÃO DO GRABEN Geomorfologicamente, o pacote de sedimentos existentes no interior do Graben está modelado na forma de um platô bastante dissecado por ravinas e vales profundos com significativo controle estrutural, que nele esculpem espigões de topo aplainado a suavemente ondulado, sinuosos e alongados, orientados, principalmente nas direções NNE e NNW. FIGURA 1 - Localização geográfica da região do Graben do Macacão e a indicação dos principais tratamentos geotécnicos efetuados O espigão entalhado do lado ocidental do Graben constitui o divisor direito do Reservatório Intermediário ao longo de uma extensão de aproximadamente 2.600m, entre os Diques 6C e 8B. Ele se apresenta com as encostas de montante (banhadas pelo reservatório) com uma declividade relativamente suave, entre 54 WWW.CBDB.ORG.BR 1V:4H e 1V:3H. A encosta a jusante é abrupta, com inclinação de até 1V:1H, que termina em um extenso vale orientado a NNE, com amplo anfiteatro na cabeceira e que se prolonga para jusante, paralelamente ao Dique 6C. O espigão banhado pelo reservatório está disposto na direção aproximada Norte-Sul, com largura da ordem de 350 m a 400 m em torno da EL.100,00 m, sustentado basicamente pelos arenitos da sequência final de deposição no interior do Graben, que se elevam até a cota aproximada de 135 m, em contraste com o relevo arrasado do entorno, na elevação média de 40m, modelado sobre rochas migmatíticas do embasamento, muito alteradas, FIGURA 2 - Modelo esquemático do Graben do Macacão com indicação das seções “A” e “B” FIGURA 3 - Seção geológica esquemática no sentido longitudinal do Graben (vista de montante) FIGURA 4 - Seção geológica esquemática no sentido montante-jusante do Espigão de Arenito com capeamento de solo residual de espessura superior a 30 m. Na sua extremidade Sul, o espigão está dissecado por um vale abrupto e amplo até a elevação 50 m, que o separa de um morro testemunho que alcança a elevação 130 m e serve de ombreira para os Diques 8B, interno ao Graben, e 8A, que cruza o limite Sul da estrutura. A principal preocupação do ponto de vista do projeto de engenharia em relação à morfologia do espigão é a possível percolação da água através do maciço arenítico localizado entre os Diques 6C e 8B, que funcionará como uma barragem sujeita ao fluxo de água. CONDICIONANTES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE TRATAMENTO DOS ARENITOS DO GRABEN DO MACACÃO 55REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 3. GEOLOGIA DO GRABEN O Graben do Macacão, diferentemente das fossas tectônicas mais frequentemente citadas na literatura geológica, tem os seus flancos de formato trapezoidal e não alongado e seu arcabouço estrutural controlado por linhas de fraqueza do embasamento, originadas em eventos deformacionais antigos, do Proterozóico, posteriormente reativadas no início do Paleozóico como falhas normais (subverticais a fortemente inclinadas) e escalonadas, isto é, constituindo zonas de falhas em degraus. O abatimento da estrutura no interior do embasamento cristalino, representado na região pelos migmatitos, começou no período em que se depositavam os folhelhos e ritmitos da base da Formação Trombetas (Membro Pitinga), propiciando sua ressedimentação no interior da estrutura. Em etapas posteriores de afundamento do Graben houve a preservação da camada de arenitos finos do Membro Manacapuru, que sucedeu ao Membro Pitinga, inexistente fora da fossa, nessa região da Bacia Sedimentar. O forte declive criado pelo abatimento dessa região alterou a sedimentação marinha, de plataforma a costeira, típica da Formação Trombetas, para deposição gravitacional subaquosa, caracterizada por escorregamentos nos taludes instáveis da depressão. Ali se acumularam camadas contorcidas/dobradas de folhelhos e ritmitos, entremeadas com blocos de dimensões métricas a decamétricas de migmatito cataclasado/cisalhado (tombados do talude) e sedimento silto-argiloso, depósito a que se denomina diamictito (mistura caótica de diferentes litologias imersas em matriz lamítica) [4], [5], [6]. As Figuras 2, 3 e 4 mostram seções geológicas esquemáticas sobre a hipótese de instalação do Graben. A deposição dos sedimentos no interior do Graben se alternou com ciclos de movimentos verticais de afundamento da fossa, o que é evidenciado pela ocorrência, ao longo do espigão, de camadas de argilitos, siltitos e folhelhos fortemente inclinadas, contorcidas e/ou rompidas e pela quase total ausência de estruturas de estratificação nos arenitos, onde são frequentes feições de fluidificação (liquefação), relacionadas à atividade sísmica. A sucessão de etapas de abatimento (afundamento) do Graben está também evidenciada junto aos taludes das falhas que o delimitam pela intercalaçãode camadas de diamictito com blocos de grandes dimensões de rocha migmatítica alterada (período de exposição de novos taludes instáveis, pela movimentação vertical nas falhas), e estratos de arenitos, argilitos e folhelhos (períodos de estabilidade deposicional). As investigações realizadas no interior do Graben permitiram determinar as seguintes profundidades do topo do embasamento cristalino sob os sedimentos: EL. 10,0 no flanco Sul da estrutura; EL.+4,0 no flanco Norte; EL.-9,0 do lado Leste, a jusante do morro testemunho que serve de ombreira para os Diques 8A e 8B, abaixo das EL.-80,0 na porção mediana e imediatamente a jusante do espigão banhado pelo reservatório; EL.-51,0 próximo à falha que limita a estrutura do lado Oeste, e EL.-29,0 no ponto central do Dique 8B. Projeções do nível do contato basal da Bacia Sedimentar para essa região sugerem um abatimento da estrutura da ordem de 120 m no lado Norte e 190 m no flanco Sul. Com o objetivo de caracterizar geológica e geotecnicamente o maciço sedimentar que sustenta esse trecho do divisor do reservatório, particularmente, em relação à ocorrência de possíveis camadas de maior permeabilidade ou de zonas mais fraturadas e eventualmente mais permeáveis, condicionadas por lineamentos estruturais que interceptam o espigão, foram executadas 5.636 m de sondagens mistas verticais e rotativas inclinadas, com amostragem e execução de ensaios de perda d’água sob pressão em rocha e infiltração em solo. Os números são: 2.372 m (34 sondagens) no espigão, 370 m (12 sondagens) na ombreira esquerda do Dique 8A, 1.881 m (61 sondagens) no Dique 8B e 1.012 m (18 sondagens) na ombreira direita do Dique 6C. Essas investigações foram precedidas de inspeções nos afloramentos rochosos existentes nas porções mais escarpadas das encostas, abaixo da EL. 97,0, tanto do lado de montante do reservatório como do lado de jusante, com a finalidade de localizar possíveis vazios que pudessem ter continuidade no interior do maciço. Foram ainda executadas campanhas de sondagens geofísicas pelo método de eletrorresistividade, que totalizaram 8.665m de caminhamento elétrico. As sondagens executadas no alto do espigão, desde seu topo, acima da EL. 130,0 até a EL. 80,30 (atingida pela sondagem mais profunda com fim estratigráfico executada no espigão),z mostraram a ocorrência de um pacote de arenitos de granulometria predominantemente fina com raras intercalações de folhelhos, argilitos e ritmitos, sobreposto a depósitos basais de diamictito. Os arenitos se caracterizam por intercalações de camadas de espessuras métricas de granulação fina a muito fina, com pouquíssima matriz, com estratos de granulação média a fina e matriz caulínica, com pequena fração de grãos grossos de quartzo arredondados a angulosos e granulação grosseira em alguns intervalos. Eles alternam, com lâminas centimétricas a decimétricas de argilitos e siltitos, todo o conjunto de coloração branco acinzentada, com variações para roxo e avermelhado. São maciços, localmente com estratos silicificados, com frequentes estruturas de fluidização, quase sempre realçadas pela variação de cores. Exibem, também, nos intervalos onde ocorrem as alternâncias com argilitos e siltitos, acamamento com forte mergulho, raramente sub-horizontal, pelotas centimétricas 56 WWW.CBDB.ORG.BR de argilito cinza escuro ou esbranquiçado e clastos angulosos constituídos de arenito fino e argilito. As Figuras 5A e 5B exibem alguns exemplares dessas litologias. Mostram, de forma geral, coerentes (C2) e sem fraturas (F1), com raros intervalos friáveis (C4), atribuídos, possivelmente, ao processo de perfuração em trechos de rocha praticamente desprovida de matriz. Nos afloramentos verticais que ocorrem nas encostas do espigão são igualmente coerentes e cobertos/protegidos superficialmente por película de sílica microcristalina. As intercalações de folhelhos, argilitos e ritmitos são pouco frequentes no pacote de sedimentos e, em geral, com espessuras centimétricas a submétricas. Os argilitos, localmente siltitos argilosos, têm coloração cinza escuro ou esbranquiçada e arroxeada a rósea. Apresentam, em geral, contatos com inclinações variáveis entre 30° e 60° com os arenitos. Apenas em duas sondagens foram observados estratos mais espessos, com 6 m e 22,5 m, pouco coerentes (C3). Os folhelhos são cinza escuro a negros, com espessuras desde submétricas a métricas, pouco coerentes (C3) e com estratificação fortemente inclinada ou convolucionada e com planos polidos ou estriados, evidenciando intenso processo de acomodação no FIGURA 5A - Fotos dos testemunhos (parciais) da sondagem SM-7508 com diversos tipos de arenitos, inclusive com intercalação de argilito (na caixa 17), que ocorrem no maciço arenítico do Graben FIGURA 5B - Fotos dos testemunhos (parciais) das SMs 7450 e 7513 exibindo a ocorrência de diamictitos em profundidades variáveis no maciço interior do pacote de arenitos. Os ritmitos se caracterizam por laminações centimétricas de siltito, arenito muito fino e folhelho/ argilito. Apresentam estratificação inclinada a sub-horizontal e porte submétrico. Os diamictitos são constituídos ora por blocos de dimensões submétricas a métricas de migmatito, em geral, pouco alterado com pouca matriz lamítica cinza esverdeada, como na ocorrência localizada próximo da ombreira do Dique 6C, ora com predominância de matriz lamítica com clastos centimétricos de migmatito, como mais frequente nos depósitos mais profundos. Com base nos resultados obtidos nas investigações geológico- geotécnicas e nos ensaios de campo, foi verificado que, de um modo geral, esse maciço de arenito está coerente (C2), com estratos esparsos de material friável (C4), muito pouco fraturado (F1), e com um comportamento hidrogeológico homogêneo, com valores de condutividade hidráulica muito baixos a nulos. Em apenas duas sondagens foram obtidos valores de permeabilidade mais elevados, variáveis entre 6x10-4cm/s e 3x10-3cm/s, entre as EL. 73,0 m e 84,0 m. Esses dados corroboram o comportamento estanque esperado para esse maciço sedimentar, tendo em mente a litologia dominante de arenito fino, maciço e as próprias condições de instabilidade na sua deposição e consolidação, que não propiciam a ocorrência de camadas permeáveis persistentes, passíveis de percolação da água pelo maciço arenítico. Uma feição que chamou bastante a atenção durante as investigações realizadas no espigão foi a ocorrência de alguns estratos de arenito friável (C4), particularmente, nas sondagens executadas mais próximo das ombreiras dos Diques 6C e 8B, como também nas fundações desses diques, que impediam a realização de ensaios de perda d’água para determinação da permeabilidade do maciço. Investigações posteriores, utilizando lama bentonítica ou poliplus na água de perfuração, permitiram uma melhor qualidade na amostragem e a constatação da real coerência do arenito nesses estratos (C4 ou superior). Ele perde a resistência durante o processo de perfuração devido à pouca ou ausência de matriz. Por meio da execução de ensaios de infiltração contínuos, com o simultâneo revestimento do furo, foi também possível determinar a permeabilidade dos estratos friáveis. Assim foram obtidos valores iguais ou inferiores a 1x10-4 cm/s para esses materiais. Essas evidências determinaram o critério para a fundação do cut off nos diques em material com coerência mínima C4 e coeficiente de permeabilidade k≤ 1x10-4cm/s. Estudos de percolação (realizados em seções topográficas localizadas em estrangulamentos do espigão com extensão de 350 m entre a EL.97,00 m a montante e a EL.75,00 m a jusante) são considerados mais críticos em termos de gradientes hidráulicos de saída no talvegue a jusante. Foram adotados os parâmetros mais desfavoráveis em relação à permeabilidade do maciço e ao CONDICIONANTES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE TRATAMENTO DOS ARENITOS DO GRABEN DO MACACÃO 57REVISTA BRASILEIRADE ENGENHARIA DE BARRAGENS capeamento de solo. O resultado foi um gradiente máximo de 0,25, o que recomendou a implantação da proteção do talvegue a jusante do espigão com dreno invertido. 4. CONCLUSÕES As investigações geológico-geotécnicas produzidas na região do Graben do Macacão foram realizadas em várias etapas do projeto e permitiram, com aceitável confiabilidade, a definição dos limites dessa estrutura e a concepção do modelo geológico-estrutural e hidrogeológico do maciço e das fundações na região de interesse do projeto. Além da caracterização geológico-estratigráfica do maciço sedimentar do Graben, as investigações e ensaios realizados FIGURA 6A - Implantação do cut-off no Dique 8B FIGURA 6B - Implantação do cut-off no Dique 6C FIGURA 7A - Seção típica do Dique 8B, exibindo a implantação do cut-off e filtro invertido a jusante FIGURA 7B - Seção típica do Dique 6C exibindo a implantação do cut-off e do filtro invertido a jusante permitiram a caraterização da permeabilidade dos níveis/ estratos de arenito friável (C4), dando segurança à escolha do projeto mais adequado para o tratamento em questão. No Projeto Básico Consolidado (PBC) estava prevista a execução de um tapete impermeável a montante dos Diques 6C, 8A e 8B e filtro invertido a jusante dos mesmos, não se tendo previsto, naquela fase, tratamentos no espigão de arenito entre os Diques 6C e 8B. O resultado das investigações e ensaios geológico-geotécnicos realizados na região do Graben após o PBC possibilitaram um melhor conhecimento dos materiais de fundação, permitindo a adoção de uma solução mais adequada do ponto de vista técnico e econômico. O tratamento preconizado e implantado no Projeto Executivo, para o controle do fluxo de água pelas fundações dos Diques 6C, 8A 58 WWW.CBDB.ORG.BR Raimundo Marcondes Carvalho Graduado em Geologia pela Universidade de São Paulo, em 1972, atua no segmento de Consultoria e Projetos de Obras Geotécnicas desde 1973. Possui experiência na elaboração de Inventários Hidrelétricos e Projetos de Viabilidade, Básico e Executivo de usinas hidrelétricas. Participou do Projeto de Viabilidade do Complexo Hidrelétrico de Altamira-Belo Monte (17.000MW), do Projeto Executivo da UHE Jirau (3.450MW) e na Engenharia do Proprietário da UHE Belo Monte (11.233MW)Neste último, atuou como Coordenador dos trabalhos da área de Geologia e foi responsável pela certificação dos documentos de projeto. Nestor Antonio Mendes Pereira Geólogo formado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro (hoje UNESP). Possui mestrado em Geotecnia pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP) e especialização em barragens desde 1974. Participou de inúmeros estudos sobre a implantação de projetos hidrelétricos, PCH e linhas de transmissão em locais como Instituto de Pesquisas Tecnológica do Estado de São Paulo, Themag Engenharia e Eletronorte. Na Norte Energia S.A. atua como Coordenador das investigações geológico-geotécnicas e das liberações das fundações das estruturas de terra e rocha da implantação da UHE Belo Monte. Martim Afonso Cóser Moraes de Camargo Geólogo de Engenharia com mais de 40 anos de atuação em estudos e projetos de grandes empreendimentos, tais como: barragens, usinas hidrelétricas, obras de drenagem, túneis, rodovias e ferrovias. Possui experiência no desenvolvimento de Estudos de Inventário e de Viabilidade com Preparação de Programas de Mapeamento Geológico e de Investigações Geológico- geotécnicas e Geofísicas (com acompanhamento e interpretação). Participação do desenvolvimento de Projetos Básicos e Bxecutivos e na Engenharia do Proprietário (ATO). e 8B, consistiu na escavação de uma trincheira de vedação (cut-off), cuja profundidade variou entre 3 m e 8 m para atender ao critério imposto (material com coerência mínima C4 e permeabilidade máxima de 1x10-4 cm/s). Também foi implantado um filtro invertido, a jusante desses diques, composto de areia, transições e enrocamento. O objetivo foi controlar a saída do fluxo d’água pela fundação[7]. Figuras 6A e 6B e 7A e 7B. Igual tratamento com filtro invertido foi aplicado em parte da região do vale imediatamente a jusante do espigão arenítico, desde o anfiteatro da cabeceira do talvegue (já mencionado no item 2) até as proximidades do Dique 6C, entre a EL.75,0 e o fundo do vale. O Projeto Executivo contemplou, também, a proteção do espigão de arenito, na zona de flutuação do nível d’água do Reservatório Intermediário, por meio da implantação de uma camada de enrocamento (rip-rap) entre a EL.92,5 e a EL. 100,0, com transições de material pétreo até a superfície do terreno, a montante de toda a extensão da encosta. A crista desta proteção, na EL. 100,0 possui largura de 8,00 m para configurar um acesso permanente, visando a eventuais manutenções. Vide Figura 1. 5. PALAVRAS-CHAVES UHE Belo Monte. Graben do Macacão. Espigão de Arenito. Fundação em arenito. 6. AGRADECIMENTOS Os autores expressam seus agradecimentos ao Técnico Cadista Sr. Davi Santos Santana Menezes pelo apoio na elaboração das ilustrações apresentadas. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] HASUI, Y. et alii. Elementos Geofísicos e Geológicos da Região Amazônica; Subsídio para o Modelo Geodinâmico. In.: SYMPOSIUM AMAZÔNICO, 2, Manaus, Anais ... DNPM /CNPq. Manaus, 1984. [2] ISSLER, R. S. et alii. Geologia. In.: BRASIL. DNPM. Projeto RADAM. Folha SA.22. Belém. Rio de Janeiro, 1974. [3] NORTE ENERGIA S.A. Relatório do Projeto Básico, Vol I, Tomo II. Brasília, 2012. [4] CARVALHO, R.M. Reservatório Intermediário – Graben do Macacão. Apresentação Power Point. In.: 11ª Reunião Setorial de Geologia-Geotecnia da UHE Belo Monte. Altamira, 2014. [5] NORTE ENERGIA S.A. Relatório Técnico RI3-D099-ITT-CGG-RT-0002-00 - Graben do Macacão - Consolidação dos Estudos Geotécnicos. Altamira, 2014. [6] NORTE ENERGIA S.A. Recomendações da Junta de Consultores. In.: 11ª Reunião Setorial de Geologia e Geotecnia. Altamira, 2014. [7] NORTE ENERGIA S.A. Tratamentos na Região do Graben do Macacão Nota Técnica RI3-D099-EBM-CTG-NT-0001-00. Altamira, 2015. Oscar Machado Bandeira Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) em 1969. Possui 40 anos de experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas, tendo atuado como Eng. Residente, Engenheiro Consultor, Coordenador de Obras Civis, Superintendente de Engenharia e Construção nas Hidrelétricas de Itaparica, Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã). Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S.A. como Superintendente de Engenharia e Construção da Usina de Belo Monte e como Coordenador dos Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento. CONDICIONANTES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE TRATAMENTO DOS ARENITOS DO GRABEN DO MACACÃO 59REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS MATERIAL CIMENTÍCIO PARA O PROJETO BELO MONTE Besides technical aspects, with hydroelectric complex location distant from large consumer centers, logistics issues, especially those related to production capacity, transport conditions and resulting costs, had great impact on supply options of cementitious materials used in concrete structures of Belo Monte Project. This article presents a synthesis of the studies and analysis carried out for the selection of cements and pozzolanic materials for the construction of concrete structures, as well as design specifications for physical and chemical requirements, in comparison with their monitored properties during the construction period. Além dos aspectos técnicos, com a localização do Complexo Hidrelétrico distante dos grandes centros consumidores, as questões de logística, principalmente aquelas relacionadas à capacidade de produção, às condições de transporte e aos custos, tiveram influência acentuada nas opções de fornecimento de materiais cimentícios utilizados nas estruturasde concreto do empreendimento de Belo Monte. Este artigo apresenta uma síntese dos estudos e análises realizados para a seleção de cimentos de materiais pozolânicos para a construção, bem como traz especificações de projeto para os requisitos físico-químicos em confronto com o monitoramento de suas propriedades durante o período de construção. RESUMO ABSTRACT Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia do Projeto Belo Monte - Norte Energia S.A. Walton PACELLI de Andrade | Consultor de Controle Tecnológico do Concreto - Projeto Belo Monte Reynaldo Machado BITTENCOURT | Engenheiro Civil do Projeto Belo Monte - Norte Energia S.A. 60 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO Custos, requisitos técnicos e fatores como o layout do empreendimento (com estruturas distribuídas em uma grande área), o clima, a demanda da obra por material cimentício, a capacidade de fornecimento, as condições de transporte, descarga e distribuição, tiveram grande influência nas decisões para a escolha dos cimentos e dos materiais pozolânicos destinados às estruturas de concreto do empreendimento da UHE Belo Monte. [1] São também abordados neste trabalho a demanda da obra por material cimentício, formas de transporte, descarga distribuição e monitoramento de características e propriedades em confronto com os requisitos físico-químicos. 2. AÇÕES PARA A ESCOLHA DO MATERIAL CIMENTÍCIO A análise dos fatores condicionantes resultou na adoção do cimento do tipo Portland Comum CP I-40, sem filler calcário inerte, visando a redução do consumo de material cimentício, de forma a assegurar a estabilidade do conteúdo de material pozolânico na composição do concreto produzido na obra. Isso garante a inibição das reações expansivas entre os álcalis do cimento e alguns minerais contidos nos agregados. O fabricante Votorantim é o responsável pelo fornecimento de todo o material cimentício, sendo a principal fonte de suprimento de cimento a sua fábrica localizada em Xambioá (TO) e complementado com cimento produzido por The Vissai Import and Export One Member Co. Ltd., de Gian Khau, Gian District, Ning Binh Province, no Vietnam. Este material foi utilizado durante 17 meses, no período de fevereiro de 2014 a junho de 2015, quando a demanda da obra por cimento ultrapassou a capacidade de produção da fábrica de Xambioá. Na fase inicial da obra, foram também utilizados cimentos tipo Portland Composto CP II-F-32 e CP II-E-32 fornecidos em sacos, principalmente em regularizações de fundações sobre rocha, concreto compactado com rolo e em pré-moldados da Tomada d’Água. A reposição parcial foi sempre de 8% a 10% de cimento por sílica ativa, que confere um aumento de resistência de aproximadamente 25%, alcançando os 40 MPa especificados para serem atingidos aos 28 dias de idade. Previamente ao início das concretagens, ensaios de reatividade álcali-agregado evidenciaram potencial reativo entre os álcalis contidos na composição dos cimentos e minerais contidos nos agregados disponíveis na obra (areia natural do rio Xingu e migmatito das escavações obrigatórias em rocha), com consequente probabilidade de ocorrência de reações expansivas nas estruturas de concreto. [2]; [3]; [4]; [5]; [6] Por esta razão, foi especificada a obrigatoriedade de reposição parcial do cimento por material pozolânico no canteiro para inibir reações expansivas. Os teores foram definidos por meio de ensaios laboratoriais. A medida também contribuiu para a redução da geração de calor durante a fase de hidratação do aglomerante, reduzindo a probabilidade de fissurações de origem térmica. [5] Os materiais pozolânicos adotados foram cinza volante (proveniente da Espanha, produzida por Endesa Generación SI.A. de Sevilla e distribuída pela fábrica Monjos do Grupo Cementos Portland Valderriva), pozolana de argila calcinada Poty proveniente da fábrica de Paulista (PE), e sílica ativa do fabricante (Elkem, proveniente de Breu Branco (PA)). 3. TRANSPORTE, ESTOCAGEM E DISTRIBUIÇÃO DO MATERIAL CIMENTÍCIO À exceção dos cimentos Portland dos tipos CP II F-32 e CP II E-32 fornecidos em sacos de 50 kg na fase inicial da obra, os materiais cimentícios fabricados no Brasil são transportados a granel por meio de carretas tipo silo e descarregados diretamente nos silos verticais das centrais de concreto dos sítios. Os materiais importados são embalados em contêineres flexíveis tipo “big bags”, transportados em navios até Belém (PA) e por balsa até FIGURA 1 – Central de Transilagem em Belo Monte FIGURA 2 – Silos verticais para estocagem de material cimentício das centrais de concreto de Belo Monte MATERIAL CIMENTÍCIO PARA O PROJETO BELO MONTE Belo Monte. São então descarregados e estocados temporariamente em silos verticais de uma Central de Transilagem localizada no sítio 61REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 1 – Requisitos físico-químicos especificados para o material pozolânico usado em Belo Monte e especificados na norma ABNT NBR 12653:2015 Belo Monte. Posteriormente, o material é distribuído para consumo por meio de carretas tipo silo, sendo descarregado em silos verticais das centrais de concreto dos sítios. 4. REQUISITOS ESTABELECIDOS PARA O MATERIAL CIMENTÍCIO Os requisitos físicos e químicos estabelecidos para cimentos e materiais pozolânicos utilizados nas estruturas de concreto de Belo Monte são mostrados nas Tabelas 1 e 2.[7]; [8] << TABELA 2 – Requisitos físico- químicos para o cimento CP I-40, conforme as especificações técnicas para as obras civis do Projeto Belo Monte, BEL C GR ET GER 100 0001- Rev. 4. 5. CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO MATERIAL CIMENTÍCIO O cimento importado do Vietnã atendeu aos requisitos físico-químicos especificados para Belo Monte, exceto pelo calor de hidratação mais alto. Após ensaios laboratoriais ficou evidenciada a equivalência quanto ao calor de hidratação entre as combinações de cinza volante em reposição de 25% do cimento proveniente de Xambioá e em substituição parcial de 35% do cimento do Vietnã.[9]; [10]; [11] Para inibir reações expansivas e reduzir a geração de calor durante a fase de hidratação do cimento, cinza volante, pozolana de argila calcinada e sílica ativa foram os tipos de materiais pozolânicos utilizados na obra como reposição parcial do cimento. Em função da necessidade de reposição de cimento por cinza volante em diferentes teores, conforme a procedência, houve imposição de não misturar o cimento nacional com o importado em um mesmo silo, tendo sido o cimento vietnamita integralmente utilizado em estruturas do sítio Belo Monte. As características físico-químicas do material cimentício utilizado nas estruturas de Belo Monte constam nas Tabelas 3 a 13, em confronto com os requisitos especificados.[8]; [9]; [12]; [13] 62 WWW.CBDB.ORG.BR TA BE LA 3 – C ar ac te rís tic as fí sic as d o ci m en to P or tla nd C om po sto C P II F -3 2 TA BE LA 4 – C ar ac te rís tic as q uí m ic as d o ci m en to P or tla nd C om po sto C P II F -3 2 63REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TA BE LA 5 – C ar ac te rís tic as fí sic as d o ci m en to P or tla nd C om po sto C P II E -3 2 TA BE LA 6 – C ar ac te rís tic as q uí m ic as d o ci m en to P or tla nd C om po sto C P II F -3 2 64 WWW.CBDB.ORG.BR TA BE LA 7 – C ar ac te rís tic as fí sic as d o ci m en to P or tla nd C om um C P I- 40 d e X am bi oá (T O ) TA BE LA 8 – C ar ac te rís tic as q uí m ic as d o ci m en to P or tla nd C om um C P I- 40 d e X am bi oá (T O ) 65REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TA BE LA 9 – C ar ac te rís tic as fí sic as d o ci m en to P or tla nd C om um C P I- 40 d o Vi et nã TA BE LA 1 0 – C ar ac te rís tic as q uí m ic as d o ci m en to P or tland C om um C P I- 40 d o Vi et nã 66 WWW.CBDB.ORG.BR TABELA 11 – Características físico-químicas da cinza volante proveniente da Espanha TABELA 12 – Características físico-químicas da pozolana de argila calcinada Poty, de Paulista (PE) TABELA 13 – Características físico-químicas da sílica ativa Elkem proveniente de Breu Branco (PA) Ambos os cimentos CP I-40 em uso na obra de Belo Monte, provenientes de Xambioá (TO) e do Vietnam atenderam aos requisitos de resistência à compressão axial, considerando uma faixa com probabilidade de abranger 90% dos resultados, com um máximo de 5% inferiores às resistências especificadas em cada idade, coerente com a especificação para os concretos estruturais (t=1,645). As Figuras 3 e 4 evidenciam a evolução dos resultados acumulados e apresentados como o limite inferior do intervalo de confiança, com probabilidade de conter 90% dos resultados em confronto com as especificações de resistência mínima em cada idade. A evolução da resistência à compressão axial dos cimentos tipo Portland CP I-40 é evidenciada de duas formas: referida ao requisito de 40 MPa na Figura 5 e à resistência alcançada aos 28 dias, na Figura 6. A evolução da resistência à compressão axial dos cimentos tipo Portland CP I-40 é evidenciada de duas formas: referida ao requisito de 40 MPa na Figura 5 e à resistência alcançada aos 28 dias, na Figura 6. 6. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL CIMENTO CP I-40 67REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 5 – Evolução da resistência à compressão axial dos cimentos CP I-40 referida ao requisito de 40 MPa aos 28 dias, considerando a tolerância de 5% dos resultados serem inferiores aos limites estabelecidos[14] FIGURA 6 – Evolução da resistência à compressão axial do cimento CP I-40 referida à resistência atingida aos 28 dias, considerando a tolerância de 5% dos resultados serem inferiores aos limites estabelecidos[14] FIGURA 4 – Evolução da resistência à compressão axial do cimento CP I-40 do Vietnã, considerando a tolerância de 5% dos resultados serem inferiores aos limites estabelecidos[14] A Tabela 14 resume os períodos de fornecimento, as modalidades de transporte e as quantidades previstas totais e fornecidas acumuladas dos materiais cimentícios sob responsabilidade da Norte Energia, atualizadas até outubro de 2016. [15] A sílica ativa foi fornecida e controlada pelo Consórcio Construtor Belo Monte. 7. FORNECIMENTO DE MATERIAL CIMENTÍCIO TABELA 14 – Resumo do fornecimento de materiais cimentícios para o empreendimento FIGURA 3 – Evolução da resistência à compressão axial do cimento CP I-40 de Xambioá, considerando a tolerância de 5% dos resultados serem inferiores aos limites estabelecidos[14] 68 WWW.CBDB.ORG.BR 8. CONCLUSÕES Os materiais cimentícios utilizados nas estruturas de concreto do empreendimento se mostraram tecnicamente adequados, tendo sido observados os requisitos técnicos estabelecidos. A escolha dos fornecedores e o sistema de transporte se mostraram adequados à demanda da obra por material cimentício. Considerando a tolerância de 5% de resultados inferiores ao requisito de resistência estabelecida pelo projeto para os concretos estruturais, a evolução do crescimento da resistência à compressão axial dos ensaios com o cimento CP I-40 atendeu aos requisitos. 9. AGRADECIMENTOS Os autores expressam seus agradecimentos ao Técnico Cadista Davi Santos Santana de Menezes pela contribuição para a edição deste trabalho. 10. PALAVRAS-CHAVE Cimento; material pozolânico; material cimentício. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Bandeira, O. M.; Rufato, L. F.; Franco, H. C. B. Complexo Hidrelétrico Belo Monte. Revista Concreto e Construções do IBRACON - Instituto Brasileiro do Concreto. São Paulo, n°. 63, p. 48-56, julho, agosto e setembro de 2011. [2] Pinto, N. L. S.; Brito, S. N. A.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P.; Andriolo, F. R. Relatório da 3ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Curitiba, 29 de abril de 2011. [3] Pinto, N. L. S.; Brito, S. N. A.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P.; Andriolo, F. R. Relatório da 4ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Brasília, 12 de agosto de 2011. [4] Pinto, N. L. S.; Brito, S. N. A.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P.; Andriolo, F. R. Relatório da 5ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Brasília, 14 de outubro de 2011. [5] Andrade, W. P.; Andriolo, F. R. Relatório da 2ª Reunião da Junta Setorial de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 27 de abril de 2012. [6] Andrade, W. P. Relatório da 3ª Reunião da Junta Setorial de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 29 de novembro de 2012. [7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12653: Materi- ais Pozolânicos. Rio de Janeiro, 2015. [8]NORTE ENERGIA S.A. BEL-C-GR-ET-GER-100-0001- Rev. 4: Especificações Técnicas para as Obras Civis do Projeto Belo Monte. Altamira, fevereiro de 2013. [9] Andrade, W. P. Relatório da 6ª Reunião da Junta Setorial de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 9 de agosto de 2013. [10] Andrade, W. P. Relatório da 8ª Reunião da Junta Setorial de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 28 de fevereiro de 2014. [11] Pinto, N. L. S.; Brito, S. N. A.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P. Relatório da 11ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 16 de junho de 2014. [12] CONSÓRCIO CONSTRUTOR BELO MONTE. Relatórios Mensais de Con- trole Tecnológico. Altamira, de abril de 2012 a agosto de 2016. [13] ELETROBRAS FURNAS – LABORATÓRIO DE ENGENHARIA CIVIL. Relatório GST.E.000.2014-R0 Preliminar. Aparecida de Goiânia, março de 2014. [14] NORTE ENERGIA S.A. Relatórios Mensais de Análise Crítica das Atividades da Área de Concreto. Altamira, novembro de 2012 a agosto de 2016. [15] NORTE ENERGIA S.A.- Gerência de Contratos. Resumo do Fornecimento de Material Cimentício. Altamira, outubro de 2016. Walton Pacelli de Andrade Diplomado em Engenharia Civil e Eletrotécnica pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Trabalhou no período de 1964 a 1966 na Companhia Hidrelétrica do Vale do Paraíba (CHEVAP). A partir de 1967 atuou em Furnas Centrais Elétricas até o ano de 2002. Consultor em Tecnologia de Concreto, esteve nas principais obras no Brasil e no exterior nos seguintes países: Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Costa Rica, República Dominicana, Panamá, México, Lesotho, África do Sul, Angola, Moçambique, Iraque e China. Reynaldo Machado Bittencourt Engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná, pós-graduado em Gerenciamento de Projetos com ênfase na área de Estruturas Concreto. Possui experiência em controle tecnológico, verificação de projetos, inspeção, acompanhamento da construção, instrumentação para auscultação de estruturas de concreto de obras de usinas hidrelétricas, cálculo e dimensionamento de estruturas de concreto, aço e madeira, e em pesquisas na área de concreto. Participa atualmente da construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, com atuação com foco principal em Controle Tecnológico do Concreto. Oscar Machado Bandeira Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) em 1969. Possui 40 anos de experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas, tendo atuado como Eng. Residente, Engenheiro Consultor, Coordenador de Obras Civis, Superintendente de Engenharia e Construção nas Hidrelétricas de Itaparica, Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã). Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S.A. como Superintendente de Engenharia e Construção da Usina de Belo Monte e como Coordenador dos Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento. MATERIAL CIMENTÍCIO PARA O PROJETO BELO MONTE 69REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS CONCRETOS DO PROJETO BELOMONTE Belo Monte Project concrete axial compressive strength efficiency is analyzed based on the average behavior of all the concrete mixes belonging to each design class, regardless of the types of cementitious materials used in its compositions and placement methods, considering that they all must meet the same requirements specified by the project. Este artigo é sobre a eficiência da resistência à compressão axial do concreto do Projeto Belo Monte. A análise é feita com base no comportamento médio do conjunto das dosagens pertencentes à cada classe definida pelo projeto, independentemente dos tipos dos materiais cimentícios utilizados em suas composições e dos métodos de lançamento. Foi considerado que todas elas devem atender aos mesmos requisitos especificados pelo projeto. RESUMO ABSTRACT Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia do Projeto Belo Monte - Norte Energia S.A. Walton PACELLI de Andrade | Consultor de Controle Tecnológico do Concreto - Projeto Belo Monte Reynaldo Machado BITTENCOURT | Engenheiro Civil do Projeto Belo Monte - Norte Energia S.A. CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS 70 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO Belo Monte é um empreendimento de usina hidrelétrica, em cuja construção estão previstos a serem utilizados, quando da sua conclusão, mais de 3 milhões de metros cúbicos de concreto. Os principais volumes de concreto estão no sítio Belo Monte, onde está localizada a geração principal, e no sítio Pimental, onde é feito o barramento do rio Xingu e o direcionamento de parte do seu fluxo para o trecho de vazão reduzida através do vertedouro e para uma geração secundária de energia. As Figuras 1 e 2 apresentam visões gerais dessas estruturas. FIGURA 1 – Tomada d’Água e Casa de Força do sítio Belo Monte, com 18 unidades geradoras FIGURA 2 – Tomada d’Água, Casa de Força com seis unidades geradoras e Vertedou- ro no sítio Pimental, com 18 vãos A avaliação do desempenho das dosagens de concreto quanto à resistência à compressão axial é fundamental na construção de usinas hidrelétricas. Devido aos grandes volumes de concreto utilizados, a economia de recursos é uma prioridade, principalmente em relação ao consumo de material cimentício. A análise apresentada foi realizada sobre uma massa de resultados de ensaios de resistência à compressão axial representativa de todo o CCR e, aproximadamente, 81% do volume total de concreto convencional do empreendimento. Os números foram apresentados pelo Controle Tecnológico do Consórcio Construtor Belo Monte para a empresa Norte Energia durante a 15ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte, realizada entre os dias 4 e 8 de abril de 2016.[1] 2. REQUISITOS ESPECIFICADOS PARA OS CONCRETOS DAS ESTRUTURAS O projeto especificou os requisitos para os concretos destinados às estruturas das obras principais do Projeto Belo Monte. Eles foram estratificados segundo classes de concreto que estabelecem resistências características mínimas à compressão axial a ser atingida em determinadas idades. Dentro de cada classeclasse são também especificados conforme sua destinação e segundo as diferentes tolerâncias de percentual de resultados inferiores às resistências mínimas especificadas. Estas são representadas pelo valor do parâmetro t de Student, conforme resumo da Tabela 1.[2]; [3]; [4]; [5] 3. AMOSTRAGEM DO CONCRETO PARA ENSAIOS O Plano da Qualidade Específico (PQE) do Controle da Construção e dos Materiais Constituintes - Estruturas de Concreto e Obras de Terra e Rocha do Projeto Belo Monte, parte integrante do contrato para construção das obras civis do empreendimento, estabelece as frequências mínimas de amostragem de concreto para ensaios dos concretos produzidos e destinados às estruturas principais.[6] Este plano especifica, para cada dosagem de concreto, a frequência máxima de amostragem destinada aos ensaios de resistência à compressão axial. É considerado uma amostra a cada 250 m³ de concreto produzido para os concretos estruturais e uma amostra a cada 500 m³ para o Concreto Compactado com Rolo (CCR). 4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DE ENSAIOS COM AS AMOSTRAS Os resultados dos ensaios de resistência à compressão axial com amostras do concreto produzido são tratados estatisticamente pelo Controle Tecnológico do Construtor e apresentados em seus relatórios. Os dados são organizados na forma de Tabelas Estatísticas Descritivas com frequência mensal, abrangendo informações do período e acumuladas. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS CONCRETOS DO PROJETO BELO MONTE 71REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 1 - Requisitos especificados para as classes de concreto em função da destinação 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS APRESENTADOS Considerando que todas as dosagens de uma mesma classe devem atender aos mesmos requisitos de resistência mecânica especificados, independentemente da composição das dosagens ou do processo de lançamento, os resultados acumulados de ensaios com amostras do concreto produzido para as estruturas de Belo Monte foram agrupados por classe de concreto para a análise da evolução da resistência à compressão axial. O mesmo foi feito com a especificação dos requisitos a serem observados. A avaliação do comportamento do concreto é então feita a partir de inferências estatísticas sobre a massa de resultados dos ensaios das amostras, que tende a seguir um comportamento normal de distribuição de frequências de ocorrência, com dispersões aproximadamente simétricas em torno da média. A Estatística Indutiva, Amostral ou Inferencial cuida da análise e da interpretação dos dados e, partindo de uma amostra, permite tirar conclusões sobre a população de origem e formular previsões. A fundamentação é a teoria das probabilidades. O processo de generalização do método indutivo está associado a uma margem de incerteza devido ao fato de que a conclusão que se pretende obter para a população é baseada em uma parcela do todo. Entretanto, a Estatística Indutiva evidencia qual a precisão dos resultados (por meio do parâmetro estatístico t de Student) e com que probabilidade se pode confiar nas conclusões obtidas. Quando as observações provêm de uma distribuição normal, as médias seguem uma distribuição normal somente se o verdadeiro desvio padrão da população for conhecido. Quando o verdadeiro desvio padrão não é conhecido, é necessário utilizar o desvio padrão da amostra em seu lugar e as médias não seguem mais uma distribuição normal. Elas passam a ser associados com segurança a uma distribuição de probabilidade estatística denominada distribuição t de Student, que tem uma forma semelhante ao método anterior (distribuição normal). Esta distribuição é composta por uma família de curvas que quanto maior for o tamanho da amostra, mais ela se aproxima da distribuição normal (Figura 3). 72 WWW.CBDB.ORG.BR ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS CONCRETOS DO PROJETO BELO MONTE O parâmetro t de Student é representado por uma família de curvas diferenciadas entre si por duas variáveis: • Graus de Liberdade, calculados como o número de resultados de ensaios disponíveis, menos um, • Um percentual tolerado de resultados com valor inferior ao requisito estabelecido, que define a precisão dos resultados (Figura 4). Quanto menor for o tamanho da amostra, maior será a incerteza embutida na consideração de que as amostras representam significativamente o todo, e maior será o valor de t de Student. Os valores de t de Student para grandes amostras especificados pelo projeto para Belo Monte e seus significados são apresentados na Tabela 2. 6. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS CONCRETOS O desempenho dos concretos, avaliado separadamente para os sítios Pimental e Belo Monte, não se refere a nenhuma dosagem de concreto específica, mas ao comportamento médio do conjunto das dosagens pertencentes a cada classe. Foi obtido pela média aritmética dos resultados informados, inclusive do número de amostras. A maior eficiênciaou melhor desempenho em termos de resistência ocorre quando o valor da resistência média dos ensaios fcm se iguala ao valor da resistência média mínima requerida fcm req. Nessa condição, como tolerado pelo projeto, um percentual dos resultados dos ensaios de resistência à compressão axial com as amostras, equivalente ao definido pelo projeto por meio do parâmetro t de Student, resulta inferior ao valor de fck e o consumo FIGURA 3 – Confronto entre a distribuição normal de frequências de ocorrências e uma distribuição da família de curvas de distribuição de probabilidade estatística t de Student FIGURA 4 – Tolerância de ocorrência (quantil) de um percentual de valores inferiores a fck TABELA 2 – Tolerâncias de projeto (quantis) quanto ao percentual de resultados de ensaios de resistência à compressão inferiores a fck, expressas por meio do parâmetro t de Student 73REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS de aglomerante será o mínimo viável que permite atender aos requisitos de projeto. A resistência mínima requerida à compressão axial é calculada em função das condições efetivas de amostragem e resultados apresentados e está evidenciada pela Equação 1. fcm req = fck / (1 – t . v/100) [8] (1) fcm req MPa Resistência mínima requerida à compressão axial fck MPa Resistência característica mínima à compressão axial t --- Coeficiente t de Student para a amostragem considerada v (%) Coeficiente de variação Para o cálculo da resistência requerida foi adotado, no período inicial das obras, o valor de 15% para o coeficiente de variação, considerado bastante conservador. Mais tarde, durante o andamento da obra, adota-se o valor do coeficiente de variação efetivo, obtido dos ensaios com as amostras, cujo valor é esperado ser menor. Nesse empreendimento ele foi considerado como máximo 11%, que representa o limite superior do controle de qualidade dito como bom pelo Guia ACI 214R-11, valor acima do qual será tido como regular ou ruim. [7] Da mesma forma, para o valor de t de Student, inicialmente é adotado o valor correspondente a grandes amostras como o especificado pelo projeto. Durante o andamento da obra é adotado o valor correspondente à amostragem efetiva. 7. RENDIMENTO OU EFICIÊNCIA Os rendimentos dos concretos, expressos como as relações entre as resistências alcançadas e os respectivos consumos de aglomerante equivalentes em cimento, são mostrados na FIGURA 5, separadamente para os sítios Belo Monte e Pimental. Em termos econômicos, quanto maior o rendimento, melhor é o resultado da dosagem. 8. RESISTÊNCIAS AVALIADAS POR CLASSES DE CONCRETO Os requisitos de projeto, as resistências requeridas e alcançadas nas idades de controle, os rendimentos, bem como os volumes de concreto lançados, constam na Tabela 3, referentes ao sítio Belo Mont,e e na FIGURA 5 – Rendimentos dos concretos de Belo Monte e de Pimental, por classe de concreto Tabela 4, ao sítio Pimental. Os gráficos com a evolução das resistências à compressão axial por classe de concreto, considerando a média dos resultados de ensaios com amostras de todas as dosagens de cada classe, são mostrados separadamente para os sítios Belo Monte, nas Figuras 06 a 20, e Pimental, nas Figuras 21 a 28. Valores das resistências médias fcm superiores aos valores das resistências mínimas requeridas fcm req evidenciam margens existentes para otimização das resistências e, consequentemente, dos consumos de aglomerante. Os casos mostrados nas Figuras 8, 10, 17 e 19, todas referentes ao sítio Belo Monte, devem ser analisados com reserva. Isto porque o pequeno número médio de resultados de amostras aumentou a incerteza da inferência estatística. 9. CONCLUSÕES A análise do desempenho quanto à resistência à compressão axial dos concretos do empreendimento de Belo Monte foi feita pela média aritmética dos valores referentes às dosagens pertencentes a cada classe de concreto, considerando que todas elas devam atender aos mesmos requisitos especificados pelo projeto para cada classe. O melhor rendimento ou a maior eficiência dos concretos de cada classe são alcançados quando a resistência média dos resultados dos ensaios com as amostras do concreto produzido se iguala à resistência média mínima requerida, com base nas condições praticadas na obra. 74 WWW.CBDB.ORG.BR TA BE LA 4 – R es um o da a ná lis e da s r es ist ên ci as à co m pr es sã o ax ia l n as d at as d e co nt ro le d e ca da cl as se p ar a o sít io P im en ta l TA BE LA 3 – R es um o da a ná lis e da s r es ist ên ci as à co m pr es sã o ax ia l, na s d at as d e co nt ro le d e ca da cl as se , p ar a o sít io B el o M on te 75REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS SÍTIO BELO MONTE FI GU RA 9 – C la ss e C, t = 1, 28 2 FI GU RA 1 0 – Cl as se C , t = 1 ,6 45 FI GU RA 8 – C la ss e B, t =1 ,2 82 FI GU RA 1 1 – Cl as se D , t = 1 ,2 82 FI GU RA 6 – C la ss e A, t = 0, 84 2 FI GU RA 7 – C la ss e B, t = 0, 84 2 FI GU RA 1 2 – Cl as se D , t = 1 ,6 45 FI GU RA 1 3 – Cl as se E , t = 1 ,6 45 76 WWW.CBDB.ORG.BR FI GU RA 1 5 – Cl as se G , t = 1 ,6 45 FI GU RA 18 – C la ss e J, t = 1 ,6 45 FI GU RA 1 6 – Cl as se H , t = 1 ,6 45 FI GU RA 1 9 – Cl as se L , t = 1 ,6 45 FI GU RA 1 4 – Cl as se F, t = 1, 64 5 FI GU RA 1 7 – Cl as se I, t = 1, 64 5 FI GU RA 2 0 – CC R, t = 0, 84 2 77REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS SÍTIO PIMENTAL FIGURA 21 – Classe A, t = 0,842 FIGURA 22 – Classe B, t = 0,842 FIGURA 23 – Classe B, t = 1,282 FIGURA 25 – Classe D, t = 1,648 FIGURA 26 – Classe E, t = 1,645 FIGURA 26 – Classe E, t = 1,645 78 WWW.CBDB.ORG.BR Walton Pacelli de Andrade Diplomado em Engenharia Civil e Eletrotécnica pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Trabalhou no período de 1964 a 1966 na Companhia Hidrelétrica do Vale do Paraíba (CHEVAP). A partir de 1967 atuou em Furnas Centrais Elétricas até o ano de 2002. Consultor em Tecnologia de Concreto, esteve nas principais obras no Brasil e no exterior nos seguintes países: Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Costa Rica, República Dominicana, Panamá, México, Lesotho, África do Sul, Angola, Moçambique, Iraque e China. Reynaldo Machado Bittencourt Engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná, pós-graduado em Gerenciamento de Projetos com ênfase na área de Estruturas Concreto. Possui experiência em controle tecnológico, verificação de projetos, inspeção, acompanhamento da construção, instrumentação para auscultação de estruturas de concreto de obras de usinas hidrelétricas, cálculo e dimensionamento de estruturas de concreto, aço e madeira, e em pesquisas na área de concreto. Participa atualmente da construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, com atuação com foco principal em Controle Tecnológico do Concreto. Oscar Machado Bandeira Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) em 1969. Possui 40 anos de experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas, tendo atuado como Eng. Residente, Engenheiro Consultor, Coordenador de Obras Civis, Superintendente de Engenharia e Construção nas Hidrelétricas de Itaparica, Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã). Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S.A. como Superintendente de Engenharia e Construção da Usina de Belo Monte e como Coordenador dos Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento. FIGURA 27 – Classe F, t = 1,645 FIGURA 28 – Classe H, t = 1,645 A avaliação da eficiência das dosagensde concreto de cada classe evidencia o atendimento satisfatório dos requisitos, com margem ainda para uma maior otimização. 10. AGRADECIMENTOS Os autores registram a importante atuação do consultor Francisco Rodrigues Andriolo na elaboração das especificações técnicas para os concretos e seus materiais componentes para o Projeto de Belo Monte. Também os autores expressam seus agradecimentos ao Técnico Cadista Davi Santos Santana de Menezes pela contribuição para a edição deste trabalho. 11. PALAVRAS-CHAVE Concreto; classe de concreto; desempenho; rendimento; consumo de aglomerante. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Pinto, N. L. S.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P. Relatório da 15ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 8 de abril de 2016. [2] Bandeira, O. M.; Rufato, L. F.; Franco, H. C. B. Complexo Hidrelétrico Belo Monte. Revista Concreto e Construções do IBRACON - Instituto Brasileiro do Concreto. São Paulo, n°. 63, p. 48-56, julho, agosto e setembro de 2011. [3] NORTE ENERGIA S.A. BEL-C-GR-ET-GER-100-0001- Rev. 4: Especificações Técnicas para as Obras Civis do Projeto Belo Monte. Altamira, p. 114-115, fevereiro de 2013. [4] NORTE ENERGIA S.A. Relatório de Alteração de Especificação Técnica GR3 GE00 CBM CTC RE-0003-0A. Altamira, p.1-4, 1 de março de 2016. [5] NORTE ENERGIA S.A. Memorando de Análise de Documentos GR GE00 EBM CTC ME 0005-00. Altamira, 19 de março de 2016. [6] NORTE ENERGIA S.A. Plano da Qualidade do Controle da Construção e dos Materiais Constituintes – Estruturas de Concreto e Obras de Terra e Rocha - Adendo do Anexo 21 do Contrato DC-S-001-2011-2 – Obras Civis Principais. Brasília, 18 de fevereiro de 2011. [7] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI Committee 214. ACI 214R-11 Guide to Evaluation of Strength Test Results of Concrete. 5.3 – Criteria for Strength Requirements. Farmington Hills, MI, 2011. 79REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS HIDRÁULICA E VERTEDORES VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE DE REVESTIMENTO EM ENROCAMENTO NO FUNDO DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE This paper presents the results of hydraulic studies to verify the stability of rockfill coating for the Main Diversion Canal of Belo Monte Hydroelectric Power Plant. The design considers the need to control the surface roughness of the coating to ensure that the head loss along the channel results in acceptable design value. Considering the lack of knowledge on the subject, the challenge was to determine a proper grain size of the coating to withstand the hydrodynamic efforts imposed by the flow in terms of fluctuations of pressures and velocities and shear stresses along the channel bottom. A reduced scale model study was developed in order to understand the involved physical phenomena and assess the project security level. Este trabalho apresenta os resultados dos estudos hidráulicos de verificação da estabilidade do revestimento em enrocamento do fundo do Canal de Derivação da UHE Belo Monte. O projeto considera a necessidade de controlar a rugosidade do revestimento e garantir que a perda de carga ao longo do canal resulte dentro de valores aceitáveis ao projeto. Considerando a lacuna de conhecimento sobre o tema, o desafio foi determinar com segurança uma granulometria adequada da camada de revestimento para resistir aos esforços hidrodinâmicos impostos pelo escoamento em termos de flutuações de pressões e velocidades e tensões tangenciais junto ao fundo do canal. O estudo em modelo reduzido foi desenvolvido para compreender os fenômenos físicos envolvidos e avaliar o grau de segurança do projeto. RESUMO ABSTRACT Fernando Ribas TERABE | Engenheiro Civil, M.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR Fernanda Hiromi Scheffer YAMAKAWA | Engenheira Civil, M.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR José Junji OTA | Engenheiro Civil, D.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR – UFPR Ingrid Illich MULLER | Engenheira Civil, D.Sc. – Companhia Paranaense de Energia – COPEL 80 WWW.CBDB.ORG.BR VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE DE REVESTIMENTO EM ENROCAMENTO NO FUNDO DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE 1. INTRODUÇÃO A utilização de blocos de enrocamento para o revestimento do fundo em canais escavados em rocha ou solo pode ser uma solução efetiva para a melhora do desempenho hidráulico, com redução significativa da perda de carga do escoamento. Com a vantagem de poder ser executado quase diretamente sobre o substrato, resultante da escavação em rocha ou em solo e sem a necessidade da trabalhosa remoção de blocos e fragmentos de rocha soltos, a utilização de blocos de enrocamento pode ser uma opção promissora, desde que se consiga definir uma granulometria adequada da camada de revestimento para resistir aos esforços hidrodinâmicos em termos de flutuações de pressões e velocidades. O presente trabalho apresenta o estudo em modelo reduzido (escala geométrica 1:10). Ele foi desenvolvido para verificar a estabilidade do revestimento em enrocamento para o fundo do canal de derivação da UHE Belo Monte, composto por blocos de rocha com diâmetro máximo de 20 cm [1]. 2. CARACTERÍSTICAS DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE O canal de derivação da UHE Belo Monte é horizontal e tem seção trapezoidal com largura no fundo de 200 m e comprimento aproximado de 17 km. Ao longo do seu comprimento, a geometria da seção transversal apresenta pequenas variações. A geologia local condiciona a geometria das margens em alguns trechos escavados em solo, com taludes mais abatidos (1V:2,5H), em outros escavados em rocha com taludes mais íngremes (1V:0,5H) e bancadas horizontais. O projeto considera o revestimento do fundo do canal em enrocamento com a finalidade de controlar a rugosidade final e garantir que a perda de carga ao longo do canal resulte dentro de valores aceitáveis ao projeto. Dessa forma, o fundo do canal é revestido ao longo de toda sua extensão, independente de ter sido escavado em solo ou em rocha. O revestimento previsto para o fundo do canal é composto por blocos de rocha com diâmetro máximo de 20 cm, produzido na obra a partir da britagem de rocha sã pelo equipamento Lokotrack LT106. Considerando a rugosidade da superfície do revestimento resultante no canal, o projeto adotou o coeficiente de perda de carga de Strickler Ks igual a 37 m1/3.s-1, que corresponde à rugosidade média k igual a 0,12 m. A vazão máxima de operação do Canal de Derivação é igual a 13.950 m³/s, que resulta em velocidades médias do escoamento da ordem de 2,5 m/s na seção transversal de menor área do canal. A profundidade média do escoamento no canal é de 21 m. 3. ESTUDOS HIDRÁULICOS EM MODELO REDUZIDO O objetivo principal deste estudo consiste em avaliar a estabilidade do revestimento em enrocamento no fundo do Canal de Derivação da UHE Belo Monte para garantir condições adequadas de escoamento com perdas de carga aceitáveis. Para a realização do estudo foi construído um modelo reduzido parcial, operado em acordo com o critério de semelhança de Froude, na escala geométrica 1:10, em função da necessidade de reproduzir adequadamente os esforços impostos pelo escoamento junto ao fundo do canal e, especialmente, os fenômenos de turbulência. Considerando a escala adotada e a capacidade de vazão disponível no laboratório, não foi possível reproduzir no modelo condições de escoamento semelhantes geometricamente ao protótipo, com profundidades da ordem de 21 m e velocidade média de 2,5 m/s. Neste estudo, se optou por simular em modelo distorcido condições de escoamento com velocidade média de 2,5 m/s e profundidade de 6 m, em um canal de seção transversal retangular com 10 m de largura (dimensões de protótipo). Observa-se que, considerando a mesma velocidade média (2,5 m/s) e o mesmo coeficiente de Strickler (37 m1/3.s-1), o escoamento com profundidade de 6 m gera tensões tangenciais junto ao fundo 52 % maiores que o escoamento com a profundidade de 21 m (ver item 7). Portanto, a condição de escoamentoproposta para realização dos ensaios é conservadora sob o ponto de vista de avaliação da estabilidade do revestimento de enrocamento no fundo do canal. 4. CONFIGURAÇÃO DO MODELO REDUZIDO No modelo reduzido (escala geométrica 1:10), o canal representado é retilíneo, tem seção retangular (0,6 m de profundidade por 1,0 m de largura) e comprimento aproximado de 30 m. A pista experimental com aproximadamente 5 m de extensão (dimensão de modelo) foi implantada no trecho central do canal. A Figura 1 apresenta uma vista de montante do canal. FIGURA 1 - Vista de montante do canal experimental 81REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS A montante e a jusante da pista experimental, foi implantada uma rugosidade composta de pedrisco uniforme com diâmetro médio de 0,012 m, visando gerar no modelo uma resistência ao escoamento compatível com o coeficiente de Strickler igual a 37 m1/3.s-1, conforme especificado no projeto do protótipo. As paredes laterais do canal no modelo foram executadas para obter a superfície mais lisa possível para minimizar os efeitos de parede (a parede lateral esquerda foi revestida com vidros e a parede lateral direita foi revestida com argamassa de cimento “queimado” e lixado). As condições de escoamento impostas no modelo reduzido foram verificadas e, em todos os casos, o regime de escoamento resultou turbulento plenamente rugoso, garantindo a semelhança pelo critério de Froude. 5. REPRESENTAÇÃO NO MODELO REDUZIDO DO REVESTIMENTO DO FUNDO DO CANAL EM ENROCAMENTO Antes do início do estudo no modelo do revestimento do fundo do canal em enrocamento, engenheiros do laboratório visitaram a obra para observar o processo de produção e as características finais do revestimento do fundo do Canal de Derivação. O enrocamento, definido pela curva granulométrica apresentada na Figura 2, é produzido na obra a partir da britagem de blocos de rocha sã pelo equipamento Lokotrack LT106. Após o processo de britagem, o material é depositado formando uma mistura bastante homogênea de tamanhos. FIGURA 2 – Curva granulométrica – protótipo O material utilizado para simulação do enrocamento no modelo teve sua granulometria definida com base na escala geométrica 1:10 e foi verificado através de um critério de semelhança de tensões tangenciais críticas que provocam seu arraste. A partir dos diâmetros do enrocamento no protótipo, foram determinadas as velocidades de corte críticas (condição incipiente baseada no Critério de Shields). A estes valores, foi aplicada a escala de velocidades (semelhança de Froude) para obter a velocidade de corte crítica para o material do modelo. Para estes valores, foram calculados os diâmetros dos blocos para o modelo. A Figura 3 mostra a comparação entre a granulometria do material utilizado no modelo (baseado na semelhança geométrica) e a granulometria obtida baseada no critério de semelhança de condição incipiente. FIGURA 3 – Granulometria do material utilizado nos ensaios em modelo reduzido Na obra, após a britagem, o enrocamento é carregado em caminhões e levado diretamente para implantação no fundo do canal, onde é basculado sobre um trecho de revestimento já executado para ser espalhado com trator de lâmina, formando uma camada de 60 cm, que posteriormente é compactada com rolo. Com esse processo de execução, a superfície do leito formado apresenta um aspecto bastante homogêneo, composta pela mistura de blocos de todos os diâmetros da curva granulométrica. No laboratório, foram testadas diversas formas de mistura e espalhamento do material com o objetivo de obter uma pista experimental satisfatoriamente semelhante à observada no protótipo, conforme apresentado na Figura 4. b. Modelo FIGURA 4 – Comparação entre protótipo e modelo a. Protótipo 82 WWW.CBDB.ORG.BR Diâmetros Material Arrastado para Jusante da Pista Experimental Mínimo (mm) Máximo (mm) 1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia Total (g) (%) (g) (%) (g) (%) (g) (%) (g) (%) (g) (%) 12,7 19,1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00 0 9,52 12,7 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00 0 6,35 9,52 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00 0 4,76 6,35 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,00 0 2,83 4,76 0,51 71 0,45 63 0,04 67 0,05 100 0,06 55 1,11 67 1,19 2,83 0,21 29 0,27 38 0,02 33 0 0 0,05 45 0,55 33 Total 0,72 100 0,72 100 0,06 100 0,05 100 0,11 100 1,66 100,00 Diâmetros Material Arrastado para Jusante da Pista Experimental Mínimo (mm) Máximo (mm) 1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia (g) (%) (g) (%) (g) (%) (g) (%) (g) (%) 12,7 19,1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9,52 12,7 1,14 25 0 0 0 0 0 0 0 0 6,35 9,52 1,08 24 0 0 0 0 0 0 0 0 4,76 6,35 0,29 6 0,20 38 0,16 13 0 0 0 0 2,83 4,76 1,51 33 0,30 57 0,80 67 0 0 0,20 95 1,19 2,83 0,52 11 0,03 6 0,24 20 0,06 100 0,01 5 Total 4,54 100 0,53 100 1,20 100 0,06 100 0,21 100 Diâmetros Material Arrastado para Jusante da Pista Experimental Mínimo (mm) Máximo (mm) 6º dia 7º dia 8º dia 9º dia 10º dia Total (g) (%) (g) (%) (g) (%) (g) (%) (g) (%) (g) (%) 12,7 19,1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9,52 12,7 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1,14 16 6,35 9,52 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1,08 15 4,76 6,35 0 0 0 0 0,21 91 0 0 0 0 0,86 12 2,83 4,76 0,15 88 0,15 83 0 0 0,04 100 0 0 3,15 44 1,19 2,83 0,02 12 0,03 17 0,02 9 0 0 0 0 0,93 13 Total 0,17 100 0,18 100 0,23 100 0,04 100 0 0 7,16 100 6. ESTUDOS REALIZADOS Os ensaios foram realizados considerando a velocidade média do escoamento equivalente a 2,5 m/s. Primeiramente, foi realizado um ensaio com tempo de exposição de 80 horas (10 dias de oito horas de simulação) e, em seguida um ensaio com tempo de exposição de 40 horas (cinco dias de oito horas de simulação), para confirmação dos resultados. A Tabela 1 apresenta as quantidades de material arrastado para jusante da pista experimental ao final de cada dia de ensaio no modelo para o ensaio de 80 horas de exposição. É perceptível que uma quantidade pequena de blocos foi removida da pista experimental (7,16 g ao longo de 80 horas de ensaio). No primeiro dia de ensaio, a quantidade arrastada foi significativamente maior que nos outros dias (4,54 g). Foi visto também que 69% dos blocos arrastados tinham diâmetros variando entre 1,19 mm e 6,35 mm (equivalentes a 1,19 cm e 6,35 cm no protótipo) e que foram arrastados somente três blocos de diâmetro maior que 6,35 mm, sendo dois com diâmetro entre 6,35 mm e 9,52 mm, e um com diâmetro entre 9,52 mm e 12,7 mm. Após o último dia do ensaio nenhum bloco foi encontrado fora da pista experimental. A Tabela 2 apresenta as quantidades de materiais removidos da pista experimentalao final de cada dia de ensaio no modelo para o ensaio de 40 horas de exposição. Observa-se que uma quantidade TABELA 1 – Material arrastado para jusante da pista experimental – dimensões de modelo – 80 horas de exposição TABELA 2 – Material arrastado para jusante da pista experimental – dimensões de modelo - 40 horas de exposição muito pequena de blocos foi arrastada para jusante da pista experimental (1,66 g ao longo de 40 horas de ensaio). Para verificação da estabilidade do enrocamento foram realizados levantamentos topográficos da superfície do enro- camento antes e após a realização dos ensaios. Os levantamentos foram executados com o equipamento Scanner Optico 3D – ATOS (Software GOM – Inspect Professional), cuja precisão é da ordem de 0,03 mm. O levantamento feito por esse equipamento resulta em uma superfície bastante precisa, permitindo a comparação da topografia do leito antes e após a execução do ensaio. A partir desses levantamentos foi observado que o transporte de blocos para fora da pista experimental foi pequeno, como indicado nas Tabelas 1 e 2. Além disso, foi verificado que ao final dos ensaios havia alguns blocos de enrocamento salientes espalhados ao longo de toda superfície da pista experimental, conforme a Figura 5. Esses blocos aparentemente foram deslocados por esforços pontuais gerados pelo escoamento de forma aleatória junto ao leito. Em geral, após o movimento inicial, estes blocos permaneceram parados durante vários dias de ensaio e raramente foi possível verificar uma nova movimentação dos mesmos. Na Figura 6, que apresenta a comparação entre os levantamentos topográficos da superfície do leito antes e depois da execução do VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE DE REVESTIMENTO EM ENROCAMENTO NO FUNDO DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE 83REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 5 – Fotografia após o ensaio – blocos salientes no leito FIGURA 7 – Perfil de velocidades medido ao longo do ensaio FIGURA 6 – Comparação entre as superfícies antes e após o ensaio ensaio, se verifica o movimento de alguns blocos sobre o leito. As áreas em verde indicam que não houve modificação no leito. Pontos vermelhos indicam locais onde ocorreu elevação do leito (deposição de blocos movimentados) e pontos azuis são locais onde surgiu uma depressão (remoção de bloco). 7. ANÁLISE DO ESFORÇO TANGENCIAL JUNTO AO LEITO IMPOSTO PELO ESCOAMENTO Os perfis verticais de velocidades medidos durante a execução dos ensaios permitiram a avaliação no modelo do esforço tangencial exercido pelo escoamento junto ao fundo e, também, de sua capacidade de transporte relativa aos diâmetros de materiais disponíveis na superfície do leito. A Figura 7 mostra um perfil de velocidades medido durante o ensaio, com grandezas transpostas ao protótipo. A partir da equação do perfil logarítmico de velocidades [2] foi calculada a velocidade de corte do escoamento para cada ponto experimental medido do perfil de velocidades pela equação (1). Onde: − v*: velocidade de corte do escoamento (m/s); − κ : Constante de Von Karman (igual a 0,4); − v: velocidade do escoamento à distância vertical y do fundo do canal; − y’: distância vertical medida a partir do fundo do canal até a posição onde a velocidade do escoamento é igual a zero. O valor de y’ foi obtido através da extrapolação do perfil de velocidades (medido experimentalmente) plotado em um gráfico mono-logarítmico. Onde: − τ: tensão tangencial junto ao fundo (N/m²); − v*: velocidade de corte do escoamento (m/s); − ρ: massa específica da água (1000 kg/m³). (1) (2) Adotando o valor médio da velocidade de corte em cada perfil foi possível o cálculo do perfil logarítmico de velocidades e seu confronto com os pontos experimentais, conforme apresentado na Figura 7. A tensão tangencial junto ao leito imposta pelo escoamento [3] pode ser calculada a partir da velocidade de corte do escoamento pela equação (2): A Tabela 3 apresenta os valores da velocidade de corte obtidos para cada perfil de velocidades e a respectiva tensão tangencial gerada junto ao leito. 84 WWW.CBDB.ORG.BR TABELA 3 – Velocidades de corte do escoamento e tensão tangencial junto ao leito Perfil Velocidade de corte do escoamento (m/s) Tensão tangencial junto ao fundo (N/m²) Protótipo Modelo Protótipo Modelo Ensaio com 80 horas de exposição 0,207 0,065 43,02 4,30 Ensaio com 40 horas de exposição 0,192 0,061 37,29 3,73 Considerando a equação de Manning-Strickler [3], a equação de Du Buat [3], o coeficiente de Strickler igual a 37 m1/3.s-1 (valor de protótipo definido como critério de projeto para cálculo da perda de carga no canal de derivação da UHE Belo Monte) e a velocidade média do escoamento igual a 2,5 m/s, é possível calcular a tensão tangencial junto ao leito estimada para o protótipo, considerando o escoamento bidimensional, pelas equações (3) e (4): τ=γ.Rh.S u=Ks.Rh2/3.S1/2 (Manning-Strickler) (Du Buat) (3) (4) Onde: − u: velocidade média do escoamento (2,5 m/s); − Ks: coeficiente de Strickler (37 m1/3.s-1); − Rh: raio hidráulico (m); − S: declividade da linha de energia; − τ: tensão tangencial junto ao leito (N/m²); − γ : peso específico da água (9810 N/m³). Onde: − τ : tensão tangencial junto ao fundo do canal; − ρs : massa específica das partículas (2780 kg/m³); − ρ : massa específica da água (1000 kg/m³); − g: aceleração da gravidade (9,81 m/s²); − D: diâmetro da partícula (m); − v*: velocidade de corte do escoamento (m/s); − ν : viscosidade cinemática da água (10-6 m²/s). A Tabela 4 apresenta o cálculo da tensão tangencial junto ao leito estimada para o protótipo considerando escoamentos com profundidades iguais a 6 m (considerada nos estudos em modelo reduzido) e 21 m (profundidade real do escoamento no protótipo). TABELA 4 – Cálculo da tensão tangencial estimada no protótipo Rh (m) S τ (N/m²) 6 0,00042 24,65 21 0,00008 16,23 Nos cálculos apresentados na Tabela 4 se observa que para a mesma velocidade média do escoamento e o mesmo coeficiente de Strickler, o escoamento com a profundidade menor (6 m) gera uma tensão tangencial junto ao leito 52% maior que o escoamento com a profundidade real do protótipo. Portanto, a condição de escoamento ensaiada no modelo pode ser considerada conservadora sob o ponto de vista de avaliação da estabilidade do revestimento de enrocamento no fundo do canal. A tensão calculada a partir dos resultados do modelo (apresentados na Tabela 3) leva em conta a resistência ao escoamento exercida pelas paredes do modelo. Por esse motivo, ela resulta maior que o valor estimado para o caso bidimensional de mesma profundidade no protótipo (24,65 N/m²). 8. ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO ENROCAMENTO NO FUNDO DO CANAL A estabilidade dos materiais do leito pode ser avaliada em função do critério de condição crítica de arraste proposto por Shields [4] para materiais uniformes. A tensão tangencial adimensional “θ” e o número de Reynolds de corte da partícula de diâmetro D são definidos pelas expressões (5) e (6), respectivamente: (5) (6) Os valores da tensão tangencial adimensional e o número de Reynolds de corte, calculados para os diâmetros componentes do enrocamento e plotados no Diagrama de Shields, revelam que o escoamento no modelo do canal é capaz de transportar partículas com diâmetros inferiores a 5 mm (equivalente a 0,05 m no protótipo) expostas na superfície do leito, em acordo com o observado durante o ensaio, conforme indicado nas Tabelas 1 e 2. Ali é verificado que os diâmetros arrastados da pista experimental são inferiores a 5 mm, VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE DE REVESTIMENTO EM ENROCAMENTO NO FUNDO DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE 85REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS predominantemente.Os diâmetros arrastados da pista experimental são inferiores a 5 mm. No entanto, a quantidade de material removido da pista experimental é muito pequena. Esse resultado se deve ao fato de que o processo de implantação do enrocamento resulta em uma superfície sem segregação de materiais e composta por diâmetros de toda faixa granulométrica, como pode ser visto na Figura 4, conferindo maior estabilidade ao revestimento. 9. CONCLUSÕES A implantação das pistas experimentais no modelo foi baseada em observações das pistas implantadas no protótipo. A superfície do leito formado no protótipo apresenta um aspecto bastante homogêneo, composto pela mistura de blocos de todos os diâmetros da curva granulométrica (Figura 4). Nos dois ensaios realizados a quantidade de blocos removidos das pistas experimentais no modelo foi pequena (ensaio de 80 horas: 7,16 g; ensaio de 40 horas: 1,66 g), confirmando a estabilidade do enrocamento no fundo do canal, considerando que a pista experimental implantada no modelo tem aproximadamente 472 kg de material. Foi constatado que a grande maioria dos blocos removidos das pistas experimentais apresentavam diâmetros inferiores a 0,05 m (dimensão de protótipo), estando em acordo com a capacidade de transporte do escoamento estimada a partir dos perfis verticais de velocidades do escoamento. Embora tenha ocorrido pouco transporte de blocos para jusante da pista experimental, se observou que ao final dos dois ensaios que havia blocos com diâmetros variando entre 0,07 m a 0,20 m (dimensão de protótipo) deslocados sobre a superfície do fundo do canal. Durante os ensaios se verificou que estes blocos, após inicialmente deslocados, permaneceram parados durante vários dias de ensaio e raramente foi possível verificar uma nova movimentação dos mesmos. O estudo foi realizado em um modelo reduzido distorcido (escoamento com velocidade reduzida, conforme critério de Froude, porém, sem a reprodução da profundidade). Entretanto, foi tomado o cuidado de garantir que a tensão tangencial no leito fosse 52% maior, verificando a estabilidade do enrocamento com segurança. 10. PALAVRAS-CHAVE Canal de derivação, estabilidade de enrocamento, UHE Belo Monte 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] TERABE, F. R., YAMAKAWA, F. S., OVELAR, C. S. Projeto HL-178 – Estudos Hidráulicos em Modelo Reduzido Parcial do Canal de Derivação da Usina Hidrelétrica Belo Monte. Relatório Nº02 – Estudo do Revestimento do Fundo em Enrocamento. LACTEC CEHPAR: Curitiba, Brasil, 2013. [2] DAILY, Y. W.; HARLEMAN, D. R. F. Fluid Dynamics. U.S.A.: Addison-Wesley Pub. Co., 1966. [3] HENDERSON, F. M. Open Channel Flow. New Jersey, U.S.A.: Prentice-Hall Inc., 1966. [4] GRAF W. H. Hydraulics of Sediment Transport, Chelsea, Michigan, U.S.A.: Book Crafters, Inc., 1984. Fernando Ribas Terabe Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do Paraná (1992) e mestre em Recursos Hídricos e Ambiental pela UFPR (2003). Atua há 20 anos no Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza CEHPAR (LACTEC/ UFPR/COPEL) na execução e coordenação de estudos hidráulicos em modelo físico reduzido de usinas hidrelétricas. Desenvolveu estudos em modelos reduzidos para 16 UHEs, sendo as obras mais relevantes: Belo Monte, Machadinho, Dona Francisca, Barra Grande, Campos Novos, Itapebi, Colider, Sinop, Baixo Iguaçu (Brasil), Palomino (República Dominicana), Paute Mazar (Equador), Ituango (Colômbia). Fernanda Hiromi Scheffer Yamakawa Engenheira Civil formada pela Universidade Federal do Paraná (2009) e mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental pela UFPR (2015). Atua como pesquisadora no Laboratório de Hidráulica do CEHPAR (Institutos Lactec), com experiência na área de modelos físicos reduzidos. Participou dos estudos dos aproveitamentos hidrelétricos de Belo Monte, Baixo Iguaçu e Colider e integra equipes de projetos de pesquisa e desenvolvimento nesse campo. José Junji Ota Possui graduação em Engenharia Eletrônica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1981), graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (1975), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de Kanazawa (1983) e doutorado em Engenharia - Newcastle Upon Tyne (1999). Professor adjunto da UFPR e consultor no Laboratório de Hidráulica do CEHPAR (Institutos Lactec), onde atua há 40 anos desenvolvendo e coordenando estudos sobre obras hidráulicas, transporte de sedimentos, modelos físicos reduzidos e modelos matemáticos. Ingrid Illich Muller Engenheira Civil com mestrado e doutorado em Recursos Hídricos (UFPR). Atuou durante 30 anos no CEHPAR (LACTEC/UFPR/COPEL) nas áreas de Recursos Hídricos, Hidráulica e Meio Ambiente, onde desenvolveu e coordenou estudos para usinas hidrelétricas. Atua na área de Hidrologia de Operação da COPEL. Tem produção técnica e científica relevante, com artigos publicados em revistas nacionais e internacionais. Ex-presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, membro dos Conselhos Nacional e Estadual de Recursos Hídricos e presidente do Comitê do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira/PR. 86 WWW.CBDB.ORG.BR HIDRÁULICA E VERTEDORES REVISÃO DE CONCEITOS PARA PROJETOS DE VERTEDOUROS DE BAIXA QUEDA COM ELEVADO GRAU DE SUBMERGÊNCIA – APLICAÇÃO AO VERTEDOURO DE BELO MONTE The spillway of Belo Monte Hydroelectric Power Plant is subjected to a high degree of downstream submergence that makes it complex compared to free spillways. This work focus on an important concept regarding the spillway crest shape: the conventional nappe-shaped profile based on the lower surface of the nappe from fully aerated sharp-crested weir is not suitable for spillways with high degree of submergence. An unconventional profile can lead to the improvement of the flow and to the increase of the discharge capacity of the spillway. Another issue addressed in this article is the downstream submergence effect on the partially opened gate operation of the spillway. O vertedouro da UHE Belo Monte está sujeito a um elevado grau de afogamento por jusante que faz com que o seu funcionamento seja mais complexo em relação aos vertedouros livres a jusante. Este trabalho mostra um conceito importante a respeito do formato da ogiva do vertedouro: o perfil convencional baseado no jato inferior efluente de vertedouro de lâmina delgada não é apropriado para vertedouros com elevado grau de afogamento. Um perfil não convencional pode conduzir à melhora do escoamento e aumentar a capacidade de descarga do vertedouro. Outra questão abordada neste artigo é o efeito do afogamento sobre a operação do vertedouro com comportas parcialmente abertas. RESUMO ABSTRACT Paulo Henrique Cabral DETTMER | Engenheiro Civil, M.Sc – Institutos Lactec – CEHPAR José Junji OTA | Engenheiro Civil, D.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR – UFPR Fernando Ribas TERABE | Engenheiro Civil, M.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR Ingrid Illich MULLER | Engenheira Civil, D.Sc. – Companhia Paranaense de Energia – COPEL 87REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 1. INTRODUÇÃO O funcionamento dos vertedouros afogados por jusante é mais complexo que os vertedouros comuns (jato livre). O afogamento por jusante pode ter grande influência em sua capacidade de descarga, sendo apropriado o uso de modelo reduzido para confirmar a capacidade do vertedouro. Nesse caso, a utilização de um perfil de soleira vertente convencional pode não ser o mais apropriado para um vertedouro nessas condições. Este trabalho apresenta um novo conceito para a definição do perfil da soleira vertente de vertedouros afogados por jusante, cuja aplicação ao Vertedouro de Belo Monte resultou em ganho na capacidade de descarga. A capacidade de descarga para operação com comportas parcialmente abertas de Belo Monte também é mais complexa, pois o afogamento por jusante faz com que se possa ter diferentes capacidades de descarga para uma mesma abertura de comporta,sendo necessário considerar o afogamento para se definir a vazão liberada para uma determinada situação de operação. Este trabalho apresenta a metodologia de como foi obtida a curva de descarga para operação com abertura parcial das comportas, levando em conta a influência do nível de jusante no escoamento (afogamento). 2. VERTEDOUROS – SOLEIRA VERTENTE E CAPACIDADE DE DESCARGA FIGURA 1 – Forma da soleira do Vertedouro A forma clássica de soleira de vertedouros é baseada no perfil de jato livre de vertedouros retangulares de parede delgada sem contração lateral (Figura 1). (1) (2) Estudos detalhados do U.S. Bureau of Reclamation [1] resultaram na equação 1, na qual o expoente n e o coeficiente k são funções da velocidade de aproximação do Vertedouro e da inclinação do paramento de montante do Vertedouro. A vazão Q (m³/s) liberada pela abertura total de um vertedouro é dada pela equação 2: FIGURA 2 – Coeficiente de descarga de vertedouros livres O coeficiente de descarga varia com a altura relativa da soleira P/ HD, com a relação entre a carga de operação e a carga de erojeto (H/HD), e com a inclinação do paramento de montante (Figura 2). Para um vertedouro que segue o perfil do jato livre, as pressões ao longo da crista são levemente positivas. Para vazões superiores à carga de projeto para qual se definiu a crista, as pressões são negativas, que leva ao aumento da capacidade de descarga. Na definição do projeto é comum adotar uma carga de projeto HD inferior à carga máxima prevista. É comum encontrar projetos de vertedouros cuja soleira é projetada com uma carga projeto HD da ordem de 75% da carga máxima de operação, para obter ganho da capacidade de descarga [2]. No entanto, para estruturas com o nível do escoamento de jusante acima da crista do Vertedouro esse efeito pode não ocorrer, pois o aspecto do escoamento após a soleira não se assemelha ao jato livre de vertedouros retangulares de borda delgada. Estudos realizados por RAJARATNAN e MURALIDHAR [3] mostraram que o perfil de velocidades do escoamento afogado em vertedouros retangulares de parede delgada resultam em um escoamento dividido, com perfil de velocidades bem definido, onde na parte superior está um Onde C (m1/2/s) é o coeficiente de descarga, L (m) é a largura do vertedouro e H (m) é a carga de operação medida a partir da crista. 88 WWW.CBDB.ORG.BR REVISÃO DE CONCEITOS PARA PROJETOS DE VERTEDOUROS DE BAIXA QUEDA COM ELEVADO GRAU DE SUBMERGÊNCIA – APLICAÇÃO AO VERTEDOURO DE BELO MONTE escoamento principal com fluxo desenvolvido e na parte inferior uma região de separação com formação de vórtices, como pode ser visto na Figura 3. A comparação entre os perfis dos escoamentos afogado e livre sugere que o perfil para um vertedouro afogado pode ser mais suave, não fazendo sentido utilizar o perfil padrão. FIGURA 3 – Perfil do escoamento afogado [3] FIGURA 4 – Redução da capacidade de descarga pela submergência e nível do canal a jusante FIGURA 5 – Redução da capacidade de descarga calculada pela Figura 4 versus redução da capacidade determinada experimentalmente Os efeitos do nível do canal a jusante na capacidade de descarga do vertedouro podem ser estimados pelo grau de submergência, conforme apresentado na Figura 4 (segundo BRADLEY [4], e posteriormente publicada no livro Design of Small Dams) [1]. Um estudo com mais de 400 testes realizados pelo laboratório do CEHPAR [5] mostrou que a redução da capacidade de descarga dada pela Figura 4 apresenta bons resultados em termos médios, porém com considerável dispersão entre a capacidade de descarga calculada com base na Figura 4 e a obtida experimentalmente. A Figura 5 mostra a dispersão dos pontos experimentais que justifica a necessidade de um estudo mais refinado sobre o assunto. 3. ESTUDO DE CASO – APLICAÇÃO AO VERTEDOURO DA UHE BELO MONTE Os primeiros estudos so- bre a capacidade de descarga do Vertedouro de Belo Mon- te foram conduzidos em um modelo seccional do verte- douro na escala geométrica 1:70, construído no labo- ratório do CEHPAR, em Curitiba [6]. Na ocasião do estudo, o projeto do vertedouro requeria 20 vãos com 20 m de largura, crista na El. 76,00 m e nível máximo do reservatório na EL. 97,50 m para a cheia de projeto (62.000 m³/s – H = 21,50 m). Devido à complexidade em se definir a capacidade de descarga, foram propostas seis alternativas de soleira para otimização da configuração da soleira no modelo reduzido, sendo todas do tipo padrão com pequenas diferenças de tamanho do paramento de montante e na posição do canal a jusante. Para uma rápida convergência dos estudos, o laboratório estudou os Perfis 1, 3 e 6 89REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 6 – Perfis de soleiras do Projeto Básico do Vertedouro da UHE Belo Monte para a vazão de projeto. Os testes em modelo reduzido revelaram que a capacidade de descarga dos Perfis 1, 3 e 6 eram praticamente iguais para a cheia de projeto, N.A.R. da ordem de 97,40 m (ver Tabela 1). Portanto, as modificações na altura do paramento de montante e o nível do canal a jusante não influenciavam a capacidade de descarga do Vertedouro. Durante os ensaios foi verificado que o escoamento sob a ogiva com perfil padrão (tipo Creager) não era eficiente, formando, logo após a crista, uma zona de separação com formação de vórtices (ver Figura7). Esse padrão de escoamento similar ao que ocorre em uma expansão brusca possui aspecto semelhante ao escoamento sobre um vertedouro de borda delgada afogado por jusante visto por RAJARATNAM e MURALIDHAR [3]. Baseado no escoamento observado para os Perfis 1, 3 e 6, o CEHPAR propôs o estudo de dois perfis não convencionais de formato mais suave e hidrodinâmico (conforme indicado pelas linhas tracejadas da Figura 6). Um composto por uma contracurva com raio de 130 m (Perfil 3B) e outro com um trecho reto (Perfil 3C), ambos ligando a crista ao canal de restituição a jusante [6]. Os testes realizados mostraram que os Perfis 3B e 3C eliminam a expansão brusca que ocorre logo após a soleira, reduzindo as perdas no escoamento e aumentando a capacidade de descarga (Figura 8). Os perfis estudados reduziram o N.A.R. em aproximadamente 0,35 m para a cheia de 62.000 m³/s. Ou seja, os Perfis 3B e 3C se mostraram mais eficientes que os perfis convencionais do tipo padrão. A Tabela 1 compara os resultados obtidos com os perfis convencionais e os propostos pelo laboratório para a cheia de projeto. FIGURA 7 - Zona de separação com formação de vórtices a jusante da crista - Perfil1 Figura 8 - Redução significativa da zona de separação - Perfil 3B (no alto) e 3C (abaixo) Os resultados mostram que as alterações no paramento de montante e no nível do canal a jusante não modificaram a capacidade de descarga de forma significativa. No entanto, a mudança do perfil da soleira vertente resultou em ganho significativo na capacidade de descarga – entre 30 a 40 cm no nível de água no reservatório. Os resultados obtidos no modelo levaram o Consórcio Projetista a adotar o Perfil 3B para o Projeto Básico consolidado do Vertedouro da UHE Belo Monte. Apesar do Perfil 3C apresentar a melhor capacidade de descarga, foi adotado o Perfil 3B como solução para a obra devido ao menor consumo de concreto. 90 WWW.CBDB.ORG.BR TABELA 1 - Comparação dos níveis de água no reservatório para os perfis estudados Alt. Perfil da Soleira Carga de Projeto (HD) Carga (H) N.A.R. N.A.J. Grau de submergência (hd/H) Posição do piso a jusante (hd+D)/H Coeficiente de Descarga (C) (m) (m) El. (m) El. (m) -‐ -‐ (m1/2/s) 1 Y = -‐0,0476 x1,85 15,90 21,41 97,41 95,45 0,09 5,02 1,565 3A Y = -‐0,0476 x1,85 15,90 21,43 97,43 95,45 0,09 4,87 1,562 6 Y = -‐0,0476x1,85 15,90 21,41 97,41 95,45 0,09 5,02 1,565 3B CURVA R= 130 m -‐ 21,10 97,10 95,44 0,08 4,95 1,599 3C RETO -‐ 21,03 97,03 95,42 0,08 4,97 1,607 4. OPERAÇÃO COM COMPORTAS PARCIALMENTE ABERTAS O elevado grau de submergência do Vertedouro de Belo Monte faz com que o orifício formado entre a soleira e a borda inferior da comporta opere afogado para a maioria das configurações operacionais. Isso faz com que para uma dada abertura das comportas seja viável obter vazões diferentes, pois a capacidade de descarga depende dos níveis de água a montante e a jusante do Vertedouro, e do grau de submergência da crista (que depende da vazão total efluente do Vertedouro). Assim, foi adotada a metodologia sugerida no Hydraulic Design Criteria-chart-320-8 [7], que sugere a equação 3 para calcular a vazão (3) (4) (5) (6) (7) para comportas parcialmente abertas de vertedouros de baixa queda. Onde Q é a vazão em m³/s, Cs é o coeficiente de descarga afogado (função da relação entre a abertura da comporta e submergência da crista), L é a soma da largura dos vãos abertos (m), hs é a diferença de elevação entre a crista e o nível de jusante, g é a aceleração da gravidade (9,81 m/s²) e h é a carga hidráulica (m) (desnível entre o FIGURA 9 – Escoamento com controle de comportas afogado por jusante líquida das comportas (m). A equação 3 é obtida pela modificação da equação padrão do orifício conforme descrito a seguir: Para obter a relação de Cs x hs/G0, foram realizados ensaios em modelo reduzido. Nestes ensaios foi determinada a curva-chave 300m a jusante da crista vertedouro (local onde o escoamento possui pouca energia residual). Essa curva-chave a jusante é importante porque dela se obtém a relação de Q x hs. Adicionalmente foi obtido FIGURA 10 – Curva Cs x hs/G0 do Vertedouro da UHE Belo Monte o valor do coeficiente Cs para diversas condições de operação. Com os resultados desses ensaios foi obtida a relação de Cs em função de hs/G0 (Equação 7), conforme curva ajustada na Figura10. Com as equações 3 e 7 é possível determinar a vazão a ser descarregada por uma determinada condição de abertura. O procedimento de cálculo é feito através de interações. Para uma determinada abertura G0 varia-se a vazão até igualar o valor de Cs calculado pelas equações 3 e 7. A vazão que satisfaz esta condição corresponde à vazão liberada pela condição de aberturas (G0) imposta no Vertedouro. Este método foi testado no modelo reduzido e foi eficiente na determinação da abertura das comportas para diversas condições de operação [8]. nível de água no reservatório e o nível do escoamento a jusante do vertedouro), conforme ilustra a Figura 9. A equação 3 apresenta uma boa correlação dos dados experimentais quando Cs é plotado como função de (hs/G0), onde G0 é a abertura Onde C é o coeficiente de descarga do orifício e . REVISÃO DE CONCEITOS PARA PROJETOS DE VERTEDOUROS DE BAIXA QUEDA COM ELEVADO GRAU DE SUBMERGÊNCIA – APLICAÇÃO AO VERTEDOURO DE BELO MONTE 91REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Vertedouros de baixa queda com elevado grau de submergência - (hd/H)<0,2, como o da UHE Belo Monte, têm o seu perfil da soleira vertente projetado com base no perfil inferior de um jato descarregando livremente na atmosfera. Os ensaios em modelo reduzido evidenciaram que esse tipo de perfil não é eficiente para vertedouros quando o afogamento é muito elevado, devido à formação de uma zona de separação com vórtices que levam à dissipação de energia e consequente redução da capacidade de descarga do vertedouro. Os perfis não convencionais testados no laboratório (Perfis 3B e 3C) praticamente eliminaram a zona de separação a jusante da crista, aumentando a capacidade de descarga no caso do Vertedouro de Belo Monte. O Perfil 3B foi adotado para o Projeto Executivo por ser mais econômico em termos de volume de concreto. É recomendável que seja feita uma análise especial para vertedouros com elevado grau de submergência ((hd/H)<0,2). Os resultados obtidos para o Vertedouro da UHE Belo Monte evidenciam que um perfil não convencional pode ser mais eficiente para se descarregar a cheia de projeto. Aplicando os resultados obtidos em modelo reduzido à metodologia sugerida no chart 320 8 do Hydraulic Design Criteria foi possível obter uma curva de descarga para operação com abertura parcial das comportas para o Vertedouro de Belo Monte. Essa curva pode ser utilizada para se quantificar a vazão liberada pelo vertedouro cobrindo diversas situações de funcionamento das comportas. Essa metodologia é bastante prática e eficiente. 6. PALAVRAS-CHAVE Perfil do vertedouro, afogamento por jusante, capacidade de descarga, curva de descarga, UHE Belo Monte 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] U. S. BUREAU OF RECLAMATION. Design of Small Dams. 3 ed. Washington D.C.: U.S. Government Printing Office, 1987. [2] OTA, J. J. Considerações sobre a capacidade de descarga e pressões na região da crista de vertedouros de encosta. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE HIDRÁULICA. São Paulo: ABRH AIPH. 1986. p. 142-148. [3] RAJARATNAM, N.; MURALIDHAR, D.Flow below deeply submerged rectangular weirs. Journal of hydraulic research, Delft, v. 7, 355-374, 1969. [4] BRADLEY, J. N.Discharge coefficient for irregular overflow spillways, U.S. Bureau of Reclamation. Denver, 1952. [5] DETTMER P.H.C.; FABIANI A. L. T.; OTA J.J.; ARAUJO A. L.; FRANCO H.C.B. Estudo da capacidade de descarga de vertedouros de baixa queda com elevado grau de submergência. VII Citenel. Rio de Janeiro, Brasil, 2013. [6] DETTMER P.H.C.Estudos Hidráulicos em Modelo Reduzido da Usina Hidroelétrica Belo Monte. Relatório Técnico – Modelo Seccional do Vertedouro, LACTEC / CEHPAR. Curitiba, Brasil. HL-180 rel. 1, 2011. [7] U.S. ARMY CORPS OF ENGINEERS. Hydraulic Design Criteria. Chart 320-8.1987. [8] DETTMER P.H.C.Estudos Hidráulicos em Modelo Reduzido da Usina Hidroelétrica Belo Monte. Relatório Técnico – Estudo do Vertedouro, LACTEC / CEHPAR. Curitiba, Brasil. HL-174 rel. 8B.2015. Paulo Henrique Cabral Dettmer Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do Paraná (2007) e mestre em Recursos Hídricos e Ambiental pela UFPR (2013). Atua há nove anos no Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza CEHPAR (LACTEC/UFPR/COPEL) na Execução e Coordenação de estudos hidráulicos em modelo físico reduzidos de usinas hidrelétricas. Desenvolveu estudos em modelos reduzido para oito UHEs, sendo as obras mais relevantes: Mauá, Cambambe (Angola), Gibe III (Etiópia), Belo Monte, Baixo Iguaçu (Brasil), Palomino (República Dominicana), Ituango (Colômbia) e Itaocara I. José Junji Ota Possui graduação em Engenharia Eletrônica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1981), graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (1975), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de Kanazawa (1983) e doutorado em Engenharia - Newcastle Upon Tyne (1999). Professor adjunto da UFPR e consultor no Laboratório de Hidráulica do CEHPAR (Institutos Lactec), onde atua há 40 anos desenvolvendo e coordenando estudos sobre obras hidráulicas, transporte de sedimentos, modelos físicos reduzidos e modelos matemáticos. Ingrid Illich Muller Engenheira Civil com mestrado e doutorado em Recursos Hídricos (UFPR). Atuou durante 30 anos no CEHPAR (LACTEC/UFPR/COPEL) nas áreas de Recursos Hídricos, Hidráulica e Meio Ambiente, onde desenvolveu e coordenou estudos para usinas hidrelétricas. Atua na área de Hidrologia de Operação da COPEL. Tem produção técnica e científica relevante, com artigos publicados em revistas nacionais e internacionais. Ex-presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, membro dos Conselhos Nacional e Estadual de Recursos Hídricos e presidente do Comitê do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira/PR.Fernando Ribas Terabe Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do Paraná (1992) e mestre em Recursos Hídricos e Ambiental pela UFPR (2003). Atua há 20 anos no Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza CEHPAR (LACTEC/ UFPR/COPEL) na execução e coordenação de estudos hidráulicos em modelo físico reduzido de usinas hidrelétricas. Desenvolveu estudos em modelos reduzidos para 16 UHEs, sendo as obras mais relevantes: Belo Monte, Machadinho, Dona Francisca, Barra Grande, Campos Novos, Itapebi, Colider, Sinop, Baixo Iguaçu (Brasil), Palomino (República Dominicana), Paute Mazar (Equador), Ituango (Colômbia). 92 WWW.CBDB.ORG.BR HIDRÁULICA E VERTEDORES ESTUDOS HIDRÁULICOS DE ALTERNATIVAS DE DEFLETORES DE GABIÕES PARA O CANAL DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DA UHE BELO MONTE The 1,2 km long Fish Transfer Channel of Belo Monte Hydroelectric Power Plant has trapezoidal section and the series of tanks and fish passages was made by a series of 14,2 m spaced gabion baffles arranged perpendicular to the channel. The first alternative, a conventional arrangement, showed large periodic oscillations such as that occur in Karman vortex trails, causing large instabilities of flow, with overtopping of the baffles. This study involved 8 alternatives, reaching experimentally to a solution with stable flow and the satisfaction of basic requirements of depths and velocities along the transposition channel. The flow behavior for the adopted solution is shownin detail. O Canal de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte, de 1,2 km de extensão, tem seção trapezoidal. A série de tanques e passagens de peixes foi concebida por série de defletores em gabião espaçados de 14,2 m e dispostos perpendicularmente ao canal formando brechas (ranhuras verticais). A primeira alternativa estudada, com arranjo convencional, apresentou grandes oscilações periódicas, tais como as que ocorrem em esteiras de Von Karman, causando grandes instabilidades do escoamento e provocando o galgamento dos espigões. O presente estudo envolveu oito alternativas e chegou, experimentalmente, a uma solução com o escoamento estável e com a satisfação dos requisitos básicos de profundidades e de velocidades ao longo do Canal de Transposição. O comportamento do escoamento para a solução adotada é mostrado em detalhe. RESUMO ABSTRACT Renata Ribeiro de BRITO | Engenheira Civil – Institutos Lactec – CEHPAR Fernando Ribas TERABE | Engenheiro Civil, M.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR José Junji OTA | Engenheiro Civil, D.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR – UFPR Carlos Olavo Slota OVELAR | Engenheiro Civil – Institutos Lactec – CEHPAR 93REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 1. INTRODUÇÃO Em projeto de uma usina hidrelétrica estão as suas diretrizes a serem implementadas para mitigação do impacto ambiental. Uma delas é a implantação de um Sistema de Transposição de Peixes, visando a preservação das espécies locais. Na UHE Belo Monte essa estrutura é constituída por um canal de concreto com declividade do fundo de 1,40845% e 1,2 km de extensão. Ele é composto por uma série de tanques separados por defletores transversais construídos em gabião, espaçados 14,20 m, que possuem uma abertura para a passagem do escoamento e dos peixes (brecha - ranhura vertical). O canal possui seção trapezoidal de 6 m de base e paredes com a inclinação de 1,8H:1,0V. As passagens devem proporcionar ao escoamento desníveis de 0,2 m entre dois tanques sucessivos. Este artigo apresenta os estudos hidráulicos de alternativas de defletores em gabião para garantir um escoamento estável e com a satisfação dos requisitos básicos à passagem dos peixes. O estudo foi desenvolvido em um modelo físico construído na escala geométrica 1:10, que reproduz um trecho de 187 m de comprimento de canal, suficiente para a reprodução de 10 tanques de 14,20 m de comprimento. 2. ESTUDOS DE ALTERNATIVAS Foram ensaiadas oito configurações distintas dos defletores posicionados ao longo do canal. Os defletores foram confeccionados em módulos soltos de argamassa de cimento e areia (blocos impermeáveis) para facilitar o estudo de alternativas e possibilitar a variação da abertura da passagem no sistema para garantir a ocorrência da profundidade média requerida. A Tabela 1 apresenta uma breve descrição das alternativas estudadas. As alternativas 3 a 8 têm configuração simétrica da abertura da passagem entre os tanques em relação ao eixo longitudinal do canal. Os ensaios foram realizados para a vazão de 12 m³/s, vazão de dimensionamento do Sistema de Transposição de Peixes, e as alternativas dos defletores foram avaliadas através da observação visual das condições gerais de escoamento, para obter uma configuração em que a amplitude das oscilações de níveis de água e as circulações no interior dos tanques resultassem menos intensas. Entre as opções estudadas, a Alternativa 8 foi a que resultou em escoamento estável (circulações menos intensas e menor amplitude de oscilação de nível de água). Ela foi selecionada para o ensaio de caracterização do escoamento. Para esta alternativa, Descrição Comentário Arranjo 1 Configuração inicial de Projeto do canal constituído por defletores com abertura de 2m em lados alternados dos tanques. Apresentou grande amplitude de oscilação do nível de água no interior dos tanques, cujas ondas galgavam os defletores de forma intermitente, e ocorrência de circulações intensas 2 Implantação de defletores intermediários na configuração da Alternativa 1 Apresentou melhoras nas condições de escoamento com a diminuição na intensidade das circulações no interior dos tanques e na amplitude das oscilações de nível de água. 3 Alinhamentos das aberturas de 2m dos defletores da Alternativa 1 As condições de escoamento foram semelhantes ao observado na Alternativa 1, com grandes oscilações de nível de água e circulações intensas no interior dos tanques. Também resultou em galgamento intermitente dos defletores pelas ondas do escoamento. 4 Implantação de soleira semicirclular com raio de 50 cm na abertura dos defletores da Alternativa 3 Resultou em pequena redução da oscilação do nível de água do escoamento, entretanto causou aumento do nível de água no interior dos tanques causando galgamento muito frequente dos defletores pelas ondas do escoamento. 5 Implantação de defletores intermediários na configuração da Alternativa 4 Redução significativa das circulações no interior dos tanques. No entanto, do mesmo modo que observado no teste com a Alternativa 4, os níveis de água do escoamento no interior dos tanques resultaram altos causando galgamento intermitente dos defletores. 6 Remoção da soleira semicircular da Alternativa 5 O galgamento dos defletores observado na Alternativa 5 deixou de ocorrer. Da mesma forma que o observado nos ensaios com as Alternativas 2 e 5 (com defletores intermediários), verificou-se a redução na amplitude das oscilações do nível de água e na intensidade das circulações no interior dos tanques. 7 Divisão da abertura central da Alternativa 3 através da implantação de gabião central e soleira de seção semicircular com raio de 50 cm A divisão do escoamento melhorou a dissipação da energia no interior dos tanques, resultando em oscilações do nível de água com menor amplitude e circulações menos intensas. As condições gerais de escoamento observadas ao longo do canal resultaram mais adequadas que nas outras configurações estudadas. 8 Corresponde a Alternativa 7 com a remoção das soleiras Resultou no abaixamento do nível de água no interior dos tanques. As oscilações do nível de água do escoamento e as circulações no interior dos tanques resultaram semelhantes ao observado no teste com a Alternativa 7. Tanque Tanque Defletor Defletor Tanque Tanque Tanque Tanque TanqueDefletor Tanque Tanque Defletor Tanque Tanque Defletor Tanque Tanque Defletor Tanque Tanque Defletor 94 WWW.CBDB.ORG.BR Descrição Comentário Arranjo 1 Configuração inicial de Projeto do canal constituído por defletores com abertura de 2m em lados alternados dos tanques. Apresentou grande amplitude de oscilação do nível de água no interior dos tanques, cujas ondas galgavam os defletores de forma intermitente, e ocorrência de circulações intensas 2 Implantação de defletores intermediários na configuração da Alternativa 1 Apresentou melhoras nas condições de escoamento com a diminuição na intensidade das circulações no interior dos tanques e na amplitude das oscilações de nível de água. 3 Alinhamentos das aberturas de 2m dos defletores da Alternativa 1 As condições de escoamento foram semelhantes ao observado na Alternativa 1, com grandes oscilações de nível de água e circulações intensas no interior dos tanques. Também resultou em galgamento intermitente dos defletores pelas ondas do escoamento. 4 Implantação de soleira semicirclular com raio de 50 cm na abertura dos defletores da Alternativa 3 Resultou em pequena redução da oscilação do nível de água do escoamento, entretanto causou aumento do nível de água no interior dos tanques causando galgamento muito frequente dos defletores pelas ondas do escoamento. 5 Implantação de defletores intermediários na configuração da Alternativa 4 Redução significativa das circulações no interior dos tanques. No entanto, do mesmo modo que observado no teste com a Alternativa 4, os níveis de água do escoamento no interior dos tanques resultaram altos causando galgamento intermitente dos defletores. 6 Remoção da soleira semicircular da Alternativa 5 O galgamento dos defletores observado na Alternativa 5 deixou de ocorrer. Da mesma forma que o observado nos ensaios com as Alternativas 2 e 5 (com defletores intermediários), verificou-se a redução na amplitude das oscilações do nível de água e na intensidade das circulações no interior dos tanques. 7 Divisão da abertura central da Alternativa 3 através da implantação de gabião central e soleira de seção semicircular com raio de 50 cm A divisão do escoamento melhorou a dissipação da energia no interior dos tanques, resultando em oscilações do nível de água com menor amplitude e circulações menos intensas. As condições gerais de escoamento observadas ao longo do canal resultaram mais adequadas que nas outras configurações estudadas. 8 Corresponde a Alternativa 7 com a remoção das soleiras Resultou no abaixamento do nível de água no interior dos tanques. As oscilações do nível de água do escoamento e as circulações no interior dos tanques resultaram semelhantes ao observado no teste com a Alternativa 7. Tanque Tanque Defletor Defletor Tanque Tanque Tanque Tanque Tanque Defletor Tanque Tanque Defletor Tanque Tanque Defletor Tanque Tanque Defletor Tanque Tanque Defletor TABELA 1 – Alternativas de configurações dos defletores foram ainda efetuados testes para a determinação das aberturas dos defletores para obter a profundidade média do escoamento ao longo do canal igual a 2,50 m. Isto resultou em duas aberturas de 0,85m cada uma, ao invés de uma única abertura de 2,0m de largura (configuração inicial de projeto). O valor da profundidade média é um dos principais requisitos definido pelos especialistas em função da biomassa e porte de peixes esperado no Sistema de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte. As velocidades do ESTUDOS HIDRÁULICOS DE ALTERNATIVAS DE DEFLETORES DE GABIÕES PARA O CANAL DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DA UHE BELO MONTE 95REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Defletor Impermeável Defletor Permeável Profundidades do Escoamento Profundidades do Escoamento Posição de Medição Máx (m) Mín (m) Média (m) Amplitude da Oscilação (m) Máx (m) Mín (m) Média (m) Amplitude da Oscilação (m) PL-‐3M 2,71 2,44 2,58 0,27 2,63 2,45 2,54 0,17 PL-‐3J 2,50 2,27 2,38 0,23 2,38 2,31 2,35 0,07 PL-‐5M 2,76 2,41 2,58 0,35 2,62 2,47 2,54 0,15 PL-‐5J 2,48 2,26 2,37 0,22 2,38 2,32 2,35 0,06 PL-‐9M 2,73 2,46 2,59 0,28 2,63 2,45 2,54 0,18 PL-‐9J 2,48 2,29 2,38 0,19 2,38 2,31 2,34 0,07 Tabela 2 – Profundidades do escoamento ao longo do canal – Q=12 m³/s FIGURA 3 – Trecho do Canal de Transposição de Peixes - protótipo escoamento foram medidas a partir dos ensaios efetuados para a caracterização do escoamento da alternativa selecionada (item 3) e resultaram em valores médios de 2,21 m/s a 2,43 m/s. 3. CARACTERIZAÇÃO DO ESCOAMENTO A caracterização do escoamento para o Canal do Sistema de Transposição de peixes foi efetuada utilizando defletores com módulos permeáveis (gabião) e defletores com módulos impermeáveis, levando em conta a hipótese de futura obstrução do gabião por material flutuante ou em suspensão. Os defletores impermeáveis foram confeccionados em argamassa de cimento e areia e os defletores permeáveis foram executados em tela de malha quadrada de abertura igual a 15 mm (equivalente a 15 cm no protótipo) e preenchidos com pedra britada com diâmetro variando entre 12,7 mm e 19,1 mm (diâmetro médio de 15,9 mm equivalente a 15,9 cm no protótipo). As Figuras 1 e 2 ilustram trecho do canal, em modelo reduzido, com defletores impermeáveis e permeáveis, respectivamente. A Figura 3 mostra um trecho do Canal de Transposição de Peixes em protótipo. A Tabela 2 apresenta as profundidades do escoamento para a vazão de 12 m³/s medidas a montante (M) e a jusante (J) de três tanques típicos. As condições de escoamento no interior dos tanques consideradas apropriadas à passagem dos peixes, para a vazão de projeto (12 m³/s), foram definidas pelos especialistas ambientais como profundidade média de 2,50 m, carga hidráulica entre tanques de Δh = 0,20 m (que deve conduzir a velocidade em torno de = 2,0 m/s), profundidades a montante e a jusante dos obstáculos de 2,60 m e 2,40 m, respectivamente. Em termos práticos, a profundidade desejada foi atingida com a configuração impermeável (2,48 m). Porém, com a configuração permeável, resultou em 2,44 m, como pode ser observado na Tabela 2. Esse fato ocorreu devido à percolação FIGURA 1 – Trecho do Canal de Transposição de Peixes - modelo reduzido - defletores impermeáveis FIGURA 2 – Trecho do Canal de Transposição de Peixes - modelo reduzido - defletores permeáveis Ponta Li: ponta linimétrica pelo gabião. Dessa forma, para a configuração permeável (configuração de projeto), se optou por testar para uma vazão maior, de 12,5 m³/s, buscando as condições apropriadas para o início da operação do Sistema de Transposição de Peixes. A permeabilidade do maciço deve mudar com o tempo e as condições de escoamento almejadas no interior dos tanques devem ocorrer para a vazão de projeto de 12 m³/s. A Tabela 3 apresenta as profundidades para a condição de 12,5 m³/s. As características gerais do escoamento no interior dos tanques resultaram semelhantes independente da configuração dos defletores (impermeáveis ou permeáveis). Há ocorrência do fluxo principal no meio do canal com uma circulação anti-horária junto à margem esquerda e uma circulação horária junto à margem direita, conforme pode ser visto nas Figuras 4 e 5. Já as amplitudes das oscilações resultaram menores nos ensaios com defletores permeáveis. Quanto às velocidades nas aberturas dos defletores (brechas) 96 WWW.CBDB.ORG.BR resultaram em valores médios variáveis de 2,21m/s a 2,43 m/s e foram considerados satisfatórios pelos especialistas envolvidos no projeto. TABELA 3 – Profundidades do escoamento ao longo do canal – Q=12,5 m³/s Defletor Permeável Profundidades do Escoamento Posição de Medição Máx (m) Mín (m) Média (m) Amplitude da Oscilação (m) PL-‐3M 2,69 2,51 2,60 0,18 PL-‐3J 2,45 2,38 2,42 0,07 PL-‐5M 2,73 2,52 2,63 0,21 PL-‐5J 2,45 2,39 2,42 0,06 PL-‐9M 2,70 2,51 2,61 0,19 PL-‐9J 2,44 2,39 2,41 0,06 As medições de parâmetros hidráulicos, tais como profundidades, oscilação de nível de água, magnitude e direção de velocidades “instantâneas”, foram efetuadas para um tanque típico e são apresentadas nas Tabelas 4 a 6. As posições medidas estão mostradas na Figura 6. As velocidades do escoamento no interior do tanque típico, foram medidas com ADV (medidor acústico Sontek) com frequência de 25 leituras por segundo (durante 300 s) e revelaram a ocorrência de valores médios de até 2,45 m/s e máximo instantâneo de 3,33 m/s na região central do canal. 4. CONCLUSÕES O estudo revelou que o conceito inicialmente proposto para o Sistema de Transposição de Peixes (Alternativa 1), com uma abertura simples nos defletores em lados alternados do tanque, FIGURA 4 – Defletores impermeáveis – condições gerais de escoamento FIGURA 5 – Defletores permeáveis – condições gerais de escoamento TABELA 4 – Tanque típico - profundidades do escoamento Notas: (1) Vazão ensaiada: 12 m³/s (2) Vazão ensaiada: 12,5 m³/s Defletores Impermeáveis(1) Defletores Permeáveis(2) Posição Profundidades do Escoamento Profundidades do Escoamento Máxima Mínima Média Oscilação Máxima Mínima Média Oscilação (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m) A2 2,45 2,27 2,36 0,18 2,51 2,35 2,43 0,17 B1 1,28 1,02 1,15 0,26 1,31 1,20 1,25 0,11 B2 2,46 2,29 2,37 0,17 2,52 2,42 2,47 0,10 B3 2,48 2,31 2,40 0,17 2,55 2,38 2,46 0,16 C1 1,35 1,09 1,22 0,26 1,36 1,24 1,30 0,12 C3 2,50 2,26 2,38 0,24 2,54 2,41 2,47 0,13 C4 2,49 2,37 2,43 0,12 2,54 2,43 2,48 0,11 C6 2,53 2,27 2,40 0,26 2,56 2,40 2,48 0,16 D3 2,57 2,42 2,50 0,15 2,59 2,51 2,55 0,08 D4 2,60 2,38 2,49 0,22 2,59 2,47 2,53 0,13 D5 1,47 1,17 1,32 0,30 1,41 1,29 1,35 0,12 E1 2,61 2,42 2,52 0,19 2,64 2,52 2,58 0,11 apresentou grandes oscilações periódicas causando instabilidades no escoamento, não sendo possível a sua correção através de pequenos ajustes. Os ensaios em modelo reduzido permitiram a definição de uma alternativa com duas passagens (brechas) de 0,85 m de largura, que conduz a um escoamento estável com ESTUDOS HIDRÁULICOS DE ALTERNATIVAS DE DEFLETORES DE GABIÕES PARA O CANAL DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DA UHE BELO MONTE 97REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 6 – Tanque típico - posições de medições Notas: - Direção X: direção do eixo longitudinal do canal no sentido do fluxo (valores positivos); - Direção Y: direção transversal ao eixo longitudinal do canal no sentido da margem direita para a margem esquerda do canal (valores positivos); - Direção Z: direção vertical no sentido do fundo para superfície do escoamento (valores positivos); - As posições A2, B1, B2, B3, C1, C3, C4, C6, D3, D4, D5 e E1 estão apresentadas na Figura 6. Máxima (m/s) Mínima (m/s) Média (m/s) Moda (m/s) Máxima (m/s) Mínima (m/s) Média (m/s) Moda (m/s) Máxima (m/s) Mínima (m/s) Média (m/s) Moda (m/s) A2 3,23 -0,05 2,04 2,26 1,63 -0,70 0,51 0,38 0,67 -1,08 -0,19 -0,37 B1 0,13 -1,51 -0,71 -0,57 0,53 -1,00 -0,29 -0,28 0,33 -0,51 -0,07 -0,12 B2 0,55 -1,07 -0,22 -0,16 0,63 -1,19 -0,23 -0,14 0,46 -0,61 -0,07 -0,07 B3 2,71 -0,20 1,46 1,66 1,82 -1,53 -0,07 -0,94 1,05 -0,97 -0,04 0,07 C1 0,39 -1,66 -0,72 -0,59 0,86 -0,80 -0,04 -0,14 0,72 -0,57 0,03 0,00 C3 2,65 -0,55 1,01 1,10 1,39 -1,32 0,08 0,37 1,28 -1,10 -0,04 -0,23 C4 2,96 0,62 1,84 2,29 1,45 -1,24 0,07 0,01 0,74 -0,93 -0,06 -0,06 C6 1,38 -1,35 -0,18 0,02 1,24 -1,21 0,10 0,16 1,10 -0,92 -0,04 -0,12 D3 2,74 0,00 1,52 1,79 1,40 -1,29 0,07 -0,06 0,79 -0,92 -0,08 -0,03 D4 1,55 -0,89 0,13 0,17 1,13 -1,28 -0,06 0,19 1,20 -1,06 -0,07 -0,01 D5 0,71 -1,36 -0,37 -0,48 0,80 -1,00 -0,08 -0,06 0,75 -0,65 0,04 -0,04 E1 2,44 -0,58 0,92 0,89 1,40 -0,98 0,25 0,36 1,27 -1,05 -0,08 -0,24 A2 3,26 0,55 2,25 2,44 1,48 -0,83 0,35 0,32 0,69 -1,29 -0,22 -0,25 B2 0,97 -0,99 0,00 0,05 0,76 -1,08 -0,17 -0,05 0,53 -0,70 -0,10 -0,11 B3 3,04 0,31 1,94 2,14 1,91 -1,84 -0,06 -0,73 1,09 -1,03 0,01 0,14 C3 2,83 -0,75 1,12 0,41 1,43 -1,09 0,10 0,26 1,17 -1,21 -0,06 -0,26 C4 3,33 0,89 2,10 2,03 1,53 -1,22 0,06 0,24 0,93 -1,00 -0,04 -0,05 C6 1,84 -0,94 0,26 -0,19 1,31 -1,36 -0,08 0,00 1,08 -1,02 0,01 -0,14 D3 2,91 0,51 1,83 2,05 1,29 -1,10 0,08 -0,28 0,76 -0,91 -0,04 -0,15 D4 2,03 -0,86 0,42 0,39 0,98 -1,69 -0,24 -0,17 1,14 -1,23 0,01 0,02 E1 2,45 -0,28 1,07 1,31 1,63 -0,90 0,33 0,30 1,09 -1,15 -0,02 -0,03 A2 3,23 0,14 1,86 2,23 1,75 -1,03 0,41 0,57 0,66 -1,02 -0,05 0,05 B2 1,10 -0,76 0,19 0,11 0,75 -0,94 -0,13 -0,23 0,37 -0,43 -0,05 -0,08 B3 2,93 0,33 1,71 1,85 1,75 -1,47 0,02 -0,55 0,77 -1,02 -0,08 0,00 C3 3,01 -0,62 1,32 1,26 1,52 -0,97 0,14 0,19 0,70 -0,82 -0,04 -0,03 C4 3,10 0,77 2,02 2,17 1,51 -1,11 0,07 0,01 0,58 -0,68 -0,05 0,00 C6 2,24 -1,11 0,63 0,15 0,90 -1,50 -0,21 -0,14 0,64 -0,66 0,02 0,04 D3 2,93 0,48 1,79 1,59 1,51 -1,14 0,08 -0,11 0,50 -0,60 -0,03 -0,04 D4 1,80 -1,27 0,33 0,09 0,89 -1,25 -0,20 -0,25 0,59 -0,60 0,02 0,07 E1 2,16 -0,43 0,98 0,90 1,49 -0,80 0,34 0,27 0,60 -0,63 0,00 0,09 Direção ZDireção X Pr óx im o ao F un do Direção Y Posição Pr ox im o à Su pe rfí ci e M ei a Pr of un di da de Tabela 5 – Velocidades do escoamento no interior dotanque típico – vazão de 12 m³/s – defletores impermeáveis os testes de caracterização, foram utilizados também defletores em forma de gabiões. As características gerais do escoamento no interior dos tanques resultaram semelhantes, independente da configuração dos defletores (impermeáveis ou permeáveis) com fluxo principal no meio do canal e circulação anti-horária junto à margem esquerda e horária junto à margem direita. Já as amplitudes das oscilações resultaram menores nos ensaios com defletores permeáveis. O campo de velocidades do escoamento no interior do tanque típico, medidas com ADV (medidor acústico Sontek), é mostrado em detalhes neste artigo e poderá ser de interesse para futuros projetos. 5. PALAVRAS-CHAVE Sistema de Transposição de Peixes, UHE Belo Monte, modelo reduzido. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] TERABE, F.R., OVELAR, C.O.S. (2013) “Projeto HL-183 – Estudos Hidráulicos em Modelo Reduzido do Canal de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte. Relatório N.o 02 –Estudos de Alternativas Geométricas e Otimização”,LACTEC CEHPAR, Curitiba, Brasil. [2] TERABE, F.R., OVELAR, C.O.S. (2013) “Projeto HL-183 – Estudos Hidráulicos em Modelo Reduzido do Canal de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte. Relatório N.o 03 – Caracterização das Condições Gerais de Escoamento – Configuração Final”,LACTEC CEHPAR, Curitiba, Brasil. profundidade em torno de 2,45 m e velocidades médias na brecha de 2,21 m/s a 2,43 m/s com a satisfação dos requisitos básicos de profundidades e de velocidades ao longo do canal. Para facilitar o estudo de alternativas e possibilitar a variação da abertura da passagem entre os tanques, foram utilizados defletoresem módulos soltos e impermeáveis de argamassa, de cimento e de areia. Para 98 WWW.CBDB.ORG.BR Notas: - Direção X: direção do eixo longitudinal do canal no sentido do fluxo (valores positivos); - Direção Y: direção transversal ao eixo longitudinal do canal no sentido da margem direita para a margem esquerda do canal (valores positivos); - Direção Z: direção vertical no sentido do fundo para superfície do escoamento (valores positivos); - As posições A2, B1, B2, B3, C1, C3, C4, C6, D3, D4, D5 e E1 estão apresentadas na Figura 6. Tabela 6 – Velocidades do escoamento no interior do tanque típico – vazão de 12,5 m³/s – defletores permeáveis Máxima (m/s) Mínima (m/s) Média (m/s) Moda (m/s) Máxima (m/s) Mínima (m/s) Média (m/s) Moda (m/s) Máxima (m/s) Mínima (m/s) Média (m/s) Moda (m/s) A2 3,22 1,57 2,45 2,55 1,01 -0,85 0,10 0,09 0,48 -0,94 -0,24 -0,18 B1 0,74 -1,07 -0,17 0,06 0,56 -0,84 -0,19 -0,14 0,41 -0,60 -0,11 -0,11 B2 0,79 -0,85 -0,02 0,20 0,39 -1,16 -0,35 -0,36 0,38 -0,55 -0,09 -0,06 B3 2,08 -1,38 0,32 0,16 2,25 -2,38 -0,01 -0,03 2,05 -1,41 0,36 0,45 C1 -0,06 -1,32 -0,73 -0,74 0,45 -0,64 -0,10 -0,12 0,34 -0,44 -0,03 0,02 C3 2,82 -0,39 1,21 0,87 1,08 -1,30 -0,10 0,06 0,87 -0,98 -0,03 -0,09 C4 3,23 0,45 1,88 1,71 1,48 -1,45 -0,06 -0,06 1,00 -0,93 0,09 0,25 C6 1,24 -0,93 0,06 0,08 0,91 -0,89 0,11 0,01 0,68 -0,81 -0,05 0,05 D3 2,84 0,61 1,73 1,78 1,07 -1,07 -0,04 0,01 0,77 -0,74 0,02 -0,05 D4 1,27 -0,93 0,14 -0,02 0,76 -1,14 -0,13 -0,05 0,95 -0,83 0,00 -0,10 D5 0,14 -1,27 -0,59 -0,55 0,59 -0,78 -0,14 -0,12 0,68 -0,50 0,08 0,01 E1 2,14 -0,31 1,06 1,22 1,19 -0,69 0,29 0,33 0,95 -0,88 0,01 0,09 A2 3,26 0,70 2,12 2,37 1,19 -0,56 0,27 0,36 0,70 -0,91 -0,13 -0,18 B2 0,82 -0,93 0,01 0,01 0,42 -1,05 -0,33 -0,34 0,36 -0,63 -0,15 -0,11 B3 2,85 -1,09 0,84 0,35 1,92 -2,51 -0,17 -0,14 1,64 -0,96 0,38 0,27 C3 2,72 -0,30 1,15 1,03 1,15 -1,39 -0,10 -0,17 0,93 -1,09 -0,04 -0,01 C4 3,09 0,49 1,86 2,00 1,22 -1,42 -0,08 -0,31 0,79 -0,95 0,02 0,07 C6 1,18 -0,64 0,24 0,21 0,96 -0,76 0,11 0,11 0,68 -0,82 -0,04 0,05 D3 2,71 0,43 1,67 1,76 1,08 -1,14 -0,04 0,00 0,82 -0,68 0,01 -0,09 D4 1,63 -1,12 0,29 0,21 1,02 -1,37 -0,16 -0,04 0,84 -0,86 0,02 0,19 E1 2,33 -0,07 1,08 1,07 1,27 -0,70 0,28 0,29 0,85 -0,81 0,03 0,08 A2 3,02 0,34 1,89 2,25 1,37 -0,78 0,28 0,27 0,71 -0,91 -0,12 -0,07 B2 0,78 -0,89 0,02 -0,02 0,42 -0,96 -0,29 -0,40 0,23 -0,52 -0,14 -0,13 B3 2,32 -0,43 1,04 1,00 1,88 -2,03 -0,11 0,47 0,97 -0,90 0,06 0,03 C3 2,36 0,07 1,13 1,03 1,16 -1,16 -0,04 -0,07 0,51 -0,63 -0,04 -0,03 C4 3,00 0,67 1,84 1,92 1,36 -1,34 -0,03 -0,27 0,59 -0,65 -0,04 0,06 C6 1,26 -0,57 0,44 0,40 0,80 -0,65 0,09 0,02 0,38 -0,44 -0,04 -0,07 D3 2,51 0,26 1,49 1,55 1,13 -1,28 0,01 0,01 0,45 -0,53 -0,02 0,01 D4 1,58 -0,88 0,30 0,55 0,78 -1,15 -0,19 -0,18 0,49 -0,48 0,03 0,06 E1 2,17 -0,29 0,97 0,85 1,30 -0,73 0,29 0,24 0,49 -0,49 0,00 0,00 Direção ZDireção X Pr óx im o ao F un do Direção Y Posição Pr ox im o à Su pe rfí ci e M ei a Pr of un di da de Renata Ribeiro de Brito Engenheira Civil e mestranda de Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Possui experiência em projetos hidrelétricos e hidráulicos para fins de irrigação e contenção de cheias, nas diversas etapas de projeto, desde viabilidade a executivo. Atuou durante 10 anos na Intertechne nas áreas de Hidráulica e Coordenação de equipe multidisciplinar de engenharia para projetos hidrelétricos. Atualmente atua no CEHPAR (LACTEC) na Coordenação de Estudos para usinas hidrelétricas e projetos de pesquisa e desenvolvimento na área de hidráulica. Carlos Olavo Slota Ovelar Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do Paraná (2008) e mestrando em Recursos Hídricos e Ambiental pela UFPR (PPGERHA). Exerce cargo de Pesquisador pelo Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza - CEHPAR (LACTEC/ UFPR/COPEL), atuando em estudos em modelos hidráulicos reduzidos de usinas hidrelétricas. Participou dos estudos da UHE Belo Monte e UHE Sinop. José Junji Ota Possui graduação em Engenharia Eletrônica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1981), graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (1975), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de Kanazawa (1983) e doutorado em Engenharia - Newcastle Upon Tyne (1999). Professor adjunto da UFPR e consultor no Laboratório de Hidráulica do CEHPAR (Institutos Lactec), onde atua há 40 anos desenvolvendo e coordenando estudos sobre obras hidráulicas, transporte de sedimentos, modelos físicos reduzidos e modelos matemáticos. Fernando Ribas Terabe Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do Paraná (1992) e mestre em Recursos Hídricos e Ambiental pela UFPR (2003). Atua há 20 anos no Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza CEHPAR (LACTEC/ UFPR/COPEL) na execução e coordenação de estudos hidráulicos em modelo físico reduzido de usinas hidrelétricas. Desenvolveu estudos em modelos reduzidos para 16 UHEs, sendo as obras mais relevantes: Belo Monte, Machadinho, Dona Francisca, Barra Grande, Campos Novos, Itapebi, Colider, Sinop, Baixo Iguaçu (Brasil), Palomino (República Dominicana), Paute Mazar (Equador), Ituango (Colômbia). ESTUDOS HIDRÁULICOS DE ALTERNATIVAS DE DEFLETORES DE GABIÕES PARA O CANAL DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DA UHE BELO MONTE 99REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS ENERGIA Belo Monte HPP main power plant is the third greatest installed capacity in the world and presently the biggest entirely Brazilian power plant, with an installed capacity of 11,000 MW and firm power of 4,226.3 MW, on average. The net head is 87.00 m, from the intermediate reservoir to the tailrace channel, where the waters of Xingu River finally return to its natural river bed after a great course since its diversion from the main reservoir located in Pimental Site. The innovative conception of the design allowed the construction of this huge project to be executed almost completely independent from the course of the River, with no need for river diversion while the main structures were being built, keeping the Xingu River virtually unaltered during the construction. The water from the intermediate reservoir is diverted to the Power House by the Intake Structure through 11.6 m diameter penstocks, which are bigger than the ones of Itaipu HPP. This paper complies the description of the detailed structures that are part of the main generation circuit of Belo Monte HPP, highlighting the planning process of the construction phases, which led toward a practically off stream construction. A Usina Hidrelétrica Belo Monte é a terceira com maior capacidade instalada do mundo e a atual maior usina inteiramente brasileira, com 11.000 MW de potência e energia firme de 4.226,3 MW médios. Com queda líquida de 87,00 m, obtida através da formação do Reservatório Intermediário até o Canal de Fuga - local onde as águas do rio Xingu finalmente retornam ao seu curso natural após um grande percurso iniciado no Reservatório Principal, localizado no sítio Pimental. A concepção inovadora do projeto permitiu que a construção desta obra gigantesca fosse executada praticamente a seco sem a necessidade de qualquer obra de desvio do rio para a execução das estruturas principais, o que manteve as águas do Xingu praticamente intactas neste local. A estrutura da Tomada d’Água direciona as águas captadas no Reservatório Intermediário à Casa de Força Principal por meio de Condutos Forçados com 11,6 metros de diâmetro. Esta dimensão é maior que a dos existentes na Usina de Itaipu. O presente artigo contempla o detalhamento das estruturas que compõem o Circuito de Geração Principal do empreendimento da UHE Belo Monte, destacando o processo de planejamento das etapas construtivas visando a execução praticamente a seco. RESUMO ABSTRACT Pilar Alejandra Grasso RODAS |Engenheira Civil – Engevix Engenharia S.A. Lailton Vieira XAVIER | Engenheiro Civil – Engevix Engenharia S.A. 100 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO O arranjo das estruturas localizadas no sítio Belo Monte compreende o Circuito de Geração propriamente dito, formado por: Tomada d’Água, Condutos Forçados, Casa de Força e Canal de Fuga, duas barragens de Fechamento Laterais de terra e enrocamento e a Barragem da Vertente do Santo Antonio. A estrutura da Tomada d’Água direciona as águas captadas no Reservatório Intermediário à Casa de Força Principal por meio de 18 Condutos Forçados com 11,6 metros de diâmetro. A potência instalada do Circuito de Geração Principal, localizado no sítio Belo Monte é de 11.000 MW e energia firme de 4.226,3 MW médios, sendo a terceira maior capacidade instalada do mundo e a atual maior usina inteiramente brasileira [1]. A Figura 1 apresenta o Arranjo Geral do sítio Belo Monte e a disposição de suas estruturas. 2. DETALHAMENTO DE CADA ESTRUTURA DO SÍTIO BELO MONTE O arranjo das estruturas localizadas no sítio Belo Monte compreende o Circuito de Geração propriamente dito, formado pela Tomada d’Água, pelos Condutos Forçados, pela Casa de Força pelo Canal de Fuga, por duas barragens de Fechamento Laterais de terra e FIGURA 1 - Arranjo Geral sítio Belo Monte enrocamento e pela Barragem da Vertente do Santo Antonio. As estruturas de concreto do barramento do sítio de Belo Monte são formadas por 18 blocos de Tomada d’Água, um Bloco Central de concreto-gravidade e dois Muros Laterais de Fechamento e de abraço das barragens de terra e enrocamento das margens adjacentes, com extensão total de cerca de 819 m e coroadas na elevação 100,00 m. A Tomada d’Água, o Muro Central e os Muros Laterais de Fechamentos, foram executados num misto de concreto convencional e compactado com rolo (CCR). A Tomada d’Água Principal, do tipo gravidade, é constituída de 18 blocos de 33 m de largura, dos quais partem os Condutos Forçados em igual número, expostos e paralelos entre si, sendo um para cada unidade geradora. Esses blocos são dispostos em dois grupos, sendo que dez blocos se agrupam na direita hidráulica e os oito restantes à esquerda. Esses dois grupos são separados por um bloco de gravidade, fechando o barramento. A Casa de Força Principal da Usina de Belo Monte abriga 18 unidades com turbinas do tipo Francis de eixo vertical, acopladas a um gerador de corrente alternada, trifásico. A potência unitária de cada unidade geradora é de 611,11 MW, totalizando uma potência instalada de 11.000 MW. Os blocos das unidades geradoras possuem 33,00 m de largura cada, sendo oito deles localizados no lado esquerdo e dez no lado direito, separados fisicamente por um bloco central com 33,00 m de largura. Existem cinco blocos de Área de Montagem na margem esquerda, com 33,00 m cada e mais dois blocos de Áreas de O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS 101REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 3 – Circuito de Geração – Tomada d’Água e Casa de Força FIGURA 2 – Vista geral das estruturas de concreto do sítio Belo Monte Descarga (AD), com 20,70 m de largura na margem direita e 36,50 m de largura na margem esquerda. A Subestação de Manobra, que interliga a Usina ao Sistema de Transmissão, é do tipo blindada, isolada a gás SF6, na tensão de 500kV e está localizada a montante dos transformadores elevadores, no deck principal da Casa de Força Principal. A Barragem de Fechamento Esquerda tem o coroamento na EL. 100,00 m, altura máxima da ordem de 88,00 m e extensão de 1.100,00 m. A Barragem de Fechamento Direita está coroada na EL. 100,00 m, altura máxima da ordem de 54,00 m e extensão de 780,00 m. Ambas possuem duas seções típicas, sendo o trecho próximo à Tomada d’Água em enrocamento com núcleo de solo compactado, e o restante das barragens com seção homogênea, tendo sido consideradas bermas de enrocamento lançado a montante e jusante para garantir a estabilidade das mesmas. A Barragem da Vertente do Santo Antonio está à esquerda das estruturas da Tomada d’Água em posição vizinha à Barragem de Fechamento Esquerda. A barragem apresenta a crista coroada na EL. 100,00 m com a cota mais baixa da fundação situada aproximadamente na EL. 30,00 m, o que resulta numa estrutura com altura de 70,00 m. A crista possui largura de 7 m e extensão da ordem de 1.310,00 m. A restituição das águas turbinadas ao rio Xingu é feita por um Canal de Fuga escavado em solo e rocha, com cerca de 2 km de comprimento e 620,00 m de largura. Cerca de 800,00 m a jusante dos blocos da Casa de Força existe uma ponte sobre o Canal de Fuga, que faz parte do trecho relocado da Rodovia Transamazônica e possui cerca de 720,00 m de extensão [2]. A Figura 3 mostra a seção do Circuito de Geração do sítio Belo Monte, com destaque para as elevações das estruturas e níveis operacionais. As Figuras 4 e 5 representam as seções das Barragens de Fechamento Direito e Esquerdo com seus materiais e níveis. As Figuras 6 e 7 ilustram tridimensionalmente as unidades do circuito hidráulico. A Tabela 1 mostra os principais volumes, segmentados por tipo de atividade. 102 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 4 – Barragem de Fechamento Direita (tipo enrocamento com núcleo de argila) FIGURA 5 – Barragem de Fechamento Esquerda (tipo homogênea de solo) FIGURAS 6 e 7 – Concepção tridimensional de uma unidade do sítio Belo Monte TABELA 1 – Volumes por atividade do sítio Belo Monte * Concreto Massa é aquele que apresenta dimensões de magnitude suficientes para exigir que sejam tomadas medidas para controlar a geração de calor e a variação de volume decorrente, a fim de minimizar a sua fissuração. Pode ser armado ou não. Grandes estruturas e CCR em usinas hidrelétricas são estudadas quanto ao comportamento térmico-tensional. 3. SEQUÊNCIA CONSTRUTIVA A sequência construtiva da Casa de Força Principal e da Tomada d’Água no sítio Belo Monte prevê a construção em duas etapas, sendo na primeira etapa a construção de oito unidades geradoras (unidades 1 a 8) e na fase seguinte a conclusão das dez unidades restantes (unidades 9 a 18). Na Tabela 2 são apresentadas as vazões de pico utilizadas para o dimensionamento das estruturas de proteção durante o manejo do rio Xingu no sítio Belo Monte. Inicialmente, as atividades de construção na área da Casa de Força e da Tomada d’Água se concentraram nas escavações obrigatórias, nas áreas que abrangem as estruturas de concreto para liberar com maior rapidez os serviços de concretagem. Para esta fase, a área prioritária de escavação ficou completamente protegida pelo terreno natural, proporcionando uma segurança para o pico da cheia com tempo de recorrência de 500 anos do rio Xingu. Para a escavação do Canal de Fuga foi executada a Ensecadeira de 1ª Fase no trecho mais a jusante do canal, proporcionando uma O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS 103REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 2 – Volumes por atividade do sítio Belo Monte proteção para vazões com período de recorrência de 25 anos. Na Figura 8 é apresentada a seção da Ensecadeira de 1ª Fase, e a Figura 9 apresenta a 1ª etapa construtiva. Com a proteção da Ensecadeira de 1ª Fase foram executadas as escavações em solo e rocha do trecho final do Canal de Fuga para possibilitar a construção da ensecadeira de 2ª fase, assente em rocha sã na elevação final do Canal de Fuga. Esta ensecadeira proporcionou proteção contra cheias com tempo de recorrência de 250 anos. Na Figura 10 é apresentada a seção da Ensecadeira de 2ª fase. Após o término da construção da Ensecadeira de 2ª fase, as escavações do Canal de Fuga prosseguiram com as estruturas de concreto já protegidas. Na Figura 11 é apresentada a 2ª etapa construtiva. Entre os dois conjuntos de unidades geradoras foi deixado um septo de rocha. Com isso, é possível desvincular a construçãodos dois conjuntos, o que traz flexibilidade no planejamento de construção e picos de concreto. A jusante das unidades 9 a 18 foi construída uma ensecadeira para a proteção deste conjunto, fechando o trecho entre o septo rochoso e o talude direito hidráulico da escavação do Canal de Fuga. Esta ensecadeira proporciona proteção contra cheias de 250 anos de recorrência. Na Figura 12 é apresentada a seção da Ensecadeira de 3ª fase. FIGURA 8 – Seção Ensecadeira de 1ª Fase FIGURA 9 – 1ª etapa das obras civis 104 WWW.CBDB.ORG.BR Na 1ª etapa das obras civis foram executados os acessos internos e foram iniciadas as escavações comuns nas áreas das seguintes estruturas: Tomada d’água, Casa de Força, Área de Montagem e Canal de Fuga. Foi lançada a Ensecadeira de 1ª Fase para possibilitar a escavação em rocha do canal de fuga na região entre as Ensecadeiras de 1ª e 2ª Fases. Na 2ª etapa das obras civis, foi executada a ensecadeira de 2ª fase e a continuidade das escavações em rocha do Canal de Fuga e nas regiões das estruturas de concreto do Circuito de Geração 1 (Tomada d’água, Casa de Força – Unidades 1 a 8 e Área de Montagem da Margem Esquerda). Nesta etapa foi iniciado o lançamento do Concreto Compactado com Rolo (CCR ) dos Muros Laterais e das Unidades 1 a 8 da Tomada d’Água. FIGURA 10 – Seção Ensecadeira de 2ª Fase FIGURA 11 – 2ª etapa das obras civis Na 3ª etapa das obras civis foi iniciada a execução dos concretos convencionais das Áreas de Montagens da Margem Esquerda e das Unidades 1 a 8, prosseguiram as escavações em rocha do Canal de Fuga e o lançamento do Concreto Compactado com Rolo (CCR) nas Unidades 1 a 8 e nos Muros Laterais da Tomada dágua. Foi executada a 1ª etapa das Barragens de Fechamentos Direita e Esquerda e a construção da ponte da rodovia transamazônica BR 230. Na 4ª etapa das obras civis foi realizado o lançamento do concreto convencional da Tomada d’água bem como finalizadas as escavações em rocha das Unidades 9 a 18 da Casa de Força, executada a Ensecadeira de 3ª Fase, continuada a concretagem das Unidades 1 a 8 da Casa de Força e iniciada a remoção da Ensecadeira de 1ª Fase. Nesta etapa, foi iniciada a montagem eletromecânica das O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS 105REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 13 – 3ª etapa das obras civis FIGURA 12 – Seção Ensecadeira de 3ª Fase Unidades Geradoras da Casa de Força, sequencialmente, a partir da Unidade 1 e a execução da Linha de Transmissão de 500 kV. Na 5ª etapa das obras civis, foi finalizada a concretagem das estruturas da Tomada d’Água e das Unidades 1 a 8 da Casa de Força bem como concluídos os aterros das Barragens de Fechamento Direita e Esquerda, colocadas as comportas das 18 unidades da Tomada d’Água e das Unidades 1 a 8 da Casa de Força, executado o enchimento do Reservatório Intermediário removida a Ensecadeira de 2ª Fase e realizado o enchimento do Canal de Fuga. Nesta fase foi iniciado o comissionamento das Unidades Geradoras 1 a 8 da Casa de Força, para entrada em operação com previsão de aproximadamente três meses cada Unidade, sequencialmente partindo da Unidade 1. Foi também iniciada a montagem eletromecânica das Unidades Geradoras 9 a 18 e foram finalizados os ramais de saída da Linha de Transmissão referentes das Unidades 1 a 8. Na 6ª etapa das obras civis foi finalizada a escavação em rocha do Canal de Fuga; serão concluídas as concretagens das Unidades 9 a 18 da Casa de Força, assim como da montagem eletromecânica do segundo Circuito de Geração, bem como será concluída a execução dos ramais da Linha de Transmissão das Unidades 9 a 18. Será também removida a Ensecadeira de 3ª Fase e iniciado o comissionamento das Unidades Geradoras, sequencialmente a partir da Unidade 9 até a 18 da Casa de Força, com entrada em operação prevista sequencialmente e aproximadamente a cada três meses (por Unidade). 106 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 14 – 4ª etapa das obras civis FIGURA 15 – 5ª etapa das obras civis O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS 107REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 16 – 6 ª etapa das obras civis Lailton Vieira Xavier Engenheiro Civil graduado pela Universidade Federal do Paraná. Possui pós-graduação em Administração Global pela UDESC/UNI de Lisboa e MBA em Gerência de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (SP). É Vice-Presidente de Engenharia e Gerenciamento na área de Energia da Engevix Engenharia S.A.. Durante 26 anos de experiência profissional trabalhou em grandes projetos de geração de energia e infraestrutura no Brasil e no exterior. Pilar Alejandra Grasso Rodas É formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (1997) com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Busines School (2006), e MBA Setor Elétrico pela Fundação Getúlio Vargas (2014). Trabalha na Engevix Engenharia desde 1998. Possui experiência de 19 anos em atividades de engenharia de infraestrutura e energia no Brasil e no exterior, desenvolvento atividades de projeto e gerenciamento. Atualmente é responsável pela Coordenação do Projeto Executivo Civil da UHE Belo Monte. 3. CONCLUSÕES No presente artigo foram apresentadas as características que definem as configurações do sítio Belo Monte, que tem como função propiciar a geração do circuito principal da UHE Belo Monte. O grande desafio foi conceber uma sequência executiva que possibilitasse a geração das Unidades Geradores sequencialmente sem a necessidade da finalização de todas atividades das obras civis e montagem eletromecânica. A sequência permitiu a execução a seco em praticamente na maior parte do empreendimento, o que facilita e viabiliza uma obra de tamanho porte, sem grandes interferências com o curso do rio Xingu. 4. PALAVRAS-CHAVE Sítio Belo Monte, UHE Belo Monte, barragem, Casa de Força, Tomada dÁgua, Conduto Forçado, Canal de Fuga, perda de carga. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Básico Consolidado. 2012. [2] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Executivo. 2012-2016. 108 WWW.CBDB.ORG.BR The technological control of large works has been done through manual processes of spreadsheets.A project for the development of a computerized system, called AutoLab, was started in the UHE Belo Monte in 2012, which aimed to manage these processes of collecting and analyzing the Concrete Production Plant and Laboratory information to be able to deliver essential information in real time, allowing that the quality control could be carried out with greater assertiveness and agility, avoiding losses, waste and rework. In addition to the management of the Laboratory and Concrete Production Plants information, the initial scope was expanded to the management of other areas information, such as Costs, Planning, Industrial Area, Supplies, Concrete Production and Geotechnics. O controle tecnológico de grandes obras vem sendo feito através de processos manuais de planilhas. Foi iniciado em 2012, na UHE Belo Monte, o projeto para desenvolvimento de um sistema informatizado denominado AutoLab. O objetivo era gerenciar os processos de coleta e análise das informações da Central de Concreto e do Laboratório. Com isso, foi possível entregar informações imprescindíveis em tempo real, permitindo que o controle de qualidade pudesse ser realizado com maior assertividade e agilidade. A medida evitou perdas, desperdícios e retrabalho. Além do gerenciamento das informações dos Laboratórios e Centrais de Produção de Concreto, o escopo inicial foi ampliado para a gestão de outras áreas como Custos, Planejamento, Área Industrial, Suprimentos, Produção de Concreto e Geotecnia. RESUMO ABSTRACT José Flauzino MOREIRA | Chefe de Laboratório, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM Bruno CesarOliveira CARLETO | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM Geovane Boaz dos Santos MOTA | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM Marcelo de Lima FOZ Rodrigues | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS 109REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 1. INTRODUÇÃO Para a construção do Complexo de Belo Monte, foi desenvolvido um sistema informatizado e conectado à internet, denominado AutoLab, com a finalidade de gestão integrada do controle tecnológico nas áreas de Concreto e de Geotecnia. Todos os ensaios realizados nos laboratórios da obra são monitorados e arquivados eletronicamente, permitindo rastreabilidade total. O plano de calibração de todos os equipamentos laboratoriais, o fornecimento e o consumo de materiais são monitorados e controlados. O sistema AutoLab é totalmente integrado com as centrais de produção de concreto, permitindo monitoramento e gerenciamento das liberações para concretagem e da produção de concreto. 2. IDEIAS INCORPORADAS 2.1. SITUAÇÃO ANTERIOR ÀS INOVAÇÕES O controle tecnológico tem como função realizar os ensaios e estudos necessários para garantir a qualidade das estruturas das obras de concreto e geotecnia, certificando se os mesmos atendem a especificação técnica da obra. Na UHE Belo Monte, assim como em outras obras, o método tradicional de controle dessas informações era feito de forma manual através de formulários e arquivos físicos que requerem cuidados para conservação dessas informações. Outra característica relevante do método tradicional de controle é devido ao fluxo de informações ter um caminho longo, o que gera uma maior probabilidade de erro e perda de dados. Na Figura 01 podemos notar o longo caminho no qual a informação passa até que o resultado do ensaio seja gerado e posterior liberação da camada de aterro. Na Figura 02, com o uso do Sistema AutoLab, o caminho de informação ficou menor e as informações são inseridas diretamente no banco de dados. Na Figura 03 é confrontada a forma de correção dos pesos de materiais da dosagem, em função de variações granulométricas e de umidade, com a utilização do sistema usual de planilhas e com o AutoLab. FIGURA 1 – Método tradicional - fluxograma de realização de um ensaio de geotecnia FIGURA 2 – Método com AutoLab - fluxograma de realização de um ensaio de geotecnia FIGURA 3 – Comparativo método tradicional x AutoLab – rotina de correção de dosagem 110 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 4 – Fluxograma de informações no Sistema AutoLab 2.2. IDEIAS E AÇÕES INCORPORADAS − Automação, gerenciamento e confiabilidade nas infor-mações: Como iniciativa, a ideia principal da equipe foi desenvolver um sistema de interface intuitiva e amigável, no qual as informações pudessem ser inseridas e visualizadas em tempo real pelos usuários do sistema. No desenvolvimento do sistema foi feito um levantamento de todas as rotinas realizadas no Laboratório e na Central de Concreto. Depois, foi feita a análise de requisitos (entradas e saídas do sistema) para criação da base de dados e interface de entrada de informações. Vale ressaltar que existem dados que são inseridos manualmente através de interface de usuário (como leituras de ensaios) e dados que são inseridos automaticamente através de interface de comunicação entre sistemas, como a comunicação do AutoLab com os sistemas da Centrais de Concreto. 3. METODOLOGIA O AutoLab é um sistema WEB gerenciador de dados de controle tecnológico, instalado em um servidor lotado dentro do laboratório principal de Belo Monte. É acessado por diversas estações de trabalho espalhadas por todos os sítios e vários departamentos da obra. O AutoLab propicia a exportação das informações nele armazenadas para programas comumente utilizados no controle tecnológico como o Excel, facilitando de forma expressiva a análise dessas informações e uso das mesmas em relatórios e documentos externos (quando necessário). Contudo, o AutoLab conta com mais de 100 telas de trabalho, mais de 60 relatórios estatísticos e de ensaios e mais de 10 e-mails enviados de forma automática, com informações variadas e resumos periódicos de resultados de ensaios, produção de concreto, análise de estoque, tratamentos estatísticos e alertas. Na Figura 04 é mostrada a arquitetura do Sistema AutoLab na UHE Belo Monte. AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO 111REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Acesso aos módulos do sistemaResumo de liberações de concreto e companhamento em tempo real da evolução das concretagens Gráfico com acompanhamento da Produção X Meta de Produção do mês corrente FIGURA 5 – Tela principal do Sistema AutoLab FIGURA 6 – Módulo concreto fresco Lista de betoneiras atualizada em tempo real. Assim que a Central de Concreto termina de produzir, o AutoLab coleta a informação e disponibiliza para o Laboratório. O AutoLab informa: • Traço batido; • Liberação de concreto e destino; • Central de Concreto que produziu; • Volume produzido; • Identificação do caminhão betoneira. O AutoLab alerta para: • Variações de pesagens (teórico x real); • Diferença entre traço batido e traço da tabela; • Quantidade batida; • Necessidade de ensaiar; • Necessidade de moldar. Quadro de acompanhamento das liberações em andamento Neste quadro é possível acompanhar em tempo real: • Volume total produzido por liberação e por traço; • Volume total produzido no turno atual; • Volume de saldo antes da próxima moldagem e/ou ensaio; • Controle dos ensaios através dos volumes produzidos x freqüências estabelecidas com alerta para execução 112 WWW.CBDB.ORG.BR Painel com traço de tabela Painel com traço atual na central Painel com campos para correção do traço FIGURA 7 – Correção de dosagem assistida Na janela mostrada na Figura 07 é possível corrigir qualquer traço para qualquer Central sem necessidade de nenhuma parada na produção. Assim que o laboratorista envia a correção dos valores para a Central, o próximo ciclo batido já vai automaticamente com os valores corrigidos. Ainda é possível realizar correções dos módulos de finura dos agregados para manter o módulo de finura das dosagens. Com um simples clique, o AutoLab usa os valores do último ensaio de umidade e último ensaio de granulometria para fazer a correção. Também, nesta janela, é possível cadastrar variações para um mesmo traço, especificando quantidades diferentes de gelo e de aditivo. Assim, um mesmo traço que está atendendo diferentes frentes de serviço, pode ser monitorado e corrigido mantendo as especificidades de cada frente, propiciando a economia de gelo e aditivo. FIGURA 8 – Acompanhamento de pesagens da Central de Concreto AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO 113REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 9 – Acompanhamento do consumo de gelo FIGURA 10 – Acompanhamento de estoque de insumos Na Figura 08 é exibido o painel de acompanhamento, em tempo real, de pesagem dos insumos para produção de concreto. Assim, é possível que o laboratório verifique qual foi o tipo de desvio da pesagem e possa fazer as devidas correções evitando perdas de concreto. Caixas destacadas com fundo vermelho indicam que alguma das pesagens teve valor fora do limite crítico aceitável. Neste caso de exemplo, mostramos uma pesagem de gelo que deveria ter sido de 228 kg, mas foi registrado 222 kg. Essa variação ultrapassa o limite crítico de 2%. Devido aos grandes volumes de insumos constituintes de uma dosagem, as caixas mostram apenas as três piores pesagens de cada ciclo e a quantidade total de água. Este gráfico mostra uma relação entre a produção de gelo por hora (m³/h em marrom) e o consumo de gelo (kg/m³ em azul). Assim, com o passar do dia é possível perceber comportamentos que iriam resultar na parada da produção devido à falta de gelo. Como essedado é informado em tempo real, os responsáveis pela área industrial, juntamente com o responsável pelo Laboratório, podem discutir estratégias para não parar a produção por falta de gelo antes mesmo que essa parada venha a acontecer, mantendo a produtividade sem perda de qualidade. Painel lateral para escolha de quais insumos serão mostrados Painel com o estoque em tempo real dos insumos selecionados Painel com o gráfico da relação entre entradas e saídas dos insumos selecionados Painel com todos os registros de entradas e saídas do insumo selecionado 114 WWW.CBDB.ORG.BR Neste módulo, acessado pelo profissional da balança e pelo Laboratório, é feito o controle de todas as carretas (de materiais cimentícios e aditivos) que entram no canteiro. Com o AutoLab, o controle das carretas é feito em três etapas: • Pesagem inicial na entrada da carreta; • Recebimento e verificação do Laboratório, seguido da coleta do material para caracterização; • Pesagem final na balança. Cada etapa, para ser finalizada, precisa da conclusão da etapa anterior. Isso facilita o monitoramento do serviço e aumenta a rastreabilidade de possíveis problemas com o destino dos insumos. O líder consegue, sem sair da sua sala, saber a exata situação de determinada carreta. Controle de lotes de coleta de cimento Carretas referentes ao lote de coleta Moldagens realizadas com cada lote coletado Todos ensaios realizados com esse lote FIGURA 11 – Pesagem de carretas FIGURA 12 – Controle de cimento AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO 115REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Módulo para o acompanhamento da agenda de ruptura Neste módulo, o laboratorista tem toda a informação das amostras que devem ser ensaiadas, bem como o status do agendamento. Desta forma, é possível evitar atrasos e erros na execução do ensaio. Antes de iniciar qualquer ensaio, o AutoLab faz uma validação de horário em relação à norma, bloqueando a execução do ensaio quando fora do período estipulado. Sendo assim, o responsável pelo Laboratório deve ser comunicado para efetuar o desbloqueio. A medida facilita o gerenciamento da equipe envolvida no processo. Após executado o ensaio, a agenda se transforma numa consulta temporal de todos os resultados. Este relatório mostra todos os dados da produção de concreto no período selecionado. Nesta primeira página, o resumo mostra: • Total produzido; • Total produzido por Central de Concreto; • Total produzido por liberação e por traço; • Total produzido por tipo de obra; • Total produzido por tipo de traço; • Consumo total de cada material. FIGURA 13 – Agenda de ensaios de compressão axial FIGURA 14 – Relatório de produção de concreto - resumo 116 WWW.CBDB.ORG.BR Relatório com taxas médias de produção Essa informação gera um comparativo das produtividades atingidas entre os turnos de trabalho. A terceira parte do relatório de produção de concreto mostra todos os dados da produção no período selecionado separados por traço. Este relatório ainda mostra todos os desvios e descartes de concreto que ocorreram no período. Relatório para acompanhamento em tempo real da concretagem com: • Liberações sendo executadas, com informação de camada e bloco; • Traços e temperatura de concreto; • Datas de início da concretagem e último lançamento; • Volume Previsto x Volume Executado por liberação de concretagem. Este relatório mostra a análise dos desvios e descartes corridos no período selecionado. Mostra quantidades e percentual de cada motivo. FIGURA 15 – Produção de concreto – análise de turnos FIGURA 16 – Relatório de acompanhamento de concretagem FIGURA 17 – Relatório de desvios e descarte de concreto AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO 117REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 18 – Relatório de resultado de ruptura – curva de tendência Geração automática do tratamento estatístico e gráfico com a curva de tendência de resistência à compressão axial para cada traço 118 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 19 – Relatório lote de concreto – método ACI 214 Controle dos lotes de moldagens de cada dosagem pelo método ACI 214 / Método adotado pelo Controle Tecnológico da UHE Belo Monte AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO 119REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 20 – Geotecnia – tela principal (amostras) FIGURA 21 – Geotecnia – ensaio Hilf/Proctor FIGURA 22 – Relatório de acompanhamento do índice de retrabalho em aterros Tela principal do módulo de Geotecnia. Neste módulo, todas as amostras coletadas ficam organizadas por estrutura, seção e material podendo ser filtradas pelos mesmos parâmetros. Com o sistema, o laboratorista apenas insere as leituras das balanças (quadros vermelhos). Os gráficos e resultados são calculados automaticamente pelo sistema, garantindo rapidez e assertividade dos resultados Relatório para acompanhamento diário e em tempo real do índice de retrabalho, em camadas de aterro detalhados por turno e estrutura 120 WWW.CBDB.ORG.BR 4. EQUIPAMENTOS, INSUMOS E INSTALAÇÕES ENVOLVIDAS O AutoLab foi desenvolvido nas instalações e com os equipamentos disponíveis no Laborátorio da UHE Belo Monte. Os equipamentos utilizados foram: − 1 Notebook para engenheiro responsável pelo desenvolvimento. O AutoLab necessita de equipamentos de informática comumente já encontrados nas obras para operar: − 1 Servidor de aplicação e banco de dados; − 1 Licença do Microsoft SQL Server 2008 R2 Standard; − 1 Licença do Microsoft Windows Server 2008 R2; − 1 Estação de trabalho para o Concreto Fresco; − 1 Estação de trabalho para a Sala de Prensa; − 1 Estação de trabalho para a Sala de Solos; − 1 Estação de trabalho para a Sala de Cimento; − 1 TV 42’’ para acompanhamento da produção de concreto. FIGURA 23 – Comparativo do Método tradicional x Uso do AutoLab, observa-se que com o uso do AutoLab foi possível atuar diretamente no processo de aterro num tempo hábil, conseguindo assim uma consequente redução no índice de retrabalhos das estruturas de geotecnia (aterros). FIGURA 24 – Comparativo do método tradicional x uso do AutoLab para realização de um ensaio de compactação Proctor/Hilf. O gráfico representa o tempo gasto em Laboratório (não considerando o tempo de deslocamento e coleta do material). FIGURA 25 – Comparativo do Método Tradicional x Uso do AutoLab para liberação de uma praça de aterro. O gráfico representa o tempo necessário para liberação da praça após coleta de material para ensaio. FIGURA 26 – Gráfico comparativo do método tradicional x uso do AutoLab para correção da dosagem de concreto. O gráfico representa o tempo necessário para correção das dosagens. AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO 121REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 5. PRODUTIVIDADES ALCANÇADAS Com o uso do AutoLab, foi possível obter ganhos de produtividade, uma vez que o caminho do fluxo de informações se tornou menor. Eliminando grande parte dos processos manuais, se obteve uma maior velocidade e confiabilidade dos resultados nos ensaios e menor tempo na execução de rotinas internas do Laboratório. Como consequencia tivemos perdas por retrabalhos nas frentes de serviço, pois o feedback dos resultados em tempo real favoreceu na atuação e no direcionamento do processo. Isso ocorreu nas estruturas de Geotecnia ou no concreto (Laboratório, Central de Concreto e produção de campo). Os gráficos abaixo mostram a evolução dos indicadores com o uso do AutoLab. 6. RESULTADOS OBTIDOS Na aplicação do sistema houve diversos ganhos e melhorias, cuja quantificação é de difícil mensuração. Abaixo segue relação dos resultados obtidos, com a utilização do sistema AutoLab: • Otimização de recursos e mão de obra; • Confiabilidade e segurança na informação, rastreabilidade dos dados; • Acesso e acompanhamento em tempo real das informações e ensaios; • Tomada de decisões em menor tempo;• Aumento da eficiência no ciclo de betoneiras; • Atuação mais expressiva no índice de perdas de concreto; • Redução de impactos em produtividade e consequente cumprimento de prazos (cronograma); 7. ÁREAS DE APLICAÇÃO Com o sistema AutoLab, temos as informações consolidadas em um banco de dados concentrado, permitindo acesso rápido e em tempo real às informações. Sua aplicabilidade é ampla em obras de infraestrutura, tais como usinas hidrelétricas, estradas, pontes e barragens, entre outras obras. Além disso ele não tem seu uso limitado, pois as informações que o sistema gerencia alimentam e contribuem com o gerenciamento de outras áreas como Suprimentos, Produção, Custos, Apropriação, Qualidade e Engenharia. 8. PALAVRAS-CHAVE AutoLab, Controle Tecnológico, concreto, geotecnia, ensaios laboratoriais, UHE Belo Monte. Geovane Boaz dos Santos Mota Engenheiro Civil formado em 2013 pela Faculdade de Rondônia (Faro). Possui experiência de oito anos em obras de usinas hidrelétricas (UHE Santo Antonio e UHE Belo Monte), atuando nas áreas de Planejamento, Engenharia e Instrumentação de Barragens e Diques. Atualmente é responsável pela Análise de Projetos das obras de Geotecnia da UHE Belo Monte pelo Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM). Bruno Cesar Oliveira Carleto Engenheiro Civil formado em 2011 pela Universidade Estadual de Goiás, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas em 2015. Trabalha desde 2011 no Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM ) na função de Engenheiro do Controle Tecnológico. Atualmente é o responsável pelo Controle Tecnológico do empreendimento UHE Belo Monte. José Flauzino Moreira Técnico de Laboratório, atua na área de Construção de Barragens desde 1987. Foi Chefe de Laboratório nas usinas hidrelétricas UHE Serra da Mesa, UHE Lajeado, UHE Peixe Angical, UHE Simplício, UHE Santo Antonio e UHE Belo Monte. Fez Supervisão Técnica nas usinas hidrelétricas UHE Batalha, UHE Serra do Facão, UHE Foz do Chapecó e UHE São Salvador. Atualmente trabalha na área de Controle Tecnológico de Concreto, Geotecnia, Sondagem e Instrumentação pela ELETROBRAS FURNAS. Marcelo de Lima Foz Rodrigues Engenheiro Civil formado em 1996 pela Universidade Estadual de Maringá, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas em 2004. Possui Certificado PMP pelo Project Management Institute em 2004. Trabalha desde 2007 na Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A. (CCCC). Possui experiência de 20 anos em obras de Construção Civil (indústria, refinaria e termelétrica) e em usinas hidrelétricas (PCHs Plano Alto e Alto Irani, UHE Foz do Chapecó e UHE Belo Monte). Atualmente é o responsável pelas Gerências de Interface e Engenharia do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM). 9. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Sr. Hugo Sávio Moreira pelo desenvolvimento e contribuição no acompanhamento e implantação do Sistema AutoLab, fundamentado em seu conhecimento de Engenharia de Computação. 122 WWW.CBDB.ORG.BR This paper presents what was designed and developed during the execution of the Pimental Hydro Power Plant (HPP) to minimize the water infiltration in the concrete case of the Stay Column that commonly percolates between the first and second stages. The Pimental HPP has 6 Bulb-type turbines totaling 233.1 MW of installed capacity, a 62,000 m³/s spillway with 18 spans, two earth dams and a fish transposition system with a channel 1,200 meters long and a boat lock system. Este trabalho apresenta o que foi idealizado e desenvolvido na execução da UHE Pimental, com o intuito de minimizar as infiltrações de água que comumente percolam entre os concretos de primeiro e segundo estágios - os quais fazem parte do envolvimento do Stay Column (pilar de sustentação da turbina tipo Bulbo). A UHE Pimental possui seis turbinas do tipo Bulbo, totalizando 233,1 MW de potência instalada, um Vertedouro com 18 vãos e capacidade de 62.000 m³/s, duas barragens de terra e ainda um Sistema de Transposição de Peixes com um canal de 1.200 metros de comprimento e um Sistema de Transposição de Embarcações. RESUMO ABSTRACT Anthony Rick Teixeira SANTOS | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM Marcelo de Lima FOZ Rodrigues | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM MINIMIZAÇÃO DE INFILTRAÇÕES ENTRE CONCRETO DE PRIMEIRO E SEGUNDO ESTÁGIOS PARA TURBINAS TIPO BULBO CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS 123REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 1. INTRODUÇÃO As percolações observadas na parede de montante do poço de turbinas, nos blocos das Casas de Força com turbinas tipo Bulbo, são recorrentes e foram observadas nas usinas deste tipo construídas no Brasil: Igarapava, Baguari, Queluz e Lavrinhas, Santo Antonio do Rio Madeira e Jirau [1]. Com a experiência adquirida na UHE Santo Antonio e a troca de conhecimentos com alguns profissionais envolvidos na construção da UHE Baguari, foi observado que na junta de concretagem, prevista em projeto, entre os concretos de primeiro e segundo estágios, sendo este último o concreto que envolve o Stay Colunm da turbina Bulbo, havia após o comissionamento com água da turbina, uma grande e sistemática infiltração de água. Esse fato resultava em diversos transtornos de interface de projeto por possibilitar a presença da água junto aos equipamentos eletromecânicos. E, também, devido aos consequentes aumentos de custos em função das injeções com resinas de poliuretano, necessárias para conter e estancar definitivamente as infiltrações. Para a construção da UHE Pimental, foram então estudadas formas de contenção da percolação pela junta de concretagem, bem como foi analisado quais materiais poderiam contribuir para minimizar ou evitar as infiltrações ou ao menos minimizá-las. 2. CENÁRIO ANTERIOR A UHE Santo Antonio possui 50 unidades geradoras, e, em função do layout em que o empreendimento foi projetado, propiciou a diversos profissionais envolvidos em sua construção uma experiência pouco comum e valiosa para obras de hidrelétricas. Ou seja, havia unidades em geração enquanto ainda se executam escavações da fundação das últimas unidades previstas no projeto. Com isso, foi possível visualizar algumas manifestações patológicas na estrutura de concreto após o comissionamento com água, seguida da operação comercial das unidades geradoras iniciais. FIGURA 1 – Injeção de poliuretano – poço da turbina FIGURA 2 – Parede esquerda – poço da turbina FIGURA 3 – Infiltrações de água – poço da turbina FIGURA 4 – Equipe de injeção trabalhando – poço da turbina Diante da experiência acima, ao contatar profissionais da UHE Baguari foi percebido que a mesma manifestação patológica vista na UHE Santo Antonio se apresentara naquela obra também, o que de certa forma acabou inferindo que as infiltrações constatadas não foram geradas por execução inadequada por parte das equipes de produção. A causa raiz do problema poderia estar atrelada à concepção de projeto, pois se notou que os pontos de infiltrações para ambas as obras eram em seu maior volume e com reincidência na região do poço da turbina. 124 WWW.CBDB.ORG.BR Aproveitando o cronograma da Usina de Santo Antonio, com as primeiras unidades geradores entrando em operação, foram verificados os problemas de infiltração no poço de turbinas. Na sequência, foi realizada uma pesquisa para descobrir quais eram os fatores que contribuíam para essa manifestação patológica, bem como para tentar entender o caminho de percolação, para executar a obstrução. As Figuras de 1 a 4 apresentam as percolações observadas e algumas fases das injeções executadas. Ao percorrer as unidades geradoras ainda em construção, na fase de concretagem, foi possível observar que a junta de concretagem (formada entre os concretos de primeiro e segundo estágios do envolvimento do pilar de sustentação da turbina (Stay Column)) era um caminho propício para a condução da águada face de montante até a face de jusante do concreto de envolvimento do Stay Column. Isto resultava no aparecimento das infiltrações no poço de turbina. Outro ponto que se pode notar, foi que a metodologia executiva utilizada para a execução das formas contribuía para percolação da água. Afinal, foi empregado para execução do concreto de primeiro estágio formas metálicas construídas in loco com a utilização de tela expandida e vergalhões para estruturar. Por sua vez, essa forma era perdida em cada concretagem, ou seja, a mesma não era removida e não era realizado o tratamento da superfície do concreto de primeiro estágio para receber o de segundo estágio. Esse tipo de forma por utilizar a tela expandida acaba gerando um concreto poroso próximo a sua face. Ao vibrar o concreto parte da argamassa escorre pelas aberturas da tela metálica expandida. Assim, a água aproveitará essa região mais permeável do concreto para percolar, chegando até o poço da turbina. A Figura 5 apresenta o conjunto de formas na região da percolação e seu caminho provável. < FIGURA 5 – Caminho de percolação da água na junta de concretagem 3. SOLUÇÕES ADOTADAS NA UHE PIMENTAL Com a experiência adquirida nos projetos supracitados, para execução da UHE Pimental, foram pensadas ações para mitigar as possíveis infiltrações que surgiriam advindas da junta de concretagem entre primeiro e segundo estágios do concreto envoltório do Stay Column. A solução propõe a instalação de fitas hidroexpansivas entre os concretos de primeiro e segundo estágios, criando três barreiras impermeabilizantes com esse material. Uma fica à montante da camada e duas a jusante, com as mesmas percorrendo todo o perímetro da camada de concretagem (piso e paredes). Para cada etapa de concretagem do Stay Column seria repetida essa aplicação. Como segunda medida mitigatória estava a instalação de mangueiras de pós-injeção para fazer a aplicação de calda de cimento antes do enchimento das máquinas para comissionamento. O objetivo era minimizar possíveis injeções com resina de poliuretano (este último produto muito mais oneroso). O ponto de injeção (início da mangueira) seria na face jusante da camada de concreto do Stay Column (região do poço de turbina) e a mangueira seguiria até o eixo da camada. Foram utilizados os mesmos critérios que as fitas hidroexpansivas, ou seja, percorrendo todo o perímetro da camada (piso e paredes), repetindo essa aplicação para cada etapa da concretagem. A Figura 6 apresenta esquematicamente a colocação das fitas e das tubulações de injeção. MINIMIZAÇÃO DE INFILTRAÇÕES ENTRE CONCRETO DE PRIMEIRO E SEGUNDO ESTÁGIOS PARA TURBINAS TIPO BULBO FIGURA 6 > Planta da proposta das fitas hidroex- pansivas e mangueiras de pós- injeção 125REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Além disso, seria prevista a utilização da metodologia de forma deslizante para execução do concreto de primeiro estágio na região do Stay Column para minimizar a possibilidade de existir um concreto mais poroso nesse trecho, o que facilitaria a percolação da água de montante para jusante. 4. PESQUISA DOS MATERIAIS Para utilização entre as juntas de concretagem de primeiro e segundo estágios foram pesquisados os materiais a serem instalados, visando o melhor desempenho do resultado que era esperado (estanqueidade da estrutura). 4.1. FITA HIDROEXPANSIVA Para a seleção da fita hidroexpansiva a ser aplicada, foi realizado uma pesquisa de mercado dos produtos existentes e disponíveis. Em seguida, um ensaio foi feito com algumas amostras de produtos selecionados para avaliar o desempenho de cada um dos materiais. O ensaio consistiu em medir a geometria das amostras, comprimento, largura e espessura, em seu estado inicial. Depois, as amostras foram colocadas na água durante sete dias. Após este período, foram realizadas novas medições de suas geometrias. Na Tabela 1 são apresentados os resultados desse ensaio. Cabe ressaltar que a amostra 3 não possui resultados para a coluna espessura em função de sua geometria triangular, sendo sua “largura” e “espessura” as mesmas. Outro ponto relevante a respeito dos resultados do ensaio é que apesar da amostra 2 ter obtido o maior aumento de espessura quando submersa, a mesma apresentou um aspecto desfavorável no quesito integridade, vide Figura 7. Foi então definido que a fita hidroexpansiva a ser utilizada seria a da amostra 3, levando em conta também que a aplicação dessa última possuía um diferencial. Seu fornecimento é feito em cartuchos e para sua aplicação basta extrusar o conteúdo com uma pistola (similar a aplicação de silicone), o que torna muito prática a execução do serviço. Outro item fundamental para sua escolha foi sua facilidade e eficiência quanto à TABELA 1 – Ensaio de desempenho - fita hidroexpansiva FIGURA 7 – Aspecto da amostra 2 após ensaio TABELA 2 – Características das amostras adaptação aos substratos irregulares e aos diferentes tipos de materiais, além de suas características tixotrópicas, permitindo sua aplicação em superfícies horizontais e verticais. 4.2. MANGUEIRA PARA PÓS-INJEÇÃO Inicialmente se pensou em utilizar tubos de mangueiras flexíveis convencionais para a realização da pós-injeção,. Porém, após a realização de uma pesquisa de mercado, se identificou um produto que poderia ter melhor desempenho quando das futuras injeções para preenchimentos dos eventuais vazios entre concretos de primeiro e segundo estágios. Dessa forma, ficou definida a utilização de mangueiras tipo Fuko, sendo a mesma composta por uma parte central feita de PVC perfurado e envolto por um filme plástico expandido com pequenas aberturas escalonadas para permitir a passagem dos produtos de injeção (água, calda de cimento, resina de poliuretano, etc), conforme Figura 8. 126 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 8 – Mangueira Fuko para pós-injeção 5. PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES Antes do início das atividades relacionadas à concretagem do segundo estágio do Stay Column, foi elaborado um planejamento detalhado de cada etapa, incluindo todos os serviços relacionados tais como armação, forma, cimbramento, embutidos, limpeza, interfaces com montador da turbina, concreto, cura e desforma, conforme mostrado nas Figura 9 e 11. A partir do planejamento elaborado, foram realizados diversos treinamentos com as equipes de campo que estariam envolvidas na atividade, de maneira a garantir que aquilo que se havia previsto seria de fato executado. Todas as equipes participaram do treinamento, bem como foram envolvidos os responsáveis pela empresa de montagem eletromecânica, fornecedora dos equipamentos eletromecânicos e da fiscalização pelo cliente. O esquema foi montado para atender todas as especificações, detalhes e cuidados para que quando houvesse a execução do concreto envoltório do Stay Column, as informações fossem transmitidas para as pessoas que realizariam o trabalho - tudo para garantir a qualidade dos serviços (ver Figura 10). FIGURA 9 – Planejamento tridimensional detalhado das etapas de serviços FIGURA 10 – Treinamento com as equipes de produção de campo FIGURA 11 – Etapas de aplicação das fitas hidroexpansivas e mangueiras de pós-injeção MINIMIZAÇÃO DE INFILTRAÇÕES ENTRE CONCRETO DE PRIMEIRO E SEGUNDO ESTÁGIOS PARA TURBINAS TIPO BULBO 127REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 12 – Concreto de primeiro estágio executado com forma deslizante FIGURA 13–- Andaime montado para tratamento do concreto FIGURA 14 – Aplicação da mangueira de pós-injeção FIGURA 15 – Dificuldade dos trabalhos devido a densidade da armadura FIGURA 16 – Aplicação da fita hidroexpansiva 6. EXECUÇÃO O concreto de primeiro estágio foi executado conforme metodologia prevista, ou seja, foram utilizadas formas deslizantes para garantir um melhor acabamento para a junta de concretagem. Porém, ainda assim, foi preciso realizar um tratamento mais rigoroso. Foram montados andaimes para executar o apicoamentoe rompimento do concreto de primeiro estágio, de forma a garantir uma melhor aderência com o concreto de segundo estágio. A aplicação da fita hidroexpansiva foi efetuada conforme planejado, mostrando o produto escolhido versatilidade, pois a densidade de armação para as camadas de concretagem do envoltório do Stay Column é muito grande, além dos diversos embutidos metálicos, o que dificulta qualquer tipo de serviço dentro do bloco. A facilidade que o produto demonstrou em sua aplicação foi fundamental para garantir a qualidade final. Para a aplicação das mangueiras de pós-injeção houve algumas dificuldades. O produto parece simples de ser aplicado, porém existe uma série de detalhes e particularidades do sistema Fuko que não foram observadas, como por exemplo: • Inicialmente (nas duas primeiras unidades geradoras) se instalou a mangueira com uma das extremidades terminando dentro da camada de concreto, o que não possibilita a reinjeção da mangueira. • Outro ponto relevante é a montagem das extremidades, já que não foram seguidas as recomendações intrínsecas do fabricante, comprometendo completamente a funcionalidade do sistema. 128 WWW.CBDB.ORG.BR O concreto de segundo estágio seguiu rigorosamente o planejamento, sendo realizado através da metodologia de forma deslizante. Os desníveis tiveram limite de no máximo 40 cm com velocidade de concretagem em 12 cm/h, o que auxiliou no não surgimento de fissuras nas camadas em questão e evitou a infiltração de água. As Figuras de 12 a 16 ilustram o processo executivo. 7. CONCLUSÕES Com as experiências adquiridas em outros empre- endimentos, foi possível estudar o comportamento das estruturas de concreto no que tange à sua estanqueidade, na região do poço de turbina de usinas hidrelétricas com turbinas tipo Bulbo. Na UHE Pimental houve a oportunidade de aplicar algumas soluções para tentar minimizar as infiltrações nessa região, geradas a partir (principalmente) da junta de construção entre os concretos de primeiro e segundo estágios. De uma forma geral, as ações implantadas foram satisfatórias, fato esse observado pelos consultores da empresa concessionária do empreendimento (Norte Energia S.A.) [2], com exceção da aplicação da mangueira de pós-injeção. O que se pode concluir na aplicação da mangueira é que para a utilização do sistema Fuko é necessário treinamento muito específico e detalhado, já que sua aplicação requer uma supervisão pari passu do processo - existem detalhes que comprometem todo o sistema caso não sejam seguidos. Quanto ao desempenho de estanqueidade, era previsto, inicialmente, e com base nas estruturas já concluídas e obras anteriores, que seriam necessários em torno de 700 litros de resina de poliuretano (entre espuma e gel) por unidade geradora para eliminar todas as infiltrações que surgiriam. O resultado obtido atingiu redução em 75% da incidência de infiltrações, utilizando apenas 180 litros de resina de poliuretano para deixar a região do poço de turbina da unidade geradora estanque. 8. PALAVRAS-CHAVE Infiltração, concreto, UHE Pimental, turbina Bulbo, Stay Column. 9. AGRADECIMENTOS Agradecemos pela contribuição das seguintes pessoas: - Ao eng. Oscar Bandeira da empresa Norte Energia S.A. pelo incentivo para a produção desse artigo, - Ao eng. Walton Pacelli pela insistente cobrança para que a experiência adquirida na UHE Pimental fosse documentada e transmitida para a comunidade de barragens. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Andrade, W. P. Relatório da 9ª Reunião da Junta Setorial de Consultoria do Projeto Belo Monte. Belo Horizonte, 07 de agosto de 2014. [2] Pinto, N. L. S.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P. Relatório da 15ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 8 de abril de 2016. [3] Sika. Ficha de Produto SikaFuko Eco 1. Osasco, 28 de novembro de 2014. [4] Sika. Ficha de Produto SikaSwell S-2. Osasco, 02 de agosto de 2015. Anthony Rick Teixeira Santos Engenheiro Civil formado em 2012 pela Faculdade de Rondônia (Faro), com pós-graduação em Engenharia de Túneis pela Faculdade Redentor em 2015. Trabalha desde 2006 na Construtora Norberto Odebrecht S.A. Possui mais de 10 anos de experiência em obras de usinas hidrelétricas (PCH São Lourenço, UHE Santo Antonio, UHE Pimental e UHE Belo Monte), tendo atuado nas áreas de Comercial, Custos, Administração, Qualidade, Controle Tecnológico, Topografia, Produção e Engenharia. Atualmente é responsável pela Coordenação da área de Engenharia de Projetos da UHE Belo Monte pelo Consórcio Construtor Belo Monte. Marcelo de Lima Foz Rodrigues Engenheiro Civil formado em 1996 pela Universidade Estadual de Maringá, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas em 2004. Possui Certificado PMP pelo Project Management Institute em 2004. Trabalha desde 2007 na Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A. (CCCC). Possui experiência de 20 anos em obras de Construção Civil (indústria, refinaria e termelétrica) e em usinas hidrelétricas (PCHs Plano Alto e Alto Irani, UHE Foz do Chapecó e UHE Belo Monte). Atualmente é o responsável pelas Gerências de Interface e Engenharia do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM). MINIMIZAÇÃO DE INFILTRAÇÕES ENTRE CONCRETO DE PRIMEIRO E SEGUNDO ESTÁGIOS PARA TURBINAS TIPO BULBO 129REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS HIDRÁULICA E VERTEDORES The sítio Pimental, located on the Xingu River, 40 Km downstream of the city of Altamira (PA), is the name of the set of works that bar the waters and direct them, through the Derivation Channel, to the Main Powerhouse of the Belo Monte Hydroelectric Power Plant, which has a total installed capacity of 11,000 MW. This article presents the characteristics of the main structures of the sítio Pimental, its peculiarities and also deals with the deviation of the Xingu River. O sítio Pimental, localizado no rio Xingu, 40 km a jusante da cidade de Altamira (PA), é a denominação do conjunto de obras que barram as águas e as direcionam, através do Canal de Derivação, para a Casa de Força Principal da Usina Hidrelétrica de Belo Monte - com capacidade instalada de 11.000 MW. Este artigo apresenta as características das principais estruturas do sítio Pimental e suas particularidades, bem como trata do desvio do rio Xingu. RESUMO ABSTRACT Aurélio LOPES | Engenheiro Civil – PCE – Projetos e Consultoria de Engenharia Ltda Libério Alves SILVA | Engenheiro Civil – PCE – Projetos e Consultoria de Engenharia Ltda Anderson Moura FERREIRA | Engenheiro Civil – PCE – Projetos e Consultoria de Engenharia Ltda UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU 130 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO O sítio Pimental é o conjunto de obras, localizado antes da Volta Grande do rio Xingu, que efetivamente barra o rio. Neste local começa o Reservatório Principal, com área de 386 km2, o qual permite que as águas do Xingu sejam direcionadas para o Canal de Derivação formando o Reservatório Intermediário com área de 130 km2. A área de reservatório totaliza 516 km2 com nível de água máximo normal na El. 97,00. Então, finalmente, se chega ao sítio Belo Monte. Ali está localizada a Casa de Força Principal do Complexo, com potência instalada de 11.000 MW[1]. 2. ARRANJO GERAL DAS OBRAS EM PIMENTAL Neste sítio, o barramento é formado por estruturas de terra e de concreto, tendo um Vertedouro com capacidade para escoar 62.000m³/s e uma Casa de Força Complementar com seis turbinas Bulbo com potência unitária de 38,85 MW. A vazão mínima de 700m3/s na Volta Grande do rio Xingu, obrigatória em termos ambientais, é excepcionalmente garantida pelo Vertedouro, sendo normalmente mantida pela operação da Casa de Força Complementar, o que a torna uma das maiores casas de forças ecológicas do mundo, com 233,1 MW de potência instalada. Para mitigação de impactos socioambientais, além das turbinas Bulbo, foram projetados um eficiente Sistema de Transposiçãode Embarcações e um Sistema de Transposição de Peixes. Os estudos definiram a escolha de uma Ensecadeira Barragem para o desvio de segunda etapa, agilizando assim os prazos de construção e garantindo com segurança o início do enchimento do reservatório e da geração de energia, sem a necessidade de conclusão de todas as estruturas em uma primeira etapa. As principais estruturas de barramento são: Barragem Lateral Esquerda, Barragem do Canal Direito, Barragem de Ligação da ilha da Serra, Casa de Força Complementar com Tomada d’Água incorporada, Vertedouro e Subestação. Na Figura 1 é apresentado o Arranjo Geral das estruturas do sítio Pimental. 3. BARRAGEM LATERAL ESQUERDA A Barragem Lateral Esquerda (BLE), que interliga as estruturas de concreto com a ombreira esquerda, tem extensão de 5.100 m. Ela passa sobre três grandes ilhas (Marciana, Pimental e do Forno), sendo que o trecho sobre a ilha Pimental corresponde a uma extensão de 2.900 m. Nos trechos sobre as ilhas, a barragem tem seção em terra homogênea, com altura média de 14,00 m, apoiada em solos aluvionares, tendo sido necessária a implantação de uma trincheira de vedação (cut-off) assente em rocha, para interceptação do fluxo das águas de percolação pelos referidos solos. Nos trechos das ilhas Pimental e Marciana, a trincheira de vedação foi deslocada para montante da barragem, onde as camadas aluvionares tem menos espessura. Nos trechos dos canais,a altura média é de 23,00 m e está apoiada em rocha. No trecho junto às estruturas de concreto, a seção é de enrocamento com núcleo argiloso central, com fundação em rocha sã. Na Figura 2(a) é apresentada a seção típica dos trechos sobre as ilhas Pimental e Marciana. 4. BARRAGEM DO CANAL DIREITO A Barragem do Canal Direito, localizada no trecho de maior profundidade do rio Xingu, com uma extensão de 714,00 m, tem seção de terra/enrocamento no trecho central, apoiada em rocha sã, com altura máxima de 41,00 m e de terra homogênea nas margens - apoiada em solo residual de migmatito. A jusante, a barragem também se apoia na Ensecadeira de Jusante, incorporando-a parcialmente. Na Figura 2(b) é apresentada a seção típica da Barragem do Canal Direito e as Ensecadeiras da 2º fase de Desvio. 5. BARRAGEM DE LIGAÇÃO DA ILHA DA SERRA A Barragem de Ligação da ilha da Serra, que interliga as estruturas de concreto com a Barragem do Canal Direito, apresenta uma seção de terra homogênea e está assente sobre o solo residual de migmatito que ocorre na ilha da Serra. 6. CASA DE FORÇA COMPLEMENTAR/ TOMADA D’ÁGUA A Casa de Força Complementar possui seis unidades geradoras tipo Bulbo com potencia unitária de 38,85 MW, totalizando uma potência instalada de 233,1 MW. Na lateral esquerda da Casa de Força está disposta a Área de Montagem e a Área de Descarga dos equipamentos eletromecânicos. Este espaço propicia também acesso UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU 131REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FI GU RA 1 – A rr an jo G er al 132 WWW.CBDB.ORG.BR ao interior da estrutura. Na lateral direita se encontra o Muro Divisor de ligação com o Vertedouro, sendo que neste bloco estão situados os poços de esgotamento e drenagem da Casa de Força. Integrada na Casa de Força está a Tomada d’Água, formando assim uma única estrutura. O deck principal da Tomada d’Água está situado na El. 100,00 e coincide com a crista das diversas estruturas do barramento. O deck de jusante fica na El. 98,00. Para atender ao cronograma de obras e aumentar a velocidade de construção, a elaboração do projeto tomou em conta a utilização de formas deslizantes, pré-montagem de armaduras e estruturas de concreto pré-moldadas. Na Figura 3 é apresentada uma seção transversal do conjunto TA/CF. 7. VERTEDOURO O Vertedouro está localizado à direita da Casa de Força Complementar e foi dimensionado para descarregar uma cheia de 62.000 m3/s, com o Reservatório na El. 97,50 (nível máximo maximorum). É provido de 18 vãos com 20,00 m de largura cada e crista da ogiva na El. 76,00. Sua vazão é controlada por comportas tipo segmento, sendo que a montante e jusante estão previstas comportas ensecadeiras para manutenção. A dissipação da energia das vazões vertidas é feita por meio de uma bacia FIGURA 2 – Seções típicas das barragens curta de dissipação. O Vertedouro possui duas pontes de serviço, uma a montante com tabuleiro na El. 100,00 e outra a jusante com tabuleiro na El. 98,00. Para atender ao cronograma de obras e aumentar a velocidade de construção, a elaboração do projeto tomou em conta a utilização de formas deslizantes, pré-montagem de armaduras e estruturas de concreto pré-moldadas. 8. SUBESTAÇÃO PIMENTAL Esta subestação, do tipo convencional, ao tempo, é composta pelos setores 230, 69 e 13,8 kV e por instalações complementares. O escoamento da energia gerada no sítio Pimental é feito através da linha de transmissão em 230 kV, circuito simples, entre a Subestação de Pimental e a Subestação de Altamira (Eletronorte), com extensão aproximada de 65 km. 9. SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES E SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE EMBARCAÇÕES Para mitigação de impactos socioambientais, foram projetados e construídos um Sistema de Transposição de Peixes e um Sistema de Transposição de Embarcações, descritos a seguir em linhas gerais: UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU 133REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 3 – Seção Tomada d’Água / Casa de Força 9.1 - SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES (STP) O Sistema de Transposição de Peixes, projetado de acordo com as recomendações do Programa de Conservação da Ictiofauna, está localizado à esquerda da Casa de Força Complementar, parcialmente apoiado no talude de jusante da Barragem Lateral Esquerda. Compreende um canal de derivação que busca simular as condições naturais de escoamento no rio. A estrutura de entrada dos peixes está localizada junto ao Canal de Fuga e é provida de uma estrutura de controle por comporta mitra para atração dos peixes. A estrutura de saída fica junto ao barramento, em posição afastada da Tomada d’Água, e é provida de uma estrutura para controle de fluxo e do monitoramento dos peixes. Na Figura 4 é apresentado o Arranjo Geral do STP. 134 WWW.CBDB.ORG.BR 9.2 - SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE EMBARCAÇÕES (STE) O Sistema de Transposição de Embarcações, localizado na região da ombreira direita, se destina a transposição das embarcações que normalmente trafegavam neste trecho do rio Xingu antes da construção da UHE Belo Monte. Para a transposição dos barcos, foi projetado e construído um píer provisório a montante do barramento (que operou durante a primeira fase de desvio do rio), um píer definitivo a montante e um píer definitivo a jusante do barramento. O Sistema também possui as seguintes instalações: Estação de Apoio aos Passageiros, Estação de Controle Operacional, Estacionamento, Oficina, Almoxarifado, Casa de Diesel, Sistema Incêndio, Reservatório e Estação de Tratamento de Água. Na figura 5 é apresentado o Arranjo Geral do STE. 10. DESVIO DO RIO 10.1 - 1ª FASE DE DESVIO Na primeira fase de desvio do rio Xingu, para permitir a construção de todas as estruturas de concreto, o Canal Central, FIGURA 4 – Sistema de Transposição de Peixes localizado entre as ilha Marciana e da Serra, foi fechado por três ensecadeiras, sendo uma a montante e duas a jusante - entre as ilhas Marciana e do Reinaldo e entre esta e a da Serra. Para construção da Barragem Lateral Esquerda, foram executadas ensecadeiras para fechamento dos canais entre as ilhas Marciana, Pimental e do Forno. Assim, toda a água do rio Xingú foi desviada para o Canal Direito, entre a ilha da Serra e a ombreira direita. A cheia máxima de desvio, com tempo de recorrência de 100 anos, foi de 40.262 m³/s. Na Figura 6 é apresentado um arranjo das referidas ensecadeiras. 10.2 - 2ª FASE DE DESVIO Na segunda fase de desvio do rio, parapermitir a construção da Barragem do Canal Direito, este canal foi fechado por duas ensecadeiras, a montante e a jusante, sendo as águas desviadas para o Vertedouro já praticamente concluído nesta etapa da obra. Tendo em vista o curto prazo para construção da Barragem do Canal Direito, com elevado risco de atraso para o início da geração, se optou pela construção, em condições de compactação diferenciadas em relação ao convencional, de uma Ensecadeira Barragem a montante, com a crista na elevação 99,00m, apenas 1,00m abaixo da crista da barragem definitiva. Esta ensecadeira, UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU 135REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 5 – Sistema de Transposição de Embarcações FIGURA 6 – Desvio do rio – 1ª Fase – Arranjo Geral 136 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 7 – Desvio do rio – 2ª Fase – Arranjo Geral UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU 137REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS com altura máxima de 40,00m, extensão de 923,00m e um volume de 2.277.000,00m³, permitiu iniciar o enchimento e a entrada em operação das primeiras turbinas no prazo previsto no cronograma. Na Figura 7 está apresentado o arranjo das ensecadeiras de 2ª fase. As seções típicas estão apresentadas na Figura 4, referente à Barragem do Canal Direito. 11. CONCLUSÕES Foram apresentadas neste artigo as principais características das obras de barramento do rio Xingú no local denominado de sítio Pimental. O lugar é composto pelo único Vertedouro da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, com capacidade para 62.000 m3/s, uma Casa de Força Complementar, com potência instalada de 233,1 MW, por três barragens de terra e enrocamento, tendo a Barragem Lateral Esquerda uma extensão de 5.100 m, um Sistema de Transposição de Peixes e um Sistema de Transposição de Embarcações. Convém ressaltar que a Casa de Força Complementar se destina à geração de energia apenas com as águas destinadas à vazão ecológica no trecho denominado de Volta Grande do Xingú, entre o sítio Pimental e o Canal de Fuga da Casa de Força Principal. O Sistema de Transposição de Peixes foi concebido com a finalidade de reduzir o impacto na migração de peixes ao longo do rio. O Sistema de Transposição de Embarcações, em operação desde a época do desvio de 2ª fase, permite o livre trânsito das embarcações das populações ribeirinhas, silvícolas ou não, reduzindo substancialmente o impacto do empreendimento na vida local. 12. PALAVRAS-CHAVE Belo Monte, sítio Pimental, desvio do rio Xingu 13. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos Engenheiros José Eduardo Moreira e Ronei Carvalho pelos ensinamentos ao longo do desenvolvimento do projeto. E, também, a colaboração dos Engenheiros Breno Sales, Daniela Louvain e Othon Rocha. Anderson Moura Ferreira Graduado em Engenharia Civil com ênfase em Fundações e Estruturas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2007). É mestre também pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2010). Atualmente é Engenheiro Civil Geotécnico da PCE. Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Mecânicas dos Solos, tendo atuado no Projeto Básico Consolidado e Executivo da UHE Belo Monte e em outros projetos na área de Energia e Rejeitos. Recebeu o prêmio Oscar Niemeyer (concedido pelo CREA/ RJ) de reconhecimento técnico-científico pela dissertação de mestrado (2011). Libério Alves Silva Engenheiro Civil formado em 1975 pela Universidade Santa Úrsula. Possui experiência de 34 anos em Projetos Executivos de Usinas Hidrelétricas no Brasil e no exterior. Tendo atuado em diversos Projetos Executivos de Usinas Hidrelétricas, tais como: Samuel, Manso, Serra da Mesa, San Francisco e Baba, sendo esses dois últimos no Equador. Coordenou o Projeto Básico da UHE Belo Monte e atualmente coordena o Projeto Executivo Civil da Usina de Belo Monte. Aurélio Lopes Graduado em Engenharia Civil com especialização em Mecânica dos Solos e Fundações (1972). Possui experiência de 44 anos em Projetos Geotécnicos de barragens, tendo atuado nas empresas IESA, ENGEVIX, ENGE-RIO, SONDOTÉCNICA e PCE. Responsável pela Supervisão Geotécnica em Estudos de Viabilidade, Projeto Básico e Projeto Executivo, ressaltando-se os seguintes projetos: UHE Belo Monte, UHE Picada, UHE Ilha dos Pombos, UHE Sobragi, UHE Balbina, PM Baba (Equador). Atualmente é como Consultor Geotécnico junto às empresas PCE Engenharia e BVP Engenharia. 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Básico Consolidado. 2012. 138 WWW.CBDB.ORG.BR NORMAS EDITORIAIS 1. INTRODUÇÃO Os trabalhos a serem apresentados ao Conselho Editorial da Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB deverão ser inéditos, não tendo sido antes publicados por quaisquer meios. Apenas profissionais qualificados deverão ser aceitos como autores. Profissionais recém-formados ou estagiários poderão ser aceitos, desde que participem como colaboradores. 2. EXTENSÃO DO TRABALHO Os trabalhos, para serem aceitos para divulgação, deverão ter no máximo dez páginas, incluindo as ilustrações, esquemas e o sumário em português e inglês. Os trabalhos que excederem este número de páginas serão devolvidos aos autores para sua eventual redução. 3. TIPO DE ARQUIVO MAGNÉTICO Os trabalhos a serem recebidos pelo Conselho Editorial da Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB deverão estar em formato Word 97 for Windows ou superior. Não serão recebidos arquivos em separado, isto é, com o texto e as ilustrações em arquivos diferentes. As ilustrações deverão ser agrupadas no corpo dos trabalhos em formato JPEG. 4. NÚMERO DE AUTORES E COAUTORES Os autores e coautores estão limitados a um número máximo de quatro, ou seja, um autor e até três coautores. Os trabalhos com mais de quatro participantes serão devolvidos aos autores para atendimento a esta diretriz. Caso haja mais colaboradores no trabalho, os mesmos poderão ser citados em Agradecimentos (ver item 10). 5. CONFIGURAÇÃO DE PÁGINA A configuração de página deve obedecer a seguinte formatação: Margens: - Superior: 2,5 cm; - Inferior : 2,0 cm; - Esquerda: 2,5 cm; - Direita: 2,5 cm; - Medianiz: 0 cm. A partir da margem: - Cabeçalho: 1,27 cm; - Rodapé: 1,27 cm. Tamanho do Papel: - A4 (21 x 29,7 cm); - Largura: 21 cm; - Altura: 29,7 cm; - Orientação: retrato em todo o trabalho. 6. PADRÃO DE LETRAS E ESPAÇAMENTO Os trabalhos deverão ser digitados em arquivo Word 97 for Windows ou superior, com as seguintes formatações de fonte: Fonte: - Arial; - Tamanho 12 em todo o trabalho. Parágrafo: - Espaçamento entre linhas: simples; - Alinhamento: justificado; - Marcadores como o desta linha (traço) poderão ser utilizados sempre que necessário. 7. PÁGINA DE ROSTO Apenas na primeira página deverá constar o Cabeçalho (ver item 7.1). O título do trabalho deverá ser escrito a 60 mm do topo (configurar apenas esta página com margem superior de 6 cm), em letra maiúscula, em negrito e centralizado na página. Na sequência deverão ser apresentados os nomes dos autores, com os respectivos títulos profissionais e instituição (ver item 7.3). Em seguida, o Resumo e o Abstract (ver item 7.4). A página de rosto deve ser limitada a uma única página, ou seja, todas as informações necessárias devem estar nela contidas (título, nome e cargo dos autores, Resumo e Abstract). 7.1 - Cabeçalho O Cabeçalho, a ser apresentado apenas na página de rosto, está indicado no exemplo a seguir. A fonte é Arial 10, iniciais em maiúscula ou versalete (conforme a versão do Word 97 for Windows ou superior). Na primeira linha deve ser digitado: Comitê Brasileiro de Barragens. Na segunda linha: Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB. Na terceira linha: a data; exemplo: 11 de abril de 2013. 7.2 – Título do trabalho O título do trabalho deve ser digitado em letra maiúscula, negrito e alinhamentocentralizado. Este é o único item do trabalho que recebe negrito. 7.3 – Autores e coautores Os nomes dos autores deverão ser apresentados com apenas um dos sobrenomes todo em letras maiúsculas. Abaixo do nome de cada um dos autores deverá ser indicado, com letras maiúsculas iniciais, o título profissional (Consultor, Título Universitário, Diretor Técnico, Coordenador Geral, etc) e ao lado, separado por um traço, a empresa ou instituição do autor (ver também item 4). 7.4 – Resumo / Abstract (item sem numeração) Cada trabalho deverá ser iniciado por um resumo em português, não excedendo dez linhas, seguido de um resumo (também de no máximo dez linhas) em inglês (Abstract), para permitir seu cadastramento por organismos internacionais. Para auxiliar na versão dos resumos para o inglês, consultar os dicionários técnicos do CBDB/ICOLD disponíveis no site www.cbdb.org.br. Serão devolvidos os trabalhos que não apresentarem adequadamente o Resumo e o respectivo Abstract. Quando houver necessidade, o Resumo e o Abstract poderão ter mais que dez linhas, desde que caibam na página de rosto e não haja discordância com os demais itens desta diretriz. 8. ITEMIZAÇÃO GERAL Os itens principais do trabalho deverão ser numerados sequencialmente, com a Introdução recebendo o N° 1 e as Referências Bibliográficas recebendo o número final. Estes deverão ser digitados com letra maiúscula e centralizados na linha, com recuo esquerdo de 0,50 cm. Exemplo: 1. INTRODUÇÃO Os itens secundários serão alinhados sempre à esquerda, com a designação sequencial, por exemplo: 2.1, 2.2, 2.3, etc., em minúsculo com apenas a primeira letra em maiúsculo, usando a formatação em maiúscula ou versalete, conforme a versão do Word 97 for Windows ou superiror. Caso haja a necessidade de nova itemização, a mesma deverá ser, por exemplo: 3.1.1, 3.1.2, 3.1.3, etc., em itálico, com as letras minúsculas e somente a primeira letra maiúscula. Exemplo: 2.1 Item Secundário 2.1.1 Item Terciário O primeiro parágrafo, após cada item ou subitem, deverá ser iniciado uma linha após o título do item (ou subitem), com alinhamento justificado. A primeira palavra deverá começar junto à margem esquerda. Entre um parágrafo e outro deverá sempre ser deixada uma linha de espaçamento, sendo que entre a última linha do último parágrafo e o item seguinte deverão ser deixadas duas linhas. 9. CONCLUSÕES Neste item o(s) autor(es) deverá(ão) apresentar de forma bem sucinta as principais conclusões ou recomendações que resultaram de sua pesquisa, trabalho ou relato de um determinado evento técnico. (Adaptado das “Diretrizes para apresentação de trabalhos para seminários, simpósios e workshops organizados pelo CBDB” do XXIX Seminário Nacional de 139REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Grandes Barragens (SNGB), Porto de Galinhas, PE, 2013). Trabalhos sem uma conclusão final serão devolvidos aos autores para as devidas complementações. 10. AGRADECIMENTOS (item opcional) A critério do autor, poderão ser apresentados agradecimentos às empresas e/ou pessoas que contribuíram para a elaboração do trabalho, sempre após o item Conclusões. 11. PALAVRAS-CHAVE Após os Agradecimentos, deverá ser apresentada uma relação de no mínimo três e no máximo cinco palavras-chave, para possibilitar a localização do trabalho em função das mesmas na versão eletrônica dos anais (CD). Caso não haja Agradecimentos, o item Palavras-Chave deverá ser apresentado após o item Conclusões. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS O item Referências Bibliográficas é o último. Ele encerra o trabalho. Deverá estar posicionado após o item Palavras-Chave. O padrão para a apresentação das referências bibliográficas é o mesmo da Comissão Internacional das Grandes Barragens (ICOLD), conforme diretrizes a seguir, com exemplo ilustrativo: Todas as referências bibliográficas deverão ser indicadas no texto com a numeração respectiva; Todas as referências apresentadas deverão ser numeradas sequencialmente (na ordem em que aparecem no texto) mostrando o número em destaque e entre colchetes após a citação; O nome do(s) autor(es) deverá(ão) ser apresentado(s) em letras maiúsculas, com o sobrenome por extenso, seguido das iniciais do primeiro nome e dos nomes intermediários, separadas por ponto; Na sequência, deverá ser indicado, entre parênteses, o ano de publicação dos anais ou do livro consultado, com hífen ao final; Na sequência, indicar entre aspas o título do trabalho ou do livro consultado, com apenas a primeira letra maiúscula e com vírgula ao final; Indicar na sequência os anais em que o trabalho foi apresentado, seguido do tema, volume dos anais e país ou cidade em que o mesmo foi realizado. Exemplo: O texto deverá estar com alinhamento justificado e recuo especial com deslocamento de 1,00 cm (Formatar Parágrafo). Exemplo: [1] DUNNICLIFF, J. (1989) – “Geotechnical Instrumentation for Field Performance”, livro editado pela John Wiley & Sons, Inc., New York; [2] HOWLEY, I., McGRATH, S. e STEAWRT, D. (2000) – “A Business Risk Approach to PrioritizingDam Safety Upgrading Decisions”, Anais Congresso Internacional ICOLD, Beijing, Q.76 – R.17; [3] SILVEIRA, J.F.A. (2003) – “A Medição do Coeficiente de Poisson em uma de Nossas Barragens”, Anais XXV Seminário Nacional de Grandes Barragens – CBDB, Salvador, BA. 13. ILUSTRAÇÕES As eventuais ilustrações dos trabalhos técnicos, sejam elas figuras, gráficos, desenhos ou fotos, deverão estar sempre incorporadas ao texto, não devendo ser apresentadas em separado. Ao formatar a figura, o layout deve ter a disposição do texto alinhada e o texto deve estar com o alinhamento centralizado. Todas as referidas ilustrações deverão ser identificadas pela palavra “FIGURA” e numeradas sequencialmente. A palavra “FIGURA”, sua numeração e título deverão ser apresentados imediatamente abaixo das respectivas ilustrações, também com o alinhamento centralizado. O título de cada figura deverá ser escrito com a primeira letra em maiúsculo. A referência a elas no texto do trabalho deve ser em minúsculo, apenas com a inicial em maiúscula. As fotos ou outras ilustrações quaisquer poderão ser apresentadas em cores, sempre que necessário. Caso sejam utilizadas cores para representar desenhos e figuras, deverá haver convenções de representação que permitam identificações independentes da cor. As ilustrações poderão ser apresentadas com a orientação retrato ou paisagem, ou seja, poderão ser giradas na página de forma a mudar a sua orientação. A configuração da página deve permanecer sempre orientada como retrato para garantir a posição do rodapé uniforme em todo o documento (ver item 5). Desta forma, o título da ilustração também permanecerá com a orientação retrato. Não serão aceitos trabalhos com as ilustrações em separado ou em outro programa que não seja o Word 97 for Windows ou superior. 14. TABELAS As tabelas deverão ser incorporadas ao texto, não devendo ser apresentadas em separado. A tabela deverá ter alinhamento centralizado. O tamanho da fonte pode ser inferior ao especificado para todo o trabalho (Arial 12), desde que o conteúdo permaneça legível e a fonte não seja inferior a Arial 7. Todas as referidas tabelas deverão ser identificadas pela palavra “TABELA” e numeradas sequencialmente. A palavra “TABELA”, sua numeração e título deverão ser apresentados abaixo da mesma e também centralizados. O título das tabelas deverá ser escrito com a primeira letra em maiúsculo. A referência a elas no texto do trabalho deve ser em minúsculo, apenas com a inicial em maiúscula. As tabelas poderão ser apresentadas com a orientação retrato ou paisagem, ou seja, poderão ser giradas na página de forma a mudar a sua orientação. A configuração da página deve permanecer sempre orientada como retrato, para garantir a posição do rodapé uniforme em todo o documento (ver item 5). Desta forma, o título da tabela também permanecerá com a orientação retrato. 15. SIMBOLOGIA EFÓRMULAS Todas as grandezas físicas deverão ser expressas em unidades do Sistema Métrico Internacional. As equações e fórmulas devem ser localizadas à esquerda e numeradas, entre parênteses, junto ao limite direito na mesma linha, deixando uma linha em branco entre as equações/fórmulas e o texto. Todos os parâmetros das equações e fórmulas deverão ser indicados com suas respectivas unidades. A referência a elas no texto do trabalho deve ser com a palavra “Equação” ou “Fórmula” e o respectivo número ao lado, ou seja, em minúsculo, apenas com a inicial em maiúscula. 16. TEMÁRIO / CONTRIBUIÇÕES O tema deverá ser indicado pelo autor, quando do encaminhamento do trabalho ao Conselho Editorial da Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB. Caso o Conselho Editorial não concorde com o assunto selecionado pelo autor, este poderá ser eventualmente deslocado para outro tópico. Se o trabalho não se encaixar em nenhum dos temas selecionados para o evento mas apresentar bom nível ténico, poderá ser publicado como Contribuição Técnica. 17. LÍNGUA Todos os trabalhos a serem publicados na Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB deverão ser elaborados em língua portuguesa, assim como todas as ilustrações que o acompanham deverão conter legenda também em português. Apenas os trabalhos citados como referências bibliográficas deverão estar na língua original em que os mesmos foram elaborados. Os trabalhos eventualmente recebidos pelo Conselho Editorial em outro idioma (que não seja o acima mencionado) serão encaminhados de volta aos autores para sua tradução para o português. 18. LICENÇA PARA PUBLICAÇÃO DOS TRABALHOS Para que o trabalho seja aceito é necessário que um dos autores envie autorização devidamente preenchida e assinada. Categorias de Associação Público alvo Cotas mínimas* SÓCIO INDIVIDUAL Profissional atuante no setor 2 SÓCIO CORPORATIVO Empresa interessada no desenvolvimento do setor 10 SÓCIO MASTER Empresa interessada no desenvolvimento do setor, com direito exclusivo de eleger parte do Conselho Deliberativo do CBDB 50 REPRESENTAÇÃO INTERNACIONAL O CBDB representa no Brasil a Comissão Internacional de Grandes Barragens (CIGB-ICOLD), organização não governamental que congrega os interesses profissionais de construtores e idealizadores de barragens e reservatórios de cerca de 96 países membros. NÚCLEOS REGIONAIS Sediado no Rio de Janeiro, o CBDB possui núcleos em vários estados brasileiros, incentivando a disseminação do conhecimento sobre barragens e o intercâmbio técnico entre os associados. ATUAÇÕES ESTRATÉGICAS O CBDB teve atuação decisiva para a criação da Lei de Segurança de Barragens, nas Recomendações de Interesse Público Contra a Redução da Capacidade de Armazenamento de Água nos Reservatórios das Hidrelétricas Brasileiras e tem Acordos de Cooperação Técnica com o CEASB - Centro de Estudos Avançados em Segurança de Barragens, e com a ANA - Agência Nacional de Águas. DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO Mantém Comissões Técnicas nas quais se pesquisam e organizam informações com emissão de Boletins Técnicos, referência para a engenharia brasileira em diversas áreas do conhecimento técnico. EVENTOS A cada dois anos, o CBDB promove o Seminário Nacional de Grandes Barragens e, anualmente, cursos, palestras, workshops e simpósios onde são discutidos os progressos da engenharia de barragens. PUBLICAÇÕES O CBDB promove a discussão de assuntos técnicos e institucionais por meio das Comissões Técnicas, prepara e edita a Revista Brasileira de Engenharia de Barragens, boletins de notícias e boletins normativos. Nos livros editados, destacam-se Brazilian Dams I, II e III, entre outros. SEJA SÓCIO DO CBDB - VANTAGENS & BENEFÍCIOS ▶ Acesso a apresentações e discussões de artigos técnicos em congressos e eventos de amplitude nacional e internacional. ▶ Participação em comissões técnicas cujo objetivo é a preparação e edição de boletins técnicos e normativos. ▶ Participação no desenvolvimento de artigos técnicos e de divulgação de obras executadas por empresas brasileiras na Revista Brasileira de Engenharia de Barragens. ▶ Acesso à extensa bibliografia internacional do CIGB-ICOLD cobrindo todos os aspectos ligados à realização de barragens e reservatórios. ▶ Participar do Banco de Especialistas em Barragens do CBDB. ▶ Realizar contatos e networking visando o desenvolvimento técnico e criando a oportunidade de novos negócios. ▶ Realizar intercâmbio com especialistas em aspectos particulares de projetos de barragens, construção e operação de reservatórios. ▶ Participar de cursos, palestras, workshops e simpósios sobre temas como segurança de barragens, projetos e operação de empreendimentos e equipamentos associados. ▶ Acesso às informações completas do Cadastro Nacional de Barragens. Núcleos Regionais do CBDB Sócios do CBDB RR AP AM PA MA PI TO BRASIL RO AC MT RN PB PE AL SE ES RJ RS SC PR SP MG GO DF BA CE MS * Valor da cota estipulado para o ano de 2017: R$ 85,00 CBDB - COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS www.cbdb.org.br | +55 21 2528.5320 facebook.com/comitebrasileirodebarragens O Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB - é uma instituição técnico-científica criada em 1961, sem fins lucrativos, que incentiva a cultura de segurança de barragens. Tem como missão “estimular o desenvolvimento, a aplicação e a disseminação das melhores tecnologias e práticas da engenharia de barragens e obras associadas”. Defende institucionalmente os interesses da sociedade e das empresas privadas e públicas, além de propiciar o debate e o desenvolvimento dos assuntos técnicos e legais associados ao setor. Coordena o Cadastro Nacional de Barragens, que concentra dados técnicos das barragens brasileiras, e mantém extensos bancos de dados sobre obras de barragens brasileiras e diversos trabalhos relacionados. São mais de 50 empresas sócias e mais de 1.400 sócios individuais. CBDB: Água e energia para a vida AnuncioCBDB21x28.indd 1 11/04/17 12:01 _GoBack _GoBack _GoBack _GoBack