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Fo to s: D iv ul ga çã o B el o M on te REVISTA BRASILEIRA DE COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS ANO IV Nº 04 MAIO 2017 COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS EDIÇÃO ESPECIAL BELO MONTE COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS – CBDB REPRESENTANTE DA COMISSÃO INTERNACIONAL DE GRANDES BARRAGENS (ICOLD-CIGB) NO BRASIL DIRETORIA PRESIDENTE BRASIL PINHEIRO MACHADO VICE-PRESIDENTE FABIO DE GENNARO CASTRO DIRETOR-SECRETÁRIO LUCIANO NOBRE VARELLA DIRETOR DE COMUNICAÇÕES RICARDO AGUIAR MAGALHÃES DIRETOR TÉCNICO CARLOS HENRIQUE MEDEIROS SUPERINTENDENTE PEDRO PAULO SAYÃO BARRETO NÚCLEOS REGIONAIS - DIRETORES BA - ROBERTO FACHINETTI CE - ANA TERESA DE SOUSA PONTE GO/DF - ÁLVARO ARAÚJO MG - TERESA CRISTINA FUSARO PR - CARLOS INFANTE PE - AURÉLIO ALVES DE VASCONCELOS RJ - CELSO JOSÉ PIRES FILHO RS - LÚCIA WILHELM VÉRAS DE MIRANDA SC - SÉRGIO CORRÊA PIMENTA SP - FABIO LUIZ RAMOS DE ABREU COMISSÕES TÉCNICAS NACIONAIS - COORDENADORES BARRAGENS DE CONCRETO JOSÉ MARQUES FILHO BARRAGENS DE ENROCAMENTO COM FACE DE CONCRETO E NÚCLEO DE ASFALTO BAYARDO MATERON BARRAGENS DE REJEITOS JOAQUIM PIMENTA DE ÁVILA BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO RICARDO AGUIAR MAGALHÃES CONDICIONANTES REGULATÓRIOS À REALIZAÇÃO DE BARRAGENS E RESERVATÓRIOS RAYMUNDO GARRIDO FORMAS DE CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO RICARDO HEY ANDRZEJEWSKI HIDRÁULICA EM BARRAGENS BRASIL PINHEIRO MACHADO IMPACTO AMBIENTAL DE BARRAGENS E RESERVATÓRIOS SANDRA ELISA FAVORITO RAIMO OBRAS DE PROTEÇÃO E CONTENÇÃO DE FLUXO DE DETRITOS DIMITRY ZNAMENSKY REGISTRO DE BARRAGENS SÉRGIO CORRÊA PIMENTA SEGURANÇA DE BARRAGENS CARLOS HENRIQUE MEDEIROS USOS MÚLTIPLOS DE RESERVATÓRIOS FÁBIO DE GENNARO CASTRO CBDB - Comitê Brasileiro de Barragens Rua Real Grandeza, 219 - Bloco C - Sala1007 Bairro Botafogo - Rio de Janeiro/RJ - Brasil CEP 22281-900 FAX 055 21 2528 5959 TELEFONES 055 21 2528 5320 | 055 21 2528 5283 E-MAIL cbdb@cbdb.org.br WEB www.cbdb.org.br ICOLD - International Commission on Large Dams CIGB - Commission Internationale des Grands Barrages Comissão Internacional de Grandes Barragens 61, avenue Kléber - 75116 - Paris - France TÉL. FAX +33 1 4704 1780 FAX +33 1 5375 1822 E-MAIL secretaire.general@icold-cigb.org WEB http://www.icold-cigb.net COMITÊ EXECUTIVO BRASIL PINHEIRO MACHADO CARLOS HENRIQUE MEDEIROS RICARDO AGUIAR MAGALHÃES GERÊNCIA DE PUBLICAÇÕES PEDRO PAULO SAYÃO BARRETO COORDENAÇÃO EDITORIAL RICARDO AGUIAR MAGALHÃES JORNALISTA RESPONSÁVEL CLÁUDIA RODRIGUES BARBOSA PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO URSULA FUERSTENAU FOTOLITO / IMPRESSSÃO GRÁFICA PALLOTTI TIRAGEM 1.000 EXEMPLARES Publicação de responsabilidade do CBDB COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS A Revista Brasileira de Engenharia de Barragens (RBEB) é uma publicação técnica aperiódica do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), distribuída em todo o território nacional e direcionada aos profissionais que atuam na Engenharia de Barragens em geral e em obras associadas. Os artigos assinados são de expressa responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do CBDB. Todos os direitos reservados ao CBDB. Nenhuma parte de seus conteúdos pode ser reproduzida por qualquer meio sem a autorização, por escrito, dos editores. A Revista Brasileira de Engenharia de Barragens (RBEB) tem por objetivo a publicação de artigos científicos e de relatos técnicos inerentes à Engenharia de Barragens em geral, de modo a explicitar os conhecimentos técnicos atualizados, que sejam úteis tanto para a operação das empresas que projetam, constroem ou operam barragens, como para os centros de pesquisa e as universidades que se dedicam ao desenvolvimento da Engenharia de Barragens. O Conselho Editorial, abaixo nominado, é o órgão responsável pela definição da linha editorial e pela qualidade técnica dos trabalhos. Está composto por membros selecionados entre os sócios do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) com comprovada experiência profissional ou acadêmica em cada um dos 16 temas a seguir relacionados. TEMAS E COMPOSIÇÃO DO CONSELHO EDITORIAL HIDRÁULICA E VERTEDORES MARCELO GIULIAN MARQUES, NELSON LUIZ DE SOUZA PINTO GEOTECNIA E FUNDAÇÕES ALBERTO DE SAMPAIO FERRAZ JARDIM SAYÃO, MILTON ASSIM KANJI GEOLOGIA DE ENGENHARIA RICARDO ANTÔNIO ABRAHÃO HIDROLOGIA HEINZ DIETER FILL, MÁRIO CICARELLI PINHEIRO ENERGIA FLÁVIO MIGUEZ DE MELLO, JERSON KELMAN, FRANCISCO LUIZ SIBUT GOMIDE CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS SELMO SHAPIRA KUPERMAN, WALTON PACELLI DE ANDRADE, JOSÉ MARQUES FILHO EQUIPAMENTOS HIDROMECÂNICOS PAULO CEZAR FERREIRA ERBISTI, JOÃO CARLOS MATHEUS BARRAGENS DE TERRA E DE ENROCAMENTO CIRO HUMES, PAULO TEIXEIRA DA CRUZ, CÁSSIO BAUMGRATZ VIOTTI BARRAGENS DE FACE DE CONCRETO E DE NÚCLEO ASFÁLTICO BAYARDO MATERÓN, CIRO HUMES INSTRUMENTAÇÃO ARSENIO NEGRO JR., JOÃO FRANCISCO ALVES SILVEIRA, RUBEN JOSÉ RAMOS CARDIA BARRAGENS DE CONCRETO COMPACTADO A ROLO (CCR) FRANCISCO RODRIGUES ANDRIOLO, WALTON PACELLI DE ANDRADE MEIO AMBIENTE MARÍLIA PIRONI SCOMBATTI, SÍLVIA HELENA PIRES SEGURANÇA DE BARRAGENS CARLOS HENRIQUE DE A. C. MEDEIROS, TERESA CRISTINA FUSARO TÚNEIS TARCÍSIO BARRETO CELESTINO RECURSOS HÍDRICOS BENEDITO PINTO FERREIRA BRAGA JÚNIOR MUDANÇAS CLIMÁTICAS MARIA ASSUNÇÃO FAUS DA SILVA DIAS 3REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS EDITORIAL Edição Especial - Belo Monte Nesta Edição Especial dedicada ao Complexo Belo Monte, localizado no rio Xingu, no Estado do Pará, apresentamos inovações de Engenharia resultantes de muito empenho na interpretação do sítio e amplo debate sobre formas de aproveitamento responsável da Amazônia. Os artigos aqui publicados fornecem visão geral e detalhes técnicos relevantes sobre este grandioso empreendimento, com soluções que comprovam a qualidade e expertise da Engenharia de Barragens brasileira. A logística complexa das estruturas do empreendimento é compartilhada pelos autores, bem como o planejamento construtivo, inclusive de aspectos importantes em relação às barragens de terra e terra-enrocamento. Veremos os desafios para a construção dos diques e do Canal de Derivação, considerado o maior canal artificial do mundo, com extensão de 16 km. Conectado pelo Reservatório Intermediário, que consiste em um lago artificial paralelo à calha do rio Xingu, o Canal de Derivação não possui precedente em termos de vazão de adução. Seu volume de escavação foi superior a 100 milhões de m3, fato que exigiu rigoroso estudo das etapas de construção e da disposição dos materiais escavados. Conceitos de Engenharia conduziram para a definição da geometria e o resultado foi a concepção do manejo e sistema de drenagem dos igarapés que afluem ao Canal. A Revista aborda também os condicionantes geológico-geotécnicos e as soluções adotadas para construir, na área do Graben do Macacão, um espigão de arenito que funciona como barragem natural na região geológica. Segundo os autores, as técnicas utilizadas para este desafio são diferentes das usadas nas fossas tectônicas, com flancos trapezoidais não alongados e arcabouço estrutural controlado por linhas de fraqueza, constituindo zonas de falhas em degraus. A UHE Belo Monte é do tipo fio d’água, ou seja, ela permite a geração de mais energia no período de cheia e menos energia no período de seca, com foco nos condicionantes sociais e ambientais inerentes ao entorno do local de implantação do empreendimento. Em outras palavras: a UHEBM não opera com reservatório de regularização. Chama a atenção a estrutura do Vertedouro com elevado grau de afogamento por jusante, o que diferencia sua concepção. Tabelas, fórmulas e muitas imagens demonstram aos leitores dados de projeto, construção e controle tecnológico das estruturas de concreto. Cabe ressaltar o conteúdo sobre a avaliação do desempenho das dosagens de concreto à resistência à compressão axial, com foco na economia de recursos e no consumo dematerial cimentício. Acompanhe a descrição do sistema AutoLab, que gerencia processos de coleta, análise das informações da Central de Concreto e Laboratório, em tempo real, para Controle de Qualidade. São relatados os procedimentos e aspectos do monitoramento e do desempenho através do Plano de Segurança de Barragens (PSB), que monitora as barragens, os diques e as demais estruturas - apoiadas sobre os mais diversos tipos de fundação. Esperamos que vocês tenham uma boa e proveitosa leitura sobre projeto, construção e operação do Complexo UHE Belo Monte e seus grandes desafios. Carlos Henrique Medeiros Diretor Técnico CBDB ARTIGOS SUMÁRIOSUMÁRIO Tema: Energia Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Geotecnia e Fundações Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Hidráulica e Vertedores Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais Tema: Energia Tema: Segurança de Barragens A construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte - quarta maior do mundo em capacidade instalada 05 UHE Belo Monte - Canal de Derivação: maior canal artificial do mundo para geração hidrelétrica 22 Reservatório Intermediário conecta Canal de Derivação à Casa de Força Principal 31 Condicionantes geológico-geotécnicos e soluções de tratamento dos arenitos do Graben do Macacão 52 Material cimentício para o Projeto Belo Monte59 Análise da eficiência dos concretos do Projeto Belo Monte 69 Verificação da estabilidade de revestimento em enrocamento no fundo do Canal de Derivação da UHE Belo Monte 79 Revisão de conceitos para projetos de vertedouros de baixa queda com elevado grau de submergência – aplicação ao Vertedouro de Belo Monte 86 Estudos hidráulicos de alternativas de defletores de gabiões para o Canal de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte 92 Autolab - Sistema de Gerenciamento do Controle Tecnológico 108 Minimização de infiltrações entre concreto de primeiro e segundo estágios para turbinas tipo Bulbo 122 UHE Belo Monte - sítio Pimental e o desvio do Xingu129 O sítio Belo Monte e seus desafios para atingir 11.000 MW 100% brasileiros 99 Segurança de Barragens da UHE Belo Monte39 4 WWW.CBDB.ORG.BR Atualização dos Inventários Hidroenergéticos dos rios brasileiros Erton Carvalho O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) dá sequência aos dois projetos selecionados como os mais importantes pela entidade para todo o País: a implementação da Lei de Segurança de Barragens (lei nº 12.334 de 20 de setembro de 2010) e a campanha para priorizar o uso múltiplo da água. Dentro dessas relevantes tarefas, convém ressaltar a análise da atual situação do Inventário dos Potenciais Hidroelétricos das Bacias Hidrográficas Brasileiras. Afinal, após a década de noventa, o referido Inventário vem sendo limitado mediante o uso exclusivo de reservatórios sem contemplar volumes para a regularização de vazões. O sistema elétrico nacional tem como suporte os grandes reservatórios, implantados no período de 1960 a 1980, que totalizam mais de 250 bilhões de m3 de volume útil. A atual política é de disponibilizar para o nosso sistema elétrico aproveitamentos denominados a fio d’ água, isto é, com reservatórios sem volumes para a regularização de vazões. Basta dizer que no período de 1990 a 2015, o volume útil total disponibilizado nos reservatórios foi somente da ordem de 8,5 bilhões de m3. A proposição do CBDB é implementar e disponibilizar os reservatórios para atender ao uso múltiplo da água. Recentemente, as crises de abastecimento para o uso do homem foram marcadas pela falta de água em cidades brasileiras do porte de São Paulo, por exemplo. A capital paulista foi precisou enfrentar um rigoroso racionamento. As justificativas são as limitações impostas pelos órgãos ambientais devido aos impactos causados pelos reservatórios ao meio ambiente. Eles deveriam ser também analisados considerando as consequências devido à obrigatória substituição da energia hidráulica pela energia gerada com o uso de combustíveis fósseis - que emitem gases de efeito estufa, o que contribui para as mudanças climáticas no globo terrestre. Ambas são responsáveis pelo suporte de energia na base do sistema elétrico brasileiro. O principal impacto ambiental produzido pelos reservatórios ocorre com maior importância no próprio curso d’água, com ou sem reservatório de regularização de vazões. O impacto complementar com o acréscimo dos volumes para obter regularização de vazões pode ser compensável com reposição ou indenização de bens tangíveis, e assistência educacional e social às populações atingidas. O Inventário das Bacias Hidrográficas Brasileiras foi iniciado com o trabalho realizado pelo grupo CANAMBRA, que fez o Inventário Hidrelétrico de toda a região Centro-Sul do País. Tal produção contou com o fundamental apoio organizacional e técnico da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), de Furnas Centrais Elétricas S.A. e da Companhia Energética de São Paulo. Surgiram, então, as primeiras grandes hidrelétricas nacionais. Entre elas estavam: as usinas de Furnas (no rio Grande), Três Marias (no rio São Francisco) e, ainda, as hidrelétricas do Complexo Urubupungá e as usinas de Jupiá e Ilha Solteira, no rio Paraná. Os Inventários das Bacias Hidrográficas dos rios Tocantins e Araguaia e da Bacia Amazônica foram realizados pela Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (ELETRONORTE). Desse inventário, destaque para os empreendimentos em fase de geração no rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), Tucuruí no rio Tocantins e Belo Monte no rio Xingu. Em decorrência da importância em aperfeiçoar o uso dos nossos recursos hídricos, o CBDB enviou, em dezembro de 2013, uma carta dirigida para a Presidência da República. O documento solicitava providências para que o órgão responsável providenciasse uma atualização do citado inventário, de modo a considerar os reservatórios de regularização de vazões. Ressalvamos que tal providência vem ao encontro das atuais e futuras necessidades do Brasil. HOLOFOTE Erton Carvalho. Engenheiro Civil, especialização em Hidrologia e Hidraúlica. Foi Professor Assistente da Universidade Federal de Goiás e Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Experiência de 50 anos em estudo e projetos de empreendimentos hidráulicos tais como Aproveitamento Hidrelétrico de Capanda (Angola), UHE Santo Antonio, Itumbiara, Corumbá , Serra da Mesa e Teles Pires, entre outros. Experiência em inspeção e auditoria de barragens construídas. Publicou 32 artigos em Congressos Internacionais e Nacionais. Palestrante sobre os temas: Matriz Energética Brasileira, Desvio de Rios, Desempenho de vertedouros e Segurança de Barragens. No Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB: Diretor Administrativo -Financeiro, Diretor de Comunicações, Diretor Técnico e Presidente. 5REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS ENERGIA A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA José BIAGIONI de Menezes | Diretor de Construção – Norte Energia S.A. Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia – Norte Energia S.A. Daniel Teixeira LEITE | Engenheiro Civil Sênior – Norte Energia S.A. O Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, cujo objetivo é a geração de energia elétrica, está sendo construído no rio Xingu, no Estado do Pará, abrangendo áreas dos municípios de Altamira e Vitória do Xingu. A operação comercial de sua primeira unidade geradora iniciou em abril de 2016. Até março de 2017, já tinham sido instaladas cinco unidades geradoras com turbinas Francis e potência nominal igual a 611,1 MW, no sítio Belo Monte, e mais seis unidades geradoras do tipo Bulbo com turbinas Kaplan de eixo horizontal e potência nominal igual a 38,85 MW, no sítio Pimental. Com isso, o totalde potência instalada foi de 3.288,6 MW. O número representa 29% da potência total a ser instalada: 11.233,1 MW - o que corresponde a 24 unidades geradoras nas duas Casas de Força. O arranjo das estruturas compreende quatro sítios distintos e distantes entre si, desde as obras do barramento principal no Xingu, no sítio Pimental, até o local onde está sendo construída a Casa de Força Principal, no sítio Belo Monte. A distância em linha reta de cerca de 40 km torna esse empreendimento diferente de qualquer outro já construído no Brasil ou no exterior, em complexidade e logística. São seis barragens de terra e terra-enrocamento, 30 diques, um Canal de Cerivação (considerado o maior canal artificial do mundo), duas Casas de Força, e um Vertedouro com 18 comportas e capacidade de vertimento de 62.000 m³/s. Todo esse complexo de obras civis necessário para permitir o início enchimento dos reservatórios principal e intermediário, foi executado num tempo recorde de 4,2 anos. Sua conclusão ocorreu em fevereiro de 2016. Aproximadamente 35 mil trabalhadores estiveram envolvidos com a empreitada durante o pico das obras. Atualmente, as obras civis se concentram na montagem das unidades geradoras remanescentes e na execução do concreto de 2° estágio da Casa de Força de Belo Monte. Belo Monte HPP, whose objective is the generation of power has been built on the Xingu River, in the State of Pará, Brazil, it encompassed areas of the towns of Altamira and Vitória do Xingu, it started the commercial operation of its first generating unit in April 2016,. By March 2017 had already been installed with five generating units with Francis turbines with nominal power equal to 611.1 MW in Belo Monte site and six generating units of type bulb with Kaplan Horizontal Axis turbines, with nominal power equal to 38.85 MW in Pimental site, totaling 3,288.6 MW of total amount of 11,233.1 MW to be installed. The layout of the structures comprises four distinct and distant sites, since the works of the main dam on the Xingu River in the Pimental site to Belo Monte, the site of the the main powerhouse, with a straight distance of about 40 km. This one makes this project different from any other one already built in Brazil or abroad, in complexity and logistics, with six earth and earth-rockfill dams, thirty dikes, a power canal considered the largest artificial one in the world, two powerhouses and a spillway with eighteen gates, with a flow capacity of 62,000 m³/s. The entire civil works complex necessary carried out to allow the start of the filling of the main and intermediate reservoirs in a record time of 4.2 years, in November and December 2015 respectively, and its conclusion in February 2016, involving approximately thirty-five thousand workers at the peak of construction. Currently, the civil works are concentrated in the assembly of the remaining generating units and in the placement of the concrete of second stage of Belo Monte powerhouse. RESUMO ABSTRACT 6 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO Construir uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo na região Amazônica foi um dos grandes desafios de engenharia, logística e socioambiental que a Norte Energia S.A. (empreendedora do Complexo Hidrelétrico) e todas as demais empresas envolvidas com a construção da UHE Belo Monte tiveram que enfrentar. O Complexo Hidrelétrico de Belo Monte está sendo construído no rio Xingu, nos municípios de Altamira e Vitória do Xingu, no Estado do Pará. Quando estiver totalmente construído, em 2020, terá uma capacidade nominal instalada de 11.233,1 MW e será a quarta maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, com 24 unidades geradoras, sendo seis do tipo Bulbo com 233,1 MW, no sítio Pimental e 18 unidades do tipo Francis com 11.000 MW, no sítio Belo Monte. O Arranjo Geral do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, que é uma usina a fio d´água, se caracteriza por apresentar sítios de obras distintos e distantes entre si, desde as estruturas do barramento propriamente dito do rio Xingu, no sítio Pimental, até o sítio Belo Monte, onde será construída a Casa de Força Principal do empreendimento. A distância entre estes dois sítios, em linha reta, é de aproximadamente 40 km. Entre estes dois sítios, o sistema de adução da Casa de Força Principal é constituído pelo Canal de Derivação, com 16,2 km de extensão, e pelo Reservatório Intermediário, conformado por diques e canais de transposição. Dentre os principais desafios de engenharia al- cançados nesta obra, des- taque para a produção de 69 milhões de m³ de aterro, a escavação de 166 milhões de m³ de terra e rocha, e o lançamento de 3 milhões de m³ de concreto em um período de 4,2 anos. Em termos de movimentação de obras de terra e rocha, a UHE Belo Monte supera as maiores usinas hidrelétricas do mundo, conforme evi- denciado pela Figura 1. FIGURA 1 – Comparação dos volumes de produção das principais usinas hidrelétricas FIGURA 2 – Arranjo Geral da UHE Belo Monte 2. ARRANJO GERAL A UHE Belo Monte se caracteriza por ser uma grande usina de derivação, onde o barramento principal ocorre no sítio Pimental e a derivação do rio Xingu ocorre pelo maior canal artificial para geração hidrelétrica do mundo, com extensão 16,2 km. Ele alimenta o Reservatório Intermediário, que faz a adução da Casa de Força Principal, no sítio Belo Monte. O empreendimento não possui reservatório de acumulação, operando em regime de fio d´água, sendo que o nível do Reservatório Principal se situa na elevação 97,00 m. A queda bruta da Casa de Força Principal no sítio Belo Monte é da ordem de 91,50 m e a vazão máxima turbinada é de 13.950 m³/s, possibilitando uma potência total nominal instalada de 11.000 MW. A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 7REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 1 – Números da UHE Belo Monte FIGURA 3 – Arranjo do sítio Pimental As principais características das estruturas do sítio Pimental são apresentadas na Tabela 2. EMPREENDIMENTO POTÊNCIA TOTAL INSTALADA: 11.233,1 MW GARANTIA FÍSICA: 4.571 MW MÉDIOS PRAZO DA CONCESSÃO PARA A NORTE ENERGIA, A PARTIR DE 26/08/2010: 35 ANOS ÁREA DOS RESERVATÓRIOS PRINCIPAL: 359 KM²; INTERMEDIÁRIO: 119 KM² E TOTAL: 478 KM² CASAS DE FORÇA: PRINCIPAL, EM BELO MONTE COMPLEMENTAR, EM PIMENTAL SÍTIO BELO MONTE TURBINAS: 18 TIPO FRANCIS POTÊNCIA INSTALADA: 11 MIL MW GARANTIA FÍSICA: 4.419 MW MÉDIOS POTÊNCIA DE CADA UN.: 611,11 MW SÍTIO PIMENTAL TURBINAS: 06 KAPLAN DE EIXO HORIZONTAL POTÊNCIA INSTALADA: 233,1 MW GARANTIA FÍSICA: 152,1 MW MÉDIOS POTÊNCIA GERADORA UNITÁRIA: 38,8 MW 02 DIQUES CANAL DE DERIVAÇÃO EXTENSÃO: 16,2 KM PROFUNDIDADE TOTAL: 25 M LÂMINA D’ÁGUA: 22 M LARGURA NA BASE: 210 M LARGURA NA SUPERFÍCIE: 359 M DIQUES DO RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO QUANTIDADE: 28 DIQUES ATERRO: 31.000.000 M³ DE VOLUME TOTAL DIQUES MAIOR ALTURA: DIQUE 8A, COM 68 METROS MAIOR EXTENSÃO: DIQUE 13, COM 1.987 M MAIOR VOLUME: DIQUE 13, 5.757.662 M³ 2.1 SÍTIO PIMENTAL O sítio Pimental compreende o barramento principal do empreendimento, que contém o Reservatório do rio Xingu, a partir do qual a água é desviada por um canal de derivação para a formação do Reservatório Intermediário. As principais estruturas que fazem parte do sítio Pimental são: Barragem Lateral Esquerda, Casa de Força Complementar com Tomada d’Água incorporada, Vertedouro, Barragem do Canal Direito, Subestação, Sistema de Transposição de Peixes e Sistema de Transposição de Embarcações. A Figura 3 apresenta o Arranjo Geral do sítio Pimental. São apresentados alguns números referentes à UHE Belo Monte na Tabela 1. VERTEDOURO O Vertedouro apresenta perfil vertente do tipo Creager, com crista da ogiva na El. 76,00 m e com 18 comportas com dimensões de 20,0 m de largura e 22 m de altura (cada). O Vertedouro foi dimensionado para uma vazão de projeto de 62.000 m³/s, com nível do reservatóriona El. 97,50 m, correspondente à Cheia Máxima Provável (CMP). 8 WWW.CBDB.ORG.BR CASA DE FORÇA E TOMADA D’ÁGUA A Casa de Força é composta por seis unidades geradoras do tipo Kaplan de eixo horizontal (Bulbo), com potência unitária de 38,85 MW. A Casa de Força possui três blocos com 38,10 m (cada um abrigando duas unidades geradoras). Por se tratar de um aproveitamento de baixa queda, a Tomada d’Água e a Casa de Força formam uma única estrutura. SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES O Sistema de Transposição de Peixes está localizado adjacente à Casa de Força. Este sistema apresenta um comprimento total de 1.200 m e é constituído por quatro partes principais: canal com diques dotados de aberturas para passagem dos peixes, canal de entrada, canal de saída e o sistema de água de atração. O Sistema de Transposição de Peixes foi dimensionado para uma vazão de 40,0 m3/s, sendo 12,0 m3/s no Canal de Transposição de Peixes e 28,0 m3/s de água de atração de peixes. SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE EMBARCAÇÕES O sistema de transposição de embarcações foi implantado na ombreira da margem direita do rio Xingu. O sistema é composto por três semi-canais escavados para aproximação das embarcações. Sobre as estruturas dos semi-canais, foram BARRAGEM DO CANAL DIREITO Localizada na margem direita do rio Xingu, possui 834 m de comprimento e 40 m de altura. Ela possui seção homogênea, com enrocamento incorporado a montante, totalizando um volume de 1.142.121 m³ de aterro. BARRAGEM LATERAL ESQUERDA (BLE) Com 5.100 m de comprimento e altura máxima de 14 m, vai da margem esquerda do rio Xingu até as estruturas de geração e vertedouro (passando pelas ilhas do Forno, Pimental, construídos píeres para a operação de pórticos tipo Travell Lift. No nível do píer foi construída uma plataforma para a manobra e o posicionamento de uma carreta especial auto propelida, denominada transporter. O volume de movimentação de escavação, aterro e concreto foi 415.000,00 m³, 155.000,00 m³ e 9300,00 m³, respectivamente. A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 9REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 2 – Características das estruturas de Pimental Marciana / Reinaldo e pelos canais do rio Xingu). O maciço da BLE apresenta seção homogênea em solo compactado, coroamento de crista na El. 100,00 m, e cut off desincorporado a montante, totalizando um volume de 3.920.000 m³ de aterro. 2.2 SÍTIO CANAIS Para o escoamento da vazão máxima turbinada de 13. 950 m³/s, desde a calha do rio Xingu até o Reservatório Intermediário, que alimenta a Tomada d’Água principal em Belo Monte, foi construído um dos maiores canais de derivação do mundo. Com seção trapezoidal com largura no fundo de 210 m, 25 m de altura e aproximadamente 16,2 km de comprimento, o Canal de Derivação foi totalmente revestido com enrocamento, com a finalidade de controlar e uniformizar a rugosidade ao longo do canal. As obras de Manejo de Igarapés que interceptavam o canal exigiram um projeto de drenagem para desviar e amortecer o fluxo de água afluente à região de escavação. O objetivo foi conduzir as águas dos igarapés interceptados pelo canal para possibilitar a escavação do mesmo, conforme mostrado nas Figuras 4 e 5. FIGURA 4 – Arranjo do Canal de Derivação [2] FIGURA 5 – Fotos ao longo do Canal de Derivação 10 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 6 – Arranjo do Reservatório Intermediário [2] A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 2.3 RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO - DIQUES O Reservatório Intermediário é formado por 28 diques que fecham selas ou talvegues de igarapés e estão distribuídos ao longo de todo o Reservatório. Além destes diques, na região de Belo Monte, o Reservatório é limitado pela Barragem da Vertente de Santo Antonio, pelas Barragens de Fechamento Lateral Esquerda e Lateral Direita, e pela própria Tomada d’Água. Para possibilitar a condução das vazões ao longo do Reservatório Intermediário sem perdas de cargas excessivas, foram escavados sete Canais de Transposição, além de três canais para possibilitar o enchimento do Reservatório Intermediário. Os diques, todos com seção homogênea em terra e construídos com solos migmatíticos, totalizam 31 milhões m3 de aterro. O Dique 8B é o mais alto, com 68 m de altura, enquanto que o Dique 13 é o mais ex- tenso, com 1.987 m de comprimento. Ele é também o de maior volume de aterro, com 5.757.662 m³, cuja seção típica é mostrada na Figura 7. A Tabela 3 apresenta um resumo das principais características dos diques do Reservatório Intermediário. 11REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS TABELA 3 - Principais características dos diques do Reservatório Intermediário 2.4 SÍTIO BELO MONTE O arranjo das estruturas localizadas no sítio Belo Monte compreende o circuito de geração propriamente dito, formado por: Tomada d’Água, Condutos Forçados, Casa de Força, e Canal de Fuga, duas Barragens de Fechamento Laterais de terra e enrocamento e a Barragem da Vertente do Santo Antônio. As estruturas de concreto do barramento do sítio de Belo Monte são formadas por 18 blocos de Tomada d’Água, um Bloco Central de concreto-gravidade e dois Muros Laterais de Fechamento e de abraço das barragens de terra e enrocamento das margens, com extensão total de cerca 819 m e coroadas na El. 100,00 m. EXTENSÃO ALTURA VOLUME (m) (m) (m³) DIQUE 1 80,00 6,00 5.120 DIQUE 1A 185,00 23,00 140.882 DIQUE 1B 100,00 5,00 5.902 DIQUE 1C 740,00 33,00 844.466 DIQUE 6A 850,00 53,00 1.020.221 DIQUE 6B 300,00 9,00 36.112 DIQUE 6C 1.515,00 63,00 4.134.404 DIQUE 7B 1.270,00 49,00 1.786.684 DIQUE 8A 1.030,00 68,00 5.227.785 DIQUE 8B 672,00 48,00 1.864.570 DIQUE 10B 353,00 24,00 219.734 DIQUE 11 617,00 10,00 154.063 DIQUE 12 74,00 6,00 4.642 DIQUE 13 1.987,00 53,00 5.757.662 DIQUE 14A 852,00 29,00 404.620 DIQUE 14B 235,00 9,00 34.954 DIQUE 14C 820,00 54,00 2.564.501 DIQUE 14D 651,00 40,00 458.346 DIQUE 14F 511,00 19,00 160.043 DIQUE 14G 242,00 6,00 17.253 DIQUE 18 180,00 18,00 93.191 DIQUE 19B 1.500,00 43,00 4.161.829 DIQUE 19C 295,00 7,00 20.063 DIQUE 19D 300,00 12,00 62.783 DIQUE 19E 190,00 18,00 39.811 DIQUE 27 358,00 14,00 62.647 DIQUE 28 1.141,00 32,00 1.508.779 DIQUE 29 521,00 21,00 207.869 ESTRUTURA EXTENSÃO ALTURA VOLUME (m) (m) (m³) DIQUE 1 80,00 6,00 5.120 DIQUE 1A 185,00 23,00 140.882 DIQUE 1B 100,00 5,00 5.902 DIQUE 1C 740,00 33,00 844.466 DIQUE 6A 850,00 53,00 1.020.221 DIQUE 6B 300,00 9,00 36.112 DIQUE 6C 1.515,00 63,00 4.134.404 DIQUE 7B 1.270,00 49,00 1.786.684 DIQUE 8A 1.030,00 68,00 5.227.785 DIQUE 8B 672,00 48,00 1.864.570 DIQUE 10B 353,00 24,00 219.734 DIQUE 11 617,00 10,00 154.063 DIQUE 12 74,00 6,00 4.642 DIQUE 13 1.987,00 53,00 5.757.662 DIQUE 14A 852,00 29,00 404.620 DIQUE 14B 235,00 9,00 34.954 DIQUE 14C 820,00 54,00 2.564.501 DIQUE 14D 651,00 40,00 458.346 DIQUE 14F 511,00 19,00 160.043 DIQUE 14G 242,00 6,00 17.253 DIQUE 18 180,00 18,00 93.191 DIQUE 19B 1.500,00 43,00 4.161.829 DIQUE 19C 295,00 7,00 20.063 DIQUE 19D 300,00 12,00 62.783 DIQUE 19E 190,00 18,00 39.811 DIQUE 27 358,00 14,00 62.647 DIQUE 28 1.141,00 32,00 1.508.779 DIQUE 29 521,00 21,00 207.869 ESTRUTURA EXTENSÃO ALTURA VOLUME (m) (m) (m³) DIQUE 1 80,00 6,00 5.120 DIQUE 1A 185,00 23,00 140.882 DIQUE 1B 100,00 5,00 5.902 DIQUE 1C 740,00 33,00 844.466 DIQUE 6A 850,00 53,00 1.020.221 DIQUE 6B 300,00 9,00 36.112 DIQUE 6C 1.515,00 63,00 4.134.404 DIQUE 7B 1.270,00 49,00 1.786.684 DIQUE 8A 1.030,00 68,00 5.227.785 DIQUE 8B 672,00 48,00 1.864.570 DIQUE 10B 353,00 24,00 219.734 DIQUE 11 617,00 10,00 154.063 DIQUE 12 74,00 6,00 4.642 DIQUE 13 1.987,00 53,00 5.757.662 DIQUE 14A 852,00 29,00 404.620 DIQUE 14B 235,00 9,00 34.954 DIQUE 14C 820,00 54,00 2.564.501 DIQUE 14D 651,00 40,00 458.346 DIQUE 14F 511,00 19,00 160.043 DIQUE 14G 242,00 6,00 17.253 DIQUE 18 180,00 18,00 93.191 DIQUE 19B 1.500,00 43,00 4.161.829 DIQUE 19C 295,00 7,00 20.063 DIQUE 19D 300,00 12,00 62.783 DIQUE19E 190,00 18,00 39.811 DIQUE 27 358,00 14,00 62.647 DIQUE 28 1.141,00 32,00 1.508.779 DIQUE 29 521,00 21,00 207.869 ESTRUTURA FIGURA 7 – Seção Típica do Dique 13 [3] A Tomada d’Água, o Muro Central e os Muros Laterais foram executados num misto de concreto convencional e Concreto Compactado com Rolo (CCR). A Tomada d’Água, do tipo gravidade, é constituída de 18 blocos com 33 m de largura, dos quais partem os condutos forçados em igual número, expostos e paralelos entre si, sendo um para cada unidade geradora. Esses blocos são dispostos em dois grupos, sendo que oito blocos se agrupam na esquerda hidráulica e os dez restantes na direita. Esses dois grupos são separados por um muro central de gravidade, também com 33 m de largura. A Casa de Força Principal da Usina de Belo Monte abriga 18 unidades com turbinas do tipo Francis de eixo vertical. O rotor da turbina pesa 316,6 t e possui um diâmetro de 8,68m. O rotor do gerador pesa 1.250,0 t e possui um diâmetro de 18,73 m. O conjunto total de uma unidade pesa 2.160 t. Eles são acoplados a um gerador trifásico de corrente alternada. A potência de cada unidade geradora é de 611,11 MW, totalizando uma potência instalada de 11.000 MW. Os blocos das unidades geradoras possuem 33 m de largura cada, sendo oito na margem esquerda, denominados Circuito de Geração 1, e dez na margem direita, denominados Circuito de Geração 2. Eles são separados fisicamente por um septo natural de rocha rema- nescente da escavação do local. Este septo possui aproximadamente 32 m de largura e se estende ao longo do canal de fuga, dividindo-o em dois canais. A Subestação de Manobra que interliga a usina ao sistema de transmissão é do tipo blindada, isolada a gás SF6, na tensão de 500 kV, e está localizada a montante dos transformadores elevadores, no deck principal da Casa de Força Principal. A Tabela 4 apresenta as principais características das barragens do sítio Belo Monte. A restituição das águas turbinadas ao rio Xingu é feita por um Canal de Fuga escavado em solo e rocha, com cerca de 1,2 km de comprimento e 620 m de largura média. Sobre o canal de fuga: a cerca de 700 m a jusante dos blocos da Casa de Força, foi construída uma ponte com 614 m de extensão e que faz parte da rodovia Transamazônica (BR 230.) 12 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 8 – Arranjo da UHE Belo Monte [3] FIGURA 9 – Circuito de Geração da UHE Belo Monte [3] A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 13REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 10 – Fotos do sítio Belo Monte TABELA 4 – Descrições das barragens do sítio Belo Monte A Barragem de Fechamento Direita está coroada na El. 100,00 m, altura máxima da ordem de 54 m e extensão de 780 m, totalizando 1.374.839 m³ de aterro. A Barragem da Vertente do Santo Antonio está à esquerda das estruturas da Tomada d’Água em posição vizinha à Barragem de Fechamento Esquerda. A barragem apresenta a crista coroada na El. 100,00 m, com a cota mais baixa da fundação aproximadamente na El. 30,0 - que resulta em uma estrutura com altura de 70 m. A crista possui uma largura de 7 m e extensão da ordem de 1.310 m, totalizando 6.122.390 m³ de aterro. A Barragem de Fechamento Esquerda tem o coroamento na El. 100,00 m, altura máxima da ordem de 88 m e extensão de 1.100 m, totalizando 7.790.326 m³ de aterro. 14 WWW.CBDB.ORG.BR 3. A CONSTRUÇÃO DE BELO MONTE 3.1 PRINCIPAIS VOLUMES DE ATERRO, ESCAVAÇÃO E CONCRETO Para se ter uma ideia da escala do Projeto, as quantidades previstas e executadas acumuladas até novembro de 2016 estão mostradas na TABELA 5. TABELA 5 – Volumes gerais de serviços previstos e executados acumulados 3.2 PRINCIPAIS EVENTOS CONSTRUTIVOS DA OBRA São apresentados a seguir os principais eventos construtivos da UHE Belo Monte, em ordem cronológica. ANO DE 2011 - Início da construção das obras civis. ANO DE 2012 Dentre os desafios enfrentados na construção da UHE Belo Monte, a execução do primeiro acesso para interceptar o rio Xingu, no sítio Pimental, foi um deles. Para dar condições de andamento nas obras do canteiro de obras da Ilha Marciana, a execução deste acesso era fundamental. Entretanto, a vazão de 20.078 m³/s, ocorrida em 31/01/2012, não permitiu o fechamento do acesso na ilha Pimental. Com a proximidade do acesso à ilha e o estrangulamento do fluxo de água houve um aumento da velocidade da água, o que favoreceu a ocorrência de erosões na margem da ilha Pimental. Com isto, a continuidade da execução do acesso teve que aguardar o período seco. A Figura 11 mostra fotos deste evento. No mês de maio de 2012, com o rio Xingu apresentando vazões menores, a execução dos acessos foi concluída, dando condições ao andamento do Desvio de 1ª Fase em Pimental, conforme mostrado nas Figuras 12 e 13. FIGURA 11 – Execução do acesso de jusante em Pimental em 31/01/2012 A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 15REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 12 – Ilustração do Desvio de 1ª Fase – Pimental [1] FIGURA 13 – Execução do acesso de jusante em Pimental em maio de 2012 FIGURA 17 – Desvio de 1ª Fase até as ilhas Marciana e da Serra, em janeiro de 2013 FIGURA 14 – Escavação do Canal de Derivação em novembro de 2012 FIGURA 15 – Escavação do Circuito de Geração do sítio Belo Monte em novembro de 2012 FIGURA 16 – Inauguração do Sistema de Transposição de Embarcações, no sítio Pimen- tal, em janeiro de 2013 As Figuras 14 e 15 mostram outros eventos ocorridos no ano de 2012. ANO DE 2013 Em janeiro de 2013, grandes metas foram alcançadas com a conclusão do Desvio de 1ª Fase e início da operação do Sistema de Transposição de Embarcações. Dentre as metas alcançadas em 2013 estão o início da concretagem das Casas de Força de Pimental e do sítio Belo Monte. 16 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 18 – Avanço das estruturas de concreto no sítio Belo Monte e Pimental em outubro de 2013 FIGURA 20 – Descida do pré-distribuidor da UG 1 de Belo Monte em junho e início da montagem das comportas do vertedouro em Pimental, em julho de 2014 FIGURA 19 – Avanço das obras do Canal de Derivação e no sítio Bela Vista, em outubro de 2013 As obras nos sítios Canais e Bela Vista avançaram também neste período. As fotos a seguir, ilustradas na Figura 18, mostram a execução da escavação do Canal de Derivação e do aterro do Dique 19B, respectivamente. ANO DE 2014 A montagem eletromecânica ganhou relevância em 2014 com o início da operação da ponte rolante no sítio Belo Monte. Na ocasião, houve a descida do pré-distribuidor da Unidade Geradora 1 (UG 1) da Casa de Força. A montagem das comportas do Vertedouro no sítio Pimental foi iniciada em julho de 2014. As fotos da Figura 20 mostram respectivamente esses dois eventos. Ao final de 2014, a UHE Belo Monte atingiu o pico de construção da obra com mais de 35 mil trabalhadores. Grandes avanços foram alcançados nesta época! Em novembro de 2014, as escavações já haviam superado 160 milhões de m3, bem como tinham sido executados 40 milhões de m3 de aterro e mais de 2 milhões de m3 de concreto. As Figuras 21 a 23 representam o estágio da obra em novembro de 2014 nos principais sítios. A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 17REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 21 – Sítio Pimental em novembro de 2014 FIGURA 22 – Canal de Derivação em novembro de 2014 FIGURA 23 – Sítio Belo Monte em novembro de 2014 ANO DE 2015 Dois eventos de magnitude foram realizados em 2015 no sítio Pimental: o Desvio de 2ª fase do rio Xingu pelo Vertedouro em julho e o fechamento do canal direito com as ensecadeiras de 2ª fase em agosto. Com isso, foi possível começar o enchimento do Reservatório em novembro de 2015. Dando início ao desvio de 2ª fase, em 31 julho de 2015 ocorreu a remoção da ensecadeira de 1ª Fase. Sequencialmente ocorreuo fechamento do Canal Direito em 07 de agosto, conforme mostram as Figuras 24 e 25. FIGURA 24 – Desvio de 2ª Fase – sítio Pimental [1] 18 WWW.CBDB.ORG.BR Para cumprir esse desafio, foi necessário montar uma verdadeira “operação de guerra”. Eram três turnos de trabalho durante 24h/dia. Foram alocados equipamentos de alto desempenho de compactação (CAT 825 de 35t), mostrados na Figura 26. FIGURA 26 – Praça de trabalho da Ensecadeira Barragem, em setembro de 2015 FIGURA 28 – Enchimento dos reservatórios FIGURA 27 – Coroamento da Ensecadeira Barragem em outubro de 2015 A Ensecadeira Barragem atingiu a cota de coroamento em 22 de outubro de 2015, conforme evidenciado na Figura 27. Após o coroamento das estruturas, em 24 de novembro de 2015, foi iniciado o enchimento do Reservatório Principal do rio Xingu e, em 12 de dezembro de 2015, começou o enchimento do Reservatório Intermediário por meio de um Vertedouro com duas comportas, localizado na margem direita, no início do Canal de Derivação. As fotos da Figura 28 mostram o Vertedouro de Pimental durante a etapa de enchimento do Reservatório Principal, localizado no rio Xingu, e o enchimento do Reservatório Intermediário pelo Vertedouro de enchimento no Canal de Derivação. TABELA 6 – Características da Ensecadeira Barragem A Ensecadeira Barragem possui seção homogênea, com o coroamento na El. 99,00 m, altura máxima da ordem de 40 m e extensão de 948 m, totalizando um volume de 1.183.475 m³. FIGURA 25 – Abertura da Ensecadeira de 1ª Fase e fechamento do Canal Direito Construir um barramento no leito do principal braço do rio Xingu, com 1,2 milhões de m3 em 80 dias e 40 metros de altura, foi o grande desafio que a Norte Energia, junto com todos envolvidos na construção da UHE Belo Monte, teve que enfrentar. As incertezas quanto às condições de fundação no leito do Canal Direito levaram os projetistas a desenvolverem uma Ensecadeira Barragem, ver Tabela 6, para suportar por um ano o reservatório até a construção definitiva da Barragem do Canal Direito. A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 19REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 29 – Conclusão do enchimento dos reservatórios ANO DE 2016 A conclusão do enchimento dos reservatórios ocorreu em 15 de fevereiro de 2016, conforme registrado na Figura 29. Em outubro de 2016, foi concluída a barragem do Canal Direito, em Pimental, pois entre o início do enchimento do Reservatório, em novembro de 2015 e outubro de 2016, o barramento no Canal Direito vinha sendo desempenhado pela Ensecadeira Barragem. Na Tabela 7 são relacionadas as principais metas atingidas de geração comercial durante 2016 e início de 2017. META DATA SÍTIO BELO MONTE (5x 611,1 MW= 3.055,5 MW) Início da operação comercial da UG 1 Abril 2016 Início da operação comercial da UG 2 Julho 2016 Início da operação comercial da UG 3 Novembro 2016 Início da operação comercial da UG 4 Janeiro 2017 Inicio de operação comercial da UG 5 Março 2017 SÍTIO PIMENTAL (6x 38,85 MW= 233.1 MW) Início da operação comercial da UG 1 Abril 2016 Início da operação comercial da UG 2 Junho 2016 Início da operação comercial da UG 3 Agosto 2016 Início da operação comercial da UG 4 Novembro 2016 Início da operação comercial da UG 5 Janeiro 2017 Início da operação comercial da UG 6 Janeiro 2017 TABELA 7 – Principais metas de geração atingidas em 2016 e 2017 no empreendimento TABELA 8 – Características dos principais equipamentos eletromecânicos 3.3 CARACTERÍSTICAS DOS EQUIPAMENTOS ELETROMECÂNICOS PRINCIPAIS A Tabela 8 apresenta as características dos principais equipamentos eletromecânicos dos sítios Belo Monte e Pimental. 3.4 POTÊNCIA INSTALADA, ENERGIA FIRME, FATOR DE CAPACIDADE E AREA DE RESERVATÓRIO A capacidade total instalada das Usinas de Pimental e Belo Monte será de 11.233,1 MW, com garantia assegurada de 4.571 MW médios, assim distribuídos: Casa de Força Principal no sítio Belo Monte com capacidade instalada de 11.000MW e garantia assegurada de 4.418MW médios, e Casa de Força complementar no sítio Pimental, com capacidade instalada de 233.1 MW e garantia assegurada de 151,1 MW médios. A usina é do tipo fio d’água e isso significa que ela vai gerar mais energia no período de cheia e menos energia no período de seca, ou seja, devido aos aspectos sociais e ambientais, o empreendimento foi construído sem reservatório de regularização. O empreendimento terá um fator de capacidade de 41% como consequência dos seguintes fatores: i. Redução da área do reservatório de 1.225 km2 para 478 km2 com a eliminação da capacidade de regularização das vazões afluentes a Belo Monte e com a finalidade de evitar inundação de áreas indígenas; ii. Retirada de outros aproveitamentos a montante na bacia que permitiriam maior regularização das vazões, conforme Resolução 06/2008 do Conselho Nacional de Política CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS ELETROMECÂNICOS UHE BELO MONTE UHE PIMENTAL 20 WWW.CBDB.ORG.BR TABELA 9 – Principais características de geração e área de reservatórios de usinas hidrelétricas brasileiras Energética (CNPE) que estabeleceu Belo Monte como o único aproveitamento hidrelétrico possível no rio Xingu; iii. Adoção de um hidrograma de consenso mínimo com os órgãos ambientais para permitir vazões defluentes mínimas mensais a jusante de Pimental (para assegurar as condições de pesca, navegação e outros usos das comunidades indígenas e ribeirinhas). Apesar de ser a única hidrelétrica autorizada a ser construída no rio Xingu, pela Resolução 06/20018, ela não pode ser considerada como uma usina isolada e, sim, como hidricamente intercomunicada. Isto por que ela é interligada eletricamente ao SIN com o resto do País. Uma vez que o rio Xingu tem suas cheias quase dois meses depois das cheias dos rios das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a possibilidade de armazenamento em Belo Monte diminui também fortemente os riscos de carência de energia. Apesar do fator de capacidade de Belo Monte ser de 41%, ela se situa bem entre a média das hidrelétricas brasileiras, que têm um fator de capacidade estimado em valores situados entre 50% e 55% Além disso, ela fica acima das hidrelétricas internacionais. Na Europa, este fator fica entre 20% e 35%, em média, sendo um pouco maior na China. Nos EUA, os valores atingem 45%. Se considerarmos a área alagada do reservatório, Belo Monte tem um dos maiores índices de energia firme gerada relacionada com a área de reservatório - representado pela relação entre a energia firme gerada e a área alagada (MW/km2), evidenciado na Tabela 9. [4], [5], [6] A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA 21REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS Oscar Machado Bandeira Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) em 1969, tem 40 anos de experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas. Atuou como Engenheiro Residente, Engenheiro Consultor, Coordenador de Obras Civis, Superintendente de Engenharia e Construção nas hidrelétricas de Itaparica, Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã). Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S/A como Superintendente de Engenharia e Construção da UHE Belo Monte e Coordenador dos Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento. Daniel Teixeira Leite Coordenador de Segurança de Barragens e Geotécnico na UHE Belo Monte, atuou nos projetos e execução de 33 barragens e diques, duas casas de força, um vertedouro, do maior canal do Brasil (com aproximadamente 20 km de extensão), e na Coordenação e Implantação do Plano de Segurança de Barragens. Possui experiência em Estudos de Arranjos de usinas hidrelétricas, tendo participado na elaboração de diversos projetos: UHE Caçu (65 MW), UHE Coqueiros (90 MW), UHE Ferreira Gomes (252 MW), UHE RibeiroGonçalves (113 MW), UHE Riacho Seco (276 MW), UHE São João (60 MW), Cachoeirinha (45 MW), entre outros. José Biagioni de Menezes Engenheiro Civil graduado pela Escola de Engenharia Kennedy, em Belo Horizonte (1978). Possui experiência em Fisca-lização, Acompanhamento, Gerenciamento Técnico e Comercial de Obras para implantação de usinas hidrelétricas. Trabalhou nas empresas VSL Protensão, Itaipu Binacional, Monasa Engenharia e ELETROBRAS ELETRONORTE, onde foi Gerente das áreas Técnica e Comercial nas obras de Balbina e Tucuruí, de 1982 a 2012. Desde 2012 trabalha na Norte Energia S.A., onde exerceu as funções de Superintendente de Obras e de Contratos e atualmente responde pela Diretoria de Construção. 4. PICOS DE PRODUÇÃO A UHE Belo Monte, um motivo de orgulho nacional, foi construída no Brasil por mais de 35 mil brasileiros e quebrou vários recordes de produção nos serviços de terra e rocha: - PICO DE PRODUÇÃO MENSAL DE CONCRETO ESTRUTURAL: 110.000 m³ no mês de setembro / 2014; - PICO DE ESCAVAÇÃO COMUM MENSAL: 6.600.000 m³ no mês de julho / 2015; - PICO DE ESCAVAÇÃO EM ROCHA MENSAL: 2.500.000 m³ no mês de julho / 2015; - PICO DE PRODUÇÃO MENSAL DE ATERRO: 6.280.000 m³ no mês de julho / 2015. 5. AGRADECIMENTOS Em nome da Norte Energia, os autores agradecem aos mais de 35 mil trabalhadores que participaram da construção deste empreendimento. Construída e projetada pelas maiores empresas nacionais, parabenizamos a engenharia brasileira e a todos os envolvidos na construção deste empreendimento. Apesar das adversidades, conquistamos todos juntos a vitória de construir uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo na região Amazônica. 6. PALAVRAS-CHAVE Belo Monte, Arranjo Geral, construção, ficha técnica, volumes. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] IEP – Consórcio Projetista. Projeto Básico Consolidado da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. 2012. [2] IEP – Consórcio Projetista. Projeto Executivo da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. 2012 2016. [3] CCBM – Consórcio Construtor Belo Monte. Relatório Mensal de Progresso. 2016. [4] ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. BIG – Banco de Dados de Informações de Geração. Atualizado em 06 de fevereiro de 2017. Disponível em http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/ energiaassegurada.asp. Acesso em 06 de fevereiro de 2017. [5] ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Cadernos Temáticos ANEEL 3 – Energia Assegurada. Brasília, DF, Abril de 2015. [6] Silva, P. J. Usinas Hidrelétricas do Século 21: Empreendimentos com Restrições à Hidroeletricidade. Tabela 3, pg. 87. Disponível em <http://www.brasilengenharia. com/portal/images/stories/revistas/edicao619/619_energia.pdf >. Acesso em 6 de fevereiro de 2017. 22 WWW.CBDB.ORG.BR HIDRÁULICA E VERTEDORES UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA Franciele REYNAUD | Engenheira Civil – Intertechne Consultores S.A. Marcus Fernandes ARAÚJO Filho | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. Renato GRUBE | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. Rogério PIOVESAN | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. The Belo Monte Hydroelectric Plant Diversion Channel, with a length of 16 km, is unprecedented in the world in terms of magnitude of flow with its 13,950 m³/s. The Channel connects the Main Reservoir in the Xingu River with the Intermediate Reservoir and takes the water to the Main Power House, which has a total installed capacity of 11,000 MW. This article describes the main characteristics of the Diversion Channel as well as the engineering studies that led to the definition of the geometry and to the design of the water management and drainage system of the streams that flow into the channel. The excavation volumes of the channel exceeded 100 million cubic meters and, being part of the critical path of the scheduled, required careful planning of the construction steps and the disposal of the excavated material. RESUMO ABSTRACT O Canal de Derivação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, com uma extensão de 16 km, não tem precedente no mundo em termos de vazão de adução: 13.950 m³/s. Este Canal interliga o Reservatório Principal, na calha do rio Xingu, com o Reservatório Intermediário e conduz a vazão de geração para a Casa de Força Principal com capacidade total instalada de 11.000 MW. O presente artigo descreve as principais características do Canal de Derivação, bem como os estudos de engenharia que conduziram à definição da geometria e à concepção do manejo e do sistema de drenagem dos igarapés que afluem no traçado do Canal. Os volumes de escavação do Canal de Derivação superaram 100 milhões de m3 e, estando no caminho crítico do empreendimento, exigiram minucioso planejamento das etapas de construção e da disposição dos materiais escavados em pilhas de bota-fora. 23REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 1. INTRODUÇÃO O aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte está no rio Xingu (Pará) onde há uma queda natural desenvolvida ao longo de um trecho de corredeiras denominado de Volta Grande do Xingu. No trecho a montante, o rio Xingu é represado por um barramento, denominado de sítio Pimental, no qual se localizam o Vertedouro e a Casa de Força Complementar. Logo a jusante desse local iniciam as corredeiras. Ao término das corredeiras está o sítio Belo Monte, onde está situada a Casa de Força Principal. O empreendimento não possui reservatório de acumulação, operando em regime a fio de água, sendo que o nível do Reservatório Principal fica na elevação 97,00 m. A queda bruta da Casa de Força Principal é da ordem de 91,50 m e a vazão máxima turbinada de 13.950 m³/s, possibilitando a implantação de 18 unidades geradoras tipo Francis, com potência instalada total de 11.000 MW [1]. A interligação entre o sítio Pimental (Reservatório Principal) e o sítio Belo Monte (Casa de Força Principal) é propiciada pelo Canal de Derivação e pelo Reservatório Intermediário, sendo que o Arranjo Geral do empreendimento pode ser visto na Figura 1. O Reservatório Intermediário consiste num lago artificial situado fora da calha do rio Xingu, onde se encontram 28 diques (barragens) que servem para o fechamento de drenagens que afluem esta área. FIGURA 1 – UHE Belo Monte – Arranjo Geral 2. CANAL DE DERIVAÇÃO A conexão entre o Reservatório Principal na calha do rio Xingu e o Reservatório Intermediário é feita pelo Canal de Derivação, cuja configuração geral é apresentada na Figura 2. O canal foi dimensionado para escoar a vazão máxima de 13.950 m³/s. O comprimento do canal é de 16,2 km e seu desenvolvimento é intercalado por trechos retilíneos e curvos, que possuem raios de curvatura tipicamente de 600 m. Aproximadamente a 1.000 m do início do Canal de Derivação, foi construído, na lateral direita do canal, o vertedouro de enchimento, cuja finalidade foi propiciar a alimentação de forma controlada de vazões de até 1.000 m³/s para o enchimento do Reservatório Intermediário e Canal de Derivação. Para ligação entre as duas laterais do Canal de Derivação foi construída uma ponte de acesso aproximadamente a 13,5 km do início do Canal de Derivação. Junto ao Reservatório Principal, o canal apresenta um patamar com cerca de 160 m de comprimento na elevação 87,00 m com 500 m de largura. Em seguida vem uma rampa descendente com comprimento de 270 m até o fundo do canal na elevação 75,00 m, onde então apresenta 210 m de largura até o seu final. Na fase de construção do canal, uma ensecadeira de solo foi implantada na elevação 87,00 m para proteger as atividades de construção. No trecho final, o Canal de Derivação se conecta ao Reservatório Intermediário, formando um canal submerso. Neste trecho submerso, o canal é escavado possuindo cerca de 4 km de extensão, fundo horizontal na elevação 75,00 m e largura do fundo de 280 m. Neste trecho final que está submerso no reservatório, o canal é parcialmentecontido por diques laterais submersos que causam o espraiamento do fluxo. A Figura 3 apresenta seções transversais típicas que con- figuram o Canal de Derivação. Nas laterais do piso do canal estão canaletas de drenagem utilizadas durante a fase de construção. O piso do canal foi sistematicamente revestido com 24 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 3 – Seções típicas do Canal de Derivação 3B). Os taludes verticais são escavados com declividade de 0,5H:1,0V com a largura das bermas escavadas em rochas ampliadas de modo a manter o gabarito de escavação em solo do canal. Como pode ser observado na Figura 3C, os taludes de escavação em solo ou constituídos por aterro são revestidos por material de enrocamento denominado 5D com 0,60 m de espessura aplicado sobre uma camada de transição de 0,20 m de espessura. Este material possui granulometria mais grossa que o material 5D´ UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA FIGURA 2 – Planta geral do Canal de Derivação [2] enrocamento processado denominado 5D´, com 0,60 m de espessura, sendo a finalidade deste revestimento propiciar uniformidade da rugosidade do canal. Nos trechos em que o fundo do canal se encontrava em solo, foi aplicada uma camada de transição de 0,20 m de espessura sob o material 5D´. Os taludes laterais escavados em rocha do Canal de Derivação possuem declividade de 0,5H:1,0V, e os taludes escavados em solo possuem declividade de 2,5H:1,0V. Nas laterais do canal existem pistas de acesso na elevação 100,00 m, que delimitam a borda do canal (linha A) distante a 179,50 m do eixo. Nas elevações 84,00 m e 93,00 m, os taludes são intercalados com bermas intermediárias que, para uma configuração de escavação em solo (Figura 3A), possuem 6,00 m de largura. Esta configuração de seção escavada em solo (ou conformadas por aterros) se constitui no gabarito típico e nas situações em que o topo rochoso fica acima do fundo do canal (Figura 25REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 4 – Sistemas de Manejo dos Igarapés 3. MANEJO DOS IGARAPÉS O eixo do Canal de Derivação é desenvolvido ao longo da calha de dois igarapés perenes, o Galhoso e o Paquiçamba. Estes igarapés são alimentados por outros pequenos igarapés com vazões perenes e intermitentes. Para a construção do Canal de Derivação, foi necessária a implementação de um sistema de drenagem para desviar e amortecer o fluxo de água afluente ao canal. Este sistema de drenagem foi denominado de Manejo dos Igarapés. No total são sete sistemas de drenagem, conforme apresentado na Figura 4: Sistema Galhoso, Xingu, Di Maria, Bacias Intermediarias, Ticaruca, Paquiçamba e Interno do Canal [1, 2]. Os sistemas podem ser divididos em três tipos. No primeiro grupo, as cheias produzidas pelas sub-bacias são contidas por diques nas regiões de bota fora, sendo a vazão efluente reduzida em relação à afluente por efeito de amortecimento. As vazões efluentes são drenadas para fora da região de amortecimento por galerias de passagem e canais coletores. A Figura 5 ilustra este método de desvio utilizado nos sistemas Galhoso, Xingu e Di Maria. O segundo tipo de sistema também considera o amortecimento de cheias em reservatórios criados por diques. No entanto, as vazões efluentes são conduzidas para dentro do Canal de Derivação através de galerias localizadas sob os acessos nas margens do canal. Este sistema foi utilizado para as Bacias Intermediárias que, por estarem localizadas na região central do Canal de Derivação, não possibilitavam o esgotamento da água da chuva para fora da região de construção do mesmo. Esta concepção está apresentada na Figura 5. O terceiro tipo de sistema é composto por canais de ligação entre as sub-bacias, onde o amortecimento ocorre nas áreas de bota-fora e também ao longo dos próprios canais de drenagem. Este tipo foi utilizado nos sistemas Paquiçamba, Ticaruca e Interno do Canal. A Figura 6 ilustra um destes sistemas. (aplicado no piso), tendo sido obtido diretamente das escavações obrigatórias do canal. A declividade dos taludes laterais em solo foi adotada como 2,5H:1,0V de modo a permitir o trânsito de equipamentos (tratores) ao longo do próprio talude para aplicação do revestimento de enrocamento [2]. 26 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 6 – Amortecimento por canais – exemplo: Sistema Ticaruca 4. ESTUDOS DE ENGENHARIA PARA DEFINIÇÃO DO ARRANJO SELECIONADO 4.1 DEFINIÇÃO DO EIXO E SEÇÃO TRANSVERSAL ÓTIMA O alinhamento do Canal de Derivação se desenvolve ao longo do eixo de dois igarapés, o Galhoso e o Paquiçamba, que por se situarem em região com elevações mais baixas, resultam em FIGURA 5 – Galhoso, Xingu e Di Maria (esquerda) | Bacias Intermediárias (direita) menores escavações para a execução da obra. A seleção deste alinhamento foi resultado de um amplo estudo de alternativas e configurações, onde se avaliaram canais únicos, dois canais separados e canais que se bifurcam em dois tramos ou separados que se unem num único tramo comum. Assim, durante a fase de Projeto Básico, foram analisadas 12 variantes principais [1]. A Figura 7 ilustra estes estudos de alternativas. Simultaneamente, foi realizado o estudo da seção transversal do canal. Devido à configuração variável da topografia do terreno e do horizonte do topo rochoso, a seção transversal do canal é variável, o que resulta em várias configurações. Para a UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA 27REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 7 – Estudos de alternativas do Canal de Derivação definição das características da seção transversal ótima, com menor custo total, foi desenvolido um programa em CAD para análise das alternativas. Como dados de entrada do programa, foram fornecidas as restrições hidráulicas de vazão e perda de carga, restrições geométricas, materiais constituintes e a configuração topográfica do terreno. De posse desses dados, o programa selecionava a geometria de seção transversal mais econômica, com base nos custos unitários das principais quantidades associadas (escavações em solo e em rocha, aterros e revestimentos) que atendesse aos requisitos hidráulicos de dimensionamento. Ao longo dos estudos de otimização, realizados durante o Projeto Básico, foram analisados também os diversos componentes do Circuito de Geração, incluindo Canal de Derivação, Canais de Transposição e Unidades Geradoras (rendimentos) buscando a redução dos custos associados a obras civis (escavações, aterros e revestimentos) de modo a se obter perdas de carga ao longo do circuito compatíveis com os requisitos 28 WWW.CBDB.ORG.BR FIGURA 8 – Distribuição de velocidades (m/s) energéticos do empreendimento (Energia Firme). Nos Estudos de Viabilidade Técnica-Econômica (EVTE) era previsto volumes de escavação comum e em rocha da ordem de 176,6 milhões de m³. Os volumes finais dos estudos de otimização resultaram em 121,9 milhões de m³. Ou seja, houve uma redução de 54,7 milhões de m³. Adicionalmente, o EVTE considerava o Canal de Derivação revestido parcialmente com concreto convencional, o que gerava um volume de 1,1 milhões. Ao término da otimização, o revestimento em concreto foi substituído por revestimento de enrocamento num volume da ordem de 3,9 milhões de m³ no Canal de Derivação e 2,8 milhões de m³ nos Canais de Transposição do Reservatório Intermediário. 4.2 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO Uma vez definida a seção transversal ótima, o dimensionamento hidráulico foi confirmado por meio do software HEC-RAS (unidimensional). Este dimensionamento consistiu na determinação da perda de carga levando em conta suas características geométricas e de revestimento (rugosidades). Conforme descrito anteriormente, o Canal de Derivação possui uma seção transversal que sofre variações ao longo de sua extensão. Definida de forma a evitar perdas de cargas localizadas,o fluxo é totalmente confinado dentro do canal. Para as superfícies escavadas em rocha, revestidas com materiais 5D e 5D´, foram obtidos coeficientes de Manning- Strickler de 32,0, 34,0 e 35,67, respectivamente. Para se determinar a rugosidade equivalente se foi utilizado o método de ponderação proposto por Lotter. Tal metodologia acabou sendo a mais adequada para as características do canal. Para a vazão de 13.950 m³/s, a perda de carga atribuída ao Canal de Derivação é de 2,03 m. 4.3 MODELAGEM COMPUTACIONAL Tendo em conta as dimensões atípicas do Canal de Derivação e a própria vazão de adução (13.950 m³/s), se julgou necessária uma avaliação mais detalhada dos efeitos das curvas do canal no escoamento ao longo do mesmo. O estudo buscou tanto avaliar o comportamento em si do escoamento nas curvas, como avaliar o impacto na estabilidade dos revestimentos do canal (enrocamento). Por essa razão, foi desenvolvido em conjunto com a equipe do Laboratório de Hidrossistemas Ven Te Chow (Universidade de Illinois), um estudo de modelagem computacional tridimensional do Canal de Derivação. O estudo foi realizado em duas etapas com dois modelos numéricos distintos. O primeiro modelo avaliou toda a extensão do canal utilizando o programa TELEMAC3D. Para a segunda etapa do estudo, estudo foi selecionado o trecho mais crítico do canal (curvas mais acentuadas e próximas entre si). Então, foram estudados os efeitos tridimensionais do escoamento com o programa Ansys-Fluent. O modelo foi composto por três partes principais: (i) uma pequena porção do Reservatório de Principal a montante do Canal de Derivação, a qual teve por objetivo reproduzir as condições de entrada do canal, (ii) o Canal de Derivação propriamente dito e (iii) um trecho de jusante que representa as condições de escoamento no Reservatório Intermediário. A Figura 8 ilustra a configuração estudada e o resultado da simulação em termos de velocidades do fluxo [3]. Ao analisar a Figura 8, pode ser notado que a distribuição de velocidades ao longo do canal, até as proximidades da curva 3, UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA 29REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS são muito semelhantes a um canal retilíneo. O efeito devido às curvas começa a ser mais pronunciado quando o escoamento se aproxima da curva 3 e em seguida está sujeito a uma sequência de curvas próximas entre si. Existe uma concentração de velocidades em algumas regiões do escoamento, representada pela região avermelhada, principalmente no talude direito da curva 4. Esse efeito de concentração de velocidades (regiões com velocidades da ordem de 3,5 m/s) segue até praticamente o final do Canal de Derivação. A concentração de velocidades resulta em um acréscimo de tensões tangenciais com potencial erosivo superior ao existente no trecho retilíneo. Enquanto que nos trechos mais retilíneos do canal as tensões tangenciais são da ordem de 20 a 25 N/m², na margem direita da curva 4 aparecem valores da ordem de 40 N/m². Esses valores FIGURA 9 – Distribuição de velocidades (m/s) e tensões tangenciais do modelo Ansys Fluent (N/m²) FIGURA 10 – Aspecto final do canal antes do enchimento (acima) e em operação (logo abaixo) foram considerados adequados, uma vez que as tensões tangenciais máximas admissíveis para os revestimentos são de 44 N/m² para o material do fundo (5D´) e 56 N/m² para o material dos taludes laterais (5D). Apesar do estudo com modelagem de águas rasas (TELEMAC3D) ter concluído pela condição de estabilidade dos revestimentos, se optou por estudar a porção mais crítica do Canal de Derivação: curvas 3 e 4, com um modelo numérico tridimensional Ansys-Fluent para a solução das equações de Navier-Stokes. A Figura 9 mostra o perfil de velocidades resultante do modelo e o mapa de tensões tangenciais junto aos revestimentos do canal. Ao se analisar esta figura, é possível observar que os padrões e magnitudes, tanto da distribuição de velocidades quanto das tensões tangenciais, resultaram muito semelhantes aos obtidos pelo TELEMAC3D, ratificando as conclusões quanto à estabilidade dos revestimentos [3]. Adicionalmente, para auxiliar o projeto do Canal de Derivação foram desenvolvidos estudos em Modelo Hidráulico Reduzido. As pesquisas foram realizadas nos laboratórios do Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza - Lactec (CEHPAR). Em linhas gerais, foram feitas as seguintes avaliações: (i) Estabilidade dos 30 WWW.CBDB.ORG.BR revestimentos, (ii) Impacto do processo de enchimento sobre os revestimentos e (iii) Comportamento do fluxo nas curvas 3 e 4. 5. FOTOS DA OBRA A Figura 10 mostra fotos do Canal de Derivação, durante sua construção e operação respectivamente. 6. CONCLUSÕES No presente artigo estão as principais características do Canal de Derivação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. São justamente estes aspectos que possibilitam a condução de uma vazão de 13.950 m³/s. Trata-se do maior canal do mundo para geração hidrelétrica. Para viabilizar a construção do Canal de Derivação foi executado um amplo conjunto de obras de drenagem (denominado Manejo dos Igarapés). Foram também apresentadas, de forma sintética, os estudos de engenharia que conduziram à configuração do referido canal. Foram várias etapas até a conclusão da empreitada. Entre elas estão: seleção de eixos, estudos para seção transversal ótima, dimensionamentos hidráulicos unidimensionais, análises numéricas bidimensionais e tridimensionais, além de estudos hidráulicos em modelo reduzido. 7. PALAVRAS-CHAVE Belo Monte, Canal de Adução, revestimento de canais, perdas de canais, rugosidade de canais, manejo de igarapés, análises numéricas, Modelo Reduzido. 8. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos engenheiros Kamal F. S. Kamel, Lourenço J. N. Babá e Roberto E. Bertol pelos ensinamentos ao longo do desenvolvimento do projeto. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Básico Consolidado. 2012. [2] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Executivo. 2012-2016. [3] GARCIA, H. M. DUTTA, S. FYTANIDIS, K. D. SANTACRUZ, S. S. WARATUKE, A. Identification of potential high shear stress zones in the 16 km-long diversion channel of Belo Monte Hydroelectric Project using multiple 3-Dimensional numerical model. Ven te Chow Hydrosystems Laboratory. University of Illinois. Urbana-Champaign. 2013. Franciele Reynaud Engenheira Civil formada em 2006 e mestra em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2008 pela Universidade Federal do Paraná. Atua na Intertechne Consultores S.A. desde 2008. Possui experiência de 10 anos em atividades de Projeto, Planejamento, Execução, Coordenação de Interfaces e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no exterior. Foi Coordenadora Técnica dos Estudos Básicos da UHE Belo Monte. Atualmente é a responsável pela Gerência Geral do AH Molineros, na Bolívia e da Barragem de Palo Redondo, no Peru. Marcus Fernandes Araujo Filho Engenheiro Civil formado em 2008 e mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2014 pela Universidade Federal do Paraná. Concluiu a pós-graduação em Gestão de Projetos pela FAE Business School em 2016. Trabalha desde 2007 na Intertechne Consultores. Tem experiência de oito anos em projetos de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no Exterior. Engenheiro hidráulico responsável por dimensionamentos de estruturas hidráulicas da UHE Belo Monte, incluindo o Canal de Derivação. Há um ano e meio faz parte do Grupo de Desenvolvimento de Projetos em Energia Renovável (solar e eólica). Renato Grube Engenheiro Civil formado em 1994 com mestrado em Engenharia Hidráulica em 2001 pela Universidade Federal do Paraná. Experiência de 22 anos atuando como Engenheiro Hidráulico, Chefe de Departamento, Coordenador e Supervisão Técnicaem projetos hidráulicos e hidrelétricos (Inventário, Viabilidade, Básico e Executivo) no Brasil e exterior. Seus projetos de maior destaque são: Belo Monte, Santo Antonio, Teles Pires, Irapé, Chaglla, Baixo Iguaçu, Sinop, Estreito, São Salvador, Cana Brava, Capim Branco, Santa Clara, Fundão, Manduriacu, Múgica, Picachos, Salto, Verdinho e Itiquira. Rogerio Piovesan Engenheiro Civil formado em 1998 pela Universidade Federal do Paraná com pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas em 2002. Experiência de 18 anos em atividades de Construção, Projeto, Planejamento, Execução, Coordenação de interfaces e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no exterior. Atualmente é o responsável pela Gerência Geral do Consórcio Projetista da UHE Belo Monte, bem como pela Gerência do Projeto da UHE Santo Antonio (RO). Atuou também como Gerente dos Estudos Pré-leilão da UHE São Luiz do Tapajós (PA). UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA 31REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS HIDRÁULICA E VERTEDORES RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL The Belo Monte HPP has a derivation type generation circuit, in which the Xingu Big Bend, with a length of over 100 km, is bypassed by the generation circuit composed of the Derivation Channel, Intermediate Reservoir and Tailrace Channel. The Intermediate Reservoir is an artificial reservoir created in an already anthropized area, made up of 28 dikes and dams of earth and rockfill, and has seven channels for the transposition of basins, with a total superficial area of 119 km². This Intermediate reservoir connects to the Main Reservoir of the Xingu River, through the Derivation Channel, to the Main Powerhouse generation circuit, which has an installed capacity of 11,000 MW. This article presents the engineering studies that included the optimizations of superficial area and the general layout of dikes and transposition channels and the analysis of head losses along the generation circuit. RESUMO A UHE Belo Monte possui um circuito de geração do tipo derivação, no qual a Volta Grande do Xingu, que se desenvolve ao longo de 100 km de extensão, é cortada pelo circuito de geração composto pelo Canal de Derivação, Reservatório Intermediário e Canal de Fuga. O Reservatório Intermediário da UHE Belo Monte é um reservatório artificial criado em uma área já antropizada, conformado por 28 diques e barragens de fechamento de terra e enrocamento. Ele conta ainda com sete canais de transposição de selas topográficas, totalizando uma área alagada de 119 km². Este Reservatório Intermediário se conecta ao Reservatório Principal do rio Xingu por meio do Canal de Derivação e integra o circuito de geração da Casa de Força Principal com capacidade instalada de 11.000 MW. Os estudos de engenharia que contemplaram as otimizações em termos de área de inundação e de disposição dos diques e canais de transposição, e as análises de perdas de carga ao longo de todo circuito de geração, são apresentados de forma sintética no presente artigo. Franciele REYNAUD | Engenheira Civil – Intertechne Consultores S.A. Marcus Fernandes ARAUJO Filho | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. Renato GRUBE | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. Rogerio PIOVESAN | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A. ABSTRACT 32 WWW.CBDB.ORG.BR 1. INTRODUÇÃO Para possibilitar a adução da vazão de 13.950 m³/s, o Canal de Derivação e o sítio Belo Monte são conectados pelo Reservatório Intermediário - um lago artificial fora da calha do rio Xingu. Com o nível de água máximo normal na elevação 97,00 m, o Reservatório Intermediário inunda uma área de cerca 119,0 km² [1]. A criação do Reservatório Intermediário decorre do fato de que o terreno natural na região que interliga o Canal de Derivação e o sítio Belo Monte se situa predominantemente abaixo da elevação 97,00 m, sendo necessária a criação de diques de contenção para possibilitar esta interligação. A Figura 1 apresenta a configuração geral do Reservatório Intermediário. O trecho inicial é um prolongamento do canal de derivação submerso numa extensão de cerca de 4,0 km, sendo que nesta região ocorre o espraiamento do fluxo. Neste trecho, o piso FIGURA 1 – Arranjo Geral do Reservatório Intermediário do canal está na elevação 75,00 e apresenta uma largura de fundo de 280,0 m, onde o mesmo também é revestido com enrocamento [2]. Para a formação do reservatório foram construídos 28 diques de terra-enrocamento além da Barragem da Vertente Santo Antonio, Barragem de Fechamento Esquerda, Barragem de Fechamento Direita e a própria estrutura da Tomada dÁgua no sítio Belo Monte. A título de exemplo, a Figura 2 apresenta o arranjo do Dique 8A e os diversos diques executados. É possível perceber que alguns se constituem em estruturas de grande porte. Em linhas gerais, o Reservatório Intermediário ocupa total ou parcialmente oito áreas de drenagem (bacias) denominadas de: Paquiçamba, Ticaruca, Cajueiro, Cobal, Santo Antonio, Aturiá, Vertente do Santo Antonio e Tomada dÁgua. Para diminuir as perdas de carga ao longo do Reservatório Intermediário, foram escavados sete Canais de Transposição denominados de: CTPT1, CTPT2, CTPT3, CTTC, CTCS, CTCA e CTSA. A título de exemplo, a Figura 3 apresenta o arranjo do Canal de Transposição Paquiçamba-Ticaruca 2 (CTPT2) [1]. RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL 33REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS FIGURA 2 – Dique 8A [2] Os Canais de Transposição apresentam revestimento de enrocamento somente em regiões nas quais se buscou evitar processos erosivos nas suas margens. Além dos Canais de Transposição, foram escavados três canais de enchimento com a finalidade de propiciar, de forma controlada, a operação de enchimento do Reservatório Intermediário após a conclusão da construção. 2. ESTUDOS DE ENGENHARIA PARA DEFINIÇÃO DO ARRANJO Comparativamente ao Canal de Derivação, o Reservatório Intermediário apresenta maior grau de complexidade no que concerne aos dimensionamentos hidráulicos. Isso porque o fluxo no reservatório é predominantemente bidimensional, enquanto que no Canal de Derivação o fluxo é predominantemente unidimensional. No Reservatório Intermediário, o fluxo se divide em inúmeros braços com distintas partições de vazões, levando a uma determinada distribuição das perdas de carga ao longo deste reservatório. Ao considerar as escavações dos Canais de Transposição distribuídos ao longo do reservatório, a partição das vazões e das perdas de carga são alteradas. Para um mesmo volume escavado, é viável configurar diferentes alternativas de disposição de Canais de Transposição que, pela complexidade do escoamento, resultam em distintos valores de perdas de carga. A própria delimitação do Reservatório Intermediário, associada à disposição dos diques, influencia as características hidráulicas do escoamento e perdas associadas. Tendo em conta esta complexidade do fluxo, para o cálculo de perdas de carga ao longo do escoamento, foi utilizado o software de modelagem bidimensional River 2D. O sistema te como base as equações de Saint-Vennant, sendo as mesmas solucionadas por uma formulação de elementos finitos. Para as análises numéricas, os dados de entrada necessários foram: (i) caracterização topográfica do terreno incluindo a configuração dos canais escavados (transposição e enchimento); (ii) parâmetros de rugosidade das superfícies e (iii) Condições de contorno (vazão escoada total e níveis junto à Tomada d’Água). A Figura 4 é um exemplo de resultado do modelo, na qual são apresentadas as velocidades ao longo do Reservatório Intermediário. Nessa figura é possível constatar a complexidade do escoamento: características tipicamente bidimensionais com fluxo dividido
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