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SUMARIO 1. As fontes: milhões de palavras 1. Toda a gente escreve na Imprensa 11 2. Sem fontes não há jornalismo 12 3. As relacões das instituições são interessadas 16 4. Para além da aplicação das regras 18 2. Resumir e interessar: armas iguais 1. O essencial é resumir 23 2. O leitor lê pouco 23 3. Interessar o destinatário 26 4. A lei da proximidade 28 3. A técnica: gestos de boa vontade 1. Escolha do ângulo 33 2. A mensagem essencial 37 3. Hierarquizar as informações 39 4. Perguntas de referência 46 4. O estilo: fazer passar a mensagem 1. As palavras 53 2. As frases 56 3. A apresentação 4. Os títulos 66 5. O estilo Anop 68 6. A mensagem ao destinatário 78 5. Ao vivo: Tudo é para publicar 1. Os porta-vozes 81 2. A conferência de Imprensa 84 3. A entrevista 86 6. Organízacão das redaccões: a recepção da mensagem 1. As cartas ao director 95 2. As seccões e as categorias 100 3. O "idioma" dos jornalistas 103 Do trabalho e da falta dele 109 As Fontes 1.1 Os jornalistas não são os únicos a escrever na Imprensa. Cidadãos anónimos das origens e actividades mais variadas são autores de textos que ocupam áreas cada vez maiores dos jornais. E tempos cada vez mais largos dos noticiários radiofónicos e televisivos. Esses textos provêm de várias fontes e assumem diversas formas: das tradicionais cartas ao director aos comunicados de organizações de base, passando pelos press releases das empresas. Partidos, sindicatos, associações, empresas possuem geralmente gabinetes de relações públicas, com esta ou outra designação. A eles compete responder às perguntas dos jornalistas e também, numa actividade crescente, elaborar textos de sua própria iniciativa cuja publicação é depois tentada junto dos órgãos de comunicação social. O contingente de informações desse tipo é muito superior ao que se possa julgar numa primeira observação. Em Portugal, creio que apenas a agência Anop fez um estudo dó seu input - a entrada de informações na sua redacção central de Lisboa. Esse input deve atingir em média cerca de um milhão e meio de palavras por dia. Se lhe descontarmos os despachos das agências noticiosas internacionais, das delegações da própria Anop e de outras fontes do mesmo tipo, fica mesmo assim um caudal impressionante de informações oriundas de não-jornalistas. E a agência nacional não é evidentemente o único canal utilizado pelas fontes com estas características. Publicar na Imprensa, mesmo quando os textos provêm de empresas, não é o mesmo que fazer publicidade comercial, pelo que 11 As Armas dos Jornalistas são graciosos os espaços e os tempos ocupados nos meios de difusão. Mas os argumentos económicos não são os que prevalecem - um texto de publicidade não tem, de facto, perante o leitor o mesmo impacto que um artigo saído ou que pareça ter saído da redacção de um jornal. Este conta com credibilidade e aceitação mais largas, é lido com maior atenção e sem preconceitos, sem parti-pris. "Estes publicitários são uns exagerados", podem comentar os leitores em relação a espaços pagos (e geralmente identificáveis com facilidade pela apresentação e pelo estilo de redacção). O mesmo já não dirão das matérias elaboradas pelos jornalistas. Apesar de tudo o que se diz, o cidadão ao comprar um jornal, ou ao sintonizar um noticiário radiofónico ou televisivo, está a acreditar no que vai ler ou ouvir. Felizmente para os jornalistas, o público acredita mais neles do que nos políticos, por exemplo. 1.2 Sem fontes não há jornalismo. A Imprensa limitar-se-ia a noticiar os raros acontecimentos que os seus repórteres presenciam, se não fossem os informadores, aqueles que descrevem aos jornalistas as situações e os actos que vão estar na origem das notícias. "Posso escrever tudo o que quiseres, mas não me obrigues a secar a fonte". É uma frase comum aos repórteres quando passam ao papel informações que recolhem e sofrem pressões (legítimas) dos seus camaradas (e dos seus chefes) para irem mais longe. Para entrarem num terreno que talvez venha a comprometer o informador ou a indispô-lo perante o jornalista. A frase diz bem de uma das preocupações fundamentais daqueles que publicam na Imprensa - não secar a fonte, quer dizer não perder um contacto, por menos precioso, por mais banal que ele seja. 12 As Fontes É a própria essência do jornalismo que está em causa: pode-se ter a maior das más vontades para um qualquer gabinete de relações públicas, não se deve é desprezar as suas informações. Pode-se ter um político (ou um polícia, ou um sindicalista, ou um desportista) em má conta, não se deve é deitar fora os elementos noticiosos que ele fornece. Tudo isto no interesse do jornalista e, sobretudo, do leitor, do ouvinte, do telespectador. Este é o grande argumento para aqueles que pretendem publicar na Imprensa - o jornal, a rádio, a TV precisam das suas informações como de pão para a boca. E, da mesma maneira, que se rejeita um bife por não se gostar de carne de porco também se pode eliminar uma fonte ou uma informação. O que não se pode é recusar toda a alimentação. A principal fonte são as agências noticiosas. Em todo o mundo é delas que provem a maior parte dos elementos que constituem as peças jornalísticas. Em Portugal, o mesmo se passa em relação às agências nacionais e, num plano mais modesto, com as suas concorrentes ou representadas estrangeiras. Ao serem elaborados por jornalistas, os despachos das agências têm a vantagem (e o mérito) de usarem armas para publicação perfeitamente transparentes e conhecidas, e ao mesmo tempo seme- lhantes às técnicas da própria Imprensa: daí a aceitação e o interesse com que são recebidos nas redacções e a facilidade com que penetram (muitas vezes sem alterações) no dossíer "para publicar". Noutro capítulo deste manual referir-me-ei em pormenor ao estilo das agências noticiosas, e dentre elas, ao da Anop por entender 13 As Armas dos Jornalistas que a sua aplicação e de um conceito noticioso semelhante é "meio caminho andado" para chegar ao destinatário: as páginas dos jornais, os blocos noticiosos da rádio e TV. As redacções trabalham ainda com fontes documentais. São os seus próprios serviços de documentação, são os arquivos primitivos e superficiais das secções, são os dossíers pessoais dos jornalistas. Entre o arquivo da Agência France-Presse em Paris, que agrupa informaticarnente seis meses de noticiário e ao qual se recorre em segundos utilizando qualquer palavra-chave, e o seu congénere de uma nova publicação, com um único empregado a coleccionar recortes recentes, há um ponto em comum: a vontade de superarem as falhas de memória dos jornalistas. Com a vantagem de a memória nos enganar com facilidade e a documentação ser sempre rigorosa e precisa. Os jornalistas também recorrem a centros de documentação estranhos à sua redacção e, neste campo, os serviços de relações públicas de empresas e organizações podem ter um papel importante no apoio à Imprensa. Quem melhor do que uma associação de exportadores para fornecer antecedentes (background) sobre as dificuldades de penetração dos têxteis portugueses na Grã-Bretanha? A semelhança do que fazem algumas embaixadas e organismos internacionais, é bom princípio para as mais diversas entidades criar os seus bancos de informação especializados e colocá-los à disposição dos mass media. As restantes fontes de informação podem ser divididas em dois grandes grupos: a informação recebida (ou espontânea) e a informação procurada. 14 As Fontes Na primeira alinham-se os comunicados à Imprensa, o correio dos leitores, as notasde agenda. Os jornalistas recebem-nas com alguma desconfiança, talvez involuntária. Há muito tempo que deixaram de "acreditar nos glutões", sabem que destas fontes nada recebem que não seja interesseiro. É a posição partidária, a louvaminha empresarial, o leitor que se queixa de qualquer problema pessoal, a convocatória de urna conferência de Imprensa por vezes sem justificação. Já é com outra disposição, com os braços bem abertos, que os jornalistas recebem a informação procurada. Trata-se da ajuda dada ao trabalho das redacções pelos correspondentes e enviados e aos alertas, "nunca espera dos mas sempre esperados", dos informadores. Trata-se igualmente dos contactos desenvolvidos junto de potenciais fontes. Neste caso, o repórter é o interessado, no cumprimento do seu papel de representar os leitores, são as entidades que contacta que levantam dificuldades. Em 7 de Maio de 1980, os matutinos portugueses fizeram segundas edições, a rádio e a TV tinham emitido na noite anterior noticiários especiais: fora desviado para Madrid, felizmente sem consequências, um avião Tap da carreira Lisboa-Faro. A informação chegou, espontânea, à Anop, às 23 e 30 do dia 6. Era um funcionário do aeroporto da Portela. Tornou a iniciativa de telefonar para a agência. A confirmação foi fácil: uma chamada para um gabinete de relações públicas garante a veracidade da notícia. A Anop distribui um fíashe (meia dúzia de palavras em estilo telegráfico), o seu aparelho jornalístico começou a trabalhar ("atenção Faro, atenção Madríd, um repórter para o aeroporto da Portela, é preciso 15 As Armas dos Jornalistas avisar também a Efe, a agência espanhola, o centro de documentação que envie a lista dos aviões desviados), nas outras redacções alertadas os mecanismos de informação geral desenvolvem-se. A cobertura deste desvio de um avião, que mereceu um prémio internacional para sete jornalistas da agência, foi de qualquer forma uma excepção: o telefonema das 23 e 30 permitiu antecipar de alguns minutos a informação. Geralmente seria um correspondente de Faro, alertado pelo seu informador no aeroporto, que teria a notícia em primeira mão. Era a história de um avião que não chegara. Seria preciso averiguar as razões. Quando 'dois comboios chocam na estacão da Amadora, o acontecimento só é conhecido nas redacções 'pelas consequências. Um dos informadores pagos no hospital de S. José telefona a dizer, apressado: "Têm chegado aqui uns feridos. Parece que houve um desastre" Só algum tempo depois é que a própria CP accionaria os seus mecanismos de alerta da Imprensa se não fosse entretanto bombardeada pelos jornais que querem saber os primeiros pormenores enquanto não chegam as equipas de reportagem enviadas para o local. 1.3 O jornalista pensa que as relações das instituições, sejam elas quais forem, com a imprensa são interessadas. Se um sindicato envia um documento é para publicitar as suas posições, se uma empresa faz chegar um relatório às redacções é porque este lhe é favorável. Não há ninguém, em nenhum jornal do mundo, que espere outro procedimento. As instituições produzem informação. Precisam da Imprensa para a fazer chegar ao público. Há mesmo quem diga que um qual- 16 As Fontes quer acto (de um empresário, de um político, de um governante) não existe na prática enquanto não for divulgado. Enquanto permanecer guardado no segredo dos gabinetes é como se não tivesse sido executado. A publicação é tão ou mais importante que o acto em si. Nos últimos anos têm-se desenvolvido os serviços de imprensa de sindicatos, associações profissionais, empresas públicas e privadas, partidos e organizações políticas, organismos diversos, clubes desportivos, departamento s de Estado. A sua missão teórica é facilitar a vida aos jornalistas - abrir-lhes as portas dos contactos, alertá-los para informações desconhecidas. Na' prática, vão às vezes mais longe ao elaborarem os seus próprios projectos de notícia e dossiers documentais aprofundados. E, ao mesmo tempo, vão "um pouco mais perto", ao constituírem uma barreira entre a fonte legítima e o jornalista. Este manual destina-se a todos aqueles que, não sendo jornalistas, pretendem publicar na imprensa. (A palavra imprensa surge quase sempre no sentido mais lato, isto é, englobando os meios de comunicação impressos, a rádio e a televisão). E meu desejo sintetizar um conjunto de regras e de exemplos que lhes permitam utilizar uma linguagem e uma série de armas facilmente identificáveis por uma redacção profissional. Tenho em consideração que as informações espontâneas constituem uma parte importante do material recebido nas empresas de difusão quer provenham das instituições (comunicados, notas, relatórios, dossiers), quer dos anónimos (correio dos leitores, alertas telefónicos). Quer se destinem à difusão imediata quer pretendam constituir elementos para agenda ou de apoio a matérias futuras. 17 As Armas dos Jornalistas 1.4 A aplicação das regras que se agrupam neste manual não é suficiente para um. qualquer comunicado ser publicado na Imprensa. Primeiro que tudo, é preciso que ele tenha notícia, que os factos nele descritos sejam actuais e interessantes. Desde que seja um "furo" com repercussão nacional, o documento mais mal redigido é publicado com o maior relevo pelo jornal que a ele tenha acesso. Sobretudo se for exclusivo. Mesmo que esteja todo rasurado e tenha sido depositado num caixote do lixo (como as reivindicações de organizações clandestinas). Há uma frase, um dos lugares-comuns mais citados nos livros sobre jornalismo, que bem define o espírito do que é notícia. Teria sido C. A. Dana, editor do Sun, de Nova York, a dizer um dia: Se um cão morde um homem não é notícia. Notícia é quando um homem morde um cão. A notícia é qualquer acontecimento actual e interessante. É o relato de um facto recente que interessa aos seus potenciais consumido res. O universo da notícia é o mais vasto possível. É o conjunto de todos os acontecimentos. Tudo o que se passa a toda a hora em toda a parte pode ser notícia. A notícia é a matéria prima dos espaços informativos, é dela que eles vivem. Há mesmo empresas que só vendem notícias (as agências). É o produto mais dispendioso das redacções. As manchetes dos jornais de todo o mundo (com padrões de informação idênticos aos nossos) são sempre notícia. Todos os dias. Nunca as mesmas. "Quais são as. notícias?", é a pergunta subentendida de quem compra um jornal ou sintoniza um noticiário. 18 As Fontes A própria definição de jornalista decorre da notícia: jornalista é aquele que trabalha directa e racionalmente a notícia, que a procura, escreve, selecciona ou titula. Os vários géneros do jornalismo são também definidos em função da notícia (a crónica é uma sintese de notícias, a crítica é um juízo sobre a notícia, o inquérito é uma mostra de opiniões sobre a notícia, etc). Adaptando a fórmula de C. A. Dana, se um barril cair da ponte sobre o Tejo não é notícia. Se tiver um homem lá dentro é notícia. Um bibliotecário de Washington define assim as quatro regras básicas para quem escreve: 1 o. ter algo de novo a dizer, o 2o. dizê-lo, 3o. calar-se quando estiver dito, 4o. dar à publicação título e ordem adequados. Sem cumprir todas estas regras, que são muito mais sérias do que se poderia crer, não se pode publicar na Imprensa. Para além de ter notícia, o documento não deve ser elaborado apenas de acordo com a óptica dos seus autores. Nesse caso, o projecto de notícia terá nas redacções um acolhimento idêntico ao dos seus congéneres redigidos com floreados e sem critérios jornalísticos. O redactor de um press-release, por exemplo, tem de esquecer-se por momentos de que está ao serviço de uma empresaou organização e tentar fazer o seu trabalho por forma a corresponder aos interesses do público. E é também sua obrigação fazer compreender àqueles que não estão habituados a lidar com a imprensa (para isso, ele é o 19 As Armas dos Jornalistas especialista) que esse é o melhor caminho (às vezes o único) para que o documento seja publicado. Em terceiro lugar, pede-se-lhe também urna atenção em face da actualidade em tudo semelhante à dos jornalistas. Há ocasiões indica- das para divulgar certo tipo de informações - o público está sensibilizado para as receber. Em outras alturas, notícias anódinas ou mesmo com interesse ordinário "caem" mal junto dos leitores. Como reagiriam os consumidores de jornais e noticiários ao anúncio de um importante plano de expansão ferroviário no dia seguinte a uma catástrofe de combóios? Quais os efeitos de uma reportagem turística sobre a região onde ocorreu há dias um sismo? Em contrapartida, que melhor ocasião para falar de processos de economia de combustível do que após um aumento de preço da gasolina? E de escrever sobre energias alternativas do que em tempo de seca e de coles de electricidade? Ler livros, passar os olhos por todos os jornais, estar atento aos boletins e programas de actualidades da rádio e da televisão é quase tão importante como escrever. Se um jornalista tem a preocupação de "saber tudo", um técnico de relações com a Imprensa tem de estar atento ao que o rodeia. Aparte tudo isto, resta um factor também muito importante: o talento de quem escreve. Por mais documentação teórica que se edite com os aspectos codificáveis da escrita jornalística, ficarão de fora sempre aqueles outros que relevam da diferença entre um texto bem escrito e um texto mal escrito. Sem, todavia, perder de vista que o melhor estilo informativo é aquele que se faz esquecer. Contra isso, nem o maior livro de receitas, nem o Pantagruel do jornalismo seria antídoto eficaz... 20 2. RESUMIR E INTERESSAR Armas iguais às dos jornalistas • O primeiro dever é ser sintético • Chamar a atenção para o interesse do texto • A opção de leitura é pessoal e intransmissível Resumir e Interessar 2.1 O essencial é resumir a informação ao... essencial. Ao fim de duas ou três horas de trabalho e afogado em documentos e telefonemas, a primeira atitude de um jornalista perante um longo comunicado de mil palavras é de rejeição. "Lá estão estes tipos outra vez...", dirá com os seus botões o profissional da escrita por mais generoso que seja o seu estado de espírito momentâneo. Depois de vencida essa barreira de antipatia, bom, depois, começará por ir ler o último parágrafo do documento que lhe é proposto. Espera encontrar aí as conclusões de toda a lengalenga e é por elas que começará a sua notícia. Só a seguir fará um resumo da argumentação. O primeiro dever de quem escreve um comunicado para ser proposto a um jornal (e, por maioria de razão, à rádio ou à TV) é ter a preocupação de ser sintético. De escrever o maior número de ideias com o menor número de palavras e de forma ordenada. O tamanho é um elemento determinante para a opção de leitura e, principalmente, para a sua confirmação. Quanto maior for o texto, maior número de vezes o leitor (mesmo o profissionalizado) é tentado a abandoná-lo. Estudos franceses indicam que a partir das 120 linhas-jornal (linhas de composição, ou seja, cerca de metade em dactilografia), o leitor hesita em entrar no texto, mesmo em relação a um assunto que não lhe é totalmente indiferente. 2.2 O leitor lê pouco, porque há-de o jornalista ler mais? A questão está obviamente mal colocada. O jornalista tem obrigação de ler, pelo menos de maneira oblíqua, todo o material que lhe é proposto pelas 23 As Armas dos Jornalistas suas fontes de informação. E fá-lo quase sempre com uma generosidade e uma atenção difíceis de igualar. O seu objectivo é procurar a notícia mesmo nos casos vulgares de comunicados assinados por organismos que pouco se preocupam em metralhar as redacções com matéria morta. Um camarada de trabalho disse-me uma vez: "No dia em que o movimento X distribuir uma nota com informações pertinentes estou tramado. Deito todos os seus comunicados para o cesto dos papéis sem sequer os ler. Não é preconceito. É talvez uma aversão. Ao fim de meia centena de documentos idiotas, que me caem quase todas as noites na mesa de trabalho, nem um santo conseguiria reagir bem!" Trata-se de um caso extremo, o desse movimento X. A maior parte das vezes os textos das fontes têm notícia, como se diz em linguagem jornalística. Mas em 90 por cento dos casos é preciso procurara com esforço. Estudos feitos noutros países (tenho sob os olhos elementos franceses e norte- americanos) permitem avaliar entre 20 e 25 minutos o tempo de leitura consagrado ao seu diário pelo leitor médio (o leitor médio não é o cidad5o médio nem a Imprensa é expressão da opinião pública tomada no seu conjunto). Os semanários recebem um pouco mais de atenção repartida por dois ou três dias. Os reformados e outros inactivos são excepção ao lerem de fio a pavio o jornal que compram ou ao qual acedem por outras vias. A população activa tem um tempo reduzido para se pôr a par do que "vai pelo país e pelo mundo", para usar o lugar- comum dos noticiários radiofónicos. Os diários populares são muitas vezes consumidos no percurso de transporte colectivo entre a casa e o emprego e 24 Resumir e Interessar vice-versa. Jornais de outro género, sobretudo os de grande formato, são lidos à secretária de trabalho ou no sofá relaxante. Mas em todos os casos durante muito pouco tempo - os tais 20 a 30 minutos. O que se pode ler em tão pouco tempo? Cinco a dez minutos são gastos com os títulos (no sentido global), as montras principais dos vários artigos. Outro tanto irá para as outras chamadas de leitura: fotografia, legendas, caixas em itálico, intertítulos (ou subtítulos). Passa-se também os olhos pela publicidade (há jornais onde o leitor médio se demora mais com os anúncios do que com os artigos). Resta uma dúzia de minutos para ler, às vezes em oblíquo, os dois ou três artigos (que têm de ser curtos) que mais interessam aquele leitor. Tendo tudo isto em conta quem é que julga poder obrigar um leitor normal de um jornal de grande informação a consumir um texto de mil palavras sobre os projectos de uma empresa de dimensão média? Há alguns leitores que dizem, meia hora depois de terem pegado no jornal, que o leram todo. A ser verdade podem mandar inscrever os seus nomes no livro Guiness de recordes. Ainda está por inventar o leitor que consuma - sobretudo em tão pouco tempo - o jornal inteiro, incluindo artigos de opinião e destacáveis especializados. Algumas vezes ao longo deste manual referir-me-ei ao número de palavras. É um tique que se adquire ao trabalhar em agência. É fácil ter uma avaliação do número de palavras: mil palavras são grosso modo quatro linguados (quatro folhas de papel normalizado) ou quatro takes (de agência). Em tipografia, numa composição como a deste livro, equivale a cerca de três páginas. Contam-se os artigos e preposições, ou seja, rigorosamente todas as palavras, inde- 25 As Armas dos Jornalistas pendentemente do número de letras. Um leitor médio leva de 5 a 7 minutos para ler mil palavras conhecidas sobre um assunto que lhe é familiar. Um locutor de noticiários, treinado em leitura rápida, leva cerca de 4 minutos. 2.3 Como interessar o leitor... e o jornalista? Ai está uma pergunta que os mais conscientes daqueles que escrevem para publicar certamente se colocam quando pretendem iniciar um texto. As respostas são felizmente muitas. Até porque se complementam. Mas, para além das regras da escrita ede apresentação, a que faço referência noutras páginas, há factores que merecem ser estudados em pormenor. Como o leitor - e o seu solicitador, o jornalista - procura sobretudo informação (já que está movido pela curiosidade quando procura o jornal ou o noticiário) o primeiro factor de interesse é a novidade. Tudo o que for novo, tudo o que o leitor desconheça, chama-lhe a atenção. Por isso, na escrita jornalística é preciso mostrar de imediato o carácter de novidade de uma informação (na agência Anop, por exemplo, 90 por cento das notícias têm o advérbio de tempo hoje no primeiro parágrafo: fica desde logo esclarecido tratar-se de assunto novo). Depois é nosso dever chamar a atenção para o interesse do texto: um interesse muito egoísta, muito pessoaI. É uma boa receita para um artigo sobre economia ou técnica começar por mostrar ao leitor em que medida este será afectado pelas repercussões do acontecimento a que nos referimos. Que melhor processo de captar leitores para um texto sobre uma investigação de químicos norte-americanos do que começar por afirmar (se for verdade) que com a aplicação da 26 Resumir e Interessar nova fórmula as tintas duram o dobro do tempo? Será certamente um dos artigos com maior nível de leitura nas edições dos jornais em que for publicado, apesar da dificuldade de compreensão, para o leitor médio, dos mecanismos técnicos que terão de ser referidos para explicar a nova tecnologia. É um pouco também o conceito, tantas vezes prostituído, de abrir portas e janelas sobre um artigo: utilizar fotografias e outros elementos gráficos para vender o texto. Os promotores de cinema sabem por exemplo que nada há de melhor que a fotografia de uma bela vedeta com pouca ou nenhuma roupa para "obrigar" muitos leitores a pegarem no artigo de promoção sobre um filme em estreia. Para interessar o jornalista, o redactor de press-releases deve usar armas semelhantes, armas que o jornalista conheça bem. No jornal, o aspecto gráfico é muito importante, é a campanha que primeiro toca para chamar a atenção do leitor. Num comunicado ou em qualquer outro tipo de documento enviado a uma redacção, o que faz pensar que a apresentação é de descurar? Não há nenhum argumento que o permita concluir. A boa vontade do jornalista, quando ela existe, não é suficiente para acolher de braços abertos um texto longo, mal dactilografado, com rasuras, escrito nas duas partes das folhas. A notícia, de que se reproduz uma parte, foi inserta na Imprensa como publicidade redigida. Trata-se de um documento que corres- ponde às regras normais da escrita jornalística: ângulo bem determinado, mensagem essencial no primeiro parágrafo, respostas às perguntas de referência. 27 As Armas dos Jornalistas Como primeira iniciativa integrada nas comemorações do cinquentenário da Standart Eléctrica, o Concelho da Administração dos CTT/TLP, presidido pelo Sr. Eng. Oliveira Martins, deslocou-se às instalações daquela empresa em S. Gabriel, Cascais, para uma visita de trabalho. Recebidos pelo Sr. Eng. Piçarra de Oliveira, Administrador Delegado da Standart Eléctrica e pelos seus mais directos colaboradores, participaram numa reunião onde lhes foi dado a conhecer a orgânica e funcionamento da Empresa, preparada para responder de imediato à expansão dos mercados das telecomunicações nos moldes da mais avançada tecnologia. Apreciados e comentados foram também os indicadores de gestão relativos à empresa bem como os seus programas a curto e médio prazo. Seguiu-se uma visita às zonas fabris que decorreu com o maior interesse destacando- se a produção de circuitos integrados, na linha de semicondutores, a fabricação de equipamentos de Não poderia, no entanto, ser pubIicada nas páginas de noticiários dos jornais. O assunto a que se reporta não é obviamente do interesse do leitor médio. Em contrapartida, uma reportagem sobre os bastidores da fabricação de televisores a cores (nas instalações visitadas) seria lida com agrado pela generalidade dos consumidores de publicações. Era o levantar do véu sobre o mundo desconhecido da técnica, aproveitando a "proximidade" dada por um objecto que faz parte do nosso quotidiano. 2.4 Não se pode perder de vista a lei da proximidade. É fácil noticiar a transferência bombástica de um conhecido jogador de futebol ou a criação da linha de Metro tão necessária para descongestionar o trânsito.É fácil porque se trata de assuntos com muito interesse para 28 Resumir e Interessar a generalidade dos leitores de um jornal popular. Nestes casos as próprias notícias impõem-se por si. Não precisam de artifícios nem de chamadas de atenção especial. Passa-se assim felizmente com a generalidade das matérias que resultam da investigação jornalística. O repórter ao trabalhar actua com uma espécie de procuração dos seus leitores, investiga aquilo que julga ser do interesse deles. O mesmo já não sucede com os candidatos a publicar na Imprensa - os jornais passariam bem sem alguns textos que lhes são envia- dos por empresas, organizações, anónimos. Para estes, portanto, o trabalho de interessar os destinatários (e, entre eles, os primeiros, os jornalistas) é maior. Só quem nunca teve de escrever dois ou três linguados sobre uma reunião de odontologistas ou um seminário de especialistas discutindo "a problemática do deficiente" não sabe como é difícil redigir relatos interessantes destas iniciativas que à primeira vista poderão dizer respeito a toda a gente. É o nível demasiado técnico das intervenções, é a maneira muito fechada como os assuntos, mesmo os mais próximos do público, são discutidos, é a falta de aspectos práticos das conclusões. Só um verdadeiro trabalho de profissional, levando a sério essa missão de descodificar o incompreensível para o grande público, pode fazer com que este leia com interesse o que se lhe propõe. Para isso é preciso ter em conta a lei da proximidade: 1. geográfica - o interesse do leitor está limitado a um certo universo geográfico. Para quem folheia um vespertino popular de Lisboa um morto na marginal conta mais que cem mortos em mais uma série de inundações na China. 29 As Armas dos Jornalistas 2. temporal - os leitores procuram o presente e as suas implicações no futuro. Para um diário, uma notícia sobre um facto ocorrido antes da última edição já interessa muito pouco. Por isso, os contactos com uma redacção não podem ser feitos pelo correio tradicional. 3. psicológica - temas há que cativam muito mais a atenção dos leitores que outros. Estão no primeiro caso os que se ligam à morte, à segurança, aos conflitos, ao desporto, ao sexo. A opção de leitura é como os bilhetes de identidade: pessoal e intransmissível. É impossível levar um ecologista militante ou um apaixonado pela filosofia hindu a interessar-se pela movimentação da bolsa de Nova York. É muito difícil levar um operário polaco a interessar-se pelos resultados do futebol brasileiro. Como se conseguiria que um ciclista chinês lesse um artigo sobre as alterações ao trânsito em Paris? 30 3. A TÉCNICA Gestos de boa vontade na direcção do destinatário • O ângulo é urna peça-chave • O Deitar fora o acessório • Responder às perguntas para evitar informações “coxas" A Técnica 3.1 O autor de um comunicado ou de um press-release, mesmo de um projecto de notícia, não tem a mesma preocupação que o jornalista quanto à escolha do ângulo do seu artigo. O ângulo é uma peça chave na artilharia informativa, é o percurso escolhido para conduzir o leitor. Pode escrever-se sobre Lisboa segundo vários ângulos: o enviado de uma revista holandesa de tempos livres escolherá talvez as ruelas de Alfama;o repórter de um matutino da capital queixar-se-á dos problemas de trânsito; o articulista de uma revista de arquitectura analisará os prédios Valmor. Todos eles estão no caminho certo. Escolhem um ângulo determinado para o seu artigo de acordo com os leitores a que se dirigem. Idiota seria tentar cada um deles, numa mesma peça, incluir todos os possíveis ângulos. Cabe portanto ao jornalista, em face do material fornecido pela fonte, escolher o ângulo que julga mais adequado à sua matéria. O Concelho de Gerência da CP vem, por este meio, comunicar ao público utente que, mau grado todos os esforços desenvolvidos pelo Concelho de Gerência ao longo de diversas reuniões com os representantes do Sindicato dos Maquinístas, não foi possível chegar a um acordo que permitisse desbloquear o conflito que conduziu à greve decretada para os dias 1, 3, 5, 7 e 9 de Março. Não pode, no entanto, o Concelho de Gerência deixar de dar a conhecer em síntese os principais pontos de divergência existentes entre as partes. O Concelho de Gerência propôs ao SMAQ um aumento da média salarial global mensal (12 meses), da respectiva carreira, que neste momento é de 37.118$00 (12 meses) para 44.764$00, ou seja, de cerca de 7.600$00. 33 As Armas dos Jornalistas O SMAQ deseja um aumento de cerca de 15.000$00 da mesma média, em relação à média de 1981. Para melhor se compreender a exorbitância da pretensão do SMAQ, basta referir que a média salarial global mensal (12 meses) dos restantes trabalhadores da Empresa, em 1981, foi de 25.881$00, contra os 37.118$00 dos Maquinistas, e que o aumento previsto para 1982 da média salarial global dos restantes trabalhadores é de cerca de 5.300$00. Mas o SMAQ não fica satisfeito nas suas exigências e pretende, ainda, que a carreira dos Maquinistas seja desparalelizada das restantes carreirasem relação às quais se encontra equiparada, mediante a subida de mais um escalão na tabela de remunerações, esquecendo que, no início do ano de 1981, beneficiou de uma reafectação tal como a generalidade das restantes carreiras. O Concelho de Gerência lamenta profundamente todos os transtornos e prejuízos que esta estranha greve dos SMAQ vai causar aos seus utentes e ao País, mas não pode aceitar as suas reivindicações por serem incomportáveis e por considerar para além do mais, que a aceitação das exigências do SMAQ constituiria uma flagrante injustiça em relação aos restantes trabalhadores da CP. Deste comunicado, simples, da CP pode partir-se para vários ângulos. Em alguns casos, o jornalista limita-se a fazer um resumo como este: "O conselho de gerência da CP comunicou hoje não ter chegado a acordo com o sindicato dos Maquinistas, pelo que se mantém a greve convocada para os dias 1, 3, 5, 7 e 9”. O redactor da página de informação geral poderá escrever, com dados complementares, uma peça com a seguinte mensagem essencial: "O país estará sem comboios durante cinco dias devido à greve dos maquinistas". O seu colega da secção de trabalho servir-se-á do mesmo comunicado para avançar com uma análise salarial e de carreiras dos ferroviários. 34 A Técnica A fonte não compete, portanto, escolher o ângulo da informação a publicar mas a experiência diz-me que dela podem partir indicações determinantes. A primeira de todas é a escolha do público a que se destina o material e, logo a seguir, os suportes aos quais vai ser enviado. Até aí pode tratar-se de elementos em bruto. Há que redigi-los de acordo com as opções anteriores. O ideal para um gabinete encarregado de produzir textos para a Imprensa seria poder em cada caso elaborar originais diferentes. É que a cada canal, a cada mass- medium, corresponde um determinado tipo de leitores. A cada grupo de leitores satisfaz uma determinada linguagem. Bom seria também que as acções de relações públicas tivessem em conta a própria especificidade técnica dos rnedia, o hardware definido pelo sociólogo canadense Herbert MeLuhan (em complemento ao software, a parte humana da comunicação social). A rádio e a televisão, por exemplo, exigem tratamentos específicos em relação à Imprensa escrita. Conhecer o destinatário da mensagem que se elabora é funda- mental para o jornalista, não o é menos para a empresa, o partido, o sindicato. Um dos objectivos deste manual é dar a conhecer os primeiros leitores desses textos destinados à Imprensa: os jornalistas. Que reacções se devem esperar deles, quais são as suas opções? O ideal para quem escreve para ser publicado (e lido) é fazer um exame análogo, caso a caso, em relação aos leitores médios da publicação que visa. Como escreve Loic Hervovet, professor da Universidade de Lille, numa frase feliz: É preciso fazer gestos de boa vontade na direcção do leitor. Chamá-lo, gritar-lhe, "engraxá-lo", piscar-lhe o 35 As Armas dos Jornalistas olho. Quer dizer, ir ao encontro dos seus interesses, ao nível do conteúdo e da linguagem. Os manuais de jornalismo costumam citar Montesquieu: O leitor mata-se a reduzir o que o autor se matou a alongar. Foi há dois séculos que Montesquieu preconizou as conclusões que hoje se tiram dos estudos de leitura. O leitor, sobretudo neste final do século vinte, não quer textos compridos, prefere ocupar o menos tempo possível na leitura do maior contingente de informações. Gosta de encontrar notícias que lhe sejam dirigidas - através da aplicação da lei da proximidade -, que sejam actuais, que sejam precisas e concretas, com o ângulo apertado e claramente enunciado. Não se julgue no entanto que a escolha do ângulo é um convite à apresentação forçada de conclusões por parte do jornalista. Pelo contrário, o leitor aprecia sobremaneira que lhe seja fornecida a informação e que seja ele próprio a "aviar a sua vida". Philippe Gailiard escreve que a sociedade actual recusa os julgamentos expressos pelos jornais. Já não espera, ao contrário de outrora, as directivas dos editorialistas mas os factos relatados por informadores e explicados por jornalistas. É por isso que têm desapa- recido a maioria dos diários de opinião. A publicidade descobriu já há alguns anos o chamado efeito do boomerang - a propaganda tem por vezes resultados contrários aos previstos pelos seus autores. O auto-elogio, em particular quando não é acompanhado por bases informativas, suscita pouco entusiasmo da parte dos destinatários. 36 A Técnica Estudos feitos sobre campanhas eleitorais revelam que os bombardeamentos ideológicos partidários não conseguem uma influência significativa no comportamento dos eleitores. Os efeitos a curto prazo são mesmo irrelevantes. O condicionamento e a manipulação, afirmam os especialistas, só a médio e longo prazo começam a ter alguns reflexos, se houver uma insistência desusada na repetição da mensagem com o mesmo sentido. O artigo não é um transporte colectivo com o autor a conduzir o leitor para onde muito bem entenda. 3.2 O primeiro passo para redigir um documento a publicar na Imprensa é a escolha da mensagem essencial, a justificação pela qual se faz chegar o texto às redacções. De uma maneira simplificada, a essa mensagem essencial corresponde o lead, o primeiro parágrafo do texto. A escolha é fácil, ao contrário do que podem fazer crer dezenas de anos de cultivo dos narizes de cera. Quando encontro um amigo na rua e lhe pergunto o que se passou no Benfica- Sporting, ele diz-me de imediato qual o resultado do jogo. Só depois me relata meia dúzia de pormenores, dirá mesmo que o estádio estava cheio. Esse meu amigo pode ser um operário, um advogado, um empregado de escritório. Não precisa de ter qualquer prática de jornalismo. Nada justifica portanto que uma notícia sobre o encontro comece por qualquer coisa como: Uma imensa moldura humana enchia completamente o estádio... A mensagem essencialé a ideia base do artigo, o seu resumo em duas ou três linhas. Nos desks (departamentos de triagem e redacção das notícias) 37 As Armas dos Jornalistas das agências internacionais a primeira decisão sobre o aproveitamento (ou não) das notícias é tomada apenas com a consulta das primeiras 20 palavras. É aí, pode dizer- se, que a notícia vive ou morre. Hoje não, que é sábado, menos ainda amanhã, que é domingo, mas talvez no próximo dia útil, ou seja, segunda-feira, 11, alguém neste país, a nivel do Poder, comece a agir eficazmente no sentido de serem lançadas condições de efectiva segurança nas escolas. Para que ao menos se cumpra aquele princípio que vem sendo hábito seguir, de «pôr trancas à porta depois de casa assaltada». Que conclusão tirar desta abertura, um típico nariz de cera, como se designa em jornalismo esta prática (ultrapassada)? Nenhuma. Trata-se apenas de um comentário (irónico, creio) do repórter sobre uma notícia que guardou para o interior do texto e que é portanto ainda desconhecida dos leitores. Estes ainda não sabem, quando lhes é pedido que "subscrevam" a indignação do jornalista, qual o dado concreto que permite concluir não haver segurança nas escolas.. Aí está ele: É que ontem, cerca das 8 da manhã, um aluno de 17 anos da Escola Secundária Padre António Vieira, em Alvalade (Lisboa), foi ferido a tiro na cara ao ser assaltado quando se dirigia para a escola. 38 A Técnica A escolha bem feita de uma mensagem essencial faz com que o jornalista gaste apenas alguns segundos para se aperceber da generalidade do conteúdo do que lhe é proposto. Rapidamente pode determinar a que página se destina o material, que importância tem, que relevo lhe conceder. Dispõe bem o profissional da escrita: Estou a trabalhar com gente que sabe do assunto e que me facilita a vida. Muitas vezes nas redacções não se chega a perceber se tal ou tal comunicado pretende vender uma mensagem ou o seu produtor. 3.3 Além da mensagem essencial, as outras informações devem ser escolhidas, sem perder de vista o ângulo, e hierarquizadas. É preciso ter a coragem de deitar fora o que é acessório, tudo o que é marginal. Trata-se de informações que apenas serviriam para criar obstáculos ao leitor e que podem ser utilizadas posteriormente com um ângulo novo. A selecção será feita de qualquer forma: se não for a fonte é o jornalista, se não for o jornalista é o leitor. Só que neste último caso, o leitor tem tendência para abandonar um texto quando este não seque o ângulo indicado. Apenas quando está muito agarrado ao assunto contornará as dificuldades para ir até ao fim. Um jornal é sempre uma selecção. Informar é escolher. Se o jornalista se recusa a escolher, o leitor escolherá recusá-lo. É assim, desta maneira radical, que os especialistas do Centre de Perfectionement des Journalistes (CFPJ), de Paris, costumam colocar o assunto. A hierarquizacão pode ser feita de acordo com vários tipos de plano, sendo o mais vulgarizado no jornalismo diário informativo o 39 As Armas dos Jornalistas chamado da pirâmide invertida. Partindo da mensagem essencial, a informação é dada do maior para o menor grau de interesse. E o plano automático das agências de notícias por responder à necessidade fundamental de saber o essencial o mais depressa possível. Mesmo que o leitor abandone o texto terá retido, sempre, quer esteja no segundo quer no vigésimo parágrafo, o fundamental da informação. Os inconvenientes assinalam-se quanto à repetição de elementos e à falta de uma boa saída da peça, o chute que os teóricos consideram quase tão importante como a abertura. Outros planos utilizados são o dialéctico (tese, antítese, síntese), o cronológico e o seu primo cronológico invertido. O plano dialéctico tem muito interesse para questões controversas. Possibilita ao utilizador expor a sua opinião, depois os argumentos contrários e finalmente uma síntese das considerações. 40 A Técnica Não se pode descrever a excitação produzida por tal espectáculo: uma estrela, ontem ainda ponto brilhante entre a multidão de pontos anónimos do firmamento, destacou-se pouco a pouco do fundo negro, inscreveu-se no espaço com uma dimensão, primeiro como noz brilhante, depois dilatou-se ao mesmo tempo que a tinta se afirmava, até se tornar semelhante a uma laranja, e integrou-se finalmente no cosmos com o mesmo diâmetro aparente do nosso familiar astro do dia. Nascera para nós um novo sol avermelhado como o nosso no ocaso que já nos fazia sentir a atracção e o calor. Tínhamos reduzido bastante a nossa velocidade. Aproximámo-nos mais de Betelgueuse até que o seu diâmetro aparente excedeu de longe o de todos os corpos celestes que contempláramos até então, o que nos causou urna impressão fabulosa. Antelle deu algumas indicações aos autómatos e pusemo-nos a gravitar em volta da supergigante. Depois, o sábio utilizou os instrumentos astronómicos e iniciou as observações. Em breve descobriu a existência de quatro planetas cujas dimensões e distâncias ao astro central determinou rapidamente. Um deles, o segundo a partir de Betelgueuse, movia-se segundo uma trajectória vizinha da nossa. Tinha aproximadamente o volume da Terra; possuía urna atmosfera que continha oxigénio e azoto; girava em volta de Betelgueuse a uma distância igual a cerca de trinta vezes a que separa a Terra do Sol, recebendo um radiação comparável à que recebe o nosso planeta, graças ao tamanho da supergigante e tendo em conta a sua temperatura relativamente baixa. Decidimos tomá-lo como primeiro objectivo. Depois 41 As Armas dos Jornalistas de serem dadas novas instruções aos robots, a nave foi rapidamente satelizada à sua volta. Então, de motores parados, observamos à vontade este novo mundo. O telescópio mostrou-nos mares e continentes. A nave dificilmente se prestava a uma aterrissagem, mas o caso fora previsto. Dispúnhamos de três engenhos com foguetões, muito mais pequenos, a que chamávamos chalupas. Foi num deles que tomámos lugar, levando alguns aparelhos de medida e Heitor, o chimpanzé, como nós vestido com um escafandro ao qual se habituara. Quanto à nave deixámo-la simples- mente a gravitar em redor do planeta. Encontrava-se assim em maior segurança do que um paquete ancorado num porto, e sabíamos que não se desviaria uma linha da sua órbita. Abordar um planeta desta natureza era uma manobra fácil com a nossa chalupa. Mal penetrámos nas camadas densas da atmosfera, o professor Antelle recolheu amostras do ar exterior e examinou-as. Encontrou-lhes a mesma composição que na Terra a uma alti- tude correspondente. Mal tive tempo de reflectir nesta miraculosa coincidência, pois o solo aproximava-se ràpidamente; não estávamos a mais de cinquenta quilómetros de distância. Como os autómatos efectuavam todas as operações, tudo quanto tinha a fazer era colar o rosto à vigia e ver subir até mim este mundo desconhecido, de coração abrasado pela excitação da descoberta. O planeta assemelhava-se estranhamente à Terra. Esta impressão acentuava-se em cada segundo. Distinguia agora a olho nu o contorno dos continentes. A atmosfera era clara, ligeiramente colorida de verde- 42 A Técnica -pálido, atirando por vezes para o alaranjado, um pouco como no nosso céu da Provença ao pôr-do-sol. O oceano era de um azul leve, igualmente com cambiantes verdes. O desenho das costas era muito diferente de tudo quanto vira entre nós, embora o meu olhar febril sugestionado por tantas analogias, se obstinasse em descobrir também aí parecenças. Mas a semelhança acabava aí. Nada na geografia fazia lembrar o nosso antigo ou o nosso novo continente. Nada. Ora vamos! O essencial, pelo contrário! O planeta era habitado. Sobrevoámos umacidade, uma cidade bastante grande, donde irradiavam estradas bordejadas por árvores, sobre as quais circulavam veículos. Tive tempo de distinguir a arquitectura geral: ruas largas, casas brancas com longas arestas rectilíneas. Mas devíamos aterrar muito longe desse local. A nossa corrida arrastava-nos primeiros sobre campos cultivados, depois uma floresta espessa de cor ruiva, que lembrava a nossa selva equatorial. Encontrávamo-nos agora a uma altitude muito baixa. Divisámos uma clareira de dimensões bastante grandes que ocupava o cimo dum planalto, enquanto o relevo vizinho era bastante acidentado. O nosso chefe decidiu tentar a aventura e deu as suas últimas ordens aos autómatos. Entrou em acção um sistema de retrofoguetões. Ficámos imobilizados durante alguns instantes por cima da clareira, como uma gaivota procurando um peixe. Em seguida, dois anos depois de termos deixado a Terra, descemos muito docemente e pousámos sem choque no centro do planalto, sobre uma erva verde que lembrava a das nossas pradarias normandas. 43 As Armas dos Jornalistas Pierre Boule dá-nos em O planeta dos macacos esta bela descrição da chegada de quatro terrestres a um planeta desconhecido. Fá-la com palavras ricas de conteúdo e um ritmo empolgante, típico da literatura de aventuras, que caracteriza todo o seu best-seller. Estamos longe, no entanto, da linguagem jornalística, apesar de este texto de quase 9 mil palavras ser atribuído a Ulisses Méron, o convencido repórter francês que arrisca a viagem interplanetária à procura da notícia. A título de exemplificação dos conceitos expostos neste manual, podemos adivinhar o comportamento de Méron se fosse de facto um jornalista do nosso tempo a enviar uma crónica para a sua redacção sobre a situação descrita. Como se interrogaria a si próprio, em vista das informações coleccionadas, e que respostas daria? 1. Qual a mensagem essencial? - Um planeta semelhante à Terra foi descoberto no sistema de Betelgueuse. É habitado e tem oxigénio e azoto na atmosfera. A descoberta pertence a uma equipa dirigida pelo cientista Antelle. 2. Outras indicações importantes? - Sobre o planeta: Trata-se do segundo satélite de Betelgueuse. Tem aproximadamente o volume da terra. Gira em volta de Betelgueuse a uma distância igual a cerca de 30 vezes a que separa a Terra do Sol, recebendo uma radiação comparável à que recebe o nosso planeta. Tem mares e continentes. As amostras do ar exterior, examinadas pelo professor Antelle, têm a mesma composição que na terra a uma altitude correspondente. A atmosfera é clara, ligeiramente colorida de verde-pálido, atirando por vezes para o alaranjado, um pouco como o céu da Provença ao pôr do Sol (importante para "envolver" o leitor francês). 44 A Técnica O oceano é de azul leve, igualmente com cambiantes verdes. Nada mais na sua geografia faz lembrar a Terra. Sobrevoámos uma cidade bastante grande donde irradiavam estradas bordejadas por árvores, sobre as quais circulavam veículos (atenção, frase perigosa quanto ao sentido). Tem ruas largas e casas brancas com longas arestas rectilíneas. 3. Outras indicações importantes? Sobre a descoberta: A missão dispõe de uma nave com três engenhos com foguetões, as "chalupas". A equipa (cuja constituição não se depreende deste texto) incluía o chimpanzé Heitor e desceu no planeta utilizando escafandros. A descida foi muito doce e sem choque no centro de um planalto, sobre uma erva verde que lembra as pradarias normandas ("envolve" o leitor). A missão deixou a terra há dois anos (a redacção que se encarregue dos antecedentes). A partir daqui, Ulisses Méron está habilitado a hierarquizar as informações - 1', a mensagem essencial; 2', indicações mais importantes sobre o planeta; 3', indicações sobre a equipa e os bastidores da descoberta; 41, antecedentes da.Missão; 51, indicações secundárias sobre o planeta. Vai procurar dosear os elementos predominantemente técnicos com os que conseguem maior impacto junto do público e escolher um final razoavelmente forte. A sua crónica noticiosa interplanetária poderia ser esta: Um planeta semelhante à Terra, habitado e com oxigénio e azoto na atmosfera, foi hoje descoberto no sistema de Betelgueuse por uma missão dirigida pelo cientista Antelle. Numa primeira observação, conclui-se que recebe do seu sol 45 As Armas dos Jornalistas uma radiação comparável à do nosso planeta e que tem mares e continentes. A atmosfera é clara, ligeiramente colorida de verde pálido, atirando por vezes para o alaranjado como o céu da Provença ao pôr do Sol. Trata-se do segundo satélite de Betelgueuse. Tem aproximadamente o volume da Terra e gira a uma distância igual a cerca de 30 vezes a que separa o nosso planeta do Sol. As amostras do ar exterior examinadas pelo cientista Antelle têm a mesma composição que na Terra a altura correspondente. A missão científica sobrevoou uma cidade bastante grande donde irradiam estradas percorridas por veículos e bordejadas por árvores. A cidade tem ruas largas e casas brancas com longas arestas rectilíneas. A equipa de Antelle partiu da Terra há dois anos numa nave que dispõe de três engenhos com foguetões, as "chalupas". - at. desk ao background. O primeiro contacto com o planeta fez-se utilizando escafandros, mesmo para o chimpanzé Heitor que também integra a equipa. A descida foi muito doce e sem choque, no centro de um planeta, sobre erva verde que lembra as pradarias normandas. Os oceanos são de um azul leve e com cambiantes verdes como os da Terra. Mas nada mais na geografia lembra o nosso planeta. 3.4 Todas as matérias escritas, mesmo as mais primárias, mesmo as que necessitem do tratamento mais aprofundado, têm de responder às perguntas de referência da mensagem essencial: quem?, o quê;" onde?, quando?, porquê?, como?. 46 A Técnica Um dos maiores quebra-cabeças dos jornalistas é elaborar notícias a partir de fontes escritas às quais falta uma (ou mais) das respostas às questões de referência. Nesse caso, ou se assume publicar uma informação "coxa" - e aí os leitores ficarão, também eles, frustrados - ou é necessário recorrer a contactos suplementares. Em casos extremos, o jornalista desiste e prega com a nota no espeto. Mais de metade das informações escritas que afluem às redacções pecam por lhes faltar a resposta a pelo menos uma das questões de referência. É a falta de método que provoca esta situação. Rara- mente se trata de um problema de desconhecimento por parte da própria fonte. Exemplo de um projecto de notícia com muitos obstáculos à sua compreensão (e publicação na Imprensa): .A partir da próxima segunda-feira, dia 27 do corrente, vai ser mais fácil transportar- se de táxi em Lisboa. Efectivamente, as viaturas pretas e verdes que são parte integrante da paisagem da capital, embora muitas delas devessem estar já em alguns museus como podem obviamente constatar todos aqueles que têm de utilizar com regularidade este transporte, que deveria merecer outros cuidados, porque por definição é um meio selectivo, em comparação com os outros transportes públicos, vão ter a bandeirada de 22 escudos (até agora era de 18 escudos). Para além do preço da bandeirada, a fracção ficará fixada em dois escudos e a metragem será reduzida de 165 para 135 metros. Estes acréscimos agora aprovados pelo Ministério do Comércio, que tutela o assunto, representam uma subida da 47 As Armas dos Jornalistas ordem dos 20 por cento em relação aos preços agora praticados nos táxis que circulam em Lisboa. 1. O lead exclui parte da mensagem essencial ao não informar sobre a percentagem do aumento ou sobre os novos preços. 2. O segundo período tem intercalares com mais de 40 palavras, que obrigam o leitor a recorrer ao princípio pararetomar o fio à meada, para "reencontrar" o sujeito da oração. 3. A informação (o aumento dos preços) surge misturada com um comentário sobre o estado das viaturas. 4. Abuso de palavras e expressões redundantes e sem valor informativo. 5. Falta de antecedentes (background) - os leitores gostariam que lhes recordassem aumentos anteriores. Este projecto de notícia seria publicado na Imprensa com mais facilidade se tivesse uma redacção como a seguinte: Os táxis de Lisboa aumentam 20 por conto Os preços dos táxis de Lisboa aumentam 20 por cento na segunda-feira, foi aprovado (quando?) pelo Ministério do Comércio. A bandeirada passa de 18 para 22 escudos. A fracção ficará lixada em dois escudos por cada percurso de 135 metros (agora é de 165 metros). - É o segundo aumento dos táxis desde o princípio do ano. Se a entidade emissora deste projecto de notícia, que poderia ser a associação do sector ou o próprio Ministério, quisesse chamar a atenção dos proprietários dos táxis para o mau estado de algumas 48 A Técnica viaturas em serviço deveria indicá-lo de forma separada do texto sobre os aumentos, Tratar-se-ia de outra informação, que poderia (ou não) ser aproveitada. Se o fosse, figuraria num quarto parágrafo com uma redacção como a seguinte: A (nome da entidade) aproveita este aumento para chamar a atenção dos proprietários dos táxis para o mau estado de algumas das viaturas em serviço. "Parte integrante da paisagem da capital - considera -, muitos táxis deveriam estar já em alguns museus por não corresponderem ao espírito de meio de transporte selectivo, em comparação com os outros transportes públicos" 49 4. O ESTILO Fazer passar a mensagem • Palavras e frases para toda a gente • Facilitar a leitura e dispor bem • O estilo Anop influencia a Imprensa O Estilo 4.1 As palavras que utilizamos servem para explicar ao leitor que o texto lhe é destinado. Qual o melhor processo senão usar palavras que ele bem conhece, as frases que lhe são familiares e lhe soam bem? O autor de um texto para ser lido pelo grande público não é um esteta de escrita, não tem de escrever com floreados, nem mostrar (ao usar meia dúzia de termos técnicos em cada linha) que é um fervoroso especialista do assunto que aborda. O autor de um texto para ser lido pelo grande público é um militante contra as barricadas linguísticas. Aqueles que gostam de ser lidos certamente sabem quão difícil é escrever para ser fácil a compreensão pelos leitores. Começa por ser complicado (e, às vezes, perigoso) generalizar e popularizar os conceitos iniciais por forma a que estes sejam entendidos por leigos. Vem, logo a seguir, o problema das palavras. A língua portuguesa tem em circulação qualquer coisa como 500 mil palavras. Um dicionário popular, como o Torrinha, regista 50 a 60 mil vocábulos, mesmo assim apenas 1/4 do seu congénere da Sociedade da Língua Portuguesa. Quantas delas são conhecidas dos leitores médios dos jornais? Se utilizarmos dados colhidos noutros países, com níveis de ensino superior ao nosso, o leitor de um jornal popular conhece (isto é, compreende à primeira e usa com regularidade) apenas 1.500 palavras. O seu vizinho que estudou numa faculdade terá o dobro de vocabulário ou um pouco mais. O homem culto utiliza 5 a 6 mil palavras e compreende até 10 mil. Estes bancos de palavras - que são, como o outro, para toda a 53 As Armas dos Jornalistas gente - têm de estar sempre presentes na mente daqueles que escrevem para publicar na Imprensa. As palavras empregues são curtas e comuns. A sua escolha responde a dois imperativos: serem exactas e precisas - petroleiro e não embarcação, futebolista e não desportista; serem compreensíveis e intelegíveis por todos os destinatários. Quando for necessário incluir termos pouco frequentes ou em línguas estrangeiras, é recomendável a indicação do seu significado imediatamente a seguir e entre parênteses - pipe-liner (conduta de petróleo bruto). Ao jornalista compete depois eliminar (ou não) essa explicação, tendo em conta o índice de cultura que julga ter o público para o qual trabalha. A repetição da mesma palavra ao longo de um texto é monótona e não ajuda à criação do ambiente dinâmico que deve rodear qualquer artigo. É preciso, no entanto, não cair no emprego de sinónimos a todo o custo, sinónimos muitas vezes imperfeitos (que exprimem de facto uma ideia não de todo coincidente) e que contrariam os dois imperativos atrás enunciados. Muitas vezes também o uso indiscriminado de sinónimos e pseudo-sinónimos dificulta a leitura: obriga-nos a recorrer à palavra inicial recuando portanto no texto, no fundo à procura do sentido preciso do que se pretende dizer. Exemplo (exagerado) do emprego de palavras desnecessárias: No ano de 1980, nos meses de Verão, ambos os dois tinham decorado a mesma melodia musical, completamente repleta de velhas 54 O Estilo tradições do passado. O disco de acetato custara-lhes a quantia de 150 escudos numa nova loja acabada de inaugurar. As mesmas ideias chegam mais facilmente aos destinatários com uma redacção como esta: No Verão de 1980, os dois tinham decorado a mesma melodia, repleta de tradições. O disco custara 150 escudos numa loja nova. Temos todos já doses suficientes de expressões como acontecimento feliz, estrondosos aplausos, esforços sobre-humanos, conseguimos apurar, num esforço de reportagem, eminente personagem, alta individualidade, sala completamente cheia, projectos para o futuro, as mais altas personalidades, dinâmico homem de negócios, justa homenagem, situação sem precedentes. É uma salada de lugares-comuns, redundâncias, expressões vazias de conteúdo que recolhi facilmente em alguns minutos de leitura de jornais. Têm em comum o facto de nada quererem dizer. Todos os dias nascem palavras, quase sempre com sentidos muito precisos, com ideias muito concretas. O jornalismo não aguarda pelo reconhecimento académico para enriquecer o seu vocabulário. Edite Estrela, em A Capital, diz que a palavra expande-se, liberta-se, adquire significações outras, dimensões novas, mudando de campo semântico. As palavras são nossas amigas, devemos saber empregá-las. Jacques Brel, que não era jornalista, afirmava que em cada palavra há um mal-entendido. É preciso evitá-lo, escolhendo as palavras apropriadas. Sem ter medo delas. 55 As Armas dos Jornalistas 4.2 O objectivo do jogo das frases é que o leitor possa reter a mensagem. Se tal não acontecer é como se nada tivesse sido escrito. O leitor não vai obviamente ter a intenção de fixar o texto, mas precisamos de lhe fazer coleccionar na memória o essencial da nossa exposição. Para isso, devemos saber disputar o jogo das frases, depois de termos sabido escolher os vocábulos a utilizar. Os teóricos da comunicação de massas dizem que as frases intercaladas e relativas prejudicam a compreensão do essencial, a ideia expressa na frase-mãe. Uma intercalar de 12 palavras e o leitor - já todos tivemos essa experiência - tem de voltar atrás para recuperar a primeira parte da ideia. Em segundo lugar, sublinham que a nossa capacidade de memorização é mais eficaz em relação à primeira parte da frase, em detrimento da segunda. Por isso, a mensagem essencial deve estar sempre à cabeça. A escrita jornalística não é hipócrita, não usa subterfúgios, é franca e aberta. Em terceiro lugar, a capacidade de retenção obriga ao emprego de frases curtas. Estudos realizados com a língua francesa dão a seguinte aritmética: numa frase com 17 palavras, a memória imediata do leitor médio apreende 12, o que é um bom número tendo em conta que muitas palavras são desnecessárias à compreensãoda ideia (os artigos, por exemplo). numa frase com 40 palavras, a mesma memória apreende quantidade igual, 12 (10 na primeira parte, duas na segunda). O que deixa muito a desejar quanto à retenção da ideia do texto. O problema seria ultrapassado com a divisão da frase em duas, até porque geralmente as frases longas agrupam mais do que uma ideia base. 56 O Estilo Além das palavras desnecessárias à compreensão da ideia (aquilo a que os franceses chamam mots-utils), as palavras que se perdem são em primeiro lugar os adjectivos e em último os substantivos. A capacidade de memorização é um pouco maior em relação aos textos ouvidos que aos lidos. Em quarto lugar, o sentido da frase mais acessível é o simples e lógico: sujeito, predicado, complementos. A aparente pobreza do estilo é compensada, com vantagem, pela riqueza das informações e pela sua passagem até ao leitor ou ouvinte, no fim de contas o essencial da escrita para publicar. Tendo tudo isto em conta, aconselham-se frases curtas com uma extensão média de 20 palavras, e abundância de substantivos. Os adjectivos, sobretudo os de carácter valorativo, devem ser eliminados. Exemplo fácil do que atrás fica exposto é o tratamento jornalístico dado à seguinte nota: O PROF. LOPES MARQUES, DIRECTOR-GERAL DOS DESPORTOS DE PORTUGAL, FOI ELEITO PARA O CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CLEARING HOUSE, NA SEQUENCIA DE UMA DECISÃO DO COMITE PARA O DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO (CODS) DO CONSELHO DA EUROPA QUE ACABA DE REUNIR EM ESTRASBURGO. O CLEARING HOUSE, SEDIADO EM BRUXELAS, E O ORGÃO DE CONSELHO DA EUROPA QUE EM MATERIA DE DESPORTO, COORDENA TODA A INFORMAÇÃO E FAZ A AVALIAÇÃO PERMANENTE DAS PFOLITICAS EUROPEIAS DE DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO DOS 21 PAISES MEMBROS, FUNCIONANDO TAMBEM, DESDE 57 As Armas dos Jornalistas O ULTIMO ANO, COMO UM “BANCO DE DADOS”, NO PLANO EUROPEU, PARA A COOPERAÇÃO E O APOIO A ORGANIZAÇÃO DAS ACTIVIDADES TANTO DE NATUREZA INTERGOVERNAMENTAL COMO NO AMBITO ESPECIFICO DOS PAISES MEMBROS. Desta informação, que tem um segundo parágrafo muito difícil de apreender, foi redigida a seguinte notícia: O DIRECTOR-GERAL DOS DESPORTOS LOPES MARQUES FOI ELEITO PARA O CONCELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CLEARING HOUSE POR PROPOSTA DO COMITÉ PARA O DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO (CDDS) DO CONCELHO DA EUROPA – DIVULGOU HOJE A DGD. A DECISÃO DO CDDS FOI TOMADA NA ULTIMA REUNIÃO DO ORGANISMO, EM ESTRASBURGO. O CLEARING HOUSE, COM SEDE EM BRUXELAS, É O ORGÃO DO CONCELHO DA EUROPA QUE, EM MATÉRIA DE DESPORTO, COORDENA TODA A INFORMAÇÃO E FAZ A AVALIAÇÃO PERMANENTE DAS POLITICAS EUROPEIAS DE DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO DOS 21 PAISES MEMBROS. FUNCIONA DESDE 1981 COMO UM “BANCO DE DADOS”, NO PLANO EUROPEU, PARA A COOPERAÇÃO E O APOIO À ORGANIZAÇÃO DAS ACTIVIDADES TANTO DE NATUREZA INTERGOVERNAMENTAL COMO DO AMBITO DOS PAISES MEMBROS. 58 O Estilo Os elementos informativos são os mesmos, quer dizer, a notícia foi feita com base exclusiva no comunicado. O jornalista apenas tornou os factos mais perceptivos com frases curtas e exprimindo urna só ideia. No primeiro período procurou responder a uma pergunta de referência (quando?) omitida no original (não sabendo quando foi a eleição, indicou quando foi o anúncio da eleição) e aduziu natural- mente a fonte. Tendo tudo isto em conta, aconselham-se frases curtas, com uma extensão média de 20 palavras, e abundância de substantivos. Os adjectivos, sobretudo os de carácter valorativo, devem ser eliminados. É aconselhável o emprego de verbos fortes e concretos, sem abusar dos auxiliares ser e estar, e em voz activa. Cuidado com o abuso da voz passiva e dos gerúndios (melhor o indefinido e o imperfeito) e com o condicional, que diminui a "firmeza" da informação. É preferível utilizar verbos de acção ou de movimento a usar verbos exprimindo estados. O fundamental da escolha das frases volta a ser, todavia, como em relação a tudo o resto, ter ou não informações a divulgar, haver ou não mensagem a transmitir. Quantas mais informações se tem para dar, mais fácil é redigir o papel. Todos temos a experiência de não conseguir escrever um artigo. Na maior parte dos casos, a culpa não é da falta de técnica do autor, mas da falta de mensagem, da sua inexistência. Meia dúzia de regras fundamentais para escolheras palavras e as frases: 59 As Armas dos Jornalistas 1. Utilizar a forma activa de preferência sobre a passiva - A empresa Fartex recebeu um prémio internacional é melhor que um prémio internacional foi atribuído à empresa Fartex. 2. Utilizar o presente em vez do passado - O economista Francisco Gomes diz que a integração europeia... é melhor que o economista Francisco Gomes disse que a integração europeia... 3. Escrever na ordem directa - (Eu) espalharei as armas e os bardíes assinalados, por toda a parte, cantando, se engenho e arte ajudar-me a tanto (um Camões mais compreensível no tratamento jornalístico do brasileiro Eduardo Carlos Pereira). 4. Empregar palavras e expressões familiares e com imagem e dar exemplos - O alinhamento dos planetas lembra um pelotão de ciclistas. Os automobilistas do Porto detestam que lhes falem em buracos: em casa de enforcado não se fala em corda. Os jogos disputados esta época pelo campeão têm sido mais tranquilos que o passeio público de que nos fala Eça de Queirós. 5. Empenhar o leitor (nós, vós) - O Papa que visita Portugal foi alvo de um atentado há um ano: pudemos todos acompanhar pela televisão os disparos na praça de S. Pedro. 6. Humanizar a informação - levar a notícia até ao ambiente do leitor, do ouvinte, do espectador, de maneira que ele a sinta. É redigir de tal forma a notícia que ela tenha um sentido para o seu consumidor. Renê Pucheu, especialista francês da comunicação de massas que esteve em Lisboa para uma conferência, considera que a linguagem utilizada no jornalismo é selvagem. A Imprensa, diz, inventou 60 O Estilo uma escrita original que não é a linguagem falada, nem a familiar, nem a selecta, nem a comum. Trata-se de uma língua representada, que dramatiza ao máximo a informação. Que quase renuncia à frase contínua, em benefício de pedaços de orações curtos e secos, que cria expressões e neologismos, que abusa dos pontos, das aspas e dos dois pontos. A Imprensa exige um tratamento especial da língua como meio de expressão, porquanto os factos opõem-se ao discurso. E o primado da frase-impacto ou frase-fórmula e a utilização da palavra exacta no local preciso e no momento oportuno. 4.3 Facilitar a leitura pelo jornalista é um dos objectivos da boa apresentação do press-release. Mas não é o único: interessa igualmente dispô-lo bem para com o material que lhe é proposto. Há duas ou três regras correntes e universais para a facilidade de leitura de textos, mesmo os que não se destinam à Imprensa - serem dactilografados apenas numa das faces de folhas brancas, com uma boa separação entre as linhas e sem rasuras. Também é razoável que os parágrafos e os períodos sejam quase sempre sinónimos. Todos os documentos têm de ser identificados - nome da entidade, cargo de quem assina - e assinados, com indicação do número do bilhete de identidade. Na maior parte das redacções, para evitar documentos falsos, estas indicações são obrigatórias. Quando enviados por telex, os press-releases não podem evidentemente ser assinados, mas devem conter as outras indicações, designadamente o nome de quem envia e o nome da entidade, além do indicativo do posto (que autentica). 61 As Armas dos Jornalistas E imprescindível a indicação no comunicado do número de telefone e do nome da pessoa a quem os jornalistas se devem dirigir em caso de dúvida. A falta desse contacto leva a que informações interessantes acabem pornão ser publicadas. Por faltar apenas um dado ... Nunca utilize o telefone para ditar comunicados, mesmo com o pretexto de ser para o gravador. O telefone só pode ser usado para fornecer curtas informações de agenda (acabamos de convocar para amanhã uma conferência de Imprensa) e para confirmara recepção de documentos. Em casos particulares, em que existam relações pessoais e de confiança entre o jornalista e a fonte, é possível comunicar por telefone um texto muito breve (3 ou 4 parágrafos) e de última hora, ou proceder ao resumo de uma mensagem que chegará mais tarde. Convém adoptar uma calibragem fixa de caracteres para todos os documentos do mesmo organismo e, de preferência, semelhante à que se emprega em algumas publicações - 60 caracteres por linha, 25 linhas por página. Por vezes, o jornalista é iludido em relação ao tamanho de um projecto de notícia por este estar dactilografado com calibragem diferente da que se usa no seu jornal. E sempre a filosofia de se utilizar as armas que o jornalista conhece e utiliza no seu quotidiano. semelhança do que se faz nos textos publicados, com a criação de títulos, subtítulos e legendas, os comunicados também devem ter as suas entradas diferentes. Para um documento com muitas palavras - mil, por exemplo - pode utilizar-se uma sequência 62 O Estilo de resumos que facilitam o trabalho do jornalista: uma primeira folha com uma frase que resuma o essencial (quase como um lead de agência) e um conjunto de frases (três ou quatro) com outras ideias do artigo. Uma segunda folha com a mensagem essencial e outras informações num total de três ou quatro parágrafos, como se de uma breve se tratasse (ao contrário do que se possa pensar, as breves têm um nível de leitura elevado). Finalmente, a partir da terceira folha, a totalidade do texto. Esquema semelhante é utilizável no telex, com uma boa separa- cão física entre cada um dos componentes do press-release. Quando o jornalista chegar enfim ao texto, já saberá qual o interesse do que lhe é proposto, já tem ideias concretas sobre o que utilizar e de que maneira. Nas redacções há quem conte a anedota, meio a sério meio a brincar, de que o primeiro desejo do leitor, depois de ter comprado um jornal, é de o não ler. O que dizer então do jornalista, na tarimba, a quem é proposto "mais um papel"? É preciso fazer-lhe um grande apelo a uma atitude positiva em face desse papel e o melhor processo é utilizar as mesmas armas, com as adaptações necessárias, que ele emprega para os seus leitores. Trata-se, no fim de contas, de tentar falar a mesma linguagem, a linguagem da escrita informativa. O projecto de notícia da Federação Portuguesa de Patinagem, que inserimos a seguir, é um bom exemplo. Apresentação simples e atraente, com a indicação clara da fonte e contactos. Aproveitamento 63 As Armas dos Jornalistas do press-release para a publicação dos apoios à iniciativa. Estilo económico, com o título pequeno e texto curto. IMAGEM.......... 64 O Estilo Como teste, veja-se o despacho distribuído pela agência Anop a partir deste projecto de notícia: (LISBOA) HOQUEI: SARAMANCH LISBOA, 10 MAR (ANOP) – O PRESIDENTE DO COMITÉ OLIMPICO INTERNACIONAL CONFIRMOU A PRESENÇA NA CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO DO CAMPEONATO DO MUNDO DE HOQUEI EM PATINS, A DISPUTAR EM MAIO EM PORTUGAL – REVELOU HOJE O GABINETE DE IMPRENSA DA PROVA. EM CARTA ENVIADA À FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE PATINAGEM, O ESPANHOL JUAN ANTONIO SARAMANCH MANIFESTA-SE ENCANTADO COM O CONVITE DA ORGANIZAÇÃO E SUBLINHA QUE CHEGARÁ COM CERTA ANTECEDÊNCIA PARA ASSISTIR A JOGOS DO MUNDIAL. SARAMANCH ENTRAGARÁ À FEDERAÇÃO PORTUGUESA, A TAÇA JUAN ANTONIO SARAMANCH, INSTITUIDA PARA O PAÍS QUE CONQUISTOU MAIOR NÚMERO DE TÍTULOS NAS 25 EDIÇÕES DA PROVA. PORTUGAL É O VIRTUAL VENCEDOR DO TROFEU PORQUE GANHOU 11 DOS 24 CAMPEONATOS JÁ DISPUTADOS. O VIGÉSIMO QUINTO MUNDIAL DE HOQUEI EM PATINS DISPUTA-SE EM LISBOA E BARCELOS DE 1 A 16 DE MAIO. A CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO EFECTUA-SE EM BARCELOS.—ANOP 65 As Armas dos Jornalistas Os documentos podem ser enriquecidos com motivos gráficos - mapas, fotografias, gráficos -, os quais despertam a atenção dos jornalistas e, ao serem publicados, exercem acção idêntica junto dos leitores. Ao contrário, são desaconselháveis efeitos gráficos de outros tipos (como letras desenhadas e bonecos). Tal como se recomenda às redacções, os textos para serem publicados não devem utilizar os códigos (gráficos, neste caso) reservados à publicidade. 4.4 O título não é num press-release um título de jornal nem um slug de agência. Quer dizer, não serve para o seu autor mostrar que errou na vocação - ao ser adido de Imprensa e não jornalista - revelando os seus talentos em escolher frases de fórmula, curtas e incisivas, nem limitar-se a assinalar o assunto a que se refere o projecto de notícia. Acerca da exportação de ferros de engomar portugueses para Espanha, um jornal popular pode titular: Domésticas espanholas vão engomar à portuguesa. Uma agência utilizará um slug (referência) como este: Portugal-Espanha: ferros de engomar. O título do press-release não será, no entanto, qualquer deles - deve resumir a mensagem essencial. Sem "flores" nem estilo telegráfico, com rigor e síntese. Qualquer coisa como: Uma empresa portuguesa exporta 100 mil ferros de engomar para Espanha. Se for caso disso, o título é reforçado por duas ou três referências breves a outros aspectos importantes da informação: • a venda envolve (determinada verba) em divisas • é a primeira vez que Portugal exporta ferros de engomar. A notícia está logo "vendida" àqueles que a recebem nas redacções. Em três parágrafos fica a conhecer-se o essencial da informação. Quem a recebe, avalia logo o seu interesse e, também de 66 O Estilo imediato, está apto a encaminhá-la para a secção, serviço ou redactor que a vai tratar. O primeiro parágrafo do texto é, em certa medida, uma repetição alargada e aprofundada do título do press-release. Ao seguir-se o plano da pirâmide invertida, o lead (o primeiro parágrafo que contém a ideia principal) contém em si a mensagem essencial Adopta-se, no entanto, uma forma mais jornalística, com maior número de elementos, como por exemplo: Uma empresa de Ovar, distrito de Aveiro, vai exportar a partir de Março cem mil ferros de engomar para Espanha. Pode mesmo utilizar-se um sublead que contenha as outras ideias destacadas: É a primeira vez que Portugal vende ferros de engomar ao estrangeiro. A exportação envolve (determinada verba) em divisas. É aconselhável que só depois da mensagem essencial se faça referência ao nome da empresa. Essa é uma das diferenças entre um texto noticioso e um texto publicitário: no primeiro caso, o nome da empresa é acessório para o público. Compreende-se o interesse da empresa em publicitar o seu nome. Mas, em jeito de notícia, apenas o pode fazer numa fórmuIa de compromisso entre o seu interesse, o da Imprensa e o do seu público. No corpo da notícia, que se seque ao lead (e sublead, se houver), integram-se os restantes elementos informativos, sempre pela ordem recomendada: do maior ao menor grau de interesse. Aí são dados os pormenores sobre a exportação, as diligências que foram efectuadas, indicações de todo o género sobre a firma que vende, os apoios com que contou. 67 As Armas dos Jornalistas Tudo isto é escrito de maneira clara, com palavras simples e frases curtas. A dimensão do texto também é importante. A partir de 500 palavras assiste-se a uma repulsa por parte do leitor (e, porque não?, do jornalista) e, mesmo que este inicie a leitura, é provável que abandone ao fim de alguns minutos. A técnica da pirâmide
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