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As armas dos jornalistas - A linguagem da informação ao alcance de todos

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SUMARIO 
1. As fontes: milhões de palavras 
1. Toda a gente escreve na Imprensa 11 
 2. Sem fontes não há jornalismo 12 
 3. As relacões das instituições são interessadas 16 
 4. Para além da aplicação das regras 18 
2. Resumir e interessar: armas iguais 
 1. O essencial é resumir 23 
 2. O leitor lê pouco 23 
 3. Interessar o destinatário 26 
 4. A lei da proximidade 28 
3. A técnica: gestos de boa vontade 
 1. Escolha do ângulo 33 
 2. A mensagem essencial 37 
 3. Hierarquizar as informações 39 
 4. Perguntas de referência 46 
4. O estilo: fazer passar a mensagem 
 1. As palavras 53 
 2. As frases 56 
 3. A apresentação 
 4. Os títulos 66 
 5. O estilo Anop 68 
 6. A mensagem ao destinatário 78 
5. Ao vivo: Tudo é para publicar 
 1. Os porta-vozes 81 
 2. A conferência de Imprensa 84 
 3. A entrevista 86 
6. Organízacão das redaccões: a recepção da mensagem 
1. As cartas ao director 95 
2. As seccões e as categorias 100 
3. O "idioma" dos jornalistas 103 
Do trabalho e da falta dele 109 
 
As Fontes 
 
1.1 Os jornalistas não são os únicos a escrever na Imprensa. Cidadãos 
anónimos das origens e actividades mais variadas são autores de textos que ocupam 
áreas cada vez maiores dos jornais. E tempos cada vez mais largos dos noticiários 
radiofónicos e televisivos. 
Esses textos provêm de várias fontes e assumem diversas formas: das tradicionais 
cartas ao director aos comunicados de organizações de base, passando pelos press 
releases das empresas. Partidos, sindicatos, associações, empresas possuem 
geralmente gabinetes de relações públicas, com esta ou outra designação. A eles 
compete responder às perguntas dos jornalistas e também, numa actividade 
crescente, elaborar textos de sua própria iniciativa cuja publicação é depois tentada 
junto dos órgãos de comunicação social. 
 
O contingente de informações desse tipo é muito superior ao que se possa julgar 
numa primeira observação. Em Portugal, creio que apenas a agência Anop fez um 
estudo dó seu input - a entrada de informações na sua redacção central de Lisboa. 
Esse input deve atingir em média cerca de um milhão e meio de palavras por dia. 
Se lhe descontarmos os despachos das agências noticiosas internacionais, das 
delegações da própria Anop e de outras fontes do mesmo tipo, fica mesmo assim um 
caudal impressionante de informações oriundas de não-jornalistas. E a agência 
nacional não é evidentemente o único canal utilizado pelas fontes com estas 
características. 
 
Publicar na Imprensa, mesmo quando os textos provêm de empresas, não é o 
mesmo que fazer publicidade comercial, pelo que 
 
11 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
são graciosos os espaços e os tempos ocupados nos meios de difusão. Mas os 
argumentos económicos não são os que prevalecem - um texto de publicidade não 
tem, de facto, perante o leitor o mesmo impacto que um artigo saído ou que pareça 
ter saído da redacção de um jornal. Este conta com credibilidade e aceitação mais 
largas, é lido com maior atenção e sem preconceitos, sem parti-pris. 
"Estes publicitários são uns exagerados", podem comentar os leitores em relação a 
espaços pagos (e geralmente identificáveis com facilidade pela apresentação e pelo 
estilo de redacção). 
O mesmo já não dirão das matérias elaboradas pelos jornalistas. Apesar de tudo o 
que se diz, o cidadão ao comprar um jornal, ou ao sintonizar um noticiário radiofónico 
ou televisivo, está a acreditar no que vai ler ou ouvir. Felizmente para os jornalistas, o 
público acredita mais neles do que nos políticos, por exemplo. 
 
1.2 Sem fontes não há jornalismo. A Imprensa limitar-se-ia a noticiar os raros 
acontecimentos que os seus repórteres presenciam, se não fossem os informadores, 
aqueles que descrevem aos jornalistas as situações e os actos que vão estar na 
origem das notícias. 
"Posso escrever tudo o que quiseres, mas não me obrigues a secar a fonte". É uma 
frase comum aos repórteres quando passam ao papel informações que recolhem e 
sofrem pressões (legítimas) dos seus camaradas (e dos seus chefes) para irem mais 
longe. Para entrarem num terreno que talvez venha a comprometer o informador ou a 
indispô-lo perante o jornalista. 
A frase diz bem de uma das preocupações fundamentais daqueles que publicam na 
Imprensa - não secar a fonte, quer dizer não perder um contacto, por menos precioso, 
por mais banal que ele seja. 
 
 
12 
As Fontes 
 
 
É a própria essência do jornalismo que está em causa: pode-se ter a maior das más 
vontades para um qualquer gabinete de relações públicas, não se deve é desprezar as 
suas informações. Pode-se ter um político (ou um polícia, ou um sindicalista, ou um 
desportista) em má conta, não se deve é deitar fora os elementos noticiosos que ele 
fornece. 
Tudo isto no interesse do jornalista e, sobretudo, do leitor, do ouvinte, do 
telespectador. 
Este é o grande argumento para aqueles que pretendem publicar na Imprensa - o 
jornal, a rádio, a TV precisam das suas informações como de pão para a boca. E, da 
mesma maneira, que se rejeita um bife por não se gostar de carne de porco também 
se pode eliminar uma fonte ou uma informação. O que não se pode é recusar toda a 
alimentação. 
 
A principal fonte são as agências noticiosas. Em todo o mundo é delas que provem a 
maior parte dos elementos que constituem as peças jornalísticas. Em Portugal, o 
mesmo se passa em relação às agências nacionais e, num plano mais modesto, com 
as suas concorrentes ou representadas estrangeiras. 
Ao serem elaborados por jornalistas, os despachos das agências têm a vantagem (e 
o mérito) de usarem armas para publicação perfeitamente transparentes e 
conhecidas, e ao mesmo tempo seme- lhantes às técnicas da própria Imprensa: daí a 
aceitação e o interesse com que são recebidos nas redacções e a facilidade com que 
penetram (muitas vezes sem alterações) no dossíer "para publicar". 
Noutro capítulo deste manual referir-me-ei em pormenor ao estilo das agências 
noticiosas, e dentre elas, ao da Anop por entender 
 
 
13 
As Armas dos Jornalistas 
 
que a sua aplicação e de um conceito noticioso semelhante é "meio caminho 
andado" para chegar ao destinatário: as páginas dos jornais, os blocos noticiosos da 
rádio e TV. 
 
As redacções trabalham ainda com fontes documentais. São os seus próprios 
serviços de documentação, são os arquivos primitivos e superficiais das secções, são 
os dossíers pessoais dos jornalistas. 
Entre o arquivo da Agência France-Presse em Paris, que agrupa informaticarnente 
seis meses de noticiário e ao qual se recorre em segundos utilizando qualquer 
palavra-chave, e o seu congénere de uma nova publicação, com um único empregado 
a coleccionar recortes recentes, há um ponto em comum: a vontade de superarem as 
falhas de memória dos jornalistas. Com a vantagem de a memória nos enganar com 
facilidade e a documentação ser sempre rigorosa e precisa. 
Os jornalistas também recorrem a centros de documentação estranhos à sua 
redacção e, neste campo, os serviços de relações públicas de empresas e 
organizações podem ter um papel importante no apoio à Imprensa. Quem melhor do 
que uma associação de exportadores para fornecer antecedentes (background) sobre 
as dificuldades de penetração dos têxteis portugueses na Grã-Bretanha? 
A semelhança do que fazem algumas embaixadas e organismos internacionais, é 
bom princípio para as mais diversas entidades criar os seus bancos de informação 
especializados e colocá-los à disposição dos mass media. 
 
As restantes fontes de informação podem ser divididas em dois grandes grupos: a 
informação recebida (ou espontânea) e a informação procurada. 
 
 
14 
 
As Fontes 
 
Na primeira alinham-se os comunicados à Imprensa, o correio dos leitores, as notasde agenda. Os jornalistas recebem-nas com alguma desconfiança, talvez involuntária. 
Há muito tempo que deixaram de "acreditar nos glutões", sabem que destas fontes 
nada recebem que não seja interesseiro. É a posição partidária, a louvaminha 
empresarial, o leitor que se queixa de qualquer problema pessoal, a convocatória de 
urna conferência de Imprensa por vezes sem justificação. 
Já é com outra disposição, com os braços bem abertos, que os jornalistas recebem a 
informação procurada. Trata-se da ajuda dada ao trabalho das redacções pelos 
correspondentes e enviados e aos alertas, "nunca espera dos mas sempre esperados", 
dos informadores. Trata-se igualmente dos contactos desenvolvidos junto de 
potenciais fontes. Neste caso, o repórter é o interessado, no cumprimento do seu 
papel de representar os leitores, são as entidades que contacta que levantam 
dificuldades. 
 
Em 7 de Maio de 1980, os matutinos portugueses fizeram segundas edições, a rádio 
e a TV tinham emitido na noite anterior noticiários especiais: fora desviado para 
Madrid, felizmente sem consequências, um avião Tap da carreira Lisboa-Faro. 
A informação chegou, espontânea, à Anop, às 23 e 30 do dia 6. Era um funcionário 
do aeroporto da Portela. Tornou a iniciativa de telefonar para a agência. A confirmação 
foi fácil: uma chamada para um gabinete de relações públicas garante a veracidade da 
notícia. A Anop distribui um fíashe (meia dúzia de palavras em estilo telegráfico), o 
seu aparelho jornalístico começou a trabalhar ("atenção Faro, atenção Madríd, um 
repórter para o aeroporto da Portela, é preciso 
 
15 
 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
avisar também a Efe, a agência espanhola, o centro de documentação que envie a 
lista dos aviões desviados), nas outras redacções alertadas os mecanismos de 
informação geral desenvolvem-se. 
A cobertura deste desvio de um avião, que mereceu um prémio internacional para 
sete jornalistas da agência, foi de qualquer forma uma excepção: o telefonema das 23 
e 30 permitiu antecipar de alguns minutos a informação. Geralmente seria um 
correspondente de Faro, alertado pelo seu informador no aeroporto, que teria a notícia 
em primeira mão. Era a história de um avião que não chegara. Seria preciso averiguar 
as razões. 
Quando 'dois comboios chocam na estacão da Amadora, o acontecimento só é 
conhecido nas redacções 'pelas consequências. Um dos informadores pagos no 
hospital de S. José telefona a dizer, apressado: "Têm chegado aqui uns feridos. Parece 
que houve um desastre" Só algum tempo depois é que a própria CP accionaria os seus 
mecanismos de alerta da Imprensa se não fosse entretanto bombardeada pelos 
jornais que querem saber os primeiros pormenores enquanto não chegam as equipas 
de reportagem enviadas para o local. 
 
1.3 O jornalista pensa que as relações das instituições, sejam elas quais 
forem, com a imprensa são interessadas. Se um sindicato envia um documento é 
para publicitar as suas posições, se uma empresa faz chegar um relatório às 
redacções é porque este lhe é favorável. 
Não há ninguém, em nenhum jornal do mundo, que espere outro procedimento. 
As instituições produzem informação. Precisam da Imprensa para a fazer chegar ao 
público. Há mesmo quem diga que um qual- 
 
16 
 
 
As Fontes 
 
quer acto (de um empresário, de um político, de um governante) não existe na 
prática enquanto não for divulgado. Enquanto permanecer guardado no segredo dos 
gabinetes é como se não tivesse sido executado. A publicação é tão ou mais 
importante que o acto em si. 
Nos últimos anos têm-se desenvolvido os serviços de imprensa de sindicatos, 
associações profissionais, empresas públicas e privadas, partidos e organizações 
políticas, organismos diversos, clubes desportivos, departamento s de Estado. A sua 
missão teórica é facilitar a vida aos jornalistas - abrir-lhes as portas dos contactos, 
alertá-los para informações desconhecidas. 
Na' prática, vão às vezes mais longe ao elaborarem os seus próprios projectos de 
notícia e dossiers documentais aprofundados. E, ao mesmo tempo, vão "um pouco 
mais perto", ao constituírem uma barreira entre a fonte legítima e o jornalista. 
Este manual destina-se a todos aqueles que, não sendo jornalistas, pretendem 
publicar na imprensa. (A palavra imprensa surge quase sempre no sentido mais lato, 
isto é, englobando os meios de comunicação impressos, a rádio e a televisão). E meu 
desejo sintetizar um conjunto de regras e de exemplos que lhes permitam utilizar uma 
linguagem e uma série de armas facilmente identificáveis por uma redacção 
profissional. 
Tenho em consideração que as informações espontâneas constituem uma parte 
importante do material recebido nas empresas de difusão quer provenham das 
instituições (comunicados, notas, relatórios, dossiers), quer dos anónimos (correio dos 
leitores, alertas telefónicos). Quer se destinem à difusão imediata quer pretendam 
constituir elementos para agenda ou de apoio a matérias futuras. 
 
17 
 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
1.4 A aplicação das regras que se agrupam neste manual não é suficiente 
para um. qualquer comunicado ser publicado na Imprensa. Primeiro que tudo, é 
preciso que ele tenha notícia, que os factos nele descritos sejam actuais e 
interessantes. 
Desde que seja um "furo" com repercussão nacional, o documento mais mal redigido 
é publicado com o maior relevo pelo jornal que a ele tenha acesso. Sobretudo se for 
exclusivo. Mesmo que esteja todo rasurado e tenha sido depositado num caixote do 
lixo (como as reivindicações de organizações clandestinas). 
 
Há uma frase, um dos lugares-comuns mais citados nos livros sobre jornalismo, que 
bem define o espírito do que é notícia. 
Teria sido C. A. Dana, editor do Sun, de Nova York, a dizer um dia: Se um cão 
morde um homem não é notícia. Notícia é quando um homem morde um cão. 
A notícia é qualquer acontecimento actual e interessante. É o relato de um facto 
recente que interessa aos seus potenciais consumido res. 
O universo da notícia é o mais vasto possível. É o conjunto de todos os 
acontecimentos. Tudo o que se passa a toda a hora em toda a parte pode ser notícia. 
A notícia é a matéria prima dos espaços informativos, é dela que eles vivem. Há 
mesmo empresas que só vendem notícias (as agências). É o produto mais dispendioso 
das redacções. As manchetes dos jornais de todo o mundo (com padrões de 
informação idênticos aos nossos) são sempre notícia. Todos os dias. Nunca as 
mesmas. 
"Quais são as. notícias?", é a pergunta subentendida de quem compra um jornal ou 
sintoniza um noticiário. 
 
18 
As Fontes 
 
A própria definição de jornalista decorre da notícia: jornalista é aquele que trabalha 
directa e racionalmente a notícia, que a procura, escreve, selecciona ou titula. Os 
vários géneros do jornalismo são também definidos em função da notícia (a crónica é 
uma sintese de notícias, a crítica é um juízo sobre a notícia, o inquérito é uma mostra 
de opiniões sobre a notícia, etc). 
Adaptando a fórmula de C. A. Dana, se um barril cair da ponte sobre o Tejo não é 
notícia. Se tiver um homem lá dentro é notícia. 
 
Um bibliotecário de Washington define assim as quatro regras básicas para quem 
escreve: 
1 o. ter algo de novo a dizer, o 
2o. dizê-lo, 
3o. calar-se quando estiver dito, 
4o. dar à publicação título e ordem adequados. 
Sem cumprir todas estas regras, que são muito mais sérias do que se poderia crer, 
não se pode publicar na Imprensa. 
 
Para além de ter notícia, o documento não deve ser elaborado apenas de acordo 
com a óptica dos seus autores. Nesse caso, o projecto de notícia terá nas redacções 
um acolhimento idêntico ao dos seus congéneres redigidos com floreados e sem 
critérios jornalísticos. 
O redactor de um press-release, por exemplo, tem de esquecer-se por momentos de 
que está ao serviço de uma empresaou organização e tentar fazer o seu trabalho por 
forma a corresponder aos interesses do público. E é também sua obrigação fazer 
compreender àqueles que não estão habituados a lidar com a imprensa (para isso, ele 
é o 
19 
As Armas dos Jornalistas 
 
especialista) que esse é o melhor caminho (às vezes o único) para que o documento 
seja publicado. 
Em terceiro lugar, pede-se-lhe também urna atenção em face da actualidade em 
tudo semelhante à dos jornalistas. Há ocasiões indica- das para divulgar certo tipo de 
informações - o público está sensibilizado para as receber. Em outras alturas, notícias 
anódinas ou mesmo com interesse ordinário "caem" mal junto dos leitores. 
Como reagiriam os consumidores de jornais e noticiários ao anúncio de um 
importante plano de expansão ferroviário no dia seguinte a uma catástrofe de 
combóios? Quais os efeitos de uma reportagem turística sobre a região onde ocorreu 
há dias um sismo? Em contrapartida, que melhor ocasião para falar de processos de 
economia de combustível do que após um aumento de preço da gasolina? E de 
escrever sobre energias alternativas do que em tempo de seca e de coles de 
electricidade? 
Ler livros, passar os olhos por todos os jornais, estar atento aos boletins e 
programas de actualidades da rádio e da televisão é quase tão importante como 
escrever. Se um jornalista tem a preocupação de "saber tudo", um técnico de relações 
com a Imprensa tem de estar atento ao que o rodeia. 
Aparte tudo isto, resta um factor também muito importante: o talento de quem 
escreve. Por mais documentação teórica que se edite com os aspectos codificáveis da 
escrita jornalística, ficarão de fora sempre aqueles outros que relevam da diferença 
entre um texto bem escrito e um texto mal escrito. Sem, todavia, perder de vista que 
o melhor estilo informativo é aquele que se faz esquecer. 
Contra isso, nem o maior livro de receitas, nem o Pantagruel do jornalismo seria 
antídoto eficaz... 
 
20 
 
 
2. RESUMIR E INTERESSAR 
 Armas iguais às dos jornalistas 
• O primeiro dever é ser sintético 
• Chamar a atenção para o interesse do texto 
• A opção de leitura é pessoal e intransmissível 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumir e Interessar 
 
2.1 O essencial é resumir a informação ao... essencial. Ao fim de duas ou três 
horas de trabalho e afogado em documentos e telefonemas, a primeira atitude de um 
jornalista perante um longo comunicado de mil palavras é de rejeição. "Lá estão estes 
tipos outra vez...", dirá com os seus botões o profissional da escrita por mais 
generoso que seja o seu estado de espírito momentâneo. 
Depois de vencida essa barreira de antipatia, bom, depois, começará por ir ler o 
último parágrafo do documento que lhe é proposto. Espera encontrar aí as conclusões 
de toda a lengalenga e é por elas que começará a sua notícia. Só a seguir fará um 
resumo da argumentação. 
O primeiro dever de quem escreve um comunicado para ser proposto a um jornal (e, 
por maioria de razão, à rádio ou à TV) é ter a preocupação de ser sintético. De 
escrever o maior número de ideias com o menor número de palavras e de forma 
ordenada. 
O tamanho é um elemento determinante para a opção de leitura e, principalmente, 
para a sua confirmação. 
Quanto maior for o texto, maior número de vezes o leitor (mesmo o 
profissionalizado) é tentado a abandoná-lo. Estudos franceses indicam que a partir das 
120 linhas-jornal (linhas de composição, ou seja, cerca de metade em dactilografia), o 
leitor hesita em entrar no texto, mesmo em relação a um assunto que não lhe é 
totalmente indiferente. 
 
2.2 O leitor lê pouco, porque há-de o jornalista ler mais? A questão está 
obviamente mal colocada. O jornalista tem obrigação de ler, pelo menos de maneira 
oblíqua, todo o material que lhe é proposto pelas 
 
 
23 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
suas fontes de informação. E fá-lo quase sempre com uma generosidade e uma 
atenção difíceis de igualar. 
O seu objectivo é procurar a notícia mesmo nos casos vulgares de comunicados 
assinados por organismos que pouco se preocupam em metralhar as redacções com 
matéria morta. 
Um camarada de trabalho disse-me uma vez: "No dia em que o movimento X 
distribuir uma nota com informações pertinentes estou tramado. Deito todos os seus 
comunicados para o cesto dos papéis sem sequer os ler. Não é preconceito. É talvez 
uma aversão. Ao fim de meia centena de documentos idiotas, que me caem quase 
todas as noites na mesa de trabalho, nem um santo conseguiria reagir bem!" 
Trata-se de um caso extremo, o desse movimento X. A maior parte das vezes os 
textos das fontes têm notícia, como se diz em linguagem jornalística. Mas em 90 por 
cento dos casos é preciso procurara com esforço. 
 
Estudos feitos noutros países (tenho sob os olhos elementos franceses e norte-
americanos) permitem avaliar entre 20 e 25 minutos o tempo de leitura consagrado 
ao seu diário pelo leitor médio (o leitor médio não é o cidad5o médio nem a Imprensa 
é expressão da opinião pública tomada no seu conjunto). Os semanários recebem um 
pouco mais de atenção repartida por dois ou três dias. 
Os reformados e outros inactivos são excepção ao lerem de fio a pavio o jornal que 
compram ou ao qual acedem por outras vias. A população activa tem um tempo 
reduzido para se pôr a par do que "vai pelo país e pelo mundo", para usar o lugar-
comum dos noticiários radiofónicos. Os diários populares são muitas vezes 
consumidos no percurso de transporte colectivo entre a casa e o emprego e 
 
24 
 
 
Resumir e Interessar 
 
vice-versa. Jornais de outro género, sobretudo os de grande formato, são lidos à 
secretária de trabalho ou no sofá relaxante. Mas em todos os casos durante muito 
pouco tempo - os tais 20 a 30 minutos. 
O que se pode ler em tão pouco tempo? Cinco a dez minutos são gastos com os 
títulos (no sentido global), as montras principais dos vários artigos. Outro tanto irá 
para as outras chamadas de leitura: fotografia, legendas, caixas em itálico, intertítulos 
(ou subtítulos). Passa-se também os olhos pela publicidade (há jornais onde o leitor 
médio se demora mais com os anúncios do que com os artigos). 
Resta uma dúzia de minutos para ler, às vezes em oblíquo, os dois ou três artigos 
(que têm de ser curtos) que mais interessam aquele leitor. Tendo tudo isto em conta 
quem é que julga poder obrigar um leitor normal de um jornal de grande informação a 
consumir um texto de mil palavras sobre os projectos de uma empresa de dimensão 
média? 
Há alguns leitores que dizem, meia hora depois de terem pegado no jornal, que o 
leram todo. A ser verdade podem mandar inscrever os seus nomes no livro Guiness de 
recordes. Ainda está por inventar o leitor que consuma - sobretudo em tão pouco 
tempo - o jornal inteiro, incluindo artigos de opinião e destacáveis especializados. 
 
Algumas vezes ao longo deste manual referir-me-ei ao número de palavras. É um 
tique que se adquire ao trabalhar em agência. 
É fácil ter uma avaliação do número de palavras: mil palavras são grosso modo 
quatro linguados (quatro folhas de papel normalizado) ou quatro takes (de agência). 
Em tipografia, numa composição como a deste livro, equivale a cerca de três páginas. 
Contam-se os artigos e preposições, ou seja, rigorosamente todas as palavras, inde- 
 
25 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
pendentemente do número de letras. 
Um leitor médio leva de 5 a 7 minutos para ler mil palavras conhecidas sobre um 
assunto que lhe é familiar. Um locutor de noticiários, treinado em leitura rápida, leva 
cerca de 4 minutos. 
 
2.3 Como interessar o leitor... e o jornalista? Ai está uma pergunta que os mais 
conscientes daqueles que escrevem para publicar certamente se colocam quando 
pretendem iniciar um texto. 
As respostas são felizmente muitas. Até porque se complementam. Mas, para além 
das regras da escrita ede apresentação, a que faço referência noutras páginas, há 
factores que merecem ser estudados em pormenor. 
Como o leitor - e o seu solicitador, o jornalista - procura sobretudo informação (já 
que está movido pela curiosidade quando procura o jornal ou o noticiário) o primeiro 
factor de interesse é a novidade. Tudo o que for novo, tudo o que o leitor desconheça, 
chama-lhe a atenção. Por isso, na escrita jornalística é preciso mostrar de imediato o 
carácter de novidade de uma informação (na agência Anop, por exemplo, 90 por cento 
das notícias têm o advérbio de tempo hoje no primeiro parágrafo: fica desde logo 
esclarecido tratar-se de assunto novo). 
Depois é nosso dever chamar a atenção para o interesse do texto: um interesse 
muito egoísta, muito pessoaI. É uma boa receita para um artigo sobre economia ou 
técnica começar por mostrar ao leitor em que medida este será afectado pelas 
repercussões do acontecimento a que nos referimos. Que melhor processo de captar 
leitores para um texto sobre uma investigação de químicos norte-americanos do que 
começar por afirmar (se for verdade) que com a aplicação da 
 
 
26 
 
Resumir e Interessar 
 
nova fórmula as tintas duram o dobro do tempo? Será certamente um dos artigos 
com maior nível de leitura nas edições dos jornais em que for publicado, apesar da 
dificuldade de compreensão, para o leitor médio, dos mecanismos técnicos que terão 
de ser referidos para explicar a nova tecnologia. 
É um pouco também o conceito, tantas vezes prostituído, de abrir portas e janelas 
sobre um artigo: utilizar fotografias e outros elementos gráficos para vender o texto. 
Os promotores de cinema sabem por exemplo que nada há de melhor que a fotografia 
de uma bela vedeta com pouca ou nenhuma roupa para "obrigar" muitos leitores a 
pegarem no artigo de promoção sobre um filme em estreia. 
 
Para interessar o jornalista, o redactor de press-releases deve usar armas 
semelhantes, armas que o jornalista conheça bem. 
No jornal, o aspecto gráfico é muito importante, é a campanha que primeiro toca 
para chamar a atenção do leitor. 
Num comunicado ou em qualquer outro tipo de documento enviado a uma redacção, 
o que faz pensar que a apresentação é de descurar? Não há nenhum argumento que o 
permita concluir. A boa vontade do jornalista, quando ela existe, não é suficiente para 
acolher de braços abertos um texto longo, mal dactilografado, com rasuras, escrito 
nas duas partes das folhas. 
 
A notícia, de que se reproduz uma parte, foi inserta na Imprensa como publicidade 
redigida. Trata-se de um documento que corres- ponde às regras normais da escrita 
jornalística: ângulo bem determinado, mensagem essencial no primeiro parágrafo, 
respostas às perguntas de referência. 
 
27 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
Como primeira iniciativa 
integrada nas comemorações 
do cinquentenário da Standart 
Eléctrica, o Concelho da 
Administração dos CTT/TLP, 
presidido pelo Sr. Eng. Oliveira 
Martins, deslocou-se às 
instalações daquela empresa 
em S. Gabriel, Cascais, para 
uma visita de trabalho. 
Recebidos pelo Sr. Eng. Piçarra 
de Oliveira, Administrador 
Delegado da Standart Eléctrica 
e pelos seus mais directos 
colaboradores, participaram 
numa reunião onde lhes foi 
dado a conhecer a orgânica e 
funcionamento da 
Empresa, preparada para 
responder de imediato à 
expansão dos mercados das 
telecomunicações nos moldes 
da mais avançada tecnologia. 
Apreciados e comentados 
foram também os indicadores 
de gestão relativos à empresa 
bem como os seus programas 
a curto e médio prazo. 
Seguiu-se uma visita às 
zonas fabris que decorreu com 
o maior interesse destacando-
se a produção de circuitos 
integrados, na linha de 
semicondutores, a fabricação 
de equipamentos de 
 Não poderia, no entanto, ser pubIicada nas páginas de noticiários dos jornais. O 
assunto a que se reporta não é obviamente do interesse do leitor médio. 
Em contrapartida, uma reportagem sobre os bastidores da fabricação de televisores a 
cores (nas instalações visitadas) seria lida com agrado pela generalidade dos 
consumidores de publicações. Era o levantar do véu sobre o mundo desconhecido da 
técnica, aproveitando a "proximidade" dada por um objecto que faz parte do nosso 
quotidiano. 
2.4 Não se pode perder de vista a lei da proximidade. É fácil noticiar a 
transferência bombástica de um conhecido jogador de futebol ou a criação da linha de 
Metro tão necessária para descongestionar o trânsito.É fácil porque se trata de 
assuntos com muito interesse para 
28 
Resumir e Interessar 
 
a generalidade dos leitores de um jornal popular. Nestes casos as próprias notícias 
impõem-se por si. Não precisam de artifícios nem de chamadas de atenção especial. 
Passa-se assim felizmente com a generalidade das matérias que resultam da 
investigação jornalística. O repórter ao trabalhar actua com uma espécie de 
procuração dos seus leitores, investiga aquilo que julga ser do interesse deles. 
O mesmo já não sucede com os candidatos a publicar na Imprensa - os jornais 
passariam bem sem alguns textos que lhes são envia- dos por empresas, 
organizações, anónimos. Para estes, portanto, o trabalho de interessar os 
destinatários (e, entre eles, os primeiros, os jornalistas) é maior. 
Só quem nunca teve de escrever dois ou três linguados sobre uma reunião de 
odontologistas ou um seminário de especialistas discutindo "a problemática do 
deficiente" não sabe como é difícil redigir relatos interessantes destas iniciativas que à 
primeira vista poderão dizer respeito a toda a gente. 
É o nível demasiado técnico das intervenções, é a maneira muito fechada como os 
assuntos, mesmo os mais próximos do público, são discutidos, é a falta de aspectos 
práticos das conclusões. 
Só um verdadeiro trabalho de profissional, levando a sério essa missão de 
descodificar o incompreensível para o grande público, pode fazer com que este leia 
com interesse o que se lhe propõe. 
Para isso é preciso ter em conta a lei da proximidade: 
1. geográfica - o interesse do leitor está limitado a um certo universo geográfico. 
Para quem folheia um vespertino popular de Lisboa um morto na marginal conta mais 
que cem mortos em mais uma série de inundações na China. 
 
29 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
2. temporal - os leitores procuram o presente e as suas implicações no futuro. Para 
um diário, uma notícia sobre um facto ocorrido antes da última edição já interessa 
muito pouco. Por isso, os contactos com uma redacção não podem ser feitos pelo 
correio tradicional. 
3. psicológica - temas há que cativam muito mais a atenção dos leitores que outros. 
Estão no primeiro caso os que se ligam à morte, à segurança, aos conflitos, ao 
desporto, ao sexo. 
 
A opção de leitura é como os bilhetes de identidade: pessoal e intransmissível. 
É impossível levar um ecologista militante ou um apaixonado pela filosofia hindu a 
interessar-se pela movimentação da bolsa de Nova York. É muito difícil levar um 
operário polaco a interessar-se pelos resultados do futebol brasileiro. Como se 
conseguiria que um ciclista chinês lesse um artigo sobre as alterações ao trânsito em 
Paris? 
 
30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. A TÉCNICA 
 
Gestos de boa vontade na direcção do destinatário 
 
• O ângulo é urna peça-chave 
• O Deitar fora o acessório 
• Responder às perguntas para evitar informações “coxas" 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Técnica 
 
3.1 O autor de um comunicado ou de um press-release, mesmo de um 
projecto de notícia, não tem a mesma preocupação que o jornalista quanto à 
escolha do ângulo do seu artigo. O ângulo é uma peça chave na artilharia 
informativa, é o percurso escolhido para conduzir o leitor. 
Pode escrever-se sobre Lisboa segundo vários ângulos: o enviado de uma revista 
holandesa de tempos livres escolherá talvez as ruelas de Alfama;o repórter de um 
matutino da capital queixar-se-á dos problemas de trânsito; o articulista de uma 
revista de arquitectura analisará os prédios Valmor. 
Todos eles estão no caminho certo. Escolhem um ângulo determinado para o seu 
artigo de acordo com os leitores a que se dirigem. Idiota seria tentar cada um deles, 
numa mesma peça, incluir todos os possíveis ângulos. Cabe portanto ao jornalista, em 
face do material fornecido pela fonte, escolher o ângulo que julga mais adequado à 
sua matéria. 
 
O Concelho de Gerência da CP vem, por este meio, comunicar ao 
público utente que, mau grado todos os esforços desenvolvidos pelo 
Concelho de Gerência ao longo de diversas reuniões com os 
representantes do Sindicato dos Maquinístas, não foi possível chegar a 
um acordo que permitisse desbloquear o conflito que conduziu à greve 
decretada para os dias 1, 3, 5, 7 e 9 de Março. 
Não pode, no entanto, o Concelho de Gerência deixar de dar a 
conhecer em síntese os principais pontos de divergência existentes 
entre as partes. 
O Concelho de Gerência propôs ao SMAQ um aumento da média 
salarial global mensal (12 meses), da respectiva carreira, que neste 
momento é de 37.118$00 (12 meses) para 44.764$00, ou seja, de 
cerca de 7.600$00. 
 
33 
As Armas dos Jornalistas 
 
O SMAQ deseja um aumento de cerca de 15.000$00 da mesma média, em relação à 
média de 1981. 
Para melhor se compreender a exorbitância da pretensão do SMAQ, basta referir que 
a média salarial global mensal (12 meses) dos restantes trabalhadores da Empresa, 
em 1981, foi de 25.881$00, contra os 37.118$00 dos Maquinistas, e que o aumento 
previsto para 1982 da média salarial global dos restantes trabalhadores é de cerca de 
5.300$00. 
Mas o SMAQ não fica satisfeito nas suas exigências e pretende, ainda, que a carreira 
dos Maquinistas seja desparalelizada das restantes carreirasem relação às quais se 
encontra equiparada, mediante a subida de mais um escalão na tabela de 
remunerações, esquecendo que, no início do ano de 1981, beneficiou de uma 
reafectação tal como a generalidade das restantes carreiras. 
O Concelho de Gerência lamenta profundamente todos os transtornos e prejuízos 
que esta estranha greve dos SMAQ vai causar aos seus utentes e ao País, mas não 
pode aceitar as suas reivindicações por serem incomportáveis e por considerar para 
além do mais, que a aceitação das exigências do SMAQ constituiria uma flagrante 
injustiça em relação aos restantes trabalhadores da CP. 
 
Deste comunicado, simples, da CP pode partir-se para vários ângulos. 
Em alguns casos, o jornalista limita-se a fazer um resumo como este: "O conselho 
de gerência da CP comunicou hoje não ter chegado a acordo com o sindicato dos 
Maquinistas, pelo que se mantém a greve convocada para os dias 1, 3, 5, 7 e 9”. 
O redactor da página de informação geral poderá escrever, com dados 
complementares, uma peça com a seguinte mensagem essencial: "O país estará sem 
comboios durante cinco dias devido à greve dos maquinistas". 
O seu colega da secção de trabalho servir-se-á do mesmo comunicado para avançar 
com uma análise salarial e de carreiras dos ferroviários. 
34 
A Técnica 
 
A fonte não compete, portanto, escolher o ângulo da informação a publicar mas a 
experiência diz-me que dela podem partir indicações determinantes. 
A primeira de todas é a escolha do público a que se destina o material e, logo a 
seguir, os suportes aos quais vai ser enviado. Até aí pode tratar-se de elementos em 
bruto. Há que redigi-los de acordo com as opções anteriores. 
O ideal para um gabinete encarregado de produzir textos para a Imprensa seria 
poder em cada caso elaborar originais diferentes. É que a cada canal, a cada mass-
medium, corresponde um determinado tipo de leitores. A cada grupo de leitores 
satisfaz uma determinada linguagem. 
Bom seria também que as acções de relações públicas tivessem em conta a própria 
especificidade técnica dos rnedia, o hardware definido pelo sociólogo canadense 
Herbert MeLuhan (em complemento ao software, a parte humana da comunicação 
social). A rádio e a televisão, por exemplo, exigem tratamentos específicos em relação 
à Imprensa escrita. 
Conhecer o destinatário da mensagem que se elabora é funda- mental para o 
jornalista, não o é menos para a empresa, o partido, o sindicato. Um dos objectivos 
deste manual é dar a conhecer os primeiros leitores desses textos destinados à 
Imprensa: os jornalistas. Que reacções se devem esperar deles, quais são as suas 
opções? 
O ideal para quem escreve para ser publicado (e lido) é fazer um exame análogo, 
caso a caso, em relação aos leitores médios da publicação que visa. Como escreve 
Loic Hervovet, professor da Universidade de Lille, numa frase feliz: É preciso fazer 
gestos de boa vontade na direcção do leitor. Chamá-lo, gritar-lhe, "engraxá-lo", 
piscar-lhe o 
 
35 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
olho. Quer dizer, ir ao encontro dos seus interesses, ao nível do conteúdo e da 
linguagem. 
 
Os manuais de jornalismo costumam citar Montesquieu: O leitor mata-se a reduzir o 
que o autor se matou a alongar. Foi há dois séculos que Montesquieu preconizou as 
conclusões que hoje se tiram dos estudos de leitura. 
O leitor, sobretudo neste final do século vinte, não quer textos compridos, prefere 
ocupar o menos tempo possível na leitura do maior contingente de informações. Gosta 
de encontrar notícias que lhe sejam dirigidas - através da aplicação da lei da 
proximidade -, que sejam actuais, que sejam precisas e concretas, com o ângulo 
apertado e claramente enunciado. 
Não se julgue no entanto que a escolha do ângulo é um convite à apresentação 
forçada de conclusões por parte do jornalista. Pelo contrário, o leitor aprecia 
sobremaneira que lhe seja fornecida a informação e que seja ele próprio a "aviar a sua 
vida". 
Philippe Gailiard escreve que a sociedade actual recusa os julgamentos expressos 
pelos jornais. Já não espera, ao contrário de outrora, as directivas dos editorialistas 
mas os factos relatados por informadores e explicados por jornalistas. É por isso que 
têm desapa- recido a maioria dos diários de opinião. 
A publicidade descobriu já há alguns anos o chamado efeito do boomerang - a 
propaganda tem por vezes resultados contrários aos previstos pelos seus autores. 
O auto-elogio, em particular quando não é acompanhado por bases informativas, 
suscita pouco entusiasmo da parte dos destinatários. 
 
36 
 
A Técnica 
 
Estudos feitos sobre campanhas eleitorais revelam que os bombardeamentos 
ideológicos partidários não conseguem uma influência significativa no comportamento 
dos eleitores. Os efeitos a curto prazo são mesmo irrelevantes. O condicionamento e a 
manipulação, afirmam os especialistas, só a médio e longo prazo começam a ter 
alguns reflexos, se houver uma insistência desusada na repetição da mensagem com 
o mesmo sentido. 
O artigo não é um transporte colectivo com o autor a conduzir o leitor para onde 
muito bem entenda. 
 
3.2 O primeiro passo para redigir um documento a publicar na Imprensa é a 
escolha da mensagem essencial, a justificação pela qual se faz chegar o texto 
às redacções. De uma maneira simplificada, a essa mensagem essencial corresponde 
o lead, o primeiro parágrafo do texto. 
A escolha é fácil, ao contrário do que podem fazer crer dezenas de anos de cultivo 
dos narizes de cera. 
Quando encontro um amigo na rua e lhe pergunto o que se passou no Benfica-
Sporting, ele diz-me de imediato qual o resultado do jogo. Só depois me relata meia 
dúzia de pormenores, dirá mesmo que o estádio estava cheio. Esse meu amigo pode 
ser um operário, um advogado, um empregado de escritório. Não precisa de ter 
qualquer prática de jornalismo. Nada justifica portanto que uma notícia sobre o 
encontro comece por qualquer coisa como: Uma imensa moldura humana enchia 
completamente o estádio... 
A mensagem essencialé a ideia base do artigo, o seu resumo em duas ou três 
linhas. 
Nos desks (departamentos de triagem e redacção das notícias) 
 
37 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
das agências internacionais a primeira decisão sobre o aproveitamento (ou não) das 
notícias é tomada apenas com a consulta das primeiras 20 palavras. É aí, pode dizer-
se, que a notícia vive ou morre. 
 
Hoje não, que é sábado, menos ainda amanhã, que é domingo, mas talvez no 
próximo dia útil, ou seja, segunda-feira, 11, alguém neste país, a nivel do Poder, 
comece a agir eficazmente no sentido de serem lançadas condições de efectiva 
segurança nas escolas. Para que ao menos se cumpra aquele princípio que vem sendo 
hábito seguir, de «pôr trancas à porta depois de casa assaltada». 
 
Que conclusão tirar desta abertura, um típico nariz de cera, como se designa em 
jornalismo esta prática (ultrapassada)? Nenhuma. Trata-se apenas de um comentário 
(irónico, creio) do repórter sobre uma notícia que guardou para o interior do texto e 
que é portanto ainda desconhecida dos leitores. Estes ainda não sabem, quando lhes é 
pedido que "subscrevam" a indignação do jornalista, qual o dado concreto que permite 
concluir não haver segurança nas escolas.. 
Aí está ele: 
 
É que ontem, cerca das 8 da manhã, um aluno de 17 anos da Escola Secundária 
Padre António Vieira, em Alvalade (Lisboa), foi ferido a tiro na cara ao ser assaltado 
quando se dirigia para a escola. 
 
 
 
38 
 
A Técnica 
 
A escolha bem feita de uma mensagem essencial faz com que o jornalista gaste 
apenas 
alguns segundos para se aperceber da generalidade do conteúdo do que lhe é 
proposto. Rapidamente pode determinar a que página se destina o material, que 
importância tem, que relevo lhe conceder. Dispõe bem o profissional da escrita: Estou 
a trabalhar com gente que sabe do assunto e que me facilita a vida. 
Muitas vezes nas redacções não se chega a perceber se tal ou tal comunicado 
pretende vender uma mensagem ou o seu produtor. 
 
3.3 Além da mensagem essencial, as outras informações devem ser 
escolhidas, sem perder de vista o ângulo, e hierarquizadas. 
É preciso ter a coragem de deitar fora o que é acessório, tudo o que é marginal. 
Trata-se de informações que apenas serviriam para criar obstáculos ao leitor e que 
podem ser utilizadas posteriormente com um ângulo novo. 
A selecção será feita de qualquer forma: se não for a fonte é o jornalista, se não for 
o jornalista é o leitor. Só que neste último caso, o leitor tem tendência para 
abandonar um texto quando este não seque o ângulo indicado. Apenas quando está 
muito agarrado ao assunto contornará as dificuldades para ir até ao fim. 
Um jornal é sempre uma selecção. Informar é escolher. Se o jornalista se recusa a 
escolher, o leitor escolherá recusá-lo. É assim, desta maneira radical, que os 
especialistas do Centre de Perfectionement des Journalistes (CFPJ), de Paris, 
costumam colocar o assunto. 
 
A hierarquizacão pode ser feita de acordo com vários tipos de plano, sendo o mais 
vulgarizado no jornalismo diário informativo o 
 
39 
As Armas dos Jornalistas 
 
chamado da pirâmide invertida. Partindo da mensagem essencial, a informação é 
dada do maior para o menor grau de interesse. 
E o plano automático das agências de notícias por responder à necessidade 
fundamental de saber o essencial o mais depressa possível. Mesmo que o leitor 
abandone o texto terá retido, sempre, quer esteja no segundo quer no vigésimo 
parágrafo, o fundamental da informação. Os inconvenientes assinalam-se quanto à 
repetição de elementos e à falta de uma boa saída da peça, o chute que os teóricos 
consideram quase tão importante como a abertura. 
Outros planos utilizados são o dialéctico (tese, antítese, síntese), o cronológico e o 
seu primo cronológico invertido. O plano dialéctico tem muito interesse para questões 
controversas. Possibilita ao utilizador expor a sua opinião, depois os argumentos 
contrários e finalmente uma síntese das considerações. 
 
40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Técnica 
 
Não se pode descrever a excitação produzida por tal espectáculo: uma estrela, 
ontem ainda ponto brilhante entre a multidão de pontos anónimos do firmamento, 
destacou-se pouco a pouco do fundo negro, inscreveu-se no espaço com uma 
dimensão, primeiro como noz brilhante, depois dilatou-se ao mesmo tempo que a 
tinta se afirmava, até se tornar semelhante a uma laranja, e integrou-se finalmente 
no cosmos com o mesmo diâmetro aparente do nosso familiar astro do dia. Nascera 
para nós um novo sol avermelhado como o nosso no ocaso que já nos fazia sentir a 
atracção e o calor. 
Tínhamos reduzido bastante a nossa velocidade. Aproximámo-nos mais de 
Betelgueuse até que o seu diâmetro aparente excedeu de longe o de todos os corpos 
celestes que contempláramos até então, o que nos causou urna impressão fabulosa. 
Antelle deu algumas indicações aos autómatos e pusemo-nos a gravitar em volta da 
supergigante. Depois, o sábio utilizou os instrumentos astronómicos e iniciou as 
observações. 
Em breve descobriu a existência de quatro planetas cujas dimensões e distâncias ao 
astro central determinou rapidamente. Um deles, o segundo a partir de Betelgueuse, 
movia-se segundo uma trajectória vizinha da nossa. Tinha aproximadamente o 
volume da Terra; possuía urna atmosfera que continha oxigénio e azoto; girava em 
volta de Betelgueuse a uma distância igual a cerca de trinta vezes a que separa a 
Terra do Sol, recebendo um radiação comparável à que recebe o nosso planeta, 
graças ao tamanho da supergigante e tendo em conta a sua temperatura 
relativamente baixa. 
Decidimos tomá-lo como primeiro objectivo. Depois 
 
 
 
 
41 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
de serem dadas novas instruções aos robots, a nave foi rapidamente satelizada à 
sua volta. Então, de motores parados, observamos à vontade este novo mundo. O 
telescópio mostrou-nos mares e continentes. 
A nave dificilmente se prestava a uma aterrissagem, mas o caso fora previsto. 
Dispúnhamos de três engenhos com foguetões, muito mais pequenos, a que 
chamávamos chalupas. Foi num deles que tomámos lugar, levando alguns aparelhos 
de medida e Heitor, o chimpanzé, como nós vestido com um escafandro ao qual se 
habituara. Quanto à nave deixámo-la simples- mente a gravitar em redor do planeta. 
Encontrava-se assim em maior segurança do que um paquete ancorado num porto, e 
sabíamos que não se desviaria uma linha da sua órbita. 
Abordar um planeta desta natureza era uma manobra fácil com a nossa chalupa. Mal 
penetrámos nas camadas densas da atmosfera, o professor Antelle recolheu amostras 
do ar exterior e examinou-as. Encontrou-lhes a mesma composição que na Terra a 
uma alti- tude correspondente. Mal tive tempo de reflectir nesta miraculosa 
coincidência, pois o solo aproximava-se ràpidamente; não estávamos a mais de 
cinquenta quilómetros de distância. Como os autómatos efectuavam todas as 
operações, tudo quanto tinha a fazer era colar o rosto à vigia e ver subir até mim este 
mundo desconhecido, de coração abrasado pela excitação da descoberta. 
O planeta assemelhava-se estranhamente à Terra. Esta impressão acentuava-se em 
cada segundo. Distinguia agora a olho nu o contorno dos continentes. A atmosfera era 
clara, ligeiramente colorida de verde- 
 
 
 
42 
 
 
A Técnica 
 
 
-pálido, atirando por vezes para o alaranjado, um pouco como no nosso céu da 
Provença ao pôr-do-sol. O oceano era de um azul leve, igualmente com cambiantes 
verdes. 
O desenho das costas era muito diferente de tudo quanto vira entre nós, embora o 
meu olhar febril sugestionado por tantas analogias, se obstinasse em descobrir 
também aí parecenças. Mas a semelhança acabava aí. 
Nada na geografia fazia lembrar o nosso antigo ou o nosso novo continente. 
Nada. Ora vamos! O essencial, pelo contrário! O planeta era habitado. Sobrevoámos 
umacidade, uma cidade bastante grande, donde irradiavam estradas bordejadas por 
árvores, sobre as quais circulavam veículos. Tive tempo de distinguir a arquitectura 
geral: ruas largas, casas brancas com longas arestas rectilíneas. 
Mas devíamos aterrar muito longe desse local. A nossa corrida arrastava-nos 
primeiros sobre campos cultivados, depois uma floresta espessa de cor ruiva, que 
lembrava a nossa selva equatorial. Encontrávamo-nos agora a uma altitude muito 
baixa. 
Divisámos uma clareira de dimensões bastante grandes que ocupava o cimo dum 
planalto, enquanto o relevo vizinho era bastante acidentado. 
O nosso chefe decidiu tentar a aventura e deu as suas últimas ordens aos 
autómatos. Entrou em acção um sistema de retrofoguetões. Ficámos imobilizados 
durante alguns instantes por cima da clareira, como uma gaivota procurando um 
peixe. 
Em seguida, dois anos depois de termos deixado a Terra, descemos muito 
docemente e pousámos sem choque no centro do planalto, sobre uma erva verde que 
lembrava a das nossas pradarias normandas. 
 
43 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
Pierre Boule dá-nos em O planeta dos macacos esta bela descrição da chegada de 
quatro terrestres a um planeta desconhecido. Fá-la com palavras ricas de conteúdo e 
um ritmo empolgante, típico da literatura de aventuras, que caracteriza todo o seu 
best-seller. 
Estamos longe, no entanto, da linguagem jornalística, apesar de este texto de quase 
9 mil palavras ser atribuído a Ulisses Méron, o convencido repórter francês que arrisca 
a viagem interplanetária à procura da notícia. 
A título de exemplificação dos conceitos expostos neste manual, podemos adivinhar 
o comportamento de Méron se fosse de facto um jornalista do nosso tempo a enviar 
uma crónica para a sua redacção sobre a situação descrita. Como se interrogaria a si 
próprio, em vista das informações coleccionadas, e que respostas daria? 
1. Qual a mensagem essencial? - Um planeta semelhante à Terra foi descoberto no 
sistema de Betelgueuse. É habitado e tem oxigénio e azoto na atmosfera. A 
descoberta pertence a uma equipa dirigida pelo cientista Antelle. 
2. Outras indicações importantes? - Sobre o planeta: Trata-se do segundo satélite de 
Betelgueuse. Tem aproximadamente o volume da terra. Gira em volta de Betelgueuse 
a uma distância igual a cerca de 30 vezes a que separa a Terra do Sol, recebendo uma 
radiação comparável à que recebe o nosso planeta. Tem mares e continentes. As 
amostras do ar exterior, examinadas pelo professor Antelle, têm a mesma composição 
que na terra a uma altitude correspondente. 
A atmosfera é clara, ligeiramente colorida de verde-pálido, atirando por vezes para o 
alaranjado, um pouco como o céu da Provença ao pôr do Sol (importante para 
"envolver" o leitor francês). 
 
44 
 
 
A Técnica 
 
O oceano é de azul leve, igualmente com cambiantes verdes. Nada mais na sua 
geografia faz lembrar a Terra. 
Sobrevoámos uma cidade bastante grande donde irradiavam estradas bordejadas 
por árvores, sobre as quais circulavam veículos (atenção, frase perigosa quanto ao 
sentido). Tem ruas largas e casas brancas com longas arestas rectilíneas. 
3. Outras indicações importantes? Sobre a descoberta: A missão dispõe de uma 
nave com três engenhos com foguetões, as "chalupas". A equipa (cuja constituição 
não se depreende deste texto) incluía o chimpanzé Heitor e desceu no planeta 
utilizando escafandros. 
A descida foi muito doce e sem choque no centro de um planalto, sobre uma erva 
verde que lembra as pradarias normandas ("envolve" o leitor). A missão deixou a 
terra há dois anos (a redacção que se encarregue dos antecedentes). 
 
A partir daqui, Ulisses Méron está habilitado a hierarquizar as informações - 1', a 
mensagem essencial; 2', indicações mais importantes sobre o planeta; 3', indicações 
sobre a equipa e os bastidores da descoberta; 41, antecedentes da.Missão; 51, 
indicações secundárias sobre o planeta. Vai procurar dosear os elementos 
predominantemente técnicos com os que conseguem maior impacto junto do público e 
escolher um final razoavelmente forte. 
A sua crónica noticiosa interplanetária poderia ser esta: 
 
Um planeta semelhante à Terra, habitado e com oxigénio e azoto na atmosfera, foi 
hoje descoberto no sistema de Betelgueuse por uma missão dirigida pelo cientista 
Antelle. 
Numa primeira observação, conclui-se que recebe do seu sol 
 
45 
As Armas dos Jornalistas 
 
uma radiação comparável à do nosso planeta e que tem mares e continentes. 
A atmosfera é clara, ligeiramente colorida de verde pálido, atirando por vezes para o 
alaranjado como o céu da Provença ao pôr do Sol. 
Trata-se do segundo satélite de Betelgueuse. Tem aproximadamente o volume da 
Terra e gira a uma distância igual a cerca de 30 vezes a que separa o nosso planeta 
do Sol. 
As amostras do ar exterior examinadas pelo cientista Antelle têm a mesma 
composição que na Terra a altura correspondente. 
A missão científica sobrevoou uma cidade bastante grande donde irradiam estradas 
percorridas por veículos e bordejadas por árvores. A cidade tem ruas largas e casas 
brancas com longas arestas rectilíneas. 
A equipa de Antelle partiu da Terra há dois anos numa nave que dispõe de três 
engenhos com foguetões, as "chalupas". - at. desk ao background. 
O primeiro contacto com o planeta fez-se utilizando escafandros, mesmo para o 
chimpanzé Heitor que também integra a equipa. 
A descida foi muito doce e sem choque, no centro de um planeta, sobre erva verde 
que lembra as pradarias normandas. 
Os oceanos são de um azul leve e com cambiantes verdes como os da Terra. Mas 
nada mais na geografia lembra o nosso planeta. 
 
3.4 Todas as matérias escritas, mesmo as mais primárias, mesmo as que 
necessitem do tratamento mais aprofundado, têm de responder às perguntas 
de referência da mensagem essencial: quem?, o quê;" onde?, quando?, porquê?, 
como?. 
 
46 
 
A Técnica 
 
Um dos maiores quebra-cabeças dos jornalistas é elaborar notícias a partir de fontes 
escritas às quais falta uma (ou mais) das respostas às questões de referência. 
Nesse caso, ou se assume publicar uma informação "coxa" - e aí os leitores ficarão, 
também eles, frustrados - ou é necessário recorrer a contactos suplementares. Em 
casos extremos, o jornalista desiste e prega com a nota no espeto. 
Mais de metade das informações escritas que afluem às redacções pecam por lhes 
faltar a resposta a pelo menos uma das questões de referência. É a falta de método 
que provoca esta situação. Rara- mente se trata de um problema de desconhecimento 
por parte da própria fonte. 
 
Exemplo de um projecto de notícia com muitos obstáculos à sua compreensão (e 
publicação na Imprensa): 
 
.A partir da próxima segunda-feira, dia 27 do corrente, vai ser mais fácil transportar-
se de táxi em Lisboa. Efectivamente, as viaturas pretas e verdes que são parte 
integrante da paisagem da capital, embora muitas delas devessem estar já em alguns 
museus como podem obviamente constatar todos aqueles que têm de utilizar com 
regularidade este transporte, que deveria merecer outros cuidados, porque por 
definição é um meio selectivo, em comparação com os outros transportes públicos, 
vão ter a bandeirada de 22 escudos (até agora era de 18 escudos). Para além do 
preço da bandeirada, a fracção ficará fixada em dois escudos e a metragem será 
reduzida de 165 para 135 metros. Estes acréscimos agora aprovados pelo Ministério 
do Comércio, que tutela o assunto, representam uma subida da 
 
47 
 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
ordem dos 20 por cento em relação aos preços agora praticados nos táxis que 
circulam em Lisboa. 
 
1. O lead exclui parte da mensagem essencial ao não informar sobre a percentagem 
do aumento ou sobre os novos preços. 
2. O segundo período tem intercalares com mais de 40 palavras, que obrigam o 
leitor a recorrer ao princípio pararetomar o fio à meada, para "reencontrar" o sujeito 
da oração. 
3. A informação (o aumento dos preços) surge misturada com um comentário sobre 
o estado das viaturas. 
4. Abuso de palavras e expressões redundantes e sem valor informativo. 
5. Falta de antecedentes (background) - os leitores gostariam que lhes recordassem 
aumentos anteriores. 
 
Este projecto de notícia seria publicado na Imprensa com mais facilidade se tivesse 
uma redacção como a seguinte: 
Os táxis de Lisboa aumentam 20 por conto Os preços dos táxis de Lisboa aumentam 
20 por cento na segunda-feira, foi aprovado (quando?) pelo Ministério do Comércio. 
A bandeirada passa de 18 para 22 escudos. A fracção ficará lixada em dois escudos 
por cada percurso de 135 metros (agora é de 165 metros). - 
É o segundo aumento dos táxis desde o princípio do ano. Se a entidade emissora 
deste projecto de notícia, que poderia 
ser a associação do sector ou o próprio Ministério, quisesse chamar a atenção dos 
proprietários dos táxis para o mau estado de algumas 
 
48 
A Técnica 
 
viaturas em serviço deveria indicá-lo de forma separada do texto sobre os 
aumentos, 
Tratar-se-ia de outra informação, que poderia (ou não) ser 
aproveitada. 
Se o fosse, figuraria num quarto parágrafo com uma redacção como a seguinte: 
A (nome da entidade) aproveita este aumento para chamar a atenção dos 
proprietários dos táxis para o mau estado de algumas das viaturas em serviço. 
"Parte integrante da paisagem da capital - considera -, muitos táxis deveriam estar 
já em alguns museus por não corresponderem ao espírito de meio de transporte 
selectivo, em comparação com os outros transportes públicos" 
 
49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. O ESTILO 
 
Fazer passar a mensagem 
 
• Palavras e frases para toda a gente 
• Facilitar a leitura e dispor bem 
• O estilo Anop influencia a Imprensa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Estilo 
 
4.1 As palavras que utilizamos servem para explicar ao leitor que o texto lhe 
é destinado. Qual o melhor processo senão usar palavras que ele bem conhece, as 
frases que lhe são familiares e lhe soam bem? 
 
O autor de um texto para ser lido pelo grande público não é um esteta de escrita, 
não tem de escrever com floreados, nem mostrar (ao usar meia dúzia de termos 
técnicos em cada linha) que é um fervoroso especialista do assunto que aborda. 
O autor de um texto para ser lido pelo grande público é um militante contra as 
barricadas linguísticas. 
Aqueles que gostam de ser lidos certamente sabem quão difícil é escrever para ser 
fácil a compreensão pelos leitores. Começa por ser complicado (e, às vezes, perigoso) 
generalizar e popularizar os conceitos iniciais por forma a que estes sejam entendidos 
por leigos. 
Vem, logo a seguir, o problema das palavras. A língua portuguesa tem em circulação 
qualquer coisa como 500 mil palavras. Um dicionário popular, como o Torrinha, 
regista 50 a 60 mil vocábulos, mesmo assim apenas 1/4 do seu congénere da 
Sociedade da Língua Portuguesa. 
Quantas delas são conhecidas dos leitores médios dos jornais? Se utilizarmos dados 
colhidos noutros países, com níveis de ensino superior ao nosso, o leitor de um jornal 
popular conhece (isto é, compreende à primeira e usa com regularidade) apenas 
1.500 palavras. O seu vizinho que estudou numa faculdade terá o dobro de 
vocabulário ou um pouco mais. O homem culto utiliza 5 a 6 mil palavras e 
compreende até 10 mil. 
Estes bancos de palavras - que são, como o outro, para toda a 
 
53 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
gente - têm de estar sempre presentes na mente daqueles que escrevem para 
publicar na Imprensa. 
 
As palavras empregues são curtas e comuns. A sua escolha responde a dois 
imperativos: serem exactas e precisas - petroleiro e não embarcação, futebolista e 
não desportista; 
serem compreensíveis e intelegíveis por todos os destinatários. Quando for 
necessário incluir termos pouco frequentes ou em línguas estrangeiras, é 
recomendável a indicação do seu significado imediatamente a seguir e entre 
parênteses - pipe-liner (conduta de petróleo bruto). Ao jornalista compete depois 
eliminar (ou não) essa explicação, tendo em conta o índice de cultura que julga ter o 
público para o qual trabalha. 
A repetição da mesma palavra ao longo de um texto é monótona e não ajuda à 
criação do ambiente dinâmico que deve rodear qualquer artigo. É preciso, no entanto, 
não cair no emprego de sinónimos a todo o custo, sinónimos muitas vezes imperfeitos 
(que exprimem de facto uma ideia não de todo coincidente) e que contrariam os dois 
imperativos atrás enunciados. Muitas vezes também o uso indiscriminado de 
sinónimos e pseudo-sinónimos dificulta a leitura: obriga-nos a recorrer à palavra 
inicial recuando portanto no texto, no fundo à procura do sentido preciso do que se 
pretende dizer. 
 
Exemplo (exagerado) do emprego de palavras desnecessárias: No ano de 1980, nos 
meses de Verão, ambos os dois tinham 
decorado a mesma melodia musical, completamente repleta de velhas 
 
54 
 
O Estilo 
 
tradições do passado. O disco de acetato custara-lhes a quantia de 150 escudos 
numa nova loja acabada de inaugurar. 
As mesmas ideias chegam mais facilmente aos destinatários com uma redacção 
como esta: 
No Verão de 1980, os dois tinham decorado a mesma melodia, repleta de tradições. 
O disco custara 150 escudos numa loja nova. 
 
Temos todos já doses suficientes de expressões como acontecimento feliz, 
estrondosos aplausos, esforços sobre-humanos, conseguimos apurar, num esforço de 
reportagem, eminente personagem, alta individualidade, sala completamente cheia, 
projectos para o futuro, as mais altas personalidades, dinâmico homem de negócios, 
justa homenagem, situação sem precedentes. 
É uma salada de lugares-comuns, redundâncias, expressões vazias de conteúdo que 
recolhi facilmente em alguns minutos de leitura de jornais. Têm em comum o facto de 
nada quererem dizer. 
 
Todos os dias nascem palavras, quase sempre com sentidos muito precisos, com 
ideias muito concretas. O jornalismo não aguarda pelo reconhecimento académico 
para enriquecer o seu vocabulário. Edite Estrela, em A Capital, diz que a palavra 
expande-se, liberta-se, adquire significações outras, dimensões novas, mudando de 
campo semântico. 
As palavras são nossas amigas, devemos saber empregá-las. Jacques Brel, que não 
era jornalista, afirmava que em cada palavra há um mal-entendido. É preciso evitá-lo, 
escolhendo as palavras apropriadas. Sem ter medo delas. 
 
55 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
4.2 O objectivo do jogo das frases é que o leitor possa reter a mensagem. 
Se tal não acontecer é como se nada tivesse sido escrito. O leitor não vai obviamente 
ter a intenção de fixar o texto, mas precisamos de lhe fazer coleccionar na memória o 
essencial da nossa exposição. 
Para isso, devemos saber disputar o jogo das frases, depois de termos sabido 
escolher os vocábulos a utilizar. 
Os teóricos da comunicação de massas dizem que as frases intercaladas e relativas 
prejudicam a compreensão do essencial, a ideia expressa na frase-mãe. Uma 
intercalar de 12 palavras e o leitor - já todos tivemos essa experiência - tem de voltar 
atrás para recuperar a primeira parte da ideia. 
Em segundo lugar, sublinham que a nossa capacidade de memorização é mais eficaz 
em relação à primeira parte da frase, em detrimento da segunda. Por isso, a 
mensagem essencial deve estar sempre à cabeça. A escrita jornalística não é 
hipócrita, não usa subterfúgios, é franca e aberta. 
Em terceiro lugar, a capacidade de retenção obriga ao emprego de frases curtas. 
Estudos realizados com a língua francesa dão a seguinte aritmética: 
numa frase com 17 palavras, a memória imediata do leitor médio apreende 12, o 
que é um bom número tendo em conta que muitas palavras são desnecessárias à 
compreensãoda ideia (os artigos, por exemplo). 
numa frase com 40 palavras, a mesma memória apreende quantidade igual, 12 (10 
na primeira parte, duas na segunda). O que deixa muito a desejar quanto à retenção 
da ideia do texto. O problema seria ultrapassado com a divisão da frase em duas, até 
porque geralmente as frases longas agrupam mais do que uma ideia base. 
 
56 
 
 
O Estilo 
 
Além das palavras desnecessárias à compreensão da ideia (aquilo a que os franceses 
chamam mots-utils), as palavras que se perdem são em primeiro lugar os adjectivos e 
em último os substantivos. 
A capacidade de memorização é um pouco maior em relação aos textos ouvidos que 
aos lidos. 
Em quarto lugar, o sentido da frase mais acessível é o simples e lógico: sujeito, 
predicado, complementos. A aparente pobreza do estilo é compensada, com 
vantagem, pela riqueza das informações e pela sua passagem até ao leitor ou ouvinte, 
no fim de contas o essencial da escrita para publicar. 
Tendo tudo isto em conta, aconselham-se frases curtas com uma extensão média de 
20 palavras, e abundância de substantivos. Os adjectivos, sobretudo os de carácter 
valorativo, devem ser eliminados. 
 
Exemplo fácil do que atrás fica exposto é o tratamento jornalístico dado à seguinte nota: 
O PROF. LOPES MARQUES, DIRECTOR-GERAL 
DOS DESPORTOS DE PORTUGAL, FOI ELEITO PARA O CONSELHO DE 
ADMINISTRAÇÃO DO CLEARING HOUSE, NA SEQUENCIA DE UMA DECISÃO DO 
COMITE PARA O DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO (CODS) 
DO CONSELHO DA EUROPA QUE ACABA DE REUNIR EM ESTRASBURGO. 
O CLEARING HOUSE, SEDIADO EM BRUXELAS, 
E O ORGÃO DE CONSELHO DA EUROPA QUE EM MATERIA DE DESPORTO, 
COORDENA TODA A INFORMAÇÃO E FAZ A AVALIAÇÃO PERMANENTE DAS 
PFOLITICAS EUROPEIAS DE DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO 
DOS 21 PAISES MEMBROS, FUNCIONANDO TAMBEM, DESDE 
 
57 
As Armas dos Jornalistas 
 
O ULTIMO ANO, COMO UM “BANCO DE DADOS”, NO PLANO EUROPEU, PARA A 
COOPERAÇÃO E O APOIO A ORGANIZAÇÃO DAS ACTIVIDADES TANTO DE NATUREZA 
INTERGOVERNAMENTAL COMO NO AMBITO ESPECIFICO DOS PAISES MEMBROS. 
 
Desta informação, que tem um segundo parágrafo muito difícil de apreender, foi 
redigida a seguinte notícia: 
 
O DIRECTOR-GERAL DOS DESPORTOS LOPES MARQUES FOI ELEITO PARA O 
CONCELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CLEARING HOUSE POR PROPOSTA DO COMITÉ 
PARA O DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO (CDDS) DO CONCELHO DA EUROPA – 
DIVULGOU HOJE A DGD. 
A DECISÃO DO CDDS FOI TOMADA NA ULTIMA REUNIÃO DO ORGANISMO, EM 
ESTRASBURGO. 
O CLEARING HOUSE, COM SEDE EM BRUXELAS, É O ORGÃO DO CONCELHO DA 
EUROPA QUE, EM MATÉRIA DE DESPORTO, COORDENA TODA A INFORMAÇÃO E FAZ A 
AVALIAÇÃO PERMANENTE DAS POLITICAS EUROPEIAS DE DESENVOLVIMENTO DO 
DESPORTO DOS 21 PAISES MEMBROS. FUNCIONA DESDE 1981 COMO UM “BANCO DE 
DADOS”, NO PLANO EUROPEU, PARA A COOPERAÇÃO E O APOIO À ORGANIZAÇÃO 
DAS ACTIVIDADES TANTO DE NATUREZA INTERGOVERNAMENTAL COMO DO AMBITO 
DOS PAISES MEMBROS. 
 
 
 
 
 
58 
 
O Estilo 
 
 
Os elementos informativos são os mesmos, quer dizer, a notícia foi feita com base 
exclusiva no comunicado. 
O jornalista apenas tornou os factos mais perceptivos com frases curtas e 
exprimindo urna só ideia. 
No primeiro período procurou responder a uma pergunta de referência (quando?) 
omitida no original (não sabendo quando foi a eleição, indicou quando foi o anúncio da 
eleição) e aduziu natural- mente a fonte. 
 
Tendo tudo isto em conta, aconselham-se frases curtas, com uma extensão média 
de 20 palavras, e abundância de substantivos. Os adjectivos, sobretudo os de carácter 
valorativo, devem ser eliminados. 
É aconselhável o emprego de verbos fortes e concretos, sem abusar dos auxiliares 
ser e estar, e em voz activa. Cuidado com o abuso da voz passiva e dos gerúndios 
(melhor o indefinido e o imperfeito) e com o condicional, que diminui a "firmeza" da 
informação. É preferível utilizar verbos de acção ou de movimento a usar verbos 
exprimindo estados. 
O fundamental da escolha das frases volta a ser, todavia, como em relação a tudo o 
resto, ter ou não informações a divulgar, haver ou não mensagem a transmitir. 
Quantas mais informações se tem para dar, mais fácil é redigir o papel. 
Todos temos a experiência de não conseguir escrever um artigo. Na maior parte dos 
casos, a culpa não é da falta de técnica do autor, mas da falta de mensagem, da sua 
inexistência. 
 
Meia dúzia de regras fundamentais para escolheras palavras e as frases: 
 
59 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
1. Utilizar a forma activa de preferência sobre a passiva - A empresa Fartex recebeu 
um prémio internacional é melhor que um prémio internacional foi atribuído à 
empresa Fartex. 
2. Utilizar o presente em vez do passado - O economista Francisco Gomes diz que a 
integração europeia... é melhor que o economista Francisco Gomes disse que a 
integração europeia... 
3. Escrever na ordem directa - (Eu) espalharei as armas e os bardíes assinalados, 
por toda a parte, cantando, se engenho e arte ajudar-me a tanto (um Camões mais 
compreensível no tratamento jornalístico do brasileiro Eduardo Carlos Pereira). 
4. Empregar palavras e expressões familiares e com imagem e dar exemplos - O 
alinhamento dos planetas lembra um pelotão de ciclistas. Os automobilistas do Porto 
detestam que lhes falem em buracos: em casa de enforcado não se fala em corda. Os 
jogos disputados esta época pelo campeão têm sido mais tranquilos que o passeio 
público de que nos fala Eça de Queirós. 
5. Empenhar o leitor (nós, vós) - O Papa que visita Portugal foi alvo de um atentado 
há um ano: pudemos todos acompanhar pela televisão os disparos na praça de S. 
Pedro. 
6. Humanizar a informação - levar a notícia até ao ambiente do leitor, do ouvinte, do 
espectador, de maneira que ele a sinta. É redigir de tal forma a notícia que ela tenha 
um sentido para o seu consumidor. 
 
Renê Pucheu, especialista francês da comunicação de massas que esteve em Lisboa 
para uma conferência, considera que a linguagem utilizada no jornalismo é selvagem. 
A Imprensa, diz, inventou 
 
60 
 
O Estilo 
 
 
uma escrita original que não é a linguagem falada, nem a familiar, nem a selecta, 
nem a comum. 
Trata-se de uma língua representada, que dramatiza ao máximo a informação. Que 
quase renuncia à frase contínua, em benefício de pedaços de orações curtos e secos, 
que cria expressões e neologismos, que abusa dos pontos, das aspas e dos dois 
pontos. 
A Imprensa exige um tratamento especial da língua como meio de expressão, 
porquanto os factos opõem-se ao discurso. 
E o primado da frase-impacto ou frase-fórmula e a utilização da palavra exacta no 
local preciso e no momento oportuno. 
 
4.3 Facilitar a leitura pelo jornalista é um dos objectivos da boa 
apresentação do press-release. Mas não é o único: interessa igualmente dispô-lo 
bem para com o material que lhe é proposto. 
Há duas ou três regras correntes e universais para a facilidade de leitura de textos, 
mesmo os que não se destinam à Imprensa - serem dactilografados apenas numa das 
faces de folhas brancas, com uma boa separação entre as linhas e sem rasuras. 
Também é razoável que os parágrafos e os períodos sejam quase sempre sinónimos. 
Todos os documentos têm de ser identificados - nome da entidade, cargo de quem 
assina - e assinados, com indicação do número do bilhete de identidade. Na maior 
parte das redacções, para evitar documentos falsos, estas indicações são obrigatórias. 
Quando enviados por telex, os press-releases não podem evidentemente ser 
assinados, mas devem conter as outras indicações, designadamente o nome de quem 
envia e o nome da entidade, além do indicativo do posto (que autentica). 
 
61 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
E imprescindível a indicação no comunicado do número de telefone e do nome da 
pessoa a quem os jornalistas se devem dirigir em caso de dúvida. A falta desse 
contacto leva a que informações interessantes acabem pornão ser publicadas. Por 
faltar apenas um dado ... 
 
Nunca utilize o telefone para ditar comunicados, mesmo com o pretexto de ser para 
o gravador. 
O telefone só pode ser usado para fornecer curtas informações de agenda 
(acabamos de convocar para amanhã uma conferência de Imprensa) e para 
confirmara recepção de documentos. 
Em casos particulares, em que existam relações pessoais e de confiança entre o 
jornalista e a fonte, é possível comunicar por telefone um texto muito breve (3 ou 4 
parágrafos) e de última hora, ou proceder ao resumo de uma mensagem que chegará 
mais tarde. 
 
Convém adoptar uma calibragem fixa de caracteres para todos os documentos do 
mesmo organismo e, de preferência, semelhante à que se emprega em algumas 
publicações - 60 caracteres por linha, 25 linhas por página. Por vezes, o jornalista é 
iludido em relação ao tamanho de um projecto de notícia por este estar dactilografado 
com calibragem diferente da que se usa no seu jornal. 
E sempre a filosofia de se utilizar as armas que o jornalista conhece e utiliza no seu 
quotidiano. 
semelhança do que se faz nos textos publicados, com a criação de títulos, subtítulos 
e legendas, os comunicados também devem ter as suas entradas diferentes. Para um 
documento com muitas palavras - mil, por exemplo - pode utilizar-se uma sequência 
 
62 
O Estilo 
 
de resumos que facilitam o trabalho do jornalista: uma primeira folha com uma frase 
que resuma o essencial (quase como um lead de agência) e um conjunto de frases 
(três ou quatro) com outras ideias do artigo. Uma segunda folha com a mensagem 
essencial e outras informações num total de três ou quatro parágrafos, como se de 
uma breve se tratasse (ao contrário do que se possa pensar, as breves têm um nível 
de leitura elevado). Finalmente, a partir da terceira folha, a totalidade do texto. 
Esquema semelhante é utilizável no telex, com uma boa separa- cão física entre 
cada um dos componentes do press-release. 
 
Quando o jornalista chegar enfim ao texto, já saberá qual o interesse do que lhe é 
proposto, já tem ideias concretas sobre o que utilizar e de que maneira. 
Nas redacções há quem conte a anedota, meio a sério meio a brincar, de que o 
primeiro desejo do leitor, depois de ter comprado um jornal, é de o não ler. O que 
dizer então do jornalista, na tarimba, a quem é proposto "mais um papel"? É preciso 
fazer-lhe um grande apelo a uma atitude positiva em face desse papel e o melhor 
processo é utilizar as mesmas armas, com as adaptações necessárias, que ele 
emprega para os seus leitores. 
Trata-se, no fim de contas, de tentar falar a mesma linguagem, a linguagem da 
escrita informativa. 
 
O projecto de notícia da Federação Portuguesa de Patinagem, que inserimos a 
seguir, é um bom exemplo. Apresentação simples e atraente, com a indicação clara da 
fonte e contactos. Aproveitamento 
 
 
63 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
do press-release para a publicação dos apoios à iniciativa. Estilo económico, com o 
título pequeno e texto curto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IMAGEM.......... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
64 
 
O Estilo 
 
 
 
Como teste, veja-se o despacho distribuído pela agência Anop a partir deste projecto 
de notícia: 
 
 
(LISBOA) HOQUEI: SARAMANCH 
 
LISBOA, 10 MAR (ANOP) – O PRESIDENTE DO COMITÉ OLIMPICO INTERNACIONAL 
CONFIRMOU A PRESENÇA NA CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO DO CAMPEONATO DO 
MUNDO DE HOQUEI EM PATINS, A DISPUTAR EM MAIO EM PORTUGAL – REVELOU 
HOJE O GABINETE DE IMPRENSA DA PROVA. 
EM CARTA ENVIADA À FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE PATINAGEM, O ESPANHOL 
JUAN ANTONIO SARAMANCH MANIFESTA-SE ENCANTADO COM O CONVITE DA 
ORGANIZAÇÃO E SUBLINHA QUE CHEGARÁ COM CERTA ANTECEDÊNCIA PARA 
ASSISTIR A JOGOS DO MUNDIAL. 
SARAMANCH ENTRAGARÁ À FEDERAÇÃO PORTUGUESA, A TAÇA JUAN ANTONIO 
SARAMANCH, INSTITUIDA PARA O PAÍS QUE CONQUISTOU MAIOR NÚMERO DE 
TÍTULOS NAS 25 EDIÇÕES DA PROVA. 
PORTUGAL É O VIRTUAL VENCEDOR DO TROFEU PORQUE GANHOU 11 DOS 24 
CAMPEONATOS JÁ DISPUTADOS. 
O VIGÉSIMO QUINTO MUNDIAL DE HOQUEI EM PATINS DISPUTA-SE EM LISBOA E 
BARCELOS DE 1 A 16 DE MAIO. 
A CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO EFECTUA-SE EM BARCELOS.—ANOP 
 
65 
As Armas dos Jornalistas 
 
Os documentos podem ser enriquecidos com motivos gráficos - mapas, fotografias, 
gráficos -, os quais despertam a atenção dos jornalistas e, ao serem publicados, 
exercem acção idêntica junto dos leitores. Ao contrário, são desaconselháveis efeitos 
gráficos de outros tipos (como letras desenhadas e bonecos). Tal como se recomenda 
às redacções, os textos para serem publicados não devem utilizar os códigos (gráficos, 
neste caso) reservados à publicidade. 
 
4.4 O título não é num press-release um título de jornal nem um slug de 
agência. Quer dizer, não serve para o seu autor mostrar que errou na vocação - ao 
ser adido de Imprensa e não jornalista - revelando os seus talentos em escolher frases 
de fórmula, curtas e incisivas, nem limitar-se a assinalar o assunto a que se refere o 
projecto de notícia. 
Acerca da exportação de ferros de engomar portugueses para Espanha, um jornal 
popular pode titular: Domésticas espanholas vão engomar à portuguesa. Uma agência 
utilizará um slug (referência) como este: Portugal-Espanha: ferros de engomar. 
O título do press-release não será, no entanto, qualquer deles - deve resumir a 
mensagem essencial. Sem "flores" nem estilo telegráfico, com rigor e síntese. 
Qualquer coisa como: Uma empresa portuguesa exporta 100 mil ferros de engomar 
para Espanha. 
Se for caso disso, o título é reforçado por duas ou três referências breves a outros 
aspectos importantes da informação: 
• a venda envolve (determinada verba) em divisas 
• é a primeira vez que Portugal exporta ferros de engomar. 
 A notícia está logo "vendida" àqueles que a recebem nas redacções. Em três 
 parágrafos fica a conhecer-se o essencial da informação. Quem a recebe, avalia logo o 
seu interesse e, também de 
 
66 
O Estilo 
 
 
imediato, está apto a encaminhá-la para a secção, serviço ou redactor que a vai 
tratar. 
O primeiro parágrafo do texto é, em certa medida, uma repetição alargada e 
aprofundada do título do press-release. 
Ao seguir-se o plano da pirâmide invertida, o lead (o primeiro parágrafo que contém 
a ideia principal) contém em si a mensagem essencial Adopta-se, no entanto, uma 
forma mais jornalística, com maior número de elementos, como por exemplo: Uma 
empresa de Ovar, distrito de Aveiro, vai exportar a partir de Março cem mil ferros de 
engomar para Espanha. 
Pode mesmo utilizar-se um sublead que contenha as outras ideias destacadas: É a 
primeira vez que Portugal vende ferros de engomar ao estrangeiro. A exportação 
envolve (determinada verba) em divisas. 
É aconselhável que só depois da mensagem essencial se faça referência ao nome da 
empresa. Essa é uma das diferenças entre um texto noticioso e um texto publicitário: 
no primeiro caso, o nome da empresa é acessório para o público. Compreende-se o 
interesse da empresa em publicitar o seu nome. Mas, em jeito de notícia, apenas o 
pode fazer numa fórmuIa de compromisso entre o seu interesse, o da Imprensa e o 
do seu público. 
No corpo da notícia, que se seque ao lead (e sublead, se houver), integram-se os 
restantes elementos informativos, sempre pela ordem recomendada: do maior ao 
menor grau de interesse. Aí são dados os pormenores sobre a exportação, as 
diligências que foram efectuadas, indicações de todo o género sobre a firma que 
vende, os apoios com que contou. 
 
67 
 
 
As Armas dos Jornalistas 
 
 
Tudo isto é escrito de maneira clara, com palavras simples e frases curtas. 
A dimensão do texto também é importante. A partir de 500 palavras assiste-se a 
uma repulsa por parte do leitor (e, porque não?, do jornalista) e, mesmo que este 
inicie a leitura, é provável que abandone ao fim de alguns minutos. A técnica da 
pirâmide

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