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BOAS VINDAS Desejamos as boas-vindas ao curso Educação para a sexualidade. Informe-se do conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, conheça os objetivos da disciplina, a organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que devem ser dedicadas a cada unidade. O período de duração é compreendido em 08 semanas, totalizando a carga horária de 100 horas/aula. Cabe a você administrar o tempo conforme a sua disponibilidade. Contudo, lembre-se de que há um prazo para a conclusão do curso. Lembramos, que o curso inclui a realização das atividades avaliativas (tarefas) para cada unidade apresentada. Os conteúdos estão organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles são abordados por meio de textos básicos, com questões para pesquisa e reflexão. No transcorrer das atividades e unidades são indicadas, também, outras fontes de consulta, para aprofundar os estudos, tais como leituras acadêmicas, assistência de vídeos, fóruns de debates e pesquisas complementares. Lembre-se de que, não obstante o caráter virtual, porém estaremos sempre muito próximos. JUSTIFICATIVA A escola que nos foi legada por uma sociedade moderna, ocidental, masculinizada, branca, classificatória e excludente, continua a produzir e a perpetuar diferenças, desigualdades, valores e normas nos espaços escolares. Gestos, conceitos, atitudes, discursos, práticas, planos de aula são incorporados como adequados ou não para meninos ou meninas. Essas questões fazem-nos refletir de forma crítica e desconfiada de que sexualidade está se falando? Que sexualidade se está produzindo na escola, através de múltiplos aparatos de poder? E, por outro lado, qual está sendo negada, silenciada? Compreender, portanto, dos discursos sobre a sexualidade na trama das relações culturais, sociais, históricas que acabam sendo forjados no contexto escolar, é papel do educador do presente. As marcas da escolaridade se inscrevem, assim, nos corpos e mentes dos alunos. Guacira Louro (1998:90), chama a atenção para o fato de a escola apenas uma forma de sexualidade, a “normal” e construir seus discursos e argumentações em pares opostos: masculino/feminino; saudável/doente; moral/imoral. Nesses conjuntos, a primazia é dada ao primeiro elemento do par, o qual constitui a referência e o padrão e do qual o outro elemento é derivado. O que o educador deveria é dialoga e refletir com a comunidade escolar sobre a sexualidade no espaço escolar, levantando dúvidas, conflitos, sem abordá-la de forma negativa ou somente científica. Pois a questão da Educação Sexual vem para questionar os tradicionais modelos históricos e sociais de relações de poder que interditam sua discussão. Em um ambiente onde não há preconceitos ela será trabalhada de forma emancipatória e pedagógica, é importante também, trazer a família para esta discussão. É preciso questionar a visão preconceituosa sob a sexualidade s refletir sobre como o silêncio em relação a situações de discriminação por preconceito e violência de gênero contribui para a reprodução de uma ordem desigual e excludente. EMENTA O curso visa apresentar e discutir as principais propostas de educação sexual/da/para a sexualidade, retomando alguns aspectos históricos, as principais razões para que houvesse uma educação para a sexualidade em cada contexto, centrando-se nas políticas contemporâneas de educação (e saúde) para a sexualidade, com especial destaque para uma análise crítica dos Parâmetros Curriculares Nacionais (Pluralidade cultural e orientação sexual) a partir dos estudos de gênero e dos estudos culturais. Também visa discutir a educação para a sexualidade no âmbito das diferentes pedagogias culturais, com especial ênfase para a mídia televisiva. OBJETIVOS Objetivo Geral Discutir sobre as relações de poder que se estabelecem socialmente, a partir das concepções naturalizadas em torno das masculinidades e feminilidades e que também produzem o próprio sujeito da educação, através de discursos disciplinadores e excludentes no ambiente escolar; Percorrer os caminhos históricos da construção da sexualidade e, a partir destes, compreender qual é qual o papel da escola para promover práticas e atividades que abordem as relações de gênero e a educação sexual; Refletir sobre qual o papel da escola na promoção dos direitos sexuais, transformando-se em um ambiente que celebre a diferença, a inclusão de todas as expressões das sexualidades, gêneros e das identidades étnico-raciais. Objetivos Específicos • Compreender o conceito de sexualidade e gênero; • Relacionar sexualidade e orientação sexual; • Construir o conceito de identidade de gênero; • Analisar, identificar e repensar situações de discriminação e violência em relação à orientação sexual da pessoa, buscando alternativas; • Desenvolver atitudes de compreensão, respeito e valorização das diversidades, a fim de criar condições para uma melhor convivência escolar. • Propiciar condições de compreender que somos todos seres sexuados no mundo, em permanente processo de educação, inclusive de educação sexual. • Refletir sobre o papel da educação e da escola na produção das sexualidades e identidades de forma autônoma e democrática. • Trabalhar a sexualidade na escola, através do conceito de diferença. AVALIAÇÃO Constituir-se-á de trabalhos elaborados durante o desenvolvimento do curso, com auxílio dos professores e memorial acadêmico. As atividades avaliativas objetivam duas ações principais: ⚫ Favorecer o processo de aprendizagem do cursista, por meio de atividades reflexivas e analíticas. ⚫ Fornecer subsídios para o tutor avaliar o desenvolvimento do cursista nas atividades e a adequação aos objetivos propostos para a formação do curso. As atividades sugeridas no decorrer das unidades do curso devem ser realizadas pelo aluno, para compor seu diário de formação. Para realizar essas atividades, o cursista poderá consultar os livros indicados na bibliografia, artigos em meio eletrônico ou outras produções acadêmicas de seu conhecimento que versem sobre o assunto em questão, assim como relatar experiências e vivências profissionais. Você contará com o apoio e a orientação de um tutor experiente no assunto, que irá interagir com você sanando suas dúvidas e estimulando a discussão de temas importantes por meio das seguintes ferramentas. O sucesso de sua aprendizagem dependerá de sua disciplina e determinação para o estudo. De nossa parte, você contará com o apoio docente e administrativo, sempre que sentir necessidade. Observações: 1. Se sentir necessidade, entre em contato com o seu tutor. 2. Só encaminhe as atividades quando todas estiverem prontas, pois vale nota. 3. A nota mínima para aprovação é 8,0. Caro (a) aluno (a), Agora vamos dar início ao curso Educação para a sexualidade. Este é o nosso Caderno de Orientação de Estudos e Atividades Avaliativas. Esse material foi elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos no tocante aos conteúdos pertinentes a Objetiva ainda, informar sobre o conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, as atividades avaliativas a serem realizadas, para que conheça os objetivos, a organização dos temas e o número de horas de estudo que deve ser dedicado a cada unidade. A carga horária do curso é de 100 (cem) horas, cabendo a você administrar seu tempo conforme a sua disponibilidade. Mas, lembre-se, há uma data limite para a conclusão do curso, implicando a apresentação, ao seu tutor, das atividades avaliativas indicadas nesse caderno, que contém as respectivas pontuações e prazos de acordo com o cronograma disponível na plataforma. Os conteúdos e as atividades avaliativas foram organizadosem unidades de estudo, subdivididas em capítulos de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas do curso; serão indicadas também, outras fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados no transcorrer desse curso! A Coordenação INTRODUÇÃO Queremos conversar com você sobre um tema ainda muito polêmico e importante para todos, especialmente para quem trabalha educando outras pessoas: a questão da educação e sexualidade. Para isso, retomamos a pergunta: afinal, por que ficamos ainda inibidos diante do tema sexualidade? Para pensarmos um pouco mais sobre isso, gostaríamos de contar-lhe uma pequena história: “Numa determinada cidade do Estado de Santa Catarina, colonizada por imigrantes europeus, acontecia anualmente uma festa que reunia toda a comunidade, e o prato mais comentado e saboroso do cardápio era o pernil. Pernil este preparado por uma jovem de 18 anos que pertencia a uma tradicional família da região. A fama do pernil espalhou-se para outras cidades, aguçando a curiosidade de uma repórter que resolveu fazer uma entrevista com a referida jovem. A repórter perguntou-lhe como preparava o pernil. Ela contou que o temperava e, no momento de colocá-lo no forno, cortava dele um pedaço. A repórter, intrigada, perguntou: - Por quê? A jovem respondeu: - Não sei explicar, a minha mãe me ensinou-me assim. A repórter disse à jovem: - Preciso entrevistar sua mãe. Ao entrevistar a mãe da jovem, a repórter foi direta à pergunta: - Qual a explicação para a senhora cortar um pedaço do pernil quando o leva ao forno? A senhora respondeu: - Sabe que não sei! Aprendi assim com minha mãe. A repórter perguntou-lhe se havia possibilidade de entrevistar a mãe – que seria a avó da jovem. Ela disse que não haveria problema, pois ela tinha 90 anos de idade, mas estava muito lúcida e certamente teria o maior prazer em ser entrevistada. Chegando á casa da senhora de 90 anos, a repórter perguntou-lhe se ela tinha conhecimento da fama do pernil que ela havia ensinado sua filha (e esta á neta) a fazer. Ela disse que sim, mas que tudo era muito simples. Então a repórter perguntou: - Qual o segredo de cortar um pedaço no momento de levá-lo ao forno? Ela respondeu com muita simplicidade e sinceridade: - Olha moça, na minha época eu cortava um pedaço, porque meu forno era pequeno. Hoje não sei explicar porque elas continuam a fazer o mesmo, se existem formas e fornos maiores! ” Você deve estar se perguntando o que essa parábola tem a ver com a sexualidade. Mas será que com a sexualidade não continuamos a fazer o mesmo que nossas avós, mães, pais, tios, tias, professores/as, usando a mesma forma e o mesmo forno, mesmo que o pernil cortado já não nos sirva mais, sem nos perguntarmos o porquê? Será que simplesmente continuamos a repetir costumes acriticamente, repassando preconceitos, tabus, medos, sem nos questionarmos se repassando ainda para a realidade em que vivemos? Certamente percebemos que, hoje, as transformações ocorrem muito rapidamente, mas, no que se refere à temática “sexualidade”, ainda não conseguimos falar dela com a maturidade necessária. A ciência e a tecnologia avançam muito nesses últimos anos e, hoje, são capazes de responder a questões que, na época de nossos antepassados, não poderiam ser resolvidas, bem como novas relações sociais se estabeleceram, gerando a necessidade de novos valores de conveniência, em busca do bem viver para todos. Mas, mesmo assim, preferimos continuar, muitas vezes, repetindo os mesmos atos, sem questioná-los. Como registrou o compositor Belchior na música “Como nossos pais”, tão bem interpretada pela cantora Elis Regina: “Minha dor é perceber que, apesar de tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais? ”. É claro que o compositor se refere somente ao que reproduzimos acriticamente. Ao agirmos dessa maneira, deixamos de viver plenamente nossa vida. Muitas vezes não conseguimos deixar de ter preconceitos por estarmos presos a um passado calcado unicamente no senso comum, ainda interpretamos o mundo, na maioria das vezes, pelos mitos criados para explicar situações que há poucas décadas ainda não era possível explicar, inclusive através da ciência, bem como por valores ultrapassados para nossa época. Precisamos procurar conhecer melhor “qual é a nossa” em relação à sexualidade, como diria um adolescente. Temos que buscar reconstruir as nossas verdades provisórias até que outras venham a ser elaboradas pelas gerações que nos sucederem. Tudo isso sempre visando a uma vida plena, feliz e digna para todos. Enfim, uma vida cidadã... Lembre-se sempre de que somos seres humanos, portanto mutáveis, tendo a capacidade de renovação a cada dia. Para que essa renovação seja plena, faz-se necessário estudar nossa própria história também em relação à sexualidade, às transformações nela ocorridas em diferentes épocas e culturas, todas essas certamente registradas em nossa maneira atual de ser e agir. Unidade I Educação sexual- paradigmas e pressupostos emancipatórios Sexualidade: conceitos e implicações educacionais Para saber a resposta, tente fazer o seguinte exercício: certamente você está confortavelmente instalado/a lendo seu Caderno Pedagógico. Saia por um momento do local onde você está estudando, vá para outro ambiente próximo, deixando lá sua sexualidade, e volte logo para continuarmos nossa conversa. Conseguiu fazer o que lhe sugerimos? É claro que não, pois a sexualidade é uma dimensão indissociável do fato de sermos humanos. Você é tão sexuado/a como foram e são todos os seres humanos. E isso é verdadeiro para todas as pessoas “desde que o mundo é mundo” pois vivem numa sociedade onde os discursos e as práticas sobre a sexualidade perpassam todas as esferas da nossa vida cotidiana. Portanto, o objetivo desta seção é que você se perceba como um ser humano sexuado como o são todas as demais pessoas no mundo, em permanente processo de educação sexual, independentemente de idade, étnicas, sexo, cultura, religião. Isso também é verdade para todas as pessoas que fazem parte de seu dia-a-dia como, por exemplo, seu filho, sua filha, seu aluno, sua aluna, seu pai, sua mãe, seus e suas colegas de trabalho, os vizinhos e as vizinhas, seu companheiro, sua companheira, seu esposo ou esposa etc. Todos e todas são seres sexuados, e essa sexualidade se manifesta das mais diversas formas. Seja através dos sentimentos, das emoções, da relação sexual, do prazer. Essa dimensão “sexualidade” é parte indissociável de todos nós, em qualquer época de nossa vida, em qualquer ambiente, inclusive no escolar. Somos seres humanos sempre sexuados ao estabelecermos as relações sociais, na produção do nosso modo de vida, ao construirmos nossa história da sexualidade ao mesmo tempo em que ela nos constrói. Ao longo de nossa existência, em todas as nossas relações sociais, fomos construindo e sendo construídos, elaborando histórica e culturalmente regras, modelos, posturas, exigências, cerimônias, permissões e interdições, códigos em torno do sexo, tornando a sexualidade permeada de tabus, mitos e preconceitos que se perpetuam até nossos dias e que dizem respeito a determinados interesses das diferentes épocas, muitas vezes desconsiderando as relações sexuais como sendo também relações sociais. Nessa perspectiva crítica de análise da realidade, você vai perceber que, como não poderia deixar de ser, a sexualidade só pode ser vista como dimensão inseparável da história do ser humano em nosso planeta. Todas as linhas de tempo que você estudou e ainda vai estudar, nas mais diferentes disciplinas, podem e devemter desvendado os paradigmas de sexualidade e educação sexual correspondentes a cada cultura, em cada época. Veja, no quadro a seguir, como Nunes (1997, p.51-56) fixa metodologicamente cinco etapas de compreensão da construção histórico-cultural da sexualidade mais relacionadas a mundo ocidental, desde o Paleolítico até hoje. PERIODO CARACTERISTICAS Sexualidade Primitiva mítica Etapa da compreensão mítica, das sociedades agrárias do Oriente Médio. Religião e magia como aparelho comercial desses povos. Sexo, religião e trabalho em íntima relação com o fenômeno da virada. O modelo patriarcal Inicia-se com o advento das civilizações urbanas do mundo antigo. O sexo gradualmente perde seu caráter mítico e passa a ser “racionalizado” e controlado. A sexualidade proscrita na Idade Coincide com a desestruturação do mundo antigo com a queda do Império Romano e a emergência da Igreja como instituição que catequiza e organiza o mundo bárbaro. A inspiração cristã, o platonismo “batizado” e o maniqueísmo mesclam-se ao novo imaginário Média social construído pela Igreja por meio do enquadramento dos povos bárbaros na doutrina cristã. Dominar o corpo e reprimir o sexo constitui o ideal da vida cristã. A puritanização do sexo Etapa ligada á transformação do mundo medieval com o advento da sociedade capitalista, das estranhas do feudalismo. A energia sexual deve ser direcionada para o trabalho. A descompressão sexual Ligada à perda da hegemonia européia sobre o mundo e com o advento da sociedade de consumo. Perda do espírito erótico. Segundo Marcuse é o “prazer mecanizado”. Observação: Também já registra o autor, em seu livro Desvendando a sexualidade, vários indicadores que apontam para uma proposta emancipatória de vivenciar a dimensão da sexualidade humana. Sugerimos que você vá descobrindo e anotando esses indicadores à medida que for lendo a obra. Serão muito úteis em suas reflexões. Assim, as mudanças dos mitos, tabus, preconceitos e valores construído ao longo do tempo dependem também da nossa postura diante do tema. E, como disse Rousseau, antes de tentar fazer um homem a si próprio, isto é, devemos procurar compreender cada vez mais nossa própria sexualidade, refletindo sobre a forma pela qual fomos educados e como educamos. Assim, estaremos nos aperfeiçoando como pessoas e ajudando a melhorar a sociedade de um modo geral. EXISTE DIFERENÇA ENTRE SEXO E SEXUALIDADE? Vamos refletir um pouco sobre esses conceitos. No senso comum, “sexo” tem sido conhecido como sinônimo de órgãos genitais, ou da relação, sexual, ou ainda, de toda a sexualidade humana. Sexo é, basicamente, a caracterização biológica, hereditária, que diferencia fisicamente o homem da mulher. E a sexualidade, o que é, afinal? Sexualidade é um termo que surgiu no século XIX, ampliando o conceito de sexo, incorporando a reflexão e o discurso sobre o seu sentido e a sua intencionalidade. “A sexualidade é sempre construída e definida socialmente sobre o sexo primordial” nos “diz” Nunes (1987, p.127). É entendida, atualmente, como uma fundamental dimensão humana, como a própria vida, englobando sentimentos, relacionamentos, sensualidade, prazer, erotismo, direitos, deveres, sexo, enfim o ser humano em sua plenitude, em sua totalidade. Observe como essa questão é bem colocada na Proposta Curricular de Santa Catarina (1998), segundo a qual “a sexualidade não se reduz à união dos órgãos genitais e tampouco pode ser confundida com o ato sexual reprodutivo, pois este tanto pode estar inserido nem relacionamento afetivo quanto indiferente a qualquer ligação amorosa. Ou seja, uma união genital pode acontecer por atração, desejo, prazer, como pode ser uma manifestação de poder, violência-prazer e opressão de uma ou mais pessoas sobre outrem. A atividade sexual genital, reprodutiva ou não, é caracterização biológica do ser humano enquanto espécie animal. Já a sexualidade se constitui numa elaboração histórica e cultural, que se explica e se compreende no contexto e nas relações nas quais se produz. ” (p.17). Você percebeu que, sejam quais forem os conceitos que cada pessoa tem de “sexualidade” e de “sexo”, eles terão reflexos imediatos em qualquer tipo de educação sexual? Trata-se da educação sexual vivenciada na família e na escola, enfim em todo o processo de relações entre os seres humanos, portanto todo processo de educação sexual sempre está fundamentado em uma visão de mundo que inclui um conceito de sexualidade e de sexo. Esses conceitos também são produtos de uma construção sócio-histórica determinada e determinante, pois nessa caminhada como seres históricos no mundo é que apreendemos atribuições e significados para as nossas crenças, vivências, práticas e experiências sexuais. A sexualidade é uma dimensão exclusiva do ser humano. Nenhum outro ser vivo, além de nós, é capaz de dar sentidos, para além do biológico, à questão da sexualidade. Somente nós é que podemos estabelecer valores afetivos, morais e étnicos à sexualidade, significando e “re-significando” sentidos, estabelecendo normas e regulamentos, limites e possibilidades para os relacionamentos e vivencias dessa rica dimensão. Lembre-se de que “cada povo, em cada tempo e lugar, cria e recria, busca forma de viver e expressar a sexualidade. Hoje, o que em nossa cultura parece óbvio, acabado e definitivo, continua em movimento. Amanhã, essas certezas terão novas conotações, assim acontece em outras culturas e num mesmo período histórico, porque tudo está em constante transformação. ” (Proposta Curricular SC, p.17). Vimos, portanto, que a vida, e nela a nossa inseparável sexualidade, é um processo constante de seres humanos que se educam nas relações sociais. Como será que estamos vivenciando a questão da sexualidade na nossa vida, de uma maneira geral, e mais especificamente no nosso cotidiano escolar? Será que estamos vivendo com saúde sexual em nossa casa e em nossas escolas? Convidamos você a ler, agora, a definição de sexualidade registrada pela Organização Mundial de Saúde em 1975 (apud BLESSA et al, sd.): “A sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se imita a presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e portanto, a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada como direito humano básico. A saúde mental é a integração dos aspectos sociais, somáticos, intelectuais e emocionais de maneira tal que influenciem positivamente a personalidade, a capacidade de comunicação com outras pessoas e o amor.” EDUCAÇÃO SEXUAL E SEUS PARADIGMAS Constatamos, que todos nós somos sexuados, em permanente processo de educação, e que cada um de nós possui uma visão de mundo que, dentre outras “coisas”, inclui nosso entendimento do que é sexualidade e sexo, com reflexos imediatos em nossa maneira de viver, incluindo, aí, o processo permanente de educação sexual. Recorrendo a uma afirmação de Paulo Freire – a de que a educação como prática da liberdade é um ato de conhecimento, uma aproximação crítica da realidade. Nele, você, sujeito em busca de viver a educação como prática de liberdade através de atos de conhecimento, procurará fazer uma aproximação cada vez mais crítica da questão da educação e da sexualidade, identificando vários paradigmas de educação sexual existentes na sociedade atual e seus reflexos na educaçãobrasileira através de várias vertentes pedagógicas. Antes de falar mais especificamente de educação sexual, vamos refletir um pouco sobre educação em geral. A educação, como você já sabe, é um fenômeno humano e social, como todas as suas determinações, sendo também campo da ação humana. Relembre que toda a sociedade ou qualquer grupo social são sempre agências educadoras nem permanente processo educacional. Isso porque educação não se reduz á escolarização ou à instrução, já que se entende que educar é construir redes de significações culturais e comportamentos padronizados, de acordo com os códigos sociais vigentes. A educação sexual, com todos seus componentes explícitos e implícitos, formais e não formais, não escapa a essa dimensão sociopolítica e cultural. Nesse sentido, é evidente que a educação sexual também sempre acontece plenamente em todos os grupos sociais, em todas as épocas, em todas as culturas, e se expressa em diferentes paradigmas que se refletem em todos os segmentos e organizações sociais, dentre elas a escola. E, como sabemos, continua a ser tema controverso na maioria das sociedades contemporâneas. Falando em educação e em educação sexual, procure aprofundar suas leituras também sobre as religiões, principalmente as que são hegemônicas no pensamento ocidental cristão, têm tido papel predominante na orientação moral de políticas educativas sobre sexualidade ao longo dos tempos, orientações essas que nem sempre ajudam o ser humano no seu desenvolvimento pleno. Pelo contrário: muitas das religiões têm responsabilidade direta na questão da repressão desumanizadora da sexualidade. Lembre-se de que o Estado também tem sido um protagonista fundamental nesses debates, como registra Vaz (1996, p. 53), pois, dependendo de que segmento social está ali realmente representado, ora assume uma aparente posição de distanciamento frente aos diversos segmentos sociais em conflito, ora toma partido de uns ou de outros, favorecendo ou dificultando a definição e o desenvolvimento de políticas emancipatória de educação sexual nas escolas, nos sistemas de saúde ou nas políticas públicas em geral. Os seus estudos de Filosofia e de Sociologia, bem como de várias outras áreas do conhecimento, certamente são de grande ajuda para um melhor entendimento dessas questões. Talvez você já tenha feito um exercício de construção de uma linha de tempo, onde poderia ir registrando e entrelaçando, através dela, alguns acontecimentos marcantes que estudou nas várias disciplinas até agora. Poderá também ir incluindo nela, em cada época ou data, a etapa ou acontecimentos relacionados a expressões de paradigmas, vertentes ou manifestações consideradas específicas da sexualidade e logo perceberia que tudo é relacionado. Vários conceitos de vários cadernos, por exemplo, estão sempre se referindo ao mesmo processo vital de relações sociais entre os seres humanos e destes com a natureza, ao produzirem e serem produzidos em seus modos de vida. ESSE PROCESSO É SEMPRE SEXUADO e permeado por vários paradigmas. OS PARADIGMAS DE EDUCAÇÃO SEXUAL NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E SUAS VERTENTES PEDAGÓGICAS Vamos conversar um pouco sobre os diferentes paradigmas de educação sexual existentes na sociedade contemporânea e seus reflexos na educação brasileira, principalmente nas escolas. Este é o objetivo desta seção. Como nos “diz” Romero (1998), não existe uma única definição do que é sexualidade e, por consequência, não existe um só modelo padrão do que se possa chamar de educação sexual. Isso porque, a partir da história pessoal e da aprendizagem social é que se constroem as concepções sobre tudo, inclusive sobre sexualidade. É social e culturalmente que aprendemos alguma atribuição ou significado para as vivências, práticas e experiências sexuais. Cada grupo social e cultural constrói e recria imaginários sociais e particulares sobre a sexualidade, feitas por um grupo social, e suas expressões no cotidiano maior das relações sociais dos seres humanos ao produzirem suas vidas, é o que podemos chamar de seu paradigma sobre educação sexual. Apresentamos, agora, uma adaptação que fizemos das vertentes dominantes nas abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil proposta por Nunes (1996). São elas: 1- a médico-biologista; 2- a normativo-institucional; 3- a terapêutico-descompressiva, incluída aí a questão do consumismo pós- moderno. Todas essas fases “mudaram” a educação sexual para não mudar. Assim como tem acontecido com as várias “mudanças do capitalismo”, que realiza aparentes mudanças, que não mudam o fundamental: o próprio modo de produção. Seus estudos de Sociologia e Economia, dentre outros, serão de grande auxílio no entendimento dessa questão. Na vertente médico-biologista, o ser humano é reduzido a uma estrutura organizada que apenas reproduz e perpetua sua espécie. São retirados dessa vertente todos os componentes sócio-histórico-culturais da construção da sexualidade humana. “O discurso médico, matriz da interpretação biologista, reforça o mesmo discurso conservador e institucional presente na sociedade brasileira”. (NUNES, 1996, p.141). Nela, a reprodução humana é o eixo da discussão, como por exemplo, quando estudamos o aparelho reprodutor nos textos escolares centrados, muitas vezes, em noções de higiene sexual e procriação, sem inseri-lo numa dimensão maior da sexualidade. Condutas sexuais diferentes do padrão dito “normal”, nessa vertente, são consideradas “desvios”. Utilizam-se, muitas vezes, modelos de desenvolvimento de plantas e animais para explicar a sexualidade humana. Com muito pouco esforço, facilmente, você perceberá manifestações dessa vertente no seu cotidiano escolar. A própria questão de reforçar a desigualdade entre os sexos – estipulando, no cotidiano escolar, tarefas próprias para meninos, acirrando a competição, e tarefas para meninas, estimulando a submissão – pauta-se nem suposto diferencial biológico que justifica esse sexismo. Já a vertente normativo-institucional, como seu próprio nome diz, é determinada por uma rigorosa moral repressiva institucional, misturando, ecleticamente, mecanismos de ordem científica e conceitos religiosos morais, fortalecendo-se para fazer frente à chamada “revolução sexual”. Defende a promoção dos papéis sexuais tradicionais de modelo ocidental cristão e a propagação do casamento patriarcal monogâmico. É intolerante com práticas sexuais alternativas e condutas sexuais não procriativas. As instituições normativas preferenciais são a família tradicional, a Igreja e a escola. Essa vertente está presente nas escolas, via currículo, mesmo que oculto. Procure suas pistas, por exemplo, nos conteúdos dos livros didáticos utilizados nas escolas. Como um bom (mau?) exemplo, temos livros didáticos que só apresentam um tipo de família padrão, aquela que é constituída pelo pai, pela mãe e por filhos, na qual geralmente o menino é o mais velho entre outros fatores clássicos. Onde estão representados os vários tipos de família que temos hoje em nossa sociedade? Trata-se de um fato aparentemente simples, mas que, se não for trabalhando criticamente, perpetua um tipo de discriminação inaceitável se quisermos trabalhar a partir do/a nosso/a aluno/a real. A vertente terapêutico-descompressiva é baseada numa concepção banalizada da psicanálise e dos referenciais da psicologia. São expressões dessa vertente: consultórios televisivos, confissões compulsivas no reino do “eu acho...” São utilizadas técnicas e metodologias no encaminhamento do sexo individual e coletivo. São dadas receitas de como viver a sexualidade. Coloca-se tudo como uma questão “do que dizer na hora certa”. Reflete a visão dos seres humanos como “trepadores compulsivos”, como atletas sexuais. Nela, a sexualidade é vista como uma questão de produtividade e técnica. Revistas apresentam como ter orgasmo,como achar o ponto G, como enlouquecer seu homem, sua mulher etc. É obrigatório deixar de ser virgem.... É obrigatório transar por transar... É o consumo de relações: um consome o outro. Homem, mulher, criança: todos são usados como mercadorias sexuais. Naturaliza-se o sexo como mercadoria, uma vez que ele se apresenta mecânico, deserotizado. É uma aparente liberalização e descompressão das práticas sexuais. A mídia é utilizada como uma das maiores formas de valores éticos sexuais. Todos são considerados como tendo a mesma história e a mesma necessidade. O conhecimento sobre a sexualidade tende a ser superficial e vazio, não a considerando como uma construção sócio-histórico-cultural. Essa vertente está mais presente explicitamente fora da escola, mas chega até ela com toda sua força, indiretamente, trazida pelas pessoas pertencentes à comunidade escolar, através de suas várias atitudes e falas, através de conteúdos de livros e revistas, de expressões corporais, dos padrões das piadinhas, das músicas da moda que exploram essa vertente de “descompressão” etc. Como você deve ter percebido, todas essas vertentes estão ainda presentes no cotidiano da sociedade e no da escola, com maior ou menor intensidade, dependendo de cada contexto. REFLEXÕES SOBRE UM PARADIGMA EMANCIPATÓRIO DE EDUCAÇÃO SEXUAL Como você percebeu, são várias as vertentes de educação sexual e suas expressões na nossa vida, inclusive no cotidiano escolar. Você também deve ter percebido que as vertentes apresentadas até agora parecem não compreender o ser humano em sua totalidade, nem o ajudam a mudar para melhor a si mesmo e ao mundo em que vive. Será, então, que não temos saída na questão da educação sexual? É claro que temos! Em toda a caminhada do ser humano como um sujeito que faz sua própria história junto a outros sujeitos no mundo, na relação com a natureza, construindo seu modo de vida, também existiram e existem até hoje momentos, expressões, enfim vivências de uma sexualidade saudável, entendida como uma prazerosa dimensão inseparável do existir humano. Essa dimensão é parte do seu constituir-se como cidadão pleno de seu tempo. E essa maneira de perceber a sexualidade e os conseqüentes reflexos dela no processo de educação sexual apresenta-se como o mais forte indicador da existência, mesmo que ainda embrionária, de um paradigma de educação sexual emancipatório, que, iniciando-se em nível pessoal, não por acaso, está entrelaçado a um paradigma maior de mudança social. Nesta seção, o objetivo será ajudar você a identificar alguns indicadores básicos desse paradigma emancipatório. Para isso, vamos retomar a seguinte constatação: todos os seres humanos inserem-se no mundo mediante seus corpos sexuados, mundo que é uma construção sociopolítica, histórica e cultural de seres humanos, dialeticamente vistos como seres únicos e parte da sociedade ao mesmo tempo, produtores e produzidos nas e pelas relações sociais, mesmo que a maioria aparentemente assim não se perceba. Neste entendimento, uma abordagem de educação sexual emancipatória é visualizada como uma intervenção qualitativa, intencional, no processo educacional que sempre está ocorrendo nas relações sociais. Essa abordagem mostra-se como um veio temático político-pedagógico fundamental que busca desalojar certezas, desafiar debates e reflexões, posturas fundamentais na busca do desenvolvimento pessoal do ser humano como um ser corporificado, sexuado, contribuindo na busca de cidadania para todos. Assim, essa abordagem sócio-histórico-crítica da dimensão humana da sexualidade tem como ponto de partida o entendimento de que “sem dúvida, a repressão sexual e a repressão sociopolítica nascem do mesmo tronco e crescem juntas, como tristes irmãs gêmeas”, bem como de que “a luta pela liberdade é, portanto, a luta por Eros, e a luta por Eros é sempre uma luta política. ” Como nos dizia Bernardi (BERNARDI, apud MELO, 2001, p.12). O que seria, então, um paradigma de educação sexual emancipatória? Não existem receitas, já que é tudo uma construção pessoal e social, mas certamente podemos dizer que é uma busca de reconstrução consciente e participativa de um saber amplo e universal sobre a dimensão humana da sexualidade, sem distinção de qualquer ordem, e essa reconstrução deve começar dentro de cada um, espraiando-se para o coletivo. Não pode ser apenas uma reprodução acrítica do que está posto na sociedade. Devemos buscar o despertar da consciência crítica, possibilitando aos indivíduos escolherem seus caminhos sem amarras, sem medos, e com conhecimento de sua importância nas diversas relações sociais. Como registra Pocovi (2000, p.91) “cada ser humano tem seu lugar nesta busca de discutir teórica e historicamente a sexualidade humana”. Melo (2001) alerta que, na busca da utopia da emancipação do ser humano, não podemos esquecer que profundas transformações ocorreram e estão ocorrendo cada vez mais rapidamente, continuamente, em nossa sociedade global. Transformações essas que se refletem nos valores, nos comportamentos, na literatura, na linguagem, nas músicas e filmes etc. O avanço científico e tecnológico e, de um lado e do outro, a “mercadorização” dos corpos e de sua sexualidade também influíram e influem poderosamente como determinados-determinantes, em todas as dimensões do ser humano, inclusive na sexualidade, como bem demonstram as várias vertentes pedagógicas de educação sexual já vistas por você. “E o tema da educação sexual do ser corpo humano pleno, cidadão, já está até fartamente discutido e anunciado. Mas, na maioria das vezes, sem desvelar o fundamental: sempre se praticou e se pratica uma educação ou deseducação sexual entre seres humanos. Seres estes corporificados em sua inserção no mundo, resultado das relações sociais entre os homens nos vários modos de produção que existiram, e no atualmente vigente. Para avançarmos na construção de um paradigma emancipatório é imperioso que pensemos profundamente sobre essa questão: o que é educação sexual? O que significa educar sexualmente? Quem pode “educar” sexualmente, ensinar o quê? Como fazê-lo? Quem serão esses/essas educadores/as? Educadores/as sexuais somos todos nós, seres humanos! Então, a quem interessa cada tipo de educação sexual? A quem interessa negar os corpos das pessoas, reprimi-los e torná-los dóceis? Ou, então, expô-los como mercadorias? ” (MELO, 2001, p.37). Essas reflexões podem nos ajudar a desvendar qual o paradigma subjacente à nossa maneira de compreender e viver a nossa sexualidade. E a procurar reconstruí-lo. Para que esse novo “olhar” possa apontar para uma abordagem emancipatória da vida, vida esta sempre sexuada, alguns indicadores podem ser observados: 1 – Há que se partir uma segura metodologia de análise da realidade social que não se limite a uma compreensão ético-religiosa da conjuntura, mas que consiga entender a dimensão estrutural dialética da produção da vida social. Assim, a questão da sexualidade deixará de ser vista como um objeto apenas da religião, ou da psicanálise, ou da psicologia, passando a ser compreendida como uma questão estrutural, parte indissociável do contexto social. Neste enfoque, a sexualidade não é anomalia, patologia, disfunção, coisa acidental, mas é entendida como um complexo de valores, modelos, comportamentos, padrões socialmente construídos de acordo com agentes específicos. Uma abordagem emancipatória pressupõe desvendar esses modelos e projetar a ruptura de ordens estabelecidas, na busca de um novo que aponte para uma sociedade nova que estabeleça a igualdade, atendendo à diversidade cultural, com uma nova compreensão da dimensão sexualidade como parte indissociável dos direitos humanos no processo de construção da cidadania. 2 – Como o processo de construção da cidadania percorre um caminho que se inicia com a formação da identidade – quemsou eu? – e da auto-estima, passando das aprendizagens básicas para a convivência, efetivando-se na solidariedade e na participação social, não é uma conquista nem uma concessão ou dádiva, é um processo que passa pelo caminho de uma transformação pessoal, sendo que essa mudança é sempre parte de um processo maior de transformação coletiva, tendo como eixo norteador a ação do ser humano como sujeito-cidadão. 3 – Para isso, temos de ter sempre presente que o lugar do ser humano no mundo é a sua corporeidade, não apenas como equipamento psicofísico ou conjunto anatômico, mas como nó de significações vivas. É o corpo o lugar hibrido da natureza e da cultura. Gonçalves (1997, p89) propõe ao homem “estar aberto ao mundo e, ao mesmo tempo, vivenciar o corpo na intimidade do Eu: sua beleza, sua plasticidade, seu movimento, prazer, dor, harmonia, cansaço, recolhimento e contemplação. (...) Ser-no-mundo com o corpo significa movimento, busca e abertura de possibilidades, significa penetrar no mundo e, a todo momento, criar o novo”. Há que se recuperar uma significação mais lúdica, livre, para o corpo, deixando de lado a concepção anacrônica, muitas vezes ainda vigente, que coloca o corpo como oposição, vendo nele todo o princípio do mal, da maldade, da malícia, da luxúria, templo de pecado, lugar de perdição, prisão do homem... por exemplo, Santo Agostinho, filósofo que é estudado no Caderno de Filosofia, foi um dos que afirmou que o corpo é prisão da alma e fonte do que julgamos ser o Mal. 4 – Ao reencontrar-se com sua corporeidade, o ser humano vê ampliada suas possibilidades de reassumir-se cada vez mais como sujeito pleno, fica mais fácil lutar pela liberdade de escolha de seus caminhos. Assim, não será tão facilmente manipulada para escolher a liberdade que lhe é proposta por alguém. Um indicador, portanto, de que estamos trilhando o caminho da busca do emancipatório em educação sexual será aquele representado pelo cuidado que tivermos em nossas vivências pedagógicas para que o ser humano tenha efetivamente a liberdade de escolha. Há que se ter cuidado para que, em nome da emancipação, não se defina previamente qual a “liberdade” que o Outro deva escolher. Vimos, então, alguns dos indicadores que podem apontar para a construção de um paradigma emancipatório de educação sexual. Com base nessas “pistas”, com certeza temos condições de fazer uma reflexão crítica sobre nossa vivência pessoal e pedagógica no intuito de revê-la na busca de um constante aperfeiçoamento. SAIBA MAIS.... Texto de apoio- extraído do Livro Educação sexual na escola: equidade de Gênero, livre orientação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças. FURLANI, Jimena (org.). Florianópolis, UDESC, 2008. Pressuposto teórico e políticos de uma Educação Sexual de respeito às diferenças – argumentando a favor de um currículo pós-crítico Jimena Furlani Educação Sexual – o currículo crítico Até meados do século XX o contexto das teorizações educacionais esteve marcado fortemente pela análise crítica social a partir de referenciais marxistas. A obra de Karl Marx (1818-1883) mudou drasticamente as opiniões sobre a sociedade humana, causando grande impacto nos pensamentos social e político contemporâneos. O marxismo (também conhecido como materialismo histórico, materialismo dialético ou socialismo científico) desenvolveu-se a partir de uma crítica à tradição racionalista. Para Marx, a análise social, apenas no plano das idéias, do espírito e da consciência humana, não era suficientemente crítica para explicar a sociedade e as relações humanas. Para o marxismo, “a verdadeira origem dessas idéias estaria na base material da sociedade, em sua estrutura econômica e nas relações de produção que esta mantém” (JAPIASSU & MARCONDES, 1990, p. 162). Assim como a psicanálise (de Sigmund Freud, 1856-1939), o marxismo significou uma nova forma de compreender a natureza do conhecimento. O nome geral a este tipo de pensamento (um revolucionário conceitual à estrutura epistêmica) foi Teoria Crítica. A expressão Teoria Crítica surgiu, em 1937, no texto (Teoria Tradicional e Teoria Crítica) de Max Horkheimer (1895-1973) publicado na “Revista de Pesquisa Social” (editada de 1932 a 1942) – publicação oficial do Instituto de Pesquisa Social (fundado em 1923) em Frankfurt, Alemanha. Esse instituto tinha como objetivo “promover, em âmbito universitário, investigações científicas a partir da obra de Karl Marx (1818-1883) ” (NOBRE. 2004, p. 12 e 13). Foram Max Horkheimer e Theodor Adorno, juntamente com Herbert Marcuse e outros, que desenvolveram uma revisão do pensamento marxista (no decorrer dos anos de 1930) que culminou com a chamada Teoria Crítica da Sociedade, da Escola de Frankfurt. Essa escola reforçou a idéia de que “a finalidade da Teoria Crítica é a emancipação e o esclarecimento. Ela busca tornar os agentes cientes de coerções ocultas, libertando-os; com isso, os deixa em condições de determinar onde se encontram seus verdadeiros interesses” (Raymond GEUSS, 1988, p.91). Teoria Crítica da Sociedade foi considerada como uma das distintas correntes oriundas das diversas interpretações do marxismo. Para a reflexão que pretende iniciar, sempre voltada à Educação Sexual que pretendo sugerir, pergunto: qual a diferença entre um currículo crítico e um currículo pós- crítico? O que é uma pedagogia crítica? O que a distingue de uma pedagogia pós-crítica? Como essas perspectivas estão presentes no trabalho pedagógico da escola? Essa problematização é extremamente pertinente, sobretudo quando observamos, numa análise da história social recente, o quanto alguns referenciais teóricos, que se consolidaram no século XX, perpassam as práticas docentes e as mais diversas concepções acerca da educação. Trago essa discussão para pensarmos a Educação Sexual porque entendo que, nem sempre, professores e professoras têm consciência dessa “escolha” teórica, ou possuem discernimento para identificá-la – garantindo, em seu trabalho, uma coerência teórica-prática. Entendo que referenciais distintos não apenas expressam e constroem uma concepção de mundo, de educação ou de sujeitos, mas seu arcabouço conceitual e epistêmico explicita suas limitações, suas possíveis interfaces com outras teorias e práticas e suas possibilidades reflexivas para o campo a que se destinam problematizar. Quero argumentar a favor de uma Educação Sexual pós-crítica. Para esse exercício teórico, inicialmente, me parece produtiva a classificação apresentada por José Carlos Libâneo (2005), no artigo “As teorias Pedagógicas Modernas revisitadas pelo debate contemporâneo na Educação”. O autor organiza correntes e modalidades pedagógicas modernas, conforme o quadro a seguir. As teorias pedagógicas “críticas” na classificação do autor assumem a denominação de “sociocríticas” – perspectivas essas muito presentes nas escolas públicas brasileiras e universidades. Teorias Pedagógicas Modernas CORRENTES MODALIDADES Racional-tecnológica Ensino de Excelência Ensino tecnológico Neocognitiva Construtivismo Pós-Piagetiano Ciências Cognitivas Sociocríticas Sociologia Crítica do Currículo Teoria histórico-cultural Teoria sociocultural Teoria sociocognitiva Teoria da ação comunicativa Holísticas Holismo Teoria da Complexidade Teoria Naturalista do Conhecimento Ecopedagogia Conhecimento em rede Pós-Modernas Pós-estruturalismo Neo-pragmatismo FONTE: LIBÂNEO, 2005, p. 30. O conjunto das correntes definidas como “sociocríticas” (LIBÂNEO, 2005), bom como suas modalidades, é originário das TEORIAS CRÍTICAS, ou seja, aquelas inspiradas no marxismo. São elas: o A Sociologia Crítica do Currículo o A Teoria histórico-cultural o A Teoria sociocultural o A Teoria sociocognitiva o A Pedagogia histórico-cultural o A Pedagogia histórico-crítica oA Pedagogia sócio-histórica o A Pedagogia histórico-social o A Pedagogia libertária o A Pedagogia libertadora o A Pedagogia de emancipação o A Pedagogia crítico-social Convém lembrar alguns conhecidos pensadores contemporâneos que tiveram no marxismo sua inspiração teórica e política e contribuíram para o surgimento de uma tradição crítica na educação: no Brasil, Dermeval SAVIANI (1943-), Moacir GADOTTI (1941-) e Paulo FREIRE (1921-1997); em Portugal, Boaventura de Sousa SANTOS (1940- ); na França, Jean-Claude FORQUIN (1922-) Louis ALTHUSSER (1918-1990) e Pierre BOURDIEU (1930-2002); nos Estados Unidos, Jennifer Gore (1957-), Michael APPLE e Peter McLAREN; na Espanha, José Gimeno SACRISTÁN; na Inglaterra, Basil BERNSTEIN (1924-2000), Henry GIROUX (1943-) e Michael YOUNG. No Brasil, nas décadas de 1970 e 1980, o marxismo já se constituía numa corrente de pensamento muito presente no campo da formação de educadores/as e ainda o é nos dias de hoje. Especialmente nas Ciências Humanas e Ciências Pedagógicas, a Teoria Crítica buscou resgatar a concepção materialista da história (transformar a realidade e as mentalidades) utilizando, para isso, a dimensão cultural. No entanto, esse enfoque cultural não foi tratado de maneira aprofundada por Marx, e isso se explica uma vez que o marxismo ortodoxo enfatizou excessivamente o aspecto econômico, sobretudo no momento histórico de sua formação, quando definiu como base a discussão das forças industriais de produção e a crítica da sociedade capitalista de consumo. Sem dúvida, o marxismo teve (e tem) grande contribuição na análise social e foi (é) uma teoria impactante. Contudo, para a Educação Sexual que proponho neste livro, as teorias críticas apresentam significativas limitações teóricas e, conseqüentemente, políticas. Umas dessas limitações é exatamente o entendimento de que o poder opressor é central – o capitalismo; e “os conflitos desapareceriam” da sociedade caso não houvesse divisão de classes. Há duas questões nesse entendimento merecedoras de investimento explicativo: a primeira refere-se ao modo de entender a constituição dos “sujeitos sociais”, e a segunda, o entendimento de “poder”. Educação Sexual – o currículo pós-crítico Aqui posso, então, apresentar os motivos teóricos e políticos que me fazem escolher o pós-estruturalismo como recurso teórico analítico na Educação Sexual. Os argumentos a seguir se aproximam do pensamento pós-crítico. 1. º motivo – O sujeito social O pós-estruturalismo é uma forma particular de teorização cultural que faz a crítica do sujeito centrado, autônomo e universal (do modernismo e do humanismo); aquele sujeito que, ao longo da história, teve o reconhecimento, a representação positiva e o privilégio social: homem branco, ocidental, cristão, burguês, masculino, heterossexual. As teorizações marxistas (críticas) viam as pessoas apenas como sujeitos de classe social. Para Marx, esse era o marcador da condição humana que definia as experiências dos sujeitos, seus processos de opressão, sua condição de desigualdade e seu grau de hierarquia na vida em sociedade. Esse olhar, a partir da tradição marxista de análise social, foi/tem “Para cada sujeito (homem ou mulher, menino ou menina), em específicos momentos de sua vida, as narrativas sociais constroem diferentes “posições-de-sujeito” (Kathryn WOODWARD, 2000) que podem ser investidas de positividade ou de negatividade; podem ser posições centrais ou marginais que carregam atributos desejados ou atributos marginalizados, exemplos a serem seguidos ou a serem evitados. Este caráter de provisoriedade permite-nos afirmar que “as identidades são, pois, pontos de apego temporários às posições-de-sujeito que as práticas discursivas constroem para nós” (Stuart HALL, 2000, p. 112) e, na dinâmica social, um mesmo indivíduo pode experimentar situações de identidade marginalizada ou central, estigmatizada ou aceita como normal. Somos sujeitos de múltiplas identidades e, ao longo da vida, vivemos diferentes experiências sociais em decorrência dessa convergência identitária. Por exemplo, ser mulher, lesbiana, negra, idosa e pobre pode significar uma experiência de vida diferente de alguém que é mulher, lesbiana, branca, rica e jovem. As identidades culturais interagem e nos colocam em diferentes posições-de-sujeito. Essas diferentes posições modificam as experiências de preconceito, de discriminação e de violência experimentadas, por cada uma de nós, ao longo da vida. Portanto, não há uma identidade cultural que possa ter tida, genericamente e universal a todos os sujeitos, como central ou a mais importante.” Texto extraído de FURLANI, Jimena (2005b). sido responsável pelo apego de muitos/as educadores/as em depositar sobre a ‘classe social’ o principal aspecto constituidor dos sujeitos. Teorizações pós-críticas, como os Estudos Culturais, por exemplo, vão partir do entendimento de que os sujeitos são interpelados por muitas “identidades culturais”, ou seja, cada pessoa apresenta distintos e múltiplos aspectos identitários. Essas identidades são construídas discursivamente nos processos que instituem a diferença. Não somos apenas sujeitos “de classe” e, para muitos de nós, não é a posição econômica o fator determinante de nossa existência, de nossa privação social, das circunstâncias de exclusão ou de reconhecimento social, de nosso acesso ou negação aos bens materiais, etc. A Educação Sexual que estou apresentando neste livro entende que as diferenças individuais, visíveis em crianças, jovens e adultos (sejam eles estudantes ou professores/as, dirigentes escolares, etc.) não expressam apenas condição econômica. Marcadores sociais distintos constituem os sujeitos da educação e podem ter como referência sua condição física, seu gênero, sua religião, sua classe social, sua geração, seu estado civil, etc. Hoje, no momento histórico atual, sobretudo como resultado das reivindicações e conquistas dos movimentos sociais do século XX (as Políticas de Identidade), outros sujeitos (além dos grupos populares) têm reivindicado direitos e merecem ser considerados na Educação, nos currículos escolares. Marx (e, por conseguinte, as teorizações críticas) não se utilizou da palavra “diversidade” e/ou “diferença”, e tampouco reconheceu que outras dimensões humanas pudessem ser tão importantes para as pessoas como a classe social. Marx não considerou que as pessoas também podiam ser marcadas socialmente por aspectos como, por exemplo, seu sexo (ser menino, menina, homem, mulher), seu gênero (masculino, feminino, travesti), por sua raça (ser branca, negra, parda), sua origem étnica (ocidental, oriental), seu estado físico (cego, surdo, cadeirante), sua sexualidade (heterossexual, homossexual, bissexual), sua geração (criança, adolescente, adulto, idosa/o), sua religião ou crença (cristão, muçulmano, espírita, umbandista), etc. O entendimento de diversidade humana e social, no contexto marxista, não tinha cabimento como entendemos hoje. Na pauta da escola do século XXI e das políticas públicas voltadas à educação, encontramos preocupações com o respeito ao diferente, à inclusão escolar, à diminuição das desigualdades sociais. É possível afirmar que “o respeito à DIVERSIDADE” tem sido apresentado como desejado e visto como uma estratégia “politicamente correta” para incluir na agenda educacional a inclusão de identidades e sujeitos subordinados. Todos os níveis da escolarização brasileira têm repensado e entendimento de “uma escola inclusiva”, que promova a inclusão social. No ano de 2007 a UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) promoveu discussões sobre o tema objetivando a definição de sua Política de Inclusão. Fui convidada a colaborar com a Comissão. O texto a seguir apresenta a versão final com minhas sugestões – e explicita um entendimento de “inclusão” e dos sujeitosobjeto de tais políticas: Das concepções de inclusão: Art. 1º. Entende-se por inclusão: I - O processo sistemático e intencional que possibilita o acesso à Universidade, de sujeitos marcados por atributos identitários, historicamente, subordinados nas relações de poder social (idosos, mulheres, negros, negras, indígenas, portadores de necessidades especiais, gays, lésbicas, travestis, transexuais, trangêneros). II - A representação positiva desses sujeitos nas políticas de ensino, pesquisa e extensão, possibilitando a esses grupos exercer suas atividades como cidadãos e cidadãs no contexto da Universidade, gozando dos direitos e prerrogativas comuns à todos/as e ao coletivo de seu segmento. III - A incorporação curricular da história, cultura e singularidades desses grupos como estratégia na mudança de mentalidades voltadas a minimização das desigualdades sociais, do combate as formas de preconceitos, violência e desrespeito das diferenças individuais e coletivas. Art. 2º. A inclusão caracteriza-se como processo complexo e gradativo, articulado com a organização da educação nacional, que requer uma prática transformadora no contexto da universidade, a partir de ações, que se justificam por três princípios: I. O direito de todos e todas ao acesso à educação e a produção do conhecimento; II. A igualdade de oportunidades para formação profissional numa instituição pública e gratuita. III. A contribuição da Universidade na busca por uma sociedade da paz e do respeito às diferenças. [...] Da abrangência da ação Art. 5º As ações abrangerão diferentes identidades culturais: a) Condição/Estado físico ou necessidades especiais (cadeirantes, surdos, cegos); b) Raça e/ou etnia (populações de negros e negras, quilombolas, indígenas) c) Identidade de gênero e/ou Orientação Sexual (mulheres, gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros); d) Condição socioeconômica. (Documento “Política de Inclusão da UDESC”, 2007) 2. º motivo – O entendimento de poder Para as teorizações críticas o poder é central, estrutural, e está no “capitalismo centrado nas instituições do Estado”; portanto, é vertical e “derivado, relativamente, às relações sociais de produção” (SILVA, 2000b, p. 91). Para as teorizações pós-críticas, que se baseiam no entendimento de Michel Foucault, “o poder é concebido como descentralizado, horizontal e difuso” (SILVA, 2000b, p. 91). Para Foucault (1997), o poder apresenta um domínio de relações estratégicas entre indivíduos ou grupos – relações que têm como questão central a conduta do outro ou dos outros, e que podem recorrer a técnicas e procedimentos diversos, dependendo dos casos, dos quadros institucionais em que ele se desenvolve, dos grupos sociais ou das épocas (p. 11). Foucault reconhece o poder central e totalizador do Estado, mas chama a atenção para as formas de sujeição (assujeitamento) que interpelam as pessoas pelas relações de dominação ([...] “força de produção, luta de classe e estruturas ideológicas que determinam a forma de subjetividade” (FOUCAULT, 1995, p. 236). Para ele, o mais importante são as relações de poder que se estabelecem entre os indivíduos. Ele chama de “poder disciplinar” aquele que aciona uma série de procedimentos e mecanismos que interferem na vida das pessoas, não para aniquilá-las ou destruí-las, mas para disciplinar os corpos e as mentes. O entendimento de poder, em Foucault, portanto, é oposto ao entendimento marxista. O poder não é algo que se possui ou que está fixo, e tampouco emana de um centro (o Estado ou o capitalismo). O poder é resultante de relações, é móvel e fluido, está em toda parte. Por exemplo, mesmo que houvesse distribuição de renda equitativa no país, que não houvesse mais miseráveis nem pobres, que a renda per capita das/os brasileiras/os fosse uma média boa a muito boa; mesmo que toda a população fosse classe média, média alta, etc.; mesmo assim, ainda a sociedade brasileira apresentaria sujeitos subordinados por gênero, sexualidade, nacionalidade... Ainda assim a sociedade seria machista, racista, homofóbica, xenófoba... Ainda assim existiriam pessoas sendo discriminadas, sofrendo violência, coação... Gênero, sexualidade, raça e etnia são conceitos que devem ser compreendidos no campo da cultura e da histórica e, portanto, relacionados ao poder. “Não apenas como campos nos quais o poder se reflete ou se reproduz, mas campos nos quais se exercita, por onde o poder passa e onde o poder se faz. ” (LOURO, 2007, p. 211). 3. º motivo – Saber-poder, a linguagem e os processos de significação. Foucault criou a expressão saber-poder para enfatizar seu entendimento de que todo poder é uma expressão de determinada verdade, ou seja, o poder utiliza “um saber que se expressa como conhecimento das populações e dos indivíduos submetidos” a ele (SILVA, 2001ª, p. 120). Este saber, quando hegemônico, quando tido como verdade absoluta, exerce, sobre aqueles sujeitos de que fala, poder sobre eles. Este efeito pode ser positivo ou pode ser negativo à existência desses sujeitos. O louco, o prisioneiro, o homossexual não foram/não são expressões de um estado prévio, original Eles receberam/recebem sua identidade a partir dos aparatos discursivos e institucionais que os definem como tais. O sujeito é resultado dos dispositivos que o constroem como tal (SILVA, 2001a, p. 120-121). Aqui está mais um motivo, teórico e político, de minha escolha por referencial: o pós-estruturalismo partilha com o estruturalismo a mesma ênfase na linguagem como sistema de significação, mas amplia a sua centralidade – como a noção de ‘discurso’ de Michel Foucault e a noção de “texto” de Jacques Derrida –; portanto, é uma reação ao estruturalismo. No pós-estruturalismo o é fluido, indeterminado e incerto, enquanto que para o estruturalismo o significado é fixo. O pós-estruturalismo rejeita a dialética – tanto hegeliana quanto a marxista. No marxismo o sujeito é resultado da ideologia que, uma vez removida (sobretudo a estrutura capitalista), surge um novo sujeito. Para Foucault, “não existe sujeito a não ser como simples e puro resultado de um processo de produção cultural e social” (SILVA, 2001a, p. 120). Guacira Louro ao assumir o pós-estruturalismo como referencial teórico aos seus estudos de gênero e sexualidade afirma: “Empreender tal escolha teórica implica em lidar com contradições sim, mas implica deixar de lado a lógica da dialética, que supõe a síntese e a superação da contradição. Nessa perspectiva, buscamos superar o raciocínio do tipo ou isso ou aquilo e ensaiamos a produtividade de pensar que algo pode ser, ao mesmo tempo, isso e aquilo. ” (2007, p. 215) São representantes da primeira geração do pós-estruturalismo francês: Jacques Derrida, Michael Foucault, Julia Kristeva, Jean-François Lyotard, Gilles Deleuze, Luce Irigaray, Jean Baudrillard, entre muitos (Michael PETERS, 2000, p. 34). Os pensadores pós-estruturalismo desenvolveram formas peculiares e originais de análise (gramatológica, desconstrução, arqueologia, genealogia, semioanálise), com freqüência dirigidas para a crítica de instituições específicas (como a família, o Estado, a prisão, a clínica, a escola, a fábrica, as forças armadas, a universidade e até mesmo a própria filosofia). Também dirigem críticas para a teorização de uma ampla gama de diferentes meios (a ‘leitura’, a ‘escrita’, o ensino, a televisão, as artes visuais, as artes plásticas, o cinema, a comunicação eletrônica) (PETERS, 2000, p. 34). A escola hoje não pode, apenas, querer ‘transmitir os conhecimentos sistematizados, historicamente, pela humanidade’ – até porque, como esses conhecimentos foram construídos em relações desiguais de poder, eles, certamente, não incluem todos os sujeitos humanos, nem tampouco são conhecimentos representativos de todas as identidades culturais. A escola precisa incluir nasua agenda pedagógica a multiplicidade cultural, os saberes populares advindos de movimentos sociais e os saberes advindos das experiências subjetivas dos sujeitos. A Educação Sexual deve considerar a diferença como produtiva para vida social. Surgem, então, algumas questões à escola: Como visibilizar essa diferença nos currículos escolares? Uma forma é a inclusão, no currículo, de identidades subordinadas. Essa inclusão não se traduz apenas na garantia do acesso desses sujeitos aos bancos escolares (negros, negras, gays, lésbicas, estrangeiras/os, deficientes físicos, etc.). Essa inclusão se traduz na visibilidade de sua cultura e de sua história no currículo escolar e na ressignificação positiva dessas identidades e desses sujeitos. No lançamento do PCN´s (1997), o então ministro Paulo Renato de Souza se dirigiu aos professores e professoras enfatizando o objetivo do novo documento (o de auxiliar na execução do trabalho docente) e reconheceu que só se exerce a cidadania plena tendo acesso “[...] aos recursos culturais relevantes [...]”, ou seja, “[...] tanto os domínios do saber tradicionalmente presentes no trabalho escolar, quanto as preocupações contemporâneas com o meio ambiente, com a saúde, com a sexualidade e com as questões éticas relativas à igualdade de direitos, à dignidade do ser humano e à solidariedade [...]” (BRASIL, 1997, vol. 08, p. 05)(grifos meus). Parece-me, então, que considerar os problemas que as crianças, os jovens e os adultos enfrentam ao longo de sua existência é admitir que a sociedade é, muitas vezes, machista, homofóbica, racista, misógina, etnocêntrica. Preconceitos e atos de discriminação marcam os sujeitos e estão presentes na escola, em seu currículo. Seria a intolerância uma expressão da dificuldade humana em aceitar a diferença? Seria a imposição de padrões ditos normais uma demonstração do quanto a humanidade é limitada em considerar a multiplicidade – quer seja ela sexual, de gênero, religiosa, étnica, racial, etc. – como algo bom, positivo e desejável? Como a Educação Sexual pode transitar de um currículo crítico para um pós-crítico? Que arranjos são necessários? Que efeitos pedagógicos têm cada escolha? Tomaz Tadeu da Silva (2001a, p.17), no livro “Documentos de Identidade – uma introdução às teorias do currículo”, faz uma simples, mas impactante classificação das teorias educacionais acerca dos modos de pensar o currículo. Para ele, elas podem ser divididas em três abordagens: as teorias tradicionais, as teorias críticas e as teorias pós- críticas. Teorias do Currículo (SILVA, 2001a, p. 17) Teorias TRADICIONAIS Teorias CRÍTICAS Teorias PÓS-CRÍTICAS • Ensino • Aprendizagem • Avaliação • Didática • Organização • Planejamento • Eficiência • Objetivos • Ideologia • Reprodução Cultural e Social • Poder • Classe social • Capitalismo • Relações Sociais de Produção • Conscientização • Emancipação e Liberdade • Currículo Oculto • Resistência • Identidade • Alteridade • Diferença • Subjetividade • Significação e Discurso • Saber-poder • Representação • Cultura • Multiculturalismo • Gênero, Sexualidade, Raça, Etnia O quadro anterior, elaborado a partir de Silva (2001a), mostra, de modo simples, como cada teoria traz consigo uma lógica. Cada teoria explicita categorias conceituais que apontam para o modo como ela pensa e problematiza o meio social e educacional. Nesse sentido, esses termos conceituais levam a uma coerência definida a partir dos seus princípios teóricos fundacionais. Outras categorias (metodologia, fracasso escolar, dialética, desconstrução) que não foram apresentadas por Silva (2001a) são acrescentadas por mim, neste livro, por entender que são integrantes dessas concepções de currículo, seguindo a mesma lógica conceitual. São elas: Teorias do Currículo Teorias TRADICIONAIS Teorias CRÍTICAS Teorias PÓS-CRÍTICAS • Metodologia • Fracasso Escolar • Dialética • Superação das contradições • Desconstrução Categorias segundo Jimena Furlani. A Educação Sexual que tenho pensado, nos últimos anos, e que apresento neste livro, tem como bússola teórica e política os Estudos Culturais, os Estudos Feministas e a perspectiva pós-estruturalista de análise. Vamos entendê-las um pouco melhor... A perspectiva Pós-Estruturalista e o Currículo da Educação Sexual O pós-estruturalismo é uma perspectiva teórica que se comporta como categoria descritiva de análise. Originada nos EUA, em reação ao estruturalismo de Ferdinand Saussure, rejeita a dialética e a análise social baseada no essencialismo e no enfoque a- histórico. “Limita-se a teorizar sobre a linguagem e o processo de significação” (SILVA, 2001, p. 117). Tem em Foucault e Derrida seus principais alicerces teóricos: o primeiro ampliando a centralidade da linguagem através da nação de discurso; e o segundo, com a noção de textualidade. O pós-estruturalismo admite o conceito foulcautiano de poder, que o “concebe não como algo que se possui, nem como algo fixo, e tampouco partindo de um centro, mas como uma relação, como móvel e fluido, como capilar e estando em toda parte” (SILVA, 2001, p. 120). Essa perspectiva supõe que as relações de poder se encontram no cerne dos processos de significações que instituem e marcam as diferenças entre identidades. Os diversos significados que são atribuídos às identidades são decorrentes de posições específicas de poder. Para Silva (2001ª), “sob a influência do pós-estruturalismo, uma análise do caráter do currículo, baseada nos Estudos Culturais, enfatizaria o papel da linguagem e do discurso nesse processo de construção [...]” (p. 135). Neste referencial, discurso “refere-se tanto à produção de conhecimento através da linguagem e da representação, quanto ao modo como o conhecimento é institucionalizado, modelando práticas sociais e pondo novas práticas em funcionamento” (Stuart HALL, 1997, p. 29). Discurso, segundo Michel Foucault, é o “conjunto de expressões verbais amplos, identificados com certas instituições ou situações sociais” (SILVA, 2000b, p. 43), como o discurso médico, discurso midiático, discurso jurídico, discurso religioso, discurso pedagógico, discurso machista, etc. “O termo é utilizado para enfatizar o caráter lingüístico no processo de construção do mundo social” (p. 43). Esse entendimento de discurso (como institucional) não deve ser confundido com a fala pessoal, narrativas individuais, retórica, mensagem oral, sermão, alocução, nota, palestra, preleção. Uma possibilidade de abordagem, no contexto pós-estruturalista de análise de discurso e da linguagem, é o conceito de poder, de Michel Foucault (assumido, igualmente, pelos Estudos Feministas). Uma vez que “o poder social não é unificado, coerente e centralizado” (Joan Scott, 1995, p. 86), o papel da linguagem na produção e na representação dos gêneros e das sexualidades adquire importância fundamental para constituição das identidades culturais. As sociedades e as culturas delimitam ‘lugares’, posicionam sujeitos e demarcam fronteiras entre indivíduos com base no jogo diferença x identidade através da construção de representações que promovem qualificações, hierarquias e desigualdades. Guacira Louro (1995) chamou esse movimento social de contínuos processos de generificação nos sujeitos que são, a partir deles, formados, socializados e educados (p. 103). O pós-estruturalismo traz a crítica de Jacques Derrida ao pensamento filosófico ocidental. Para Derrida, a episteme ocidental se articula a partir de oposições binárias definidas por uma nítida hierarquia de pares opostos, como corpo/alma, sagrado/profano, Deus/diabo, masculino/feminino, ativo/passivo, homem/mulher, hetero/homossexual, ocidente/oriente, ciência/natureza, “homem”/máquina, razão/emoção, etc. Segundo o autor, é possível desmantelar o jogo das dicotomias por meio de umprocesso de “Desconstrução”. Desconstruir é questionar (e com isso desestabilizar) as operações e os processos envolvidos na construção de determinada idéia, ou seja, duvidar das explicações que envolvem “a naturalização, a universalização ou o fundacionismo” (SILVA, 2000b, p. 36). Os Estudos Culturais e o Currículo da Educação Sexual Os últimos 50 anos do século XX viram o florescer de uma série de campos não disciplinares de conhecimento, além das já clássicas Ciências Humanas, Sociais e Físicas. Esses novos campos tornaram o pensamento contemporâneo marcado pela articulação e/ou confluência de distintas abordagens, entra elas: os Estudos de Gênero e Sexuais, os Estudos Literários, os Estudos sobre Etnias e Raças e os Estudos Culturais. Nelson; Treichler & Grossberg (1995, p. 08) definem algumas principais categorias da pesquisa atual em Estudos Culturais: gênero e sexualidade; nacionalidade e identidade nacional; colonialismo e pós-colonialismo; raça e etnia; cultura popular e seus públicos; ciência e ecologia; política de identidade; pedagogia; política da estética; instituições culturais; política da disciplinaridade; discurso e textualidade; história e cultura global numa era pós-moderna. Embora os Estudos Culturais possam ser identificados por essas categorias, elas não os limitam a tampouco conferem seus limites. Quaisquer campos do conhecimento podem ser articulados aos “cultural studies”, entre eles os movimentos sociais, sexuais e de gênero, o marxismo, a psicanálise, o pós-estruturalismo. Para Stuart Hall (1997), é a partir da metade do século XX que a cultura passou a ter uma expressão central na análise e intervenção de todos os aspectos da vida social, devido ao seu caráter associativo e constituinte. Na teorização social, o conceito de cultura adquiriu um amplo poder analítico e explicativo, ao mesmo tempo em que se tem aprimorado seu uso na regulação social. Essa abordagem da análise social contemporânea – que coloca (colocou) a cultura num status da centralidade – provocou o que muitos(as) intelectuais denominaram de “virada cultural”. Interessa-me, sobremaneira, o potencial que os estudos culturais possuem de impacto político, na medida em que são capazes de fazer a crítica social das desigualdades culturais e, com isso, “conferir” certa importância e influência sobre políticas públicas. Um exemplo desse potencial crítico pode ser visto nas questões sobre HIV/AIDS: a questão da AIDS mostra-nos um terreno de estudo, denúncia e contestação dos modelos hegemônicos e tradicionais da sexualidade humana. Uma crítica à luz dos Estudos Culturais pode apontar para a necessidade de se questionar, entre outras coisas, as representações discriminatórias religiosas e a homofobia; as relações de gênero; o sexo seguro; os valores morais (fidelidade, promiscuidade); a hetero e a homossexualidade; a prostituição; as campanhas de redução de danos / ricos; questões de classe e raça. Mesmo partindo do pressuposto de que toda a ação social é cultural, a que significa dizer que “as práticas sociais expressam um significado – são de significação” (HALL, 1997, p. 16), nem sempre as ciências humanas e sociais conferiram à cultura um status epistemológico (conhecimento e conceitualização) central. Hall (1997) mencionou haver dois aspectos de interpretar a cultura e de ver sua centralidade: um como ‘substantivo’ – que compreende “o lugar da cultura na estrutura empírica real e na organização das atividades, instituições e relações culturais na sociedade, em qualquer momento histórico particular”; o outro aspecto, como uma dimensão ‘epistemolófica’ – a “posição da cultura em relação às questões de conhecimento e conceitualização, explicando os modelos teóricos do mundo” (p. 16). Portanto, é a partir da “virada cultural” que a cultura passa a ter uma função de destaque, tanto na análise social quando na produção do conhecimento científico, compreendida como “campo de luta em torno da significação social” (SILVA, 2001, p. 133). Nesse processo de compreensão da dimensão cultural, a análise do discurso tornou- se especialmente importante uma vez que possibilitou apreender os diversos significados contidos na prática social, vislumbrando, com isso, as relações de poder e seus modos de regulação. A ‘virada cultural’, assim, “está intimamente ligada a esta nova atitude em relação à linguagem, pois a cultura não é nada mais do que a soma de diferentes sistemas de classificação e diferentes formações discursivas ao qual, a língua recorre a fim de dar significado às coisas” (HALL, 1997, p. 29). No âmbito intelectual e acadêmico, este novo campo interdisciplinar de estudo, tendo a cultura como conceito central, passou a ser reconhecido como Estudos Culturais, a partir da década de 1960. Essa nova abordagem passou a considerar que todas as formas de produção cultural necessitam de investigação à luz de outras práticas culturais e das instituições sociais e históricas. A nova compreensão de cultura passa a reconhecer todas as experiências vividas por uma sociedade, abrangendo “a ‘cultura popular’, isto é, as manifestações da cultura de massa – livros, tablóides, rádio, televisão, a mídia em geral” (SILVA, 2001, p. 132). A concepção de cultura, desenvolvida por Raymond Williams, em “culture and Society”, publicado em 1958 – conceito este que conferiu ao Centro de Estudos Culturais e Contemporâneos, em Birmingham, “as bases de sua teorização e metodologia”, afirmava, em contraste com a tradição literária, que a “cultura deveria ser entendida como o modo de vida global de uma sociedade, como a experiência vivida de qualquer grupamento humano. Nessa visão, não há nenhuma diferença entre, de um lado, as ‘grandes obras’ de literatura e, de outro, os Estudos Culturais, ao recusar a idéia de cultura como aquela que reconhece apenas a “alta cultura”, compromete-se com outras práticas culturais, como as artes, as crenças, os valores, a vida familiar, as relações de gênero, as instituições a práticas comunicativas da sociedade, relacionando-as às estruturas sociais e históricas. O conceito de “cultura”, apresentado por Stuart Hall como sendo “o terreno real, sólido, das práticas, representações, línguas e costumes de qualquer sociedade histórica específica, bem como, as formas contraditórias de ‘senso comum’ que se enraizaram na vida popular e ajudaram a moldá-lo”, adquire especial importância na problematização de estudo das identidades sexuais e de gênero. Isso principalmente se considerarmos que é a cultura o campo social objeto das significações sexuais, objeto de análise dessa representação (como objeto de estudo) e local da crítica e da intervenção política. Mais recentemente, sob influência do feminismo, os Estudos Culturais têm repensado noções de subjetividade, política, gênero e desejo, mostrando como é potencialmente possível esta possibilidade de articulação das naturezas constitutivas e políticas dos sujeitos e das suas representações, questionando as complexas formas pelas quais as identidades são articuladas, experienciadas e rearticuladas. Nos anos 1980, os Estudos Culturais, no Centro de Birmingham, mudou a influência teórica marxista pelo pós-estruturalismo de Michel Foucault e Jacques Derrida. Sob o ponto de vista metodológico, o Centro se dividiu entre duas tendências: as pesquisas de terreno, sobretudo etnográficas, de origem na Sociologia, utilizadas especialmente nos estudos das chamadas subculturas humanas, e, de outro, as interpretações textuais, de origem nos estudos literários, usadas nas análises dos programas de televisão e dos textos de obras consideradas ‘populares’ (cf. SILVA, 2001, p. 132). Hoje, há uma diversidade de perspectiva teóricas e de influências disciplinares nos Estudos Culturais, nos diversos países e centros de estudo, quer sejam por influência marxistas ou pós-estruturalistas, da mesma forma
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