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Julgados 7 Período Inventário e PArtilha

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E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
1 
 
 
 
É ônus do credor não admitido no inventário o ajuizamento da ação de conhecimento, não 
competindo ao juiz a conversão do pedido de habilitação de crédito em ação de cobrança, em 
substituição às partes 
 
Resumo 
Caso hipotético: João faleceu e deixou herança. Foi iniciado inventário judicial. João tinha uma 
suposta dívida com Pedro e que não foi paga enquanto ele estava vivo. Diante disso, Pedro 
formulou pedido de habilitação de crédito, a fim de que fosse ressarcido do valor que ele teria 
direito. Citados, o espólio e herdeiros não concordaram com o pedido de habilitação de crédito. 
Diante disso, o juiz rejeitou a habilitação e determinou a conversão do pedido de habilitação de 
Pedro em procedimento de cobrança a ser remetido às vias ordinárias para ali ser discutido. 
O magistrado não agiu corretamente. Não é possível que o juiz faça a conversão, de ofício, do 
pedido de habilitação de crédito em inventário em ação de cobrança. A existência de 
impugnação de interessado à habilitação de crédito em inventário, impõe ao juízo do inventário 
a remessa das partes às vias ordinárias, ainda que sobre o mesmo juízo recaia a competência 
para o inventário e para as ações ordinárias (tal como ocorre nos juízos de vara única), pois, nos 
termos do art. 643 do CPC/2015, constitui ônus do credor não admitido no inventário o 
ajuizamento da respectiva ação de conhecimento, não competindo ao juiz a conversão do 
pedido de habilitação na demanda a ser proposta, em substituição às partes. 
STJ. 3ª Turma. REsp 2.045.640-GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/4/2023 (Info 
772). 
Comentários 
Inventário 
Inventário é o processo instaurado com o objetivo de se apurar quais foram os bens deixados 
pelo falecido e, após isso, realizar a partilha entre os herdeiros. 
Consiste, portanto, na descrição pormenorizada dos bens da herança, tendente a possibilitar o 
recolhimento de tributos, o pagamento de credores e, por fim, a partilha. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João faleceu e deixou herança. 
Regina, sua esposa, ajuizou ação de inventário pedindo a arrecadação e partilha dos bens. 
João tinha uma suposta dívida com Pedro e que não foi paga enquanto ele estava vivo. 
Diante disso, Pedro formulou pedido de habilitação de crédito, a fim de que fosse ressarcido do 
valor que ele teria direito. 
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0dc23b6a0e4abc39904388dd3ffadcd1?categoria=4&subcategoria=47&assunto=795
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0dc23b6a0e4abc39904388dd3ffadcd1?categoria=4&subcategoria=47&assunto=795
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0dc23b6a0e4abc39904388dd3ffadcd1?categoria=4&subcategoria=47&assunto=795
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
2 
 
Citados, o espólio e herdeiros não concordaram com o pedido de habilitação de crédito. 
Diante disso, o juiz rejeitou a habilitação e determinou a conversão do pedido de habilitação de 
Pedro em procedimento de cobrança a ser remetido às vias ordinárias para ali ser discutido. A 
decisão do magistrado foi fundamentada no art. 643 do CPC: 
Art. 643. Não havendo concordância de todas as partes sobre o pedido de pagamento feito pelo 
credor, será o pedido remetido às vias ordinárias. 
Parágrafo único. O juiz mandará, porém, reservar, em poder do inventariante, bens suficientes 
para pagar o credor quando a dívida constar de documento que comprove suficientemente a 
obrigação e a impugnação não se fundar em quitação. 
 
Agiu corretamente o magistrado ao determinar essa conversão? É possível que o juiz faça a 
conversão, de ofício, do pedido de habilitação de crédito em inventário em ação de cobrança? 
NÃO. 
De acordo com o § 2º do art. 642 do CPC/2015, quando todas as partes concordam com o pedido 
de habilitação de crédito, o juiz pode declarar o credor habilitado e determinar a separação de 
dinheiro ou bens suficientes para o pagamento desse crédito: 
Art. 642. Antes da partilha, poderão os credores do espólio requerer ao juízo do inventário o 
pagamento das dívidas vencidas e exigíveis. 
(...) 
§ 2º Concordando as partes com o pedido, o juiz, ao declarar habilitado o credor, mandará que 
se faça a separação de dinheiro ou, em sua falta, de bens suficientes para o pagamento. 
 
No entanto, se houver discordância de alguma parte em relação ao crédito, o credor terá que 
buscar a satisfação de seu direito pelas vias ordinárias, como uma ação de cobrança. O máximo 
que o juiz pode fazer, neste caso, é reservar bens suficientes para pagar o credor quando a dívida 
constar de documento que comprove suficientemente a obrigação e a impugnação não se 
fundar em quitação. É o que prevê o art. 643 do CPC/2015: 
Art. 643. Não havendo concordância de todas as partes sobre o pedido de pagamento feito pelo 
credor, será o pedido remetido às vias ordinárias. 
Parágrafo único. O juiz mandará, porém, reservar, em poder do inventariante, bens suficientes 
para pagar o credor quando a dívida constar de documento que comprove suficientemente a 
obrigação e a impugnação não se fundar em quitação. 
 
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
3 
 
Caso o juiz negue a habilitação do crédito, o credor terá um prazo de 30 dias para ajuizar a ação 
ordinária cabível (ação de cobrança, monitória, execução etc.), a fim de buscar a satisfação do 
seu crédito. É importante que o credor cumpra esse prazo, caso contrário, a reserva de bens 
eventualmente decretada pelo juiz perderá sua eficácia. 
Nesse contexto, é responsabilidade do credor excluído ajuizar a ação de conhecimento 
adequada dentro do prazo estabelecido, para que ele possa receber seu crédito. 
Assim, fica claro que a lei atribui ao credor excluído do inventário a obrigação de buscar seus 
direitos por meio de uma ação de conhecimento adequada (com o objetivo de receber seu 
crédito), especialmente dentro do prazo legal de 30 dias, para manter a eficácia da reserva de 
bens eventualmente concedida. O juiz não tem o poder de determinar a conversão do pedido 
de habilitação de crédito em uma ação de cobrança, substituindo as partes. 
É sabido que o juízo do inventário é responsável por decidir todas as questões de direito e de 
fato relacionadas ao processo, desde que esses fatos estejam comprovados por documentos. A 
exceção ocorre quando há impugnação em relação à habilitação de crédito. Nesse caso, a regra 
da competência universal do juízo do inventário não se aplica. 
Com base no art. 643 do CPC/2015, quando há discordância sobre a habilitação de crédito, o 
pedido é encaminhado para as vias ordinárias e passa a ser competência do juízo cível da ação 
de cobrança, monitória ou de execução, conforme o caso. Basta a discordância, mesmo que o 
fundamento não seja adequado, para que se estabeleça essa regra especial. 
O juízo do inventário não pode emitir um julgamento sobre a questão em disputa, pois essa não 
é uma das questões em que ele está autorizado a decidir em caso de conflito: 
Art. 612. O juiz decidirá todas as questões de direito desde que os fatos relevantes 
estejam provados por documento, só remetendo para as vias ordinárias as questões que 
dependerem de outras provas. 
 Portanto, conclui-se que quando há impugnação por parte interessada em relação à habilitação 
de crédito no inventário, o juízo do inventário deve encaminhar as partes para as vias ordinárias, 
mesmo que o juízo do inventário seja competente tanto para o inventário quanto para as ações 
ordinárias. Isso ocorre porque cabe ao credor excluído do inventário ajuizar a ação ordinária 
correspondente, e não é competência do juiz converter o pedido de habilitação em uma 
demanda proposta pela parte.Em suma: 
É ônus do credor não admitido no inventário o ajuizamento da ação de conhecimento, não 
competindo ao juiz a conversão do pedido de habilitação de crédito em ação de cobrança, em 
substituição às partes. 
STJ. 3ª Turma. REsp 2.045.640-GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/4/2023 (Info 
772). 
 
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
4 
 
 
É lícito ao juiz proferir nova decisão para ajustar questão sucessória, existente em inventário 
ainda não concluído, à orientação vinculante emanada do STF 
Resumo 
O STF, ao julgar o Tema 809, em 10/05/2017, decidiu que as regras de sucessão causa mortis 
previstas para o(a) companheiro(a), no art. 1.790 do Código Civil, são inconstitucionais, devendo 
ser aplicadas as regras do cônjuge (art. 1.829 do CC). Estava tramitando um inventário judicial 
envolvendo a sucessão de companheiro falecido. O juiz já havia proferido decisão interlocutória 
aplicando o art. 1.790 do CC. Ocorre que veio a decisão do STF no Tema 809. Diante disso, o 
magistrado está autorizado a proferir uma nova decisão aplicando as regras do art. 1.829 do CC 
para esse partilha, por força do que o STF decidiu no Tema 809. STJ. 3ª Turma. REsp 2017064-
SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/4/2023 (Info 770). 
Comentários 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João faleceu e deixou como herdeiros Regina (com quem vivia em união estável) e três filhos. 
Em 2016, iniciou-se o inventário. 
Vale ressaltar que, na época, os direitos sucessórios da companheira (união estável) eram 
regidos pelo art. 1.790 do Código Civil: 
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens 
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: 
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for 
atribuída ao filho; 
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber 
a cada um daqueles; 
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; 
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. 
 O juiz proferiu decisão na qual, aplicando expressamente o art. 1.790 do Código Civil, afirmou 
que Regina teria direito apenas aos bens adquiridos onerosamente durante a união estável com 
o falecido, a serem identificados pelo inventariante e pelos demais herdeiros. 
Ocorre que, alguns dias depois disso, houve um novo fato que mudou tudo: a decisão do STF no 
Tema 809 (RE 646721/RS). 
 Tema 809/STF 
O STF, ao julgar o RE 646721/RS e o RE 878694/MG, ambos com repercussão geral reconhecida, 
fixou a tese de que: 
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/04bfb969d86db78edfa332363b59f79a?categoria=4&subcategoria=47&assunto=795
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/04bfb969d86db78edfa332363b59f79a?categoria=4&subcategoria=47&assunto=795
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
5 
 
É inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, 
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do Código Civil. 
STF. Plenário RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 
878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (Repercussão Geral – Tema 809) 
(Info 864). 
 O STF disse: o art. 1.790 do CC é inconstitucional porque viola o princípio da igualdade, a 
dignidade da pessoa humana, o princípio da proporcionalidade (na modalidade de proibição à 
proteção deficiente) e o princípio da vedação ao retrocesso. 
Já que o art. 1.790 é inconstitucional, o que se deve fazer no caso de sucessão de companheiro? 
Quais as regras que deverão ser aplicadas caso um dos consortes da união estável morra? 
O STF entendeu que a união estável deve receber o mesmo tratamento conferido ao casamento. 
Logo, em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas 
regras da sucessão causa mortis do cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do 
CC: 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este 
com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de 
bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da 
herança não houver deixado bens particulares; 
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; 
III - ao cônjuge sobrevivente; 
IV - aos colaterais. 
Logo, no caso concreto que estamos analisando: 
 a situação antes era enquadrada no art. 1.790 do CC: a companheira não tinha nenhum direito 
sobre os imóveis adquiridos antes da união estável. 
 com a decisão do STF, a situação passa a se enquadrar no art. 1.829: a companheira (por ser 
equiparada a cônjuge) passa a ter também direitos sobre os imóveis adquiridos antes da união 
estável. Isso porque a companheira concorre com os descendentes em relação aos bens 
particulares deixados pelo falecido, nos termos do inciso I do art. 1.829 do Código Civil. 
 Voltando ao caso concreto: 
O juiz, que sempre acompanhava os Informativos do STF, aplicou imediatamente o 
entendimento fixado no RE 646721/RS, consignando que Regina também passaria a concorrer 
com os demais herdeiros em relação aos bens que o falecido já tinha antes do início da união 
estável. 
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
6 
 
Os demais herdeiros recorreram alegando que a decisão que, aplicando o art. 1.790 do CC, 
excluiu Regina dos bens anteriores estaria acobertada pelo manto da imutabilidade decorrente 
da preclusão e da coisa julgada formal, motivo pelo qual não poderia ser alcançada pela 
superveniente declaração de inconstitucionalidade da regra legal pelo STF. 
 O STJ deu provimento ao recurso dos demais herdeiros? 
NÃO. 
Considerando que a lei incompatível com o texto constitucional padece do vício de nulidade, a 
declaração de sua inconstitucionalidade, de regra, produz efeito ex tunc, ressalvadas as 
hipóteses em que, no julgamento pelo STF, houver a modulação temporal dos efeitos, que é 
excepcional. 
Ao declarar a inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002 (Tema 809), o STF modulou 
temporalmente a aplicação da tese para apenas “os processos judiciais em que ainda não tenha 
havido trânsito em julgado da sentença de partilha”, de modo a tutelar a confiança e a conferir 
previsibilidade às relações finalizadas sob as regras antigas (ou seja, às ações de inventário 
concluídas nas quais foi aplicado o art. 1.790 do CC/2002). 
Dessa forma, aplica-se a tese fixada no Tema 809/STF às ações de inventário em que ainda não 
foi proferida a sentença de partilha, ainda que tenha havido, no curso do processo, a prolação 
de decisão que, aplicando o art. 1.790 do CC/2002, excluiu herdeiro da sucessão e que a ela 
deverá retornar após a declaração de inconstitucionalidade e a consequente aplicação do art. 
1.829 do CC/2002. Isso porque, desde a reforma promovida pela Lei nº 11.232/2005, a 
declaração superveniente de inconstitucionalidade de lei pelo Supremo Tribunal Federal torna 
inexigível o título que nela se funda, tratando-se de matéria suscetível de arguição em 
impugnação ao cumprimento de sentença - ou seja, após o trânsito em julgado da sentença (art. 
475, II e §1º, do CPC/1973) -, motivo pelo qual, com muito mais razão, deverá o juiz deixar de 
aplicar a lei inconstitucional antes da sentença de partilha, marco temporal eleito pelo Supremo 
Tribunal Federal para modular os efeitos da tese fixada no julgamento do tema n. 809/STF. 
 Em suma: 
É lícito ao juiz proferir nova decisão para ajustar questão sucessória, existente em inventárioainda não concluído, à orientação vinculante emanada do Supremo Tribunal Federal. 
STJ. 3ª Turma. REsp 2.017.064-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/4/2023 (Info 770). 
 A declaração superveniente de inconstitucionalidade de lei pelo STF torna inexigível o título que 
nela se funda, tratando-se de matéria suscetível de arguição em impugnação ao cumprimento 
de sentença- ou seja, após o trânsito em julgado da sentença, motivo pelo qual, com muito mais 
razão, deverá o juiz deixar de aplicar a lei inconstitucional antes da sentença de partilha, marco 
temporal eleito pelo STF para modular os efeitos da tese fixada no julgamento do Tema 809 (STJ. 
3ª Turma. REsp 1.857.852/SP, DJe 22/3/2021). 
No mesmo sentido: 
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
7 
 
A tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento do tema n. 809/STF, 
segundo a qual “é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e 
companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de 
casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002”, deve ser aplicada 
ao inventário em que a exclusão da concorrência entre herdeiros ocorreu em decisão anterior à 
tese. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.904.374/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/04/2021 (Info 692). 
Os valores depositados em plano de previdência privada aberta – no caso, o VGBL – devem 
compor o acervo hereditário? 
 
Resumo 
Na hipótese excepcional em que ficar evidenciada a condição de investimento de plano de 
previdência privada complementar aberta, operado por seguradora autorizada pela 
Superintendência de Seguros Privados (Susep), os valores devem ser trazidos à colação no 
inventário, como herança, devendo ainda ser objeto da partilha, desde que antes da conversão 
em renda e pensionamento do titular. STJ. 4ª Turma. REsp 2004210-SP, Rel. Min. João Otávio de 
Noronha, julgado em 7/3/2023 (Info 767). 
Comentários 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Marta era casada com Wilson, com quem teve duas filhas: Renata e Andrea. 
A família enfrentava divergências internas considerando que o marido de Andrea não era 
aprovado por Marta e Wilson. 
Em 2011, Marta, aos 78 anos de idade, vendeu o único imóvel do casal e aplicou todo o dinheiro 
obtido (R$ 500 mil) em um plano de previdência complementar aberta (Vida Gerador de 
Benefício Livre - VGBL). 
Segundo as regras desse plano, o valor aplicado ficaria investido e, quando Marta completasse 
100 anos, ele seria convertido em pensão. Vale ressaltar que o único beneficiário desse VGBL 
era Wilson, o cônjuge. 
Marta faleceu nove meses depois de realizar o VGBL. 
Foi iniciado o inventário, que teve caráter litigioso. 
Andrea pleiteou que o VGBL fosse reconhecido como aplicação financeira e, desse modo, 
integrasse o acervo hereditário para consequente partilha. Alegou que houve fraude à legítima 
dos herdeiros. 
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5bcbb819023630661a60ca318639c604?categoria=4&subcategoria=47&assunto=795
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5bcbb819023630661a60ca318639c604?categoria=4&subcategoria=47&assunto=795
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
8 
 
O juiz indeferiu o pedido sob o fundamento de que “os planos de previdência privada não 
integram o acervo hereditário”, além do fato de que “a falecida nomeou como beneficiário do 
plano o herdeiro Walter, impossibilitando a partilha do referido bem”. 
 Agiu corretamente o magistrado no caso concreto? 
NÃO. 
 VGBL e PGBL 
O VGBL e o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) são chamados de “planos por 
sobrevivência”. Isso porque, após um período de acumulação de recursos (período de 
diferimento), proporcionam aos investidores (segurados e participantes) uma renda mensal ou 
um pagamento único. 
Esses planos de previdência privada aberta, operados por seguradoras autorizadas pela Susep, 
podem ser objeto de contratação por qualquer pessoa física ou jurídica, tratando-se de regime 
de capitalização no qual cabe ao investidor, com ampla liberdade e flexibilidade, deliberar acerca 
dos valores de contribuição, depósitos adicionais, resgates antecipados ou parceladamente até 
o fim da vida. 
Dessa forma, sua natureza jurídica ora se assemelha a seguro previdenciário adicional, ora a 
investimento ou aplicação financeira. 
Para o mercado, muitos desses fundos constituem mais uma aplicação financeira que 
propriamente uma previdência privada. Isso porque é possível que, antes que se concretize a 
condição previdenciária, o investidor já receba as prestações periódicas. 
Como regra, o VGBL tem natureza preponderantemente de seguro de pessoas. Assim, não se 
pode afirmar que todo e qualquer aporte em plano VGBL configure obrigatoriamente uma 
aplicação financeira. 
 PGBL é exemplo de plano de previdência complementar privada aberta e, portanto, entra na 
comunhão; o PGBL não se enquadra na regra do art. 1.659, VII, do CC 
Segundo decidiu recentemente o STJ, os planos de previdência privada aberta, de que são 
exemplos o VGBL e o PGBL, não apresentam os mesmos entraves de natureza financeira e 
atuarial que são verificados nos planos de previdência fechada. Logo, os planos de previdência 
privada aberta podem ser partilhados por ocasião da dissolução do vínculo conjugal ou da 
sucessão: 
Os valores depositados em planos de previdência complementar aberta equiparam-se a 
investimentos financeiros como outro qualquer. 
Deste modo, rompida a sociedade conjugal, tais valores devem ser partilhados conforme o regime 
de bens. 
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
9 
 
Por outro lado, as contribuições feitas para plano de previdência fechado, em percentual do 
salário do empregado, aportadas pelo beneficiário e pelo patrocinador, conforme definido pelo 
estatuto da entidade, não integram o patrimônio sujeito à comunhão de bens a ser partilhado 
quando da extinção do vínculo conjugal. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1545217-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel 
Gallotti, julgado em 07/12/2021 (Info 723). 
 Os valores depositados em planos de previdência privada durante a vida em comum do casal, 
integram o patrimônio comum e devem ser partilhados? 
• se for um plano ABERTO: SIM. 
• se for um plano FECHADO: NÃO. 
 Analisando especificamente o caso do PGBL, o STJ decidiu que: 
O valor existente em plano de previdência complementar privada aberta na modalidade PGBL, 
antes de sua conversão em renda e pensionamento ao titular, possui natureza de aplicação e 
investimento, devendo ser objeto de partilha por ocasião da dissolução do vínculo conjugal ou 
da sucessão por não estar abrangido pela regra do art. 1.659, VII, do CC/2002. 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: (...) VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras 
rendas semelhantes. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1726577-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/09/2021 (Info 709). 
 Nesse julgado se decidiu que os planos de previdência privada aberta têm natureza 
multifacetária e, assim, natureza securitária (e de previdência complementar), o que se 
evidencia no momento em que o investidor passa a receber, a partir de determinada data futura 
e em prestações periódicas, os valores que acumulou ao longo da vida, como forma de 
complementação do valor recebido da previdência pública e com o propósito de manter 
determinado padrão de vida. No entanto, não se pode excluir a natureza de investimento no 
período que antecede a percepção dos valores, ou seja, durante as contribuições e formação do 
patrimônio, uma vez que, nesse tipo de plano, estão asseguradas múltiplas possibilidades de 
depósitos, de aportes diferenciados e de retiradas, inclusive antecipadas.Voltando ao caso concreto: 
As circunstâncias do caso concreto nos levam a concluir que o contrato de previdência 
complementar aberta realizado (VGBL) foi feito com natureza preponderante de investimento 
financeiro. Isso porque a titular utilizou os valores decorrentes da venda do único imóvel do 
casal quando já tinha idade avançada (78 anos) e com quase nenhuma viabilidade de conversão 
em pensão por sobrevivência, pois, na data provável do resgate, a titular teria 100 anos de idade. 
Desse modo, as circunstâncias indicam que o objetivo primordial não era a obtenção da pensão 
por sobrevivência. 
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Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
10 
 
Por fim, deve-se considerar que o valor do contrato implicou significativo aporte de capital e 
feriu o limite disponível para que a titular pudesse livremente dele dispor. 
 Em suma: 
Na hipótese excepcional em que ficar evidenciada a condição de investimento de plano de 
previdência privada complementar aberta, operado por seguradora autorizada pela 
Superintendência de Seguros Privados (Susep), os valores devem ser trazidos à colação no 
inventário, como herança, devendo ainda ser objeto da partilha, desde que antes da 
conversão em renda e pensionamento do titular. 
STJ. 4ª Turma. REsp 2.004.210-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/3/2023 (Info 
767). 
 
Havendo conflito de interesses entre os herdeiros, as despesas de verba honorária do 
advogado constituído pelo inventariante não devem ser suportadas pelo espólio 
 
Resumo 
Não havendo interesses em conflito entre os interessados, os honorários do advogado 
contratado pela inventariante constituem encargo da herança. Por outro lado, havendo conflito 
de interesses entre os herdeiros, as despesas de verba honorária do advogado constituído pelo 
inventariante não devem ser suportadas pelo espólio. Se os interesses dos demais herdeiros 
eram antagônicos em relação ao inventariante, os honorários do advogado por este contratado, 
não constituem ônus do espólio, cada qual respondendo pelo pagamento do trabalho dos 
respectivos procuradores. Obs: no caso concreto, o conflito de interesses não estava 
relacionado diretamente com divergências entre os herdeiros a respeito da herança, mas sim 
com a discordância quanto à representação realizada pelo escritório de advocacia. STJ. 4ª 
Turma.AgInt no AREsp 1924962-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 08/08/2022 (Info 
746). 
Comentários 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Antônio faleceu e deixou como herdeiros: a viúva Regina e os filhos Luiz, Tiago e Olívia. 
Luiz, inventariante à época, contratou o advogado Rafael para prestar juridicamente assistência 
no inventário. 
Ficou ajustado que Rafael receberia, como contraprestação pelo seu trabalho,honorários 
advocatícios contratuais de 10% sobre o patrimônio do espólio. 
Vale ressaltar, contudo, que não foi outorgada procuração ad judicia dos demais herdeiros em 
favor do advogado Rafael. A procuração foi assinada apenas por Luiz. 
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0b0d29e5d5c8a7a25dced6405bd022a9?categoria=4&subcategoria=47&assunto=795
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Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
11 
 
Após algum tempo de serviço prestado, antes que o inventário chegasse ao fim, Olívia, uma das 
herdeiras, disse que não concordava com esse percentual de 10% que seriam atribuídos ao 
advogado. Foi apoiada pelos demais herdeiros. 
Foram vendidos todos os bens de Antônio, totalizando R$ 7 milhões, a ser repartido entre os 
herdeiros. 
Rafael peticionou nos autos juntando o contrato de honorários que havia sido firmado e 
requerendo o destaque dos honorários advocatícios, na forma prevista no art. 22, § 4º do 
Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94): 
Art. 22 (...) 
§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o 
mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos 
diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que 
já os pagou. 
 
O espólio alegou que o contrato de honoráriosfirmado com Rafael não teria validade uma vez 
que o inventariante (Luiz) assinou sem a anuência dos demais herdeiros. Argumentou que este 
não é o meio adequado para discutir os honorários, o que deveria ser feito pelas vias ordinárias. 
 O que decidiu o STJ? 
Diante da litigiosidade existente, o contrato de prestação de serviços advocatícios não vincula o 
espólio e os demais herdeiros, os quais não foram abrangidos em sua totalidade pelo serviço 
advocatícios. 
Segundo a jurisprudência do STJ: 
Havendo conflito de interesses entre os herdeiros, as despesas de verba honorária do 
advogado constituído pelo inventariante não devem ser suportadas pelo espólio. 
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.924.962-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 08/08/2022 
(Info 746). 
 No caso concreto, a litigiosidade (o conflito de interesses) não está relacionado diretamente 
com divergências entre os herdeiros a respeito da herança, mas sim com a discordância quanto 
à representação realizada pelo escritório de advocacia. 
Como na procuração ad judicia consta apenas Luiz e não os demais herdeiros do inventariante 
à época da contratação, fica evidente que o serviço advocatício não abrangeu a totalidade dos 
herdeiros. 
Luiz assinou o contrato com o escritório de advocacia indevidamente na qualidade de 
inventariante, quando deveria ter firmado apenas como um dos herdeiros já que não havia 
concordância expressa dos demais herdeiros. 
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Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
12 
 
O pronunciamento do juiz que defere ou nega a habilitação do crédito no inventário é uma 
decisão interlocutória contra a qual cabe agravo de instrumento 
 
Resumo 
O pronunciamento judicial que versa sobre a habilitação do crédito no inventário é uma decisão 
interlocutória a que se impugna por meio de agravo de instrumento com base no art. 1.015, 
parágrafo único, do CPC/2015. No caso concreto, o juiz indeferiu o pedido de habilitação de 
crédito no inventário, remetendo o eventual credor às vias ordinárias e reservando bens 
suficientes para pagar a dívida por ele cobrada, nos termos do art. 643 do CPC. Esse 
pronunciamento judicial é uma decisão interlocutória recorrível mediante agravo de 
instrumento. STJ. 3ª Turma. REsp 1963966-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/05/2022 
(Info 744). 
 
Comentários 
Inventário 
Inventário é o processo instaurado com o objetivo de se apurar quais foram os bens deixados 
pelo falecido e, após isso, realizar a partilha entre os herdeiros. 
Consiste, portanto, na descrição pormenorizada dos bens da herança, tendente a possibilitar o 
recolhimento de tributos, o pagamento de credores e, por fim, a partilha. 
 Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João faleceu e deixou herança. 
Regina, sua esposa, ajuizou ação de inventário pedindo a arrecadação e partilha dos bens. 
João tinha uma dívida com a empresa Alfa e que não foi paga enquanto ele estava vivo. Essa 
dívida estava representada por meio de uma nota promissória. 
Diante disso, a Alfa requereu a habilitação do crédito no processo de inventário. 
A inventariante não concordou com o pedido alegando que a nota seria inexigível em razão da 
ausência da data da emissão e da natureza da obrigação a qual estaria vinculada. 
Diante disso, o juiz rejeitou a habilitação e disse que o pedido deveria ser remetido às vias 
ordinárias para ali serem discutidos os requisitos do título de crédito apresentado. A decisão do 
magistrado foi fundamentada no art. 643 do CPC: 
Art. 643. Não havendo concordânciade todas as partes sobre o pedido de pagamento feito pelo 
credor, será o pedido remetido às vias ordinárias. 
Parágrafo único. O juiz mandará, porém, reservar, em poder do inventariante, bens suficientes 
para pagar o credor quando a dívida constar de documento que comprove suficientemente a 
obrigação e a impugnação não se fundar em quitação. 
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Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
13 
 
 A empresa Alfa não concordou e interpôs apelação contra a decisão. 
 A empresa interpôs o recurso correto? 
NÃO. 
Na vigência do CPC/1973 havia muita polêmica sobre a natureza jurídica do pronunciamento do 
juiz que deferia ou negava a habilitação do crédito no inventário. Essa manifestação seria uma 
sentença ou decisão interlocutória? 
O próprio STJ estava dividido. Havia julgados afirmando que se tratava de sentença e, portanto, 
impugnável por apelação (REsp 1.133.447/SP, Terceira Turma, DJe 19/12/2012). Outros julgados 
sustentavam que seria decisão interlocutória e, desse modo, impugnável por agravo de 
instrumento (REsp 1.107.400/SP, Quarta Turma, DJe 13/11/2013). 
Essa dúvida acabou com o CPC/2015. 
O CPC/2015 forneceu o conceito de sentença no § 1º do art. 203: 
Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e 
despachos. 
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o 
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase 
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. 
(...) 
 Dessa modo, o CPC/2015 adotou duplo critério para o conceito de sentença (temporal e 
material): 
• a sentença deve por fim à fase cognitiva ou de execução (critério temporal); e 
• deve fazer isso tratando de alguma das matérias dos arts. 485 e 487. 
 A decisão do juiz que aplica o art. 643 do CPC não é uma sentença, não sendo recorrível por 
apelação. 
Essa decisão não põe fim à fase cognitiva ou à execução (não atende ao critério temporal do 
conceito de sentença). 
Além disso, existe previsão expressa de que cabe agravo de instrumento. Confira o que diz o art. 
1.015, parágrafo único, do CPC/2015: 
Art. 1.015 (...) 
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias 
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de 
execução e no processo de inventário. 
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Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
14 
 
Ao interpretar esse art. 1.015, parágrafo único, o STJ já decidiu que todas as decisões 
interlocutórias proferidas na ação de inventário são imediatamente recorríveis por agravo de 
instrumento, independentemente de seu conteúdo: 
Cabe agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias proferidas na liquidação e 
no cumprimento de sentença, no processo executivo e na ação de inventário. 
STJ. Corte Especial. REsp 1803925-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/08/2019 (Info 
653). 
 Em verdade, percebe-se que a habilitação de crédito é um incidente processual, que tramitará 
apensado ou vinculado ao inventário, sem características de ação autônoma. 
Diante desse cenário, é correto fixar a tese de que, na vigência da nova legislação processual, o 
pronunciamento judicial que versa sobre a habilitação do crédito no inventário é uma decisão 
interlocutória e, desse modo, é impugnável por agravo de instrumento com base no art. 1.015, 
parágrafo único, do CPC/2015. 
 Em suma: 
Na vigência da nova legislação processual, o pronunciamento judicial que versa sobre a 
habilitação do crédito no inventário é uma decisão interlocutória a que se impugna por meio 
de agravo de instrumento com base no art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.963.966-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/05/2022 (Info 744). 
 
 
PGBL é exemplo de plano de previdência complementar privada aberta e, portanto, entra na 
comunhão; o PGBL não se enquadra na regra do art. 1.659, VII, do CC 
 
Resumo 
O valor existente em plano de previdência complementar privada aberta na modalidade PGBL, 
antes de sua conversão em renda e pensionamento ao titular, possui natureza de aplicação e 
investimento, devendo ser objeto de partilha por ocasião da dissolução do vínculo conjugal ou 
da sucessão por não estar abrangido pela regra do art. 1.659, VII, do CC/2002. 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: (...) VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras 
rendas semelhantes. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1726577-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/09/2021 (Info 709). 
 
Comentários 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Rodolfo e Andrea eram casados sob o regime da comunhão parcial de bens e não tinham filhos. 
 
Como funciona o regime da comunhão parcial? 
O regime da comunhão parcial é tratado pelos arts. 1.658 a 1.666 do CC. 
Nessa espécie de regime, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do 
casamento, com exceção dos casos previstos no Código Civil. 
 
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Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
15 
 
Dito de outro modo, os bens adquiridos durante a união passam a ser de ambos os cônjuges, 
salvo em algumas situações que o Código Civil determina a incomunicabilidade. Veja o que diz a 
Lei: 
 
Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao 
casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes. 
 
O art. 1.660 lista bens que, se adquiridos durante o casamento, pertencem ao casal: 
Art. 1.660. Entram na comunhão: 
I — os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome 
de um dos cônjuges; 
II — os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa 
anterior; 
III — os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; 
IV — as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; 
V — os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância 
do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. 
 
O art. 1.659, por sua vez, elenca aquilo que é excluído da comunhão: 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
I — os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do 
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; 
II — os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
rogação dos bens particulares; 
III — as obrigações anteriores ao casamento; 
IV — as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; 
V — os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; 
VI — os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; 
VII — as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. 
 
Comoriência 
Rodolfo e Andrea faleceram em um acidente aéreo. 
Houve, então, aquilo que a doutrina denomina de comoriência, ou seja, a morte de duas ou mais 
pessoas, na mesma ocasião, sendo elas herdeiras entre si. 
A comoriência é prevista no art. 8º do Código Civil: 
Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se 
algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. 
 
Qual é a consequência jurídica da comoriência? 
Os mortos, mesmo sendo herdeiros entre si, não herdarão a herança um do outro. 
Como se presume que todos morreram no mesmo instante, vão ser abertas sucessões causa 
mortis autônomas e distintas, ou seja, sem considerar o outro falecido como herdeiro. Assim, 
repito: os comorientes não herdam entre si. Não haverá transmissão de bens entre os 
comorientes. 
Vamos entender melhor com o exemplo acima: 
Se ficasse provado que Rodolfo morreu 1 minuto antes de Andrea, os bens do homem seriam 
todos herdados por Andrea e, no minuto seguinte, quando ela faleceu, os bens que herdoude 
Rodolfo e os bens que já tinha passariam aos pais de Andrea (seus herdeiros). 
No entanto, como houve comoriência, presume-se que as mortes ocorreram exatamente no 
mesmo instante e, em razão disso, abre-se a sucessão de Rodolfo como se Andrea não existisse. 
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16 
 
Da mesma forma, abre-se a sucessão de Andrea como se Rodolfo não existisse. Um não herdará 
os bens do outro. 
Logo, em nosso exemplo acima: 
- os pais de Rodolfo irão herdar todos os bens deixados por ele. 
- os pais de Andrea herdarão todos os bens deixados por ela. 
 
Voltando à situação hipotética: 
Rodolfo, em vida, fez um PGBL que está atualmente em R$ 100 mil. 
Ficou a dúvida se esse valor do PGBL também pertenceu à Andrea. Explicando melhor: existem 
determinados bens de um dos cônjuges que se comunicam com o patrimônio do outro cônjuge. 
Assim, existem bens que são titularizados por um cônjuge, mas também pertencem ao outro. 
Se considerarmos que essa PGBL pertencia, em vida, tanto a Rodolfo como a Andrea, isso 
significa que os pais de Rodolfo herdarão metade (R$ 50 mil) e os pais de Andrea herdarão a 
outra metade (R$ 50 mil). 
Por outro lado, se considerarmos que isso não se comunica, os pais de Rodolfo herdarão tudo. 
Logo, é fundamental analisar se o valor compunha, ou não, a meação de Andrea por ocasião da 
dissolução do vínculo conjugal em razão do evento morte. 
 
Argumento dos pais de Rodolfo 
Os pais de Rodolfo alegaram que o PGBL teria natureza semelhante à previdência complementar 
privada e, portanto, não deveria ser colacionado porque se enquadraria como verba 
incomunicável entre os cônjuges, nos termos do art. 1.659, VII, do CC/2002: 
Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, 
na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes. 
 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
(...) 
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. 
 
Essa argumentação foi acolhida pelo STJ? 
NÃO. 
O valor existente em plano de previdência complementar privada aberta na modalidade PGBL, 
antes de sua conversão em renda e pensionamento ao titular, possui natureza de aplicação e 
investimento, devendo ser objeto de partilha por ocasião da dissolução do vínculo conjugal 
ou da sucessão por não estar abrangido pela regra do art. 1.659, VII, do CC/2002. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.726.577-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/09/2021 (Info 709). 
 
PGBL 
PGBL é uma modalidade de plano de previdência complementar privada. 
No PGBL, o participante realiza depósitos periódicos, os quais são aplicados e transformam-se 
em uma reserva financeira, que poderá ser por ele antecipadamente resgatada ou recebida em 
data definida, seja em uma única parcela, seja por meio de depósitos mensais. 
Desse modo, é possível que em uma data futura (ex.: 20 anos depois), o participante do PGBL 
resgate, de uma só vez, todo o valor investido, acrescido dos rendimentos obtidos. 
 
PGBL é plano de previdência complementar privada aberta 
Neste julgado, o STJ considerou que o PGBL é um plano de previdência complementar privada 
aberta. 
A previdência privada aberta, que é operada por seguradoras autorizadas pela SUSEP - 
Superintendência de Seguros Privados, pode ser objeto de contratação por qualquer pessoa 
física ou jurídica, tratando-se de regime de capitalização no qual cabe ao investidor, com 
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
17 
 
amplíssima liberdade e flexibilidade, deliberar sobre os valores de contribuição, depósitos 
adicionais, resgates antecipados ou parceladamente até o fim da vida. 
 
Plano de previdência complementar privada ABERTA é comunicável 
Os planos de previdência privada aberta, de que são exemplos o VGBL e o PGBL, não apresentam 
os mesmos entraves de natureza financeira e atuarial que são verificados nos planos de 
previdência fechada. 
Na previdência privada aberta, há ampla flexibilidade do investidor, que poderá escolher 
livremente como e quando receber, aumentar ou reduzir contribuições, realizar aportes 
adicionais, resgates antecipados ou parcelados a partir da data que porventura indicar. 
Logo, o valor existente em plano de previdência complementar privada aberta na modalidade 
PGBL, antes de sua conversão em renda e pensionamento ao titular, possui natureza de 
aplicação e investimento, devendo ser objeto de partilha por ocasião da dissolução do vínculo 
conjugal ou da sucessão. 
Assim, o valor existente na previdência complementar privada aberta de titularidade de Rodolfo 
compunha a meação de sua então esposa Andrea, igualmente falecida. Por essa razão, essa 
verba deve ser trazida à colação a fim de que possa ser partilhada com os herdeiros de Andrea. 
 
Situação diferente no caso de previdência complementar FECHADA 
Segundo já decidiu o STJ: 
O benefício de previdência privada fechada é excluído da partilha em dissolução de união estável 
regida pela comunhão parcial de bens. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.477.937-MG, Rel. Min. Ricardo Villas BôasCueva, julgado em 27/4/2017 
(Info 606). 
 
O benefício de previdência privada fechada amolda-se como sendo uma das exceções previstas 
no art. 1.659, VII, do CC: 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
(...) 
VII — as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. 
 
A previdência complementar fechada possui natureza análoga aos institutos das pensões, 
meios-soldos, montepios, incluindo-se, por isso, na expressão “outras rendas” prevista no art. 
1.659, VII, do CC/2002. 
Desse modo, trata-se de verba excluída da comunhão. 
 
Trechos da ementa 
Dada a relevância do julgado, entendo importante a leitura de trechos da ementa oficial: 
(...) 3- Os planos de previdência privada aberta, operados por seguradoras autorizadas pela 
SUSEP, podem ser objeto de contratação por qualquer pessoa física e jurídica, tratando-se de 
regime de capitalização no qual cabe ao investidor, com amplíssima liberdade e flexibilidade, 
deliberar sobre os valores de contribuição, depósitos adicionais, resgates antecipados ou 
parceladamente até o fim da vida, razão pela qual a sua natureza jurídica ora se assemelha a um 
seguro previdenciário adicional, ora se assemelha a um investimento ou aplicação financeira. 
4- Considerando que os planos de previdência privada aberta, de que são exemplos o VGBL e o 
PGBL, não apresentam os mesmos entraves de natureza financeira e atuarial que são verificados 
nos planos de previdência fechada, a eles não se aplicam os óbices à partilha por ocasião da 
dissolução do vínculo conjugal ou da sucessão, apontados em precedente da 3ª Turma desta 
Corte (REsp 1.477.937/MG). 
5- Embora, de acordo com a SUSEP, o PGBL seja um plano de previdência complementar aberta 
com cobertura por sobrevivência e o VGBL seja um plano de seguro de pessoa com cobertura 
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
18 
 
por sobrevivência, a natureza securitária e previdenciária complementar desses contratos é 
marcante no momento em que o investidor passa a receber, a partir de determinada data futura 
e em prestações periódicas, os valores que acumulou ao longo da vida, como forma de 
complementação do valor recebido da previdência pública e com o propósito de manter um 
determinado padrão de vida. 
6- Todavia, no período que antecede a percepção dos valores, ou seja, durante as contribuições 
e formação do patrimônio, com múltiplas possibilidades de depósitos, de aportes diferenciados 
e de retiradas, inclusive antecipadas, a natureza preponderante do contrato de previdência 
complementar aberta é de investimento, razão pela qual o valor existente em plano de 
previdência complementar aberta, antes de sua conversão em renda e pensionamento ao 
titular, possui natureza de aplicação e investimento, devendo ser objeto de partilhapor ocasião 
da dissolução do vínculo conjugal ou da sucessão por não estar abrangido pela regra do art. 
1.659, VII, do CC/2002. 
7- Na hipótese, tendo havido a comoriência entre o autor da herança, sua cônjuge e os 
descendentes, não havendo que se falar, pois, em sucessão entre eles, devem ser chamados à 
sucessão os seus respectivos herdeiros ascendentes, razão pela qual, sendo induvidosa a 
conclusão de que o valor existente em previdência complementar privada aberta de titularidade 
do autor da herança compunha a meação da cônjuge igualmente falecida, a colação do 
respectivo valor ao inventário é indispensável. 
8- Recurso especial conhecido e desprovido. 
(REsp 1726577/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/09/2021, 
DJe 01/10/2021) 
 
É válida a revogação de adoção regida pelo CC/1916, realizada antes da entrada em vigor do 
ECA; logo, neste caso, o ex-filho não é parte legítima para o inventário 
 
Resumo 
Para fins de determinação da legitimidade ativa em ação de inventário, a adoção realizada na 
vigência do CC/1916 é suscetível de revogação consensual pelas partes após a entrada em vigor 
do Código de Menores (Lei nº 6.697/79), mas antes da entrada em vigor do Estatuto da Criança 
e do Adolescente (Lei nº 8.069/90). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1930825-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/08/2021 (Info 706). 
 
Comentários 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 16/06/1964, Jerônimo adotou João que, na época, tinha 2 anos de idade. 
Em 18/01/1990, quando João tinha 28 anos, foi lavrada uma escritura pública de revogação da 
adoção. 
Em 2012, Jerônimo faleceu. 
João ingressou com ação de inventário dos bens deixados pelo falecido. 
Rodrigo e Helena, filhos biológicos de Jerônimo, questionaram a legitimidade do autor 
afirmando que houve a revogação da adoção, de maneira que João não poderia mais ser 
considerado filho do falecido. 
O juiz acolheu o argumento e extinguiu o processo sem resolução de mérito por ilegitimidade 
ativa de João, tendo em vista que, diante da revogação de sua adoção, não mais ostentaria a 
qualidade de herdeiro do falecido e, assim, não seria legitimado a ajuizar a ação de inventário 
de seus bens. 
João recorreu sustentando que o reconhecimento espontâneo de filhos no registro público é, 
em regra, irrevogável e irretratável, somente podendo ser anulado se eivado de vício de 
consentimento, tais como erro, dolo, coação, simulação ou fraude. No caso concreto, não houve 
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demonstração de vício de consentimento. Logo, ele, como filho adotivo, seria parte legítima e 
apta a propor ação de inventário dos bens deixados pelo seu genitor adotivo. 
 
A questão chegou até o STJ. A sentença do magistrado foi mantida? Essa revogação da adoção 
foi válida? A adoção poderia ter sido revogada? 
SIM. 
 
É fundamental aqui examinar a questão segundo o ordenamento jurídico vigente no momento 
dos fatos. Quais as regras que vigoravam na época? 
No caso concreto, a adoção ocorreu em junho de 1964, quando vigoravam no Brasil as regras 
do CC/1916 com as alterações introduzidas pela Lei nº 3.133/1957. 
A revogação da adoção, realizada de forma bilateral e consensual, ocorreu em janeiro de 1990 
e, nesta época, vigoravam no Brasil o CC/1916 e o Código de Menores (Lei nº 6.697/79). 
No momento da revogação da adoção, ainda não havia sido publicado o Estatuto da Criança e 
do Adolescente – ECA (Lei nº 8.069/90), que somente entrou em vigor em outubro de 1990. 
Logo, o ECA não se aplica para o caso concreto. 
 
A adoção, na época, era revogável? 
Na vigência do CC/1916, a adoção possuía natureza de ato jurídico negocial, tratando-se de 
convenção celebrada entre os pais biológicos e os pais adotivos por meio da qual determinada 
pessoa passaria a pertencer a núcleo familiar distinto do natural. 
De acordo com o CC/1916, era admitida a revogação da adoção nas seguintes hipóteses: 
a) unilateralmente, pelo adotado, em até um ano após a cessação da menoridade; 
b) unilateralmente, pelos adotantes, quando o adotado cometesse ato de ingratidão contra eles; 
c) bilateralmente, por consenso entre as partes. 
 
Conquanto o CC/1916 permitisse, em seu art. 374, I, a revogação bilateral e consensual da 
adoção, o Código de Menores tornou irrevogável a adoção plena (art. 37 da Lei nº 6.679/79), 
que veio a substituir a legitimidade adotiva anteriormente prevista no art. 7º da Lei nº 4.655/65. 
Dado que a adoção plena, irrevogável, possuía uma série de pressupostos específicos, não se pode 
afirmar que a adoção concretizada na vigência do CC/1916 tenha automaticamente se 
transformado em uma adoção plena após a entrada em vigor do Código de Menores, razão pela 
qual a regra do art. 37 da Lei nº 6.679/79, embora represente uma tendência legislativa, cultural 
e social no sentido da vinculação definitiva decorrente da adoção que veio a se concretizar 
amplamente com a entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente, não se aplica à 
adoção realizada em junho de 1964 e revogada em janeiro de 1990, bilateral e consensualmente 
pelos pais adotivos e pelo filho que, naquele momento, possuía 28 anos. 
Em outras palavras, o Código de Menores tornou irrevogável a adoção plena. Ocorre que, no 
caso concreto, a adoção de José feita por Jerônimo não pode ser classificada como adoção plena, 
de modo que não se aplica a ela essa irrevogabilidade do Código de Menores. 
Isso significa, na prática, que a adoção de José ainda era regida pelas regras de revogabilidade 
previstas no Código Civil de 1916. 
 
Essa revogação da adoção, ocorrida em janeiro de 1990, contrariou a CF/88? 
NÃO. A revogação da adoção regida pelo CC/1916, realizada em janeiro de 1990, de forma 
bilateral e consensual, é compatível com o art. 227, §6º, da Constituição Federal de 1988, uma 
vez que a irrevogabilidade de qualquer espécie de adoção somente veio a ser introduzida no 
ordenamento jurídico com o art. 39, §1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, regra que, 
ademais, tem sido flexibilizada, excepcionalmente, quando não atendidos os melhores 
interesses da criança e do adolescente. 
 
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20 
 
Em suma: 
Para fins de determinação da legitimidade ativa em ação de inventário, a adoção realizada na 
vigência do CC/1916 é suscetível de revogação consensual pelas partes após a entrada em 
vigor do Código de Menores (Lei nº 6.697/79), mas antes da entrada em vigor do Estatuto da 
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.930.825-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/08/2021 (Info 706). 
 
A contratação de advogado por representante de incapaz, para atuar em inventário, configura 
ato de simples administração e, por isso mesmo, não depende de autorização judicial 
 
Resumo 
O fato de ter sido concedida a gestão da herança a terceiro não implica restrição do exercício do 
poder familiar do genitor sobrevivente para promover a contratação de advogado, em nome 
dos herdeiros menores, a fim de representar os interesses deles no inventário. 
Exemplo hipotético: Carlos faleceu e deixou como herdeiros Andrea (viúva), Lucas e Gabriela 
(filhos menores). Carlos deixou um testamento no qual nomeou sua irmã (Elisângela) como 
testamenteira. O juiz nomeou Elisângela como inventariante dos bens deixados por Carlos, 
cabendo a ela a administração do patrimônio deixado para os filhos pelo de cujus. A mãe dos 
menores contratou advogados para defender os interesses de seus filhos menores no inventário 
e pactuou honorários de 3% sobre o valor real dos bens móveis e imóveis inventariados. Os 
advogados do escritório ajuizaram execução cobrando os honorários. Elisângela, na qualidade 
de tia dos menores executados, testamenteira e única administradora, ofereceu exceção de pré-
executividade em favor dos devedores Lucas e Gabriela, filhos do de cujus, alegandoque o 
contrato de serviços advocatícios onerou o patrimônio deles sem que houvesse sua expressa 
autorização, tendo o negócio sido firmado por pessoa (Andrea) que não possuía ingerência 
sobre tais bens, dando-os em garantia de pagamento da obrigação. O STJ não concordou com a 
alegação de nulidade do contrato. A contratação de advogado por representante de incapaz, 
para atuar em inventário, como ocorreu no presente caso, configura ato de simples 
administração e, por isso mesmo, não depende de autorização judicial. 
Por se tratar de ato de simples administração, independe de prévia autorização judicial a 
contratação de advogado para patrocinar a ação de inventário de bens do falecido, realizada 
pela genitora dos menores que herdarão o patrimônio deixado pelo de cujus. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1566852-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, 
julgado em 17/08/2021 (Info 705). 
 
Comentários 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Carlos faleceu e deixou como herdeiros: 
· Andrea (viúva) 
· Lucas e Gabriela (filhos menores de 18 anos) 
 
Carlos deixou um testamento no qual nomeou sua irmã (Elisângela) como testamenteira, nos 
termos do art. 1.976 do Código Civil: 
Art. 1.976. O testador pode nomear um ou mais testamenteiros, conjuntos ou separados, para 
lhe darem cumprimento às disposições de última vontade. 
 
O juiz nomeou Elisângela como inventariante dos bens deixados por Carlos, cabendo a ela a 
administração do patrimônio deixado para os filhos pelo de cujus. 
A mãe dos menores contratou advogados para defender os interesses de seus filhos menores 
no inventário e pactuou honorários de 3% sobre o valor real dos bens móveis e imóveis 
inventariados. 
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Os advogados do escritório ajuizaram execução cobrando os honorários. 
Elisângela, na qualidade de tia dos menores executados, testamenteira e única administradora, 
ofereceu exceção de pré-executividade em favor dos devedores Lucas e Gabriela, filhos do de 
cujus, alegando que o contrato de serviços advocatícios onerou o patrimônio deles sem que 
houvesse sua expressa autorização, tendo o negócio sido firmado por pessoa (Andrea) que não 
possuía ingerência sobre tais bens, dando-os em garantia de pagamento da obrigação. 
A excipiente argumentou que a mãe dos infantes herdeiros não poderia ter disposto dos bens 
herdados pelos filhos assinando um contrato sem autorização judicial e anuência do Ministério 
Público. 
 
A discussão jurídica é, portanto, a seguinte: esse contrato foi, em tese, com a representação 
da genitora? A mãe dos menores, no caso concreto, poderia ter representado seus filhos na 
assinatura desse contrato mesmo não tendo a gestão dos bens da herança? 
SIM. 
O fato de ter sido concedida a gestão da herança a terceiro não implica restrição do exercício 
do poder familiar do genitor sobrevivente para promover a contratação de advogado, em 
nome dos herdeiros menores, a fim de representar os interesses deles no inventário. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.566.852-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, 
julgado em 17/08/2021 (Info 705). 
 
O art. 1.691 do CC/2002 prevê que: 
Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, 
em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo por 
necessidade ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz. 
 
Vale ressaltar, contudo, que a contratação de advogado por representante de incapaz, para 
atuar em inventário, como ocorreu no presente caso, configura ato de simples administração e, 
por isso mesmo, não depende de autorização judicial. Nesse sentido: 
Por se tratar de ato de simples administração, independe de prévia autorização judicial a 
contratação de advogado para patrocinar a ação de inventário de bens do falecido, realizada 
pela inventariante que também é a genitora do menor que herdará com exclusividade o 
patrimônio deixado pelo falecido. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1694350/ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018. 
 
Assim, embora se reconheça mais prudente, sem dúvida, a prévia obtenção de autorização 
judicial, tem-se que a atuação da genitora, ao constituir advogados para defesa dos interesses 
patrimoniais de seus filhos, configura exercício do poder familiar, compatível com o conceito de 
ato de simples administração, que pode prescindir da autorização judicial. 
Com efeito, estando aberta a sucessão do genitor dos menores, herdeiros legítimos e 
testamentários do morto, não poderiam os sucessores deixar de comparecer nos autos 
respectivos. E, para fazê-lo, necessitavam da constituição de patronos judiciais. A constituição 
válida de advogado para os filhos passava, necessariamente, pela pessoa da única legítima 
representante dos menores, sua genitora. 
Ademais, não se tem nos autos informação sobre a existência de conflito de interesses entre os 
filhos menores e a mãe, de modo que é devido presumir-se tenha a genitora exercido o poder 
familiar no proveito, interesse e proteção de sua prole. 
Deve-se se considerar, inclusive, a provável hipótese de a genitora dos menores herdeiros e a 
inventariante, testamenteira e administradora dos bens deixados pelo pai dos menores, não se 
acreditarem mutuamente, nem se relacionarem bem a ponto de nutrirem confiança recíproca. 
Em tal contexto, de sentimento antagônico, de mútua desconfiança e insegurança, entre a 
genitora e a administradora dos bens, havia suficiente motivação a justificar a contratação, pela 
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mãe em favor dos filhos, de advogados que pudessem acompanhar a adequada condução do 
inventário e a correta administração do espólio dos bens deixados por morte do genitor dos 
menores, verificando a existência de eventual conflito com os interesses dos herdeiros. 
Com isso, afasta-se a nulidade do contrato de prestação de serviços advocatícios, em razão de 
vício formal, quer decorrente de ausência de legitimidade da mãe para representar os filhos 
menores na contratação, quer em razão de falta de prévia autorização judicial ou mesmo de 
outra formalidade inerente ao ato. 
 
Aplica-se a tese fixada no Tema 809/STF ao inventário em que ainda não foi proferida a 
sentença de partilha, ainda que tenha havido, no curso do processo, a prolação de decisão 
que, aplicando o art. 1.790 do CC, excluiu herdeiro da sucessão 
 
Resumo 
A tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento do tema n. 809/STF, 
segundo a qual "é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e 
companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de 
casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002", deve ser aplicada 
ao inventário em que a exclusão da concorrência entre herdeiros ocorreu em decisão anterior à 
tese. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1904374/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/04/2021 (Info 692). 
 
Comentários 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João faleceu e deixou como herdeiros Regina (com quem vivia em união estável) e três filhos. 
Em 2016, iniciou-se o inventário. 
Vale ressaltar que, na época, os direitos sucessórios da companheira (união estável) eram 
regidos pelo art. 1.790 do Código Civil: 
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens 
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: 
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for 
atribuída ao filho; 
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber 
a cada um daqueles; 
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; 
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidadeda herança. 
 
O juiz proferiu decisão na qual, aplicando expressamente o art. 1.790 do Código Civil, afirmou 
que Regina teria direito apenas aos bens adquiridos onerosamente durante a união estável com 
o falecido, a serem identificados pelo inventariante e pelos demais herdeiros. 
 
Ocorre que, alguns dias depois disso, houve um novo fato que mudou tudo: a decisão do STF no 
Tema 809 (RE 646721/RS). 
 
Tema 809/STF 
O STF, ao julgar o RE 646721/RS e o RE 878694/MG, ambos com repercussão geral reconhecida, 
fixou a tese de que: 
É inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, 
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do Código Civil. 
STF. Plenário RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 
878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (Repercussão Geral – Tema 809) 
(Info 864). 
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O STF disse: o art. 1.790 do CC é inconstitucional porque viola o princípio da igualdade, a 
dignidade da pessoa humana, o princípio da proporcionalidade (na modalidade de proibição à 
proteção deficiente) e o princípio da vedação ao retrocesso. 
Já que o art. 1.790 é inconstitucional, o que se deve fazer no caso de sucessão de companheiro? 
Quais as regras que deverão ser aplicadas caso um dos consortes da união estável morra? 
O STF entendeu que a união estável deve receber o mesmo tratamento conferido ao casamento. 
Logo, em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas 
regras da sucessão causa mortis do cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do 
CC: 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o 
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, 
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado 
bens particulares; 
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; 
III - ao cônjuge sobrevivente; 
IV - aos colaterais. 
 
Logo, no caso concreto que estamos analisando: 
· a situação antes era enquadrada no art. 1.790 do CC: a companheira não tinha nenhum direito 
sobre os imóveis adquiridos antes da união estável. 
· com a decisão do STF, a situação passa a se enquadrar no art. 1.829: a companheira (por ser 
equiparada a cônjuge) passa a ter também direitos sobre os imóveis adquiridos antes da união 
estável. Isso porque a companheira concorre com os descendentes em relação aos bens 
particulares deixados pelo falecido, nos termos do inciso I do art. 1.829 do Código Civil. 
 
Voltando ao caso concreto: 
O juiz, que sempre acompanhava os Informativos do STF, aplicou imediatamente o 
entendimento fixado no RE 646721/RS, consignando que Regina também passaria a concorrer 
com os demais herdeiros em relação aos bens que o falecido já tinha antes do início da união 
estável. 
Os demais herdeiros recorreram alegando que a decisão que, aplicando o art. 1.790 do CC, 
excluiu Regina dos bens anteriores estaria acobertada pelo manto da imutabilidade decorrente 
da preclusão e da coisa julgada formal, motivo pelo qual não poderia ser alcançada pela 
superveniente declaração de inconstitucionalidade da regra legal pelo STF. 
 
O STJ deu provimento ao recurso dos demais herdeiros? 
NÃO. 
Considerando que a lei incompatível com o texto constitucional padece do vício de nulidade, a 
declaração de sua inconstitucionalidade, de regra, produz efeito ex tunc, ressalvadas as 
hipóteses em que, no julgamento pelo STF, houver a modulação temporal dos efeitos, que é 
excepcional. 
Ao declarar a inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002 (Tema 809), o STF modulou 
temporalmente a aplicação da tese para apenas “os processos judiciais em que ainda não tenha 
havido trânsito em julgado da sentença de partilha”, de modo a tutelar a confiança e a conferir 
previsibilidade às relações finalizadas sob as regras antigas (ou seja, às ações de inventário 
concluídas nas quais foi aplicado o art. 1.790 do CC/2002). 
Dessa forma, aplica-se a tese fixada no Tema 809/STF às ações de inventário em que ainda não 
foi proferida a sentença de partilha, ainda que tenha havido, no curso do processo, a prolação 
de decisão que, aplicando o art. 1.790 do CC/2002, excluiu herdeiro da sucessão e que a ela 
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24 
 
deverá retornar após a declaração de inconstitucionalidade e a consequente aplicação do art. 
1.829 do CC/2002. Isso porque, desde a reforma promovida pela Lei nº 11.232/2005, a 
declaração superveniente de inconstitucionalidade de lei pelo Supremo Tribunal Federal torna 
inexigível o título que nela se funda, tratando-se de matéria suscetível de arguição em 
impugnação ao cumprimento de sentença - ou seja, após o trânsito em julgado da sentença (art. 
475, II e §1º, do CPC/1973) -, motivo pelo qual, com muito mais razão, deverá o juiz deixar de 
aplicar a lei inconstitucional antes da sentença de partilha, marco temporal eleito pelo Supremo 
Tribunal Federal para modular os efeitos da tese fixada no julgamento do tema n. 809/STF. 
 
Em suma: 
A tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento do tema n. 809/STF, 
segundo a qual “é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e 
companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses 
de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002”, deve ser 
aplicada ao inventário em que a exclusão da concorrência entre herdeiros ocorreu em decisão 
anterior à tese. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.904.374/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/04/2021 (Info 692). 
 
Declarada a inexistência jurídica da sentença na própria ação de inventário, deve ser aplicada 
a tese firmada pelo STF no julgamento do Tema 809, por meio da qual foi declarada a 
inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/2002 
 
Resumo 
É imperiosa a aplicação da tese firmada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do Tema 
809/STF, que impõe a igualdade de tratamento no regime sucessório entre cônjuges e 
companheiros, em processo cuja inexistência jurídica da sentença de partilha, ante a ausência 
de citação de litisconsorte necessário, impede a formação da coisa julgada material. STJ. 3ª 
Turma. REsp 1857852/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/03/2021 (Info 689). 
 
Comentários 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João faleceu sem deixar filhos e cônjuge. Deixou, contudo, três irmãos: Pedro, Paulo e Tiago. 
Pedro ajuizou ação de inventário e partilha dos bens deixados por João. 
Na ação, Pedro indicou como únicos herdeiros ele mesmo, Paulo e Tiago, pedindo a citação dos 
dois. 
Pedro, Paulo e Tiago fizeram um acordo dividindo a herança. 
O juiz proferiu sentença homologando a partilha e atribuindo aos três os devidos quinhões. 
Não houve recurso contra a sentença, tendo transcorrido o prazo recursal. 
Ocorre que, logo em seguida, antes que o formal de partilha fosse expedido, apareceu uma nova 
personagem que iria mudar a história: Maria. 
Maria peticionou nos autos informando que vivia em união estável com João até a data do óbito 
e, como consequência, pediu a sua habilitação. 
Em razão desse fato, o juízo do inventário suspendeu a expedição do formal de partilha e, após 
regular contraditório e oitiva do Ministério Público, declarou insubsistente a sentença 
homologatória anteriormente proferida, consignando que “deverá o inventário prosseguir com 
a elaboração de nova partilha, com a inclusão de Maria como meeira e herdeira dos bens 
adquiridos onerosamente na constância da união.” 
Desse modo, o processo de inventário voltou a tramitar. 
Vale ressaltar que Pedro, Paulo e Tiago, mesmo chateados com o aparecimento da novaherdeira, ainda tinham a plena convicção de que iriam receber uma parte da herança. Isso 
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porque a sucessão dos companheiros, nessa época, ainda era regida pelo art. 1.790 do Código 
Civil: 
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens 
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: 
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for 
atribuída ao filho; 
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber 
a cada um daqueles; 
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; 
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. 
 
Assim, Pedro, Paulo e Tiago estavam pensando: ora, nos termos do inciso III do art. 1.790, Maria 
terá direito a 1/3 da herança e nós ficaremos com o restante. 
Ocorre que, alguns dias depois disso, houve um novo fato que mudou tudo: a decisão do STF no 
Tema 809 (RE 646721/RS) . 
 
Tema 809/STF 
O STF, ao julgar o RE 646721/RS e o RE 878694/MG, ambos com repercussão geral reconhecida, 
fixou a tese de que: 
É inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, 
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do Código Civil. 
STF. Plenário RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 
878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (Repercussão Geral – Tema 809) 
(Info 864). 
 
O STF disse: o art. 1.790 do CC é inconstitucional porque viola o princípio da igualdade, a 
dignidade da pessoa humana, o princípio da proporcionalidade (na modalidade de proibição à 
proteção deficiente) e o princípio da vedação ao retrocesso. 
Já que o art. 1.790 é inconstitucional, o que se deve fazer no caso de sucessão de companheiro? 
Quais as regras que deverão ser aplicadas caso um dos consortes da união estável morra? 
O STF entendeu que a união estável deve receber o mesmo tratamento conferido ao casamento. 
Logo, em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas 
regras da sucessão causa mortis do cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do 
CC: 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o 
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, 
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado 
bens particulares; 
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; 
III - ao cônjuge sobrevivente; 
IV - aos colaterais. 
 
Logo, no caso concreto que estamos analisando: 
· a situação antes era enquadrada no inciso III do art. 1.790 do CC: a companheira receberia 1/3 
da herança e os irmãos (colaterais) ficariam com 2/3. 
· com a decisão do STF, a situação passa a se enquadrar no inciso IV do art. 1.829: a companheira 
(por ser equiparada a cônjuge) fica com tudo. Os irmãos (colaterais) não terão mais direito a 
nada. 
 
Voltando ao caso concreto: 
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O juiz, que sempre acompanhava os Informativos do STF, aplicou imediatamente o 
entendimento fixado no RE 646721/RS, consignando que “Maria, a companheira supérstite, 
além da meação, sucede também no restante do patrimônio, em razão da ausência de 
descendentes ou ascendentes do de cujus, conforme estabelece o art. 1.829 do Código Civil, em 
seu inciso III”. 
Os colaterais interpuseram agravo de instrumento contra a decisão. 
O Tribunal de Justiça deu provimento ao recurso e afastou a aplicação da tese firmada pelo STF 
no Tema 809 sob o fundamento de que o juízo do inventário não poderia ter declarado a 
insubsistência da sentença homologatória outrora proferida, uma vez que ela estaria acobertada 
pelo manto da coisa julgada material. 
 
Agiu corretamente o TJ? 
O STJ entendeu que não. 
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o STF modulou os efeitos da decisão proferida no 
RE 646721/RS (Tema 809). Na ementa oficial constou o seguinte: 
“3. Com a finalidade de preservar a segurança jurídica, o entendimento ora firmado é 
aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha havido trânsito em julgado da 
sentença de partilha e às partilhas extrajudiciais em que ainda não haja escritura pública.” 
 
Ocorre que o STJ afirmou o seguinte: no caso concreto, “não há sentença de partilha transitada 
em julgado”. Isso porque o juízo do inventário, ao declarar a insubsistência da sentença 
homologatória de acordo de partilha entre os colaterais, nada mais fez do que declarar a 
sua inexistência jurídica em virtude da ausência de citação daquela que, à época, seria 
litisconsorte necessária, a saber, a companheira Maria. 
Não há que se falar em coisa julgada na sentença proferida em processo em que não se formou 
a relação jurídica apta ao seu desenvolvimento. 
 
Para a declaração de inexistência jurídica da sentença em virtude da ausência de citação não 
seria necessário o ajuizamento da querela nullitatis insanabilis? 
NÃO. 
Na forma do art. 525, §1º, I, do CPC/2015, a falta ou a nulidade da citação, desde que tenha 
havido a revelia da parte que deveria figurar no polo, são suscetíveis de reconhecimento em 
impugnação ao cumprimento de sentença (isto é, após a sentença irrecorrida), de modo que, a 
fortiori, esses gravíssimos vícios podem ser igualmente cognoscíveis antes de iniciada essa fase 
procedimental. 
Anote-se, por oportuno, que ainda que se pudesse cogitar da formação de coisa julgada material 
a partir de sentença homologatória de acordo de partilha e consequente possibilidade de 
execução do formal de partilha que, na hipótese, sequer foi expedido, não se pode olvidar que 
a execução seria ineficaz em relação à companheira, que, relembre-se, apenas ingressou na ação 
de inventário após a prolação da sentença homologatória de acordo entre os colaterais. 
A esse respeito, sublinhe-se que há regra específica quanto à ação de inventário e partilha, como 
bem pontua Rodrigo Frantz Becker: 
“De início, é importante observar que o formal e a certidão de partilha serão títulos executivos 
judiciais tão somente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título 
singular ou universal, não alcançando terceiros. Trata-se de limitação subjetiva estabelecida 
pelo código, evidenciando que, assim como toda sentença, a sentença que julga a partilha fará 
coisa julgada apenas entre as partes, ou seja, a eficácia será executiva perante os que forem 
partes na ação de inventário – o inventariante, os herdeiros e sucessores do de cujus.” (BECKER, 
Rodrigo Frantz. Manual do processo de execução dos títulos judiciais e extrajudiciais. Salvador: 
JusPodivm, 2021, p. 205). 
 
E-MAIL – joelida.ferreira@fadipa.br 
Julgados DCVII – Inventário e Partilha 
Profa. Joélida J. Rocha Ferreira 
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Diante desse cenário, inexistindo sentença de partilha com trânsito em julgado, é imperiosa a 
aplicação da tese firmada pelo STF no julgamento do tema 809, de modo a reconhecer a 
companheira Maria como única herdeira dos bens deixados por João, na forma do art. 1.829, III, 
do CC/2002. 
 
Em suma: 
É imperiosa a aplicação da tese firmada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do 
Tema 809/STF, que impõe a igualdade de tratamento no regime sucessório entre cônjuges e 
companheiros, em processo cuja inexistência jurídica da sentença de partilha, ante a ausência 
de citação de litisconsorte necessário, impede a formação da coisa julgada material. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.857.852/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/03/2021 (Info 689). 
 
É cabível, após a decisão homologatória da partilha, a efetivação de penhora

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