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Estud� par� � prov�:
Tópic� � sere� abordad�:
Faç� u� “�” n� assunt� qu� você estudo�.
D� crime� contr� � honr�:
calúni�
difamaçã�
injúri�
D� crime� contr� � patrimôni�:
�rt�
corrente� d� �rt� (contrectati�, amoti�, ablati�, ilati�)
�rt� famélic� o� necessitad�
�rt� simple�
�rt� noturn�
�rt� privilegiad�
�rt� d� energi�
�rt� qualificad�
�rt� d� veícul� automotor
�rt� d� semovente�
�rt� d� su�tância� �pl�iva�
�rt� � apropriaçã� indébit�
�rt� qualificad� mediant� fraud� � estelionat�
�rt� � roub�
roub�
roub� propri� � impropri�
causa� d� aument�
roub� qualificad� pel� resultad� lesã� corpora� grav�
roub� qualificad� pel� resultad� mort� - latrocíni�
�torsã� � mei� �ecutóri�
�torsã� � constrangiment� ilega�
�torsã� � �ercici� arbitrari� da� propria� r�oe�
1
�torsã� mediant� sequestr�
golp� d� fals� sequestr�
usurpaçã�
dan�
dan� qualificad�
le� d� crime� ambientai�
estelionat�
estelionat� � crim� imp�síve�
estelionat� � falsidad� documenta�
estelionat� � jog� d� �ar
fraud� por mei� d� chequ�
chequ� se� provisã� d� �nd�
chequ� falsificad�
fraud� eletrônic�
estelionat� contr� id�� o� vulneráve�
estelionat� sentimenta�
ap�ta� onlin�
receptaçã� dol�� � culp��
1) O QUE SÃO CRIMES CONTRA A HONRA?
A honra é um direito fundamental do cidadão. Por certo, tamanha é a relevância desse bem
jurídico que o legislador se preocupou em separar um capítulo no Código Penal somente
para protegê-la, tipificando condutas que assegurem sua integridade.
Mas afinal, o que é honra? A honra, a saber, é um conjunto de atributos morais, físicos e
intelectuais que fazem da pessoa merecedora de respeito para si e para sua comunidade.
Em princípio, tal honra pode ser classificada em objetiva e subjetiva. Esta, é a autoestima, o
amor-próprio, o conceito que a pessoa tem de si mesmo, aquilo que ela acredita sobre seus
atributos; aquela, é a reputação, a fama, o conceito que a sociedade tem do indivíduo,
aquilo que terceiros acreditam sobre seus atributos.
Algo objetivo: sua imagem perante os demais.
Algo subjetivo: sua imagem sobre si mesmo.
CALÚNIA
art. 138
A calúnia diz respeito à honra objetiva da pessoa, ou seja, aquilo que terceiros pensam a seu
respeito. O crime consiste em imputar (acusar) um fato sobre alguém, fato esse criminoso –
que esteja previsto no Código Penal ou em alguma lei esparsa como crime. Dos 3 crimes
2
contra a honra, a calúnia é a mais grave, uma vez que imputa falsamente à pessoa um crime
que ela não cometeu. Vejamos o que diz a Lei:
“Art. 138 – Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime. Pena –
detenção, de seis meses a dois anos, e multa.“
Só para exemplificar:
Suponhamos que João publique nas redes sociais uma foto de Mateus, alegando que este
entrou na casa de José na madrugada passada e furtou sua bicicleta. Partindo do
pressuposto que João inventou uma mentira criminosa sobre Mateus, já que o art. 155 do
Código Penal traz como crime subtrair coisa alheia, João responderá por crime de calúnia.
Então, a falsidade da imputação (acusação) é elementar para que seja caracterizada a
calúnia, bem como tal fato ser criminoso. Importante ficar atento aqui, pois se João publicar
simplesmente que “Mateus é ladrão”, não configura calúnia, e sim injúria. Sendo assim, a
calúnia se manifesta no momento em que o caluniador ofende publicamente a vítima e a
pena para ele é detenção de 6 meses a 2 anos e multa.
Então, podemos concluir que a calúnia tem como requisitos:
1. acusação de um fato criminoso;
2. ofensa dirigida a determinada pessoa;
3. falsidade da acusação.
3) DIFAMAÇÃO: DEFINIÇÃO E EXEMPLOS
art. 139
A difamação, do mesmo modo que a calúnia, protege a honra objetiva da pessoa, isto é,
aquilo que terceiros pensam a seu respeito. Semelhantemente, também existe a imputação
(acusação) de um fato, mas dessa vez não criminoso, apenas desonroso, que mancha a
imagem do indivíduo na sociedade, mas não o incrimina perante o ordenamento jurídico.
Ademais, diferentemente da calúnia, aqui não importa se o fato é verdadeiro ou falso, e sim
se houve a intenção maldosa por parte do difamador.
“Art. 139 – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:Pena – detenção, de
três meses a um ano, e multa.”
Por exemplo:
Digamos que João espalhe pela vizinhança que Maria vai toda noite para a casa de José
enquanto seu marido está trabalhando. Nesse cenário, o fato em questão é um ato
desonroso, e não criminoso, já que o adultério não é mais crime desde 2005. A ofensa, pois,
fere a honra objetiva (reputação) de Maria perante o bairro, independente dela ser
verdadeira ou falsa, e ainda por cima é clara a intenção maldosa por parte de João. Isso
ofende publicamente a vítima e o difamador pode ficar detento de 3 meses a 1 ano e ainda
pagar multa.
Visto isso, podemos concluir que a difamação tem como requisitos:
1.
2. acusação de um fato que seja desonroso – e não criminoso;
3. ofensa dirigida a determinada pessoa;
4. deve haver a intenção de ofender.
3
4) INJÚRIA: DEFINIÇÃO E EXEMPLOS
art. 140
A injúria, diferentemente da calúnia e da difamação, tutela a honra subjetiva do indivíduo,
que é aquilo que a própria vítima pensa sobre si, ou seja, sobre seus atributos morais, físicos
e intelectuais. Esta é a primeira diferença. A segunda, a saber, é que na injúria não há
imputação de fato algum, e sim de uma característica negativa sobre alguém. Se enquadram
aqui xingamentos ou palavras negativas, que insultam e afetam a autoestima da vítima.
Sendo assim, o Direito Penal protege o amor próprio de cada um também:
“Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.Pena – detenção, de um a
seis meses, ou multa.”
Visto isso, é bem provável que você esteja se perguntando qual a diferença entre dignidade
e decoro. A dignidade, a saber, é a ofensa sobre os atributos morais de alguém. Então,
chamar uma pessoa de “ladrão”, “corrupto” e "mentiroso", por exemplo, é cometer injúria, já
que são características contrárias ao que ela acredita possuir e abala a sua autoestima; já o
decoro, faz menção aos atributos físicos e intelectuais de alguém. Então seria, por exemplo,
chamar um indivíduo de “baleia”, “loira burra” ou “feia”. Tudo isso ofende pessoalmente a
vítima e o injuriador pode ficar de 1 a 6 meses de detenção e ter que pagar multa.
Assim, podemos concluir que a injúria tem como requisitos:
1. imputação de uma característica negativa;
2. ofensa dirigida a determinada pessoa;
3. deve haver a intenção de ofender.
5) DIFERENÇAS ENTRE CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA
Dá vontade mesmo de trocar a ordem para calúnia, injúria e difamação, sai bem mais fluido.
Mas, é proposital. Calúnia e difamação ficam lado a lado porque ambas narram um fato de
maneira acusatória e atingem a honra objetiva do indivíduo (reputação da pessoa perante a
sociedade). A diferença é que, enquanto a calúnia narra um crime, a difamação narra
apenas um ato desonroso. Mas, as duas narram. Por outro lado, a injúria fica separada pois,
ao contrário das demais, atinge a honra subjetiva do indivíduo (sua dignidade pessoal) e
não narra fato algum.
Em outras palavras, atente para os exemplos a seguir:
CALÚNIA: acusar alguém de algo criminoso, ferindo sua reputação perante a sociedade.
Ex.: “Vi João no ônibus, parado atrás de uma mulher e ele estava abusando sexualmente
dela.”
Veja, o sujeito está narrando um fato criminoso sobre João, já que importunação sexual é
crime e gera pena de até 5 anos de prisão.
DIFAMAÇÃO: acusar alguém de algo desonroso (não criminoso), ferindo sua reputação
perante a sociedade. É a famosa “fofoca”.
Ex.: “Vi Joaquim no restaurante com uma mulher que não era sua esposa.”
4
Perceba. O sujeito, aqui, está também narrando um fato, mas dessa vez não criminoso,
apenas desonroso, já que adultério não é mais crime desde 2005.
INJÚRIA: ofender alguém com palavras de baixo calão ferindo seu respeito pessoal. É o
famoso “xingamento”.
Ex.: “Você é agressor”,”você é mentiroso”, “você é estuprador”, “você é adúltero”.
Repare. O sujeito, dessa vez, não está narrando fato algum,apenas ofendendo a honra
pessoal do outro ou reduzindo a uma característica pejorativa.
QUESTÕES SOBRE O CRIME CONTRA A HONRA
Quanto aos crimes contra a honra, correto afirmar que
A) não constitui difamação ou calúnia punível a ofensa irrogada em juízo, na discussão da
causa, pela parte ou por seu procurador.
B) cabível a exceção da verdade na difamação e na injúria.
C) há isenção de pena se o querelado, antes da sentença, se retrata cabalmente da
difamação ou da injúria.
D) a ação penal é pública incondicionada na injúria com preconceito.
E) É possível a propositura de ação penal privada no caso de servidor público ofendido em
razão do exercício de suas funções.
À luz do Código Penal brasileiro, julgue o item. A calúnia ocorre quando alguém imputa
falsamente a outrem fato definido como crime.
Certo ou errado?
Acerca do Direito Penal aplicado à prática odontológica, julgue os itens que se seguem. A
calúnia ocorre quando alguém imputa fato ofensivo à reputação de outrem, ofendendo‐lhe a
dignidade ou o decoro.
Certo ou errado?
Direito Penal - Crimes Contra a Honra - (VUNESP) - 2018
O desembargador responsável pelo caso considerou que houve ofensa ao juiz tanto pela
referência direta como indireta ao magistrado. A pena foi fixada em 10 meses e 10 dias de
detenção, em regime inicial aberto, por:
A.injúria e calúnia.
B.calúnia e difamação.
5
C.difamação e falsidade ideológica.
D.difamação e injúria.
E.falsidade ideológica e calúnia.
Segundo o art. 140, do Código Penal Brasileiro (crime de injúria), é correto afirmar que:
A. o crime de injúria qualificado, previsto no parágrafo 3o do art. 140, do CP, que consiste
na ofensa à honra com a utilização de elementos referentes à raça e à cor, é
inafiançável e imprescritível.
B. O crime de injúria qualificado, previsto no parágrafo 3o do art. 140, do CP, consiste na
ofensa à honra com a utilização de elementos referentes exclusivamente à raça, cor,
etnia e origem.
C. O perdão judicial, previsto no parágrafo 1o do art. 140, do CP, aplicável quando o
ofendido provoca diretamente a injúria, aplica-se ao crime de injúria qualificado,
previsto no parágrafo 3o do art. 140, do CP.
D. no crime de injúria, o objeto jurídico é a honra subjetiva do ofendido, podendo ser
praticado mediante dolo ou culpa.
E. na injúria real, prevista no parágrafo 2o do art. 140, do CP, a violência ou vias de fato
são meios de execução do crime.
Sobre o crimes contra a honra, previstos no Código Penal, tem-se o seguinte:
A. Não constitui calúnia, difamação ou injúria punível a ofensa irrogada em juízo, na
discussão da causa, pela parte ou por seu procurador.
B. O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia, difamação ou
injúria, fica isento de pena.
C. As penas aos crimes de calúnia, difamação ou injúria aumentam-se de um terço, se
qualquer dos crimes é cometido contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
portadora de deficiência.
D. Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se
julga ofendido pode pedir explicações em juízo.
E. Nos crimes de calúnia, difamação ou injúria, admite-se a exceção da verdade.
No que diz respeito aos crimes contra a honra, marque a alternativa INCORRETA.
A. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime, sendo também
punível a calúnia contra os mortos.
B. É crime difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação. Em relação ao
crime de difamação não cabe exceção da verdade.
C. O autor da calúnia pode interpor a exceção da verdade, mas esta não será aceita,
caso em algumas situações, entre elas se, constituindo o fato imputado crime de ação
privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível.
D. É crime injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, mas o legislador
pátrio entendeu que o juiz pode deixar de aplicar a pena, quando o ofendido, de
forma reprovável, provocou diretamente a injúria ou no caso de retorsão imediata,
que consista em outra injúria.
E. Caso o crime contra a honra tenha como vítima um funcionário público, em razão de
suas funções, a pena será aumentada.
O ato de imputar fato ofensivo à reputação de alguém é tipificado como crime de:
A. Difamação.
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B. Injúria racial.
C. Calúnia.
D. Injúria.
Calúnia, difamação e injúria são considerados crimes contra a honra, conforme o Código
Penal brasileiro, em seus artigos 138, 139 e 140, respectivamente, e devem ser considerados
pelo jornalista no seu exercício profissional cotidiano. Sendo assim, em relação a esse
assunto, é correto afirmar que:
A. O fato de um jornalista, pouco antes de entrevistar um deputado federal em um
programa de rádio que vai ao ar dali a poucos instantes, dizer que ouviu alguém dizer
que esse deputado era um ladrão caracteriza uma calúnia.
B. se durante um debate televisivo com candidatos a um cargo eletivo, transmitido ao
vivo para todo o Brasil, o jornalista que faz a mediação afirma que um dos candidatos
é um idiota e um imbecil, essa ação caracteriza uma injúria cometida em rede
nacional.
C. Se uma blogueira publica na Internet a informação falsa de que uma determinada
empresária cometeu estelionato contra um banco da cidade, isso caracteriza uma
difamação.
D. Se em uma mesa redonda sobre futebol, de repente os entrevistados passam a
ofender-se verbalmente, isso caracteriza uma potencial retorsão imediata e, nesse
caso, um juiz poderia decidir não haver nenhum crime contra a honra.
➔ Neste caso (d) trata-se de injúria pelo fato de haverem insultos inerentes à honra
subjetiva dos agentes. Logo, diz o §1ºII: "O juiz poderá deixar de aplicar a pena no caso
de retorsão imediata, que consista em outra injúria".
Tendo em conta os artigos 138 a 145 do Código Penal, que tratam dos crimes contra a honra,
assinale a alternativa correta.
A. Nos crimes de calúnia e difamação, procede-se mediante queixa. Já no crime de
injúria, em qualquer de suas modalidades, procede-se mediante representação do
ofendido.
B. No crime de calúnia, praticado em detrimento de chefe de governo estrangeiro,
admite-se a exceção da verdade.
C. No crime de difamação, praticado em detrimento de funcionário público, admite-se a
exceção da verdade, desde que a ofensa seja relativa ao exercício de suas funções.
D. A retratação da ofensa, que isenta o querelado de pena, desde que feita antes da
sentença, aplica-se aos crimes de calúnia, difamação e injúria.
E. A retratação da ofensa, que isenta o querelado de pena, desde que feita antes da
sentença, aplica-se aos crimes de calúnia, difamação e injúria.
FURTO
art. 155
Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
7
§ 1º – A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º – Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a
pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
pena de multa.
§ 3º – Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.
FURTO QUALIFICADO
§ 4º – A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I – com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II – com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III – com emprego de chave falsa;
IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º – A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor
que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
COMPREENDENDO O FURTO
A subtração é o ato de tomar para si aquilo que não está sob a sua legítima posse ou de que
não seja de sua propriedade. A conduta está prevista em outros tipos penais, a exemplo do
roubo (CP, art. 157). Não se confunde com a apropriação, que se dá quando o agente detém a
posse ou a detenção da coisa de forma legítima, e, sem que lhe seja permitido, inverte a
propriedade da coisa, passando a agir como se dono fosse. A distinção é fundamentalpara
que não se confunda o furto (CP, art. 155) com a apropriação indébita (CP, art. 168), ou o
“peculato-apropriação” (CP, art. 312, “caput”) com o “peculato-furto” (CP, art. 312, § 1º).
Além disso, a coisa deve ser móvel. O Código Civil, em seu artigo 81, prevê: “Art. 81. Não
perdem o caráter de imóveis: I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a
sua unidade, forem removidas para outro local; II - os materiais provisoriamente separados
de um prédio, para nele se reempregarem.”
Para o Direito Penal, no entanto, o conceito de móvel é o natural. Pode ser objeto material do
furto tudo aquilo que é removível de um local para outro, pouco importando se a coisa está
ou não incorporada ao solo. No exemplo do elevador, se o agente subtraí-lo, praticará o
crime de furto. Ademais, aquele que subtrai mudas de plantas incorporadas ao solo também
pratica o crime de furto. Até mesmo construções residenciais podem ser subtraídas, desde
que possam ser desprendidas do solo – em nosso país, é incomum a transferência de
construções, mas sabemos que não é impossível, pois praticada em outros países. Vale frisar
que somente bens corpóreos podem ser furtados. Não há como furtar, por exemplo, os
direitos pessoais de caráter patrimonial (CC, art. 83, III).
O conceito de móvel gera maiores discussões nas questões referentes à subtração de
energia. No § 3º, o art. 155 afirma que “equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
8
qualquer outra que tenha valor econômico”. Em relação à energia elétrica, não se discute:
fazer “gato” é, sim, furto, por expressa previsão legal. As dúvidas pairam, no entanto, sobre as
outras energias que tenham valor econômico.
a) sinal de TV a cabo: pode ser objeto material do crime de furto. “Assim não fosse,
tomando-se por base apenas os fatos relatados na inicial do mandamus impetrado na
origem e no aresto objurgado, não se constata qualquer ilegalidade passível de ser
remediada por este Sodalício, pois o sinal de TV a cabo pode ser equiparado à energia
elétrica para fins de incidência do artigo 155, § 3º, do Código Penal. Doutrina. Precedentes.”
(STJ, RHC 30847/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 20.8.2013). Obs.: apesar de polêmica, a
questão foi exigida em prova recente do CESPE, em um concurso do MP. Na ocasião, a banca
adotou o entendimento trazido no julgado acima, que entende pela tipicidade da conduta.
b) fornecimento de água: a água fornecida por empresa de abastecimento pode ser objeto
material do furto, não como energia, nos termos do § 3º, mas como coisa naturalmente
móvel: “1. Para a aplicação do princípio da insignificância, devem ser preenchidos quatro
requisitos, a saber: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma
periculosidade social da ação; c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
e d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
2. No caso, o modo como o furto foi praticado indica a reprovabilidade do comportamento
do réu, que realizou ligação clandestina em sua residência, fazendo com que o hidrômetro
não registrasse a quantidade de água consumida, em prejuízo da empresa estatal de
abastecimento de água.
3. Ordem denegada.” (STJ, HC 179654/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 29.6.2012).
c) sinal de Internet: o tema é complexo. A subtração de sinal de Internet transmitido por linha
telefônica é, sim, furto. O TJSP, na Ap. 99009218727/9, julgada em 2010, condenou um estudante
de tecnologia que subtraia fraudulentamente sinal de Internet transmitido via rádio. O
TJDFT, por outro lado, entendeu pela atipicidade, ao julgar a Ap. 159018720108070001, em 2011:
“Por analogia, o sinal de internet também não pode ser equiparado a energia, por não ser
capaz de gerar força, nem prejuízo a quem o gera e por não poder ser objeto de
apropriação material. Diferentemente do caso de TV a cabo (Lei Nº.8.977/95), ainda não há
previsão legal que disponha sobre os crimes de receptação de sinal de internet, porém não
pode ser objeto do crime de furto.”
d) sêmen de animais: o tema já está “batido”, mas não custa relembrar: sêmen é considerado
energia para fins penais (energia genética). Portanto, pratica o crime de furto aquele que
subtrai o sêmen de animais que possuem valor econômico. Todavia, sei o que você está
pensando. E o sêmen humano? Como é proibida a sua venda – somente pode ser doado -, o
esperma humano não tem valor econômico, ainda que seja oriundo de homem de muitas
riquezas. Sobre o assunto, transcrevo explicação do professor Luiz Flávio Gomes: “A
Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal Brasileiro, por analogia, considera
furto comum a subtração da energia genética dos reprodutores, levando-se em
consideração que o sêmen é passível de apreensão. Mas, a energia referida pelo Código
Penal em seu artigo 155 § 3º, que tenha valor econômico, não se refere ao material
procriativo do homem. O esperma não pode ser considerado coisa alheia móvel e nem a ela
equiparado. Nem mesmo res derelicta. Trata-se de bem extra commercium.”. Isso não
significa, no entanto, que não responderá por furto aquele que invade um laboratório e
subtrai amostras contendo sêmen humano. Neste caso, haverá o crime de furto por se tratar
9
de coisa alheia móvel, nos termos do “caput” do art. 155, e não em razão da subtração de
energia genética.
e) leite ordenhado: Aqui, entretanto, nem haveria necessidade de ressalva, pois o sêmen do
reprodutor se amolda, perfeitamente, ao conceito de coisa, tal como seria a subtração do
leite ordenhado.”
→ Fique atento! Embora, para o estudioso do Direito, seja fácil a distinção entre roubo (CP,
art. 157) e furto (CP, art. 155), há uma hipótese que pode se tornar verdadeira “pegadinha” em
provas: se o agente hipnotiza ou entorpece (ex.: “Boa Noite Cinderela”) a vítima para, em
seguida, subtrair os seus bens, o crime será o de roubo ou o de furto? Se você respondeu a
furto, cuidado: o roubo pode se dar tanto pela violência própria, quando há o emprego de
força física, quanto pela imprópria, quando o agente reduz a impossibilidade de resistência
da vítima. Portanto, roubo, e não furto. Contudo, se a vítima tiver provocado a debilidade
voluntariamente, por ato próprio, sem influência do agente, e este, aproveitando-se do
momento, subtrair os seus bens, o crime será o de furto.
Por derradeiro, não basta que a ação seja a de subtrair e que a coisa seja móvel. É essencial
que a coisa seja alheia, ou seja, não pode pertencer a quem pratica a subtração, tampouco
estar sob a sua legítima posse. E mais: a coisa deve pertencer a alguém. Por isso, em caso de
res nullius (coisa que nunca teve dono) ou res derelicta (coisa abandonada), quem se
assenhora da coisa não pratica furto. Quanto à res desperdicta (coisa perdida), quem dela
se apropria pratica o crime de apropriação de coisa achada (CP, art. 169, II), exceto: a)
quando a coisa se encontrar em local privado: a coisa só é considerada perdida quando
extraviada em local público ou de uso público. Não se pode falar em coisa perdida quando
ela se encontra em local privado; b) quando o agente provoca dolosamente a perda do bem;
c) quando a coisa foi esquecida, e não perdida. Nestas três hipóteses, ocorrendo o
assenhoramento da coisa, o agente responderá por furto.
Agora, imagine a seguinte situação: Tício presencia um acidente automobilístico, e, ao
perceber que todos os ocupantes do veículo estão mortos, subtrai os objetos pessoais das
vítimas. Nesta hipótese, deverá responder por furto? A resposta, é claro, é positiva. Isso
porque, com a morte, os bens são imediatamente transmitidos aos herdeiros (princípio de
Saisine). Portanto, aqueles bens não são considerados res nullius ou res derelicta, pois
possuem proprietário. Da mesma forma, os bens de valor econômico enterrados com o
falecido (ex.: um relógio) não podem ser considerados coisas abandonadas, e podem, sim,
ser objeto material de furto.
Quanto aos corpos humanos, em regra, eles não podem ser objeto material de furto, e a sua
subtração configura o crime do art. 211 do CP (destruição, subtraçãoou ocultação de
cadáver), exceto quando tiver valor econômico e estiver sob a posse legítima de alguém, a
exemplo de corpos em uma faculdade de medicina ou de múmias em um museu, hipótese em
que a subtração configura o crime de furto. Entretanto, atenção: a remoção ilegal de
tecidos, órgãos ou partes de cadáver configura o crime do art. 14 da Lei 9.434/97.
As coisas de uso comum não podem ser furtadas, a exemplo da água dos oceanos. Caso a
água seja alheia, o seu represamento ou desvio pode configurar o crime do art. 161, § 1º, I, do
CP (usurpação de águas). Quanto à coisa tombada, a sua subtração configura o crime de
furto, e não o de dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico (CP, art. 165).
→ Subtração de veículo a fim de safar-se de perseguição após prática delituosa:
“Entendeu-se inexistir crime de furto (TACrimSP, ACrim 453.887, JTACrimSP, 92:262)” (Damásio).
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O furto é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, exceto na forma
qualificada pelo abuso de confiança (CP, art. 155, § 4º, II), em que o agente deve ser pessoa
em quem a vítima deposita confiança. O proprietário da coisa também não pode ser autor
do crime de furto, ainda que ela esteja sob a posse legítima de terceiro, situação que pode
caracterizar o crime do art. 346 do CP: “Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria,
que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção”. Caso a coisa
subtraída seja de propriedade comum do agente e do terceiro prejudicado, o crime será o
do art. 156 do CP: “Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a
quem legitimamente a detém, a coisa comum”. A lei não exige qualidade especial da vítima.
→ Atenção: o funcionário público que subtrai dinheiro, valor ou bem, público ou particular,
ou concorre para que seja subtraído, valendo-se de facilidade proporcionada pela
qualidade de funcionário, pratica o crime de “peculato-furto”, previsto no art. 312, § 1º, do CP.
O sujeito passivo do furto é o proprietário ou o legítimo possuidor (pessoa física ou jurídica).
O mero detentor da coisa não é vítima do delito. Por isso, caso uma empresa tenha um
automóvel furtado, o seu empregado, que conduzia o automóvel no momento do crime, não
será considerado vítima. Não é necessário que a vítima seja identificada para que o agente
seja responsabilizado pelo furto praticado.
→ Ladrão que rouba ladrão: dois ou mais agentes praticaram um furto, e algum (ou alguns)
deles subtrai a coisa furtada. Neste caso, o sujeito passivo continuará sendo o proprietário
ou o legítimo possuidor da coisa furtada, e não os demais envolvidos no crime.
O elemento subjetivo do furto é o dolo de subtração (“animus furandi”). Contudo, é essencial
que o agente tenha a intenção de apoderar-se definitivamente da coisa (“animus rem sibi
habendi”), e não somente usá-la temporariamente. Imagine o funcionário de um posto de
lavagem de veículos que, aproveitando-se da distração do patrão, subtrai um dos
automóveis, pertencente ao cliente, para dar uma volta pela cidade e, ao final, devolvê-los.
Para a jurisprudência e para a doutrina, nesta situação, o fato será atípico, por se tratar de
“furto de uso”. Pode soar absurdo, mas, por não existir conduta típica prevista para a
hipótese, não há outra opção. Para o seu reconhecimento, o furto de uso exige alguns
requisitos: a) a coisa deve ser infungível (logo, não se fala em furto de uso na subtração de
dinheiro); b) deve existir a prévia intenção, anterior à subtração, de devolução da coisa (o
agente deve, anteriormente à subtração, ter o interesse em restituir); c) a coisa deve ser
espontânea e imediatamente restituída após o uso, em sua integralidade e em local no qual
seja possível seu titular exercer de imediato seu poder de disposição (restituição “in loco et
integro”), ao seu possuidor originário. O STJ, no HC 94125/SP, impõe, ainda, a necessidade de
que a devolução se dê antes que a vítima perceba a subtração, sob pena de afastamento do
furto de uso:
“In casu, há fortes indícios da disposição da paciente de se apropriar dos objetos furtados,
porquanto sua conduta não preenche os requisitos necessários à caracterização do furto
de uso com o consequente reconhecimento da sua atipicidade. Da análise dos documentos
acostados, verifica-se que a falta das jóias pela proprietária se deu em momento anterior ao
da restituição – que ocorreu somente após intervenção policial -, aliada, ainda, ao fato de
que a quantidade de artefatos subtraídos foi grande, isto é, cerca de sessenta peças entre
correntes, brincos e anéis, não evidenciando o ânimo da subtração para simples uso a
ponto de ensejar o trancamento da ação penal em comento.”.
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→ “O furto de uso divide-se em duas modalidades: próprio e impróprio. O furto de uso
próprio consiste em usar a coisa contra a proibição expressa do seu dono, que a tinha
entregado a alguém, ou utilizá-la para fim distinto do assinalado; por sua vez, impróprio é o
furto de uso que comete quem se apodera da coisa sem maior propósito que o de utilizá-la e
devolvê-la.” (Masson).
Quanto à consumação, muito se discute se é necessário que o agente tenha a posse pacífica
da res furtiva, ou seja, a posse não sujeita aos atos de legítima defesa por parte da vítima ou
de terceiro. Embora já tenha sido o entendimento majoritário, hoje, é unânime o
entendimento de que o furto se consuma no momento em que já a inversão da posse da
coisa: “Os Tribunais Superiores firmaram entendimento no sentido de que, para a
consumação do delito de roubo, assim como no de furto, não é necessária a posse mansa e
pacífica do bem subtraído, sendo suficiente a inversão da posse, adotando-se, portanto, a
teoria da apprehensio ou amotio.” (STJ, AgRg no AREsp 404293/SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 27.3.2014). Por ser crime material, é essencial, para a sua consumação,
que se alcance o resultado naturalístico, consistente na efetiva diminuição patrimonial da
vítima.
Por se tratar de crime plurissubsistente, a tentativa é perfeitamente possível quando o
agente, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade dele.
Questão interessante e frequentemente surgida em concursos é a hipótese em que o agente
não consuma o crime em virtude de sistema de vigilância eletrônica. Entenda: imagine que
João, enquanto subtrai bens de uma loja, é monitorado pelas câmeras do estabelecimento, e
a sua conduta é acompanhada pelos seguranças, que o surpreendem assim que a coisa é
subtraída. Pergunto: no exemplo, o crime é impossível, e João não responderá por qualquer
delito, ou a sua conduta ficará na esfera da tentativa, e ele responderá pelo furto? Assim
entende o STJ:
“FURTO TENTADO. SUPERMERCADO. VIGILÂNCIA. CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO OCORRÊNCIA. A
existência de sistema de monitoramento eletrônico ou a observação dos passos do
praticante do furto pelos seguranças da loja não rende ensejo, por si só, ao automático
reconhecimento da existência de crime impossível, porquanto, mesmo assim, há
possibilidade de o delito ocorrer. Precedentes das Turmas.” (HC 230953/SP, Relatora Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 3.4.2014).
Furto noturno: o § 1º do art. 155 prevê que a pena do furto deve ser aumentada em 1/3 (um
terço) se o crime é praticado durante o repouso noturno. A doutrina intitula a hipótese de
furto circunstanciado, hipótese de aumento aplicável somente ao furto simples, do “caput”. A
razão do aumento é simples: durante o repouso, à noite e de madrugada, a movimentação
de pessoas nas ruas é menor e, provavelmente, a vítima não terá qualquer chance de
reação.
Não há um horário específico para o período de repouso noturno. Em regiões rurais, é
comum que as pessoas durmam cedo e acordem antes mesmo do nascer do sol. Em grandes
cidades, por outro lado, os costumes são outros. Por isso, não há uma fórmula exata. Deve o
julgador, caso a caso, analisar a situação. Não é necessário que o local esteja, efetivamente,
sem ninguém, na hipótese de estabelecimento comercial, ou que as vítimasestejam
dormindo, no furto a imóvel residencial, para que se reconheça a causa de aumento.
Também é possível a incidência da causa de aumento em furto praticado contra veículo
estacionado em via pública.
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O STJ, em julgado de 14 de abril deste ano, entendeu que o furto durante o repouso noturno,
por ser de maior reprovabilidade, impede a incidência do princípio da insignificância: “A
circunstância de o crime de furto ter sido perpetrado durante o repouso noturno, como
ocorreu in casu, denota maior reprovabilidade, o que afasta o reconhecimento da
atipicidade material da conduta pela aplicação do princípio da insignificância. Precedentes.”
(AgRg no AREsp 463487/MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior).
→ Não confunda causa de aumento com qualificadora. Nas causas de aumento, pega-se a
pena prevista para o delito e aumenta-se de determinada fração. Um bom exemplo é o furto
noturno, do § 1º do art. 155: a pena do furto simples, de um a quatro anos, é aumentada de
um terço. Nas qualificadoras, a lei traz penas mínima e máxima próprias, distintas da forma
simples. O § 4º do art. 155 é o exemplo perfeito: a pena mínima é de dois anos e a máxima é
de oito anos.
Princípio da insignificância e o furto privilegiado: apague de sua cabeça a ideia de que,
sempre que a res furtiva for de pequeno valor, o princípio da insignificância será aplicado.
Não é porque o agente furtou uma galinha ou um chocolate que deverá, obrigatoriamente,
ser afastada a tipicidade de sua conduta. Há uma série de requisitos para que se reconheça
o crime de bagatela, e um deles diz respeito ao valor do objeto subtraído, tema de extrema
relevância para a distinção do furto privilegiado, do art. 115, § 2º, do CP, da conduta
materialmente atípica, na hipótese de insignificância. No entanto, para a compreensão do
tema, faremos um breve estudo introdutório:
→ Para a teoria tripartida, o crime é composto por três elementos (é melhor falar em
“substratos”): a) fato típico; b) ilicitude; c) culpabilidade. Para que uma conduta seja
considerada crime, devem estar presentes os três elementos, cumulativamente. O primeiro
substrato, o fato típico, é composto por: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. Para o
nosso estudo, só importa a tipicidade, que é dividida em formal e material: a) tipicidade
formal: é a subsunção da conduta praticada pelo agente a um tipo penal. Quem subtrai
coisa alheia móvel pratica conduta formalmente típica, que perfeitamente se amolda ao que
prevê o art. 155 do CP; b) tipicidade material: é a lesão ou o perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado em razão da prática da conduta formalmente típica. No entanto, é preciso que a
conduta do agente seja realmente lesiva ao bem jurídico, caso contrário, se ínfima, a
tipicidade material deverá ser afastada. É exatamente o que ocorre quando aplicado o
princípio da insignificância. Portanto, a incidência do princípio da insignificância é causa de
exclusão da tipicidade material (e do próprio crime, pois faz parte de sua composição).
→ Como estamos estudando o furto, que tem como objeto jurídico tutelado a propriedade e
a posse legítima, é necessário descobrir qual valor deve ter a coisa móvel furtada para que a
subtração seja considerada materialmente típica (o valor sentimental também é relevante).
Ou seja, deve-se estipular a partir de qual quantia a lesão deixa de ser ínfima e passa a ser
de interesse do Direito Penal. Esqueça o salário-mínimo ou valores predeterminados (R$ 50,
R$ 100 etc.). O princípio da insignificância deve ser avaliado caso a caso, com base nos
seguintes critérios:
Critérios objetivos:
a) mínima ofensividade da conduta do agente;
b) nenhuma periculosidade social da ação;
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c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Critérios subjetivos:
a) importância do objeto material para a vítima (situação econômica e valor sentimental do
bem);
b) circunstâncias e resultados do crime.
Tendo-os em mente, façamos a seguinte reflexão: para uma grande cadeia de
supermercados, um quilo de carne não representa nada para o seu patrimônio. Poderia se
falar, então, em incidência do princípio da insignificância. Contudo, para uma família que
vive com um salário-mínimo, um quilo de carne pode representar o sustento da semana,
sendo inviável, nesta hipótese, a aplicação do princípio. Por isso, não se pode falar em um
valor x para a imposição do princípio da insignificância. Não é porque o criminoso subtraiu
uma galinha que a sua conduta deverá ser considerada automaticamente atípica. De
repente, o galináceo representa fração considerável do patrimônio da vítima.
Não se pode, entretanto, confundir valor ínfimo com pequeno valor. Aquele é causa de
exclusão da tipicidade, por força da insignificância, enquanto este é parâmetro para o furto
privilegiado (CP, art. 155, § 2º). A jurisprudência, em reiterados julgados, tem afirmado que
pequeno valor é aquele que não ultrapassa o salário-mínimo vigente na época dos fatos.
Nesse sentido, STJ:
“In casu, o valor do prejuízo suportado pela vítima é superior ao do salário mínimo vigente à
época dos fatos, o que impede o reconhecimento da figura do furto privilegiado.” (HC
217726/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24.04.2014).
“Para a concessão do benefício do privilégio no crime de furto exige-se a primariedade do
agente, bem como seja a res furtiva de pequeno valor, ou seja, a importância do bem não
deve ultrapassar um salário mínimo. Preenchidos os requisitos legais, e considerando as
circunstâncias do crime, de rigor, a aplicação da causa de diminuição de pena.” (HC
232553/DF, Relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 6.5.2014).
Portanto, enquanto, para a incidência do princípio da insignificância, não se fale em valores
predeterminados, para o privilégio, vem sendo adotado o critério objetivo do salário-mínimo.
Pode parecer um contrassenso, mas, diferentemente do que ocorre na insignificância, para o
privilégio, é irrelevante o prejuízo efetivamente causado à vítima. Perceba que o § 2º fala em
pequeno valor da coisa, e não em pequeno prejuízo, como o faz no art. 171, § 1º. Por essa
razão, é possível a adoção de fórmula genérica, objetiva, como o salário-mínimo vigente.
“Não é possível a aplicação do princípio da insignificância ao furto de objeto de pequeno
valor. Não se deve confundir bem de pequeno valor com o de valor insignificante, o qual,
necessariamente, exclui o crime ante a ausência de ofensa ao bem jurídico tutelado, qual
seja, o patrimônio. O bem de pequeno valor pode caracterizar o furto privilegiado previsto
no § 2º do art. 155 do CP, apenado de forma mais branda, compatível com a lesividade da
conduta. Além disso, o STF já decidiu que, mesmo nas hipóteses de restituição do bem
furtado à vítima, não se justifica irrestritamente a aplicação do princípio da insignificância,
mormente se o valor do bem objeto do crime tem expressividade econômica.
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O privilégio também exige a primariedade do agente. Primário é aquele que não é
reincidente. Ou seja, quem não praticou novo crime depois de ter sido definitivamente
condenado, no Brasil ou no exterior, por crime anterior (CP, art. 63). Quanto ao “tecnicamente
primário” - que, em verdade, é primário -, tendo por base o entendimento do Supremo, não
vejo óbice para a concessão do benefício do privilégio:
Em tempo: tecnicamente primário é o sujeito que, embora não se enquadrando no conceito
de reincidência, registra condenação anterior. Não é reincidente, seja porque já se
ultrapassou o período depurador da reincidência (5 anos entre a prática do novo crime e o
cumprimento ou extinção da pena resultante da pena anterior), seja porque o novo crime foi
praticado antes da condenação definitiva oriunda do delito anterior.” (Masson). O registro de
maus antecedentes também não pode impedir a concessão do benefício.
E no furto qualificado, é viável a incidência do privilégio? O STJ, no mês de junho de 2014,
“sumulou” o assunto: “É possível o reconhecimento do privilégioprevisto no § 2º do art. 155 do
CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do
agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.” (Enunciado n. 511).
Portanto, no furto qualificado, para o STJ, não bastam a primariedade e o pequeno valor da
coisa subtraída. É imprescindível que a qualificadora seja de ordem objetiva, e não subjetiva.
Qualificadora de ordem subjetiva é a que pertence à esfera interna do agente, enquanto a
objetiva é a atinente ao fato praticado, e não ao aspecto pessoal do agente. O furto (CP, art.
155), em seus parágrafos 4º e 5o, traz as seguintes qualificadoras:
No parágrafo quarto:
“I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.”;
No parágrafo quinto:
“A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior”.
As qualificadoras objetivas dizem respeito ao meio de execução. Veja, por exemplo, o inciso III
do § 4º, que fala em “emprego de chave falsa”. Por outro lado, as qualificadoras subjetivas
são aquelas que levam em consideração a motivação interna do agente, o “porquê”, a
exemplo da torpeza, no homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2º, I). No furto, no entanto, todas
as qualificadoras são, aparentemente, objetivas. Todas, sem exceção, tratam do meio pelo
qual o delito é praticado, mas duas delas levam em consideração o elemento anímico: o
abuso de confiança e a fraude.
Para boa parte da doutrina, contudo, o abuso de confiança é a única qualificadora de
ordem subjetiva. Em concursos, ainda não vi questionamentos acerca do Enunciado n. 511 do
STJ – até porque, é muito recente. Mas, caso surja, creio que a opção mais segura seja a
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adotada pelos grandes autores, que, provavelmente, será a mesma da jurisprudência a
partir do enunciado:
“Constituem qualificadoras objetivas, e se comunicam aos demais agentes, com exceção
daquela de natureza subjetiva prevista no inciso II, qual seja, a do abuso de confiança.”
(Capez).
“Com exceção da qualificadora do abuso de confiança (CP, art. 155, § 4.º, inc. II, 1.ª figura), de
índole subjetiva, todas as demais qualificadoras são de natureza objetiva: comunicam-se aos
demais coautores e partícipes que dela tomaram conhecimento, em consonância com a
regra prevista no art. 30 do Código Penal.” (Masson).
Vale dizer que, em algumas oportunidades, o Tribunal Superior entendeu ser possível o
privilégio em todas as qualificadoras do furto. Veja:
“1. Se a alegação da eventual incidência do princípio da insignificância não foi submetida às
instâncias antecedentes, não cabe ao Supremo Tribunal delas conhecer originariamente,
sob pena de supressão de instância. 2. As causas especiais de diminuição (privilégio) são
compatíveis com as de aumento (qualificadora) de pena previstas, respectivamente, nos
parágrafos 2º e 4º do artigo 155 do Código Penal. Precedentes. 3. Habeas corpus
parcialmente conhecido e, nesta parte, concedido.” (STJ, HC 100.307/MG, Rel. Min. Cármen
Lúcia, DJe 3.6.2011).
Por fim, quanto aos efeitos do privilégio, o CP traz três possibilidades:
a) substituição de pena de reclusão pela de detenção;
b) diminuição da pena de reclusão de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços);
c) aplicação somente de pena de multa.
As duas primeiras são cumuláveis. É possível a substituição da pena de reclusão pela de
detenção, sem prejuízo da diminuição de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). A multa, no
entanto, por não ser compatível com as duas outras opções, deve ser aplicada
isoladamente.
Informativos do STJ a respeito do furto e a incidência da insignificância:
“Ainda que se trate de acusado reincidente ou portador de maus antecedentes, deve ser
aplicado o princípio da insignificância no caso em que a conduta apurada esteja restrita à
subtração de 11 latas de leite em pó avaliadas em R$ 76,89 pertencentes a determinado
estabelecimento comercial. Nessa situação, o fato, apesar de se adequar formalmente ao
tipo penal de furto, é atípico sob o aspecto material, inexistindo, assim, relevância jurídica
apta a justificar a intervenção do direito penal.” (HC 250.122-MG, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 2.4.2013).
“Aplica-se o princípio da insignificância à conduta formalmente tipificada como furto
consistente na subtração, por réu primário e sem antecedentes, de um par de óculos
avaliado em R$ 200,00.” (AgRg no RHC 44.461-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
27.5.2014).
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“Não se aplica o princípio da insignificância ao furto de uma máquina de cortar cerâmica
avaliada em R$ 130 que a vítima utilizava usualmente para exercer seu trabalho e que foi
recuperada somente alguns dias depois da consumação do crime praticado por agente que
responde a vários processos por delitos contra o patrimônio.” (HC 241.713-DF, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, julgado em 10.12.2013).
Furto famélico: é causa de exclusão da ilicitude (e do próprio crime) pelo estado de
necessidade. É a situação em que o agente subtrai alimento para manter-se vivo ou para
assegurar a sobrevivência de terceiro. Não é necessário que o alimento escolhido seja o
mais barato ou que integre o grupo de alimentos tidos como básicos para o sustento (ex.:
arroz, feijão etc.) – digo isso porque, ao ouvirmos a notícia de que alguém furtou, por
exemplo, chocolates, é natural que a ideia de furto famélico seja imediatamente afastada,
mas a reflexão não é correta, pois, de repente, a subtração do doce foi mais fácil do que a de
um frango, e, por mais que não seja muito nutritivo, não deixa de ser alimento. O STJ, em
julgado de 2012, não reconheceu o furto famélico na hipótese em que o agente subtraiu bens
não comestíveis para a venda e posterior aquisição de alimentos com os ganhos auferidos:
“Para a configuração do crime de furto em estado de necessidade, ou furto famélico, é
necessário que os bens subtraídos tenham o propósito único de saciar a fome daquele que
se encontra sem alimentação necessária a suprir sua subsistência.” (HC 179618/MG). A
reflexão é correta, pois se amolda ao que prevê o CP, em seu art. 24: “Considera-se em estado
de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.”. Ademais, é importante dizer: o estado de
necessidade não se confunde com o estado de precisão. Imagine o agente que, em razão da
pobreza, tem dinheiro suficiente apenas para a compra do arroz, mas não para a aquisição
de feijão. Embora a alimentação pouco nutritiva seja prejudicial à saúde, ele não está
autorizado a subtrair o alimento que não pode adquirir. Portanto, caso furte o feijão, deverá
responder pelo crime, não havendo o que se falar em estado de necessidade, haja vista não
existir perigo atual (ele não morrerá de fome caso coma somente o arroz).
FURTO QUALIFICADO: o furto é qualificado em oito hipóteses, distribuídas em dois
parágrafos (4o e 5o):
a) com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa: destruir é desfazer,
fazer com que o obstáculo deixe de existir (ex.: a explosão de um “caixa eletrônico”). Romper
está mais para afastar, tornar inútil o obstáculo imposto (ex.: arrombar a porta com
pé-de-cabra). A violência que qualifica o delito pode se dar em qualquer momento da
execução, e não apenas previamente. Imagine o ladrão que, após subtrair a coisa do interior
do imóvel, tem de arrombar uma porta para abandonar o local. É inegável que o ato está
diretamente ligado ao furto praticado, não existindo razão para o afastamento da
qualificadora. No entanto, caso o agente, após consumada a subtração, destrói algum
objeto, sem que isso seja necessário para a prática do furto, haverá o crime de furto simples
em concurso material com o delito de dano (CP, art. 163).Acerca da qualificadora, alguns
pontos merecem atenção:
→ Incidência do princípio da insignificância: o STJ, em mais de uma oportunidade, entendeu
pela impossibilidade da insignificância no furto qualificado pela destruição ou rompimento
de obstáculo: “Ao contrário do disposto na insurgência recursal, entendo inadequada, in
casu, a incidência do postulado da insignificância, porquanto, a despeito do reduzido valor
da res subtraída, o furto, em concreto, faz-se qualificado pela destruição ou rompimento de
obstáculo à subtração da coisa” (AgRg no REsp 1415739/MG, julgado em 10.4.2014).
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→ Necessidade de perícia: “A Jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido da
necessidade de perícia para a caracterização do rompimento de obstáculo, salvo em caso
de ausência de vestígios, quando a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta, conforme a
exegese dos arts. 158 e 167 do Código de Processo Penal. 2. Na espécie, a inexistência da
perícia restou justificada no fato da vítima ter efetuado o reparo da porta violada, dando
causa, assim, ao desaparecimento dos vestígios do arrombamento em sua residência. 3.
Tratando-se, in casu, de causa idônea de desaparecimento de vestígios - inclusive
reconhecida na doutrina e em precedente da Sexta Turma -, é o caso de admitir o
depoimento da vítima e a confissão do acusado como meios de prova da qualificadora
prevista no inciso Ido § 4º do art. 155 do Código Penal. 4. Ordem denegada.” (STJ,. HC
188718/DF, Relator Ministro Sebastião Reis Júnior, DJe de 21.03.2012).
→ Mero afastamento do obstáculo, sem dano: prevalece o entendimento de que não qualifica
o crime pelo rompimento de obstáculo. É o caso da retirada de telhas para o acesso ao
imóvel. No exemplo, o furto será qualificado pela escalada.
→ Violência contra o objeto material: há diversos julgados que entendem que a violência
empregada contra a própria coisa furtada não qualifica o delito. No entanto, esse
posicionamento gera situação curiosa: aquele que quebra o vidro de um automóvel para
subtrair um objeto em seu interior, pratica o crime de furto em sua forma qualificada. Mas,
quem quebra o vidro para subtrair o automóvel, responde por furto simples. É a posição do
STJ: “Em se considerando que o crime de furto foi cometido com o rompimento dos vidros e
portas de veículos para a subtração de objetos que se encontravam em seu interior e não
dos próprios veículos automotores, resta configurada, na espécie, a circunstância
qualificadora do rompimento de obstáculo, prevista no art. 155, § 4.º, inciso I, do Código
Penal. Precedentes. 2. Ordem denegada.” (HC 104316/SP). A doutrina, entretanto, diverge
desse entendimento: “Seria incoerente, exemplificativamente, punir por furto qualificado
aquele que destrói o vidro de um carro para subtrair uma camiseta que estava em seu
interior, e, ao mesmo tempo, imputar o crime de furto simples ao sujeito que destrói a porta
de um veículo automotor para furtá-lo. A aplicação da lei penal estaria fora da realidade e
levaria à descrença generalizada e à banalização do Direito Penal.” (Masson).
→ “Ligação direta”: há duas posições: 1ª) não configura a qualificadora da violência contra
obstáculo à subtração de veículo (JTACrimSP, 55:342, 21:48 e 41:320; RT, 558:359, 563:322 e
435:379); 2ª) configura (RT, 442:453, v. V.).
→ Cão de guarda: “Em relação ao cão de guarda, há duas posições: (a) pode ser definido
como obstáculo, razão pela qual sua morte enseja a qualificadora, pois atua como entrave à
prática da conduta criminosa; e (b) não se pode considerá-lo obstáculo no sentido técnico
da palavra, e sua morte poderá caracterizar crime de dano, mas não a qualificadora em
estudo.” (Masson).
b) com abuso de confiança: para boa parte da doutrina, é de ordem subjetiva. Essa
conclusão tem duas importantes consequências: 1a) não é possível o reconhecimento do
privilégio (Enunciado n. 511 da Súmula do STJ); 2a) a qualificadora é incomunicável no
concurso de pessoas, só devendo responder por ela quem, de fato, abusou da confiança
depositada pelo ofendido. A qualificadora é aplicável na hipótese em que o agente trai a
confiança da vítima para subtrair seus bens. A confiança deve ser oriunda de relação
anterior à preparação do delito. Caso o agente conquiste a confiança da vítima com o
intuito de praticar o crime (ato preparatório), o furto será qualificado pela fraude. Exemplo
comum de furto qualificado pelo abuso de confiança é o intitulado famulato, que é aquele
praticado pelo empregado, aproveitando-se de tal situação, de bens pertencentes ao
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empregador. Frise-se, no entanto, que a mera relação empregatícia não configura,
automaticamente, o abuso de confiança, que deve ser analisado no caso concreto. Ademais,
não é preciso que a relação seja de longo prazo: “O furto praticado por agente-diarista,
contratada em função de boas referências, a quem se entregou as próprias chaves do
imóvel, enquanto viajavam os patrões, caracteriza a forma qualificada prevista no artigo 155,
parágrafo 4º, inciso II, do Código Penal. 2. Ordem denegada.” (STJ, HC 82828/MS). Questões
importantes:
→ O agente deve efetivamente se valer da confiança depositada. Se o agente pratica o crime
de forma pela qual qualquer pessoa poderia ter praticado, não se fala em incidência de
qualificadora por abuso de confiança. Ademais, é essencial que o agente saiba que está
tirando proveito da confiança depositada.
→ Cuidado para não confundir o furto qualificado pelo abuso de confiança com o crime de
apropriação indébita. Em ambos os delitos, há quebra de confiança. No entanto, no furto, a
coisa móvel não é entregue voluntariamente, pela vítima, ao agente. Ex.: o amigo que,
valendo-se do acesso facilitado à residência, subtrai os bens da vítima. Na apropriação
indébita (CP, art. 168), por outro lado, a vítima entrega o bem, e o agente dele se assenhora.
Ex.: Um amigo empresta ao outro coisa móvel, e este não devolve o bem.
c) mediante fraude: o agente pratica o furto mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento. Não há como confundir com o estelionato (CP, art. 171). Embora, em ambos,
exista o emprego de fraude, no furto, o agente subtrai a coisa, enquanto, no estelionato, a
vantagem é obtida. Exemplo de furto qualificado: o agente, para subtrair determinado bem,
conquista a amizade da vítima – a amizade, neste caso, é ato preparatório do delito -, e,
valendo-se da confiança depositada, subtrai os seus bens. Exemplo de estelionato: o agente
se apresenta como proprietário de um automóvel em um “lava-jato”, e o funcionário, induzido
em erro, a ele entrega o bem. Não há, portanto, subtração, mas obtenção do veículo.
Vejamos alguns pontos relevantes:
→ Furto qualificado e estelionato [1]: “No caso, cumpre anotar que o furto mediante fraude
não se confunde com o estelionato. Segundo Damásio, "[n]o furto, a fraude ilude a vigilância
do ofendido, que, por isso, não tem conhecimento de que o objeto material está saindo da
esfera de seu patrimônio e ingressando na disponibilidade do sujeito ativo. No estelionato,
ao contrário, a fraude visa a permitir que a vítima incida em erro. Por isso, voluntariamente
se despojam de seus bens, tendo consciência de que eles estão saindo de seu patrimônio e
ingressando na esfera de disponibilidade do autor'.” (STJ, HC 217545/RJ, Relatora Ministra
Laurita Vaz, julgado em 19.12.2013).
→ Furto praticado por manobrista: “Na hipótese em tela, a vítima entregou as chaves de seu
carro para que o Paciente, na qualidade de segurança da rua, o estacionasse, não
percebendo que o seu veículo estava sendo furtado. Conforme ressaltado pelo Tribunal de
origem, a vítima 'não tinha a intenção de se despojar definitivamente de seu bem, não queria
que o veículo saísse da esfera de seu patrimônio', restando, portanto, configurado o furto
mediante fraude.” (STJ, HC 217545/RJ, Relatora Ministra Laurita Vaz, julgado em 19.12.2013).
Comentário: caso o agente se faça passar por manobrista com o intuito de se apoderar do
bem, entendo que o delito seja o de estelionato (CP, art. 171), enão o de furto qualificado pela
fraude.
→ Fraude eletrônica na Internet: “O delito de furto mediante fraude, previsto no art. 155, § 4º,
inciso II, do CP, consistente na subtração de valores de conta-corrente mediante fraude
utilizada para ludibriar o sistema informatizado de proteção de valores mantidos sob
19
guarda bancária, deve ser processado perante o Juízo do local da conta fraudada.
Precedentes.” (STJ, CC 119914/DF, Relatora Desembargadora Convocada Alderita Ramos de
Oliveira, julgado em 12.12.12).
→ Fraude eletrônica na Internet: “Esta Corte firmou orientação de que o saque efetuado em
conta corrente de terceiro por meio da internet trata-se de crime de furto mediante fraude e
que portanto, segundo a regra prevista no art. 70 do CPP, deve ser processado no local em
que houve o desapossamento dos valores, ou seja, a sede da agência bancária. Recurso
especial provido.” (STJ, REsp 1163170 / SP, Rel. Min. Félix Fischer, julgado em 20.9.2010).
→ “Cartão clonado”: “Esta Corte firmou compreensão segundo a qual a competência para o
processo e julgamento do crime de furto mediante fraude, consistente na subtração de
valores de conta bancária por meio de cartão magnético supostamente clonado, se
determina pelo local em que o correntista detém a conta fraudada.” (STJ, AgRg no CC
110855/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22.6.2012).
→ Adulteração de medidor de energia elétrica: “In casu, a Corte a quo, após análise das
provas constantes dos autos, reconheceu o crime de furto mediante fraude porque a
concessionária de prestação de serviço público não tinha conhecimento da fraude
perpetrada quanto às trocas dos transformadores, que passaram a registrar consumo de
energia elétrica a menor, situação típica do crime descrito no art. 155 do Diploma Penalista,
razão pela qual conclusão em sentido contrário quanto à caracterização do delito tipificado
no art. 171 do mesmo Estatuto Repressor, demandaria o revolvimento do material
fático/probatório, o que é vedado pela Súmula n. 7/STJ.” (STJ, AgRg no REsp 1279802/SP, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 8.5.2012).
→ Subtração de veículo de test drive: “Resta-nos, enfim, uma relevante questão a ser
enfrentada: o crime envolvendo o test drive de veículos automotores. Trata-se de furto
qualificado por fraude ou estelionato? Vejamos. Imaginemos uma situação hipotética, mas
extremamente frequente na vida cotidiana: 'A' vai a uma concessionária, mostrando-se
interessado na aquisição de um automóvel. Após colher informações sobre o bem, preenche
uma ficha cadastral e apresenta um documento falso ao funcionário da empresa. Sai
sozinho com o veículo para testá-lo, mas não retorna. Não há dúvida nenhuma, com base na
técnica jurídica, que se cuida de estelionato. De fato, o sujeito se valeu da fraude para
ludibriar o representante da concessionária, que voluntariamente lhe entregou o bem. Não
houve subtração. A jurisprudência, entretanto, consolidou o entendimento de que se trata
de furto qualificado pela fraude.” (Masson).
→ Outros exemplos em que a qualificadora da fraude foi reconhecida pelos tribunais: agente
que pede à vítima para que mostre a coisa e foge com ela; sujeito que engana a vítima,
fazendo-a se afastar do objeto material; agente que se diz policial para penetrar no local da
subtração; agente que distrai o vendedor enquanto o comparsa subtrai bens; puxar a chave
com arame para abrir a porta; agente que se finge de doméstica para furtar etc.
d) mediante escalada: é o que ocorre quando o agente invade um ambiente fechado por vias
anormais, não destinadas a esse fim. É preciso cuidado, pois, ao se falar em “escalada”,
imaginamos somente o agente que sobe em uma estrutura (muro, poste etc.). No entanto, a
qualificadora é aplicável a qualquer forma de ingresso extraordinário no recinto. Por
exemplo, há escalada na escavação de túnel subterrâneo que dá acesso ao interior do
imóvel. Caso o agente emprega violência contra a coisa, o crime será qualificado pelo
rompimento ou destruição de obstáculo, e não pela escalada. Entenda: o agente que remove
telhas para invadir uma residência pratica o crime de furto qualificado pela escalada. No
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entanto, caso o agente destrua o telhado para adentrar, a qualificadora será a do
rompimento ou destruição de obstáculo. Vejamos alguns pontos importantes:
→ Princípio da insignificância: “A tentativa de furto realizada mediante escalada e
rompimento de obstáculo impede a aplicação do princípio da insignificância, uma vez que o
modus operandi revela a reprovabilidade do comportamento do agente.” (STJ, AgRg no REsp
1438176/MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 27.6.2014).
→ Necessidade de perícia [1]: “A qualificadora do crime de furto 'rompimento de obstáculo e
escalada', quando deixa vestígios (crime não transeunte), exige, de regra, o exame pericial
para a sua comprovação, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal. Precedentes.”
(STJ, AgRg no AREsp 352699/RJ, Relatora Ministra Regina Helena Costa, julgado em 19.5.2014).
→ Necessidade de perícia [2]: “É prescindível o exame pericial, pois nem sempre a escalada
deixa vestígios. Geralmente a escalada é reconhecida pela só descrição do fato criminoso.
Assim, a própria narrativa do réu no sentido de que removeu telhas para adentrar na
residência, que pulou um muro muito alto, ou que passou por uma galeria subterrânea já
configura a qualificadora em tela. A prova pericial somente será necessária se a escalada
deixar vestígios.” (Capez).
→ Obstáculo contínuo: “Além disso, o obstáculo deve ser contínuo, não oferecendo
alternativas à execução do crime sem o recurso à escalada. Se, exemplificativamente, o muro
contém buracos pelos quais pode passar uma pessoa, ou se não cerca todo o prédio em que
o furto é cometido, não incide a qualificadora.” (Masson).
→ Invasão pela janela: há duas hipóteses: 1ª) janela rente ao solo: não incide a qualificadora
(JTACrimSP, 69:456, 26:71 e 27:44; RT, 539:315 e 542:372); 2ª) janela alta, exigindo esforço físico:
incide a qualificadora (JTACrimSP, 54:250 e 35:219).
e) mediante destreza: é o uso de habilidades especiais para a prática do delito. Exemplo
comum é o punguista ou “batedor de carteira”: “Não é cabível o decote da qualificadora da
destreza, no caso em que o apelante, de forma bastante astuta, subtraiu o aparelho celular
que se encontrava no interior da bolsa da vítima, com mãos tão 'leves' que a ofendida sequer
percebeu a ação do meliante, somente tomando conhecimento do fato quando já se
encontrava em sua residência.” (TJMG, 3260283-25.2012.8.13.0024, Rel. Des. Marcílio Eustáquio
Santos, julgado em 25.11.2013).
→ Trombadinha: cuidado para não confundir o “batedor de carteira” com o “trombadinha”,
termo adotado para a situação em que o agente atira o seu corpo contra o da vítima, para,
valendo-se do empurrão e da distração por ele causado, subtrair os seus bens. Nesta
hipótese, o crime será o de roubo (CP, art. 157), e não o de furto.
→ Vítima inconsciente: não se fala em destreza quando a vítima está adormecida,
embriagada ou, por outra razão, tem a sua capacidade de resistência reduzida. Isso porque,
nesta situação, o agente não precisa empregar destreza para a prática do delito.
→ Tentativa: “(a destreza) Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite
o apoderamento do bem sem que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal ocorre com a
subtração de objetos que se encontrem junto à vítima, por exemplo, carteira, dinheiro no
bolso ou na bolsa, colar etc., que são retirados sem que ela note. Importa dizer que se a
vítima perceber a subtração no momento em que ela se realiza, considera-se o furto tentado
na forma simples, pois não há que se falar no caso em destreza do agente (p. Ex., a vítima
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sente a mão do agente em seu bolso). Se, contudo, a vítima se dá conta da falta do objeto
instantes após o bem-sucedido apoderamento pelo agente e antes do afastamento deste do
local da subtração, há tentativa de furto qualificado, já que presente está a destreza do
agente. Se terceiros notarema subtração, haverá ainda tentativa de furto qualificado, já que
presente está a habilidade do agente, na medida em que a própria vítima não se deu conta
da retirada do bem.” (Capez).
f) com emprego de chave falsa: a qualificadora é aplicada quando o agente emprega
instrumento, com ou sem forma de chave, para a abertura de mecanismo de fechadura ou
semelhante. A chave falsa pode ser uma cópia não autorizada da original, uma chave
modificada para se adequar à fechadura ou outro instrumento construído ou modificado
para tal fim (gazua, grampo, chave “mixa”, chave de fenda etc.). O uso da chave verdadeira,
obtida com ou sem autorização pelo agente, não qualifica o crime pelo uso de chave falsa.
→ Chave “mixa”: a chave “mixa” é um instrumento utilizado por chaveiros para a abertura de
fechaduras em geral. Há quem sustente que o seu uso não qualifica o crime de furto, pois
não seria chave falsa. No entanto, o STJ entende de forma diversa: “A jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça tem admitido o uso da chave 'mixa', para qualificar o crime de
furto, pelo emprego de chave caracterizada como falsa.” (AgRg no AREsp 304151/DF, Relatora
Ministra Assusete Magalhães, julgado em 13.9.2013).
→ Necessidade de apreensão da chave falsa: “Ainda que não apreendida a chave falsa,
havendo outros elementos probatórios capazes de comprovar o uso do artefato, não há que
se afastar a qualificadora, à luz da melhor interpretação do art. 167 do Código de Processo
Penal. No caso dos autos, ao contrário do que afirmado na inicial, o laudo pericial afirma,
categoricamente, que foi utilizada chave falsa ou similar para adentrar no veículo, razão
pela qual é despicienda a apreensão do objeto no caso.” (STJ, HC 181036/SP, Relatora Ministra
Laurita Vaz, julgado em 21.6.2012).
→ ”Ligação direta”: há duas posições: 1ª) há furto simples: RT, 522:424; RF, 257:305; 2ª) há furto
qualificado: RT, 542:347; RF, 279:330. Prevalece o entendimento de que não configura chave
falsa.
g) mediante concurso de duas ou mais pessoas: o furto é crime unissubjetivo ou de concurso
eventual, que pode ser praticado por uma única pessoa. Contudo, também é possível
praticá-lo em concursos de pessoas, e, nesta hipótese, a conduta deve ser punida com mais
severidade. Não é necessário que todos os agentes sejam imputáveis. Caso o furto seja
praticado por um maior de idade em concurso com um menor de idade, dois delitos serão
imputados ao adulto: o de furto qualificado pelo concurso de pessoas e o de corrupção de
menores, do art. 244-B do ECA, que, frise-se, é crime formal, não sendo necessária a prova
de efetiva corrupção do menor.
→ Concurso de pessoas e associação criminosa: parte da doutrina sustenta que,
reconhecida a prática do delito de associação criminosa (CP, art. 288), não é possível que os
agentes respondem por furto qualificado mediante concurso de pessoas, sob pena de bis in
idem. Contudo, a reflexão não parece adequada, pois o furto e a associação criminosa são
delitos distintos, que tutelam bem jurídicos diversos, e a pluralidade de agentes é
averiguada em momentos diferentes. É o posicionamento do STJ: “Quanto ao mais, a decisão
deve ser mantida incólume porque proferida em conformidade com a jurisprudência
assentada nesta Casa Superior de Justiça, no sentido da possibilidade de coexistência
entre os crimes de quadrilha ou bando e o de furto ou roubo qualificado pelo concurso de
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agentes, porquanto os bens jurídicos tutelados são distintos e autônomos os delitos.” (AgRg
no REsp 1404832/MS, Relatora Ministra Laurita Vaz, julgado em 31.3.2014).
→ A desproporção entre o concurso de pessoas no furto e no roubo: não há como negar que
o roubo é delito mais grave do que o furto, pois há emprego de violência ou grave ameaça.
No entanto, no furto, o concurso de pessoas dobra a pena, enquanto no roubo faz com que
a pena seja aumentada de 1/3 (um terço) até metade. Em razão disso, começou a se
questionar se o furto em concurso de pessoas não deveria se sujeitar, por questão de
proporcionalidade, ao limite máximo imposto ao crime de roubo. O STJ rechaçou a tese e
“sumulou” o assunto: “É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes,
a majorante do roubo.” (Enunciado n. 442).
→ Presença no local do fato: “Há duas orientações: 1ª) só há a qualificadora quando, no
mínimo, duas pessoas executam o crime, pelo que se exige sua presença no local do fato; 2ª)
basta que concorram para o fato, não se exigindo a presença material delas. Nossa posição:
o Código Penal, descrevendo a qualificadora, fala em “crime cometido mediante duas ou
mais pessoas”. Não diz 'subtração cometida'. Entre nós, comete crime quem, de qualquer
modo, concorre para a sua realização (art. 29, caput). De maneira que o partícipe ou coautor
também comete crime.” (Damásio).
→ Absolvição do co autor: “Absolvição do coautor. Importante mencionar que a absolvição
do coagente acarreta a desclassificação do furto do outro agente para a forma simples. Tal
não ocorrerá se restar incontroverso nos autos que houve a presença de um segundo
participante, o qual não se conseguiu identificar.” (Capez).
h) se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado
ou para o exterior: em razão do imenso número de veículos furtados e enviados,
principalmente, para países vizinhos ao Brasil, o legislador incluiu, em 1996, o § 5º ao art. 155,
que pune com mais rigor a conduta de enviar para outros estados ou países veículos
automotores. Das formas qualificadas, é que possui pena mais alta, de 3 (três) a 8 (oito) anos
de reclusão. Não foi incluída ao § 4º por não ser forma de execução do crime de furto. Em
verdade, esta qualificadora trata de ato posterior à subtração, consistente no envio da coisa
furtada para outro país ou estado. Vejamos alguns pontos importantes:
→ Veículo automotor: “Abrange aeronaves, automóveis, caminhões, lanchas, jet-skis,
motocicletas etc.
→ Partes do veículo: o transporte de partes do veículo automotor para outro estado ou país
não qualifica o crime.
→ Efetiva transposição: para a incidência da qualificadora, é imprescindível que o veículo
efetivamente cruze a fronteira entre os estados ou entre o Brasil e o exterior.
→ Possibilidade de tentativa: a consumação da forma qualificada é independente do furto
simples. Se o agente subtrair um veículo, com o intuito de levá-lo ao exterior ou outro estado,
mas é preso antes disso, deverá responder por furto simples, consumado, e não por
tentativa de furto qualificado. Como já dito, só é possível a incidência da qualificadora
quando o veículo ultrapassa, de fato, a fronteira entre os estados ou entre o Brasil e o
exterior. Capez exemplifica a única hipótese em que será possível a tentativa de furto
qualificado do § 5º: “se o veículo subtraído estava próximo da divisa do Estado, e o agente,
ao ser perseguido, transpõe essa divisa, não tendo sequer a posse tranquila da res — há
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tentativa de furto qualificado; este não se consumou, mas houve a configuração da
qualificadora”.
O furto qualificado tem pena de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da multa,
exceto na última hipótese (§ 5º), em que a pena é de 3 (três) a 8 (oito) anos, sem previsão de
multa. As penas são inegavelmente graves. Para se ter uma ideia, a pena é a mesma da
concussão (CP, art. 316), um dos delitos funcionais mais graves do CP. Em virtude das penas a
ele aplicadas, a ação penal para o julgamento do furto qualificado, em todas as suas
formas, não é passível de suspensão condicional (Lei 9.099/99, art. 89).
É possível a cumulação de qualificadoras (ex.: com rompimento de obstáculo e concurso de
pessoas). Contudo, o juiz, ao fazer a dosimetria da pena, considerará apenas uma delas para
qualificar o crime, e as demais serão adotadas como circunstâncias judiciais desfavoráveis,
nos moldes do art. 59, “caput”, do CP. Caso o concurso de qualificadoras ocorra entre as do §
4º e a do § 5º, cujas penas são diversas, será adotada a do § 5º, com penas mais altas, para
qualificar, e as demais,do § 4º, servirão como circunstâncias judiciais.
Erro de tipo: no erro de tipo (CP, art. 20), o agente não quer cometer a conduta tida como
crime, mas, por falsa percepção da realidade, por erro sobre elemento constitutivo do tipo,
acaba praticando conduta típica. No furto, é fácil imaginar um exemplo: enquanto
conversam, João e seus amigos deixam os seus celulares no centro da mesa. Na hora de ir
embora, por equívoco, João leva o celular de um dos amigos, imaginando ser o seu. Apesar
de ter subtraído coisa alheia móvel, a sua conduta é atípica, por erro de tipo – nem se
discute a inescusabilidade, haja vista não existir o furto culposo. Para saber mais sobre o
erro de tipo, clique aqui.
Ação penal: crime de ação penal pública incondicionada, que não depende de
representação da vítima, exceto nas hipóteses previstas no art. 182 do CP: “Somente se
procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I -
do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de
tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.”. O art. 182 não será, no entanto, aplicado nas
seguintes situações (CP, art. 183): a) se houver emprego de violência ou grave ameaça à
pessoa (o que, em verdade, afastaria o crime de furto); b) ao estranho que participa do crime;
c) se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Causas de isenção de pena: “Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de
ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.”. O
art. 181 não será aplicado nas seguintes situações (CP, art. 183): a) se houver emprego de
violência ou grave ameaça à pessoa (o que, em verdade, afastaria o crime de furto); b) ao
estranho que participa do crime; c) se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos.
Suspensão condicional do processo: só é possível na forma simples, do “caput”, em que a
pena mínima não exceda 1 (um) ano. Nas demais formas, não é viável a suspensão
condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei 9.099/95.
FURTO DE SEMOVENTES
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art 180
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
No dispositivo legal do art. 180-A do CP exige-se a finalidade de produção ou de
comercialização, exigência essa que não está descrita no caput do art. 180, mas sim presente
no § 1º do art. 180 “no exercício de atividade comercial ou industrial”. Note-se que a pena
base do art. 180-A é de reclusão de 2 a 5 anos e multa.
O novo texto legal, em ambos os casos (Furto e Receptação) em sua essência, objetivou
resguardar o direito de propriedade do produtor rural, e foi inserida unicamente com o
objetivo de conferir maior proteção penal para um determinado bem jurídico e combater
violações à saúde pública, pois o comércio de alimentos oriundos de animais furtados é uma
atividade clandestina e, coloca na mesa do consumidor, produtos sem qualquer certificação
ou controle de qualidade. No entanto, por falha técnica legislativa, os dois crimes foram
acometidos pelo instituto da Novatio Legis In Mellius, o qual permite a possibilidade de
aplicação da lei mais benéfica, aplicando-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por
sentença condenatória transitada em julgado.
O art. 155, § 6º, do Código Penal, introduzido pela Lei 13.330/2016, define uma terceira figura
de furto qualificado, “se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que
abatido ou dividido em partes no local da subtração”. Assim, enquanto o furto simples (tipo
básico) tem pena de reclusão de 1 a 4 anos e multa, a presente figura qualificada tem pena
de reclusão de 2 a 5 anos.
Trata-se também de um tipo penal autônomo, distinto das demais figuras qualificadas,
inclusive, da mesma forma do parágrafo anterior, sem a previsão legal da pena de multa.
Essa qualificadora não está relacionada ao meio de execução do furto ou ao resultado
posterior à subtração, mas ao objeto material do crime, qual seja, o semovente domesticável
de produção.
O dispositivo legal visa combater o abigeato (ou abacto) que consiste no furto de animais no
campo, tanto gado bovino quanto equino, que é muito comum em zonas de fronteiras “secas”
entre dois países, como Brasil e Uruguai ou Paraguai.
Para caracterizar a qualificadora em estudo é necessário que o objeto material do crime
seja semovente domesticável de produção. Assim, são três os elementos: (1) semovente
(aquele que anda ou se move por si) são animais de bando, tais como: bovinos (boi, bisonte,
búfalo), ovinos (carneiro, ovelha, cordeiro), suínos (porco doméstico, leitão, javali), equinos
(cavalo, burro, jumento) etc.; (2) domesticável é aquele que se pode domesticar (elemento
passível de divergência de entendimentos); (3) de produção é aquele cuja finalidade da
criação é a obtenção de produtos com objetivo comercial.
Assim, não basta o objeto material tratar-se de semovente. Exige-se, ainda, que o mesmo seja
domesticável e de produção. Por outro lado, haverá incidência da qualificadora em estudo,
ainda que o objeto material seja abatido (morto) ou dividido em partes (cortado em pedaços)
no local da subtração (lugar do crime).
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O reconhecimento dessa qualificadora afasta a incidência daquelas relacionadas ao meio
de execução do furto (CP, art. 155, § 4º) que, no caso de coexistência, aquelas serão tratadas
como circunstâncias judiciais desfavoráveis (CP, art. 59, caput). Desta forma, verifica-se um
flagrante contra senso, pois, o agente acaba incorrendo em uma pena menor do que seria
antes da inovação.
2. Receptação de animal
São quatro os elementos que integram o delito: (1) a conduta de adquirir, receber,
transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender; (2) com a finalidade de produção
ou de comercialização; (3) semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes; (4) que deve saber ser produto de crime.
2.2. Classificação doutrinária
Trata-se de crime comum (aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa),
plurissubsistente (costuma se realizar por meio de vários atos), comissivo (decorre de uma
atividade positiva do agente “adquirir”, “receber”, “transportar”, “conduzir”, “ocultar”, “ter em
depósito” e “vender”) e, excepcionalmente, comissivo por omissão (quando o resultado
deveria ser impedido pelos garantes – art. 13, § 2º, do CP), de forma livre (pode ser cometido
por qualquer meio de execução), material (só se consuma com a produção do resultado
naturalístico, consistente na diminuição do patrimônio da vítima), de dano (só se consuma
com a efetiva lesão ao bem jurídico protegido), instantâneo (a consumação não se prolonga
no tempo, nas condutas “adquirir”, “receber” e “vender”), permanente (a consumação se
prolonga no tempo, nas condutas “transportar”, “conduzir”, “ocultar” e “ter em depósito”),
monossubjetivo (pode ser praticado por um único agente), simples (atinge um único bem
jurídico, o patrimônio da vítima).
2.3. Objetos jurídico e material
O objeto jurídico do crime de receptação de animal é o patrimônio do indivíduo,
especialmente aquele representado pelos animais semoventes. Objeto material é semovente
domesticável de produção, produto de crime. Semovente (aquele que anda ou se move por
si) são animais de bando, tais como: bovinos (boi, bisonte, búfalo), ovinos (carneiro, ovelha,
cordeiro), suínos (porco doméstico, leitão, javali), equinos (cavalo, burro, jumento) etc. O
semovente deve, ainda, ser domesticável (aquele que se pode domesticar) e de produção
(aquele cuja finalidade da criação é a obtenção de produtos com objetivo comercial), ainda
que tenha passado por alguma transformação, aexemplo de ser abatido ou dividido em
partes no local da subtração.
2.4. Sujeitos do delito
A receptação de animal é crime comum, assim, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa,
salvo o autor, coautor ou partícipe do crime antecedente, que só podem por esse (delito
antecedente) responder. Desta forma, se o sujeito, agindo em coautoria, furta determinado
animal semovente e, em seguida, adquire a parte correspondente aos demais, constitui post
factum impunível.
Sujeito passivo é o mesmo do crime antecedente. Aliás, a receptação faz com que se
mantenha ou que se perpetue a situação ilícita decorrente do crime anterior, em prejuízo da
mesma vítima. Com isso, a coisa fica cada vez mais distante da sua esfera de vigilância ou
disponibilidade.
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2.5. Conduta típica
O núcleo do tipo penal está representado pelos verbos adquirir (comprar, obter a título
oneroso), receber (aceitar, entrar na posse), transportar (deslocar, levar de um lugar a outro),
conduzir (guiar, dirigir um veículo, motorizado ou não, para levar de um lugar a outro),
ocultar (disfarçar, esconder), ter de depósito (manter, guardar, armazenar) ou vender (alienar,
dispor ou ceder por certo preço) tendo por objeto material a coisa produto de crime
antecedente (semovente domesticável de produção).
A receptação de animal é crime de ação múltipla (ou de conteúdo variado). Desta forma,
responderá por crime único se, no mesmo contexto fático, envolvendo o mesmo objeto
material (produto de crime antecedente), o agente praticar duas ou mais ações
correspondentes ao núcleo do tipo (adquirir, receber, transportar etc.).
É possível a caracterização do chamado crime de receptação em cadeia. Isso ocorre
quando o delito antecedente for outra receptação, pois o tipo penal exige simplesmente que
a coisa seja “produto de crime”, qualquer que seja ele, ou seja, inclusive de outra receptação.
Há também crime de receptação quando a coisa provém, por exemplo, de subtração
praticada por menor ou inimputável, ou quando o crime antecedente é cometido em prejuízo
das pessoas enumeradas no art. 181, do Código Penal (cônjuge, ascendente ou descendente).
Da mesma forma, é indiferente que o acusado do crime anterior tenha sido absolvido por
falta de provas da autoria ou que tenha sido julgada extinta a sua punibilidade, pois “a
extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se estende a este (...)” (CP, art. 108, 1ª parte).
2.6. Elemento subjetivo
É o dolo direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de adquirir, receber,
transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender o objeto material, que deve ser
produto de crime. Não é necessária a certeza do agente em relação à origem criminosa do
objeto (dolo direto), pois, a receptação de animal é compatível com o dolo eventual, ou seja,
basta que o agente, nas circunstâncias dos fatos, tivesse como “saber ser produto de crime”.
Além do dolo direto ou eventual, a receptação de animal exige, ainda, o fim especial de agir
(elemento subjetivo específico) contido na expressão “com a finalidade de produção ou
comercialização”. Se a finalidade do agente é o consumo próprio do semovente, o crime é o
de receptação dolosa simples (CP, art. 180, caput, 1ª parte). Se a receptação de animal visa ao
proveito do autor do crime antecedente, o delito cometido é de favorecimento real (CP, art.
349).
2.7. Consumação e tentativa
A receptação de animal é crime material, que só se consuma com a produção do resultado
naturalístico consistente na lesão ao patrimônio alheio. Consuma-se, portanto, no momento
em que o agente adquire, recebe, transporta, conduz, oculta, tem em depósito ou vende,
semovente domesticável de produção, que deve saber ser produto de crime.
Nas condutas “adquirir”, “receber” e “vender”, a receptação de animal é crime instantâneo (a
consumação não se prolonga no tempo). Nas condutas “transportar”, “conduzir”, “ocultar” e
“ter em depósito”, o crime é permanente (a consumação se prolonga no tempo).
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A tentativa é teoricamente possível em todas as condutas (modalidades) do crime de
receptação de animal. No entanto, a tentativa na modalidade “ter em depósito” já
caracteriza a consumação pelas condutas de “adquirir”, “receber”, “transportar” etc.
2.8. Pena e ação penal
A pena cominada ao crime de receptação de animal é cumulativa: reclusão, de 2 a 5 anos, e
multa. Trata-se de crime de alto potencial ofensivo, ficando afastados os benefícios da Lei
9.099/1995.
A ação penal é pública incondicionada, cujo oferecimento da denúncia para iniciar a ação
penal não depende de qualquer condição de procedibilidade.
FURTO DE SUBSTÂNCIAS EXPLOSIVAS
A lei prevê o aumento da pena para o furto ou roubo dos equipamentos explosivos utilizados
nas práticas criminosas. Segundo o texto, a punição para este tipo de crime varia de quatro
a dez anos de prisão em caso de furto e pode ser elevada em até 50% do tempo em caso de
roubo.
O texto também agrava a punição para crimes de roubo com uso de armas. De acordo com
a norma, a pena de reclusão para esses crimes – que antes variava de 7 a 15 anos – passa a
ser de 7 a 18 anos quando houver lesão corporal grave ou morte da vítima.
Confira a íntegra da lei 13.654/18.
LEI Nº 13.654, DE 23 DE ABRIL DE 2018
Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 dezembro de 1940 (Código Penal), para dispor sobre os
crimes de furto qualificado e de roubo quando envolvam explosivos e do crime de roubo
praticado com emprego de arma de fogo ou do qual resulte lesão corporal grave; e altera a
Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, para obrigar instituições que disponibilizem caixas
eletrônicos a instalar equipamentos que utilizem cédulas de moeda corrente.
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego." (NR)
"Art. 157.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I - (revogado);
VI - se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
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§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II - se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.
§ 3º Se da violência resulta:
I - lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
II - morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa."(NR)
Art. 2º A Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 2º-A:
"Art. 2º-A As instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo
Banco Central do Brasil, que colocarem à disposição do público caixas eletrônicos, são
obrigadas a instalar equipamentos que inutilizem as cédulas de moeda corrente
depositadas no interior das máquinas em caso de arrombamento, movimento brusco ou alta
temperatura.
§ 1º Para cumprimento do disposto no caput deste artigo, as instituições financeiras poderão
utilizar-se de qualquer tipo de tecnologia existente para inutilizar as cédulas de moeda
corrente depositadas no interior dos seus caixas eletrônicos, tais como:
I - tinta especial colorida;
II - pó químico;
III - ácidos insolventes;
IV - pirotecnia, desde que não coloque em perigo os usuários e funcionários que utilizam os
caixas eletrônicos;
V - qualquer outra substância, desde que não coloque em perigo os usuários dos caixas
eletrônicos.
§ 2º Será obrigatória a instalação de placa de alerta, que deverá ser afixada de forma visível
no caixa eletrônico, bem como na entrada da instituição bancária que possua caixa
eletrônico em seu interior, informando a existência do referido dispositivoe seu
funcionamento.
§ 3º O descumprimento do disposto acima sujeitará as instituições financeiras infratoras às
penalidades previstas no art. 7º desta Lei.
§ 4º As exigências previstas neste artigo poderão ser implantadas pelas instituições
financeiras de maneira gradativa, atingindo-se, no mínimo, os seguintes percentuais, a partir
da entrada em vigor desta Lei:
I - nos municípios com até 50.000 (cinquenta mil) habitantes, 50% (cinquenta por cento) em
nove meses e os outros 50% (cinquenta por cento) em dezoito meses;
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II - nos municípios com mais de 50.000 (cinquenta mil) até 500.000 (quinhentos mil) habitantes,
100% (cem por cento) em até vinte e quatro meses;
III - nos municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, 100% (cem por cento) em
até trinta e seis meses."
ROUBO
art 157
Apesar de ser um delito bastante conhecido, o crime de roubo possui em sua essência
algumas características relevantes que merecem atenção.
Previsto no Título II, dos crimes contra o patrimônio, do Código Penal Brasileiro, o crime de
roubo possui as mesmas características do crime de furto, porém, quando há o emprego de
grave ameaça, de violência ou outro meio que impossibilite a resistência da vítima, fatores
estes, empregados pelo agente para que a vítima entregue o bem, está configurado o
presente crime.
Dessa forma, o artigo 157 do código penal qualifica o roubo, isto é, subtrair algo de outrem
mediante ameaça ou agressão.
O uso da violência ou ameaça como forma de coação da vítima, faz com que o delito seja
diferenciado do artigo 155 – furto, que consiste na subtração do bem de outrem sem o uso
de força ou ameaça
O que é grave ameaça? – grave ameaça é a promessa de um mal grave e iminente (de morte,
de lesões corporais, de praticar atos sexuais contra a vítima de “roubo” etc.).
O que significa violência contra pessoa? – violência contra a pessoa, caracteriza-se pelo
emprego de qualquer esforço físico sobre a vítima, a fim de possibilitar a subtração do bem
(ex.: socos, pontapés, facada, disparo de arma de fogo, paulada, amarrar a vítima, violentos
empurrões ou trombadas).
Assim, se as agressões forem leves, desferidas apenas para desviar a atenção da vítima, de
acordo com a jurisprudência, não caracteriza o “roubo”.
SUJEITOS DO CRIME DE ROUBO
SUJEITO ATIVO
O Sujeito ativo deste crime pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum, em que
qualquer pessoa pode praticá-lo, com exceção do possuidor ou proprietário do bem
roubado.
SUJEITO PASSIVO
O sujeito passivo, também pode ser qualquer pessoa. Mas também pode ser o terceiro que
não seja titular do direito de propriedade ou posse.
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Ademais, o crime de roubo poderá ter mais de um sujeito passivo, como exemplo, tem-se o
agente que entra em ônibus, rende os passageiros e mediante violência ou grave ameaça,
subtrai bens de várias pessoas.
Neste caso, estamos diante de um concurso formal de crimes (Art. 70, CP), pois mediante uma
ação, o agente tem como resultado a prática de mais de um crime idêntico.
ROUBO – CRIME COMPLEXO
O roubo é um dos crimes complexos do nosso CP, mais conhecidos, é complexo porque há
junção de dois ou mais crimes.
Portanto, o crime de roubo é composto por um constrangimento, ameaça ou violência,
acrescido do furto.
É um crime complexo, pois atinge mais de um bem jurídico: o patrimônio e a liberdade
individual (no caso de ser empregada “grave ameaça”) ou a integridade corporal (nas
hipóteses de “violência”).
Com a ocorrência do crime complexo, há o desaparecimento dos crimes autônomos.
Todavia, para que o crime complexo seja consumado é necessário que todo o tipo penal seja
realizado.
Por exemplo: se o agente pretende praticar um crime de roubo, mas consegue apenas
empregar o constrangimento, a ameaça ou violência sem conseguir subtrair o objeto
desejado, o crime complexo restará tentado. Não há mais como separar um crime do outro.
Perceba que os crimes perderam sua autonomia, não mais subsistindo sozinhos.
A violência pode ser de três tipos:
I – Física: que compreende as vias de fato, lesão corporal leve, grave ou morte (essas duas
últimas qualificam o delito);
II – Moral: manifesta-se como o ato de atemorizar ou amedrontar a vítima com ameaças,
gestos ou simulações, como a de portar arma, por exemplo. A ameaça pode ser dirigida à
vítima ou a terceiro;
III – Imprópria: é a que reduz a capacidade de resistência, como a superioridade física do
agente, colocar droga na bebida da vítima, amarrar a vítima, hipnotizá-la, induzi-la a ingerir
bebida alcoólica até a embriaguez etc.
MODALIDADES DO CRIME DE ROUBO
No que concerne às modalidades do crime de roubo, estas podem ser classificadas do
seguinte modo:
Roubo Próprio: Está no caput do art. 157, no Código Penal, onde prevê o chamado roubo
próprio, este se constitui na ação de subtrair coisa móvel alheia mediante grave ameaça ou
violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência.
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A consumação do roubo próprio se dá com a efetiva subtração da coisa alheia, tendo o
sujeito ativo a posse pacífica do bem, ainda que por pouco lapso de tempo, isso nos leva a
concluir que para a consumação do roubo independe a posse pacífica do bem tutelado.
Por conseguinte, o “roubo próprio” consuma-se, segundo entendimento do STF, no exato
instante em que o agente, após empregar a “violência” ou “grave ameaça”, consegue
apoderar-se do bem da vítima, ainda que seja preso no próprio local, sem que tenha
conseguido a posse tranquila da “res furtiva”.
Roubo Impróprio: Está previsto no parágrafo primeiro do artigo 157, “logo após subtraída a
coisa, emprega violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade
do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro”.
No roubo impróprio, a subtração já se efetivou, consuma-se o crime com a violência
posterior, nesse caso não se admite a forma tentada.
Nesse caso, o roubo impróprio traz a tipificação quando a violência ou grave ameaça
ocorrem após a consumação da subtração, objetivando assim assegurar a posse da coisa
subtraída ou a impunidade do crime.
Logo, podemos falar que este crime é o ex-furto, ou seja, tinha tudo para ser furto, mas em
um último momento virou roubo.
CRIME DE ROUBO E O LATROCÍNIO
Importa destacar, que o latrocínio não é outra modalidade de crime, mas sim é uma forma
qualificada do crime de roubo, que possui aumento de pena, quando a violência empregada
resulta em morte.
Diferente do que muitos pensam, o latrocínio é uma espécie de crime contra o patrimônio e
não dos crimes contra vida, e está enquadrado no artigo 157, §3, II do Código Penal.
Deste modo, o que diferencia o latrocínio do homicídio simples é o dolo (intenção) do
criminoso.
No latrocínio o dolo é de tomar o objeto da outra pessoa mediante uso de violência ou
ameaça, e não de lhe tirar a vida, mas a morte acaba ocorrendo pela necessidade de
garantir a posse do bem ou pela forma de execução da conduta.
Sendo assim, as hipóteses em que ocorrerá o latrocínio, serão:
1- Homicídio consumado e roubo consumado: Haverá latrocínio.
2 – Homicídio tentado e roubo tentado: Haverá tentativa de latrocínio.
3 – Tentativa de homicídio e roubo consumado: Haverá tentativa de latrocínio.
4 – Homicídio consumado e roubo tentado: Haverá latrocínio.
O MOMENTO CONSUMATIVO
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Para tratarmos desse assunto é necessário compreender as teorias que tentam explicar o
momento consumativo do delito de roubo, são elas:
a) Da contrectatio: para essa teoria, bastava o contato físico com o objeto material do delito
para que esse se apresentasse perfeito, consumado, ou seja, quando o criminoso pega para
si o bem, sendo, para essa teoria, dispensável o deslocamento e/ou a posse mansa e pacífica
da coisa
b) Da apprehensio ou amotio: é a teoria mais aceita é atualmente a mais aplicada pela
jurisprudência e doutrina.
Para essa teoria, o delito de roubo consuma-se no momento em que o agente se torna
possuidor da res furtiva mediante grave ameaça ou violência, ainda que não obtenhaa
posse tranquila do bem, sendo desnecessário que saia da esfera de vigilância da vítima, com
a simples modificação da posse pelo agente concerne consumado o delito.
c) Da ablatio: adotada pela doutrina clássica, sustenta a necessidade da posse mansa e
pacífica do material subtraído.
Nesse caso, funciona da seguinte forma, se o agente realiza a violência ou grave ameaça
seguida da subtração do bem e logo após venha a ser perseguido por policiais ou terceiro
ou mesmo na esfera de vigilância da própria vítima e acaba detido em flagrante, estaria o
agente na tentativa da prática de roubo, ainda não teria alcançado a consumação do delito,
pois, sua posse ainda é turbadora, e não possui uma tranquilidade nem mesmo
momentânea.
Apesar da teoria da Amotio ser atualmente a mais utilizada em nossos tribunais e segue
como posicionamento dos tribunais superiores, a teoria da Ablatio ainda possui muita força,
e consequentemente julgamentos em primeiro grau ou mesmo nos TJs, ainda se posicionam
nesse sentido com frequência.
d) Da Illatio: para essa teoria, o momento consumativo se dará a partir do momento em que
o objeto subtraído for levado a um local calmo, tranquilo, de livre escolha do autor do delito,
culminando com o sucesso do iter criminis.
Antes de ocorrer esse locupletamento do bem, o crime seria tentado.
CAUSAS DE AUMENTO DA PENA:
Veremos agora as causas de aumento de pena aplicadas para o crime de roubo.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I – Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma (Revogado)
É necessário observar que esse inciso I foi revogado pela Lei 13.654/18. Essa expressão
contemplava armas de fogo, armas brancas, explosivos e armas impróprias (barras de ferro,
tacos de baseball, etc.).
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
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Aqui, há duas questões importantes a serem observadas: os agentes precisam estar
presentes no local da subtração para que haja concurso. Caso um deles esteja em outro
local, auxiliando à distância, não haverá o concurso de agentes.
Outro ponto é que não se exige que todos os agentes sejam imputáveis. Ainda que um deles
seja inimputável, haverá o aumento de pena.
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
A causa de aumento é autoexplicativa, mas devemos destacar a necessidade de que o
agente saiba que a vítima está transportando valores.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior;
A causa de aumento segue o mesmo previsto para o furto. Para que incida o aumento de
pena, é necessário que o veículo seja transportado ou, no caso da tentativa, que se
comprove a intenção de transportar o veículo para outro Estado ou para o exterior.
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
Vale ressaltar que a restrição da liberdade nessa causa de aumento é momentânea e deve
ter como objetivo a subtração dos bens das vítimas.
Caso a privação da liberdade tenha outro objetivo, como, por exemplo, a extorsão, será
caracterizado este outro crime, e não o roubo com aumento de pena.
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
Assim como no furto, o legislador visou a reprimir o uso de explosivos para outros ilícitos,
sendo que o roubo desses itens traz um aumento de pena.
VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
A Lei 13.964/2019 passou a prever mais uma majorante do crime de roubo, que incide no caso
de emprego de arma branca. Nesse caso, aumenta-se a pena de um terço até metade. Tal
alteração só vale para os crimes cometidos a partir do início da vigência da Lei 13.964/2019.
É importante ter em mente que não se deve considerar a arma de brinquedo para a
incidência da majorante, já que não se trata propriamente de arma, mas apenas de um
objeto que pode enganar a vítima, configurando a grave ameaça, elementar do tipo penal.
Mas, então, o que seria uma arma branca? Anteriormente a majorante fazia referência
apenas ao emprego de arma, sem qualquer especificação. Portanto, incluía-se a arma de
fogo (revólver e espingarda, por exemplo), a arma branca (espada, por exemplo) ou a arma
imprópria (pedra pontiaguda, por exemplo). Com o advento da Lei 13.654/2018, tal majorante
foi revogada e previu-se apenas a majorante do uso de arma de fogo no parágrafo 2º do art.
157 - que continua em vigor, como veremos logo adiante.
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Nesse contexto, a Lei 13.964/2019 tentou corrigir essa alteração, incluindo a majorante do
emprego de arma branca. Entretanto, ficou a dúvida se é possível incluir nas hipóteses da
majorante apenas as armas brancas propriamente ditas, ou seja, aqueles objetos fabricados
especificamente para utilização como arma, como uma espada, um canivete ou um punhal,
ou também é possível incluir as armas impróprias, como uma garrafa, uma barra de ferro,
uma faca de cozinha, um caco de vidro ou uma pedra, por exemplo. De qualquer forma, será
preciso analisar a interpretação que será dada pelo judiciário nesses casos.
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
Com a alteração legislativa que mencionamos, o emprego de arma de fogo implica aumento
de pena de 2/3.
Aqui o legislador foi específico ao mencionar arma de fogo. Lembre-se de que a
interpretação não poderá ser extensiva, de modo que não são abarcados outros tipos de
armas.
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
O parágrafo 2º-B do artigo 157, do Código Penal, foi incluído pela Lei 13.964/2019 e determina
que a pena de reclusão de quatro a dez anos e multa, prevista no caput do artigo, deve ser
aplicada em dobro, passando a ser de 8 a 20 anos de reclusão, nos casos em que houver
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. Tais armas são definidas pelo Decreto
9.847/2019, que regulamenta a Lei 10.826/2003.
ROUBO QUALIFICADO E LESÃO CORPORAL GRAVE
O crime de roubo qualificado, previsto no artigo 157, § 3º, primeira parte, do Código Penal,
caracteriza-se quando a lesão corporal de natureza grave se consuma, ainda que o agente
não obtenha a subtração de bens da vítima (Súmula nº 610 do STF).
Roubo qualificado pelo resultado lesão corporal grave (art 157, § 3º, primeira parte, CP)
A pena será de reclusão, de 7 a 15 anos, e multa, se da violência resultar lesão corporal
grave.
Lesão corporal grave, segundo o art. 129, §§ 1º e 2º, do Código Penal, é aquela de que resulta:
incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias; perigo de vida; debili-dade
permanente de membro, sentido ou função; aceleração de parto; incapacidade permanente
para o trabalho; enfermidade incurável; perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
deformidade permanente; aborto.
Não há que se distinguir, para a caracterização do tipo em estudo, lesão corporal grave e
gravíssima. Aliás, o Código Penal não faz essa distinção, que é meramente didática e
doutrinária. Para a legislação, tanto é lesão corporal de natureza grave aquela do § 1º
quanto a do § 2º, do art. 129, CP.
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Caberá ao Juiz, no instante da dosimetria da pena, considerar as consequências do crime e
avaliar se a lesão foi grave ou gravíssima, aumentando a pena-base nessa última hipótese,
mais danosa.
Se a lesão for apenas leve, servirá para a tipificação da conduta no art. 157, caput, do CP.
Destaca-se que a lesão grave deverá decorrer da violência empregada. Não caracteriza o
art. 157, § 3º, primeira parte, a lesão decorrente de violência imprópria ou grave ameaça,
respondendo o agente, nesse caso, por roubo em concurso com outro delito (doloso ou
culposo).
Nada obstante, o resultado agravadorpoderá ser alcançado dolosa ou culposamente (art.
19, CP). Entendemos que, se a lesão grave era pretendida pelo agente ou ele efetivamente
assumiu o risco de produzi-la (dolo), sua culpabilidade será mais acentuada do que se a
tiver praticado culposamente, razão pela qual deverá ser bem avaliado pelo julgador na fase
do art. 59, CP, para uma correta individualização da pena.
A lesão grave deverá atingir outra pessoa, que não o próprio agente ou seu comparsa.
Poderá alcançar, assim, a vítima patrimonial, uma pessoa que passava próxima, um vigia ou
segurança etc.
A consumação do delito se dá com a produção do resultado lesão corporal grave,
independentemente da subtração. É delito que se aperfeiçoa com o resultado agravador,
prescindindo, a partir daí, da perda patrimonial. O tipo penal, aliás, não exige o êxito na
subtração, prevendo a pena de 7 a 15 anos, e multa, para a hipótese de resultar lesão
corporal grave, silenciando em relação ao patrimônio.
Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo, foi editada a seguinte tese
de recursos especial e extraordinário:
ROUBO - CONSUMAÇÃO - LESÃO CORPORAL GRAVE CONSUMADA E SUBTRAÇÃO TENTADA.
Considera-se consumado o crime de roubo previsto no artigo 157, § 3º, primeira parte, do
Código Penal quando há lesão corporal grave, ainda que a subtração tenha sido tentada.
(D.O.E., 09/06/2010, p. 57). Tese-328.
ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO MORTE - LATROCÍNIO
Se da violência resultar morte, a sanção será de reclusão, de 20 a 30 anos, e multa. Como
dito acima, o resultado agravador deve decorrer da violência empregada, e não da grave
ameaça ou da violência imprópria, hipóteses em que poderá existir concurso de delitos.
O termo latrocínio não é empregado pelo Código Penal, mas é reconhecido legalmente, já
que a Lei de Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90) o emprega no art. 1º, II.
Frise-se, desde logo, que latrocínio é apenas a conduta prevista no art. 157, § 3º, parte final
do Código Penal (resultado morte), não alcançando sua parte inicial, ou seja, o resultado
lesão corporal grave. É o que se extrai da Lei de Crimes Hediondos, que diz: "Art. 1º. São
considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Dec.-lei 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: II - latrocínio (art. 157, § 3º, in
fine)".
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Como se vê, a própria legislação, no instante em que empregou a expressão latrocínio, o fez
com remessa à parte final do § 3º do art. 157. A hediondez existirá mesmo em se tratando de
latrocínio tentado.
É latrocínio tanto a conduta de matar, para roubar, quanto a de roubar e matar para
assegurar a detenção da res ou a impunidade do crime. O dolo do agente, voltado para a
subtração, definirá a tipificação. Se, então, tiver ele a intenção de matar por outro motivo,
que não o objetivo patrimonial, haverá homicídio. Na hipótese em que o agente mata uma
pessoa, por exemplo, em razão de uma discussão e, aproveitando-se da oportunidade,
efetua uma subtração subsequente, terá cometido homicídio em concurso material com
furto. Aqui, como a morte já ocorreu, a vítima da subtração será o sucessor do falecido.
Observe-se que não há patrimônio sem herdeiro. A transmissão da herança ocorre, pelo
sistema brasileiro, no exato instante da morte (art. 1.784, CC); e, em último caso, na falta de
parente sucessível, o patrimônio pertencerá ao Município, Distrito Federal ou a União (art.
1.844, CC).
O resultado morte poderá ser atingido dolosa ou culposamente (art. 19, CP), constituindo-se
em delito preterdoloso nessa última situação (dolo no antecedente, culpa no consequente),
que, então, não admitirá tentativa, pois ou a morte ocorre e o latrocínio é tido por
consumado, ou não ocorre e haverá o roubo simples ou mesmo com resultado lesão grave.
Discute-se, contudo, acerca da possibilidade de tentativa de latrocínio.
Se a subtração e a morte se consumam, não há dúvida, o latrocínio estará consumado.
Se a subtração é tentada e a morte consumada, há latrocínio consumado.
É que, mais uma vez, a consumação do delito se dá com a produção do resultado morte,
independentemente da subtração. É delito que se aperfeiçoa com o resultado agravador,
prescindindo, a partir daí, da perda patrimonial. O tipo penal não exige o êxito na
subtração, prevendo a pena de 20 a 30 anos, e multa, para a hipótese de resultar morte,
silenciando em relação ao patrimônio.
Nessa linha, a orientação do Supremo Tribunal Federal é firme e sumulada:
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima.
Atenção: no âmbito do Ministério Público do Estado de São Paulo, em atendimento a essa
orientação jurisprudencial, foi editada a seguinte tese de recursos especial e extraordinário:
LATROCÍNIO - CONSUMAÇÃO - TENTATIVA DE SUBTRAÇÃO - HOMICÍDIO CONSUMADO -
SÚMULA 610 DO STF. "Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima". (D.O.E., 30/04/2008, p. 59) - Tese-287.
As discussões se acendem quando a subtração é consumada e a morte tentada ou quando
ambas são tentadas.
Imagine-se a hipótese em que o agente ingressa num estabelecimento bancário e, para
efetuar a subtração, dispara a arma de fogo contra o tórax da vítima, um vigilante, que só
não vem a falecer porque usava colete à prova de balas, resultando-lhe apenas lesão leve
(uma escoriação).
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É inegável, na hipótese, que o autor do roubo atirou para matar a vítima, mas não alcançou
seu objeto por razões alheias à sua vontade. Também é inequívoco que o seu dolo estava
dirigido ao patrimônio, de forma que a morte pretendida estava atrelada (nexo de
causalidade) ao crime do art. 157, CP. Houve aqui, portanto, latrocínio tentado.
TABELINHA:
Art. 157, caput Roubo simples próprio Reclusão 4 a 8 anos + multa
Art. 157, §1º Roubo simples impróprio Reclusão 4 a 8 anos + multa
Art. 157, §2º Roubo majorado Aumento 1/3 até 1/2
Art. 157, §2º-A
Lei 13.654/18
Roubo majorado Aumento 2/3
Art. 157, §3º
Inciso I
Roubo qualificado pelo
resultado lesão corporal
grave
Reclusão 7 a 18 anos + multa
Art. 157, §3º
Inciso II
Roubo qualificado pelo
resultado
morte/latrocínio
Reclusão 20 a 30 anos +
multa
EXTORSÃO
art 158
Conforme artigo 158 do Código Penal, o crime de extorsão caracteriza-se pela conduta de
constranger alguém a fazer, tolerar ou deixar de fazer algo, sob violência ou grave ameaça,
com objetivo de obter vantagem indevida. Trata-se de crime contra o patrimônio, com pena
que pode variar de 6 a 12 anos de reclusão e multa, se o crime for cometido mediante
restrição da liberdade da vítima para a obtenção da vantagem econômica. Nesse tipo de
crime, geralmente é exigido algum ato ou colaboração da vítima.
O crime que costuma ser noticiado como sequestro adequa-se ao artigo 159 do Código
Penal, que trata do crime de extorsão mediante sequestro. Nesse caso, a conduta criminosa
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é a restrição de liberdade com objetivo de obter um resgate ou valor para liberdade da
vítima. Este também é considerado um crime contra o patrimônio, no entanto a pena varia
de 8 a 15 anos de reclusão, podendo chegar a 30 anos se o crime resultar em morte. Para
caracterização deste crime, não há necessidade de nenhum tipo de conduta da vítima.
O Código Penal ainda prevê outro ilícito, considerado crime contra a liberdade individual,
que pode ser confundido com os acima mencionados, o crime de sequestro e cárcere
privado, constante do artigo 148, que se caracteriza pela privação de liberdade de alguém
sem exigir nenhum tipo de vantagem. A pena é de 1 a 3 anos de reclusão, sendo que
dependendo do caso a pena pode chegar a 8 anos de reclusão.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL
art 146
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei
permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Aqui, diferente do crimeanterior, a intenção do agente é conseguir fazer com que a outra
pessoa aja (ou deixe de agir). O constrangimento utilizado pelo criminoso é apenas o meio
para alcançar aquele fim. No crime anterior, o constrangimento era o objetivo em si. Neste
crime, ele é um instrumento.
Outro ponto importante a ser mencionado é que se o constrangimento ilegal for cometido
por funcionário público no exercício de suas funções o crime será de abuso de autoridade.
Bem como se o constrangimento ilegal tem por finalidade exclusivamente uma vantagem
econômica, estaremos diante do crime de extorsão.
Quanto às causas especiais de aumento da pena, vê-se por certo que o crime de
constrangimento ilegal encontra aumento da pena quando houver i. mais de três agentes; ii.
Emprego de arma. Aumenta-se a pena em dobro acrescido de multa.
Por fim, excluem a tipicidade a i. Intervenção médica, sem consentimento, quando justificada
por iminente perigo de vida; e ii. Coação exercida para impedir o suicídio; uma vez que resta
configurado estado de necessidade de terceiro.
Repare que a extorsão é quase idêntica ao constrangimento ilegal. A diferença é que, na
extorsão, o criminoso tem um objetivo específico: obter uma vantagem econômica indevida
GOLPE DE FALSO SEQUESTRO
A situação é muito comum. Geralmente o bandido liga em um número aleatório ou para a
vítima escolhida previamente, diz estar de posse de alguém da família e pede um depósito
bancário como resgate.
Conforme as Polícias Militar e Civil, o golpe do falso sequestro não é tipificado como crime
pelo Código Penal, isso dificulta a construção de um cadastro estatístico. Denúncias deste
tipo são sempre registradas como extorsão ou estelionato, o que impossibilita que os dados
sejam filtrados e compilados e se tenha a real dimensão do número de ocorrências diárias.
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Outra situação que dificulta é o fato de a maioria das pessoas não fazer o Boletim de
Ocorrência, principalmente quando o caso não gerou consequências. Mas o fato é que o
crime é muito comum e muitas pessoas ainda continuam caindo na mentira.
Por ter ficado muito conhecido, os bandidos estão mudando de tática. Agora a bola da vez é
o golpe do carro quebrado. Em vez de anunciar um suposto sequestro eles começam
pedindo benção e dizendo ser um sobrinho que está com o carro quebrado na estrada e
pedindo dinheiro para o conserto do veículo.
Uma quadrilha que se utilizava desta técnica foi desarticulada recentemente pela Gerência
de Combate ao Crime Organizado (GCCO) da Polícia Civil. Três do bando já estavam presos
na Penitenciária Central do Estado e lá de dentro faziam as ligações. Outros quatro
golpistas estavam fora da cadeia, inclusive, uma mulher que havia cedido a conta bancária
para o depósito.
EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES
art 345
O crime de exercício arbitrário das próprias razões está previsto no artigo 345 do Código
Penal, que além da pena correspondente à violência, prevê pena de detenção (de 15 dias a 1
mês) ou multa, para aquele que fizer justiça pelas próprias mãos para satisfazer pretensão
sua, ainda que legítima, salvo quando a lei permita.
Art. 345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo
quando a lei o permite:
Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à
violência.
Parágrafo único. Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
A tipificação do crime de exercício arbitrário das próprias razões ocorreu em vista da
proibição da autotutela. Antigamente, a tutela para solução de conflitos era dos próprios
envolvidos ou de espécies de chefes de tribos, tratando-se de algo similar a uma justiça
privada, que se denomina “autotutela”.
Com o evoluir da sociedade, a tutela para solução dos conflitos foi transmitida para o
Estado, que passou a ter o monopólio da jurisdição. Posto isto, visando a organização
social, foi tipificado o exercício arbitrário das próprias razões, vedando a prática da “justiça
pelas próprias mãos” que ocorria nas sociedades regressas.
Desta forma, o Estado apropria-se do conflito social ao retirar a possibilidade de resolução
de conflitos das mãos do cidadão, entregando-a ao poder judiciário, que passa a deter o
monopólio da jurisdição e da força. Sendo assim, em via de regra, a autotutela passou a ser
proibida, cabendo tão somente ao Estado o uso legítimo da força. A pretensão a ser
satisfeita pode ser do próprio agente ou mesmo de terceira pessoa, desde que legítima.
A conduta será considerada atípica e não haverá a infração penal em estudo, quando a
própria lei admite a possibilidade de atuação pessoal do agente, como, por exemplo, nos
casos de legítima defesa e exercício regular de direito. Nesses casos, o estudo da causa de
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justificação é antecipado para o próprio tipo penal, conforme explicita a última parte do art.
345 do Código Penal.
Posto isto, as situações excepcionais, autorizadas por lei, em que se admite a autotutela, são
as seguintes: a legítima defesa, o estado de necessidade e o exercício regular do direito
(previstos no artigo 23 do CP); direito de greve (art. 9º da Constituição Federal); direito à
retenção de bagagem ou bens móveis nos casos do artigo 1.467 e de outros artigos do
Código Civil); poda de galhos de árvore dos vizinhos (artigo 1.283 do Código Civil); e a
proteção possessória (artigo 1.210 do Código Civil).
A doutrina classifica o crime como crime comum em relação aos sujeitos ativo e passivo;
doloso; comissivo, podendo ser praticado via omissão imprópria, nos termos do artigo 13, §
2º,do Código Penal; instantâneo; de forma livre; monossubjetivo; plurissubsistente;
transeunte.
No tocante aos sujeitos, qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo, haja vista que o tipo do
artigo 345 do Código Penal não exige qualidade ou condição especial. O sujeito passivo é o
Estado, bem como aquele prejudicado com a conduta praticada pelo sujeito ativo.
A Administração Pública é o bem protegido pelo tipo penal que prevê o delito do artigo 345
ou, mais especificamente, o monopólio da jurisdição. O objeto material é a pessoa ou a coisa
contra a qual é dirigida a conduta praticada pelo agente.
O delito se consuma quando o agente, efetivamente, fazendo justiça com as próprias mãos,
consegue satisfazer sua pretensão. Haja vista tratar-se de crime plurissubsistente, será
possível o reconhecimento da tentativa. O dolo é o elemento subjetivo exigido pelo tipo
penal em estudo, não havendo previsão para a modalidade culposa.
A conduta do artigo 345 do Código Penal pressupõe um comportamento comissivo por parte
do agente. No entanto, o delito poderá ser praticado via omissão, quando o agente,
garantidor, podendo, nada fizer para evitar a prática da infração penal em exame, devendo,
portanto, também responder pelo delito de exercício arbitrário das próprias razões, nos
termos do artigo 13, § 2º, do Código Penal.
Há presença do concurso formal impróprio, tendo em vista o disposto na parte final do 345.
Tal concurso está previsto na segunda parte do artigo 70 do Código Penal, aplicando-se a
regra do cúmulo material entre os crimes de exercício arbitrário das próprias razões e
aquele resultante da violência.
A pena cominada ao delito de exercício arbitrário das próprias razões é de detenção, de
15(quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. A ação
penal será privada, passando a ser de natureza pública incondicionada se houver emprego
de violência contra a pessoa.
Durante os estudos deste tema, suscitou-se uma questão curiosa: a profissional do sexo, ao
subtrair um cordão de ouro do cliente que não realizou o pagamento dos serviços, praticou
roubo ou exercício arbitrário das próprias razões?
No julgado analisado, o juiz de primeira instância entendeu que a profissional do sexo
praticou o crime de exercício arbitrário das próprias razões. O Ministério Público, no
entanto, recorreu e o Tribunal de Justiça de Tocantins deu provimento parcial à apelação e
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a condenou pelo crime de roubo, por entenderque serviços prestados por profissional do
sexo não seriam passíveis de cobrança judicial.
O Superior Tribunal de Justiça por meio do Habeas Corpus (HC) 211.888-TO, de relatoria do
Ministro Rogério Schietti, foi convocado para solucionar tal impasse. O relator Rogério
Schietti argumentou que, de acordo com o Código Brasileiro de Ocupações de 2002
(regulamentado pela Portaria do Ministério do Trabalho 397, de 9 de outubro de 2002) os(as)
profissionais do sexo são expressamente citados no item 5198 como uma categoria de
profissionais, a atividade relacionada ao comércio sexual do próprio corpo não é ilícita e,
portanto, trata-se de atividade passível de proteção jurídica.
Com base em tal fundamentação, o relator assegurou que a profissional do sexo, pôde-se
valer da Justiça para exigir o pagamento de seus serviços e que, portanto, incorreu no
delito de exercício arbitrário das próprias razões e não no crime de roubo.
Por fim, é importante delimitar a competência do julgamento do delito em tela. Compete,
inicialmente, ao Juizado Especial Criminal o processo e julgamento do exercício arbitrário
das próprias razões, em virtude da pena máxima cominada em abstrato, que não ultrapassa
o limite de 2 (dois) anos, imposto pelo art. 61 da Lei nº 9.099/95. Será possível, também, a
confecção de proposta de suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei
nº 9.099/95.
USURPAÇÃO
art 161
O crime de usurpação está descrito no capítulo III do CP, no artigo 161. Dentro da usurpação
há 3 modalidades delituosas, como veremos: Alteração de Limites, Usurpação de Águas e
Esbulho Possessório.
Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha
divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
O bem jurídico protegido é a propriedade e posse. Em razão da pena cominada, cabe
transação penal e suspensão condicional do processo.
O sujeito ativo pode ser tanto o proprietário do prédio contíguo quanto seu futuro
comprador. Percebam que o crime de usurpação na modalidade alteração de limites não é
um crime comum, mas sim um crime próprio, pois é preciso que haja uma especial relação
do sujeito ativo com o imóvel em questão.
O sujeito passivo será o proprietário ou possuidor legítimo do imóvel cuja área será
alterada.
Os núcleos das condutas são o ato de suprimir (fazer desaparecer) e deslocar (alterar o
lugar) tapume (cerca), marco ou sinal de linha divisória. Trata-se de crime doloso, em que há
necessidade de prova da intenção de se apropriar da coisa imóvel alheia.
A consumação se dá com a simples supressão ou deslocamento da linha divisória,
tratando-se portanto de crime formal, pois independe do efetivo apoderamento da coisa
imóvel alheia.
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Usurpação de Águas:
O §1º, inciso I deste artigo traz a modalidade “Usurpação de Águas”, com as mesmas penas
da modalidade do caput. Vejamos:
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;
Qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo desse crime (crime comum), ao passo que o sujeito
passivo é justamente quem teve suas águas usurpadas.
O crime em questão também só será punido a título de dolo, com o elemento subjetivo “em
proveito próprio ou alheio”. Ou seja, é necessário que haja aproveitamento, vantagem injusta
ao usurpador. A consumação se dá com o desvio ou represamento das águas, não
importando se houve ou não o deferimento dessa vantagem (crime formal).
Esbulho Possessório
A terceira modalidade de Usurpação prevista no Código Penal é o Esbulho Possessório,
contido no §1º, II e nos §§ 2º e 3º. Vejamos:
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede
mediante queixa.
Como podemos perceber, trata-se de crime comum, pois qualquer pessoa poderá ser sujeito
ativo desse crime, desde que não seja ele o proprietário do imóvel. Isso porque a
reivindicação violenta realizada pelo próprio dono do imóvel, estará configurado exercício
arbitrário das próprias razões (art. 345, CP), e não esbulho possessório. O sujeito passivo é
aquele que tem a posse legítima do imóvel invadido.
O que caracteriza esse crime é a conduta de invadir. Essa invasão poderá se dar de 3
formas:
1. Mediante concurso de mais de duas pessoas;
2. Com violência sobre a pessoa;
3. Com grave ameaça à pessoa.
O objetivo do esbulho sempre será o de tomar o imóvel para si o imóvel. A consumação se dá
a partir da invasão, admitindo-se tentativa.
A jurisprudência do STJ converge no sentido de considerar o movimento popular pela
reforma agrária descaracteriza esse crime. Isso porque o direito à terra trata-se de direito
coletivo, que deveria ser efetivado pelo Poder Público. Além disso, a atividade política de
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cunho reivindicatório é intrínseca ao Estado Democrático de Direito e não deve ser
suprimida por meio da criminalização.
DANO
art 163
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais
grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de
autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos;
(Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.
O texto do código penal, em seu artigo 163 menciona três elementos específicos presentes no
crime de dano, quais sejam:
1. destruir;
2. inutilizar;
3. deteriorar.
A pessoa que cometer qualquer um desses verbos a um objeto específico, qual seja: coisa
alheia, poderá ser punido com uma pena de um a seis meses, ou multa.
Quando falamos em destruir, estamos nos referindo ao ato de extinguir ou eliminar.
Por outro lado, quando falamos em inutilizar, estamos nos referindo a deixar uma coisa sem
utilidade, não servindo mais para aquilo ao qual foi criada inicialmente.
Deteriorar é estragar a coisa sem que esse “estrago” acabe totalmente com ela.
Classificação do crime de dano e bem juridicamente protegido:
A doutrina costuma mencionar o crime de dano como sendo um crime comum, doloso,
material, comissivo (podendo ser praticado via omissão imprópria), de ação múltipla, de
dano e de forma livre.
Quanto ao bem protegido, podemos mencionar que trata-se de um patrimônio, sem
características específicas, podendo ele ser privado ou público, móvel ou imóvel, desde que
seja coisa alheia.
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Sujeitos
Por ser um crime comum, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo, exceto o próprio dono da
coisa, uma vez que o texto da lei deixa claro se tratar de uma punição a quem destruir,
inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Se, por exemplo, João tem um carro e o arremessa de frente a um muro de propósito, é de se
mencionar que não estamos diante de um caso de dano sujeito às regras do artigo 163 do
código penal.
Entretanto, caso João empreste este automóvel ao seu primo, que com dolo o arremessa
contra o muro, poderá responder pelo crime de dano.
Além disso, vale mencionar que o crime de dano só pode ser praticado dolosamente, não
existindo a previsão para a modalidade culposa.
O dano qualificado
A segunda parte do artigo 163 do código penal, menciona quatro casos de dano qualificado.
Nesses casos, a pena será de detenção de seis meses a três anos e multa, além da pena
correspondente à violência.
O primeiro caso está relacionado ao dano praticado com violência à pessoaou grave
ameaça.
Ou seja, aqui, a violência a pessoa ou grave ameaça são meios utilizados para a prática do
dano. Caso ele seja cometido antes e a violência a pessoa ou grave ameaça depois, não há
de se falar em dano qualificado.
O inciso II trata do dano cometido com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o
fato não constitui crime mais grave.
Como mencionado anteriormente, para que o crime seja qualificado, é necessário que tal
qualificadora seja utilizada como meio para a prática do crime.
Logo, caso a utilização de substância inflamável ou explosiva ocasione uma explosão (por
exemplo), estaríamos diante de um outro tipo de crime e não do crime de dano qualificado.
Já o inciso III trata do dano cometido contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito
Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos.
Trata-se de revisão legislativa inserida por meio da lei 13.531/2017, elencando todos os órgãos
anteriormente esquecidos pelo legislador infraconstitucional e que merece uma atenção
especial no estudo para a sua prova ou concurso público.
Por fim temos o dano cometido por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a
vítima.
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De natureza subjetiva, o motivo egoístico não pode ser invocado em casos de
coparticipação. Trata-se de um caso em que o agente busca proveito pessoal indireto.
Já o prejuízo considerável para a vítima deve ser analisado em conjunto com as
possibilidades econômicas da vítima para se analisar se a perda do objetivo ocasionou o
mencionado prejuízo.
LEI DE CRIMES AMBIENTAIS
9.605/98
As penas previstas pela Lei 9.605 são instituídas, pelo direito ambiental, de acordo com a
gravidade do crime. Nesse sentido, quanto mais condenável for a infração, mais severa será
a sanção penal.
A pena poderá implicar: reclusão (cumprimento em regime penitenciário); restrição de
direito; prestação de serviços à comunidade; suspensão de atividades; interdição
temporária de direitos; prestação pecuniária; recolhimento domiciliar; ou multa.
ESTELIONATO
art 171
O crime de estelionato exige quatro requisitos, obrigatórios para sua caracterização: 1)
obtenção de vantagem ilícita; 2) causar prejuízo a outra pessoa; ; 3) uso de meio de ardil, ou
artimanha, 4) enganar alguém ou a levá-lo a erro. A ausência de um dos quatro elementos,
seja qual for, impede a caracterização do estelionato. Alguns golpes comuns que são
enquadrados como estelionato são o golpe do bilhete premiado e o golpe do falso emprego.
O crime aceita apenas a forma dolosa, ou seja, que haja real intenção de lesar , não havendo
previsão forma culposa, ou sem intenção.
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena
conforme o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria:
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de
ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em
prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
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Defraudação de penhor:
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa:
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a
saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização
ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque:
VI - emite cheque sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de
direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.
ESTELIONATO E CRIME IMPOSSÍVEL
Na jurisprudência, há vários casos de acolhimento da tese de crime impossível. Inclusive, as
situações se repetem com muita frequência.
A seguir, algumas decisões favoráveis à defesa:
Apelação. Estelionato. Desfalque caixa. Fácil constatação. Atos preparatórios. Crime
impossível. Absolvição. 1 – Não há que se falar em crime de estelionato, por desfalque em
caixa, quando for facilmente constatado o ardil ou outro meio fraudulento, pois a conduta
não tem capacidade de enganar a vítima, conforme doutrina e jurisprudência. 2 – Recurso
conhecido e provido. (TJ-AM 02366332120128040001 AM 0236633-21.2012.8.04.0001, Relator: Dr.
Elci Simões de Oliveira, Data de Julgamento: 26/03/2018, Segunda Câmara Criminal)
APELAÇÃO CRIMINAL. TRÊS TENTATIVAS DE ROUBOS SIMPLES. IMPRATICÁVEL
POSSIBILIDADE DE CONSUMAÇÃO RELATIVAMENTE À ÚLTIMA VÍTIMA ABORDADA. CRIME
IMPOSSÍVEL. ABSOLVIÇÃO. Constitui crime impossível aquele que, pela ineficácia total do
meio empregado ou pela impropriedade absoluta do objeto material, é impossível de se
consumar. Hipótese em que o réu faz abordagem espoliativa a policial militar à paisana,
imaginando tratar-se de um mero transeunte. O miliciano, por sua vez, já sabia que o
infrator portava um mero simulacro de arma de fogo e aproximou-se do local do crime
justamente para fazer a apreensão do agente. APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. (TJ-GO –
APR: 491374720168090168, Relator: DES. JOAO WALDECK FELIX DE SOUSA, Data de Julgamento:
14/11/2017, 2A CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: DJ 2397 de 30/11/2017)
PENAL. PROCESSO PENAL. ART. 14 DA LEI 10.826/2003. ARMA DE FOGO INAPTA PARA EFETUAR
DISPAROS. ATIPICIDADE. AUSÊNCIA DE POTENCIALIDADE LESIVA. CRIME IMPOSSÍVEL.
ABSOLVIÇÃO. PROVIMENTO. Comprovada por laudo pericial a completa inaptidão da arma
de fogo para efetuar disparos, a conduta de porte é atípica diante da ausência de afetação
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do bem jurídico à incolumidade pública, tratando-se de crime impossível pela ineficácia
absoluta do meio. Precedentes do STJ. Apelo provido.
(TJ-DF 20171010031107 DF 0003038-28.2017.8.07.0010, Relator: MARIO MACHADO, Data de
Julgamento: 27/09/2018, 1ª TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE :
09/10/2018 . Pág.: 92/104)
APELAÇÃO CRIMINAL – FALSIDADE IDEOLÓGICA – MEIO ABSOLUTAMENTE INEFICAZ – CRIME
IMPOSSÍVEL – ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 1. Tendo o réu promovido a adulteração do
documento de forma grosseira, na frente dos Policiais Militares, impossível se tornou a
consumação do crime, pelo que deve ser mantida a absolvição. 2. Recurso não provido.
(TJ-MG – APR: 10239100013808001 MG, Relator: Eduardo Brum, Data de Julgamento: 22/06/2016,
Câmaras Criminais / 4ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 29/06/2016)
APELAÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 16 DA LEI 10.826/2003. MATERIALIDADE. ARMA INAPTA PARA
EFETUAR DISPAROS. ATIPICIDADE. AUSÊNCIA DE POTENCIALIDADE LESIVA. CRIME
IMPOSSÍVEL. ABSOLVIÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. PROVIMENTO. 1. Demonstrada por laudo
pericial a completa inaptidão da arma de fogo para efetuar disparos, a conduta de portá-la
é atípica diante da ausência de afetação do bem jurídico incolumidade pública, tratando-se
de crime impossível pela ineficácia absoluta do meio. Precedentes do Superior Tribunal de
Justiça. 2. Apelação conhecida e, no mérito, provida.
(TJ-DF 20150510075905 DF 0007528-79.2015.8.07.0005, Relator: MARIA IVATÔNIA, Data de
Julgamento: 08/03/2018, 2ª TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE :
16/03/2018 . Pág.: 185/200)
APELAÇÃO CRIMINAL. ALTERAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO VERDADEIRO. ALTERAÇÃO
GROSSEIRA. CRIME IMPOSSÍVEL. ABSOLVIÇÃO.1- Tendo o agente apresentado documento
cuja alteração foi imediatamente diagnosticada, sem condições mínimas de iludir o homem
médio, impõe-se a sua absolvição por tratar-se falsificação grosseira, caracterizando o
chamado crime impossível, por absoluta ineficácia do meio. 2- Recurso provido, estendendo
os efeitos do julgado ao co-réu não apelante.
(TJ-MG – APR: 10210110074668001 MG, Relator: Antônio Armando dos Anjos, Data de Julgamento:
27/05/2014, Câmaras Criminais / 3ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 03/06/2014)
Os casos acima envolvem situações como falsificações grosseiras e inaptidão da arma de
fogo para efetuar disparos. Contudo, há outros exemplos menos frequentes na prática, mas
normalmente lembrados pelos doutrinadores.
Alguns exemplos são os seguintes:
1. atirar contra um cadáver (objeto absolutamente impróprio);
2. atirar com uma arma descarregada (meio absolutamente ineficaz);
tentar matar com substância que não é venenosa (meio absolutamente ineficaz). Contudo, se
o veneno for apto, mas ministrado em dose insuficiente, o meio será relativamente ineficaz,
havendo tentativa, pois não se trata de crime impossível.
CRIME DE FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO
O crime de falsidade documental é um crime contra a fé pública. Esses crimes de falsidade
podem ser divididos em duas categorias: os de falsidade material e os de falsidade
ideológica. Integram o primeiro grupo os delitos dos artigos 296, 297, 298, 301, § 1º, 303 e 305.
Por sua vez, são crimes de falsidade ideológica, os listados nos artigos 299, 301 e 302,
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havendo figuras comuns, como relata Magalhães Noronha, às duas espécies de falsidade,
como as do § 2º do artigo 301 e do artigo 304.
Protegem-se a fé pública no tocante ao selo público destinado à autenticação e ao selo ou
sinal atribuído à entidade de direito público, autoridade ou tabelião. Não são propriamente
documentos, mas estes são opostos para integrá-los e dar-lhes autenticidade. No caso,
trata-se de crime formal, onde consuma-se a falsificação de forma independente de
qualquer resultado. A expressão faz uso inscrita no tipo significa, além da utilização normal
do selo ou sinal como forma de autenticação, a compra, venda, troca, etc, do selo ou sinal
falsificado.
A conduta punível é a de fazer uso, que significa empregar, utilizar. Incrimina-se o
comportamento de quem faz uso de documento materialmente falsificado, como se fora
autêntico ou emprega documento que é ideologicamente falso, como se verdadeiro fora.
Trata-se de uma conduta comissiva e o documento deve ser utilizado em sua destinação
própria, com relevância jurídica, exigindo-se o uso efetivo, não bastando a mera alusão ao
documento. O crime é doloso.
Prevê o artigo 297 do Código Penal o crime de falsificação de documento: ̈Falsificar, no todo
ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro, com pena de
reclusão de dois a seis anos e multa. Tutela-se a fé pública, no tocante aos documentos
públicos e aos que lhe são equiparados por força da lei penal, levando-se em conta que é
mais grave a ofensa à fé pública quando a falsificação tem por objeto documento emanado
de autoridade ou funcionário, no exercício regular de sua função, o que, na lição de Heleno
Cláudio Fragoso, constitui normalmente uma garantia exterior de autenticidade.
No entanto, a mera correção de erros materiais, em documento, não constitui crime.
Pode ocorrer, inclusive, a ocorrência de crime de falso em documento nulo.
Consuma-se o crime com a alteração, independente de seu uso ou qualquer consequência
ulterior (RT 505/304, 539/356, dentre outros).
Por sua vez, não se configura o crime de falsum, artigo 297, a alteração da chapa
identificadora do veículo, que é punida nos termos do artigo 311 do Código Penal.
Documento público, considerado como tal, é o que deve ser elaborado por funcionário
público no desempenho de suas atribuições. O falsário não responde, em concurso, pelos
crimes de falso e uso de documento falsificado. Já se entendeu que, na progressão
criminosa (quando há duas ou mais infrações penais, há dois fatos e não só um, como no
crime progressivo), ele só responde pelo crime de falso (STF, RTJ 102/954; RHC 58.602). Há
ainda entendimento de que ele só responde pelo crime de uso (STJ, CComp 3.115, DJU 7
.12.92).
Por outro lado, nos casos de estelionato cometido contra a instituição pública, há o que
chamamos estelionato qualificado, com previsão de causa de aumento de pena de 1/3
(artigo 171, § 3º, do Código Penal).
São várias as hipóteses para o concurso entre o crime de falso e estelionato.
49
Caracteriza-se o crime de estelionato, se o agente se serve de documento forjado,
entendendo-se que a falsidade deixa de existir como delito autônomo, por não haver o
propósito de lesar a fé pública, serve ela de ardil, de crime-meio para a prática de delito-fim
(RTJ 45/494; 46/667; 52/182). Aplica-se o princípio da consunção.
O princípio da consunção consiste na anulação de uma norma que já está contida na outra,
de âmbito menor (assim o crime de roubo, inclui o de furto e de lesões corporais ou de
ameaça).
FRAUDE POR MEIO DE CHEQUE
art 171
Caracterizado por quem “emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado, ou lhe frustra o pagamento”. (artigo 171, parágrafo 2º, inciso VI, Código Penal). É a
última das modalidades do crime de estelionato, e como as outras, obriga a demonstração
do dolo. O agente tem a intenção de causar prejuízo à terceiro, quando emite um cheque,
que sabe não conter suficiente provisão de fundos e mediante fraude, induz o beneficiário a
erro, e o faz acreditar que receberá aquele valor.
Cheque pré ou pós-datado
Pela lei, por ser uma ordem de pagamento à vista, o cheque, será pagável quando for
apresentado ao banco, independente de data ou fundo, ou seja, caso o credor for até a
instituição bancária com um cheque para uma data posterior, o banco não poderá se negar
a pagar, mesmo que na ocasião não haja fundo suficiente para tal compensação.
Essa denominação pré ou pós-datado gera muita discussão, pelo fato de ter se tornado
hábito dos estabelecimentos comerciais, colocarem à venda seus produtos e serviços para
serem pagos com essa facilidade, dali trinta, sessenta ou mais dias, prática essa que atrai
um grande número de compradores.
Tornou-se um costume, pois é benéfico para ambos o contratante; ao comerciante, pois
ampliará suas vendas, em virtude da facilidade de pagamento que atrai mais consumidores,
e a estes últimos, a opção de adquirir produtos e serviços sem pagamento imediato,
permitindo que dessa forma organizem melhor seus orçamentos. A aceitação do cheque pré
ou pós-datado, é afirmada em um acordo de vontade em que as partes, comprador e
vendedor, estipulam livremente o modo de aquisição e o pagamento do que foi acordado. As
garantias são recíprocas, o cliente promete fundos na data estipulada pelas partes e o
vendedor promete que só apresentará o cheque naquela mesma data.
Quando se recebe um cheque com data futura, está descaracterizada a essência do mesmo,
uma vez que, passará a representar uma promessa de pagamento.
A fraude no pagamento por meio de cheque é o último dos fatos puníveis com as penas
cominadas do estelionato. Define-se com a ação de quem “emite, cheque sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento”. (artigo 171, parágrafo
2º, inciso VI, Código Penal).
São duas as figuras tipificadas nesta modalidade de estelionato, o emitir e o frustrar. “Emitir
tem o sentido de colocar em circulação o cheque sem suficiente provisão de fundos. Não se
confunde com o simples ato de preenchê-lo ou assiná-lo. Frustrar significa obstar o
pagamento, bloqueando, retirando o saldo existente ou dando contra-ordem e, dessa forma,
50
evitar o pagamento do cheque(...)”. Só será qualificada essa segunda figura caso no
momento da emissão existir fundos suficientes, caso já não exista, tipifique a primeira
conduta.
Ação penal pública incondicionada.
ESTELIONATO SENTIMENTAL
art 171
O estelionato sentimentalocorre quando uma pessoa finge uma situação de envolvimento
amoroso, ou seja, acaba entrando em um relacionamento e se aproveitando da confiança
estabelecida para aplicar golpes, principalmente, de cunho econômico-financeiro. O
estelionatário induz a outra pessoa ao erro, com a intenção de se sair bem, causando assim
grande prejuízo e endividamento do parceiro, que concede ajuda financeira para o
bem-estar da outra, deixando evidente que não houve a intenção de benefício recíproco.
Para chegar ao seu objetivo, o estelionatário cria uma ilusão na vítima, a qual acredita
vivenciar um relacionamento perfeito, embalado em atitudes simuladas de atenção e afeto.
O estelionato sentimental se aproveita do fato da vítima estar apaixonada e na crença de
que vive uma relação pautada em um sentimento recíproco e verdadeiro. Devidamente
iludida, esta passa a ser objeto de pedidos de ajuda financeira, empréstimos com a
promessa de recompensa e ressarcimento futuro, sem que nunca haja uma devolução destes
valores. O estelionato sentimental quase sempre aparece em relações afetivas que ainda
não se transformaram em união estável ou casamento, embora a possibilidade exista.
Vítimas e especialistas afirmam que entre os argumentos usados pelos golpistas, o de que
irá ressarcir o dinheiro em breve é o mais comum. Eles pedem dinheiro, transferências para
pagamentos de contas e cartões de crédito emprestado. Alguns afirmam não ter uma boa
condição financeira, mas outros, apesar de se dizerem bem-sucedidos, têm algum problema
e precisam de ajuda.
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil reais.
FRAUDE CONTRA IDOSOS OU VULNERÁVEIS
Com a entrada em vigor da Lei nº 14.155/21, o crime de estelionato praticado contra pessoa
idosa ou vulnerável passou a ter uma pena maior. A lei torna agravante o furto qualificado
por meio eletrônico, com pena de reclusão de 4 a 8 anos e multa. Isso significa que se o
crime for praticado contra idoso a pena será aumentada de um terço ao dobro,
considerando-se o resultado. E, se for praticado com o uso de servidor de informática
mantido fora do país, o aumento da pena pode ir de um terço a dois terços.
Essa fraude é aquela em que o criminoso engana a vítima para obter informações da senha
ou do número da conta. Por outro lado, essa alteração na legislação é um “endurecimento da
lei”, imposto pelo legislador, surgindo como um reflexo do crescente cometimento deste tipo
de crime contra idosos. Não raro, pessoas mais velhas são alvos fáceis deste tipo de crime,
pois são mais vulneráveis e costumam agir de boa-fé.
51
Essa alteração na legislação significa na prática uma proteção maior para os idosos, que
são vítimas constantes da violência, que é um fenômeno complexo, e multifatorial. Por isso,
defendemos continuamente a importância de se abordar medidas para prevenir e identificar
situações de violência que são necessárias para criar uma cultura positiva no uso dos
canais de denúncia visando desestimular as reiteradas práticas de violência e coibir
aquelas que são veladas.
Logo, o §3º do artigo 171 prevê que se o crime é cometido em detrimento de entidade de
direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência, a
pena será aumentada de 1/3.
Entidade de direito público: Todos aqueles que integram a organização administrativa do
Estado
Instituto de economia popular: Serve a interesse econômico do povo ou de indeterminado
número de pessoas. São exemplos desses institutos os bancos de caráter social.
Instituto de assistência social ou beneficência: São entidades que atendem a fins de
filantropia, caridade.
O estelionato previdenciário é um tipo de estelionato enquadrado no §3º, uma vez que a
previdência, vítima desse crime, é uma entidade autárquica federal, portanto entidade de
direito público.
Trata-se de um crime instantâneo ou permanente? Irá depender do caso concreto. Se a
fraude ocorrer na origem, como no caso de criação de benefício sem atendimento aos
requisitos legais, se o crime for cometido por terceiro não beneficiário, será crime
instantâneo. Ao contrário, se for cometido pelo próprio beneficiário, será crime permanente.
Agora, se o benefício era legal, mas ocorre fato superveniente que torna quem recebe não
mais apto a receber (ex.: morte do beneficiário), haverá continuidade delitiva.
ESTELIONATO CONTRA IDOSO OU VULNERÁVEL
O §4º prevê causa de aumento de pena, de 1/3 a 1/2, caso o estelionato seja cometido contra
idoso ou vulnerável, considerando a relevância do resultado gravoso. Até 2015, havia
previsão de aumento obrigatório de pena pelo dobro, caso a vítima fosse idosa. Essa
previsão mudou com a Lei 13.228/15, que alterou a redação do §4º do art. 171. Por isso, é
importante ressaltar que essa previsão retroagirá aos casos anteriores, por ser mais
benéfica!
AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO
É importante ressaltar que o Pacote Anti Crime tornou o estelionato, em regra, um crime de
ação penal pública condicionada à representação da vítima. Trouxe, contudo, algumas
exceções no artigo 182 do CP, caso em que será ação penal pública incondicionada.
Segundo o artigo 182, será de ação penal pública incondicionada o estelionato em que tiver
como vítima:
1. Administração Pública, direta ou indireta
2. Criança ou adolescente
3. Pessoa com deficiência mental
52
4. Maior de 70 anos de idade
5. Incapaz
A jurisprudência do STJ entende que a exigência de representação da vítima no crime de
estelionato não retroage aos processos cuja denúncia já foi oferecida. Importante frisar que
apesar de ser majoritário o entendimento, a 2ª turma do STF entende de maneira diversa,
afirmando que deve retroagir, obrigatoriamente.
FRAUDE ELETRÔNICA E O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Foi acrescentado no art. 171 do Código Penal, que define o crime de estelionato, o § 2º-A, uma
modalidade de estelionato qualificado, a qual recebeu o nomen iuris de "fraude eletrônica",
cuja definição legal é a seguinte:
"A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a
utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de
redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo".
As qualificadoras surgem como consequência das novas formas de comunicação e
interação social e comercial.
Ao analisar o texto do dispositivo com atenção, percebe-se que não há uma ação
criminalizada. Observe-se que a punição está condicionada ao cometimento da fraude ("se a
fraude é cometida") com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro
induzido a erro pelos meios de rede sociais etc.
Ocorre que, consoante colocado no dispositivo em análise, a elementar "fraude" não se
apresenta como verbo ou tempo verbal a designar ação ou comportamento humano. A
elementar apresenta-se como um substantivo, ou seja, qualquer ato ardiloso, enganoso, de
má fé, com o intuito de lesar ou ludibriar outrem, ou de não cumprir determinado dever;
logro" (Houaiss). Há remissão expressa ao furto, ou seja, fica claramente subentendido que
incidirá a qualificadora, quando ocorrer "subtração de coisa alheia móvel para si ou para
outrem" cometida por meio de informação obtida sem consentimento por meios informáticos
ou telemáticos ou informáticos, ocorrerá o furto mediante fraude eletrônica.
Em complemento, a qualificadora estabelecida no art. 171, § 2º-A do Código Penal, não pode
ser considerada uma norma penal em branco, pois nesta espécie de construção normativa,
em nenhuma hipótese, a complementação normativa pode incidir sobre o núcleo do tipo.
Não se pode perder de vista a finalidade garantidora do tipo penal (lex stricta et certa), a
impedir qualquer tipo de interpretação extensiva ou analógica para buscar definição típica
de uma finalidadeque não está prevista, explícita ou implicitamente, na lei: a obtenção de
vantagem patrimonial indevida.
Como recorda Bacigalupo:
"O princípio da legalidade impõe suas exigências não apenas ao juiz que aplica a lei, mas
também, ao Parlamento que a dita. Em outras palavras: do princípio da legalidade surgem
consequências para a criação da lei e para sua aplicação. A lei criada pelo Parlamento
somente estará de acordo com o princípio da legalidade se contiver uma descrição das
proibições e das sanções previstas para sua violação que possa ser considerada exaustiva.
53
As condutas que possam caracterizar fraude eletrônica, no feitio legal atual - obtenção de
vantagem indevida realizada por meios de mídias sociais, contatos telefônicos ou
mensagens eletrônicas fraudulentas - devem ser enquadradas na figura simples do crime de
estelionato, pois melhor se enquadram ao disposto no caput do art. 171 do Código Penal.
Em conclusão, conforme exposto, diante da deficiência terminológica, pensamos ser
inconstitucional o dispositivo legal que criou o crime de fraude eletrônica (art. 171, § 2º-A, CP),
por ofensa ao princípio da legalidade.
APOSTAS ONLINE
De acordo com o Art. 50, § 3º, consideram-se jogos de azar:
1. o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte;
2. as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam
autorizadas;
3. as apostas sobre qualquer outra competição esportiva
Ocorre que em 2018 o governo tornou a atividade de apostas esportivas de quotas fixas
LÍCITAS em todo o território nacional.
A aposta de quota fixa é a modalidade lotérica em que se determina no momento da aposta
quanto o apostador ganhará se acertar o prognóstico (art. 29, § 1º, da Lei 13.756/18).
Mas as casas de apostas brasileiras dessa modalidade ainda enfrentam grandes
dificuldades em razão da ausência de regulamentação, estando a maioria situada no
Exterior.
No Brasil, a modalidade já é usual e praticada em plataformas hospedadas fora do país, o
que não viola normas associadas à prática de jogos, como a Lei de Contravenções Penais,
que em seu art. 50 considera a prática de jogos de azar um ilícito penal.
Quanto às preocupações e aos riscos envolvidos, ressalta-se a necessidade de:
1. proteger o jogo responsável;
2. trazer segurança jurídica aos investidores do setor e demais serviços envolvidos
(instituições financeiras, agências de publicidade etc.);
3. estabelecer padrões de compliance robustos;
4. proteger usuários (consumidores) em questões relativas a fraudes, públicos
vulneráveis e tratamento de dados pessoais;
5. evitar o uso das plataformas para a prática de crimes (especialmente lavagem de
dinheiro);
6. seguir padrões publicitários adequados;
7. fornecer proteção jurídico-contratual e de propriedade intelectual em todas as
relações do setor;
8. conter o aumento de casos de jogadores patológicos e dos problemas sociais
decorrentes; e
9. mitigar as práticas de match fixing.
A regulação das apostas esportivas on-line no Brasil teve início mais marcante com a Lei
13.756/18. Em seu art. 29, essa modalidade lotérica é definida como apostas de quota fixa:
54
“Art. 29. Fica criada a modalidade lotérica, sob a forma de serviço público exclusivo da União,
denominada apostas de quota fixa, cuja exploração comercial ocorrerá em todo o território
nacional. § 1º A modalidade lotérica de que trata o caput deste artigo consiste em sistema de
apostas relativas a eventos reais de temática esportiva, em que é definido, no momento de
efetivação da aposta, quanto o apostador pode ganhar em caso de acerto do prognóstico”.
Independentemente das discussões sobre a definição estabelecida na lei (apostas não
seriam propriamente uma modalidade lotérica, por exemplo), o fato é que as apostas de
quota fixa (ou as apostas esportivas, on-line ou não) são definidas no ordenamento como
sistemas de apostas relacionadas a eventos reais de temática esportiva, nos quais, no
momento da efetivação da aposta, o apostador sabe quanto poderá ganhar, caso o
prognóstico da aposta se confirme.
Ao detalhar um pouco o conceito, é possível extrair os seguintes elementos:
1. há um contrato de aposta firmado com promessa de uma contraprestação para o
usuário, se confirmado o prognóstico;
2. a aposta deve estar atrelada a um evento real de temática esportiva, o que inclui
qualquer evento esportivo – como futebol, xadrez, e-sports –, mas exclui situações
fantasiosas ou não reais;
3. a atividade deve ser feita por um sistema (conjunto de elementos organizados) físico
ou digital, normalmente sustentado pelas conhecidas plataformas de aposta que
exploram o negócio (bookmakers); e
4. Quando a aposta é efetivada (seja antes do evento esportivo ou durante), o apostador
já sabe qual será o valor que receberá se o prognóstico de sua aposta (resultados
futuros do evento esportivo) for confirmado (resultado apostado é igual ao resultado
real final).
Os parágrafos 2° e 3° do art. 29 definiram que essas apostas serão autorizadas ou
concedidas pelo Ministério da Fazenda, que deve regular o tema em até dois anos após a
publicação da lei, prazo renovável por até mais dois anos. Ou seja, o prazo máximo é
dezembro de 2022.
A regulação está a cargo da Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria
(Secap) do Ministério da Economia, e algumas minutas do decreto regulamentador já
circulam.
Um dos pontos que deve ser abordado nessa regulação é a definição jurídica dos agentes
envolvidos nesse mercado – quem são o regulador, o apostador, o operador, aqueles que
prestam serviços aos operadores, os revendedores etc.
Outro ponto é como a autorização da exploração da atividade será feita:
1. por monopólio (mais improvável), número limitado de players ou número aberto de
players (tendência global, na Europa, por exemplo, 25 dos 29 países seguem essa
forma);
2. sob regime de autorização, permissão ou concessão (a tendência é que seja pelo
regime de autorização);
3. por quanto tempo; e
4. sob quais critérios.
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Um terceiro aspecto se refere à definição das competências do Ministério da Economia e da
Secap na regulação, supervisão e fiscalização desse mercado e como isso será feito.
O decreto também deverá estabelecer as obrigações dos agentes envolvidos na exploração
de apostas esportivas, como assegurar o jogo responsável e a integridade das apostas,
mitigar os riscos mencionados acima e respeitar parâmetros de publicidade adequados.
Espera-se ainda que o decreto regulamentador discipline a operacionalização tributária da
arrecadação dos valores envolvidos na exploração das apostas.
RECEPTAÇÃO DOLOSA E CULPOSA
art 180
O crime de receptação é comumente definido pela nossa sociedade como “o ato de comprar
coisa roubada” e é mais comum do que se imagina, porém, poucas pessoas conhecem suas
particularidades e suas modalidades. Trata-se de um crime acessório, ou seja, necessita que
tenha ocorrido um crime anterior, que na maioria das vezes é um furto ou roubo. Foi incluído
no Código Penal (CP) pela Lei 9.426, de 24 de dezembro de 1996 que tipifica o crime da
seguinte forma:
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira,
receba ou oculte; Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Ao lermos o caput deste artigo, percebemos que não é simplesmente o ato de comprar que
irá tipificar o crime, mas também receber, transportar, conduzir ou ocultar algo que sabe ser
produto de crime. Até mesmo o ato de influenciar e incentivar um terceiro para que este
adquira, receba ou oculte o objeto que é produto de um crime anterior, é tipificado como
crime de receptação.
Quando lemos a seguinte parte do artigo: “coisa que sabe ser produto de crime”
automaticamente lembramos de qual elemento criminal? Isso mesmo, o dolo! Pois o indivíduo
sabe que aquela coisa que ele está adquirindo, recebendo ou ocultando é produto de um
crime. Então, de maneira geral, o crime deprescrição é um crime doloso. Porém, ele também
admite a possibilidade culposa, com algumas condições.
A receptação dolosa se divide em cinco tipos: própria, imprópria, privilegiada, agravada e
qualificada; já a receptação culposa é de tipo único, estando prevista no §3° do art. 180 do
Código Penal.
RECEPTAÇÃO DOLOSA PRÓPRIA
É aquela mais simples, tipificada no próprio caput do artigo 180: “Adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto
de crime (...)”. Em outras palavras, o agente sabe que aquela coisa em questão é fruto de um
crime, coisa roubada, por exemplo, e mesmo assim não se importa, adquire diretamente.
RECEPTAÇÃO DOLOSA IMPRÓPRIA
Esta também está prevista no próprio caput do artigo 180 do CP: “influir para que terceiro, de
boa-fé, a adquira, receba ou oculte (a coisa produto de crime)”. Aqui, o crime recairá para a
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pessoa que influenciou um terceiro (de boa fé) a adquirir, receber ou ocultar o produto,
sabendo que era um produto proveniente de crime anterior. O agente usa argumentos para
que o terceiro se sinta incentivado ou até mesmo constrangido a adquirir a coisa, como por
exemplo, dizer que ele estará perdendo uma oportunidade única de adquirir aquele produto
por um preço menor do que o do mercado legal.
RECEPTAÇÃO DOLOSA PRIVILEGIADA
Esta modalidade só acontecerá mediante duas condições: se o agente do crime de
receptação for réu primário, ou seja, que nunca foi condenado por sentença transitada em
julgado; e se a coisa em questão for de pequeno valor. A primeira condição é bastante clara
e objetiva, já a segunda, que diz respeito ao valor da coisa, é mais subjetiva e será
determinada pelo juiz, levando em consideração a condição econômica do agente.
A receptação privilegiada está prevista no §5° do art. 180, do CP, que diz: “§ 5º - Na hipótese
do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155”.
“Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a
pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
pena de multa.” (hipótese do perdão judicial).
RECEPTAÇÃO DOLOSA AGRAVADA
Se a coisa em questão for um bem de caráter público, ou seja, do patrimônio da União,
Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia
mista, estaremos diante de uma receptação dolosa agravada. Trata-se de uma forma
qualificada da receptação, e a pena será aplicada em dobro. Esta modalidade está prevista
no §6° do art. 180 do CP, que diz
“Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município
ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou
empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput
deste artigo”.
RECEPTAÇÃO DOLOSA QUALIFICADA
Para fecharmos os tipos de receptação na modalidade dolosa temos a forma qualificada
que está prevista no §1° do art. 180 e complementada pelo §2° do mesmo artigo, do Código
Penal:
“§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto
de crime: Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa”.
Neste caso, o receptor, ou seja, o agente ativo da receptação deverá exercer uma atividade
comercial ou industrial, portanto, um empresário. Os produtos adquiridos, pelo fato de
serem furtados ou roubados, são vendidos a preços mais baixos, e adquirindo tais produtos,
o empresário possuirá uma maior quantidade de lucro, porém, de forma imoral e criminosa.
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O §2° complementa a ideia de atividade comercial e diz que:
“equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência”.
RECEPTAÇÃO CULPOSA
Por fim, existe a possibilidade de receptação culposa, ou seja, quando não há a presença do
dolo. Nela, o agente possui dúvidas sobre a origem delituosa da coisa, mas ainda assim
assume o risco de adquiri-la. Há três elementos que podem conduzir o agente a essa
situação: a natureza da coisa; a desproporção entre o valor e o preço e a condição de quem
oferece a coisa. Além disso, na receptação culposa é possível obter o perdão judicial, o qual
culminará na extinção da punibilidade, desde que o réu seja primário e as circunstâncias do
crime lhe forem favoráveis. Está prevista no §3° do art. 180 do CP, que traz:
“adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o
preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas”.
Ação penal pública incondicionada
QUESTÕES SOBRE CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO:
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penal/assunto/crimes-contra-o-patrimonio
58
https://www.estudegratis.com.br/questoes-de-concurso/materia/direito-penal/assunto/crimes-contra-o-patrimonio
https://www.estudegratis.com.br/questoes-de-concurso/materia/direito-penal/assunto/crimes-contra-o-patrimonio

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