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Bianca Fernandes Luiz – T8 Err�� inat�� d� metabolism� Definição ● Distúrbio bioquímico determinado geneticamente, no qual um defeito em uma proteína específica produz um bloqueio metabólico que pode ter consequências patológicas ● Erro genético que impacta o metabolismo ● Doenças mendelianas Defeitos que encontramos: ● Deficiência de atividades de enzimas essenciais ● Deficiência de cofatores ou ativadores enzimáticos (algumas enzimas sem cofator não funcionam corretamente) ● Defeito no transporte de determinado composto (não consegue levar a proteína até onde ela precisa agir) - Alguns erros são assintomáticos e não acarretam doenças; - Outros são assintomáticos até que sejam evidenciados pela ingestão de certas substâncias; - A maioria manifesta-se com sintomas agudos e só são compatíveis com a sobrevivência normal se a causa do problema for eliminada → por isso é importante o diagnóstico precoce Individualidade química ● Postulado por Archibald Garrod, 1902 → estudou famílias que tinham alcaptonúria, albinismo, cistinúria, pentosúria e percebeu que o padrão de herança entre os membros se igualavam as ervilhas de Mendel, então, são doenças mendelianas, seguem o mesmo modo de segregação ● Além disso, percebeu que cada um de nós temos uma individualidade química→ postula a existência da Individualidade Química - As enzimas são determinadas através dos nosso genes, então, elas possuem diferenças, e por isso, alguns indivíduos reagem de forma diferente frente a algum medicamento ● Variações de atividade enzimática entre os seres humanos são comuns e uma minoria dessas variantes causa doenças Esquema de via metabólica hipotética (ajuda a entender os erros inatos) ● Existe um substrato A, que precisa ser transformado em um substrato B, que depois vira C. Para isso é necessário uma enzima - Nessa via existe uma interrupção, e o substrato A não vira B, pois a enzima não está atuando (pode ser por mutação no gene que não forma enzima, ou forma uma enzima sem função) - O substrato A começa acumular, não tem substrato B e consequentemente não tem C - O substrato acumulado pode ser tóxico para o organismo. Além disso a falta do produto B também pode ser um problema - Existe uma via metabólica secundária, na qual, uma enzima com afinidade no substrato A, faz com que surja um produto secundário (D). Essa via secundária ocorre por causa do acúmulo do substrato. Esse produto secundário acaba sendo tóxico. Então, a toxicidade pode ser por acúmulo de substrato ou pela produção do substrato secundário Principais características do EIM 1. São mais de 700 tipos de doenças ocasionadas por EIM (isoladamente são raras) ● O impacto fenotípico dessas doenças é muito grande, e o diagnóstico precoce também é precoce, o que faz com que sejam doenças muito estudadas e alertadas ● Incidência cumulativa é de 1:800 nascimentos (deixa de ser rara) - Doença rara: afeta até 65:100 mil - É importante conhecer para saber diagnosticar e oferecer tratamento precoce 2. Grupo heterogêneo de defeitos genéticos ● Há vários tipos de erro inato Bianca Fernandes Luiz – T8 3. Herança ● Autossômica ou ligada ao X, recessiva ou dominante e mitocondrial; → a maioria é autossômica recessiva ● As mutações são herdadas (na maioria das vezes) ● Raramente: mutação de novo e dissomia uniparental (observada pela primeira vez em 1988, por Arthur Beadet, em uma paciente com fibrose cística (HAR)) - Alguns indivíduos apresentaram uma mutação espontânea, que só aconteceu neles, e isso recebe o nome de mutação de novo, ou seja, é quando a mutação está relacionada a uma doença genética, mas não aparece na linhagem familiar - Além disso, podem apresentar a dissomia uniparental 4. Heterogeneidade genética ● Deficiência de diferentes enzimas determinando o mesmo quadro clínico 5. Variabilidade clínica ● Formas leves, moderadas ou graves da mesma doença 6. Apresentação variada ● Provavelmente em qualquer tecido ou órgão corporal (acontece também do mesmo erro inato acometendo órgãos diferentes) 7. Diagnóstico preciso ● É importante para o tratamento e prevenção em outros membros da família Consequências patológicas dos defeitos enzimáticos nos EIM Fenilcetonúria (FNC ou PKU) ● Nós temos um aminoácido essencial que é a fenilalanina, que precisa ser metabolizada para ser transformada em tirosina, que é outro aminoácido essencial. Quem faz essa conversão é a enzima fenilalanina hidroxilase. Pacientes com Fenilcetonúria possuem deficiência dessa enzima, ou produzem uma quantidade muito baixa. Além desse paciente ficar com acúmulo de fenilalanina, a fenilalanina acumulada é transformada em produtos secundários através da via metabólica secundária. Esse produto secundário é tóxico ● A tirosina é essencial para a formação de melanina. Se não tiver tirosina, não produz melanina ● A fenilcetonúria é um distúrbio do metabolismo de aminoácidos que causa uma síndrome clínica de deficiência intelectual com alterações cognitivas e comportamentais Herança autossômica recessiva (HAR) (para que a doença se manifeste, é necessário dois alelos mutados) ● Pais heterozigotos têm: - 25% de terem filhos afetados, - 50% de chance de terem filhos portadores - 25% de chance de terem filhos não portadores e não afetados. ● 98% mutações no gene PAH (é o gene que forma a fenilalanina hidroxilase), localizado em 12q23 – cromossomo 12 (caracteriza a forma clássica da doença); + de 1.000 mutações diferentes (substituições, inserções e deleções); Mais comum: (Arg408Trp) – Substituição de C por T na primeira base do 408 códon do gene PAH (CGG408TGG); Perda da função enzimática; Sintomas leves e graves (variabilidade clínica) - Ao invés de ter arginina, eu tenho a formação de um triptofano ● Os outros 2% envolve a deficiência do BH4 (é um cofator que ajuda a enzima a fazer a transformação metabólica) → se eu não tenho o cofator, a metabolização dos aminoácidos será prejudicada (não irá zerar, mas a produção será insuficiente) → essa condição recebe o nome de hiperfenilalaninemia não PKU (o paciente produz a enzima, mas não produz o cofator) Bianca Fernandes Luiz – T8 BH4: tetra-hidrobiopterina (cofator para a hidroxilação da fenilalanina) Gene PTS Concentração de fenilalanina é apenas 10 vezes mais alta que o normal, portanto, não causa danos cerebrais ou danifica pouco Algumas características clínica da PKU Os sintomas clínicos surgem dos 3 aos 6 meses de idade (proteção materna pré-natal) ● Peles, cabelos e olhos claros ● Hiperativas, irritáveis e hipertônicas, podendo ter convulsões ● Incapacidade motora ● Odor a mofo na urina e no suor ● Deficiência mental ● Microcefalia ● Dermatite constante - É necessário o tratamento preventivo para que não desenvolva esses sintomas - O indivíduo precisa entrar em contato com a fenilalanina em abundância para que ele desenvolva esses sinais e sintomas - A fenilalanina vem da alimentação, portanto, o paciente que possui essa doença, não pode comer qualquer alimento - Se o indivíduo faz uma dieta restritiva, ele não desenvolve os sintomas, e por isso, é importante o diagnóstico precoce, tratamento Hipóteses sobre as causas de alguns fenótipos na PKU ● Olhos, cabelo e pele claros - A deficiência de tirosina acarreta na redução da formação de melanina. Em áreas cerebrais pigmentadas, como a substância nigra, também há alta de pigmento. ● Odor a mofo na urina e no suor - causado pela presença de fenilacetonas (produto secundário tóxico). ● Deficiência mental - Uma hipótese é que a fenilalanina em abundância venha a competir com outros aminoácidos na transmissão neuronal, resultando um desequilíbrio metabólico nas células, que inibe a síntese proteica necessária à formação de sinapses e mielinização. Isso tudo acontece se o paciente não fizer tratamento preventivo Tratamento para fenilcetonúria ● Essencialmente dietético – a partir do 1º mês de vida, pela vida inteira (1a doença com controle dietético); ● Restrição alimentar da ingestão de fenilalanina por toda a vida (muitas pessoas acabam desistindo);● Uso de suplementos alimentares de proteínas e minerais; ● A ANVISA traz uma Tabela de Composição de Fenilalanina em Alimentos ● A pessoa não deve ficar 100% sem fenilalanina, o excesso que é tóxico ● O SUS dispõe do Dicloridrato de Sapropterina para as mulheres que possuam o diagnóstico de PKU ou hiperfenilalaninemia não-PKU, desde que estejam gestantes (independente da idade gestacional) ou que estejam tentando planejar ● O SUS também oferece diagnóstico precoce através do teste do pezinho e dieta restrita ● Mulheres em idade fértil são orientadas a iniciar a dieta e manter níveis iguais ou inferiores a 4mg/dl antes da concepção, assim como durante toda a gestação ● Se a mulher apresentar altos níveis de fenilalanina no sangue durante a gestação, o bebê pode nascer com deficiência mental Qual o risco que uma mãe fenilcetonúria pode oferecer para seu filho? Altos níveis de fenilalanina, acima de 400umol/L, no sangue materno estão relacionados com: Baixo peso ao nascer Deficiência mental (100% dos casos) Microcefalia Malformações cardíacas Os efeitos deletérios sobre o feto diminuem quando os níveis de fenilalanina maternos são mantidos entre 120-400 umol/L Podemos dizer que a fenilalanina em excesso é um teratógeno? Sim. Existem evidências de que a PKU-maternal é fator teratogênico que pode ser prevenido ou modificado pela dietoterapia que controla os níveis de fenilalanina plasmática, especialmente se o tratamento for iniciado antes da concepção ou durante as primeiras semanas do primeiro trimestre da gestação Bianca Fernandes Luiz – T8 Classificação dos EIM Consequências patológicas dos defeitos enzimáticos (livro de genética) ● Ausência do produto final ● Acúmulo do substrato ● Interferência nos mecanismos reguladores ● Doenças do metabolismo das porfirinas ● Doenças do metabolismo dos ácidos orgânicos ● Doenças do metabolismo do esteroides ● Doenças do metabolismo de glicogênio Sob o ponto de vista fisiológico (Saudubray e Charpentier, 1995) ● Grupo 1 → doenças decorrentes do defeito da síntese ou catabolismo de moléculas complexas (doenças de depósito) - Sintomas permanentes, progressivos sem relação com a ingestão de alimentos - Tipos: ❖ Doenças lisossômicas de depósito ❖ Distúrbios da biogênese dos peroxissomos ❖ Distúrbios da glicosilação de glicoproteínas ● Grupo 2 → defeito no metabolismo intermediário. Intoxicação aguda e crônica - Sintomas são intoxicação aguda e recorrente pelo acúmulo de compostos tóxicos. Pode apresentar sintomas crônicos e progressivos. - Direta relação com a ingestão alimentar - Tipos: ❖ Aminoacidopatias (ex.: fenilcetonúria) ❖ Acidemias orgânicas ❖ Defeitos no ciclo da ureia ❖ Intolerância a carboidratos e aos açúcares ● Grupo 3 → Deficiência na produção e utilização de energia - Sintomas resultantes tanto do acúmulo de compostos tóxicos, como da deficiência na produção de energia (fígado, músculo e cérebro) - Tipos: ❖ Defeitos na gliconeogênese ❖ Hiperlacticemias congênitas ❖ Defeitos na oxidação de ácidos graxos ❖ Doenças mitocondriais Grupo 1 – Doenças do armazenamento lisossômico ● Lisossomos fazem digestão celular. Para ele fazer digestão lisossomal, é necessário a enzima ● Doenças relacionadas com mutações nos genes que codificam/ produzem as hidrolases lisossomais levam ao acúmulo de macromoléculas biológicas no interior do lisossomo ● Sem essa enzima, o lisossomo aumenta de tamanho, a ponto do meio intracelular aumentar de tamanho também podendo levar a morte da célula ● Esse acúmulo é tóxico e pode acarretar na morte celular ou no aumento da massa de tecidos e órgãos ● São doenças incuráveis; muitas vezes precisam de transplante de medula óssea e terapia de reposição enzimática tem melhorado o prognóstico dos indivíduos ● Ex.: doença de Hunter, adrenoleucodistrofia (doença peroxissoma) Doença de Hunter ● Mucopolissacaridose tipo II ● É uma herança recessiva ligada ao X ● A deficiência da enzima iduronato-2-sulfatase leva ao acúmulo de glicosaminoglicanos nos lisossomos (cada enzima está relacionada a falta de alguma enzima lisossomal) ● Características fenotípicas: face de gárgula, nanismo, surdez, deficiência mental, defeitos cardíacos, fígado e baço aumentado Doenças peroxissomais ● Peroxissomos são organelas celulares que contém mais de 50 enzimas envolvidas na oxidação dos ácidos graxos e na biossíntese do colesterol ● Não está relacionada apenas com a falta dessas enzimas, mas também com formação do peroxissomo ● Há 2 tipos de doenças: - As que afetam a biogênese dos peroxissomos - As que envolvem deficiências enzimáticas isoladas Adrenoleucodistrofia ● Herança recessiva ligada ao X ● A deficiência da enzima CoA-sintase de ácidos graxos de cadeia muito longa impede que essa gordura entre nos peroxissomos → esse acúmulo de ácidos graxos de cadeia muito longa leva à desmielinização progressiva do sistema nervoso central (SNC) (cérebro e medula espinhal) Bianca Fernandes Luiz – T8 ● Características Fenotípicas: Deterioração mental, alterações comportamentais, insuficiência adrenocortical etc. O tratamento com o óleo de Lorenzo diminui os níveis de ácidos graxos de cadeias muito longas, mas não é eficaz nos pacientes sintomáticos Grupo 2 Galactosemia ● Herança autossômica recessiva ● O erro é defeito na enzima, levando ao acúmulo de galactose nas células sanguíneas, no fígado, no cérebro e nos rins ● Normalmente, a galactose-1-fosfato precisa ser transformada em glicose-1-fosfato, através da enzima galactose-1-fosfato-uridiltransferase ● O bebê que não é diagnosticado com a doença, e consome alimentos com galactose, ele pode apresentar: vômitos, diarreia, desidratação, icterícia, desnutrição e atraso no desenvolvimento. Se não tratada, leva a cirrose, hepatoesplenomegalia, galactosúria, catarata e deficiência mental. Em mulheres, deficiência ovariana Grupo 3 Doença de Von Gierke ● Herança autossômica recessiva ● A deficiência da enzima glicose-6-fosfatase leva à dificuldade na obtenção da glicose a partir de suas reservas de glicogênio (glicogenólise) e a partir da gliconeogênese. O glicogênio se acumula no fígado e rins ● Características fenotípicas: hepatomegalia, hipoglicemia, fraqueza muscular, insuficiência cardíaca Como detectar os EIM após o nascimento Pelo SUS, até 2021, teste do pezinho identificava as seguintes doenças: 1. Fenilcetonúria 2. Hipotireoidismo congênito 3. Anemia falciforme e outras hemoglobinopatias 4. Fibrose cística 5. Deficiência de biotinidase 6. Hiperplasia adrenal congênita LEI no 14.154, de 26 de maio de 2021 – amplia para 50 o número de doenças rastreadas e estabelece a implementação de forma escalonada, de acordo com a seguinte ordem de progressão: Os critérios das doenças que participam do teste do pezinho são as que possuem impacto grande, mas que também tenham tratamento ● O teste realiza a triagem ● Os recém-nascidos que apresentarem resultado positivo na triagem neonatal devem realizar exames específicos para confirmação (diagnóstico) ● Ideal é que seja realizado entre o 3º e o 5º dia - Antes das 48 horas de vida influência das alterações hormonais e metabólicas (por isso é realizado a partir do 3º dia). Demoram de dois a três dias para atingir o equilíbrio (necessito de urgência para identificar essas doenças, por isso até o 5º dia) ● A coleta tardia pode impedir que a suspeita e o diagnóstico sejam feitos no tempo correto e atrasar as intervenções e tratamento específico Importância do diagnóstico dos EIM ● Diagnóstico preciso é importante para o tratamento precoce ● Diminuir ou evitar consequências graves ● Diminuir angústia da família ● Aconselhamento genético: prevenção em outros membros da família O suporte para pacientes e familiares com EIM é multidisciplinar Perspectivas de tratamento ● Agentes farmacológicos ● Reposição enzimática ● Transplante de órgãos, uso de células-tronco ● Terapia gênica (é um tratamento que introduz no organismo genes saudáveis) Bianca Fernandes Luiz – T8