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Como na maioria dos tecidos e órgãos há divisão celular para restaurar as perdas naturais, a replicação celular é atividade essencial para o organismo. No entanto, ela deve seguir um controle rígido, pois, se for feita para mais ou para menos, o equilíbrio se quebra. Uma das características principais das neoplasias é justamente proliferação celular descontrolada. Neoplasia significa “novo crescimento”, e um novo crescimento é denominado de neoplasma. O termo tumor foi originalmente aplicado ao edema causado pela inflamação, mas o termo atualmente se iguala a neoplasia. Oncologia (do grego oncos = tumor) é o estudo dos tumores ou neoplasmas. De acordo com o oncologista Willis: “Uma neoplasia é uma massa anormal de tecido, cujo crescimento é excessivo e não coordenado com aquele dos tecidos normais, e persiste da mesma maneira excessiva após a interrupção do estímulo que originou as alterações .” Uma neoplasia pode ser definida como um distúrbio do crescimento celular que é desencadeado por uma série de mutações adquiridas que afetam uma única célula e sua progênie clonal. As mutações causais fornecem para as células neoplásicas alteração em seus mecanismos regulatórios de multiplicação e metabolismo, uma vantagem de sobrevivência e de crescimento, resultando em proliferação excessiva que é independente de sinais fisiológicos (autônoma). Quando ocorre em um órgão sólido, o maior número de células de uma neoplasia forma um tumor. Todos os tumores/ neoplasias benignas e malignas apresentam dois componentes básicos: (1) células neoplásicas clonais → constituem o parênquima tumoral, (2) microambiente tumoral / estroma reativo -inclui o estroma conjuntivovascular e o componente inflamatório (feito de tecido conjuntivo, vasos sanguíneos e números variáveis de células do sistema imune inato e adaptativo.) A classificação dos tumores e seu comportamento biológico são baseados principalmente no parênquima, mas seu crescimento e disseminação são criticamente dependentes do seu estroma. Em alguns tumores, o tecido conjuntivo é escasso e então a neoplasia é macia e carnosa. Em outros casos, as células do parênquima estimulam a formação de um estroma colagenoso abundante, referido como desmoplasia. Alguns tumores desmoplásicos – por exemplo, alguns cânceres da mama feminina – são duros como pedra ou cirróticos. Diz-se que um tumor é benigno quando seus aspectos micro e macroscópicos são considerados relativamente inocentes, significando que ele permanece localizado, não se disseminará para outras áreas e geralmente pode ser removido por cirurgia local, sendo compreensível que a paciente sobreviva. No entanto, os tumores “benignos” têm grande interesse pela sua frequência e pelas consequências que podem trazer, no qual podem causar morbidade significativa (obstrução de órgãos ou estruturas ocas, compressão de órgãos, produção de substâncias em maior quantidade) e às vezes serem até fatais. Sendo assim, as benignas geralmente não são letais nem causam sérios transtornos para o hospedeiro; por isso mesmo, podem evoluir durante muito tempo e não colocam em risco a vida do seu portador. As células das neoplasias benignas em geral são bem diferenciadas e podem até ser indistinguíveis das células normais correspondentes. As atipias celulares e arquiteturais são discretas, ou seja, o tumor reproduz bem o tecido que lhe deu origem. Como a taxa de divisão celular é pequena (baixo índice mitótico), em geral o tumor tem crescimento lento e é bem delimitado. Como regra, tumores benignos não recidivam após ressecção cirúrgica, não se infiltram nem destroem tecidos vizinhos e não ulceram. Além disso, não comprometem a nutrição do hospedeiro e nem produzem substâncias que causam anemia ou caquexia. Há várias exceções. Apesar de bem delimitado, adenoma pleomórfico de glândulas salivares com frequência recidiva após cirurgia se não removido completamente. Certos tumores histologicamente benignos podem ser letais. É o caso de adenomas secretores de substâncias importantes na homeostase que, quando em excesso, podem causar morte (tumores pancreáticos secretores de insulina podem levar a hipoglicemia fatal). Outro exemplo de tumor biologicamente maligno é o de neoplasias localizadas em sedes vitais, como a cavidade craniana. Mesmo com crescimento lento e sendo circunscritos e desprovidos de capacidade invasora, certos gliomas situados profundamente no encéfalo são de difícil acesso cirúrgico e não podem ser totalmente ressecados; quando atingem certo volume, podem interromper a circulação do liquor, comprimir e deslocar estruturas nervosas vitais e levar o paciente à morte. Por tudo isso, essas neoplasias não podem ser classificadas como benignas ou malignas apenas por seus aspectos morfológicos; componentes da biologia da lesão, seu componente clínico e suas formas de evolução são muitas vezes também indispensáveis para se rotular um tumor como benigno ou maligno. →Em geral, os tumores benignos são designados ligando o sufixo - oma ao nome do tipo de célula a partir do qual se origina o tumor. Os tumores de células mesenquimais geralmente seguem essa regra. EX: tumor benigno que surge nos tecidos fibrosos é denominado fibroma, enquanto um tumor cartilaginoso benigno é denominado condroma. Por outro lado, a nomenclatura dos tumores epiteliais benignos é mais complexa; alguns são classificados com base em suas células de origem, outros no padrão microscópico, e ainda outros em sua arquitetura macroscópica. O termo adenoma é aplicado a uma neoplasia epitelial benigna derivada de glândulas, apesar de poderem, ou não, formar estruturas glandulares. Com base nisso, uma neoplasia epitelial benigna que surja de células dos túbulos renais que crescem na forma de numerosas glândulas pequenas agrupadas é denominado adenoma, assim como uma massa heterogênea de células do córtex das suprarrenais crescendo como lençóis sólidos. As neoplasias epiteliais benignas que produzem micro e macroscopicamente projeções visíveis, semelhantes a dedos ou verrucosas, que surgem a partir de suas superfícies epiteliais, são referidas como papilomas. Aquelas que formam grandes massas císticas, tais como no ovário, são referidas como cistadenomas. Alguns tumores produzem padrões papilares que se projetam nos espaços císticos e são denominados cistadenomas papilares. Quando uma neoplasia, benigna ou maligna, produz uma projeção macroscopicamente visível acima da superfície mucosa e se projeta, por exemplo, na luz gástrica ou colônica, denomina- se pólipo. Se o pólipo possuir tecido glandular, ele é chamado de um pólipo adenomatoso. Os tumores malignos são referidos coletivamente como cânceres. Podem invadir e destruir as estruturas adjacentes e se disseminar para áreas distantes (metastatizar), levando à morte. Nem todos os cânceres seguem um curso tão mortífero. Alguns são descobertos cedo o bastante para serem excisados cirurgicamente ou são tratados com sucesso com quimioterapia ou radiação. Os tumores malignos que surgem em tecidos mesenquimais sólidos são geralmente chamados de sarcomas (do grego sar = carnosa; e.g. fibrossarcoma, condrossarcoma, leiomiossarcoma, rabdomiossarcoma), enquanto os que surgem de células formadoras de sangue são as leucemias (literalmente, sangue branco) ou linfomas (tumores de linfócitos ou seus precursores). As neoplasias malignas de origem nas células epiteliais, derivadas de qualquer uma das três camadas germinativas, são denominados carcinomas. Portanto, o câncer que surge na epiderme de origem ectodérmica, o câncer que se origina nas células dos túbulos renais derivados da mesoderme e nas células do revestimento do trato gastrointestinal derivados da endoderme são todos denominados carcinomas. Os carcinomas podem ser ainda mais especificados. O termo carcinoma de células escamosas denota um câncer em que as células tumorais lembram o epitélio escamoso estratificado, e adenocarcinomadenota uma lesão em que as células epiteliais neoplásicas crescem em um padrão glandular. Algumas vezes o tecido ou órgão de origem pode ser identificado e é adicionado como um descritor, como no adenocarcinoma de células renais ou no carcinoma de células escamosas broncogênico. Não é infrequente que um câncer seja composto por células de origem tecidual desconhecida,devendo ser designado meramente como um tumor maligno indiferenciado. ➔ NOMENCLATURA Na prática, as neoplasias são chamadas de tumores . O termo “tumor” é mais abrangente, pois significa qualquer lesão expansiva (↑nº de cel.) ou intumescimento localizado, causado por muitas lesões (inflamações, hematomas etc.). Câncer é a tradução a palavra grega carcinoma (de karkinos: crustáceo, caranguejo). Cancerologia ou oncologia é a parte da Medicina que estuda os tumores. Cancerígeno ou oncogênico é o estímulo ou agente causador de câncer. A uniformização da nomenclatura das neoplasias é importante para que os dados de frequência, evolução, tratamento e prevenção obtidos em regiões geográficas diferentes possam ser comparados. ➔ CLASSIFICAÇÃO Os tumores podem ser classificados de acordo com vários critérios: (1) comportamento clínico (benignos ou malignos); (2) aspecto microscópico (critério histomorfológico); (3) origem da neoplasia (critério histogenético); (4) alterações genômicas (critério molecular), muitas vezes com implicações etiopatogenéticas e terapêuticas. Nem sempre esses elementos são usados na denominação da lesão, sendo comuns alguns epônimos, como tumor de Wilms, linfoma de Hodgkin, linfoma de Burkitt etc. O critério mais adotado para nomear um tumor é o histomorfológico → identificação pelo tecido ou célula proliferante. Algumas regras são importantes: (1) o sufixo - oma é empregado na denominação de qualquer neoplasia, benigna ou maligna; (2) a palavra carcinoma indica tumor maligno que reproduz epitélio de revestimento; quando usada como sufixo, também indica malignidade (p. ex., adenocarcinoma, hepatocarcinoma); (3) o termo sarcoma refere-se a uma neoplasia maligna mesenquimal (tec. conjuntivo indiferenciado); usado como sufixo, indica tumor maligno de determinado tecido (p. ex., fibrossarcoma, lipossarcoma etc.); (4) a palavra blastoma pode ser usada como sinônimo de neoplasia e, quando empregada como sufixo, indica que o tumor reproduz estruturas com características embrionárias (nefroblastoma, neuroblastoma etc.). Na forma mais usual de denominar um tumor, toma-se o nome da célula, do tecido ou do órgão reproduzido e acrescentam-se os sufixos -oma, -sarcoma ou -carcinoma: lipoma (tumor benigno que reproduz lipócitos); hemangioma (tumor que reproduz vasos sanguíneos); condrossarcoma (tumor maligno que forma cartilagem); hepatoblastoma (tumor maligno que reproduz hepatócitos com características embrionárias); adenoma (tumor benigno que reproduz glândulas); adenocarcinoma (tumor maligno que forma glândulas). Além desses, o nome de um tumor pode conter outros termos para indicar certas propriedades da lesão ou sua diferenciação: carcinoma epidermoide (o epitélio neoplásico produz ceratina, tendo diferenciação semelhante à da epiderme); adenocarcinoma cirroso (o estroma do tumor é muito desenvolvido e duro, dando consistência firme à lesão). Teratomas são tumores benignos ou malignos originados de células toti ou multipotentes que surgem em gônadas (testículos ou ovários) e, menos frequentemente, em outras sedes, sobretudo em correspondência com a linha mediana do corpo. Como se originam de células pluripotentes, os teratomas são constituídos por tecidos derivados de mais de um folheto embrionário. Em teratomas benignos, há diferenciação de tecidos, que formam estruturas organoides (pele e anexos, ossos, dentes, olho etc.), porém dispostos desordenadamente. Em teratomas malignos, a diferenciação é limitada (são imaturos), encontrando-se apenas raros esboços organoides de permeio com as células que sofreram transformação maligna. Estrutura proliferada e/ou origem do tumor Tumor benigno Tumor maligno TECIDOS EPITELIAIS Epitélio de revestimento Papiloma Carcinoma Epitélio glandular Adenoma Adenocarcinoma TECIDOS CONJUNTIVOS Tecido fibroso Fibroma Fibrossarcoma Tecido adiposo Lipoma Lipossarcoma Tecido cartilaginoso Condroma Condrossarcoma Tecido ósseo Osteoma Osteossarcoma Tecido mucoso Mixoma TECIDO HEMOLINFOPOÉTICO Células do sangue Leucemia Órgãos linfoides Linfoma TECIDOS MUSCULARES Liso Leiomioma Leiomiossarcoma Estriado Rabdomioma Rabdomiossarcoma TECIDO NERVOSO Neuroblasto Ganglioneuroma Ganglioneuroblastoma / Neuroblastoma Neuroepitélio Ependimoma Ependimoma maligno Células da glia Astrocitoma/ Oligodendroglioma Glioblastoma/ Oligodendroglioma maligno Nervos periféricos Neurinoma (schawnnoma) Neurinoma (schawnnoma) maligno Meninges menigioma Meningioma maligno VASOS Sanguíneos Hemangioma Angiossarcoma Linfáticos Linfangioma Linfangiossarcoma OUTRAS Sistema melanógeno Nevo Melanoma maligno Trofoblasto Mola hidatiforme coriocarcinoma Células multi ou totipotentes Teratoma benigno Teratoma maligno A classificação das neoplasias não é simples e nem apenas um exercício só de identificação histogenética, mas visa identificar nos aspectos morfológicos de uma lesão elementos que permitem extrair informações prognósticas ou preditivas que auxiliem na escolha do melhor tratamento. Em um mesmo local do corpo, é possível encontrar grande número de neoplasias diferentes. Nos rins, por exemplo, podem surgir carcinomas, linfomas, sarcomas e tumores embrionários. Muitos deles são morfologicamente muito distintos, têm evolução clínica diferente e, portanto, necessitam de tratamentos também diferentes. Em um laudo anatomopatológico, recebem nomes diferentes. Considerando-se apenas os carcinomas renais, existem alguns que se originam nos túbulos renais, enquanto outros se formam a partir do urotélio da pelve renal. Tais tumores exibem fatores de risco, apresentação clínica, comportamento biológico, aspectos microscópicos e moleculares diferentes e devem ser distinguidos ao se fazer o diagnóstico. Um tumor classificado erroneamente leva a tratamentos ineficazes e sequelas desnecessárias. Na maioria das neoplasias benignas e malignas, todas as células parenquimatosas se assemelham entre si. Com pouca frequência, contudo, a diferenciação divergente de um único clone neoplásico cria um tumor misto, tal como o tumor misto de glândula salivar. Esses tumores contêm componentes epiteliais esparsos em meio a um estroma mixoide que pode conter ilhas de cartilagem ou osso. Todos esses elementos surgem de um único clone capaz de produzir tanto células epiteliais quanto mioepiteliais; portanto, a designação de preferência para tais neoplasias é adenoma pleomórfico. A grande maioria das neoplasias, até mesmo os tumores mistos, são compostos por células de uma única camada germinativa. Uma exceção é o tumor chamado teratoma, que contém células maduras ou imaturas ou tecidos reconhecidamente pertencentes a mais de uma camada germinativa (às vezes a todas as três). O teratoma se origina de células germinativas totipotentes, normalmente presentes nos ovários e nos testículos e, algumas vezes, é também encontrado em restos embrionários anormais na linha média. Tais células podem se diferenciar em qualquer um dos tipos celulares encontrados no corpo adulto e, portanto, não surpreendentemente, podem originar neoplasias que contêm, de maneira desordenada, osso, epitélio, músculo, gordura, nervo e outros tecidos. Um padrão particularmente comum é observado no teratoma cístico ovariano (cisto dermoide), que se diferencia principalmente em linhagens ectodérmicas para criar um tumor cístico revestido de pele e repleto de pelos, glândulas sebáceas e estruturas dentárias. Características das NeoplasiasBenignas e Malignas: Em geral, tumores benignos e malignos podem ser distinguidos com base em uma série de características anatômicas e histológicas. Os tumores malignos também tendem a crescer mais rapidamente do que os tumores benignos, mas há tantas exceções que a taxa de crescimento não é um discriminador muito útil entre benignidade e malignidade. Na verdade, até mesmo cânceres apresentam taxas de crescimento extremamente variadas, de tumores de crescimento lento associados com sobrevida de anos, muitas vezes sem tratamento, a tumores que crescem rapidamente e que podem ser letais em meses ou semanas. Refere-se à extensão com que as células do parênquima neoplásico se assemelham às células parenquimatosas normais correspondentes, tanto morfológica quanto funcionalmente; a falta de diferenciação é denominada anaplasia. Em geral, os tumores benignos são bem diferenciados. A célula neoplásica em um tumor benigno de adipócitos – um lipoma assemelha-se tanto à célula normal que pode ser impossível reconhecer o tumor através da análise microscópica das células individuais. Somente o crescimento de tais células formando uma massa distinta revela a natureza neoplásica da lesão. Em tumores bem diferenciados benignos, as mitoses são geralmente raras e apresentam configuração normal. Já as neoplasias malignas exibem uma ampla gama de diferenciação das células parenquimatosas, a maioria exibe alterações morfológicas que traem sua natureza maligna. Entretanto, há exceções. Em uma extremidade do espectro, certos adenocarcinomas bem diferenciados da tireoide, por exemplo, formam folículos de aspecto normal, e alguns carcinomas de células escamosas contêm células que parecem idênticas às células epiteliais escamosas normais. Neoplasias malignas que são compostas por células pouco diferenciadas são denominados anaplásicas. A falta de diferenciação, ou anaplasia, é considerada uma marca da malignidade. A falta de diferenciação, ou anaplasia, frequentemente está associada a muitas outras alterações morfológicas . • Pleomorfismo. Células cancerígenas sempre mostram pleomorfismo – uma variação no tamanho e na forma. Assim, as células dentro do mesmo tumor não são uniformes, mas variam desde células pequenas com um aspecto indiferenciado, até células tumorais gigantes, muitas vezes maiores do que as suas vizinhas. • Morfologia nuclear anormal. Caracteristicamente, os núcleos são desproporcionalmente grandes para a célula, com uma razão núcleo-citoplasma que pode chegar a 1:1, em vez da relação normal de 1:4 ou 1:6. A forma do núcleo é variável e muitas vezes irregular, e a cromatina está normalmente agrupada de forma desordenada e distribuída pela membrana nuclear, ou com uma coloração mais escura que o normal (hipercromática). Nucléolos anormais grandes também são comumente observados. • Mitoses. Diferentemente dos tumores benignos e de algumas neoplasias malignas bem diferenciadas, nos tumores indiferenciados, muitas células estão na mitose, refletindo atividade proliferativa maior das células parenquimatosas. A presença de mitoses, contudo, não indica, necessariamente, que um tumor seja maligno ou que o tecido seja neoplásico. As mitoses são indicativas de crescimento celular rápido. Desse modo, as células em mitose são muitas vezes observadas em tecidos normais que apresentam rápida renovação, como o revestimento epitelial do intestino e as proliferações não neoplásicastais como as hiperplasias. Mais importante como característica morfológica de malignidade são as figuras mitóticas atípicas, bizarras, algumas vezes com fusos tripolares, quadripolares ou multipolares. • Perda de polaridade. Além das anormalidades citológicas, a orientação das células anaplásicas é significativamente alterada. Lençóis ou grandes massas de células tumorais crescem de maneira anárquica e desorganizada. • Outras alterações. Células tumorais em crescimento obviamente requererem um suprimento sanguíneo mas, frequentemente, o estroma vascular é escasso e, como resultado grandes áreas centrais de necrose isquêmica desenvolvem-se em vários tumores malignos de crescimento rápido. Como se pode presumir, quanto maior a diferenciação da célula transformada, mais ela retém as capacidades funcionais da sua contraparte normal. Portanto, as neoplasias benignas e carcinomas bem diferenciados de glândulas endócrinas frequentemente secretam hormônios característicos de sua origem. Níveis aumentados desses hormônios no sangue são usados clinicamente para detectar e acompanhar esses tumores. Carcinomas de células escamosas bem diferenciados da epiderme sintetizam ceratina, e carcinomas hepatocelulares bem diferenciados produzem bile. As células altamente anaplásicas e indiferenciadas, não importa qual seja seu tecido de origem, perdem sua semelhança com as células normais das quais se originaram. Em alguns casos, novas e inesperadas funções emergem. Desse modo, alguns tumores expressam proteínas fetais que não são produzidas por células comparáveis em adultos, enquanto outras expressam proteínas que são normalmente encontradas apenas em outros tipos de células adultas. Por exemplo, os carcinomas broncogênicos podem produzir corticotropina, um hormônio semelhante ao da paratireoide, insulina, glucagon e outros hormônios, dando origem a síndromes paraneoplásicas (ver adiante). Apesar das exceções, os tumores anaplásicos com rápido crescimento possuem menor probabilidade de apresentarem atividade funcional especializada. As células nos tumores benignos são quase sempre bem diferenciadas e se assemelham às suas células normais de origem; as células no câncer podem ser menos ou mais diferenciadas, mas algum grau de distúrbio de diferenciação sempre está presente. A metaplasia é definida como a substituição de um tipo celular por outro tipo celular e quase sempre é encontrada em associação com os processos de dano, reparo e regeneração teciduais. Frequentemente, o tipo celular é mais adaptado a alguma alteração do ambiente. Por exemplo, o refluxo gastro-esofágico danifica o epitélio escamoso do esôfago, levando à sua substituição por epitélio glandular (gástrico ou intestinal), mais adaptado a um ambiente ácido. O termo displasia literalmente significa “crescimento desordenado”. Ela pode ser encontrada principalmente em epitélios, e é caracterizada por uma constelação de alterações que incluem a perda da uniformidade das células individuais, assim como a perda de sua orientação arquitetural. As células displásicas podem exibir pleomorfismo considerável e frequentemente contêm núcleos hipercromáticos grandes com uma grande razão núcleo-citoplasma. A arquitetura do tecido pode ser desordenada. Por exemplo, no epitélio escamoso displásico, a maturação progressiva normal das células altas pertencentes à camada basal em células escamosas achatadas da superfície pode ser perdida parcial ou completamente, levando à substituição do epitélio por células de aspecto basal com núcleos hipercromáticos. Além disso, as figuras mitóticas são mais abundantes do que no tecido normal e, ao invés de estarem confinadas à camada basal, elas podem ser observadas em todos os níveis, incluindo células da superfície. Quando as alterações displásicas são marcantes e envolvem toda a espessura do epitélio, porém a lesão não penetra na membrana basal, ela é considerada como uma neoplasia pré-invasiva e é denominada carcinoma in situ. Uma vez que as células tumorais tenham rompido a membrana basal, diz-se que o tumor é invasivo. As alterações displásicas são frequentemente encontradas adjacentes a focos de carcinoma invasivo e em algumas situações, tais como em tabagistas de longa data e em pessoas com esôfago de Barrett, a displasia epitelial grave comumente antecede o aparecimento do câncer. Além disso, algumas mutações associadas a cânceres desenvolvidos (ver adiante) podem estar presentes mesmo em displasias “leves”. Assim, emboraa displasia possa ser uma precursora da transformação maligna, ela nem sempre progride para o câncer. Com a remoção das causas agressoras, displasias leves a moderadas que não envolvem toda a espessura do epitélio podem ser completamente reversíveis. Até mesmo o carcinoma in situ pode persistir por anos antes de se tornar invasivo. Por fim, mesmo que a displasia ocorra com frequência no epitélio metaplásico, nem todos epitélios metaplásicos são displásicos. O crescimento dos cânceres é acompanhado por infiltração progressiva, invasão e destruição do tecido circundante, ao passo que quase todos os tumores benignos crescem como massas expansivas coesas que permanecem em seu local de origem e não possuem capacidade para se infiltrar, invadir ou formar metástase em áreas distantes. Como os tumores benignos crescem e se expandem lentamente, geralmente eles desenvolvem um contorno de tecido fibroso comprimido, algumas vezes referido como uma cápsula que os separam do tecido hospedeiro. Esta cápsula é constituída em grande parte de matriz extracelular depositada pelas células estromáticas, tais como fibroblastos, que são ativados por danos hipóxicos resultantes da pressão do tumor em expansão. Essa encapsulação não evita que o tumor cresça, mas cria um plano tecidual que torna o tumor bem definido, facilmente palpável, móvel (não fixo), e facilmente excisável por enucleação cirúrgica (Figs. 7-11 e 7-12). No entanto, existem exceções a essa regra. Por exemplo, os hemangiomas (neoplasias compostas por vasos sanguíneos entrelaçados) frequentemente não são encapsulados e podem dar a impressão de permear a área em que surgem (p. ex., derme da pele e o fígado); quando essas lesões são extensas, eles podem ser irressecáveis. Por outro lado, os tumores malignos são, no geral, pouco demarcados em relação ao tecido normal ao seu redor e não há um plano de clivagem bem definido. Os tumores malignos de expansão lenta, contudo, podem propiciar o desenvolvimento de uma cápsula fibrosa aparente, que pode empurrar uma ampla frente tumoral em direção às estruturas normais adjacentes. O exame histológico de tais massas “pseudoencapsuladas” quase sempre mostra fileiras de células penetrando na margem e infiltrando as estruturas adjacentes, um padrão de crescimento em forma de caranguejo que constitui a imagem popular do câncer. Juntamente com o desenvolvimento de metástases, a capacidade de invasão é a característica mais confiável para diferenciar os tumores malignos dos benignos. Tal capacidade torna sua ressecção cirúrgica difícil ou impossível, e mesmo quando o tumor parece bem circunscrito é necessário remover uma margem considerável de tecidos aparentemente normais adjacentes à neoplasia infiltrante, a fim de garantir a excisão local completa. Como observado anteriormente, alguns cânceres parecem evoluir de um estágio pré-invasivo referido como carcinoma in situ. Isso é comum nos carcinomas da pele, mama e algumas outras áreas e é melhor ilustrado pelo carcinoma do colo uterino. Os cânceres epiteliais in situ mostram características citológicas de malignidade sem a invasão da membrana basal. Eles podem ser considerados uma etapa anterior ao câncer invasivo; com o tempo, a maioria penetra a membrana basal e invade o estroma subepitelial. A metástase é definida pela propagação de um tumor para áreas que são fisicamente descontínuas com o tumor primário e de forma inequívoca marca um tumor como maligno, pois, por definição, neoplasias benignas não formam metástases. A invasividade dos tumores malignos permite que eles penetrem nos vasos sanguíneos, linfáticos e cavidades corpóreas, provendo a oportunidade para a disseminação. Todos os tumores malignos podem formar metástase, mas alguns o fazem muito raramente. Alguns exemplos incluem neoplasias malignas das células gliais do SNC – gliomas - e os carcinomas basocelulares da pele. Estes tipos de câncer fazem a invasão no início de seu curso, mas raramente formam metástase. Sendo assim, as propriedades de invasão e metástases são distintas. Em geral, a probabilidade de um tumor primário formar metástase está correlacionada à falta de diferenciação, invasão local agressiva, crescimento rápido e tamanho grande. Contudo, há inúmeras exceções. Lesões pequenas, bem diferenciadas, de crescimento lento algumas vezes metastatizam amplamente; ao contrário, algumas lesões grandes e de crescimento rápido permanecem localizadas durante anos. Muitos fatores relacionados tanto ao invasor quanto ao hospedeiro estão envolvidos. Aproximadamente 30% dos tumores sólidos recém-diagnosticados (excluindo cânceres de pele que não os melanomas) já possuem metástases à apresentação. A propagação metastática reduz fortemente a possibilidade de cura; Dessa forma, na ausência da prevenção do câncer, nada apresentaria maior benefício para os pacientes do que um meio eficaz para bloquear as metástases, com a ressalva importante de que muitos tumores destinados a matar o paciente já se espalharam no momento do diagnóstico inicial. Cânceres do sangue (leucemias e linfomas, às vezes chamados de tumores líquidos) são derivados de células formadoras de sangue que normalmente possuem a capacidade de entrar na corrente sanguínea e se deslocar para áreas distantes; como resultado, as leucemias e linfomas são frequentemente disseminadas ao diagnóstico e são sempre consideradas malignas. A disseminação dos cânceres pode ocorrer através de três vias: (1) implante direto nas cavidades ou superfícies corpóreas, (2) disseminação linfática e (3) disseminação hematológica. Embora possa ocorrer uma disseminação iatrogênica das células tumorais em instrumentos cirúrgicos – a razão pela qual, por exemplo, biópsias de massas testiculares nunca são realizadas – geralmente é raro. Implante em Cavidades e Superfícies Corpóreas O implante de células tumorais em cavidades e superfícies corpóreas pode ocorrer sempre que uma neoplasia maligna penetra em um “campo aberto” natural sem barreiras físicas. A cavidade peritoneal é o local mais frequentemente envolvido, mas qualquer outra cavidade – pleural, pericárdica, subaracnoide e do espaço articular – pode ser afetada. Essa via é característica de carcinomas que se originam nos ovários, e que, com certa frequência, se espalham para superfícies peritoneais que se tornam recobertas por uma pesada camada vítrea do tumor maligno. Ressalta-se que as células tumorais podem permanecer confinadas à superfície da víscera abdominal sem penetrar em seu parênquima. Disseminação Linfática O transporte através dos vasos linfáticos é a via mais comum para a disseminação dos carcinomas. Os sarcomas podem também utilizar essa rota. Os tumores não contêm linfáticos funcionais, mas os vasos linfáticos localizados nas margens tumorais são suficientes para a disseminação das células tumorais. Assim, o primeiro sitio de metástase é o 1º linfonodo na via da drenagem linfática do turmor → chamado de linfonodo sentinela. A ênfase na disseminação linfática para carcinomas e na disseminação hematogênica para sarcomas é enganosa, pois, em última instância, há numerosas conexões entre os sistemas vascular e linfático. As primeiras metástases linfonodais de um câncer do pulmão, por exemplo, aparecem nos linfonodos do hilo pulmonar, enquanto as do câncer do quadrante superior externo da mama surgem primeiro nos linfonodos axilares. Após comprometimento da cadeia linfonodal mais próxima, outros linfonodos situados imediatamente adiante podem ser acometidos. Algumas vezes, no entanto, as metástases “saltam” o primeiro linfonodo (metástase saltada/saltitante – porque os vasos linfáticos podem ter sido obliterados em razão de anastomoses venolinfáticas, ou devido à inflamação, ou à radiação) e aparecem no seguinte ou surgem em linfonodos não relacionados topograficamente com a sede do tumor. É o caso de metástases supraclaviculares deum câncer gástrico. No câncer de mama, a determinação do envolvimento dos linfonodos axilares é importante para a avaliação do curso futuro da doença e para a seleção das estratégias terapêuticas apropriadas. Para evitar a morbidade cirúrgica considerável associada a uma completa dissecção de linfonodos axilares, uma biópsia dos linfonodos sentinelas frequentemente é utilizada para avaliar a presença ou ausência de lesões metastáticas nos linfonodos. Um linfonodo sentinela é definido como “o primeiro linfonodo em uma cadeia linfática regional que recebe o fluxo da linfa que vem do tumor primário.” → 1º linfonodo no trajeto do tumor até a cadeia linfonodal regional. O mapeamento do linfonodo sentinela pode ser feito através da injeção de sondas radiomarcadas e de corantes, e a análise de seções congeladas do linfonodo sentinela no momento da cirurgia pode guiar o cirurgião na direção da terapia mais adequada. O exame microscópico do linfonodo sentinela é procedimento de rotina no estadiamento de tumores da mama e melanomas e, mais recentemente, também em tumores endometriais e cânceres de cólon. Em muitos casos os linfonodos regionais servem como barreiras efetivas contra a disseminação futura do tumor, pelo menos por um tempo. É concebível que as células, após pararem no linfonodo, possam ser destruídas por uma resposta imune tumor-específica. A drenagem de restos de células tumorais ou de antígenos tumorais, ou de ambos, também induz a alterações reativas dentro dos linfonodos. Assim, o aumento dos linfonodos pode ser causado por disseminação e crescimento das células cancerígenas ou por hiperplasia reativa. Portanto, o aumento dos linfonodos próximos a um câncer não significa metástase: antígenos de tumores são levados aos linfonodos e induzem hiperplasia linfoide, que resulta em aumento de volume do órgão. Por outro lado, um linfonodo pequeno, de tamanho normal, pode conter metástases microscópicas Disseminação Hematogênica/ sanguínea: Células cancerosas que penetram na corrente sanguínea podem ser levadas a qualquer parte do corpo. A disseminação hematogênica é típica dos sarcomas, mas também é vista nos carcinomas. As artérias, com suas paredes mais espessas, são menos invadidas do que as veias. Contudo, a disseminação arterial pode ocorrer quando as células tumorais passam através dos leitos capilares pulmonares, ou através dos shunts arteriovenosos pulmonares, ou quando as metástases pulmonares por si mesmas originam êmbolos tumorais. Embora a metastatização não seja aleatória nem explicada somente pela anatomia da circulação, tumores de órgãos tributários do sistema porta dão metástases inicialmente no fígado (toda drenagem portal flui para o fígado), e todo o sangue da veia cava flui para os pulmões, sendo esses sede frequente de metástases. Os cânceres que surgem em íntima proximidade com a coluna vertebral com geralmente embolizam através do plexo paravertebral, e essa via está envolvida nas frequentes metástases vertebrais dos carcinomas da tireoide e da próstata. No entanto, só o critério anatômico não explica a localização preferencial de metástases, pois estas dependem de fatores ligados tanto às células malignas como ao nicho pré-metastático. Por exemplo, o carcinoma de mama dissemina-se preferencialmente para os ossos, os carcinomas broncogênicos tendem a envolver as glândulas suprarrenais e o cérebro, e os neuroblastomas disseminam-se para o fígado e para os ossos. Outras vias. O transporte de células neoplásicas pode ser feito também por canais, ductos ou cavidades naturais. Quando atingem a pleura ou o peritônio, células neoplásicas podem originar metástases na serosa e nos órgãos subjacentes. Quando as metástases de carcinomas são difusas no peritônio, fala-se em carcinomatose peritoneal. Células de tumores mucossecretores do apêndice cecal podem cair na cavidade peritoneal. Outra disseminação por via peritoneal é o tumor de Krukenberg, no qual se formam metástases bilaterais nos ovários a partir de cânceres de órgãos abdominais. Metástases podem surgir ainda no trajeto de feridas cirúrgicas ou de agulhas utilizadas para punções-biópsias (pouco frequente). Em resumo, componentes tanto da célula neoplásica como dos diferentes órgãos são essenciais para o aparecimento e a localização de metástases. COMPARAÇÃO ENTRE TUMORES BENIGNOS E MALIGNOS: Características Benigno Maligno Diferenciação / anaplasia Bem diferenciado; estrutura algumas vezes típica do tecido de origem Alguma falta de diferenciação (anaplasia); estrutura mitótica muitas vezes atípica. Taxa de crescimento Normalmente progressivo e lento; pode chegar a uma paralisação ou regredir; fíguras mitóticas raras e nomais. Irregular; pode ser lento ou rápido; figuras mitóticas podem ser numerosas e anormais. Invasão local Normalmente massa coesa, expansiva, bem demarcada que não invade ou se infiltra em tecidos normais circundantes Localmente invasivo, infiltrando tecido circundante; as vezes pode ser enganosamente coeso e expansivo. Metástase Ausente Frequente; mais provável com grandes tumores primários indiferenciados
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