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Fonte: Adaptado de Kampus Production. Pexels. Doenças raras e seus impactos nos contextos social e familiar Apresentação Olá, aluna(o)! As doenças raras são permeadas de condições específicas e particulares para as pessoas e as famílias que as possuem, tanto no contexto social quanto no contexto político. Sendo assim, para entender o impacto social que as doenças raras provocam tanto no meio familiar quanto em todo o contexto social nos quais as pessoas com essas condições estão inseridas, é necessário que você repense algumas atitudes e conheça outras para melhor conduzir as diversas situações em que pessoas com doenças raras precisam viver. Neste recurso, você aprenderá sobre o contexto próximo, ou seja, as realidades particulares das pessoas com doenças raras, e sobre o contexto ampliado, de cunho social e político, pelo qual os portadores de doenças raras precisam estar inseridos. Bons estudos! OBJETIVO Com este recurso, você será capaz de compreender os impactos das doenças raras nos âmbitos social e familiar. Doenças raras: contexto amplo Numa perspectiva macro, as doenças raras constituem um grupo heterogêneo de doenças, a maioria de etiologia genética, de baixa prevalência populacional e que, de modo geral, cursa crônica, grave e debilitante¹. Muitas delas se manifestam na infância, em forma de anomalia congênita, erro inato de metabolismo, erro inato da imunidade ou síndrome com comprometimento de um ou vários sistemas². Essas doenças afetam a vida das pessoas pela instalação de complexos quadros de adoecimento, que se somam às dificuldades — infelizmente — corriqueiras para obtenção de cuidados para doenças crônicas. O diagnóstico pode ser tardio, com longos tempos de espera por atendimentos ou exames, e podem não existir diretrizes para cuidado ou medicamentos e tratamentos específicos1,3. Uma dimensão social agrega-se ao panorama da complexidade clínica. A dimensão da deficiência, da diferença corporal, da cronicidade, das alterações em desenvolvimento, entre outras questões, acaba por conformar um quadro de estigmatização. Um grande percentual das doenças raras resulta em deficiência física, mental ou múltipla, algumas são invisíveis, por se tratarem, por exemplo, de condições metabólicas, neurológicas ou imunológicas4. Fonte: pch.vector. Freepik. Descrição: PARA SABER MAIS A TV Senado entrevistou a Prof.ª Dr.ª Juliana Forte Mazzeu de Araújo, bióloga e professora-pesquisadora da Universidade de Brasília. Na entrevista, ela aponta, de forma clara e didática, algumas características dos itinerários dos pacientes e dos exames para doenças consideradas raras. Fique por dentro do assunto, para isso, acesse: • Programa Cidadania da TV Senado. Em diversos textos de internet, documentos técnicos e artigos científicos, há sínteses de quais são as questões recorrentes no campo: A falta de acesso a diagnóstico correto, com longos itinerários diagnósticos, muitas vezes equivocados e imprecisos. A falta de informação sobre a doença e sobre onde obter a ajuda de profissionais de saúde. A falta de conhecimento científico com escassez de estratégias diagnósticas e terapêuticas. A falta de cuidados multiprofissionais de saúde após o diagnóstico inicial. As consequências sociais das manifestações das doenças, já que muitos pacientes são pessoas com necessidades médicas especiais ou com deficiência, o que gera estigmatização, isolamento, exclusão e discriminação, bem como redução das oportunidades profissionais. O alto custo dos cuidados multiprofissionais, das combinações de medicamentos ou de tratamentos específicos, associado à falta de benefícios sociais e de políticas públicas de apoio, causa a pauperização das famílias. https://www.youtube.com/watch?v=zIk0P1bbxXQ Descrição: Em boa parte dos textos reflexivos sobre doenças raras, você encontrará a combinação dos aspectos estruturais acima relacionados5. Parte da resolução de algumas dessas situações passa pela operacionalização da Portaria MS n.º 199/2014 ou pela elaboração de políticas públicas específicas, como os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do SUS. Você deve se lembrar que, de modo geral, a criação de protocolos para doenças raras não é uma tarefa fácil, uma vez que a quantidade e a qualidade das evidências científicas disponíveis precisam ser avaliadas, já que as fontes de informação epidemiológicas e clínicas são escassas ou não estão sistematizadas. Há muitos relatos de casos e estudos do tipo ecológico (observação de coortes de pacientes), mas há poucos ensaios clínicos. Isso significa que a qualidade dos registros e prontuários dos pacientes pode se tornar uma ferramenta importante para geração de novas evidências a serem consideradas ou publicadas. Fonte: Adaptado de pch.vector. Freepik. É fundamental que todo profissional de saúde que trabalha na Atenção Primária à Saúde (APS) conheça os instrumentos e os mecanismos de registro que permitem a inserção de uma pessoa com deficiência ou com uma doença rara no fluxo de referência e contrarreferência do SUS, como o campo da Declaração de Nascido Vivo que permite relatar a suspeita de alguma malformação congênita ou anomalia cromossômica6. Fonte: pch.vector. Freepik. Descrição: Segundo a CONITEC, os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) são documentos que estabelecem critérios para: Diagnóstico da doença ou do agravo à saúde. As posologias recomendadas. O tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando couber. Os mecanismos de controle clínico. O acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, que devem ser seguidos pelos gestores do SUS, baseados em evidência científica, considerando os critérios de eficácia, segurança, efetividade e custo-efetividade das tecnologias recomendadas. PARA SABER MAIS Existem, pelo menos, 60 PCDT voltados para doenças raras. Para conhecê-los, acesse: • Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT); • Lista de PCDT para doenças raras. A compreensão acerca dos aspectos históricos, sociais e biológicos que envolvem as doenças raras gira em torno de duas perspectivas que permitem traçar o contexto no qual as pessoas com doenças raras se inserem. Para melhorar a compreensão do que os aspectos macroestruturantes (contexto amplo) significam, podemos recorrer a Stewart e colaboradores7: O entendimento do contexto amplo exige que se considere não apenas os determinantes sociais da saúde e a prevalência global, a incidência e a propagação da doença, mas também os desafios e oportunidades para os cuidados de saúde contidos nas agendas, regulações legais e políticas de organizações internacionais, nacionais, provinciais, estaduais, municipais e profissionais. De forma crescente, esses fatores contextuais ditam ou dão base à promoção da saúde, à prevenção de doenças e às prioridades e direcionamentos dos tratamentos da doença, bem como definem o direcionamento dos cuidados de saúde primários tanto na comunidade quanto de cada indivíduo. Fatores do contexto amplo aqui incluem a comunidade, a cultura, a economia, o sistema de assistência à saúde, fatores sócio-históricos, aspectos geográficos, a mídia e a saúde ecossistêmica. Esses fatores se correlacionam com o contexto geral e com o metacontexto, conforme definido porHinds e colaboradores8. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/pcdt#d https://rederaras.unb.br/?page_id=285 Doenças raras: contexto próximo Os aspectos microestruturantes (contexto próximo) acabam por configurar a experiência do adoecimento raro, em consonância com a discussão sobre outros aspectos biomédicos e sanitários destas condições. Assim, o contexto próximo é conformado pela família, e inclui: Educação Fonte: pch.vector. Freepik. Segurança financeira Fonte: pch.vector. Freepik. Emprego Fonte: Adaptado de pch.vector. Freepik. Lazer e apoio social Fonte: Adaptado de pch.vector. Freepik. Parte dos casos e histórias de pessoas raras, muitas delas encontradas na forma de testemunhos nas redes sociais, alocam alguns des ses elementos: um pouco do histórico de suas relações familiares esclarece alguns elem entos da subsistência da família (o trabalho da mãe), apresenta alguns elem entos de seu contexto escolar e algumas informações das dinâmicas de apoio obtido pelos equipamentos de Estado, como as unidades de saúde. Para que seja possível compreender as inscrições biopsicossociais de alguém que vive com uma doença rara, é necessário identificar esses elementos nas jornadas, isto é, desde a primeira vez que as pessoas experimentaram os sintomas até o momento em que receberam o diagnóstico correto e as orientações para cuidados. Conforme mencionado anteriormente, ainda que a definição não seja consensual, pode-se afirmar que as doenças raras correspondem a um conjunto de doenças de diversas etiologias, que cursam (geralmente) crônicas, afetando, principalmente, crianças. A maioria tem componente genético, podendo resultar em deficiências. São de diagnóstico e manejo complexos e têm desdobramentos biopsicossociais relevantes. Constituem importante causa de mobilização sociopolítica e requerem investimentos e melhorias nos sistemas de saúde e de seguridade social. Considerações finais As pessoas com doenças raras vivem diversas realidades específicas e próprias de sua condição, que impactam na sua qualidade de vida e também na dos familiares que convivem com esse tipo de condição. São inúmeros os impactos gerados na vida das pessoas com essas condições, tanto individualmente, como nas realidades vivenciadas por eles na sociedade. Esperamos que este conteúdo tenha sido muito proveitoso para o seu entendimento acerca dos contextos que envolvem o enfrentamento de pessoas com doenças raras e que tenha esclarecido sobre as vivências do paciente com doença rara e da sua família. Até a próxima! Créditos Universidade Federal do Maranhão - UFMA Reitor Prof. Dr. Natalino Salgado Filho Diretoria de Tecnologias na Educação – DTED/ UFMA Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Grupo SAITE – Saúde, Inovação, Tecnologia e Educação Coordenadores Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Deysianne Costa das Chagas Paola Trindade Garcia Elza Bernardes Monier Mário Antônio Meireles Teixeira Bruno Serviliano Santos Farias Professor-autor Natan Monsores de Sá Coordenadora do curso Thalita Queiroz Abreu Carvalho Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos - Validadores técnicos Coordenação Geral das Pessoas com Doenças Raras Camila Chrispim de Carvalho - Coordenadora das Pessoas com Doenças Raras Talita Arantes Cazassus Dall´Agnol - Coordenadora das Pessoas com Doenças Raras Adriana Haas Villas Bôas - Coordenadora- Geral das Pessoas com Doenças Raras Departamento de Políticas Temáticas dos Direitos da Pessoa com Deficiência Vânia Tie Koga Ferreira - Coordenadora do Departamento de Políticas Temáticas dos Direitos da Pessoa com Deficiência Rodrigo Abreu de Freitas Machado - Diretor do Departamento de Políticas Temáticas dos Direitos da Pessoa com Deficiência Departamento de Gestão e Relações Interinstitucionais Liliane Cristina Gonçalves Bernardes - Diretora do Departamento de Gestão e Relações Interinstitucionais Validadora Pedagógica Cadidja Dayane Sousa do Carmo Consultoria de Acessibilidade Alice Schwartz Elizabet Dias de Sá Letícia Schwartz Gabriel Aquino Alves Gomes Rodrigo Sacco Teixeira Revisora Textual Vitória Regina de Alencar Araújo Designer Instrucional José de Ribamar Medeiros Lima Júnior Designer Gráfico Jackeline Mendes Pereira © 2022. Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Grupo de Pesquisa em Saúde, Inovação, Tecnologia e Educação – SAITE, vinculado à Universidade Federal do Maranhão. É permitida a reprodução, a disseminação e a utilização desta obra, em parte ou em sua totalidade, na forma da legislação ao mesmo tempo em que deve ser citada a fonte e é vedada sua utilização comercial, sem a autorização expressa dos seus autores, conforme a Lei de Direitos Autorais – LDA (Lei n.˜ 9.610, de 19 de fevereiro de 1998). Referências 1. AYMÉ, S.; SCHMIDTKE, J. Networking for rare diseases: a necessity for Europe. Bundesgesundheitsblatt, Gesundheitsforschung, Gesundheitsschutz, Berlim, v. 50, n.º 12, p. 1477-1483, 19 dez. 2007. 2. GIUGLIANI, R. et al. Rare disease landscape in Brazil: Report of a successful experience in inborn errors of metabolism Dr. Segolene Ayme. Orphanet Journal of Rare Diseases, Londres, v. 11, n.º 76, p. 1-8, jun. 2016. 3. RODWELL, C; AYMÉ, S. Rare disease policies to improve care for patients in Europe. Biochimica et Biophysica Acta – Molecular Basis of Disease, Amsterdã, v. 1852, n.º 10, p. 2329–2335, out. 2015. 4. MARKEL, H. The stigma of disease: implications of genetic screening. The American Journal of Medicine, Nova Iorque, v. 93, n.º 2, p. 209–215, 1992. 5. MONSORES, N. Questões bioéticas sobre doenças genéticas raras. In: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Dia Mundial das Doenças Raras. 1ª ed. Brasília, DF: Centro de Documentação e Informação – Edições Câmara, 2013. p. 16–24. (Série Separatas de Discursos, Pareceres e Projetos n.º 21/2013) 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de instruções para o preenchimento da declaração de nascido vivo. 3ª ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde; Fundação Nacional de Saúde, 2001. 32 p. 7. STEWART, M. et al. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. 3a ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2017. 8. HINDS, P. W. et al. Regulation of retinoblastoma protein functions by ectopic expression of human cyclins. Cell, Cambridge, v. 70, n.º 6, p. 993-1006, set. 1992. COMO CITAR ESTE MATERIAL MONSORES, Natan de Sá. Doenças raras e seus impactos nos contextos social e familiar. In: GRUPO SAITE. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Capacitação e Informação em Doenças Raras. Doenças Raras: aspectos históricos, sociais e biológicos. São Luís: Grupo SAITE; UFMA, 2022.
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