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11 Alexandre Barbosa Câmara de Souza CLÍNICA MÉDICA VI OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA 2 SUMÁRIO OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1. Fisiologia e fisiopatologia do ganho de peso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.1. Estímulo orexígeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.2. Estímulo anorexígeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.3. Sinalizadores de estoque de gordura periférica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2. Obesidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2.1. Avaliação do excesso de peso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.2. Etilogias da obesidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 3. Síndrome metabólica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 3.1. Fisiopatologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 3.2. Critérios diagnósticos de síndrome metabólica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 3.3. Manejo da síndrome metabólica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Mapa mental . Obesidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Questões comentadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 3 O QUE VOCÊ PRECISA SABER? u Os critérios diagnósticos da síndrome metabólica variam conforme a diretriz, mas, em geral, os seguintes parâmetros são levados em conta: u Aumento da gordura abdominal/visceral avaliada por meio da medida da cintura. u Redução do HDL-colesterol. u Aumento do triglicerídeos. u Aumento da pressão arterial e/ou uso de anti-hipertensivos. u Aumento da glicemia (pré-diabetes/diabetes mellitus tipo 2 e/ou uso de antidiabéticos). u Atenção: os critérios não levam em conta os níveis de colesterol total, colesterol LDL, assim como outros marcadores de resistência insulínica, ácido úrico, insulina, esteatose hepática e peso. 1. FISIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DO GANHO DE PESO Sabemos o quanto pode ser chato estudar fisiologia, mas não se preocupe! Seremos sucintos e passa- remos o que realmente é necessário para que você entenda sobre a regulação da fome e da saciedade. 1 .1 . ESTÍMULO OREXÍGENO Por que será que depois daquele plantão pesado sentimos tanta fome? Agora você vai entender o motivo! 1 .1 .1 . SINALIZAÇÃO PERIFÉRICA Inicialmente, a culpa da fome é da grelina, um hor- mônio produzido pelo fundo gástrico quando o estômago está vazio. Ele sinaliza ao hipotálamo a ausência de comida, ativando a sensação de fome. No momento da chegada do alimento ao fundo gástrico, a distensão do estômago suprime a produção da grelina. A grelina é o único hormônio produzido fora do sis- tema nervoso central que tem a função de sinalizar o aumento do apetite. DICA Alguns tipos de cirurgia bariátri- ca envolvem a retirada do fundo gástrico (sleeve) e, com isso, podem reduzir a produ- ção de grelina, promovendo, dessa forma, um mecanismo adicional de saciedade. O balão gástrico também promove a disten- são gástrica, fazendo com que uma menor ingesta alimentar já seja capaz de inibir a grelina. 1 .1 .2 . SINALIZAÇÃO CENTRAL A grelina não age sozinha. Na verdade, ela é o men- sageiro que ativa os neurônios de primeira ordem do núcleo arqueado produtores de AgRP (peptídeo relacionado ao Agouti) e NPY (neuropeptídio Y). Estes enviam impulsos para ativar os neurônios de segunda ordem do núcleo lateral do hipotálamo, que liberam orexina, hipocretina (substâncias que estimulam o apetite) e o hormônio concentrador de importância/prevalência OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 4 melanina (MCH), o qual também estimula a fome e reduz a termogênese. 1 .2 . ESTÍMULO ANOREXÍGENO Depois de tantos hormônios pedindo para você comer, não tem jeito, você compra aquela “nutritiva coxinha + chocolate pós-plantão” e torce para que a sinalização anorexígena funcione e não tenha que repetir a dose… agora, vamos entender o que vai acontecer com seus hormônios. 1 .2 .1 . SINALIZAÇÃO PERIFÉRICA [ BASES DA MEDICINA Quando o alimento entra no organismo, ele ativa uma série de hormônios no estômago, intestino, tecido adiposo, fígado, pâncreas, sangue etc. Esses hormônios informam ao hipotálamo que há comida no corpo, que pode ativar os estímulos para saciedade. Os principais estímulos anorexígenos são: u Intestinal (produzidos pelas células L do íleo e do cólon, a partir da chegada de alimentos nes- sa porção do intestino): peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP1), peptídeo YY, colecistoquinina e oxintomodulina. u Pancreático: insulina, amilina e polipeptídeo pancreático. u Adiposo: leptina — esse hormônio é proporcional à quantidade de tecido adiposo do indivíduo. Por isso é maior em mulheres do que em homens, maior em obesos e é reduzido em situações de anorexia ou privação energética. Ele representa o estoque de gordura, sendo o principal sinaliza- dor periférico de adiposidade, responsável por informar ao hipotálamo os estoques energéti- cos corporais. É muito comum que, ao acabar de ler essa infor- mação, você se questione: “Se obesos têm maio- res níveis de leptina e insulina, por que eles não possuem maior nível de saciedade?". Apesar dos níveis elevados dos hormônios anorexígenos, ocorre resistência central à leptina e à insulina, ou seja, elas não agem adequadamente. 1 .2 .2 . SINALIZAÇÃO CENTRAL [ BASES DA MEDICINA Agora que a periferia sinalizou a presença de alimento, essas mensagens serão somadas e integradas no hipo- tálamo com as informações dos centros cerebrais cor- ticais, como visão, olfato, paladar, memória e sistema de recompensa, para definir como ficará a fome (isso explica o “espaço” para a sobremesa que sempre surge depois da refeição, mesmo que você já esteja satisfeito). Quando o hipotálamo é avisado pela sinalização periférica para reduzir a sensação de fome, a via anorexigênica é “ligada” por meio da ativação do núcleo arqueado produtor de POMC/CART (pró-o- piomelanocortina/transcrito regulado pela cocaína e anfetamina), que são considerados neurônios de primeira ordem e que inibem a via orexigênica do NPY/AgRP, ou seja, reduzem a fome. DICA Você não leu errado — CART sig- nifica “transcrito regulado pela cocaína e anfetamina”, esse é o motivo que um dos efeitos do abuso dessas drogas é a perda de peso, o problema é que existem vários outros problemas, além do potencial de dependência... Além disso, temos ação termogênica por meio do CART (não é à toa que é regulado pela cocaína e anfetamina…) e dos neurônios de segunda ordem, que sintetizam e liberam hormônios catabólicos, como a ocitocina e o hormônio liberador de tireo- trofina (TRH), aumentando a termogênese e o gasto metabólicoapós as refeições. DICA Quer dizer que os estados pós-ali- mentares aumentam a termogênese?! En- tão o ideal é comer de 3/3 horas para ati- var o metabolismo e perder peso? Errado! Esse incremento não compensa a caloria ingerida do alimento. A partir da POMC, formam-se: Cap. 1 5 Obesidade e síndrome metabólica u Hormônio liberador de corticotrofina (CRH). u Beta-endorfina: liga-se a receptores opioides do hipotálamo e causa uma sensação prazerosa, provocando reforço positivo após a ingestão do alimento. u Hormônio estimulador de melanócito alfa (alfa- -MSH): ativa os neurônios de segunda ordem, que expressam os receptores de melanocortina 3 e 4 (MC3R e MC4R) e que levam à sensação de saciedade. DICA Questões desse assunto costu- mam cobrar a identificação de quais hormônios são orexígenos e quais são anorexígenos. Realmente parece di- fícil memorizar tantos hormônios no- vos, mas vamos facilitar: sabe aquele personagem do seriado “Chaves” com obesidade, o “Grande NHO NHO”? Lem- bre-se dele para não esquecer mais os hormônios relacionados ao aumento de apetite. Como assim?! O mnemô- nico dos hormônios orexígenos está nas letras em destaque: G – Grelina; N – Neuropeptídeo YY; H – Hipocretina; e O – Orexina. Sabendo que esses hor- mônios são orexígenos, pode marcar que todos os outros que eventualmen- te podem aparecer na sua prova são ANOREXÍGENOS. 1 .3 . SINALIZADORES DE ESTOQUE DE GORDURA PERIFÉRICA 1.3.1. ADIPONECTINA É um hormônio produzido exclusivamente pelo tecido adiposo; no entanto, suas concentrações são inversamente proporcionais à quantidade de tecido adiposo visceral. Mas por que? Isso ocorre porque as citocinas inflamatórias TNF-alfa e a IL6, produzidas pelo tecido adiposo visceral, inibem sua síntese. Ela é, praticamente, um hormônio perfeito, pois possui função metabólica protetora: u Reduz resistência à ação da insulina. u Tem efeitos anti-inflamatórios e anti-aterogênicos. u Melhora o perfil lipídico: reduz os triglicerídeos. u Efeito anti-aterogênico: aumenta o óxido nítrico e a vasodilatação e reduz o estresse oxidativo. 1 .3 .2 . RESISTINA É sintetizada pelos macrófagos e pelas células infla- matórias humanas. Como o próprio nome diz, ela está relacionada à resistência à insulina e, portanto, associada a um ambiente inflamatório, diabetes e síndrome metabólica. 1 .3 .3 . INTERLEUCINA-6 (IL6) Produzida especialmente pelos adipócitos viscerais (responsáveis por um terço do IL6 circulante), está aumentada na obesidade e na resistência à insu- lina. Inibe a oxidação de ácidos graxos e a ação da lipoproteína lipase e piora a resistência insulínica, aumentando os níveis de glicose e triglicerídeos. Além disso, aumenta a produção das proteínas de fase aguda da inflamação e reduz a adiponectina. Junto com a resistina, são os sinalizadores “do mal”. DIA A DIA MÉDICO Algumas situações clínicas podem cursar com resistên- cia insulínica e SM, sem obesidade. As principais são as lipodistrofias (perda da gordura subcutânea), que podem ser totais (Berardinelli Seip) ou parciais (relacionadas ao uso de antirretrovirais, principalmente inibidores de protease e da transcriptase reversa). Nessas situações, a resistência insulínica dá-se pela diminuição do tecido adiposo subcutâneo periférico. 2. OBESIDADE A obesidade é o excesso peso. Para alguém ganhar peso, é necessário que haja um balanço energético positivo, ou seja, consumir mais calorias do que gastar. No entanto, não é tão simples como parece, e até para definir quem é “obeso” existem várias divergências entre os métodos, sendo importante conhecê-los, mas também entender suas limitações. Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 6 2.1. AVALIAÇÃO DO EXCESSO DE PESO 2 .1 .1 . Índice de massa corporal O índice de massa corporal (IMC) é o método mais utilizado para avaliar a obesidade. Ele tem a vanta- gem de ser simples e bastante reprodutível, uma vez que utiliza somente o peso e a altura (fórmula mostrada na Figura 1). A partir disso, classificamos o estado nutricional do paciente (Tabela 1). Apesar de ser o método mais difundido, sendo, inclusive, recomendado pela OMS como parte da avaliação do risco cardiovascular, é limitado, já que a distri- buição do tecido adiposo e a quantidade de massa muscular não são levadas em conta no cálculo. Figura 1. Fórmula do índice de massa corporal. ( ) ( )2 = peso kg IMC altura metros Fonte: Elaborada pelo autor. Tabela 1. Classificação do estado nutricional, segundo valores do índice de massa corporal (IMC). Classificação com base no IMC (Kg/m²) População geral Idosas Idosos Asiáticos Baixo peso <18,5 <21,9 <21,9 <18,5 Eutrófico 18,5 a 24,9 22 a 27,0 22 a 27,0 18,5 a 22,9* Sobrepeso 25 a 29,9 27,1 a 32 27,1 a 30 23 a 27,4* Obesidade grau I 30 a 34,9 32,1 a 37 30 a 34,9 27,5 a 32,4* Obesidade grau II 35 a 39,9 37,1 a 41,9 35 a 39,9 32,5 a 37,4* Obesidade grau III (mórbida/grave) Maior ou igual a 40 Maior ou igual a 42 Maior ou igual a 40 Maior ou igual a 37,5* *Algumas referências utilizam intervalos diferentes para asiáticos, utilizando o intervalo de 23 a 24,9 como sobrepeso; 25 a 29,9 como obesidade grau I; 30 a 34,9 como obesidade grau II; ≥ 35 como obesidade grau III. Fonte: Adaptada de Fauci et al.1 DICA Na prova, fique de olho na idade e na etnia do paciente. W Em pacientes idosos, consideramos como IMC ideal entre 22 e 27 kg/m². W Em pacientes asiáticos, classificamos como sobrepeso o IMC acima de 23. Isso porque essa população tem maior acúmulo de gordura abdominal (visce- ral). 2 .1 .2 . Cintura abdominal A circunferência abdominal (CA) é um dos métodos mais utilizados para definir a obesidade visceral e tem boa correlação com risco cardiovascular. Pessoas com mesmo IMC, mas que tenham maior cintura abdominal, têm maior resistência insulínica e maior risco de HAS, DM2 e dislipidemia. No entanto, existem algumas desvantagens, pois esse método tem maior variabilidade entre avalia- dores e referências (Tabela 2). Cap. 1 7 Obesidade e síndrome metabólica Tabela 2. Principais indicadores para avaliar gordura visceral. Indicadores pela Organização Mundial da Saúde (OMS) Indicador Gênero Valor de referência Cintura consideravelmente aumentada Masculino >102 cm Cintura consideravelmente aumentada Feminino >88 cm Cintura aumentada Masculino >94 cm Cintura aumentada Feminino >80 cm Relação cintura quadril Masculino ≥0,9 Relação cintura quadril Feminino ≥0,85 Relação cintura altura Ambos ≥0,5 International Diabetes Federation (IDF)* – Classificação por etnia Europeus Masculino >94 cm Feminino >80 cm Sul asiáticos, chineses e japoneses Masculino >90 cm Feminino >80 cm *Desconsidera a população americana, para a qual os consensos utilizam o valor da OMS como padrão. Fonte: World Health Organization2. DICA Resumindo: para homens — muito aumentada é >102 cm (critério mais utili- zado); >94 cm (aumentada pela OMS/au- mentada em europeus pela IDF); e >90 cm (aumentada nas demais populações pela IDF). Já os valores de corte para mulheres são mais simples: >88 cm (muito aumen- tado pela OMS); e >80 cm (aumentada pela OMS e IDF). DIA A DIA MÉDICO A aferição da cintura abdominal deve ser feita ao final da expiração profunda, na linha média horizontal, entre a crista ilíaca e o último rebordo costal. 2 .1 .3 . Relação cintura-quadril A relação cintura-quadril (RCQ) estima a razão da gordura visceral (cintura) versus a periférica/ subcutânea (quadril), sendo um bom marcador da distribuição de gordura corporal. Consideramos como medida alterada se acima de 0,9 em homens e 0,85 em mulheres (Tabela 2). DICA Há críticas quanto à sua utiliza- ção para seguimento, já que mesmo pacientes que perdem grande quantida- de de peso podem manter a RCQ inal- terada. Além disso, são aferidas duas variáveis, o que torna mais trabalhosa a obtenção de um índice, cuja propos- ta principal é ser uma ferramenta de triagem. 2 .1.4 . Relação cintura-altura Essa medida tem ganhado destaque, pois parece predizer mais adequadamente o risco de DCV que o IMC ou mesmo a medida da circunferência abdo- minal. Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 8 DICA É definida como alterada uma relação cintura-altura ≥0,50 (algumas referências consideram acima de 0,55 cm como alterado). 2 .1 .5 . Avaliação indireta de composição corporal Outra maneira de avaliar obesidade é por meio da composição corporal. Alguns métodos podem ser utilizados para essa análise, como: bioimpedância, cálculo por dobras cutâneas e densitometria de corpo inteiro. DIA A DIA MÉDICO A vantagem dessa modalidade é definir quanto do peso é massa muscular e quanto é gordura, sendo muito útil para atletas e pessoas com grande massa muscular, para as quais poderíamos atribuir o diagnóstico de sobrepeso ou obesidade, apesar da ótima composição corporal. A desvantagem é a falta de trabalhos correlacionando os dados dessas medidas com o risco cardiovascular a longo prazo. Além disso, são mais trabalhosos/dispendiosos para serem obtidos. 2 .2 . ETILOGIAS DA OBESIDADE Em qualquer idade e população, a principal causa para obesidade é exógena, representando mais de 95% dos casos (basicamente: alimentação e seden- tarismo). Mas quem nunca escutou a célebre frase: “deve ser culpa da tireoide, doutor!" Mesmo com toda a “fama”, as causas endógenas são minoria, representando menos de 5% dos casos. DICA Mesmo em crianças, as causas exógenas são as principais etiologias para obesidade. 2 .2 .1 . Exógeno (primária) Os fatores ambientais, como dieta hipercalórica e baixo nível de atividade física, são as principais causas de obesidade, mas, na prática, algumas pessoas, realmente, são mais propensas a ganhar peso do que outras, ainda que estejam fazendo a mesma dieta e praticando a mesma atividade física. Mas, por que isso acontece? Mesmo nesses casos, a obesidade, geralmente, não está relacio- nada a causas endógenas e, sim, a polimorfismos genéticos, que predispõem a maior capacidade de estocar gordura e menor capacidade de oxidá-las. Como esses polimorfismos são de herança poligê- nica e não determinam a obesidade, mas apenas predispõem ao ganho de peso, estão classificados junto aos fatores exógenos e não aos endógenos. Algumas medicações, como os glicocorticoides e os retrovirais, podem aumentar a adiposidade, principalmente a visceral. Maior parte dos antip- sicóticos e dos anticonvulsivantes também estão relacionadas ao ganho de peso, como lamotrigina, ácido valproico, quetiapina e olanzapina. A exceção deste grupo é o topiramato, que inclusive é usado no tratamento da obesidade. DICA Muita atenção quando se depa- rar com questões sobre os fármacos relacionados com ganho de peso. Es- sas questões costumam jogar uma pe- gadinha “semântica”, falando que “obe- sidade pode ser secundária ao uso de corticoide...”, daí induz você a marcar que os medicamentos são causas de obesidade secundária, o que é FALSO, pois, como dito anteriormente, são con- sideradas etiologias exógenas/PRIMÁ- RIAS. Só seria endógena/SECUNDÁRIA se estivéssemos diante de uma doença de Cushing. Concordo com vocês, esse tipo de conhecimento é sem noção e não muda a conduta, mas sabe-se lá o que se passa na cabeça da banca, mas temos que nos preparar para qualquer situação. Cap. 1 9 Obesidade e síndrome metabólica DIA A DIA MÉDICO A prevalência de excesso de peso e de obesidade aumen- taram continuamente. Apesar da falta de alimentos, infe- lizmente, ainda ser um problema, a dieta desequilibrada também é uma realidade no país e em todas as classes econômicas. Para se ter uma ideia, apesar do Brasil ser um grande produtor agrícola, nossa dieta padrão é insuficiente em frutas, verduras e legumes. E, conforme aumenta o rendimento das famílias, evidencia-se o aumento do teor de gorduras e proteínas de origem animal, que deveria ter limite máximo de 30% das calorias totais, mas é ultrapas- sado a partir da classe de renda mensal de mais de seis salários-mínimos. 2 .2 .2 . Endógeno (secundária) São causas raras de obesidade. Os maiores exem- plos das causas endógenas são as síndromes gené- ticas relacionadas à obesidade grave (Prader-Will, Laurence-Moon, Biedl, Alstrom, pseudohipoparati- reoidismo…) e doenças endócrinas não relacionadas ao uso de drogas (que seriam um fator exógeno/ primário), como hipotireoidismo, hipogonadismo, doença de Cushing, deficiência de hormônio de crescimento, craniofaringeoma (tumor hipotalâmico que causa obesidade e deficiências hormonais, pelo envolvimento hipotalâmico e hipofisário). 3. SÍNDROME METABÓLICA Desculpe decepcioná-los, mas não existe a doença “síndrome metabólica (SM)”! Essa “entidade” é utilizada para denominar a disfunção metabólica associada à obesidade visceral e à resistência insulínica, sendo causa/consequência de doenças cardiovasculares (CV), intolerância à glicose ou Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), hipertensão arterial sistêmica (HAS) e dislipidemia. Indivíduos com SM também são mais suscetíveis a mais de 180 outras complicações (Quadro 1), como síndrome dos ovários policísticos; esteatose hepá- tica e sobrecarga hepática de ferro; apneia do sono, síndrome de hipoventilação da obesidade (síndrome de Pickwick), asma; cálculos biliares; hiperuricemia e gota; distúrbios do sono; e algumas formas de câncer, como mama, endométrio, rim, vesícula biliar, pâncreas, adenocarcinoma de esôfago e colorretal. Outra complicação importante é o hipogonadismo masculino. Inclusive, em razão dos menores níveis séricos de testosterona, há menor risco de câncer de próstata em obesos; no entanto, quando ocorre, geralmente é mais indiferenciado, agressivo e menos responsivo a terapias hormonais. Crianças obesas podem cursar com adrenarca pre- coce, e um dos fatores que a explica é a ativação da adrenal, mediada pelo aumento da produção de angiotensina II pelos adipócitos, esse mecanismo também leva ao aumento da produção de aldoste- rona, levando ao aumento de pressão arterial e à resistência insulínica. Além de tudo isso, o aumento do risco de complica- ções na hospitalização de pessoas com obesidade ganhou destaque, principalmente durante a pande- mia de covid-19, pois: Essas pessoas, geralmente, possuem maior preva- lência de morbidades - como DM2, doença coro- nariana, insuficiência cardíaca, HAS, hipertensão pulmonar, trombose venosa e baixa capacidade funcional, que predispõem à evolução desfavorável da covid-19, como a de quaisquer outras infecções. O excesso de peso também ser associado a pro- blemas do sistema respiratório, como a redução da capacidade residual funcional, atelectasias e shunts pulmonares, que resultam em risco de dessaturação rápida diante de situações de elevada taxa meta- bólica basal e demanda de oxigênio (infecções e cirurgias). Pacientes com obesidade terem maior risco de apre- sentar via aérea difícil, pois os tecidos redundantes das vias aéreas superiores, o peso da parede torácica e a resistência da massa abdominal dificultam o procedimento. DIA A DIA MÉDICO A obesidade tem um grande impacto nos sistemas de saúde, devido a altíssima prevalência na população — existem mais de 2 bilhões de pessoas obesas no mundo, e no Brasil não é diferente: 60% da população brasileira têm excesso de peso e > 25% é obesa! Para você ter uma Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 10 noção, o SUS gasta quase R$ 500 milhões/ano com os custos atribuíveis somente à obesidade. E no grupo de obesidade mórbida isso chama ainda mais atenção: apesar de a prevalência ser 18 vezes menor que as obesidades I e II, ela é responsável por ¼ desse valor. Quadro 1. Complicações relacionadas à obesidade. Sistema cardiovascular • Doença arterial coronariana • Hipertrofia ventricular esquerda • Angina pectoris • Fibrilação atrial • Arritmia ventricular • Insuficiência cardíaca congestiva • Hipertensão arterialsistêmica • Edema de membros inferiores • Veias varicosas • Doença hemorroidária • Doença tromboembólica Sistema respiratório • Apneia obstrutiva do sono • Asma • Policitemia secundária • Síndrome de hipoventilação da obesidade (síndrome de Pickwick) Sistema digestório • Refluxo gastroesofágico e esofagite • Colelitíase • Esteatose e cirrose hepática • Pancreatite Rins • Insuficiência renal crônica Doenças metabólicas/hormonais • Diabetes mellitus tipo 2 • Gota (hiperuricemia) • Hiperlipidemias • Síndrome do ovário policístico Sistema nervoso • Demência vascular • Doença de Alzheimer • Acidente vascular cerebral • Pseudotumor cerebral Pele • Estrias • Acantose nigricans • Hirsutismo • Intertrigo Doenças osteomusculares • Osteoartrose de joelhos • Osteoartrose de coluna • Esporão de calcâneo • Agravo de defeitos posturais Neoplasia • Endométrio • Vesícula • Mama • Cólon Função sexual e reprodutiva • Risco de pré-eclâmpsia • Risco de diabetes mellitus gestacional • Parto prolongado • Cesárea mais frequente • Irregularidade menstrual • Ciclos anovulatórios e infertilidade na mulher • Hipogonadismo e infertilidade no homem Função psicossocial • Autoimagem • Sentimento inferioridade • Isolamento social • Bullying • Suscetibilidade a neuroses • Perda de mobilidade • Mais faltas ao emprego • Aposentadoria precoce • Aumento de licenças médicas Outras comorbidades • Aumento do risco cirúrgico e anestésico • Hérnias • Propensão a acidentes • Subdiagnóstico de outras patologias Fonte: Adaptado de Sales et al.3 3 .1 . FISIOPATOLOGIA A presença de resistência insulínica é quase uma condição sine qua non em pacientes com síndrome Cap. 1 11 Obesidade e síndrome metabólica metabólica. Podemos identificar a resistência insu- línica até mesmo no exame físico, por meio do aumento da cintura abdominal, e ainda alterações dermatológicas, como acantose nigricans (Figura 2) ou acrocórdons (Figura 3). DICA Essas alterações ocorrem por- que os melanócitos não sofrem resis- tência insulínica; portanto, o excesso de insulina estimula a hiperprolifera- ção dessas células, principalmente em áreas de dobras, levando ao espessa- mento de pele (acantose) e ao surgi- mento de nódulos (acrocórdons). Figura 2. Acantose nigricans em região cervical e axilar. Fonte: Acervo Sanar. Figura 3. Acrocórdons + acantose nigricans em região cervical. Fonte: Acervo Sanar. DIA A DIA MÉDICO O grande desafio é mensurar essa resistência na prática clínica — o padrão ouro para diagnóstico é o clamp eugli- cêmico hiperinsulinêmico, técnica de difícil execução, que administra, no indivíduo testado, insulina e glicose por via endovenosa, sendo a glicose em quantidade fixa, com o avaliador ajustando a infusão da insulina para manter a glicemia estável. A ideia é quanto mais insulina for necessária, maior a resistência. Percebeu como é complicada?! Por isso, só é realizada em laboratórios de pesquisa, sendo inviável na prática clínica. Alguns autores até propõem o uso do cálculo do Homeostasis Model of Assessment (HOMA) ou a medida da insulinemia de jejum; no entanto, essa recomendação é refutada pela maior parte da comunidade científica, tendo utilidade somente em pesquisas populacionais. 3 .2 . CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DE SÍNDROME METABÓLICA Existem vários critérios diferentes para a síndrome metabólica, e listamos as principais na Tabela 3. Perceba que todas utilizam alguma medida de obesidade central, dislipidemia, pressão arterial e avaliação do perfil glicêmico. A definição mais utilizada para síndrome metabólica é o da NCEP-ATPIII, que utiliza como critério o valor de cintura para homens ≥102 cm e para mulheres ≥88 cm. Inclusive, esse é o critério descrito na diretriz brasileira.. DICA Geralmente, a questão dirá a você que critério ela quer que você considere, mas, caso não especifique, na dúvida pode usar o da NCEP-ATP III. É importante ficar atento aos critérios da Organiza- ção Mundial de Saúde (OMS), pois essa entidade utiliza valores diferentes de PA e de HDL e também considera parâmetros distintos de critérios diagnós- ticos, como microalbuminúria, IMC ≥30 e relação cintura-quadril. Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 12 Tabela 3. Critérios diagnósticos de síndrome metabólica. NCEP-ATP III International Diabetes Federation (IDF) Organização Mundial de Saúde (OMS) Critérios Associação de três ou mais dos fatores seguintes Alteração na glicemia (resistência à insulina – por clamp), pré diabetes ou diabetes mellitus + associação de, pelo menos, mais dois critérios: Alteração da glicemia ou tratamento Glicemia de jejum ≥100 mg/dL (algumas referências desatualizadas colocam 110 mg/dL) HAS ou tratamento ≥130 × 85 mmHg ≥130 × 85 mmHg ≥140 × 90 mmHg Triglicérides ou tratamento ≥150 mg/dL ≥150 mg/dL ≥150 mg/dL HDL ou tratamento Homem <40 mg/dL <40 mg/dL <35 mg/dL Mulher <50 mg/dL <50 mg/dL <40 mg/dL Obesidade visceral (central) Homem Cintura abdominal (CA) ≥102 cm CA ≥94 cm/asiáticos e sulamericanos CA ≥90 cm C/Q >0,9 Ou IMC >30 kg/m² Mulher CA ≥88 cm/asiáticos ≥80 cm CA ≥80 cm C/Q >0,85 Microalbuminúria — — ≥30 mg/g Fonte: Adaptado de Mancini4. DICA Não escorregue nas definições. NE- NHUMA das entidades utiliza o LDL como critério diagnóstico. Além disso, somente a OMS utiliza o IMC. 3 .3 . MANEJO DA SÍNDROME METABÓLICA O objetivo do tratamento é reduzir os riscos, princi- palmente de eventos cardiovasculares e da mortali- dade. Cada uma das complicações deve ser tratada individualmente, mas, essencialmente, devemos reduzir a resistência insulínica, por meio da mudança do estilo de vida, buscando a perda de peso/redução da gordura visceral. DICA Considerando que quase 30% da população adulta têm SM, são fundamen- tais medidas de saúde pública o estímulo à atividade física e à alimentação saudável, já que são mais eficazes e com custo-benefí- cio melhor do que tratar as complicações. Portanto, também faz parte do manejo leis que estimulem a melhora dos hábitos, como a que obriga a redução em 50% na quantida- de de açúcar em refrigerantes e similares, campanhas para não associar brindes para crianças em alimentos industrializados e colocar nas embalagens o perigo do açúcar, assim como é feito com o cigarro.Di 3 .3 .1 . Mudança de estilo de vida A principal intervenção é a mudança no estilo de vida, que inclui: u Aumento moderado e mantido da atividade física. u Mudança na composição da dieta: aumentar o consumo de saladas, frutas e diminuir gorduras e açúcares livres. u Perda de peso: restrição calórica moderada, com redução de, ao menos, 500 kcal da dieta habitual, com objetivo de perda de 5 a 10% do peso inicial em 3-6 meses. Cap. 1 13 Obesidade e síndrome metabólica DICA Uma questão importante é garantir uma estratégia de manutenção do peso, mantendo uma dieta equilibrada (mesmo após a perda de peso) e intensificando a ati- vidade física, pois, uma vez obeso, a progra- mação hipotalâmica será sempre de obeso e, caso não haja nenhuma estratégia de ma- nutenção, invariavelmente haverá reganho.i 3.3.1.1. Dieta A grande pergunta é: que dieta deve ser escolhida? Como sabemos, existem milhares de tipos de dietas para emagrecer. Em geral, a base das dietas mais comuns é a restrição calórica moderada, contendo 1.000-1.500 kcal/dia para mulheres e 1.200-1.800 kcal/dia para homens, com o objetivo de um déficit calórico de aproximadamente 500-1.000 kcal/dia (o que geraria uma perda inicial estimada de 0,5-1 kg/ semana para um adulto de 70-80 kg). DICA Há um mito de que perder peso muito rápido pode levar ao reganho muito maior, mas isso não é verdade! Inclusive, alguns estudos mostram que pessoas que perdem mais peso no início da dieta, ten- dem a manter o peso a longo prazo. A dieta deve ser equilibrada no consumo dos macro- nutrientes: baixa em gorduras saturadas e colesterol, restrição salina e de açúcares simples e aumento da ingestão de frutas, vegetaise cereais. DIA A DIA MÉDICO Algumas pessoas podem se adaptar a protocolos mais restritos, como: W Dieta de Atkins, com base hiperproteica e restrição extrema de carboidratos (20-50 g/dia). W Dieta Ornish, vegetariana, com restrição extrema de gorduras (10% das colorias totais). W Dietas de muito baixas calorias (800 a 400 kcal/dia). Essas dietas podem levar a outras complicações, como arritmia cardíaca e déficit nutricional, devido à falta de alguns componentes na dieta, e devem ser orientadas por profissionais especializados. 3.3.1.2. Atividade física A atividade física é fundamental na abordagem da síndrome metabólica, pois tanto reduz a resistência insulínica, como também é essencial para manter o peso a longo prazo. De forma geral, devemos esti- mular qualquer tipo de atividade física, respeitando as limitações, mas focando em garantir um mínimo de atividade aeróbica: u Se o paciente estiver fazendo atividade modera- da, deve acumular 30 minutos ou mais de ativi- dade/dia, com frequência mínima de cinco dias por semana, totalizando pelo menos 150 minu- tos/semana. u Se atividade intensa, a duração pode ser de 20 a 60 minutos por dia, por pelo menos três dias por semana, totalizando ao menos 75 minutos/ semana. Indivíduos com mais de 40 anos e/ou portadores de algum fator de risco cardiovascular, devem passar por avaliação médica antes do início das atividades de moderada a alta intensidade. 3 .3 .2 . Terapia farmacológica para obesidade As indicações de tratamento medicamentoso no tratamento da obesidade são IMC ≥30 kg/m² sem comorbidades, ou ≥25 kg/m² com comorbida- des (algumas referências colocam 27, em vez de 25 kg/m²), considerando que a abordagem tradi- cional com dieta, aumento de atividade física e modificações no comportamento não tenham sido eficazes. A cirurgia bariátrica deve ser avaliada em caso de obesidade grave (IMC ≥40) ou ≥35 kg/m² com comorbidades, instalada há mais de cinco anos ou falha no tratamento clínico após dois anos de seguimento. Ela será explicada com mais detalhes no módulo de cirurgia. DICA A cirurgia metabólica (cirurgia bariá- trica para pacientes com IMC ≥30 kg/m²) pode ser utilizada no tratamento do DM2 refratário, desde que o paciente esteja em acompanhamento regular por, pelo menos, dois anos e com tratamento otimizado, além de diagnóstico de DM2 realizado há <10 anos. Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 14 Em nosso país, os principais medicamentos apro- vados pela ANVISA para o tratamento da obesidade são: sibutramina, liraglutida, orlistate e a associação do bupropiona com naltrexona. É possível o uso de medicações off-label em casos de refratariedade, efeitos colaterais ou contrain- dicações às medicações aprovadas, desde que prescritas por um profissional com experiência na área. Nesse caso, há respaldo da literatura para prescrição de topiramato, outros agonistas de GLP1 e lisdexanfetamina (útil para compusão alimentar). DICA As anfetaminas, como anfepramona, mazindol e femproporex, foram retiradas do mercado pela Anvisa em 2011 e, ape- sar da tentativa do Congresso Nacional de retornar a venda dessas medicações em 2018, a Anvisa reforçou a proibição e sua utilização não é permitida no Brasil, apesar de liberadas no USA. Em 2020, a Anvisa também retirou do mer- cado o medicamento lorcasserina, após o estudo CAMELLIA-TIMI 61, que mostrou um discreto aumento na incidência de cân- cer (7,7% no grupo lorcasserina e 7,1% no grupo placebo) nos pacientes que fizeram uso dessa medicação por tempo prolon- gado (5 anos). Enfatizamos que o uso de fórmulas para emagrecer, que misturam vários compo- nentes, como hormônio tireoidiano (T4/ T3), diuréticos, fitoterápicos, ansiolíticos e outros, não é off-label, e sim antiético e prejudicial As doses, o modo de ação e os efeitos colaterais estão resumidos no Quadro 2. Quadro 2. Tratamento medicamentoso para perda de peso. Medicamento Dose Benefícios Efeitos colaterais Sibutramina 10 a 15 mg VO pela manhã Redução do apetite Aumento da pressão arterial e frequência cardíaca Insônia e constipação Topiramato 25 a 200 mg Redução do apetite Também pode ser usado como profilaxia de enxaqueca e anticonvulsivante Sonolência Redução da concentração Miopia aguda Orlistate 120 mg VO de 1 até 3 vezes por dia com as refeições Reduz absorção da gordura no trato gastrointestinal Diarreia Dimesilato de lisdexanfetamina (Venvanse®) 50 a 70 mg VO pela manhã Redução da compulsão alimentar Insônia Liraglutida (Saxenda®) 0,6 a 3 mg, SC, uma vez por dia Redução do apetite Náuseas Bupropiona + Naltrexona 90/8 mg VO 1 vez ao dia até 180/16 mg 2 vezes ao dia Redução do apetite Efeito antabuse Fonte: Adaptado de Mancini4. Cap. 1 15 Obesidade e síndrome metabólica DICA Os inibidores seletivos de receptação da serotonina (ISRS) podem ser úteis para perda de peso em portadores de transtornos ansiosos ou depressivos com algum grau de compulsão alimentar, sendo algumas das opções mais utilizadas a fluoxetina e a sertralina. Mas, não apresentam eficácia para perda de peso em pacientes que não tenham as condições supracitadas 3 .3 .3 . Sibutramina Inibidor de receptação de noradrenalina e serotonina, é um medicamento com efeito sacietógeno e tem discreto efeito termogênico. Por isso, pode elevar a pressão arterial e a frequência cardíaca (3-5 mmHg na pressão arterial diastólica e de 2 a 4 bpm na FC). Suas principais contraindicações são: u Pacientes com alto risco cardiovascular, incluindo insuficiência renal, insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, HAS mal controlada. u Transtornos alimentares (como bulimia e ano- rexia) e transtornos psiquiátricos não controlados. u Extremos de idade. u Não respondedores à medicação. DIA A DIA MÉDICO Apesar da contraindicação em bula, buscou-se avaliar se a perda de peso, nos pacientes de risco, conseguiria suplantar os possíveis malefícios, sendo realizado o estudo Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial (SCOUT), que mostrou o que já era esperado: houve um discreto aumento de eventos cardiovasculares no grupo sibutramina (11,4% no grupo sibutramina vs. 10% no placebo). Por esses resultados, alguns países proibiram sua comercialização (apesar de sempre ter estado na bula que havia contrain- dicação para pacientes de alto risco cardiovascular). Aqui no Brasil, chegou a ser proibida por alguns meses, mas a Anvisa acatou o pedido da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e voltou atrás, sendo novamente liberada, mas com a mudança da classificação de C1 (“outras substân- cias sujeitas a controle especial”) para B2 (“psicotrópico anorexígeno”), exigindo um termo de responsabilidade preenchido pelo médico e pelo paciente. 3 .3 .4 . Liraglutida Para obesidade, observou-se que há eficácia com doses até 3 mg, enquanto para o controle glicêmico a dose terapêutica é até 1,8 mg/dia. Uma grande vantagem é a redução da mortalidade cardiovas- cular encontrada em pacientes de alto risco (como documentado no estudo LEADER), diferentemente da sibutramina. Discutiremos mais sobre essa classe no capítulo de tratamento de diabetes. DIA A DIA MÉDICO As grandes desvantagens são o preço (o tratamento com a dose de 3 mg fica em torno de R$ 900,00/mês!) e as náuseas, que podem ser limitantes. Por isso, no início do tratamento, é realizada titulação progressiva da dose, que reduz a frequência e a intensidade das náuseas. Em geral, iniciamos com 0,6 mg/dia e aumentamos 0,6 mg a cada três a sete dias, conforme tolerabilidade. 3 .3 .5 . Orlistate É um inibidor das lipases pancreáticas. Essas enzi- mas catalisam a quebra dos triglicérides em ácidos graxos livres e glicerol, assim, ao ligar-se na lipase, impedem a absorção de 30% da gordura da refeição. O principal efeito colateral é justamente esse meca- nismo disabsortivo, pois se o paciente comer ali- mentos com gordura em excesso,30% a mais de lipídeos no trato gastrointestinal podem levar à diarreia e até à incontinência fecal. DICA Outra questão é a possibilidade de má absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K); por isso, pacientes que utilizam essa medicação por longo prazo deveriam repor essas vitaminas. Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 16 REFERÊNCIAS 1. Fauci AS, Braunwald E, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, Jameson JL, et al. Harrison’s principles of internal medi- cine. 17th ed. New York: McGraw-Hill; 2008. 2. World Health Organization – WHO. Waist circumference and waist-hip ratio: report of a WHO expert consultation, Geneva, 8–11 December 2008 [Internet]. Geneva: WHO; 2011 [acesso em 26 set 2022]. Disponível em: https:// www.who.int/publications/i/item/9789241501491 3. Sales P, Halpern A, Cercato C. O essencial em endocrino- logia. Rio de Janeiro: Roca; 2016. 4. Mancini MC. Tratado de obesidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2015. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA What is acanthosis nigricans. Huidziekten.nl. [Internet]; 2018 [acesso em 26 set 2022]. Disponível em: https://www.hui- dziekten.nl/folders/nederlands/acanthosis-nigricans.htm. 5. Imagem do Tórax 17 Obesidade e síndrome metabólica Cap. 1 17 Liraglutida Off-label Sibutramina Redução na absorção de gordura Orlistate Inibidores de apetite TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Atividade física Modificações comportamentais Hábitos alimentares Pacientes IMC > 30kg/m2 IMC 25 (27) kg/m2 com comorbidades IMC 25 (27) kg/m2 c/ terapia dietética e atv. física sem êxito FARMACOTERAPIA COMPLICAÇÕES DCV Resistência insulínica e DM tipo 2 Doenças pulmonares Doenças hepatobiliares Distúrbios reprodutivos Câncer PESO/ALTURA2 Método mais aplicado >30 kg/m2 Estado de excesso de peso IMC DEFINIÇÃO IMC grave (IMC ≥ 40kg/m2) IMC ≥ 35kg/m2 + comorbidades Classificadas em Restritivas Restritivas disabsortivas Disabsortivas CIRURGIA LEGENDA: DCV Doença cardiovascular IL Interleucina IMC Índice de massa corporal DM Diabetes Mellitus Liberação agentes protrombróticos Alto número de macrófagos infiltrados Lera TNF-α Libera IL-6 Tecido em estado inflamatório crônico Aumento de tecido adiposo visceral Serotonina Leptina MSH- GLP-1 NPY Orexina Único orexogênico liberado pelo trato gastrointestinal Grelina Redução do apetite Aumento do apetite Regulado por fatores endócrinos e neurais APETITE HOMEOSTÁTICA FISIOPATOLOGIA Fatores psicológicos Fatores culturais APETITE HEDÔNICA PATOGÊNESE Exógena Endógena Síndrome de Cushing Hipotire- oidismo Mono- gênico Raro Ingestão excessiva de calorias OBESIDADE Mapa mental. Obesidade Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 18 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (HOSPITAL ESTADUAL DR. JAYME SANTOS NEVES - ES – 2021) Em relação às comorbidades relacionadas à obesidade, considere as seguintes assertivas: I. A esteatose hepática é uma alteração comum em indivíduos obesos, sendo causada pela deposição de triglicerídeos nos hepatócitos. II. A asma é o problema respiratório mais importan- te ligado à obesidade. III. Certas formas de câncer ocorrem com maior fre- quência em obesos, incluindo os de esôfago, cólon e reto, fígado, vesícula biliar, pâncreas, rim, linfoma não Hodgkin e mieloma múltiplo. Quais estão corretas? ⮦ Apenas I. ⮧ Apenas I e II. ⮨ Apenas I e III. ⮩ Apenas II e III. ⮪ I, II e III. Questão 2 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DE MARINGÁ – PR – 2020) A obesidade está associada a um nível elevado de todos os itens abaixo, EXCETO: ⮦ Adiponectina. ⮧ Leptina. ⮨ Ácidos graxos livres. ⮩ Insulina. ⮪ Interleucina-6. Questão 3 (HOSPITAL MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP – 2021) Os medicamentos orlistat, sibutramina e liraglu- tida são utilizados para o tratamento de qual das doenças abaixo? ⮦ Obesidade. ⮧ Diabetes mellitus tipo 2. ⮨ Dislipidemia. ⮩ Esteatose hepática. Questão 4 (HOSPITAL OFTALMOLÓGICO DE SOROCABA – SP – 2021) Mulher, 65 anos, refere desconforto em hipocôndrio direito há 2 meses. Relata aumento de 12 kg nos últimos 5 anos. É pré-diabética e hipertensa, mas não tem medido a pressão de maneira rotineira e não faz uso de medicamentos. Bebe uma lata de cerveja nos finais de semana e usou anticoncepcional até os 40 anos. Exame físico: bom estado geral, peso = 92 kg, altura = 1,65 m, PA = 160 x 100 mmHg, FC = 92 bpm, circunferência abdominal = 104 cm, sem edemas; fígado palpável a 5 cm do rebordo costal direito, tenso, rombo, sensível ao toque. Realizada ultrassonografia do abdome que revelou a presença de esteatose hepática. Assinale a alternativa que apresenta a conduta correta para esse caso. ⮦ Iniciar tratamento farmacológico com vitamina E em altas doses, para diminuir a progressão para fibrose ou cirrose hepática. ⮧ Indicar a realização de fibroscan hepático. ⮨ Rastrear síndrome metabólica e iniciar mudan- ças do estilo de vida. Cap. 1 19 Obesidade e síndrome metabólica ⮩ Realizar biópsia hepática para confirmar a etio- logia e gravidade da lesão. ⮪ Realizar controle da pressão arterial e acalmar a paciente em relação às alterações hepáticas, já que raramente trazem complicações a longo prazo. Questão 5 (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC – 2021) Assinale a alternativa correta com relação à obesidade e ao sobrepeso. ⮦ Deve-se informar aos adultos com sobrepeso e obesidade que quanto maior o IMC, maior o risco de doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2 e menor é a mortalidade por to- das as causas. ⮧ Uma meta de perda de 5 a 10% do peso em 30 dias é factível e deve ser orientada aos pacien- tes independentemente do desfecho de melho- ra da saúde. ⮨ Deve-se usar o ponto de corte de excesso de peso (índice de massa corpórea [IMC] superior a 25 kg/m²) para identificar adultos com aumento de risco cardiovascular. ⮩ O tratamento com sibutramina deve ser recomen- dado aos pacientes obesos com doença arterial coronariana ou doença cerebrovascular uma vez que seu uso é seguro nesse perfil de pacientes. ⮪ O uso de liraglutida é útil e eficaz em induzir per- da de peso e seu uso é dependente do status glicêmico, induzindo hipoglicemia em obesos normoglicêmicos. Questão 6 (PUC-SOROCABA – SP – 2021) Paciente de 56 anos, apresen- ta diabetes mellitus tipo 2 há 3 anos. Peso 103 kg, estatura 1,65 m. Hipertenso bem controlado com losartana 50 mg duas vezes ao dia e anlodipino 5 mg uma vez ao dia. Em uso de metformina 850 mg três vezes ao dia, desde o diagnóstico, mas não reduziu o peso de modo efetivo desde então, apesar dos esforços e da ausência de problemas psicológicos. Pai faleceu de IAM aos 45 anos. Gli- cemia jejum = 136 mg/dL; HbA1c 7,5% (HPLC); TFG estimada = 80 mL/min/1,73 m2. Assinale a alterna- tiva CORRETA: ⮦ A cirurgia bariátrica deve ser considerada entre as opções terapêuticas devido ao impacto po- sitivo no peso, controle do diabetes e hiperten- são arterial. ⮧ Liraglutida não deve ser oferecida para controle do peso e melhora do controle glicêmico, pois não há estudos que comprovem impacto positivo. ⮨ Inibidor do receptor de SGLT-2 só pode ser ofe- recido se comprovada insuficiência cardíaca, com fração de ejeção preservada. ⮩ Caso o paciente desenvolvesse insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, a me- dicação de eleição para tratamento do diabetes mellitus seria a pioglitazona devido ao perfil de segurança nesse tipo de condição. Questão 7 (SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP – 2021) Homem de 46 anos de idade, branco, procu- rou um ambulatório de clínica médica com queixa de excesso de peso. No interrogatório, negou ter outros problemas, exceto o seu peso, negando tam- bém qualquer antecedente mórbido importante. No exame físico apresentava um peso de 98 quilos e uma altura de 171 cm, estando em bom estado geral, com pressão arterial de 150 x 100 mmHg, ausculta pulmonare cardíaca normais, abdômen globoso, sem visceromegalias, circunferência abdominal de 110 cm. Trazia consigo alguns exames realizados recentemente: glicemia de jejum de 108 mg%, gli- cemia 2 horas após 75g de glicose via oral de 136 mg%, ácido úrico de 9,4 mg%, colesterol de 220 mg/ dl e triglicérides de 230 mg/dl. Somente baseado nos dados acima, no tocante ao estado nutricional do paciente, poderíamos dizer que: ⮦ Se trata de um paciente com obesidade grau 1, de acordo com os critérios da OMS para o IMC (índice de massa corpórea), e a sua circunfe- rência abdominal permite afirmar que ele tem resistência insulínica. ⮧ Se trata de um paciente com sobrepeso e a sua secreção insulínica é normal. Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 20 ⮨ Se trata de um paciente obeso mórbido e o nível de triglicérides elevado indica que suas ilhotas pancreáticas estão entrando em falência. ⮩ O paciente é obeso, mas, para aferirmos o grau de obesidade, necessitamos de bioimpedancio- metria, e o paciente não tem resistência insulíni- ca, porque o seu colesterol está discretamente elevado. Questão 8 (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – DF – 2021) Considere uma paciente de 54 anos de idade, diabética (HbA1c = 8,2%), cardiopata isquêmica com infarto agudo do miocárdio prévio e insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida. Encontra-se em trata- mento para diabetes com metformina 850 mg três vezes ao dia e glibenclamida 5 mg pela manhã. No exame físico, chama a atenção a presença de man- chas hiperpigmentadas/escurecidas em áreas de dobras. A respeito desse caso clínico e com base nos conhecimentos médicos correlatados, bem como nas últimas diretrizes mundiais relacionadas ao tratamento da diabetes, publicadas em 2019, julgue o item a seguir. Essa paciente tem acantose nigricans, que é comum em pacientes diabéticos e obesos. Essas lesões de pele nunca melhoram com o tratamento. ⮦ Certo. ⮧ Errado. Questão 9 (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE GOIÂNIA – GO – 2021) Na fisiopatologia da obesidade dita primária, po- demos encontrar: ⮦ Aumento de leptina. ⮧ Redução neuropeptídeo Y. ⮨ Aumento de grelina. ⮩ Aumento da POMC (pró-ópiomelanocortina). Cap. 1 21 Obesidade e síndrome metabólica GABARITO E COMENTÁRIOS Questão 1 dificuldade: Y Dica do professor: O acúmulo da gordura visceral é o motivo central do desenvolvimento da resistên- cia à ação da insulina, fisiopatologia da síndrome metabólica e suas complicações. Assertiva I: CORRETA. A esteatose hepática ocorre pela deposição de triglicérides nos hepatócitos, sendo um agravo comum em pacientes obesos, principalmente aqueles com maior acúmulo de gordura visceral. Assertiva II: INCORRETA. A asma pode ser ligada à obesidade, mas o principal problema respiratório em pacientes obesos é a apneia do sono. Assertiva III: CORRETA. Pacientes obesos têm pro- dução anormal de citocinas pró-inflamatórias, não tendo um controle oxidativo adequado, por isso es- tão mais sujeitos a alguns tipos de câncer. ✔ resposta: ⮨ Questão 2 dificuldade: Y Dica do professor: A obesidade é uma afecção multifatorial com caracteres genéticos, ambientais e hormonais, apresentando diversos hormônios re- lacionados a sua génese; porém, o único citado que não configura um hormônio relacionado a gênese da obesidade é a adiponectina. A concentração da adiponectina é inversamente associada com a quantidade de tecido adiposo, mesmo ela tendo um efeito anorexígeno. ✔ resposta: ⮦ Questão 3 dificuldade: Y Dica do professor: Orlistate é um inibidor das lipa- ses pancreáticas, enzimas que catalisam a quebra dos triglicérides em ácidos graxos livres e monogli- cerídes. Ao se ligar de maneira irreversível ao sítio ativo da lipase, o orlistate faz com que cerca de um terço dos triglicerídeos ingeridos permaneça não digerido e, portanto, não absorvido. ✔ resposta: ⮦ Questão 4 dificuldade: Y Dica do professor: Na avaliação inicial dessa pacien- te, é evidente que há comportamento de risco para desenvolvimento de doenças crônicas, bem como complicações das já existentes pelo seu estilo de vida. Inicialmente, a abordagem consiste na inves- tigação de síndrome metabólica devido aos fatores de risco, como circunferência abdominal elevada, ser pré-diabética e hipertensa. Tal rastreio ocorre com a solicitação de exames laboratoriais que possam evidenciar a dislipidemia, como HDL baixo e eleva- ção de triglicerídeos. A etapa de orientação deve ser iniciada já nessa consulta, informando sobre a importância da realização de atividades físicas regulares e reeducação alimentar para redução do peso e da circunferência abdominal. O tratamento farmacológico poderá ser indicado após confirma- ção da síndrome metabólica e se houver dificuldade de adesão às medidas não farmacológicas. ✔ resposta: ⮨ Questão 5 dificuldade: Y Dica do professor: A obesidade é uma doença crônica de etiologia multifatorial em que ocorre Obesidade e síndrome metabólica Endocrinologia 22 acúmulo excessivo de gordura corporal. Seu diag- nóstico é realizado a partir do cálculo do índice de massa corporal (IMC) e da medição da massa gor- durosa e sua distribuição corporal. A obesidade é deletéria ao organismo, tornando-o mais suscetível a doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, dis- lipidemia, câncer, apneia do sono, entre outros. Seu tratamento inclui mudança de hábitos de vida, como adequação da quantidade e qualidade da alimenta- ção e realização de exercícios físicos; tratamento cognitivo-comportamental, terapia farmacológica com diversas drogas, como sibutramina, orlistate, liraglutida, e uso off-label de outros medicamentos (topiramato, bupropiona e naltrexona) e a realização da cirurgia bariátrica. Alternativa A: INCORRETA. A mortalidade de indiví- duos obesos e com sobrepeso é maior em todas as causas. Alternativa B: INCORRETA. As diretrizes brasileiras de obesidade trazem que essa meta de perda ponderal é factível em seis meses. Alternativa C: CORRETA. Adultos com sobrepeso, ou seja, IMC acima de 25 kg/m², já apresentam consi- derável aumento do risco cardiovascular. Alternativa D: INCORRETA. Portadores de alto risco cardiovascular não devem fazer uso desse medi- camento, pois o estudo SCOUT mostrou que espe- cialmente indivíduos com doença cardiovascular estabelecida (DAC ou doença cerebrovascular) apre- sentam maior risco de infarto agudo do miocárdio. Alternativa E: INCORRETA. A liraglutida é um medi- camento que pode ser utilizado em pacientes nor- moglicêmicos, apesar de seu uso em diabéticos resultar em melhora dos parâmetros glicêmicos. ✔ resposta: ⮨ Questão 6 dificuldade: Y Dica do professor: Paciente com importantes an- tecedentes pessoais, em vigência de síndrome metabólica em descontrole de parâmetros, mesmo com terapia otimizada, sendo nesse caso uma boa opção terapêutica a cirurgia bariátrica que deve ser considerada entre as opções devido ao impacto po- sitivo no peso, controle do diabetes e da hipertensão arterial, caso ele não consiga controle melhor com reeducação alimentar e atividades esportivas. Alternativa A: CORRETA. A cirurgia bariátrica deve ser avaliada em caso de obesidade grave (IMC maior que 40) ou ≥ 35 kg/m² com comorbidades instalada há mais de cinco anos ou falha no tratamento clínico após dois anos de seguimento, como é o caso da paciente em questão, que apesar de ter diagnóstico de DM2 há menos de 5 anos (3 anos), estava em seguimento clínico desde então, ou seja, já tinha mais de 2 anos de acompamento sem sucesso na perdad de peso. Alternativa B: INCORRETA. A liraglutida pode ser ofe- recida para controle do peso e/ou melhora do con- trole glicêmico. Alternativa C: INCORRETA. Essa classe tem compro- vado benefício nesses pacientes, porém pode ser utilizado para DM2, independente de ter IC. Alternativa D: INCORRETA. Por seu efeito edemato- gênico e de ganho de peso, a pioglitazona deve ser evitadas em pacientescom ICC. ✔ resposta: ⮦ Questão 7 dificuldade: Y Dica do professor: O índice de massa corporal é uma forma rápida de avaliar a quantidade de gor- dura corporal, funcionando como um preditor de obesidade. Seus valores de referência são: abai- xo de 18,5 — baixo peso; entre 18,5 e 24,9 — peso normal; entre 25,0 e 29,9 — sobrepeso; entre 30,0 e 34,9 — obesidade I; entre 35,0 e 39,9 — obesidade II; acima de 40,0 — obesidade III. O cálculo é feito pela fórmula peso/altura2. ALTERNATIVA A: CORRETA. O paciente referido apre- senta IMC de 33,5, indicando obesidade I. ALTERNATIVA B: INCORRETA. A definição de sobrepe- so é IMC entre 25,0 e 29,9 kg/m2. Além disso, prova- velmente a secreção de insulina está aumentada. ALTERNATIVA C: INCORRETA. O nível de triglicérides aumentado indica falta de ação da insulina, mas não necessariamente falência, já que em situações de resistência também há hipertrigliceridemia. ALTERNATIVA D: INCORRETA. O exame de bioimpedân- cia é uma excelente ferramenta, mas pouco aces- sível, não estando entre os exames padronizados Cap. 1 23 Obesidade e síndrome metabólica na abordagem do paciente obeso (embora auxilie na avaliação). ✔ resposta: ⮦ Questão 8 dificuldade: Y Dica do professor: A acantose nigricans é um es- pessamento e endurecimento cutâneo relaciona- dos, especialmente, com síndrome metabólica e resistência periférica à insulina, que é comum em pacientes diabéticos e obesos, sendo que se tiver- mos controle desses fatores podemos ter regressão e controle dessa alteração. ✔ resposta: ERRADO Questão 9 dificuldade: Y Dica do professor: Outra questão que parece difí- cil, mas vamos resolver facilmente atentando para uma coisa: os hormônios orexígenos, responsáveis pelo aumento da fome, estão dentro do “Grande Nho Nho” (Grelina; neuropeptídeo Y [NPY]; Hipocretina e Orexina). Sabendo disso, vamos lá: Alternativa A: INCORRETA. Apesar de obesos terem aumento dos níveis de leptina, ele é considerado o hormônio da saciedade, no entanto há resistência à leptina em situações de obesidade primária. Alternativa B: INCORRETA. Não confunda o peptídeo YY com o NEURO peptídeo YY: NEURO peptídeo YY é um hormônio hipotalâmico e orexígeno (portanto seu aumento está relacionado ao ganho de peso), já o primeiro é um anorexígeno. Mas, nem precisa- va se estressar em memorizar isso; era só lembrar que “Grande Nho Nho” não tem a letra “P”, e sim “N”. Alternativa C: CORRETA. A grelina é o único hormônio produzido fora do sistema nervoso central que tem a função de sinalizar o aumento do apetite. Alternativa D: INCORRETA. POMC faz parte da via ANOREXIGÊNICA. ✔ resposta: ⮨ Fixe seus conhecimentos! 24 FIXE SEU CONHECIMENTO COM RESUMOS Use esse espaço para fazer resumos e fixar seu conhecimento! _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ Obesidade e síndrome metabólica Fisiologia e fisiopatologia do ganho de peso Estímulo orexígeno Estímulo anorexígeno Sinalizadores de estoque de gordura periférica Obesidade Avaliação do excesso de peso Etilogias da obesidade Síndrome metabólica Fisiopatologia Critérios diagnósticos de síndrome metabólica Manejo da síndrome metabólica Referências Bibliografia consultada Mapa mental. Obesidade Questões comentadas
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