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JOÃO PAULO ARTIGO (1)

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Variações Linguísticas
 
NOVAES, João Paulo Alves de RU: 3160329.
RESUMO
O Brasil apresenta grande extensão territorial com uma enorme diversidade social, cultural e regional que favorecem para as muitas variações linguísticas existentes no país. Em razão disso, fala-se no território brasileiro dezenas de sotaques, gírias, falas características dos regionalismos, os socioletos, ou seja, linguagem técnica utilizada por profissionais de determinada área. Por isso que o português não é uma língua única, ou melhor, não há uma unidade linguística brasileira.
Sabe-se que no meio dessa mistura de diferentes línguas o preconceito linguístico é um problema que se faz presente na sociedade, mesmo a língua sendo um meio de comunicação, que tem como obejtivo a interação do ser humano no meio social, a norma culta tem sido usada por muitos como um instrumento de superioridade e ferramenta de discriminação, uma vez que há o mito de que existe uma variante superior às demais. Dessa maneira, teve-se como questionamentos: Como a crença de que há uma norma padrão a ser seguida, acarreta na formação e aplicação do preconceito linguístico? E como esse preconceito afeta a vida pessoal e profissional desses indivíduos? Objetivou-se diferenciar língua de fala e o preconceito linguístico na variante regional do Nordeste, entender o que são as variantes linguísticas, ressaltar a variante regional e discutir se a escola combate ou revalida o preconceito linguístico no ambiente escolar. Realizou-se uma análise qualitativa, de dados, a partir de pesquisa bibliográfica, revendo e comparando publicações sobre a temática. Este presente artigo demonstrou esclarecer que não há uma variante superior às demais, desconstruir o preconceito linguístico, ao qual a variante regional nordestina é estigmatizada, como um falar que foge do “certo”. E conjuntamente, evidenciou-se que na maioria das vezes, os próprios docentes, ao seguirem uma gramática rígida, para ter uma uniformização da língua, efetuam o preconceito linguístico em vez de combatê-lo. 
Palavras-chave: Variações Linguísticas. Preconceito. Norma Padrão.
1. INTRODUÇÃO 
O preconceito linguístico é um problema que abrange toda a sociedade, Segundo Bagno (1999, p.10), ”o preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa”.
É muito comum encontrar-se por toda a sociedade, principalmente aqueles que tiveram mais oportunidades de estudar, dizendo o que é certo e o que é errado, na língua, e em relação à forma como se fala, ou até mesmo havendo um julgamento discriminatório das diferentes variantes do português e do sotaque. A norma culta da língua é valorizada e as demais formas do falar são estigmatizadas e vistas como algo que precisa ser consertado, a norma culta, do bem falar é supervalorizada e as demais que não estão nesta prescrição gramatical são menosprezadas. Utilizando-se da mesma como instrumento de superioridade e ferramenta de discriminação.
Grande parte das pessoas advindas do Nordeste sente na pele esse preconceito. Mesmo havendo formação e competência para cargos de trabalho, ao saírem da sua região e irem para outras, a procura de melhores condições de vida, são avaliadas e sofrem o prejulgamento só pelo fato do sotaque característico, do seu falar sertanejo, do que de fato pelo que elas têm de agregar de valor, como se seu falar definissem suas competências. Insegurança, receio de falar em público são alguns dos efeitos que são provocados nos indivíduos, caracterizando o triste preconceito linguístico, do qual abordar-se-á com maior veemência ao longo deste artigo.
Para atingir e abordar os mais fielmente todos os objetivos desta pesquisa, buscou-se em primeiro momento distinguir língua de fala, suas diferenças e nuances e o preconceito linguístico na variante de estudo, o nordeste, e assim, compreender o que são as variantes, ressaltando a variante de análise e por fim revendo se a escola combate ou reforça o preconceito linguístico no ambiente escolar.
Somando todos os resultados das análises e pesquisas de autores que já trataram dessa temática, livros, publicações e artigos científicos, revisando literaturas e relacionando variáveis; expondo todo o conhecimento assimilado ao longo de todo o curso.
 
2. (DESENVOLVIMENTO) LÍNGUA E FALA,QUAL A DIFERENÇA?
Para Weinreich;Labov;Herzog (2006,p.21 apoud SILVA,R. do CPda.2013,p.17) “a língua é um sistema heterogêneo codificada em alto grau e integrada à competência linguística do falante.
 A língua não serve apenas para que se possa transmitir ou receber informações; ela serve para estabelecer e manter relacionamentos com outras pessoas. É o sistema mais complexo que o ser humano usa no dia a dia e está presente em todas as atividades que se possa imaginar.
“Não sendo a mesma homogênea, mudando o interlocutor e/ou a situação, a variedade que o falante vai usar também se muda: em casa, em uma festa, em uma conferência, no trabalho”. (SILVA, 2013, p.18.19)
Há as diferentes situações de uso – mais formais ou informais, havendo assim, a adaptação do falante dentre esses contextos.
“A língua é um sistema cujas partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica” (Saussure, 1975, p.94).
 Por língua entende-se um conjunto de elementos que podem ser estudados simultaneamente, tanto na associação paradigmática como na sintagmática. Por solidariedade objetiva-se dizer que um elemento depende do outro para ser formado. Mais adiante, Saussure ainda explica que:
É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo o que se diz respeito às evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designam respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução (SAUSSURE, 1995, p.96).
Saussure (1995) considera a linguagem como sendo social e individual; psíquica; psico-fisiológica e física. Portanto, nos seus estudos, ele faz a fusão entre Língua e Fala. Para ele, a Língua é definida como a parte social da linguagem e que só um indivíduo não é capaz de mudá-la. “O linguista afirma que “a língua é um sistema Supra individual utilizado como meio de comunicação entre os membros de uma comunidade”, portanto” a língua corresponde à parte essencial da linguagem e o indivíduo, sozinho, não pode criar nem modificar a língua”. Saussure (1995, apoud COSTA, 2008, p.116).
A fala é a parte individual da linguagem que é formada por um ato individual de caráter infinito. Para Saussure é um “ato individual de vontade e inteligência”.(SAUSSURE, 1995 ,p.22).
Há uma peculiaridade na forma como os linguistas, defensores da noção de língua como fato social, definiram a língua enquanto pensavam em seu caráter de extraordinariedade ao indivíduo e de sua obrigatoriedade sobre a vontade deste.
Fica evidente que a língua como um sistema de regras convencionais oferece poucas oportunidades às iniciativas individuais. A transgressão das regras convencionais, não toleradas pelos usuários que as conhecem e o não domínio do acordo das normativas de uma língua, exclui o indivíduo do acesso aos bens sociais, e essa é a forma mais evidente do poder coercitivo e obrigatório de tais convenções.
Como já foi dito anteriormente, Saussure, compreendia a linguagem como um “fato social”, mas cindida também no “fato individual”, ou seja, a parte social compreendia a língua; a individual, a fala. Segundo Silva:
(...) a língua é um conjunto de variedades. Estendendo essa observação para outras línguas, percebemos que todas elas possuem muitas variedades. Cada língua é como uma grande pizza dividida em várias fatias. Cada fatia é uma variedade e nenhuma é melhor ou pior que a outra, ou seja, não existem dialetos superiores ou inferiores. (SILVA, 2013, p.19)
Assim sendo, a Língua é uma forma da linguagem, (sistema verbal e não verbal pré-estabelecido que se permita a realização da comunicação tanto verbal quanto não verbal). Portanto, a língua é baseada em palavras, ou seja, em uma comunidade em determinadogrupo de indivíduos que fazem uso da linguagem verbal, a língua. Como exemplo, duas falas estrangeiras são línguas diferentes.
Já a fala concomitantemente são os sinais utilizados pelo indivíduo, linguagem oral. É um ato singular, pois cada indivíduo pode optar pelas variedades da língua que desejar, para a exposição da sua fala, conforme o momento, o contexto, sua personalidade e o ambiente sociocultural que esteja inserido.
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
A língua portuguesa é um dos idiomas oficiais, ou, o idioma oficial em nove países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Portugal. Logo é evidente que o português, usado em território tão vasto, tem muitas variações, sejam elas internacionais, de país para país, regionais (dentro do próprio país – estado, e até mesmo em alguns casos de uma cidade para outra).Afirma Silva:
A língua está sujeita a variações, também está às mudanças que essas variações podem ocasionar. Alguns fenômenos variam, variam, variam, até que acabam mudando definitivamente o estatuto da variável em questão, mas, da mesma maneira que algumas variações chegam a uma mudança, com, outra isso não acontece. Em outras palavras: toda mudança desencadeia-se de um processo de variação, mas nem toda variação acaba, necessariamente, em mudança linguística. (SILVA, RITA; 2013 ,p.156)
Mais adiante ela assim define:
Sinais de mudança existem quando, em uma mesma comunidade linguística, e em um mesmo falante, coexistem duas formas: a original (ou conservadora) e a inovadora, ocorrendo o desaparecimento gradual daquela e o fortalecimento desta por motivações sociais. As formas variantes de maneira nenhuma se complementam; o que existe é uma competição travada entre as formas. A mudança se estabelece quando a inovadora se sobrepõe à forma mais antiga na língua, substituindo-a.(SILVA,Rita;2013,p.157)
Quando se fala em variação linguística, analisam-se os diferentes modos em que é possível expressar-se em uma língua, levando-se em conta a escolha de palavras, a construção do enunciado e até o tom de fala. A língua é a expressão básica do ser humano, e por isso, ela muda de acordo com a cultura, a região, à época, o contexto, as experiências e as necessidades do indivíduo e do grupo que se expressa.
Dentre as variações que a língua está sujeita está a histórica (Diacrônica) – é quando ocorrem mudanças na língua com o decorrer do tempo, algumas expressões surgem, outras deixam de existir e outras se transformam. Um exemplo da língua portuguesa é o termo “VOCÊ”: no português arcaico, a forma usual desse pronome de tratamento era “VOSSA MERCÊ”, que, devido há variações inicialmente sociais, passou a ser mais usado frequentemente como “VOSMECÊ”.Com o passar dos séculos essa expressão reduziu-se ao que hoje é mais comum, ”VOCÊ”. Norma incorporada pela norma-padrão, as outras formas caíram em desuso, visto que a língua adapta-se ao uso de seus falantes e ao longo do tempo integra-se nas regras gramaticais. Em contextos informais, é comum ainda o uso da abreviação “CÊ” ou, na escrita informal, ”VC”.
“Algumas gírias deixaram de existir, como: “SUPIMPA” ou “AQUELE BROTO É UM PÃO”, hoje é mais comum ouvir dos jovens, algo como é “DA HORA”“ ou que “AQUELA MINA É MÓ GATA”.
Há também as variações geográficas, chamadas de (DIATÓPICAS),diferença de linguagem devido à região, essas diferenças são percebidas quando ouve-se um falante brasileiro, um angolano e um português conversando, nos três país, fala-se o português, mas há diferença em cada fala. Mas isso aplica-se também dentro do próprio Brasil, vê-se diferenças de léxico (palavra) ou de fonemas (sons, sotaques).Um exemplo de variação regional são as palavras “mandioca”,” aipim'' ou “macaxeira”, ambas são usadas para designar a mesma raiz.
“As gírias também variam muito regionalmente “cerveja” pode ser conhecida como “bera” em regiões do Paraná, “breja” em São Paulo e “cerva” no Rio de Janeiro”.
Já no nordeste uma das características de fala é a velocidade com que se costuma conversar, também algumas palavras ao longo do tempo foi sofrendo contrações. Exemplo da palavra “oxente”,a expressão é originária de “olha, gente!” e vem sendo contraída até hoje. Só os mais velhos são capazes de dizer, “oxente’”. Os mais novos já exclamam um "oxi" e com outra contração já se ouvi um “xi”. Pois a língua é viva.
Já as Variações Sociais (DIASTRÁTICAS) é a diferença de acordo com o grupo social do falante. Como foi visto as gírias variam histórica e geograficamente, no caso da variação social, a gíria está ligada à faixa etária do falante, sendo tida como linguagem informal dos mais jovens, ou seja, (as gírias atuais tendem a ser faladas pelos mais jovens).
Há ainda expressões ligadas a grupos sociais específicos. Um grupo de futebolistas, por exemplo, comumente usa-se a expressão “carrinho” com significado específico, que pode não ser entendido por um falante que não goste de futebol ou que será entendido distinto por crianças, por exemplo.
As profissões também influenciam nas variações sociais por meio dos termos técnicos (jargões): os contadores falam dos termos “ativo” e “passivo” para remeter-se a conceitos diferentes daqueles usados por linguistas. No entanto, em ambos os casos, ativo e passivo são conceitos muito mais específicos do que seu uso geral em outros grupos.
Por fim, as Variações Estilísticas (DIAFÁSICAS),remetem ao contexto que exige a adaptação de fala ou ao estilo dela. Aqui entram questões de linguagem formal e informal, adequação à norma-padrão ou despreocupação com seu uso. O uso de expressões rebuscadas e o respeito à norma-padrão do idioma remetem à linguagem tida como culta, que se opõe àquela linguagem mais coloquial e familiar. Assim define Faraco:
A cultura escrita, associada ao poder social, desencadeou também, ao longo da história, um processo fortemente unificador (que vai alcançar basicamente as atividades verbais escritas), que visou e visa uma relativa estabilização linguística, buscando neutralizar a variação e controlar a mudança. Ao resultado desse processo, a esta norma estabilizada, costumamos dar o nome de norma-padrão ou língua-padrão. (FARACO, 2002, p.40).
A imposição de um único modo de fala em um país formado por pessoas das mais variadas crenças e costumes, significa ignorar e desvalorizar a imensa maioria da população brasileira, assim como a origem cultural e a singularidade dos diferentes grupos que a constituem. 
Dessa forma, a determinação da “norma-padrão” em detrimento de outras configura a perda da identidade de um determinado segmento social e impede que estes ocupem seus lugares e reivindique direitos, especificamente o acesso à tradição cultural escrita.
Bagno (2001) analisa que no português-padrão e no não padrão o maior preconceito apontado não são exatamente as diferenças linguísticas que prevalecem, mas sim, as sociais, mostrando que esses preconceitos são comuns, como por exemplo, o étnico: o índio "preguiçoso", o negro "malandro", o japonês "trabalhador", o judeu "mesquinho", o português "burro"; o sexual: a valorização do "macho"; o cultural: o desprezo pelas práticas medicinais "caseiras", além dos socioeconômicos: como a valorização do rico e o desprezo pelo pobre; entre outros.
Nega-se a história da formação da língua, ignora-se que esta seja constituída a partir de falares populares, emanados de classes desprivilegiadas. Outro aspecto ignorado é o fato de a norma não padrão ser a que a maioria absoluta dos brasileiros e das brasileiras usam, e que esse padrão tão idealizado só é apresentado em alguns registros escritos. Por isso, é preciso trabalhar criticamente o sentido do qualificativo “culta”, quando aplicada a norma ,aplicando seu efetivo limite.Na fala, o tom de voz, acaba por ter também um papel de extrema importância, assim, o vocabulário e a maneira de falar com os amigos provavelmente não serão os mesmos, como em uma entrevista de emprego, diferem também daqueles usados para falar com os pais ou avós. As variações estilísticasremetem à situações de interação social, levando-se em conta o ambiente e expectativas dos interlocutores.
PRECONCEITO LINGUÍSTICO (SOTAQUE NORDESTINO) 
O preconceito linguístico no Brasil é algo muito notório, visto que muitos indivíduos consideram sua maneira de falar superior aos de outros grupos. Isso ocorre sobretudo entre as regiões do país, por exemplo: um sulista que considera sua maneira de falar superior aos que vivem no norte do país. Antes de qualquer coisa, deve-se salientar que o país possui dimensões continentais e embora todos falem a língua portuguesa, ela apresenta diversas variações e particularidades regionais.
O preconceito linguístico acontece no teor de deboche e pode gerar diversos tipos de violência (física, verbal, psicológica).Os indivíduos que sofrem com o preconceito linguístico, muitas vezes, adquirem problemas de sociabilidade ou mesmo distúrbios psicológicos.
Os sotaques que se distinguem não somente nas cinco regiões do Brasil, mas também dentro de um próprio estado, são os principais alvos de discriminação. Por exemplo, uma pessoa que nasceu e vive na capital do estado e uma pessoa que vive no interior. Geralmente, quem está na capital acredita que sua maneira de falar é superior ao das pessoas que habitam o interior do estado ou mesmo as áreas rurais. Nesse caso, muitas palavras pejorativas e depreciativas são utilizadas para determinar algumas dessas pessoas, através de um estereótipo, associado às variedades linguísticas, por exemplo: o caipira, o baiano, o nordestino, o roceiro, dentre outros. Sobre esse assunto, o escritor Marcos Bagno afirma em sua obra "Preconceito Linguístico: o que é, como se faz" (1999):
É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador. No plano linguístico, atores não nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada em lugar nenhum do Brasil, muito menos no Nordeste. Costumo dizer que aquela deve ser a língua do Nordeste de Marte! Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma forma de marginalização e exclusão. (...) Se o Nordeste é “atrasado”, “pobre”, “subdesenvolvido” ou (na melhor das hipóteses) “pitoresco”, então, “naturalmente”, as pessoas que lá nasceram e a língua que elas falam também devem ser consideradas assim... Ora, faça-me o favor, Rede Globo!(BAGNO, p.43-44)
O preconceito linguístico é mais um instrumento que a classe dominante brasileira se apoderou para impor sua ideologia sobre as demais, externando veladamente, quem de fato dita as "regras do jogo” nesta sociedade, alargando assim as desigualdades sociais.
Esse tipo de preconceito atinge muitos grupos considerados de menor prestígio social, de onde a língua é utilizada como ferramenta de distinção. Existe esse preconceito nacional em relação ao Nordeste, que além de sofrer com a seca, tem que lidar frequentemente com o preconceito linguístico. São vistos pela sociedade de maior “prestígio” como os falantes do “caipira”, por carregarem consigo dialetos e sotaques únicos, que fazem parte do seu cotidiano e da sua cultura. Pessoas que residem nas regiões mais ricas do país acham que as falas delas são mais belas e organizadas do que as falas das regiões pobres. Caso, esse da região nordestina, menos afortunada e com um sotaque bem característico.
O grande problema de todo preconceito é achar que os grupos precisam ser homogêneos e que há um melhor e mais correto do que outro. Assim afirma Silva:
Na comparação entre os dialetos, podemos afirmar que não há nenhum melhor ou mais correto que o outro; não há embasamento científico que valide a superioridade de uma variante em relação a outra. O que acontece é que, quando uma língua se institucionaliza por meio da criação de instrumentos prescritivos, como a gramática normativa, tende a escolher um de seus dialetos como padrão, sendo este o que detém o prestígio social. Esse prestígio, entretanto, não faz melhor que os demais, ele é apenas o que foi historicamente constituído como tal e que, de certa maneira, é o dialeto objeto de estudo (ou de instrução?) das instituições de ensino, das leis que regem o país e das situações de uso que o exigem como representante de uma variedade formal. (SILVA, 2013, p.21)
 
Logo, é evidente o quanto é descabido e fundamentado na ignorância esse tipo de preconceito, assim como todos os outros.
Bagno assim evidencia os mitos e mitologia do preconceito linguístico:
A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente. Ora na verdade é que no Brasil, embora a língua falada pela grande maioria da população seja o português, esse português, apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade, não só por causa da grande extensão territorial do país – que gera as diferenças regionais, bastante conhecidas e também vítimas, algumas delas, de muito preconceito -,mas principalmente por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil o segundo país com a pior distribuição de renda em todo o mundo. São essas graves diferenças de status social que explicam a existência, em nosso país, de um verdadeiro abismo linguístico entre os falantes das variedades não padrão do português brasileiro – que são a maioria de nossa população – e os falantes da suposta variedade culta, em geral mal definida. que é a língua ensinada na escola.(BAGNO,1999,p.14).
Por isso, o caminho para que o preconceito seja minimizado é a reflexão insistente sobre esse assunto. Não há um modo de falar certo ou errado, uma variedade da língua mais importante do que outra, o que há, são as múltiplas facetas de uma mesma língua, e cada uma tem o seu valor e importância.
Uma forma de enfrentar e combater o preconceito linguístico é por meio da valorização cultural. A região é recheada de lindas e encantadoras paisagens, praias paradisíacas e o seu povo é o mais hospitaleiro e acolhedor que existe. É necessário levantar a autoestima do nordestino, para que ele não se sinta menos do que ninguém, mas sim tenha orgulho do seu sotaque e de toda a riqueza cultural que há na região.
O Preconceito Linguístico no Ambiente Escolar
Bagno, assim afirma sobre o ensino de língua:
Conscientizar-se que todo falante nativo de uma língua é um usuário competente dessa língua, por isso, ele SABE essa língua. Entre os 3 e 4 anos de idade, uma criança já domina integralmente a gramática de sua língua.
Sendo assim, aceitar a ideia de que não existe erro de português. Existem diferenças de uso ou alternativas de uso em relação à regra única proposta pela gramática normativa. (BAGNO, 1999, p.115).
Precisam-se superar práticas pedagógicas que, muitas vezes, amordaçam os alunos e ridicularizam suas linguagens, em um apagamento inconsciente de suas heranças linguísticas, é indispensável considerar a bagagem já existente do aluno.
Ele reafirma que;
(...) como responder a pergunta (invariavelmente presente na fala de professores de língua): qual o objeto de ensino nas aulas de português? O que devemos ensinar aos nossos alunos em sala de aula?
Uma resposta concisa e rápida seria: devemos ensinar a norma padrão. Já que só se pode ensinar algo que o aprendiz ainda não conhece, cabe à escola ensinar a norma padrão, que não é língua materna de ninguém, que nem sequer é língua ,nem dialeto, nem variedade (...) ensinar o padrão se justificaria pelo fato dele ter valores que não podem ser negados – em, sua estreita associação com a escrita, ele é o repositório dos conhecimentos acumulados ao longo da história.(BAGNO,1999,p.142).
É notório que o professor deve sim mostrar ao aluno os diferentes modos de uso da língua, e uma delas é a norma padrão. Mas evitar-se separar o que comumente é visto em sala de aula: só focar na gramática e a partir dela separar as ocorrências linguísticas em dois grupos; as certas e as erradas. Assim,tudo o que foge às normas fixadas é considerado erro.
O ensino da norma padrão, como dito, é essencial, porém o uso da linguagem não acontece de modo uniforme e isso deve ser sinalizado e esclarecido aos estudantes. Ao contrário de dizer se o uso de determinada linguagem é correta ou incorreta, o mais apropriado, seria esclarecer ao aprendiz que a adequação linguística é o conceito que busca entender o contexto que o uso da língua é apropriado ou não, ou seja: em uma situação informal, a linguagem mais recomendável a se usar é a coloquial, já em uma situação formal cabe o uso da norma padrão.
O aluno reproduz com o que está acostumado a escutar, a linguagem usada no seu próprio contexto familiar e de convivência, por isso, é necessário acompanhar o seu aprendizado e entender onde pode ser falta de embasamento teórico ou somente adequações linguísticas.
O escritor José Saramago (1922-2010) escreve sobre o seu avô e eterniza uma cena, que pode servir de inspiração para a inclusão verdadeira das famílias junto à educação dos filhos, nas escolas.
Cai a chuva, o vento desmancha as árvores desfolhadas, e dos tempos passados vêm uma imagem, a de um homem alto e magro, velho, agora que está mais perto, por um carreiro alagado. Traz um cajado ao ombro, um capote enlameado e antigo, e por ele escorrem todas as águas do céu (...).O homem que assim se aproxima, vago entre as cordas de chuva, é o meu avô. Vem cansado e velho. Arrasta consigo setenta anos de vida difícil, de privações, de ignorância. E, no entanto, é um homem sábio, calado, que só abre a boca para dizer o indispensável. é um homem como tantos outros nesta terra, neste mundo talvez um Einstein esmagado sob uma montanha de impossíveis, um filósofo, um grande escritor analfabeto. Alguma coisa séria que não pode ser nunca. (SARAMAGO, 2006,p.129)
Diferentemente dessa visão de Saramago, muitos educadores acham que as famílias com baixa escolarização têm pouca condição de interagir e serem parceiras da escola no processo educativo. Reflete-se sobre essa questão que muitas crianças e jovens a partir de intervenções preconceituosas de alguns docentes, (repassando o que lhes foi ensinado, uma concepção já atrasada e codificada de ensinar o português),passam a corrigir seus avós e dizer que eles não sabem falar, reproduzindo em casa, o preconceito linguístico.
A escola tem o papel de desenvolver habilidades para combater a discriminação de sotaques, girias, por meio de criação de atividades que tragam reflexão sobre importância do respeito que deve-se ter com as diferentes formas de falar, e da relevância que os dialetos tem para a nossa identidade cultural.
2.1METODOLOGIA
		
Como ficou claro neste presente artigo, a variação linguística, é compreendida por meio das influências históricas e regionais sobre os falares, são os diferentes modos que é possível expressar-se em uma língua, a língua em foco, o português do Brasil.
Corroborando com este estudo foi feito levantamento através de livros e publicações de autores renomados sobre a temática. Sendo uma pesquisa descritiva e bibliográfica, de abordagem qualitativa. Ao qual tem o foco analisar as informações dos mesmos, elencados abaixo:
Bagno (1999) relata que o preconceito linguístico deriva da construção de um padrão imposto por uma elite econômica e intelectual que considera como “erro” e consequentemente reprovável tudo o que se diferencia desse modelo. Além disso, está intimamente ligado a outros preconceitos, também muito presentes na sociedade, como preconceito socioeconômico. Preconceito regional, preconceito cultural, racismo e homofobia.
Já para Possenti (1983) não existe com o que se acostumou a chamar de “erro de português”. O que há é inadequações de linguagens, o “erro”, diz o professor, se dá sempre em relação à forma como a sociedade encara tais expressões, não em relação às expressões mesmas.
 Saussure (1995) alega que a língua é um sistema cujas partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica.
 O Trabalho de Labov (1972) configura um paradigma diferente, de natureza dinâmica, onde a língua deixa de ser vista como uma estrutura estática e passa a ser vista como um sistema em constante mutação e profundamente comprometida com a estrutura social em que se insere.
 Faraco (2016) defende que a escola brasileira ensina mal quando reproduz vícios e mitos históricos sobre o idioma. O linguista trata dos fatos marcantes na história do idioma no Brasil e seu alcance em outros países. Mas seu horizonte não é tanto o ensino ou significado da lusofonia, mas o minucioso entendimento de como as condições sociais de cada momento histórico, ajudaram a consolidar perspectivas de linguagem ainda hoje vigentes no país.
Silva (2013) afirma que a língua é um conjunto de variedades. Estendendo essa observação para outras línguas, percebe-se que todas elas possuem muitas variedades. Cada língua é como uma grande pizza dividida em várias fatias. Cada fatia é uma variedade e nenhuma é melhor ou pior que a outra, ou seja, não existem dialetos superiores ou inferiores.
Por fim, Saramago (1922-2010), reinventou a literatura do século XX. Militante político, grande defensor dos direitos humanos e um grande provocador, sua vasta obra, peculiar pelo estilo de composição central nas publicações contemporâneas portuguesas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desse estudo foi compreender, conceituar variações linguísticas, ressaltando a diversidade como algo enriquecedor, esclarecendo que não há uma variante superior às demais, logo desconstruir o preconceito linguístico, o qual está diretamente ligado à questões sociais, como mostra Bagno em sua obra preconceito linguístico. Uma vez que sempre é mais valorizada a variante de maior prestígio social, as classes de baixo valor aquisitivo são desvalorizadas até mesmo no que diz respeito à sua forma de falar. Os falantes da região nordeste, por exemplo, por efeito da seca, levam uma vida de baixa renda, e ainda são vítimas constantes do preconceito linguístico. Isso por conta do seu dialeto e sotaque que são únicos, e podem variar muito, a depender do estado e até mesmo da cidade.
 É necessário que a escola, juntamente com o corpo docente, combata esse preconceito em sala de aula e tratem todas as variantes com respeito. Muitas vezes, a própria instituição, por impor tantas regras e corrigir sempre a maneira que os estudantes expressam, acaba reforçando ainda mais essas diferenças, infelizmente, de maneira pejorativa. Quando o que deveria ser feito seria usar desse ocorrido como exemplo de como a língua pode ser manifestada, de diversas formas e como isso agrega na cultura de cada sociedade.
 Isso não quer dizer que a escola não deva ensinar a norma padrão, que não é propriamente uma variedade da língua, mas um constructo sócio histórico, que serve de referência para estimular um processo de uniformização. Contudo, é importante ressaltar a importância do combate no caráter excessivamente artificial da norma padrão. Afinal, a linguagem não existe a não ser na interação linguística (no uso) e a atividade escolar com a língua materna exige atenção aos usos e aos usuários.
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REFERÊNCIAS	
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LABOV,William.Padrões Sociolinguístico.Tradutores:BAGNO,Marcos.MARTA,Maria. SCHERRE,Pereira,Oliveira,R.Caroline.
POSSENTI,Sírio.Gramática e Política.Disponível em: https://pt.scribd.com/document/184123358/Gramatica-e-Politica
COSTA,M.A.Estruturalismo.In:Martellota,M.E(org) et AL.Manual de Linguística.São Paulo:Contexto,2008.
SAUSSURE,F.Curso de Linguística Geral.Trad.CHELINE,Antônio;PAES,José Paulo e BLIKSTEIN,Izidoro.São Paulo:Cultrix,1995.
SILVA,R.do C.P.da.A Sociolinguística e a Língua Materna.Curitiba:Intersaberes,2013
SARAMAGO, José.As Pequenas Memórias, Lisboa:Editorial Caminho,2006.
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: a novela sociolingüística. 16 ed– São Paulo: Contexto, 2008.

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