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1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 2 2. O TRADUTOR/INTÉRPRETE DE LIBRAS .............................................. 3 3. O QUE FAZ UM TRADUTOR/INTERPRETE DE LIBRAS ....................... 7 4. QUALIFICAÇÃO NECESSÁRIA PARA SER UM TRADUTOR /INTERPRETE DE LIBRAS ......................................................................................... 8 5. ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LIBRAS NA INCLUSÃO DO SURDO 9 6. A INCLUSÃO DA PESSOA SURDA ...................................................... 10 7. MEDIADOR X INTERPRETE ................................................................ 19 8. ASPECTOS FUNDAMENTAIS NA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL ................................................................................................ 21 9. DECRETO 5626/05................................................................................................27 10. BIBLIOGRAFIA .................................................................................. 34 2 1. INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 Fonte: unieducar.org.br A comunicação é um fator fundamental para o ser humano e LIBRAS é uma ferramenta que possibilita a interação dos surdos. Os intérpretes de língua de sinais surgiram devido à necessidade da comunidade surda de possuir um profissional que auxiliasse no processo de comunicação com as pessoas ouvintes. Inicialmente, a atuação era informal, ou seja, pais ou membros da família das pessoas surdas faziam essa função. Entretanto, para que isso ocorresse de modo formal foi necessário que a Língua Brasileira de Sinais fosse oficializada. Atualmente há leis em vigor que regulamentam a profissão e determinam a formação desse profissional. Uma dessas leis é a LEI Nº 12.319 DE 01.09.2010 que regulamenta a profissão de Tradutor e Interprete de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Nessa apostila, iremos retratar sobre a importância desse profissional, sua formação e atuação no mercado de trabalho. 4 2. O TRADUTOR/INTÉRPRETE DE LIBRAS Fonte: www.revista.rbspenseempregos.com.br O tradutor/intérprete de Libras é um profissional que atua em diferentes contextos. O seu campo de trabalho é bastante amplo, pois corresponde a necessidade comunicativa dos surdos. Apesar dessa diversidade no exercício da profissão, as instituições de ensino destacam-se como áreas de maiores atuações do tradutor/intérprete, em menores proporções estão à presença em conferências, seminários, na realização de traduções escritas e acompanhamento aos surdos. De acordo com Quadros (2007, p.7) o tradutor/intérprete de Libras é conceituado como “a pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais”. Dentro desse processo interpretativo, língua de sinais para língua oral e vice-versa destacam-se modalidades, competências e habilidades que o profissional deve envolver na sua prática. A atividade de traduzir/interpretar não deve ser entendida somente como um processo linguístico, é imprescindível que o profissional domine as línguas envolvidas e compreenda as ideias presentes nos discursos para além das palavras, lembrando que em uma atividade de tradução/interpretação, além da gramática das línguas está a cultura, os aspectos sociais e emocionais presentes no contexto a ser interpretado. http://www.revista.rbspenseempregos.com.br/ 5 (…) o trabalho de interpretação não pode ser visto, apenas, como um trabalho linguístico. É necessário que se considere a esfera cultural e social na qual o discurso está sendo enunciado, sendo, portanto, fundamental, mais do que conhecer a gramática da língua, conhecer o funcionamento da mesma, dos diferentes usos da linguagem nas diferentes esferas de atividade humana. Interpretar envolve conhecimento de mundo, que mobilizado pela cadeia enunciativa, contribui para a compreensão do que foi dito e em como dizer na língua alvo; saber perceber os sentidos (múltiplos) expressos nos discursos. (LACERDA, 2009, p. 21). Outros atributos colocados ao profissional são a competência comunicativa e tradutória. Ambas são relevantes para o intérprete, porém a segunda define e diferencia este profissional de outros falantes bilíngues, uma vez que envolve técnicas, procedimentos e conhecimentos específicos. Sistematizado por Canale e Swain e modificado posteriormente por Canale, o conceito de competência comunicativa é composto por competências subjacentes, como afirma Neves (1998, p.73): A competência gramatical ou linguística se atém ao código linguístico das estruturas e regras de pronúncia onde o objetivo é o da acuidade na expressão e compreensão. A competência sociolinguística considera o papel dos falantes no contexto da situação e a sua escolha de registro e estilo. A competência discursiva considera a questão da coesão e da coerência relevantes no determinado contexto. E a competência estratégica considera que não há falantes e ouvintes ideais, sendo necessário, portanto que se faça uso de estratégias de comunicações verbais ou não verbais para se compensar as quebras de comunicação. Já a tradutória é conceituada e diferenciada da comunicativa, como afirma Albir (2005, p.19): Embora qualquer falante bilíngue possua competência comunicativa nas línguas que domina, nem todo bilíngue possui competência tradutória. A competência tradutória é um conhecimento especializado, integrado por um conjunto de conhecimentos e habilidades, que singulariza o tradutor e o diferencia de outros falantes bilíngues não tradutores. Atrelados ao trabalho do intérprete estão presentes também as modalidades de interpretação, classificadas em simultânea e consecutiva. Leite (2005, p.53) apresenta essa distinção através das ideias organizadas por Metzger (1999) como mostra a tabela abaixo: 6 Nas características elencadas sobre cada modalidade, a interpretação simultânea é citada como clássica nas interpretações das línguas de sinais. Quadros (2007, p.78) acrescenta que o processo que o intérprete se submete é complexo e que o mesmo está diante de processamento de informação simultânea. Assim, a autora sugere e apresenta propostas de modelos de processamento no ato da tradução e interpretação, sendo eles: cognitivo, interativo, interpretativo, comunicativo, sociolinguístico, o processo de interpretação e o bilíngue/bi cultural, condensados da seguinte maneira: (1) Ênfase no significado e não nas palavras. (2) Cultura e contexto apresentam um papel importante em qualquer mensagem. (3) Tempo é considerado o problema crítico (a atividade é exercida em tempo real envolvendo processos mentais de curto e longo prazos). (4) Interpretação adequadaé definida em termos de como a mensagem original é retida e passada para a língua alvo considerando-se também a reação da audiência. Nota-se que muitas são as atribuições colocadas ao profissional tradutor/intérprete e que através da sua presença em sala de aula será assegurado ao surdo o direito de acesso aos conteúdos curriculares em língua de sinais, uma vez 7 que este profissional é o mediador dos discursos produzidos pelo professor acerca dos conteúdos das disciplinas, entre outras discussões. Apesar da literatura e a prática apresentarem a relevância das habilidades e competências que o tradutor/intérprete deve possuir e a ausência das mesmas ser considerada um fator de interferência para um bom andamento da atividade interpretativa, sabe-se que este não é o único entrave. Os textos traduzidos/interpretados em sala de aula versam sobre temas diversos e variam em grau de complexidade de acordo com o vocabulário. Conteúdos de algumas disciplinas, por exemplo, as que pertencem as Ciências da Natureza- Biologia, Física e Química, por possuírem termos específicos, são comuns à inexistência de termos equivalentes em Libras. Com o intuito de preencher essa lacuna terminológica de maneira imediata, o tradutor/intérprete de Libras convenciona alguns sinais com os surdos em sala de aula, podendo cada grupo criar sinais diferentes para o mesmo referente. Outro recurso utilizado pelo profissional é a datilologia, que é um empréstimo da língua portuguesa, além de uso de imagens para representar os termos sem sinais. Um recurso relevante que pode contribuir para um melhor desempenho do profissional tradutor/intérprete e para a autonomia do surdo nos momentos de pesquisa e estudos é o glossário bilíngue Libras-Português. Os profissionais elegem o glossário como uma ferramenta necessária, mas é importante lembrar que para a produção e uso do mesmo deve ser levado em consideração o aspecto linguístico regionalismo, ou seja, um glossário produzido em um determinado estado pode não ser utilizável em outro. Outra consideração acerca do uso de sinais dentro de uma perspectiva terminológica é considerar que termo difere de palavra e que o uso de um sinal envolve contexto e definição. Finatto & Krieger (2004) exemplificam essa distinção termo- palavra através do item lexical folha. O mesmo pode ser a folha de uma árvore ou página de um caderno, entre outras possibilidades, porém no contexto das especializações, na área da Botânica, apresenta a seguinte definição: “órgão, geralmente, laminar e verde, das plantas floríferas ou fanerógamas e principal estrutura assimiladora do vegetal”. (Houaiss & Villar, 2001, p.1363 apud Finatto & Krieger). 8 Devido ainda a inexistência de glossários específicos, os recursos utilizados pelos tradutores/intérpretes para suprir essa ausência de sinais equivalentes em Libras são aceitáveis, mas deve-se ressaltar que embora exista essa carência de sinais, a proficiência nas línguas de trabalho e a competência tradutória são parâmetros necessários para uma atuação coerente e eficiente, o que possibilita ao próprio profissional o uso da melhor forma para compensar essas lacunas linguísticas. Quanto à criação de novos sinais é importante que em consonância estejam os surdos, tradutores/intérpretes de Libras e profissionais das áreas específicas, para que desenvolvam os mecanismos para a ampliação do léxico na língua e decidam de forma coletiva a validação dessas criações lexicais. 3. O QUE FAZ UM TRADUTOR/INTERPRETE DE LIBRAS Fonte: pessoascomdeficiencia.com.br O intérprete de LIBRAS é o profissional que tem competência e proficiência para interpretar da LIBRAS para a Língua Portuguesa, ou vice-versa (de forma simultânea ou consecutiva). A Lei nº 12.319, de 1º/09/2010, regulamentou a profissão do Tradutor e Intérprete da LIBRAS. Na prática, o intérprete serve de ponte entre os surdos usuários 9 da LIBRAS e os ouvintes, com objetivo de estabelecer a comunicação entre ambos. Assim, se o Decreto nº 5.626/2005 fosse cumprido, veríamos em todos os órgãos públicos, hospitais e escolas a atuação desse profissional. Interpretar exige esforço físico e mental, envolve ética profissional, desempenho e competência. Por tudo isso, é uma profissão que exige um revezamento, de preferência previamente estabelecido, no momento em que está sendo executada. No entanto, atualmente, é comum encontrar muitos intérpretes sacrificados, sobrecarregados no exercício de sua profissão. Como exemplo, cito a incidência do LER (Lesões por Esforço Repetitivo), que pode ser motivo de interrupção da carreira. 4. QUALIFICAÇÃO NECESSÁRIA PARA SER UM TRADUTOR /INTERPRETE DE LIBRAS Os intérpretes que lutaram para a oficialização dessa profissão desejaram que esta fosse mais qualificada, no entanto, o art. 4º da Lei nº 12.319/2010 diz que o tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa deve ter nível médio e sua formação deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Finalmente, há também o exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa, que contará com “banca examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior”. (Art. 5º, parágrafo único, da Lei nº 12.319/2010). 10 5. ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LIBRAS NA INCLUSÃO DO SURDO Fonte: glossopchronicle.co.uk De acordo com o artigo 6º da Lei nº 12.319/2010, estas são as atribuições do tradutor e do intérprete de LIBRAS, no exercício de suas competências: a. - Efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdo-cegos, surdo-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice- versa; b. - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; c. - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; d. - Atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e e. - Prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. Como se pode observar, a contribuição do intérprete na inclusão dos surdos na sociedade se dá pelo fato dele ser mediador na comunicação destes com outras 11 pessoas, inclusive entre os próprios surdos, pois nem todo surdo é usuário da língua de sinais brasileira. Pode ser que o surdo não seja brasileiro, consequentemente, ele terá outra língua de sinais. Há também o caso de alguns surdos oralizados, que preferem usar a voz, em parceria com a leitura labial, para se comunicar. 6. A INCLUSÃO DA PESSOA SURDA Fonte: medimoon.com A inclusão educacional da pessoa surda tem sido tratada nos últimos anos a partir de diversos ângulos, e em meio a opiniões nem sempre aceitas por grande parte da comunidade surda. Referimo-nos neste texto, exclusivamente, aos surdos usuários da língua de sinais, visto que o nosso objetivo é discutir as especificidades na inclusão educacional da pessoa surda, que não tem possibilidade de adquirir naturalmente a línguada comunidade linguística majoritária – a língua oral –. Antes, porém, faremos algumas considerações sobre o contexto sócio histórico que marcou o processo educacional das pessoas com deficiência e, em especial, dos surdos. A sociedade tem registrado ao longo da história da educação uma prática de exclusão que atinge todo e qualquer ser desviante do padrão social estabelecido. 12 Essa exclusão social avançou posteriormente para o atendimento dentro das instituições de forma segregado, passando pela prática da integração social e, atualmente, pela filosofia da inclusão social (SASSAKI, 2003). Durante grande parte do século XX fomos espectadores de uma prática educacional sedimentada nos paradigmas da categoria clínica. Nesse modelo clínico- terapêutico, que conduzia o processo educacional, a preocupação estava centrada na falha, na limitação, na deficiência, na falta e não naquilo que o sujeito era capaz de fazer, ou melhor, de aprender e de como aprender de modo significativo. Quase sempre o fracasso na educação de surdos era atribuído às limitações deles, desconsiderando-se a falta de conhecimento dos profissionais sobre quem é esse sujeito, e de que forma ele percebe e compreende o mundo. Não se concebia o indivíduo como pessoa integral, com sua diferença específica, nem se investia em discussões voltadas para as questões pedagógicas. Segundo Skliar (1998, p.11), “a surdez constitui uma diferença a ser politicamente reconhecida; a surdez é uma experiência visual; a surdez é uma identidade múltipla ou multifacetada e, finalmente, a surdez está localizada dentro do discurso sobre a deficiência”. Corroborando essa ideia, conforme Wilcox e Wilcox (2005), o professor surdo norte-americano Ben Bahan propôs que os surdos fossem chamados de “pessoas visuais”, em razão de a percepção que eles têm do mundo ocorrer prioritariamente pelo canal visual. É interessante lembrar que “experiência visual” significa usar a visão em substituição da audição como meio de comunicação. Essa característica, no entanto, tem sido comumente ignorada por quem pensa a educação pelo viés do ouvinte, cujo canal primário de informação é a audição. Nesse sentido, a escola priorizava os exames audiológicos para saber qual a possibilidade de aquisição e desenvolvimento de linguagem oral, visto que, estranhamente, a educação de surdos era pensada em termos de língua e não em termos educacionais. A preocupação do professor era a de estimular a fala do surdo, deixando em segundo plano os conteúdos curriculares para alunos ouvintes da mesma série. Entretanto, a maior parte dos surdos profundos, educados na perspectiva Oralista, não desenvolveu uma fala socialmente satisfatória, resultando em um atraso de desenvolvimento global significativo. 13 Diante dessa realidade, o fracasso do Oralismo e os avanços das pesquisas sobre línguas de sinais deram origem a novas propostas pedagógico-educacionais em relação à educação da pessoa surda, surgindo, nos anos 70, a filosofia da Comunicação Total. Essa filosofia também não favoreceu o desenvolvimento linguístico do surdo, mas possibilitou, de maneira efetiva, o contato da comunidade surda com os sinais e a sua aprendizagem, servindo de transição do Oralismo para o Bilinguismo. De acordo com Dorziat (2002), com o Bilinguismo, a urgência em prover o surdo da expressão oral e/ou gestos artificiais, como critério básico para seu desenvolvimento cognitivo, não tinha mais razão de ser. A linguagem não mais foi vista como mera articulação oral ou como gestos comunicativos usados em uma estrutura de língua oral. O respeito à língua de sinais e o seu reconhecimento possibilitaram que o surdo tivesse acesso à linguagem em tempo real, mediante a apreensão e expressão de uma língua que se lhe apresenta de forma natural, devido a sua estrutura viso espacial. Historicamente, a exclusão escolar foi legitimada nas políticas e práticas educacionais. Essa realidade começou a mudar a partir da visão dos direitos humanos e do conceito de cidadania fundamentados no reconhecimento das diferenças e na participação dos sujeitos, independentemente de suas diferenças, com base em uma visão norteada pelo viés da inclusão. Segundo Mazzotta (2003), a defesa da cidadania e do direito à educação das pessoas com deficiência é atitude recente em nossa sociedade, manifestando-se através de medidas isoladas de indivíduos ou grupos. A conquista e o reconhecimento de alguns direitos dessas pessoas, e nessa etiqueta estão os surdos, são registrados como elementos integrantes de políticas sociais, a partir de meados do século passado. No Brasil, a comunidade surda registrou em sua trajetória lutas, realizações, frustrações, sucessos e fracassos. Algumas dessas batalhas aconteceram na tentativa de que fossem cumpridas as determinações postas na legislação vigente. A nossa Constituição Federal de 1988 define, no artigo 205, a educação como um direito de todos e, no artigo 206, inciso I, estabelece a igualdade de condições de acesso e permanência na escola como um dos princípios para o ensino. Encontramos aqui um direito instituído, mas como viabilizá-lo para o surdo? Como garantir a esse 14 sujeito acesso ao ensino, permanência no âmbito educacional e educação de qualidade, se a língua majoritária de circulação no espaço escolar é a língua oral? Além da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a partir dos anos noventa novas formas de interpretação da questão da desigualdade e do acesso das camadas populares a bens e serviços começaram a ficar mais definidas. Outros documentos internacionais como a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e a Convenção de Guatemala (1999), passaram, então, a influenciar no Brasil a elaboração de leis e ações relacionadas às políticas públicas de educação inclusiva. A Declaração de Salamanca constitui-se em importante documento elaborado durante a Conferência Mundial de Educação Especial, realizada na Espanha de 07 a 10 de junho de 1994. Esse documento defende que o princípio norteador da escola deve ser o de propiciar a mesma educação a todas as crianças, adaptando-as às demandas delas. Reconhece, também, a importância da língua de sinais e a necessidade de garantir que todas as pessoas surdas tenham acesso ao ensino na língua de sinais de seu país. Chamamos a atenção para o fato de que, ao considerar a língua de sinais como uma peculiaridade na educação de surdos, a Declaração de Salamanca aponta princípios norteadores para um ensino de qualidade para o surdo, tendo como eixo principal uma língua acessível, condição sine qua non para uma aprendizagem significativa. Elaborada com base nesses documentos internacionais, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDBEN, Lei nº 9394/96, estabelece no capítulo V, art. 58, que a educação dos “alunos com necessidades especiais” deve acontecer preferencialmente na rede regular de ensino. Destacamos o termo “preferencialmente”, ou seja, prioritariamente e não obrigatoriamente, exclusivamente. Esse mesmo artigo diz também que, nos casos em que as necessidades específicas do aluno impeçam que ele se desenvolva satisfatoriamente nas classes existentes, este teria o direito de ser educado em classe ou serviço especializado. Para Souza e Góes (1999), o surdo faz parte desses casos. Compreendemos que a inclusão da forma como está posta tem possibilitado a um número significativo de surdos o acesso à escola, no que corresponde ao espaço 15 físico, mas eles continuam sem acesso à educação. Os surdos permanecem amargando o constrangimento de estarem em uma sala de aula – palco por excelência da aprendizagem –, alheios ao saber que circula nesse espaço. Por isso, constantemente, deparamo-nos com relatos de surdos que militam em prol da inclusão social,mas rejeitam a inclusão educacional no modelo desenhado. Ou seja, marcado por configurações ideológicas que desconsideram as peculiaridades inscritas no “jeito surdo de ser”, no dizer de Strobel (2008), presente na forma como batem palmas, no uso da língua de sinais ou como são nomeados, através de sinais. Fonte: lojaciviam.com.br Uma das maiores barreiras constatadas na inserção de alunos surdos em sala de aula regular diz respeito ao tipo de comunicação predominantemente usada nesses ambientes – a comunicação oral –, no nosso caso através da língua portuguesa. Entendemos que o surdo tem uma especificidade linguística, e que esta faz de sua inserção no âmbito educacional uma situação peculiar, diferente daquela geralmente vivenciada por alunos com outras necessidades educacionais específicas, a exemplo da pessoa com deficiência intelectual, visual, motora, dentre outras. Nestes casos, a língua oral lhes é devidamente acessível, logo, o processo de ensino aprendizagem não sofre interferência devido à modalidade da língua em uso, 16 não é atravessado por uma comunicação truncada e fragmentada como geralmente ocorre com a pessoa surda. Conforme já mencionamos, essa discussão sobre as especificidades em relação ao aluno surdo não tem sido entendida pacificamente, ao contrário, tem gerado polêmicas e opiniões divergentes entre os estudiosos na área de educação. Encontramos por um lado um grupo que defende a inclusão do surdo no ensino regular, respaldando-se no direito de igualdade e nos prováveis benefícios surgidos no contato com os demais alunos. Fonte: www.brasileiros.com.br Por outro lado, existe um grupo que discorda dessa ideia, baseando-se no reconhecimento político da surdez como característica cultural específica de um grupo social, linguisticamente diferente. Na opinião de pesquisadores como Lopes (2005) e Strobel (2008), a escola regular acaba privando o surdo do importante contato com seus pares. Esses autores defendem que é nesse contato que o surdo aprende a ser surdo, ou seja, a se identificar com seus iguais, a se apropriar de sua língua e a ingressar na sua cultura, construindo a sua identidade e se organizando enquanto grupo social. http://www.brasileiros.com.br/ 17 A esse respeito, é interessante refletir no que Sá (2005, p. 188) defende ao afirmar que “escola inclusiva não é sinônimo de escola regular”. Na opinião dessa autora, e nós comungamos desse pensamento, a escola passa a ser inclusiva quando ela se constitui significativa, possibilitando que a aprendizagem efetivamente aconteça. Vale ressaltar que as políticas públicas de educação inclusiva garantem o direito a todo cidadão brasileiro a uma educação plena e significativa. Entretanto, inquieta-nos saber se a escola regular, no atual contexto em que vivem os surdos no Brasil, está sendo significativa? A LDBEN/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades. Contudo, a realidade do aluno surdo é outra, a escola continua oferecendo programas educacionais voltados para ouvintes e elaborados, na maioria, por ouvintes. São exíguos os programas que têm a participação de surdos e, portanto, consideram o seu modo de viver: sua cultura, sua língua, suas necessidades e seus interesses. Enfim, compreendem e respeitam as suas especificidades no processo de inclusão escolar, dando-lhes o direito de serem pessoas diferentes e não deficientes. Quadros (1997) chama a atenção para o currículo escolar, que deverá incluir os conteúdos desenvolvidos nas escolas regulares, alterando apenas a forma de serem trabalhados, que deve ser na Libras. A adequação no currículo que venha a favorecer uma aprendizagem verdadeira para o surdo é por vezes confundida com a retirada de conteúdo, ou mesmo com a mutilação no ensino da Língua Portuguesa, como forma de “facilitá-lo”. A escola age como se os surdos precisassem de um ensino mais fácil, entendendo que eles não têm competência para aprender igual aos ouvintes, como se a capacidade cognitiva desses sujeitos fosse deficitária. Nas últimas décadas, relevantes avanços nas políticas públicas brasileira vêm difundindo a ideia da pessoa surda como alguém diferente linguisticamente. A partir das mobilizações dos movimentos surdos e da promulgação de leis de acessibilidade, muitas posturas foram modificadas. Após a LDBEN/96, houve um marco significativo nas ações relacionadas à educação de surdos. Destacamos a grande conquista que foi o reconhecimento da Libras como meio legal de comunicação e expressão de pessoas surdas brasileiras, através da assinatura da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 18 2002. Posteriormente, essa lei foi regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, definindo as formas institucionais para o uso e a difusão da Libras e da Língua Portuguesa, objetivando o acesso das pessoas surdas à educação. Sem dúvida, temos vivido um momento ímpar na história de educação de surdos no Brasil depois da promulgação desse decreto, pois ele aponta para a necessidade de a Libras estar presente no cotidiano escolar das pessoas surdas. Para que isso se concretize, necessário se faz que as instituições de ensino superior formem profissionais capacitados, adotando uma política linguístico-educacional de formação do futuro professor, através de mudanças no currículo nos cursos de Pedagogia e de licenciaturas em geral. Fonte: www.bp.blogspot.com Essas medidas viabilizam um contexto bilíngue para os surdos, à medida que considera a Libras como primeira língua (L1) e a Língua Portuguesa como segunda língua (L2), conforme determina o Decreto nº 5.626. Essa política linguística para comunidades surdas no âmbito educacional necessita implantar a educação bilíngue como direito, incluindo adultos fluentes em Libras e intérpretes de Libras no quadro de profissionais surdos, além de outras medidas que garantam não apenas a implantação dessa política, mas, sobretudo, a sua efetivação. Esse decreto garante o http://www.bp.blogspot.com/ 19 direito de o aluno surdo ter acesso à educação mediante o ensino bilíngue desde a educação infantil, seja em escolas públicas ou privadas. Vale salientar que a inserção do profissional intérprete em sala de aula pode minimizar as dificuldades comunicativas do surdo, devido aos problemas linguísticos geralmente enfrentados pela comunidade surda no espaço escolar. Contudo, a inclusão almejada e descrita na legislação não é atingida plenamente, ainda que com a presença do intérprete. Lacerda (2000) mostra isso através de um estudo realizado com o objetivo de investigar a dinâmica e as peculiaridades das relações pedagógicas em uma sala de aula inclusiva. Dentre as muitas questões que têm surgido como barreiras na educação do surdo, para que se efetive uma aprendizagem significativa, destacamos a falta de qualificação profissional do intérprete. A presença desse profissional, como já colocado, tem viabilizado o acesso do surdo no cotidiano escolar, mas não tem garantido a permanência e a qualidade do ensino. A falta de domínio do assunto a ser interpretado, resulta em acréscimo, supressão ou, ainda pior, em equívocos de informações que comprometem a compreensão dos conteúdos ensinados pelo professor ouvinte. Outra barreira importante diz respeito ao fato de a maioria dos surdos serem filhos de pais ouvintes, motivo pelo qual costumam chegar à escola sem o conhecimento da língua de sinais. Como resultado disso, eles levam um tempo longo para usufruírem do trabalho do intérprete. Parece haver uma contradição entre os princípios inspiradores da inclusão e a sua prática, pois sob a égide da inclusão os surdossentem-se excluídos do processo de ensino-aprendizagem. Por tudo isso, urge um olhar acerca das especificidades na inclusão escolar da pessoa surda, para que ela usufrua de uma educação de qualidade na atual política pública educacional que proclama o direito igualitário à educação. Na nossa compreensão, trata-se de um direito ao acesso à educação, não devendo ser confundido com o direito a uma educação igualitária, no sentido de a escola oferecer um ensino pautado em metodologias padronizadas, desconsiderando, muitas vezes, as singularidades existentes na educação do indivíduo surdo. 20 É necessário que a escola crie espaços para que a pessoa surda possa manifestar-se culturalmente, nas suas formas particulares de expressão. Escola para surdos, regular ou inclusiva? Não importa, a luta consiste, tão somente, em uma escola que reflita a situação sociolinguística e histórica desses sujeitos, propiciando- lhes uma aprendizagem significativa, com reais condições para tal. 7. MEDIADOR X INTERPRETE Fonte: i.huffpost.com A busca para entender a diferença entre a função de mediador e de intérprete, pode remeter à compreensão sobre se há ou não uma discrepância na aprendizagem de alunos, nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Acredita-se que a aprendizagem do aluno se constitui da intervenção do educador. Essa intervenção, ou também, mediação, pode ajudar na elevação intelectual do mesmo, promovendo assim, uma elevação no nível de conhecimento e compreensão desse aluno, fazendo com que, algumas dificuldades sejam supridas. Em se tratar de educação a aprendizagem plena dos alunos, é uma das maiores metas do educador, isso não é diferente com o aluno surdo, qual pode 21 necessitar de maiores aparatos pedagógicos para que a aprendizagem ocorra, como a preparação e formação de seus educadores e até mesmo com a formação e função desempenhada pela pessoa que o acompanha na tradução da língua, entre outros pontos relevantes. Para se fazer entender a função do professor, primeiramente se faz necessário uma retomada geral da formação do mesmo no Brasil, para em seguida discutir a sua necessidade de conhecimento para atuar com a Educação Especial, apontada como uma modalidade educacional, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 93949/96. Em seguida, entender a formação continuada e a função exercida pelo professor mediador e interprete e sua interferência na aprendizagem dos alunos. Dessa forma, o que se pode constatar é que há uma diferença entre a função do mediador e do intérprete de Libras nos anos iniciais e finais do ensino fundamental no Município, assim como, nos anos iniciais de Ensino Fundamental, assim chamado mediador, atua como um “professor ajudante”, que apoia não só na tradução da Língua de Sinais para o aluno surdo, como também, desempenha as funções de mediar à aprendizagem desse e dos outros alunos da turma, além de colaborar com ideias para o planejamento diário da professora regente. Já os intérpretes que atuam nos anos finais de Ensino Fundamental, somente atuam como tradutores da Língua de Sinais e reclamam da falta de compreensão por parte dos professores regentes das diferentes disciplinas por não demonstrarem interesse em sanar determinadas dúvidas de seus alunos surdos. 22 8. ASPECTOS FUNDAMENTAIS NA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL Fonte: 1.bp.blogspot.com A preocupação com a formação docente só vem a repercutir no Brasil, nas duas últimas décadas, mesmo que sua discussão história anteceda-se com as ideias defendidas por Comenius (1630). Segundo Saviani (2009) a preocupação mundial com a formação do professor, principalmente voltada para a instrução população, acontece com a Revolução Francesa, no século XIX, assim, a mobilização dos países, influência a corte Portuguesa a prover ensaios educacionais no Brasil. Entre os anos de 1827 a 1890, surgem as Escolas de Primeiras letras, tendo um método único que o professor deveria dominar. Mas, como não haviam professores formados, em 1834, por meio da Promulgação do Ato Adicional, segundo Saviani “que coloca a instrução primária sob a responsabilidade das províncias (...) com a criação de Escolas Normais”. Ou seja, primeira aparição de uma instituição pública voltada para a formação do professor e que se estabeleceu sem modificações até o ano de 1890. 23 Somente no ano 1890, algumas reformas educacionais na formação do educador foram instigadas no Estado de São Paulo, que provocaram algumas melhorias no ensino, provocando uma adaptação em outros Estados Brasileiros. Essas reformas, segundo Saviani foi marcada por dois vetores: enriquecimento dos conteúdos curriculares anteriores e ênfase nos exercícios práticos de ensino, cujas marcas características foram à criação da escola-modelo anexa à escola Normal – na verdade a principal inovação da reforma. (2009, p. 145) Muitos Estados enviaram professores para estagiar ou realizar “missões” em São Paulo para atuar nos cursos de formação. A organização de institutos de educação, surgem em nosso pais por volta dos anos de 1932 a 1939, com a finalidade de se abrir uma nova fase com o advento dos institutos de educação, concebidos como espaços de cultivo da educação, encarada como objeto do ensino e também da pesquisa. (SAVIANI, 2009, p. 145). Com inspiração nas ideias pedagógicas da Escola Nova, aderindo-se no currículo a fundamentação teórica da mesma. Entre os anos de 1939 a 1971, alguns institutos de educação, passa a se consolidar como Universidades, enriquecendo assim, os cursos de formação de professores para o ensino secundário da época, mas, mantêm-se ainda alguns institutos de educação para a formação primária. Com o golpe Militar e com a Lei nº 5692/71, a escola de normalista para a se chamar, formação para o Magistério, que Saviani explica com Pelo Parecer nº 349/72 (Brasil – MEC-CFE, 1972), aprovado em 6 de abril de 1972, a habilitação especial do magistério foi organizada em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.200 horas), que habilitariam a lecionar até 4ª Série; e outra com a duração de quatro anos (2.900 horas), habilitando ao magistério até a 6ª Série do 1º Grau. (2009, p. 147) Além dessa modificação, se ampliou os problemas com a formação por causa da mudança do currículo, para então suprir essas falhas, ofereceu-se em 1892, o Projeto de Formação e aperfeiçoamento do Magistério (CEFAMs), alcançando pontos positivos, mas, destituído por falta de quórum. 24 Somente em 1980, foram novamente levantadas algumas possíveis modificações nos cursos de licenciatura em Pedagogia, que para Saviani (2009, p. 148): À luz desse princípio, a maioria das instituições tendeu a situar como atribuição dos cursos de Pedagogia a formação de professores para a Educação Infantil e para as séries iniciais do ensino de 1º Grau (Ensino Fundamental). As alterações e preocupações expostas em relação à formação para a Educação infantil e anos iniciais do fundamental, são novamente ressaltadas na Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional, nº 9394/96, exigindo formação superior até a próxima década, promovendo assim, a formação aligeirada de alguns professores, com algumas instituições de cursos superiores à distância. Para Saviani a formação dos docentes no Brasil, por mais modificações propostas nos decorres dos séculos, “não se encontrou até hoje, um encaminhamento satisfatório” (2009, p. 148). Principalmente em se tratando de Educação Especial, a formação docente ainda continua em aberto, como afirma Saviani “não se pode dizer que a educação especial não tenha sido contemplada na legislação em vigor” (2009, p. 152), mas a questão aqui apontada é a formação desse educador. Pois para Saviani (2009) a resolução CNE/CP 1, de 2006, que definiu as diretrizesdo curso de pedagogia, no artigo 5º, inciso X e artigo 8º, inciso III, trata rapidamente em dois momento de Educação Especial. Vê-se que, nos dois dispositivos, a referência a Educação Especial é claramente secundária. No primeiro caso, a menção não chega a ser modalidade de ensino, mas apenas a situa no rol das várias situações demonstrativas da consciência da diversidade; no segundo caso, limita-se a uma atividade complementar, de caráter opcional, para efeito de integração dos estudos. (SAVIANI, 2009, p. 153). Observando as ponderações de Saviani (2009) acredita-se que, a formação dos professores de ensino fundamental ainda é falha e que a educação especial é uma modalidade de ensino que precisa de um espaço específico para a preparação desses educadores. 25 Como integrantes do corpo docente de uma escola regular ou especial, o tradutor da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, também, segundo a Lei 12095/98, de 11 de março de 1998, estabelece que, o interprete deve possuir [...] domínio da Língua de Sinais; ¨ conhecimento das implicações da surdez no desenvolvimento do indivíduo surdo; ̈ conhecimento da comunidade surda e convivência com ela; ¨ formação acadêmica, em curso de interpretação, reconhecido por órgão competente; ¨ filiação a órgão de fiscalização do exercício dessa profissão; ̈ noções de linguística, de técnica de interpretação, e bom nível de cultura; ¨profissional bilíngue;¨ reconhecido pelas associações e /ou órgãos responsáveis-, ¨ interprete e não explicador; ¨ habilitado na interpretação da Língua oral, da Língua de Sinais, da Língua escrita para Língua de Sinais e da Língua de Sinais para a Língua oral. Formação: preferencialmente 3º grau Requisitos para o exercício da função. (PARANÁ, 1998, p. 1). Assim, não só há uma preocupação com a formação do professor regente, mas, também com a do tradutor da língua. Para atuar em uma escola regular, o interprete de Libras, tal como estabelece a Lei 12095/98, precisa ter formação e estar devidamente habilitado. Mas, ao se referir à função exercida, essa legislação vigente, apresenta uma divisão entre a função de interprete de Libras, para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, assim como, para o Ensino Médio. Segundo os dados de apoio, cedidos pela Secretaria de Educação Especial ao intérprete de Libras (Língua Portuguesa/TILS – Área da Surdez), caberia à função de: Oferecer suporte pedagógico à escolarização de alunos surdos matriculados na Educação Básica, da rede regular de ensino, por meio da mediação linguística entre alunos (s) surdo (s) e demais membros da comunidade escolar, de modo a assegurar o desenvolvimento da proposta de educação bilíngue (Libras/Língua Portuguesa). A proposta denota, mediar à tradução da Libras/Língua Portuguesa, cabendo ainda ao interprete exercer maiores funções explicativas da fala do professor, mas não interagir no processo de aprendizagem do aluno, apenas exercer sua função de mediador da língua e não da aprendizagem. No que se refere à outra função, cabe, segundo a Secretaria de Educação Especial ao Professor de Apoio Permanente em Sala de Aula, “atuar em sala de aula como mediador e interlocutor no apoio à comunicação entre o aluno, o grupo social e 26 o processo de ensino e aprendizagem. Esse serviço de apoio especializado é nos estabelecimentos do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos”. Observado as duas funções, pode-se perceber que quanto ao apoio permanente, há a preocupação com a aprendizagem do aluno e não somente com a interação social, como ocorre na função do tradutor/interprete. Segundo Góes, “tendo em vista que o ensinar-aprender somente se dá na dialogia, a qualidade da experiência escolar dos surdos depende das formas pelas quais a escola aborda a questão da linguagem e concebe a importância ou o lugar das duas línguas” (2000, p. 29). Pode-se perceber que a presença de um interprete é extrema relevância, não só para a inserção e comunicação social do surdo, mas, também, para a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo do mesmo. Essa forma de educação chama-se, Educação Bilíngue. O objetivo da Educação Bilíngue é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a língua de sinais e a língua do grupo majoritário. A inserção da criança surda no ensino regular exige das autoridades responsáveis à presença de um tradutor da língua para que o aprendizado significativo ocorra, proporcionando a esse aluno o direito a igualdade perante a sociedade. Quando se opta pela inserção do aluno surdo na escola regular, está precisa ser feita com muitos cuidados que visem garantir sua possibilidade de acesso aos conhecimentos que estão sendo trabalhados, além do respeito por sua condição linguística e por seu modo peculiar de funcionamento. Ao exposto acima, fica clara a necessidade de um apoio de um interprete da língua, pois sem ela, o aluno surdo se torna incomunicável e não consegue se apropriar dos conhecimentos necessários. Assim, pode-se dizer que, o tradutor da Língua é um dos aparatos principais para a inclusão do surdo no ensino regular. Pode-se verificar uma possível distinção na função do interprete e do professor de apoio permanente (mediação), pois como interprete nos anos finais do ensino fundamental o professor só faz a mediação da língua, sendo seu apoio pedagógico 27 fazer a tradução e mediar à aprendizagem por meio da mesma. Já nos anos inicias do ensino fundamental, o professor mediador ou de apoio permanente em sala, como o próprio nome já diz, permanece diariamente apoiando o professor da turma com a inclusão do surdo, realiza a tradução da língua, além de interagir na aprendizagem do mesmo. Acredita-se que a formação do professor, mesmo em outros cursos de licenciatura, precisa conter em seu currículo a preocupação em formar o mesmo para conviver e atuar com alunos com necessidades educacionais especiais, inclusos na rede regular de ensino. 9. DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, e no art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, DECRETA: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Art. 2º Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. CAPÍTULO II DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO DISCIPLINA CURRICULAR http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%205.626-2005?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10436.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10098.htm#art18 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10098.htm#art18 28 Art. 3º A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federalde ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. § 1º Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. § 2º A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. CAPÍTULO III DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LIBRAS E DO INSTRUTOR DE LIBRAS Art. 4º A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 5º A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngüe. § 1º Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a formação ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação bilíngüe, referida no caput. § 2º As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 6º A formação de instrutor de Libras, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; 29 II - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições credenciadas por secretarias de educação. § 1º A formação do instrutor de Libras pode ser realizada também por organizações da sociedade civil representativa da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por pelo menos uma das instituições referidas nos incisos II e III. § 2º As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 7º Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis: I - professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pós-graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da Educação; II - instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação; III - professor ouvinte bilíngüe: Libras - Língua Portuguesa, com pós-graduação ou formação superior e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação. § 1º Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão prioridade para ministrar a disciplina de Libras. § 2º A partir de um ano da publicação deste Decreto, os sistemas e as instituições de ensino da educação básica e as de educação superior devem incluir o professor de Libras em seu quadro do magistério. Art. 8º O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7º , deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua. § 1º O exame de proficiência em Libras deve ser promovido, anualmente, pelo Ministério da Educação e instituições de educação superior por ele credenciadas para essa finalidade. 30 § 2º A certificação de proficiência em Libras habilitará o instrutor ou o professor para a função docente. § 3º O exame de proficiência em Libras deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes surdos e lingüistas de instituições de educação superior. Art. 9º A partir da publicação deste Decreto, as instituições de ensino médio que oferecem cursos de formação para o magistério na modalidade normal e as instituições de educação superior que oferecem cursos de Fonoaudiologia ou de formação de professores devem incluir Libras como disciplina curricular, nos seguintes prazos e percentuais mínimos: I - até três anos, em vinte por cento dos cursos da instituição; II - até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da instituição; III - até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; e IV - dez anos, em cem por cento dos cursos da instituição. Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras como disciplina curricular deve iniciar-se nos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se progressivamente para as demais licenciaturas. Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a educação básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir da publicação deste Decreto, programas específicos para a criação de cursos de graduação: I - para formação de professores surdos e ouvintes, para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, que viabilize a educação bilíngüe: Libras - Língua Portuguesa como segunda língua; II - de licenciatura em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa, como segunda língua para surdos; III - de formação em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 12. As instituições de educação superior, principalmente as que ofertam cursos de Educação Especial, Pedagogia e Letras, devem viabilizar cursos de pós-graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua interpretação, a partir de um ano da publicação deste Decreto. 31 Art. 13. O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa. Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia. CAPÍTULO IV DO USO E DA DIFUSÃO DA LIBRAS E DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ACESSO DAS PESSOAS SURDAS À EDUCAÇÃO Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior. § 1º Para garantir o atendimento educacional especializado e o acesso previsto no caput, as instituições federais de ensino devem: I - promover cursos de formação de professores para: a) o ensino e uso da Libras; b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa; e c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas; II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos; III - prover as escolas com: a) professor de Libras ou instrutor de Libras; b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa; c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas; ed) professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade lingüística manifestada pelos alunos surdos; IV - garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização; 32 V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de Libras entre professores, alunos, funcionários, direção da escola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos; VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade lingüística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; VII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos para a avaliação de conhecimentos expressos em Libras, desde que devidamente registrados em vídeo ou em outros meios eletrônicos e tecnológicos; VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com deficiência auditiva. § 2º O professor da educação básica, bilíngüe, aprovado em exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, pode exercer a função de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, cuja função é distinta da função de professor docente. § 3º As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar atendimento educacional especializado aos alunos surdos ou com deficiência auditiva. Art. 15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental, como: I - atividades ou complementação curricular específica na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e II - áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior. Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na educação básica, deve ser ofertada aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno distinto ao da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas da saúde e da educação, resguardado o direito de opção da família ou do próprio aluno por essa modalidade. 33 Parágrafo único. A definição de espaço para o desenvolvimento da modalidade oral da Língua Portuguesa e a definição dos profissionais de Fonoaudiologia para atuação com alunos da educação básica são de competência dos órgãos que possuam estas atribuições nas unidades federadas. CAPÍTULO V DA FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS - LÍNGUA PORTUGUESA Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa. Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja pessoas com a titulação exigida para o exercício da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, as instituições federais de ensino devem incluir, em seus quadros, profissionais com o seguinte perfil: I - profissional ouvinte, de nível superior, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação em instituições de ensino médio e de educação superior; II - profissional ouvinte, de nível médio, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação no ensino fundamental; 34 III - profissional surdo, com competência para realizar a interpretação de línguas de sinais de outros países para a Libras, para atuação em cursos e eventos. Parágrafo único. As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, o Ministério da Educação ou instituições de ensino superior por ele credenciadas para essa finalidade promoverão, anualmente, exame nacional de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Parágrafo único. O exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, lingüistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior. Art. 21. A partir de um ano da publicação deste Decreto, as instituições federais de ensino da educação básica e da educação superior devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação de alunos surdos. § 1º O profissional a que se refere o caput atuará: I - nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino; II - nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos aos conhecimentos e conteúdos curriculares, em todas as atividades didático-pedagógicas; e III - no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim da instituição de ensino. § 2º As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. CAPÍTULO VI DA GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO DAS PESSOAS SURDAS OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA 35 Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de: I - escolas e classes de educação bilíngüe, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngües, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; II - escolas bilíngües ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade lingüística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa. § 1º São denominadas escolas ou classes de educação bilíngüe aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. § 2º Os alunos têm o direito à escolarização em um turnodiferenciado ao do atendimento educacional especializado para o desenvolvimento de complementação curricular, com utilização de equipamentos e tecnologias de informação. § 3º As mudanças decorrentes da implementação dos incisos I e II implicam a formalização, pelos pais e pelos próprios alunos, de sua opção ou preferência pela educação sem o uso de Libras. § 4º O disposto no § 2º deste artigo deve ser garantido também para os alunos não usuários da Libras. Art. 23. As instituições federais de ensino, de educação básica e superior, devem proporcionar aos alunos surdos os serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacionais, bem como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à comunicação, à informação e à educação. § 1º Deve ser proporcionado aos professores acesso à literatura e informações sobre a especificidade lingüística do aluno surdo. § 2º As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. 36 Art. 24. A programação visual dos cursos de nível médio e superior, preferencialmente os de formação de professores, na modalidade de educação a distância, deve dispor de sistemas de acesso à informação como janela com tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa e subtitulação por meio do sistema de legenda oculta, de modo a reproduzir as mensagens veiculadas às pessoas surdas, conforme prevê o Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. CAPÍTULO VII DA GARANTIA DO DIREITO À SAÚDE DAS PESSOAS SURDAS OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA Art. 25. A partir de um ano da publicação deste Decreto, o Sistema Único de Saúde - SUS e as empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos de assistência à saúde, na perspectiva da inclusão plena das pessoas surdas ou com deficiência auditiva em todas as esferas da vida social, devem garantir, prioritariamente aos alunos matriculados nas redes de ensino da educação básica, a atenção integral à sua saúde, nos diversos níveis de complexidade e especialidades médicas, efetivando: I - ações de prevenção e desenvolvimento de programas de saúde auditiva; II - tratamento clínico e atendimento especializado, respeitando as especificidades de cada caso; III - realização de diagnóstico, atendimento precoce e do encaminhamento para a área de educação; IV - seleção, adaptação e fornecimento de prótese auditiva ou aparelho de amplificação sonora, quando indicado; V - acompanhamento médico e fonoaudiológico e terapia fonoaudiológica; VI - atendimento em reabilitação por equipe multiprofissional; VII - atendimento fonoaudiológico às crianças, adolescentes e jovens matriculados na educação básica, por meio de ações integradas com a área da educação, de acordo com as necessidades terapêuticas do aluno; VIII - orientações à família sobre as implicações da surdez e sobre a importância para a criança com perda auditiva ter, desde seu nascimento, acesso à Libras e à Língua Portuguesa; IX - atendimento às pessoas surdas ou com deficiência auditiva na rede de serviços do SUS e das empresas que detêm concessão ou permissão de serviços 37 públicos de assistência à saúde, por profissionais capacitados para o uso de Libras ou para sua tradução e interpretação; e X - apoio à capacitação e formação de profissionais da rede de serviços do SUS para o uso de Libras e sua tradução e interpretação. § 1º O disposto neste artigo deve ser garantido também para os alunos surdos ou com deficiência auditiva não usuários da Libras. § 2º O Poder Público, os órgãos da administração pública estadual, municipal, do Distrito Federal e as empresas privadas que detêm autorização, concessão ou permissão de serviços públicos de assistência à saúde buscarão implementar as medidas referidas no art. 3º da Lei nº 10.436, de 2002, como meio de assegurar, prioritariamente, aos alunos surdos ou com deficiência auditiva matriculados nas redes de ensino da educação básica, a atenção integral à sua saúde, nos diversos níveis de complexidade e especialidades médicas. CAPÍTULO VIII DO PAPEL DO PODER PÚBLICO E DAS EMPRESAS QUE DETÊM CONCESSÃO OU PERMISSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS, NO APOIO AO USO E DIFUSÃO DA LIBRAS Art. 26. A partir de um ano da publicação deste Decreto, o Poder Público, as empresas concessionárias de serviços públicos e os órgãos da administração pública federal, direta e indireta devem garantir às pessoas surdas o tratamento diferenciado, por meio do uso e difusão de Libras e da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, realizados por servidores e empregados capacitados para essa função, bem como o acesso às tecnologias de informação, conforme prevê o Decreto nº 5.296, de 2004. § 1º As instituições de que trata o caput devem dispor de, pelo menos, cinco por cento de servidores, funcionários e empregados capacitados para o uso e interpretação da Libras. § 2º O Poder Público, os órgãos da administração pública estadual, municipal e do Distrito Federal, e as empresas privadas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar às pessoas surdas ou com deficiência auditiva o tratamento diferenciado, previsto no caput. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm 38 Art. 26. O Poder Público, as empresas concessionárias de serviços públicos e os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, deverão garantir às pessoas surdas ou com deficiência auditiva o seu efetivo e amplo atendimento, por meio do uso e da difusão da Libras e da tradução e da interpretação de Libras - Língua Portuguesa. (Redação dada pelo Decreto nº 9.656, de 2018) § 1º Para garantir a difusão da Libras, as instituições de que trata o caput deverão dispor de, no mínimo, cinco por cento de servidores, funcionários ou empregados com capacitação básica em Libras. (Redação dada pelo Decreto nº 9.656, de 2018) § 2º Para garantir o efetivo e amplo atendimento das pessoas surdas ou com deficiência auditiva, o Poder Público, as empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos e os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, poderão utilizar intérpretes contratados especificamente para essa função ou central de intermediação de comunicação que garanta a oferta de atendimento presencial ou remoto, com intermediação por meio de recursos de videoconferência on- line e webchat, à pessoa surda ou com deficiência auditiva. (Redação dada pelo Decreto nº 9.656, de 2018) § 3º O Poder Público, os órgãos da administração pública estadual, municipal e distrital e as empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar às pessoas surdas ou com deficiência auditiva o efetivo e amplo atendimento previsto no caput . (Incluído pelo Decreto nº 9.656, de 2018) Art. 27. No âmbito da administração pública federal, direta e indireta, bem como das empresas que detêm concessão e permissão de serviços públicos federais, os serviços prestados por servidores e empregados capacitados para utilizar a Libras e realizar a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa estão sujeitos a padrões de controle de atendimento e a avaliação da satisfação do usuário dos serviços públicos, sob a coordenação da Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em conformidade com o Decreto nº 3.507, de 13 de junho de 2000. Parágrafo único. Caberá à administração pública no âmbito estadual,municipal e do Distrito Federal disciplinar, em regulamento próprio, os padrões de controle do http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3507.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3507.htm 39 atendimento e avaliação da satisfação do usuário dos serviços públicos, referido no caput. Art. 27. No âmbito da administração pública federal, direta e indireta, e das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos federais, o atendimento prestado conforme o disposto no § 2º do art. 26 estará sujeito a padrões de controle de atendimento e de avaliação da satisfação do usuário dos serviços públicos, sob a coordenação da Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, em conformidade com o disposto no Decreto nº 9.094, de 17 de julho de 2017. (Redação dada pelo Decreto nº 9.656, de 2018) § 1º Os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, e as empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos federais deverão publicar em seus sítios eletrônicos, inclusive em formato de vídeo em Libras, e em suas cartas de serviço as formas de atendimento disponibilizadas para as pessoas surdas ou com deficiência auditiva. (Incluído pelo Decreto nº 9.656, de 2018) § 2º Caberá à administração pública no âmbito estadual, municipal e distrital disciplinar, em regulamento próprio, os padrões de controle de atendimento e de avaliação da satisfação do usuário dos serviços públicos referidos no caput . (Incluído pelo Decreto nº 9.656, de 2018) CAPÍTULO IX DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 28. Os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, devem incluir em seus orçamentos anuais e plurianuais dotações destinadas a viabilizar ações previstas neste Decreto, prioritariamente as relativas à formação, capacitação e qualificação de professores, servidores e empregados para o uso e difusão da Libras e à realização da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Art. 29. O Distrito Federal, os Estados e os Municípios, no âmbito de suas competências, definirão os instrumentos para a efetiva implantação e o controle do uso e difusão de Libras e de sua tradução e interpretação, referidos nos dispositivos deste Decreto. Art. 30. Os órgãos da administração pública estadual, municipal e do Distrito Federal, direta e indireta, viabilizarão as ações previstas neste Decreto com dotações específicas em seus orçamentos anuais e plurianuais, prioritariamente as relativas à http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9094.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9094.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9656.htm#art1 40 formação, capacitação e qualificação de professores, servidores e empregados para o uso e difusão da Libras e à realização da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Art. 31. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 22 de dezembro de 2005; 184º da Independência e 117º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad 41 10. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Constituição; República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico,1988. . Declaração de Salamanca e de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994. . Declaração universal dos direitos humanos (1948). Disponível em: http//portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm. Acesso em: 04 de fevereiro de 2011. . Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso: 04 de fevereiro de 2011. . Ministério da Educação. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC, 1996. .Lei de Libras. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Disponível em: http://www.mec.gov.br/legis/pdf/lei10436.pdf. 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