Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SAÚDE HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DAS BIÓPSIAS RENAIS MARCADAS POR ULTRASSONOGRAFIA E TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA E O NÍVEL DE INFORMAÇÃO FORNECIDO EM CADA MÉTODO NO HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL RODRIGO BRAZ SANTOS São Paulo 2018 RODRIGO BRAZ SANTOS AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DAS BIÓPSIAS RENAIS MARCADAS POR ULTRASSONOGRAFIA E TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA E O NÍVEL DE INFORMAÇÃO FORNECIDO EM CADA MÉTODO NO HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Residência Médica do Hospital do Servidor Público Municipal, para obter o título de Residência Médica. Área: Nefrologia Orientadora: Dra. Mary Carla Estevez Diz São Paulo 2018 AUTORIZO A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. São Paulo, ____/____/______ Assinatura do Autor: Santos, Rodrigo Braz AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DAS BIÓPSIAS RENAIS MARCADAS POR ULTRASSONOGRAFIA E TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA E O NÍVEL DE INFORMAÇÃO FORNECIDO EM CADA MÉTODO NO HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL/ Rodrigo Braz Santos. São Paulo, 2018. Orientadora: Dra. Mary Carla Estevez Diz 52 pp. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Residência Médica do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo para obter o título de Residência Médica, na área de Nefrologia. Descritores: 1. BIÓPSIA RENAL PERCUTÂNEA:. 2.ULTRASSONOGRAFIA: 3.TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA. . Dedico este trabalho aos meus familiares pelo apoio incondicional durante a realização desta Especialização. Aos meus amigos do curso pela construção de um novo trabalho e o nascimento de novas amizades. A todos os professores que ajudaram a construir o conhecimento e a sabedoria necessários no decorrer do curso. Aos colegas e amigos, que sempre estiveram dispostos a ajudar nos momentos difíceis. Pelas palavras de conforto recebidas no decorrer do curso. RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar o nível de informação fornecido pelos laudos de biópsias de rins nativos realizadas por Tomografia Computadorizada (TC) e Ultrassonografia (US) realizadas no HSPM pelos serviços de Nefrologia e Radiologia Intervencionista no período de maio de 1980 a maio de 2017. A doença renal é um problema de saúde pública mundial com aumento progressivo da sua incidência e prevalência, evolução desfavorável e alto custo. A biópsia constitui padrão ouro para o diagnóstico, prognóstico e tratamento de parte das doenças renais agudas, especialmente das glomerulopatias. Contudo, atualmente, há escassez de dados sobre os resultados da biópsia renal na literatura. Estudos para avaliar a eficiência e nível de informação gerado pelos laudos das biópsias renais são de grande interesse para definir qual o melhor método a ser empregado. Os dados evidenciam que, no HSPM as biópsias renais marcadas por US tem tido resultado melhor e menos complicações que as marcadas por TC e que a introdução da ultrassonografia renal em tempo real. Palavras-chave: Biópsia renal percutânea. Ultrassonografia. Tomografia computadorizada. ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the level of information provided by the reports of native kidney biopsies performed by Computerized Tomography (CT) and Ultrasonography (US) performed at the HSPM by the Nephrology and Interventional Radiology services from May 1980 to May 2017 Renal disease is a worldwide public health problem with a progressive increase in its incidence and prevalence, unfavorable evolution and high cost. Biopsy is a gold standard for the diagnosis, prognosis, and treatment of some of the acute kidney diseases, especially glomerulopathies. However, there is currently a paucity of data on the results of renal biopsy in the literature. Studies to evaluate the efficiency and level of information generated by renal biopsy reports are of great interest in defining the best method to be used. The data show that, in HSPM, US-marked renal biopsies have had better results and fewer complications than CT-labeled ones and that the introduction of renal ultrasonography in real time. KKeeyywwoorrddss:: PPeerrccuuttaanneeoouuss rreennaall bbiiooppssyy.. UUllttrraassoonnooggrraapphhyy.. CCoommppuutteedd ttoommooggrraapphhyy.. SSUUMMÁÁRRIIOO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9 2 OBJETIVO ...................................................................................................... 12 3 MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................... 13 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 15 4.1 Doença Renal e a Estrutura renal ........................................................................................... 15 4.1.1 Insuficiência Renal Aguda ....................................................................................................... 21 4.1.2 Insuficiência Renal Crônica ...................................................................................................... 23 4.2 Biópsia Renal ............................................................................................................................ 25 4.2.1 Indicações ................................................................................................................................. 26 4.2.2 Contra-Indicações ..................................................................................................................... 27 4.2.3 Preparo do Paciente e Material Necessário ............................................................................... 28 4.2.4 Técnica da Biópsia Renal Percutânea Marcada por Ultrassonografia ....................................... 29 4.2.5 Técnica da Biópsia Renal Percutânea Marcada por Tomografia Computadorizada. ................ 35 4.2.6 Biópsia Renal a “Céu Aberto” ou por técnica Cirúrgica ................................................................. 38 4.2.7 Complicações. ................................................................................................................................ 38 5 RESULTADOS .............................................................................................. 39 6 DISCUSSÃO ................................................................................................... 42 7 CONCLUSÕES ............................................................................................... 52 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 54 9 11 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO Quando o rim não consegue manter as condições vitais de um indivíduo, o mesmo passa para um estágio de insuficiência renal crônica chamado de insuficiência renal terminal. Nesse estágio pode haver manifestações clínicas como distúrbios cardiovasculares, hematopoiéticos, neurológicos, musculares, endócrinos, urogenitais, pulmonares, dermatológicos, gastrointestinais, além de alterações sanguíneas e no metabolismo ósseo 1 . Até quese tenha perdido cerca de 50% de sua função renal, os pacientes permanecem quase que sem sintomas. A partir daí podem aparecer sintomas e sinais que nem sempre incomodam muito o paciente como, por exemplo, anemia leve, pressão alta, edema dos olhos e pés e mudança no hábito de urinar. Deste ponto até que os rins estejam funcionando aproximadamente 10-12% da função renal normal, pode-se tratar os pacientes com medicamentos e dieta, o que chamamos de tratamento conservador. Quando a função renal se reduz abaixo destes valores, será necessário, desde que possível, o uso de outros métodos de tratamento da insuficiência renal: diálise ou transplante renal 2 . Para esclarecimento de algumas patologias renais, a biópsia renal percutânea (BRP) é um procedimento que se fará necessário para o diagnóstico e controle terapêutico de pacientes com doenças específicas, tais como as nefrites e doenças renais de causa indefinida. Descrita inicialmente por Bali, em 1934, tornou-se de execução rotineira nos anos 50, tendo, desde então, sofrido múltiplas modificações técnicas, principalmente relacionadas à localização renal, mais precisa pela ultrassonografia e tomografia computadorizada, os quais permitiram punções melhor orientadas, com atenuação do risco de complicações mais graves 3 . 10 A orientação para a punção do rim, durante a execução da biópsia, é geralmente efetuada por ecografia em tempo real com visualização direta; como alternativa, pode ser efetuada uma marcação ultrassonográfica e/ou tomografia prévia do local de entrada da agulha na pele em direção ao rim. Não existe qualquer indicação formal de escolha para biópsia do rim direito ou esquerdo, essa escolha deve ser, no entanto, individualizada, em função da diferenciação e morfologia renais 4 . Atualmente, a biópsia constitui padrão ouro para o diagnóstico, prognóstico e tratamento de algumas doenças renais agudas de etiologia indeterminada, especialmente das glomerulopatias 5 . Pacientes com síndrome nefrótica, síndrome nefrítica, glomerulopatia rapidamente progressiva (condição clínica onde se suspeita de uma doença glomerular e o paciente apresenta rápida disfunção renal associada a esta suspeita) e Insuficiência Renal Aguda (IRA) de etiologia desconhecida associada à alterações não infecciosas do sedimento urinário, são exemplos de situações em que o exame histológico é fundamental para o diagnóstico, prognóstico e estratégia terapêutica 5 . Outros quadros clínicos como leucocitúria estéril de longa data, acompanhados ou não de disfunção renal, hematúria persistente com disfunção renal, proteinúria isolada e acima do valor normal sem causas aparente, ou ainda pacientes com doença renal de etiologia indeterminada e que vão ser submetidos a transplante renal, podem ser candidatos à biópsia e também se beneficiam deste procedimento nas referidas vertentes. As contra-indicações para a realização da biópsia renal percutânea são escassas. A hipertensão arterial aumenta significativamente as complicações hemorrágicas. PARRISH 6 demonstrou que a redução dos valores tensionais para valores inferiores a 140/90 mmHg diminui de forma significativa o risco dessas complicações 6 . 11 Alterações da coagulação, gestação, rim único funcionante, obesidade mórbida, doente não colaborativo e massas ou neoplasias renais constituem outras contraindicações (relativas e que serão analisadas caso a caso) para a biópsia renal 4 . Idade ou ainda, restrição de posição adequada para viabilizar o procedimento, também podem ser caracterizados por contraindicações relativas, situações nas quais a biópsia a céu aberto é a modalidade de escolha. Atualmente, há escassez de dados sobre os resultados da biópsia renal na literatura. Estudos para avaliar a eficiência e nível de informação gerado pelos laudos das biópsias renais são de grande interesse para definir qual o melhor método a ser empregado 7 . Este trabalho propõe, a partir de dados de revisão de prontuários, avaliar o nível de informação fornecido nos laudos de cada método de realização de biópsia renal percutânea realizadas no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo (HSPM) no período de maio de 1980 a maio de 2017. 12 2 OBJETIVO Avaliar o nível de informação fornecido pelos laudos de biópsias de rins nativos marcadas por tomografia computadorizada (TC) e ultrassonografia (US) realizadas no HSPM pelo serviço de Radiologia Intervencionista e Nefrologia, respectivamente, no período de maio de 1980 a maio de 2017. 13 3 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo observacional retrospectivo descritivo. A primeira parte constou de uma revisão bibliográfica através de pesquisa aos sites eletrônicos da PUBMED, MEDLINE e SCIELO. Incluiram-se neste estudo, apenas os artigos que se apresentaram com texto completo, sendo descartados, portanto, aqueles que só continham o resumo. Os artigos que estavam em línguas que não Português ou Inglês também não foram utilizados. A segunda parte foi realizada a partir do levantamento de dados dos prontuários de todos os pacientes submetidos à biópsia renal, baseado em laudos anatomopatológicos. Foram analisados os laudos das biópsias renais percutâneas de rins nativos realizadas em pacientes portadores de doenças renais, no período de maio de 1980 a maio de 2017, realizadas no HSPM, pela equipe de radiologia intervencionista quando guiado por tomografia e, pela equipe de nefrologia quando guiada por ultrassonografia. Incluídas e avaliadas todas as biópsias renais no período de maio de 1980 a maio de 2017 de pacientes com idade de 18 a 65 anos e coletados dos laudos anatomopatológicos os dados que proporcionaram avaliar o nível de informação fornecido por cada laudo, como o número de fragmentos e número de glomérulos, resultando em diagnóstico para cada paciente. Foram utilizados os aparelhos de ultrassonografia e tomografia computadorizada existentes no HSPM. Foram excluídos da analise comparativa os laudos onde não era possível obter informações quanto ao método de marcação renal realizado. 14 Preparo do Paciente e Material Necessário para biopsia renal. Faz-se um estudo da coagulação sanguínea do paciente, que poderá ser biopsiado no próprio quarto, em uma sala de pequena cirurgia ou no próprio setor de ultrassonografia, quando guiada por este método. Se optado pela técnica por tomografia, o procedimento deverá ser realizado no setor da TC. Caso haja necessidade de anestesia a biópsia será realizada no centro cirúrgico. É necessária uma agulha descartável do tipo Trucut para se retirar um fragmento do rim, ou agulhas acopladas a um dispositivo tipo “pistola” com mecanismo de disparo automático. A agulha de biópsia e os outros materiais necessários como campos esterilizados, seringa, agulhas, lâmina de bisturi, pinça de assepsia e gaze, são acondicionados numa bandeja e levados para o local onde a biópsia será realizada. Técnica da Biópsia Renal Percutânea Marcada por Ultrassonografia.O paciente é colocado em decúbito ventral com um coxim sob o abdômen. Com o auxílio da ecografia, escolhe-se o rim que será submetido a biópsia e realizado a marcação ecográfica. A seguir, é feita a assepsia da pele e colocam-se os campos esterilizados, delimitando- se a área de punção. Feita a anestesia local no ponto escolhido ecograficamente para a introdução da agulha, faz-se uma pequena incisão da pele, paralela à linha das apófises espinhosas, o que permitirá uma livre movimentação da agulha com a respiração. Estando a agulha de biópsia localizada no tecido renal (sob visão ecográfica ou pela movimentação com a respiração), o paciente é instruído a realizar uma grande inspiração e a prender o ar para que o pólo inferior fique abaixo da ponta da agulha e, então é aprofundada a agulha, passando pela cápsula e, após, dispara-seo mecanismo da pistola com agulha automática ou do tipo Trucut, calibre 14 gauges e se procede aos movimentos manuais para obtenção do fragmento de tecido20. são coletadas duas amostras de tecido renal (um para análise do material por Microscopia Óptica e o outro para análise de Imunofluorescência), os 15 fragmentos então são avaliados com uma lente de grande aumento, para definir, caso seja necessário a obtenção de uma nova amostra Os fragmentos são então colocados em líquido de Bouin por 30 minutos e posteriormente transferidos para formalina tamponada. Para a imunofluorescência, o fragmento é colocado em solução de Michel24. Técnica da Biópsia Renal Percutânea Marcada por Tomografia Computadorizada. Em geral a técnica usada para realizar a biópsia renal percutânea marcada por Tomografia Computadorizada (TC) segue os mesmo passos e conceitos iniciais que a biópsia marcada por ultrassonografia. A sedação prévia é avaliada caso a caso nos adultos e indivíduos apreensivos. Em crianças, geralmente abaixo dos 12 anos, haverá necessidade de sedação com midazolam EV. 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 Doença Renal e a Estrutura renal Os rins apresentam função excretória, de regulação do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico e função endócrina, mediada basicamente através da produção de hormônios (eritropoitina e calcitriol). O rim elimina do organismo grande parte das substâncias tóxicas derivadas do metabolismo, principalmente as toxinas resultantes do metabolismo proteico 8 . A taxa de filtração glomerular (TFG) é o parâmetro que quantifica essa função. Seu valor normal está entre 80-140 mL/min., equivalente a aproximadamente 120 litros de plasma 16 filtrados diariamente. Desses, aproximadamente 118 litros retornam para o plasma através da reabsorção tubular, e os 2 litros restantes são eliminados como urina 9 . No que se referem à homeostasia, os rins exercem funções importantes como: a) regulação do balanço de água e eletrólitos; b) excreção de escórias metabólicas (uréia, creatinina, ácido úrico), de produtos finais de degradação da hemoglobina (bilirrubina) e de metabólitos de diversos hormônios; c) regulação da pressão arterial por meio da excreção de sódio e água e da secreção de substâncias vasoativas (renina); d) regulação do equilíbrio ácido-básico; e) regulação da produção de eritrócitos por meio da secreção de eritropoetina; f) regulação da produção da forma ativa da vitamina D e, através da gliconeogênese, síntese de glicose a partir de aminoácidos e de outros precursores 10 . No ser humano, cada rim é constituído por um montante de pequenas estruturas capazes de cumprir as funções discriminadas acima: são as “unidades funcionais dos rins”, chamadas de Néfrons. Estas numerosas unidades funcionais renais, os néfrons (700 mil a 1,2 milhões de nefrons/rim) são formadas pelo Corpúsculo de Malpighi (que compreende o tufo de capilar glomerular, também chamado de glomérulo, mais a cápsula de Bowman e o espaço urinário ou espaço de Bowman) e pelos túbulos. Figuras 1 e 2. Há em média um milhão de néfrons em cada rim, cada um com capacidade de formar urina. 17 Figura 1: Secção coronal de um rim unipapilar especificando as estruturas renais. Figura 2: Identificação das principais estruturas do Glomérulo Através de cada néfron, grande quantidade de líquido é filtrado do sangue e convertido em urina. 18 A função renal pode, portanto, ser compreendida estudando-se a função de um único néfron. O néfron é constituído basicamente por um glomérulo e um longo túbulo que desemboca nos tubos coletores de urina. Figura 3. Figura 3: 1- Corpúsculo renal; 2- Túbulo contorcido proximal; 3-Túbulo reto proximal; 4- Ramo descendente; 5- Ramo ascendente; 6- Túbulo reto distal (ramo espesso); 7- Mácula densa; 8- Túbulo contorcido distal; 9- Túbulo conector; 10-Túbulo coletor cortical; 11- Túbulo coletor da medula externa; 12- Túbulo coletor da medula interna. O glomérulo é uma rede ou um novelo de capilares recobertos por células epiteliais. Um glomérulo pode ter até 50 capilares. O sangue penetra no glomérulo pela arteríola aferente e sai através da arteríola eferente. A camada cortical do rim, a mais externa, é constituída principalmente por néfrons corticais, os quais possuem os túbulos coletores 19 menores que os dos néfrons localizados mais próximos da região medular, chamados néfrons justamedulares 8 . Figura 3. A camada medular é constituída principalmente pelos longos túbulos coletores de urina, que se juntam em túbulos maiores até se constituírem na pelve renal. O glomérulo tem a função de filtrar o sangue enquanto os sistemas e túbulos coletores absorvem parte do líquido filtrado nos glomérulos. Os túbulos também podem secretar diversas substâncias, conforme as necessidades do organismo 12 . Envolvendo cada glomérulo existe uma cápsula, chamada cápsula de Bowman que se continua com o túbulo proximal. A pressão do sangue nos glomérulos produz a filtração de líquido para o interior da cápsula de Bowman, de onde escoa para o túbulo proximal. Do túbulo proximal o líquido penetra na alça de Henle, que tem uma porção com parede muito fina, chamada segmento fino da alça de Henle. Da alça de Henle, o líquido penetra no túbulo distal que se insere num canal coletor, juntamente com os túbulos distais de diversos outros glomérulos. O canal coletor acumula a urina proveniente de vários néfrons e se lança na pelve renal 12 . 20 Figura 4: O Néfron O líquido filtrado no glomérulo, chamado filtrado glomerular, é transformado em urina à medida que passa pelos túbulos proximais e distais. As proteínas plasmáticas também passam pelos néfrons mas não atingem os túbulos; em néfrons íntegros, existem mecanismos que impedem a perda de proteínas, substâncias estas importantes ao nosso organismo. Assim como as proteínas, hemácias também não ultrapassam as paredes dos capilares. Assim sendo, a presença de proteinúria ou hematúria são elementos importantes onde se faz a suspeita de uma lesão glomerular. A proteinúria de origem glomerular ocorre por um aumento da permeabilidade dos capilares glomerulares às proteínas plasmáticas. Aqui se faz importante citar a albumina, proteína com 60.000 Daltons, a qual não ultrapassa o endotélio capilar e não atinge, normalmente, o espaço de Bowman. Cabe dizer aqui que, diante de diversos tipos de lesões, de doenças renais ou com o envelhecimento normal, ocorre diminuição do número de néfrons. Depois dos 40 anos de 21 idade, o número de néfrons funcionantes diminui, habitualmente, em cerca de 10% a cada 10 anos, de modo que, aos 80 anos de idade, muitos indivíduos têm 40% a menos de néfrons funcionantes. Essa perda não ameaça a vida visto que a ocorrência de mudanças adaptativas nos néfrons remanescentes permite que eles excretem as quantidades apropriadas de água e produtos de degradação 10 . As mudanças adaptativas dos néfrons, por sua vez, podem desencadear anormalidades urinárias que, no entanto, devem ser de pequena monta. Alterações substanciosas do sedimento urinário, bem como disfunção renal de etiologia indefinida, com perda da função renal, em graus variáveis de evolução, ou seja, acompanhadas de insuficiência renal aguda ou crônica, determinarão a necessidade da biópsia renal, onde serão analisados histologicamente todos os elementos celulares acima citados para o desfecho do diagnóstico. Falaremos brevemente sobre a Insuficiência Renal Aguda e Crônica. 4.1.1 Insuficiência Renal Aguda Classicamente a insuficiência renal aguda é definida como “uma diminuição abrupta e sustentada da função renal”. Diferentes autores têm escolhido diferentes métodos de avaliação da função renal e diferentes graus de anormalidade como limiar para o diagnóstico.Existem atualmente mais de 30 definições na literatura. A insuficiência renal aguda é de instalação rápida e produz profundas alterações que, em certas ocasiões, são letais, independente da terapêutica aplicada 14 . 22 Conforme a natureza das causas, a insuficiência renal aguda é classificada em 3 tipos: Insuficiência Renal Aguda Pré-Renal; Insuficiência Renal Aguda Renal e Insuficiência Renal Aguda Pós-Renal 15 . Para ROY 16 a insuficiência renal aguda pré-renal é a forma mais freqüente e, na realidade, representa uma resposta fisiológica à hipoperfusão renal. O tecido renal se mantém íntegro, porém, a persistência prolongada pode danificar o parênquima renal e comprometer os glomérulos. A hipoperfusão renal, em geral, provém de hipovolemia, desidratação, baixo débito cardíaco ou hipotensão arterial (vasodilatação sistêmica). Em geral o retorno da função renal se verifica tão logo haja correção do volume plasmático efetivo como na reposição volêmica (reidratação, transfusão, infusão de expansores plasmáticos etc.), tratamento de hipotensão arterial, tratamento de insuficiência cardíaca aguda ou crônica. A insuficiência renal aguda renal também conhecida como parenquimatosa, é produzida por isquemia renal ou pela circulação de substâncias nefrotóxicas. Nessa forma ocorre lesão parenquimatosa e sua evolução é mais intensa 16 . Nesse grupo, incluem-se todas as formas de lesões recentes ao parênquima renal. A necrose tubular aguda (NTA) é a forma mais freqüente de IRA em um hospital, responsável por 70% dos casos, seguida da incidência de 10 a 20% devido a nefrites intersticiais agudas e 1 a 10% o restante 17 . O termo NTA, embora não completamente apropriado, é utilizado universalmente pelos médicos, para designar quadro clínico de insuficiência renal aguda, provocado por lesão isquêmica e/ou nefrotóxica, cuja reversão não mais será imediata após a remoção da causa inicial, ao contrário do que ocorre na insuficiência renal aguda pré-renal e na maioria dos casos de insuficiência renal aguda pós-renal 11. . 23 Na insuficiência renal aguda pós-renal a causa reside nas estruturas que conduzem a urina filtrada nos rins, principalmente nas estruturas intra-renais, ureteres bexiga e uretra. É identificada com facilidade pela ultra-sonografia do aparelho urinário 16 . Para THADHANY 18 são menos freqüentes, em torno de 2 a 4% entre todas as causas de insuficiência renal aguda e pode aumentar para 10% em faixas etárias mais avançadas. Na maioria dos pacientes com insuficiência renal aguda, a correção da doença básica melhora a função renal imediatamente ou em poucos dias e a recuperação da função renal costuma ser a regra 8 . Entretanto, em alguns casos, a insuficiência renal persiste e torna-se crônica. Uma vez que, se sanada a causa da IRA, o paciente não recuperar a função renal e permanecer com disfunção de forma prolongada, juntamente com a presença de alterações do sedimento urinário, a biópsia renal poderá ser indicada para esclarecimento do diagnóstico. Muitas vezes, ao quadro de NTA, somam-se patologias não determinadas, como nefrites túbulo–intersticiais e glomerulopatias, de modo que somente a biópsia renal elucidará a correta etiologia e então proporcionará a possibilidade de se instituir o devido tratamento. 4.1.2 Insuficiência Renal Crônica A insuficiência renal crônica consiste na esclerose progressiva dos glomérulos, ou seja, a oclusão das alças capilares por um material hialino, com aderência ao folheto parietal da cápsula de Bowman e posterior fibrose não só do tufo glomerular, mas também do restante do parênquima renal. Esse processo é extremamente insidioso e pode evoluir assintomaticamente durante anos, até atingir o estágio terminal. 24 Os pacientes com insuficiência renal crônica, se não tratados, retêm uma quantidade enorme de excretas tais como uréia, acumulam líquido sob forma de edema e desenvolvem acidose metabólica e hiperpotassemia, não chegando a sobreviver mais do que três ou quatro dias nessas condições 12 . Segundo RIELLA 8 , a progressão da insuficiência renal crônica pode ocorrer de forma diversa, mas os sinais e sintomas são comuns e variam de acordo com a gravidade da disfunção renal. Nas fases mais precoces, o organismo consegue adaptar-se e os sintomas são escassos. Porém, em fases mais tardias os sintomas são intensos. Surge o quadro de azotemia (aumento da concentração de nitrogênio e uréia na corrente sanguínea) e, com o decorrer da doença, o paciente passa a apresenta alguns sinais e sintomas clínicos como anemia, hiperparatireoidismo secundário e acidose. Pode ser causada por doenças sistêmicas como diabetes mellitus; glomerulonefrite crônica; pielonefrite; hipertensão não controlada; obstrução do trato urinário; lesões hereditárias (doença renal policística); distúrbios vasculares; infecções; medicamentos; agentes tóxicos; agentes ambientais e ocupacionais (chumbo, cádmio, mercúrio e cromo), entre outros. A doença renal crônica constitui hoje um importante problema médico e de saúde pública. No Brasil, a prevalência de pacientes mantidos em programa crônico de diálise mais que dobrou nos últimos oito anos. Estabelecer a correta etiologia é importante. Em um grau avançado de disfunção renal, já com rins diminuídos ao USG e com perda da ecogenicidade renal, a biópsia renal será de pouca utilidade. No entanto, se o paciente ainda apresentar algum grau de função renal presente, com presença de parênquima renal viável, a análise histológica do rim será de grande valia, seja para elucidação de alguma 25 doença ainda em atividade, renal ou sistêmica, passível de tratamento, bem como para rastreamento de nefropatias de caráter familiar ou ainda, para esclarecimento de glomerulopatias em pacientes que irão ser submetidos a transplante renal, uma vez que o conhecimento da causa destas lesões implica na escolha do doador (vivo ou falecido, dependendo do grau de possibilidade de recidiva da glomerulopatia no enxerto). 4.2 Biópsia Renal A biópsia renal percutânea foi realizada pela primeira vez em 1951 por Iversen e Brun. Desde então, tem evoluído bastante, tanto na técnica como no equipamento utilizado. A introdução da ultrassonografia no final da década de 1980, associada ao desenvolvimento de agulhas acopladas a um disparador automático (biópsia guiada por ultrassom), resultou no avanço fundamental da técnica, aumentando o sucesso e reduzindo as complicações do procedimento 19 . A biópsia renal é uma contribuição de importância extraordinária na avaliação das nefropatias. Não deve ser encarada como exame diagnóstico definitivo, mas como um exame complementar capaz de auxiliar o nefrologista no diagnóstico final. Na verdade, poucas são as enfermidades que apresentam um aspecto histológico renal característico 20 . Atualmente, a biópsia constitui padrão ouro para o diagnóstico, prognóstico e tratamento de algumas doenças renais, especialmente das glomerulopatias. Este fato deve ser salientado, face à frustração de muitos nefrologistas quando o patologista não consegue esclarecer o diagnóstico da enfermidade. Sem dúvida, cabe ao patologista descrever os achados histológicos, mas caberá ao nefrologista associar estes achados à clínica e assim formular o diagnóstico mais provável 7 . Para tanto, o conhecimento 26 dos aspectos histopatológicos de cada patologia renal, pelo Nefrologista, é de suma importância para a condução das doenças. 4.2.1 Indicações Como já citado anteriormente, a biópsia renal é, hoje em dia, utilizada sempre que se faz necessário elucidar a natureza e a magnitude de lesões renais, assim como na orientação para a terapêutica e o prognóstico de determinadas enfermidades renais. Biópsias seriadas podem caracterizar a história natural da nefropatia, no entanto não é praticaclínica a realização seriada deste procedimento 21 . Quando se tem uma idéia acurada da natureza das lesões renais e da evolução da doença (p. ex., na glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica), não há necessidade de se efetuar uma biópsia renal, a não ser que a evolução não seja a esperada e haja suspeita de lesão renal mais grave, implicando uma conduta terapêutica diversa 5 . De modo geral, a biópsia está indicada nas seguintes situações: síndrome nefrótica, síndrome nefrítica com disfunção renal, doenças sistêmicas que evoluem com alteração do sedimento urinário (por exemplo: lúpus eritematoso sistêmico), proteinúria isolada acima do valor normal, hematúria com disfunção renal, glomerulonefrite rapidamente progressiva, disfunção de rim transplantado, suspeita de nefrite intersticial aguda (hematúria e/ou leucocitúria com ou sem proteinúria associadas, mais disfunção renal, em pacientes com uso de medicamentos ou doença com potencial causador desta patologia) e as microangiopatias trombóticas sem etiologia definida. Normalmente não se faz biópsia em pacientes com nefropatia diabética. Porém, é indicada a biópsia renal naqueles pacientes diabéticos que apresentem proteinúria maciça 27 apesar de terem diagnóstico de diabetes há pouco tempo, e naqueles em que não há outros sinais de doença microvascular, o que leva à suspeita de outra doença glomerular associada 23 . Para cada paciente com indicação de biópsia renal deverá ser pesado o risco/benefício do procedimento, analisados caso a caso. O método a ser feito o procedimento também será considerado caso a caso. As contra-indicações, técnicas possíveis e o preparo serão abordadas a seguir. 4.2.2 Contra-Indicações Basicamente, procura-se evitar a biópsia quando há apenas um rim, um distúrbio grave da coagulação sanguínea (contra-indicação absoluta caso este não possa ser reparado) ou mediante hipertensão arterial grave. Estas duas últimas situações clínicas aumentam o risco de sangramento renal pós-biópsia. Entretanto, nos últimos anos, a experiência obtida com biópsia de rim transplantado (rim único) tem permitido a biópsia de rim único primitivo com mais segurança 5 . Por outro lado, rins pequenos, contraídos, raramente são biopsiados. Nestes casos, o aspecto histológico invariavelmente demonstra graus variados de esclerose, sem que se possa discernir a enfermidade básica. Este é o aspecto geralmente encontrado nas fases terminais da insuficiência renal crônica, independente do agente causador. Podemos dividir as contra-indicações em dois grandes grupos de condições: as relacionadas ao rim propriamente dito, onde condições renais ruins para biópsia incluem rins com cistos múltiplos, pielonefrite aguda, abscesso perinefrético, neoplasia renal e rim único; e as relacionadas ao paciente, como por exemplo a hipertensão arterial não controlada, diátese hemorrágica não controlada, uremia, obesidade e paciente pouco colaborativo. 28 A maioria das contraindicações é relativa em vez de absoluta, porém circunstâncias clínicas que necessitem de biópsia renal de urgência podem ser reconsideradas, exceto a diátese hemorrágica não controlada. 4.2.3 Preparo do Paciente e Material Necessário Inicialmente, faz-se um estudo da coagulação sanguínea (tempo de coagulação e sangramento, tempo de atividade da protrombina e contagem de plaquetas). No passado obtinha-se uma radiografia simples (RX) do abdômen, após o devido preparo intestinal. Esta radiografia permitia saber se havia um ou dois rins e fornecia a localização dos mesmos. Hoje em dia, com a ultrassonografia, o RX é um exame dispensável 24 . O paciente poderá ser biopsiado no próprio quarto, em uma sala de pequena cirurgia ou no próprio setor de ultrassonografia. Caso seja optado pela técnica por tomografia, o procedimento deverá ser realizado no setor da TC. Caso haja necessidade de anestesia geral (eventualmente em crianças, pacientes não colaborativos por qualquer motivo), a biópsia será realizada no centro cirúrgico. É necessária uma agulha especial para se retirar um fragmento do rim. No passado, utilizava-se a agulha de Franklin-Silverman. Posteriormente, surgiram agulhas descartáveis do tipo Trucut, e mais recentemente as agulhas acopladas a um dispositivo tipo “pistola” com mecanismo de disparo automático. A agulha de biópsia e os outros materiais necessários (campos esterilizados, seringa, agulhas, lâmina de bisturi, pinça de assepsia e gaze) são acondicionados numa bandeja e levados para o local onde a biópsia será realizada, juntamente com o aparelho portátil de ecografia. 29 Figura 5: Agulhas para biópsia renal. A Esquerda agulha tipo Trucut (semi automática) e a Direita agulha acoplada ao disparador automático. 4.2.4 Técnica da Biópsia Renal Percutânea Marcada por Ultrassonografia Geralmente não há necessidade de uma sedação prévia, a não ser nos pacientes adultos mais apreensivos. Em crianças, geralmente abaixo dos 12 anos, haverá necessidade de sedação com midazolam EV. O paciente primeiramente deverá ter realizado USG para: avaliação dos rins, a escolha do rim a ser biopsiado, para afastar qualquer anormalidade de posicionamento (rim ectópico por exemplo), para avaliar a existência dos dois rins, para avaliar se existem cistos, tumores e etc. 30 Figura 6: Marcação ultrassonográfica do local a ser puncionado. O paciente é colocado em decúbito ventral com um coxim sob o abdômen, procurando-se assim corrigir a lordose lombar e “superficializar” os rins. Com o auxílio da ecografia, escolhe-se o rim em que a biópsia será realizada (geralmente o esquerdo). Naturalmente, escolhe-se o rim cujos contornos estejam melhor delineados. Para pessoas destras, é mais confortável biopsiar o rim esquerdo 25 . Caso haja presença de esplenomegalia dá-se preferência ao rim direito. A seguir, é feita a assepsia da pele e colocam-se os campos esterilizados, delimitando- se a área de punção. Feita a anestesia local no ponto escolhido ecograficamente para a introdução da agulha, faz-se uma pequena incisão da pele, paralela à linha das apófises espinhosas, o que permitirá uma livre movimentação da agulha com a respiração. 31 Figura 7: uma pequena incisão da pele para livre movimentação da agulha de biópsia. Estando a agulha de biópsia localizada no tecido renal (sob visão ecográfica ou pela movimentação com a respiração), o paciente é instruído a realizar uma grande inspiração e a prender o ar para que o pólo inferior fique abaixo da ponta da agulha e, então é aprofundada a agulha, passando pela cápsula e, após, dispara-se o mecanismo da pistola com agulha automática ou do tipo Trucut, calibre 14 gauges e se procede aos movimentos manuais para obtenção do fragmento de tecido 20 . 32 Figura 8: Preparação da agulha tipo Trucut No HSPM, temos realizado as biópsias renais percutâneas marcadas previamente com USG, utilizando agulhas tipo Trucut e é deste tipo de procedimento que obtivemos os dados para o nosso trabalho. Pode-se usar, conforme descrito anteriormente, o instrumento para biópsia com um tipo de disparador automático. Neste caso, marca-se, em tempo real, com USG o rim a ser biopsiado, conforme pode-se ver na Figura 9. As duas técnicas são eficientes e diferem no que tange à capacitação de profissionais treinados para tal procedimento e à disponibilidade da aparelhagem utilizada no serviço. A Biópsia realizada com disparador requer um USG e profissional que seja capacitado para operar este. Como no HSPM não possuímos USG próprio, optamos por realizar a biópsia com agulha Tipo Trucut com a prévia marcação do rim por um radiologista. 33 Figura 9: Procedimento de biópsia renal com marcação do rim em tempo real. A agulha de biópsia é introduzida em um ângulo de aproximadamente 70 grauscom a pele com auxilio do ultrassom. Figura 10: Imagem ultrassonográfica a Esquerda do rim nativo a ser biopsiado e a Direita o mesmo rim nativo com agulha no tecido renal. Rotineiramente, no nosso serviço, são coletadas duas amostras de tecido renal (um para análise do material por Microscopia Óptica e o outro para análise de Imunofluorescência), os fragmentos então são avaliados com uma lente de grande aumento, para definir, caso seja necessário a obtenção de uma nova amostra. Em serviços onde se tem 34 autorizada a realização de Microscopia Eletrônica, faz-se a coleta de um terceiro fragmento de tecido renal. Figura 11: Agulha com fragmento de tecido renal. Os fragmentos são então colocados em líquido de Bouin (meio de transporte específico para preservação do material) por 30 minutos e posteriormente transferidos para formalina tamponada (para enfim a análise por microscopia óptica). Para a imunofluorescência, o fragmento é colocado em solução de Michel (se vai ser transportado para locais distantes, estável por 3-5 dias), ou mantido em soro fisiológico gelado, e depois congelado até o processamento 24 . Se houver necessidade e dependendo da rotina do Serviço, um fragmento é colocado em glutaraldeído a 2,5%, para a análise do material por microscopia eletrônica. A grande maioria dos diagnósticos é definida apenas com análises do material por Micrsocopia Óptica e Imunofluorescência. No Brasil são poucos os serviços que possuem microscópio eletrônico. Esta exame ainda não é uma realidade factível no Brasil. 35 Uma vez que o tecido renal suficiente tiver sido obtido, é feito um curativo na incisão da pele, e o paciente é virado no leito para permanecer em observação. Figura 12: Orifício de entrada da agulha após termino de punção para biópsia renal. Até há algum tempo atrás, o paciente era mantido em repouso absoluto por 24 horas, sendo a pressão arterial e pulso controlados seguidamente. Observava-se o aspecto da urina emitida após a biópsia, durante as próximas 24 horas e a finalidade era detectar hematúria macroscópica. Atualmente a monitorização da pressão arterial e da urina são feitas por 6 horas e é possível fazer a biópsia renal em caráter ambulatorial. 4.2.5 Técnica da Biópsia Renal Percutânea Marcada por Tomografia Computadorizada. Em geral a técnica usada para realizar a biópsia renal percutânea marcada por Tomografia Computadorizada (TC) segue os mesmo passos e conceitos iniciais que a biópsia marcada por ultrassonografia. A sedação prévia é avaliada caso a caso nos adultos e 36 indivíduos apreensivos. Em crianças, geralmente abaixo dos 12 anos, haverá necessidade de sedação com midazolam EV. O paciente primeiramente deverá realizar um TC para avaliação dos rins, a escolha do rim a ser biopsiado, para afastar qualquer anormalidade de posicionamento assim como na técnica com ultrassonografia. O paciente é colocado em decúbito ventral com um coxim sob o abdômen, procurando-se assim corrigir a lordose lombar e “superficializar” os rins. Com o auxílio da TC, escolhe-se o rim em que a biópsia será realizada, neste momento a preferência de escolha se da pelo rim mais superficial. É realizada a marcação do local a ser biopsiado com as imagens guiadas pela tomografia, calculando-se o ângulo a ser colocada a agulha de biópsia e profundidade. A marcação por TC exige um operador do aparelho com experiência para tal. A seguir, é feita a assepsia da pele e colocam-se os campos esterilizados, delimitando- se a área de punção. Feita a anestesia local no ponto escolhido e marcado com auxilio da imagem adquirida pelo tomógrafo para a introdução da agulha, faz-se uma pequena incisão da pele, o que permitirá uma livre movimentação da agulha com a respiração. Neste momento incia-se o procedimento de punção, com controle por imagem tomográfica. Estando a agulha de biópsia localizada no tecido renal sob visão de imagem estática adquirida pelo tomógrafo, o paciente é instruído a não se movimentar, então é aprofundada a agulha, passando pela cápsula e, após, dispara-se o mecanismo da pistola com agulha automática ou do tipo Trucut e se procede aos movimentos manuais para obtenção do fragmento de tecido 20 . Esta técnica de biópsia guiada por TC é mais facilmente realizada com a pistola automática (ou agulha com disparador automático). Aqui, as agulhas tipo Trucut são de difícil manuseio para esta técnica. No HSPM utiliza-se uma agulha com disparador automático com calibre 16 gauges, mais fina portanto que a agulha tipo Trucut. Por ser mais 37 fina são realizados mais disparos que na técnica por USG a fim de coletar mais material, suficiente para uma boa análise. Figura 13: Imagem de controle tomográfico do posicionamento da agulha no tecido renal. Assim como na técnica por ultrassonografia, são coletadas amostras; nesta técnica são coletados de quatro a seis amostras de tecido renal, os fragmentos então são avaliados com uma lente de grande aumento, para definir, caso seja necessário a obtenção de uma nova amostra. Após a obtenção do tecido renal, segue-se com os mesmos procedimentos para acondicionamento da amostra e envio para análise anatomopatológica como descrito na técnica por ultrassonografia. 38 4.2.6 Biópsia Renal a “Céu Aberto” ou por técnica Cirúrgica Os fragmentos de rim também podem ser coletados por captura direta do material realizando-se a cirurgia a céu aberto. Neste caso o paciente será submetido á exérse deum fragmento renal em cunha, obtido por ressecção cirúrgica do mesmo, sob anestesia geral. Tal técnica é utilizada na impossibilidade, por qualquer motivo, da biópsia renal percutânea (BRP). Os motivos são variados: desde a incapacidade técnica de um operador para biópsia percutânea existente no serviço, por falta de material para BRP (agulhas para biópsia, USG) ou pelo paciente apresentar impossibilidade clínica para a realização da BRP. Pacientes críticos, pacientes não colaborativos, pacientes com rim único, são exemplos da necessidade de se realiza a biópsia renal a céu aberto. No nosso serviço tivemos uma biópsia realizada a céu aberto. Foi realizada pela equipe de urologia uma vez que encontrava-se em estado crítico, impossibilitada de realizar a BRP. 4.2.7 Complicações. Durante o procedimento, pode haver queda da pressão arterial, com sudorese e vômitos, decorrente do estado emocional, e/ou dor intensa. A hematúria microscópica ocorre em grande parte dos pacientes, assim é discutido ainda se a hematúria microscópica nos dias de hoje se enquadra como complicação; hematúria macroscópica ocorre em cerca de 3,5% e geralmente se resolve em 48-72 horas, seguindo-se o hematoma pericapsular (3-4%) e a fístula arteriovenosa intra-renal (15-18%). Muito menos frequentes são: sangramento renal exigindo transfusão sanguínea (0,1-3% dos pacientes) ou cirurgia/nefrectomia (0,3%), obstrução do fluxo urinário por coágulo, infecção, laceração de vísceras. A mortalidade é muito baixa (0,12% em 14.492 biópsias) 24 . 39 55 RREESSUULLTTAADDOOSS É importante reiterar que a escolha da técnica usada para realização de biópsia renal percutânea depende da disponibilidade da mesma no serviço a ser realizado, das condições clínicas dos pacientes e isto tudo será determinado em conjunto com a equipe médica, paciente e/ou familiares. No HSPM a escolha da técnica seguiu, caso a caso, os critérios acima descritos. Foram avaliadas as biópsias renais de rim nativo realizadas no HSPM entre o período de maio de 1980 até maio de 2017, sendo excluídas da análise comparativa as biópsias realizadas na década de 1980 e 1990 devido à falta de informação nos laudos sobre o método de marcação utilizado para realização da biópsia. Foram então avaliadas 122 biopsias renais, sendo 92 biópsias marcadaspor ultrassonografia resultando em diagnóstico 77 casos (83,69%) e 30 biópsias renais marcadas por tomografia computadorizada resultando em diagnóstico 28 casos (93,33%) conforme o gráfico 1. 30 92 28 77 Marcado por TC Marcado por USG Desempenho das Biópsias renais Número de Biópsias Diagnósticos Gráfico 1: Numero de casos VS. Numero de diagnósticos obtidos. 40 O numero de fragmentos coletados no método marcado por USG foi menor que o numero de fragmentos coletados no método marcado por TC: foram coletados em media 1,65 fragmentos por procedimento guiado por USG e 5 fragmentos por procedimento guiado por TC. A representatividade das amostras foi melhor nos procedimentos realizados por US, evidenciada pela média do numero de glomérulos por fragmento, quando comparados os dois métodos. A média de glomérulos/fragmento coletado por USG foi de 7 glomérulos. Em contrapartida, a média de glomérulos/fragmento coletado por TC foi de 4 glomérulos. Para atingir um número de glomérulos suficientes para a análise histológica, foi necessário retirar apenas 1,65 fragmentos na técnica por USG. Já na técnica por TC, foram feitos, na pratica realizada até o momento, 5 punções, ou seja, 5 fragmentos. Neste contexto, o número de glomérulos alcançado em cada método é bem diferente. Foram alcançadas as médias de 11,9 glomérulos nas punções por US e 24,5 glomérulos nas punções por TC. O gráfico 2 mostra o exposto. Cabe aqui dizer que para uma análise satisfatória do material e o estabelecimento do diagnóstico histopatológico, a literatura estima que o número mínimo de glomérulos para tal é de 10 glomérulos visualizados no total de fragmentos capturados. Também é fato que quanto maior o número de glomérulos maior a chance de estabelecimento do diagnóstico, sobretudo nas lesões focais. Por outro lado, o aumento do número de punções aumenta a chance de intercorrências e riscos de complicações, de forma que a literatura estima que um número razoável de punções seja em torno de 3 (três). 41 Gráfico 2: Quantidade média de fragmentos VS. Quantidade média de glomérulos coletados por método. Foi relatado apenas uma complicação grave no HSPM, relacionado a formação de hematoma pericapsular renal com necessidade de intervenção e embolização na técnica de biópsia renal marcada por tomografia. 42 6 DISCUSSÃO A biópsia renal vem sendo utilizada há cerca de 50 anos na prática clínica nefrológica. Constitui um procedimento fundamental para definição diagnóstica e terapêutica em muitas patologias renais, em especial nas glomerulopatias. Ao longo desses anos, a biópsia renal evoluiu bastante tanto na técnica como nos equipamentos utilizados24. A introdução da ultrassonografia renal em tempo real, aliada ao desenvolvimento de agulhas acopladas a um disparador automático, resultou em avanço técnico fundamental25. A biópsia percutânea com agulha grossa é o procedimento de escolha para definir o diagnóstico e prognóstico da injúria de várias doenças como já mencionado anteriormente, uma vez que tem boa acurácia, é seguro e de baixa morbidade. Figura 14: Ultrassonografia de biópsia renal do pólo inferior do rim Esquerdo. 43 Figura 15: Ultrassonografia de biópsia renal. Nos dias atuais, as taxas de sucesso e segurança do método são elevadas. Tem papel fundamental na elucidação de diversas doenças renais. Procedimento seguro, simples e econômico, permite obtenção de fragmentos para exame histológico, instrumento para orientação diagnóstica e terapêutica. É considerado um procedimento minimamente invasivo, apresentando vantagem por ser de rápida realização e baixa complexidade e podendo ser feito ambulatorialmente. No caso da biópsia percutânea, a técnica utiliza anestesia local, facilita o diagnóstico, apresenta riscos baixos, não necessita de estruturas físicas complexas e apresenta poucas contra-indicações. As contraindicações para a biópsia renal continuam a ser matéria de debate entre os vários autores. Contudo, atualmente, com o avanço técnico atingido, pode-se considerar que existem poucas contraindicações para a biópsia renal percutânea. De fato, no HSPM, realizamos biópsias renais em pacientes com variados tipos de riscos, mas nos quais a biopsia era imprescindível para a tomada correta de conduta. Por exemplo, foi realizada a biópsia em uma paciente com rim único na qual resultou em diagnóstico raro: Rim da esclerodermia. Não 44 fosse realizada a biópsia não teríamos tal diagnóstico. Para cada paciente com riscos foram tomadas as devidas providências a fim de minimizá-los. Até o ano de 2015 tínhamos à disposição apenas duas técnicas de biópsia renal: a céu aberto e a biópsia renal percutânea marcada previamente por USG. Como já exposto anteriormente, não dispomos de USG próprio com guia de transdutor para guiar a biópsia. Em vista disso, havia sempre um maior risco de complicações na realização do procedimento em pacientes críticos, não colaborativos, obesos, crianças. Nestes pacientes a marcação com acurácia na precisão se faz necessária. Esta precisão só é atingida na biópsia a céu aberto e na biópsia guiada em tempo rela com USG e agulha guiada com transdutor. Fazia-se necessário um método mais adequado para estes pacientes de risco elevado para o procedimento. Em 2015, com a constituição da equipe de radiologia intervencionista do HSPM, abordamos esta necessidade com a equipe e criamos um método de marcação renal por tomografia para a biópsia renal. Não há estudos ou trabalhos informando as técnicas para tal. A partir de estudo e experiência de biópsias renais para diagnóstico de tumores, criamos um modelo para a retirada de fragmentos renais a fim de obter os diagnósticos esperados. O número de tentativas necessárias de punção, a posição da agulha, a marcação do parênquima renal foram estipulados em conjunto com as equipes de Nefrologia e Radiologia Intervencionista do HSPM. Daí obtivemos os resultados expostos neste trabalho. O estudo de SKENAZY21 avaliou a biopsia renal guiada por ultrassom para implantação agulhas no parênquima renal. A implantação assistida por USG diminuiu o tempo e número de tentativas necessárias para atingir com sucesso lesões parenquimatosas e também diminuiu a dificuldade subjetiva inerente à abordagem padrão (sem marcação). KAMEI e col26 realizaram um estudo para verificar se houve diferença quanto a viabilidade de biópsias guiadas ou não por ultrassom, em transplantados renais de um hospital 45 universitário da cidade de Curitiba-PR. Ademais, propuseram verificar se houve diferença no índice de complicações com cada técnica. Foram analisados 42 pacientes, sendo 20 com mais de uma biópsia. Os dados analisados integraram um estudo longitudinal retrospectivo. Cerca de 66% das biópsias foram guiadas por USG e 34% não foram guiadas. A amostra foi insuficiente para representação do parênquima renal em 13% das amostras no total. Embora sem significância estatística (p=0,107), o percentual de amostras insuficientes para biópsias com USG (23,8%) foi maior do que sem USG (7,3%). Em cerca de 8% dos procedimentos ocorreram alguma complicação. Desses com intercorrências, 80% não foram guiados por USG, no entanto, também não houve significância estatística (p=0,654). Desse modo, levanta- se a hipótese de que o uso do USG não foi necessário na maioria dos casos, até pelo fato do rim transplantado encontrar-se em localização extraperitonial e ser facilmente localizado. Quanto ao calibre das agulhas, CHUNDURI 23 compararam a adequação e segurança das biópsias renais percutâneas em adultos, realizada com agulha calibre 14 (n = 82) vs. agulha automatizada de calibre 16 (n = 55) guiadas com ultrassonografia e não houve diferença em idade, sexo, pressão arterial, creatinina sérica ou hemoglobina pré BRP no início do estudo paraBRPs realizados com uma agulha de calibre 14 vs. 16. O número de glomérulos obtidos por biópsia foi semelhante e o tecido adequado para diagnóstico foi obtido em 99% e 100% das biópsias. As complicações clínicas mais ocorridas foram a transfusão e a embolização mas não foram significativamente diferentes para agulhas 14 vs 16, mas por rotina foi realizado USG renal 1 hora pós BRP. Hematoma perinéfrico foi demonstrado mais frequentemente em biópsias feitas com agulha de calibre 14 (39%) vs. 22% nas agulha de calibre 16 (P 0,04). Assim, o sucesso da BRP dos rins é semelhante para ambos os calibradores de agulha, o potencial de complicação pode ser menor usando uma agulha automatizada de calibre 16 (mais fina). 46 No nosso serviço as biópsias renais percutâneas marcadas previamente com USG, em geral, são realizadas com agulhas de calibre 14 como citado anteriormente e até o presente estudo não foram encontradas intercorrências com o método. Já na técnica marcada por tomografia, no HSPM são usadas agulhas de calibre 16 ou 18, e a escolha se da pela disponibilidade do material. Mesmo com essa variação de calibre de agulhas, a única intercorrência descrita até o presente estudo foi com a técnica por TC utilizada, onde após biópsia um paciente evoluiu com um hematoma pericapsular grande, com queda hematimétrica, mas que não apresentou maiores intercorrências após a embolização do sítio do sangramento. Este paciente necessitou de internação no pós biópsia e o hematoma regrediu espontaneamente, sem deixar sequelas. Sabemos que quanto menor o calibre da agulha, menores são os riscos, porém menores também são os fragmentos e, por conseguinte, menor será o número de glomérulos capturado. Como são pouquíssimos os serviços que realizam biópsia renal marcada com TC e não existem estudos na literatura sobre tal método, foi necessário estabelecer empiricamente, aqui no HSPM um protocolo de número de punções e também foi necessária a realização de um número substancial de biópsias para que tivéssemos a estimativa das taxas de acerto, erro e intercorrências com o que vem sendo realizado. Em sendo assim é neste trabalho que colhemos os primeiros resultados estatísticos e, a partir daí, poderemos adequar a técnica, conforme os resultados. Vimos por exemplo que o número de punções e retirada de fragmentos foi de 5 em média, na técnica de marcação por TC, com um número total de glomérulos de 24,5. No entanto, a média de glomérulos (estruturas importantes a serem analisadas) por fragmento foi de 4 nesta técnica, uma vez que se usa um calibre de agulha muito fino. Considerando isto, talvez pudéssemos sugerir que, a fim de minimizar o número de punções, pudéssemos usar uma agulha de maior calibre, otimizando assim captura de 47 glomérulos por punção e minimizando os riscos de intercorrências por cada punção. Ainda assim, podemos concluir também que, uma vez que um número de 10 glomérulos é suficiente, mesmo usando agulhas finas, não seriam necessárias 5 punções, podendo de imediato diminuirmos para 4 punções, já que temos uma média de 4 glomérulos por fragmento. Temos que considerar aqui também que, designamos os pacientes com maior risco de intercorrência para a realização da técnica por marcação renal com TC. Por isso foi usada agulha com calibre menor. DAVIS 24 mostraram um modelo que prevê quando uma biópsia de tumor renal guiado por TC terá diagnóstico baseado nas características da imagem do tumor, sem a utilização de contraste. As imagens de TC usadas para guiar a biópsia percutânea e os laudos anatomopatológicos de 276 pacientes submetidos à biópsia do tumor renal foram revisadas retrospectivamente. O efeito do tamanho do tumor, crescimento padrão, localização e atenuação da imagem na tomografia computadorizada foram avaliados por meio de técnicas univariadas e multivariadas. Um modelo utilizando regressão logística e sua discriminação foi avaliada usando curvas características do operador do receptor. A taxa de diagnóstico para todas as massas foi de 76,8% (212/276). Análises multivariadas revelaram que o tamanho crescente e atenuação tumoral foram associados ao diagnóstico das biópsias. O modelo demonstra uma discriminação de 0,71 na taxa de atenuação. A probabilidade de se obter o diagnóstico por biópsia de um tumor sólido inferior a 1 cm e de qualquer tumor cístico é significativamente menor do que tumores renais sólidos maiores. O modelo preditivo demonstra moderada discriminação. 48 Figura 16: Exemplos de tumores renais de diferentes valores de atenuação (setas). A, cística. B, hipoatenuante. C, isoatenuando. D, Hidratando. PRASAD 7 compararam a taxa de complicações da biópsia renal percutânea guiada por ultrassom com e sem rastreamento de agulha (ou seja, usando ou não um transdutor de USG com guia de agulha) e em dois diferentes períodos de estudo em 2138 biópsias renais realizadas em dois diferentes períodos, 1510 biópsias durante o primeiro período de abril de 2004 a dezembro de 2010 e 628 biópsias durante o segundo período de janeiro de 2011 a março de 2013. Todas as biópsias nos dois períodos foram realizadas por nefrologistas. Os radiologistas forneceram a imagem em tempo real sem guia de agulha durante o primeiro período, enquanto os nefrologistas realizaram exames de imagem e biópsia com guia de agulha durante o segundo período. De todos os 2138 pacientes, 226 (10,5%) pacientes desenvolveram 118 complicações menores e 108 maiores. Apenas 13 (2,1%) complicações 49 maiores ocorreram no segundo período e 95 (6,7%) no primeiro período (P<0,001). O risco relativo de desenvolver uma complicação maior sem guia foi de 3,04 vezes maior do que a das biópsias realizadas com o uso do guia. O número médio de glomérulos por biópsia obtidos durante o segundo período (17,98 ± 6,75) foi significativamente maior do que o primeiro período (14,14 ± 6,01) (P = 0,004). O período de observação ideal após a biópsia é de 24 horas. A imagem USG em tempo real suportada pelo dispositivo de guia de agulha está associada a rendimento de biópsia e menos complicações. No nosso serviço não são realizadas biópsias renais guiadas por USG em tempo real com transdutor de USG adaptado à agulha de biópsia como foi feito no segundo período do estudo de PRASAD 7 . No entanto, ao contrario do estudo de PRASAD 7, não apresentamos intercorrências. O numero médio de glomérulos que atingimos foi de 11,95 o que é satisfatório para o sucesso no estabelecimento do diagnóstico, descrito na literatura como sendo pelo menos de 10 glomérulos. Aqui cabem algumas considerações. Não temos capacitação ou aparelhagem para a realização de biópsias guiadas em tempo real com USG e com transdutor acoplado à agulha portanto não teremos agora como julgar se esta técnica seria melhor. Sabemos que a técnica a ser usada depende diretamente da habilidade de seu operador. Estudos mostram maior eficácia do guia adaptado ao transdutor. Desenvolver a maior habilidade, tomar os devidos cuidados para se obter o menor índice de erro técnico e complicações são os desafios a serem superados diante dos limites apresentados em cada serviço. No HSPM, até o momento, não dispomos de aparelhagem própria para a realização da biópsia renal percutânea marcada em tempo real com USG e com agulha guiada por transdutor. No entanto desenvolvemos os maiores cuidados operacionais técnicos e de sensibilização da marcação renal prévia a fim de conseguirmos os ótimos resultados com 50 mínimo de risco possível. Com isso até o momento não obtivemos intercorrências quaisquer e conseguimos um sucesso satisfatório na obtenção dos diagnósticos. O estudo de SHAMSHIRGAR 27 compararam a eficácia e as complicações da biópsia renal percutânea guiada por ultrassom usando localizações com USG na posição axial vs. Sagital. Em um estudo transversal,em 2012, pacientes foram biopsiados por um residente de radiologia. A biópsia renal foi realizada em 15 pacientes utilizando um tipo de marcação do rim em posição axial (grupo A) e mesmo número de biópsias realizadas com a localização da do transdutor em posição sagital (grupo S). Os dois grupos foram comparados em termos dos rendimentos e complicações de cada método. No grupo A, a proporção de glomérulos reunidos para o número de amostras obtidas foi significativamente maior do que no grupo S. Nove pacientes do grupo A (60%) necessitaram apenas de duas amostragens, enquanto que 66,7% no grupo S necessitaram de mais de duas tentativas. Hematúria microscópica era mais comum no A; por outro lado, a hematúria macroscópica foi menos comum no grupo A. Hematomas foram mais freqüentes no grupo S. Quando comparado com o nível de hemoglobina antes da biópsia, seu nível 24 horas após a biópsia foi semelhante dentro dos grupos. Os autores concluíram que a biópsia renal percutânea guiada por ultrassonografia e marcada de forma axial fornece melhor rendimento com menos esforços e menos complicações graves. A maneira como posicionamos e marcamos o nosso paciente no HSPM, bem como puncionamos o rim com a agulha, tipo Trucut, na biópsia renal percutânea realizada na nefrologia, se dá de forma axial, a que representa melhores resultados e menores riscos conforme a literatura. Na punção renal realizada no HSPM marcada por tomografia. A localização e marcação do rim também se dá na posição axial. 51 WANG 25 e col determinaram a acurácia e segurança da biópsia percutânea guiada por ultrassonografia de massas renais em pacientes chineses. Participaram da pesquisa pacientes que foram submetidos à biópsia de massa renal com agulha guiada por ultrassonografia de junho de 2012 a junho de 2016 no Hospital da China Ocidental. As informações obtidas incluíram dados demográficos, parâmetros relacionados à massa, indicações, técnica, complicações, resultados patológicos e acompanhamento. A concordância do anatomopatológico da ressecção cirúrgica e dados de acompanhamento foram avaliados. Biópsias de massas renais foram realizadas em 106 pacientes. Trinta e nove (36,8%) eram assintomáticos. A relação masculino/feminino foi de 60/46, com uma mediana de idade de 49,5 anos. O tamanho mediano da massa foi de 8,1 cm. A biópsia foi realizada através de uma agulha de calibre 16 G. Apenas uma complicação significativa relacionada à biópsia (hemorragia requerendo transfusão) foi encontrada. Amostra de tecido adequada foi obtida em 97,2% (103/106) das biópsias. Oitenta e sete biópsias (82,1%) apresentaram neoplasias malignas, 16 (15,1%) apresentaram benignidade e 3 (2,8%) não tiveram diagnóstico. Após a biópsia, 46 pacientes (43,4%) foram submetidos à cirurgia. Em comparação com o laudo anatomopatológico da ressecção da massa subseqüente, a taxa de acerto da biópsia distinguindo lesões malignas de benignas foi de 99,1%, e a taxa de determinação do tipo histológico do tumor (excluindo biópsias não diagnósticas) foi de 95,1%. A sensibilidade e especificidade na detecção de malignidade foram 98,9% e 100%, respectivamente. Em várias situações, ainda há um papel para a biópsia antes da intervenção. A biópsia percutânea por agulha, sob orientação ultrassonográfica, é altamente precisa e segura, e pode determinar o manejo adequado de doenças e massas indefinidas. 52 7 CONCLUSÕES No HSPM, hoje em dia, desenvolvemos duas técnicas para a realização de biópsia renal percutânea. As duas técnicas se mostraram excelentes, com sucesso na obtenção do diagnóstico e baixíssimo índice de complicações. Os dados evidenciam que no HSPM as biopsias renais marcadas por US tiveram melhor representatividade no número de glomérulos por fragmento, uma vez que para esta técnica é usada uma agulha de maior calibre. A técnica que usa a tomografia como marcação obteve um numero menor de glomérulos por punção, em sendo assim, um número maior de punções foi necessário. Ainda assim, não obtivemos nenhuma intercorrência gravíssima. Designamos os pacientes mais graves para a realização de marcação renal por tomografia. Os nossos dados sugerem que poderemos possivelmente diminuir os número de punções na técnica por TC uma vez que alcançaremos um número suficiente de glomérulos com menos que 5 punções. Os dados de literatura evidenciam que a introdução da ultrassonografia renal em tempo real, aliada ao desenvolvimento de agulhas acopladas a um disparador automático, resultou em avanço técnico fundamental e quando a biópsia percutânea for guiada por ultrassonografia, fornecendo ainda melhor rendimento com menos esforços e menos complicações graves, além de ser altamente precisa e segura, pode determinar o manejo adequado de doenças e massas indefinidas. Com este estudo no HSPM, fica evidente a importância em ter várias opções de métodos a serem utilizados. De maneira geral, os pacientes com maior risco de complicações, como os mais obesos, são triados para a realização de BRP por TC uma vez que a marcação com US é mais difícil e a profundidade da introdução da agulha é maior, e os pacientes que 53 apresentem menor nível de dificuldade técnica são triados para a realização do procedimento por USG. Ter á disposição dois métodos diagnósticos com tão boa acurácia e tão poucas complicações é um benefício para o nosso serviço, e desenvolver a técnica adequada demanda tempo e treinamento. Em sendo um hospital de ensino é importante realizar os diferentes tipos de treinamentos, uma vez que este procedimento está restrito a poucos profissionais treinados e neste serviço ainda não temos muitos profissionais capacitados para tal. Aguardamos a compra de um aparelho de ultrassonografia para o serviço de nefrologia com guia de agulha para treinamento de biopsia guiada em tempo real com intenção de melhorar ainda mais os resultados obtidos como demonstram os últimos estudos disponíveis na literatura. 54 REFERÊNCIAS 1. NAYLOR, G.D.; FREDERICKS, M.R. Pharmacologic considerations in the dental management of the patient with disorders of the renal system. Dent Clin Am., v. 40, n. 3, p0. 65-83, 2006. 2. CHERCHIGLIA, M.L.; MACHADO, E.L.; SZUSTER, D.A.C. et al. Epidemiological profile of patients on renal replacement therapy in Brazil, 2000-2004. Rev Saúde Pública, v. 44, p. 1-10, 2010. 3. KOCH, V.H.; ANDRADE, M.R.; ROCHA, R.B. et al. Biópsia renal percutânea em crianças com pistola automática sob orientação ultrassonográfica. J Bras Nefrol, v. 18, p. 112-117, 1996. 4. CASTRO, R.; SEQUEIRA, M.J.; FARIA, M.S.; SAMPAIO, A.B.S.; ROQUETE, P.; SILVESTRE, F.; ROCHA, C.; MORGADO, T. Biópsia renal percutânea - Experiência de oito anos. Acta Médica Portuguesa, v. 17, p. 20-26, 2004. 5. LASMAR, E.P. Biópsia renal percutânea: experiência pessoal em 30 anos. J Bras Nefrol, v. 29, p. 25-28, 2007. 6. PARRISH, A.E. Complications of percutaneous renal biopsy: a review of 37 years experience. Clinical Nephrology, v. 38, p. 135-141, 1992. 7. PRASAD, N.; KUMAR, S.; MANJUNATH, R.; BHADAURIA, D. Real-time ultrasound-guided percutaneous renal biopsy with needle guide by nephrologists decreases post-biopsy complications. Clin Kidney J, v. 8, p. 151-156, 2015. 8. RIELLA, M.C. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 9. ENGEL, C.L. Insuficiência renal crônica. Fortaleza: Med Curso do internato a Residência., v. 45, p. 24-48, 2005. 10. GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de fisiologia médica. 10a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. p.357. 11. TURNEY, J.H. et al. The evolution of acute renal failure, 1956-1988. Q J Méd, v. 74, p. 83-104, 2000. 12. ZATZ, R. Fisiopatologia Renal. São Paulo: Atheneu, 2012. 55 13. HOU,S.H.; BUSHINSKY, D.A.; WISH, J.B. et al. Hospital-acquired renal insufficiency: a prospective study. Am J Méd, v. 74, p. 243-248, 2003. 14. D’AVILA, D.O.; TRAEZEL, M.; GLOCK, L. et al. Insuficiência renal aguda tratada por diálise em unidade de tratamento intensivo (análise de 124 pacientes consecutivos). J Bras Nefrol, v. 19, n. 1, p. 21-31, 2006. 15. ROMÃO, J.R. Membranas biocompatíveis no tratamento dialítico da insuficiência renal aguda. J Bras Nefrol, v. 18, p. 56-58, 2013. 16. ROY, D.C.; RICHARD, D.; MICHAEL, H.A. Manual de terapia intensiva: terapêutica e procedimentos. São Paulo: Revinter, 2005. 17. SEVER, M.S. et al. The Marmara earthquake: admission laboratory features of patients with nephrological problems. Nephrol Dial Transplant, v. 17, p. 1-025- 1031, 2006. 18. Thadhany R, Pascual M, Bonventre JV. Acute Renal Failure. N Eng J Med 1996;334: 1448-60. 19. SCHMIDBAUER, J.; REMZI, M.; MEMARSADEGHI, M.; HAITEL, A.; KLINGLER, H.C.; KATZENBEISSER, D.; WIENER, H.; MASBERGER, M. Diagnostic Accuracy of Computed Tomography-Guided Percutaneous Biopsy of Renal Masses. European Urology, v. 53, n. 2, p. 1003-1012, 2008. 20. MOTA, P.C. Indicações actuais para biópsia renal. Acta Méd Port, v. 18, p. 147-141, 2005. 21. SKENAZY, J.F.; MIRABILE, G.; HRUBY, G.W.; GUPTA, M.; LANDMAN, J. Comparison of Manual and Computer Assisted Ultrasonic Guidance for Transparenchymal Percutaneous Renal Needle Placement. The Journal of Urology, v. 181, p. 867-871, 2009. 22. STRIKER G. E., PERKINSON D. T., HIBBERT J., COUSER W. G. Studies of progressive glomerular sclerosis in the rat. The American Journal of Pathology. 1986;123(3):553–562. 23. CHUNDURI, S.; WHITTIER, W.L.; KORBET, S.M. Adequacy and Complication Rates with 14- vs. 16-gauge Automated Needles in Percutaneous Renal Biopsy of Native. Seminars in Dialysi, v. 28, n. 2, p. 11-14, 2015. 24. DAVIS, I.C.; HEIBRUN, M.E.; TANGTIANG, K.; ZAGORIA, R.J. Computed Tomography Y Guided Renal Tumor Biopsies: Tumor Imaging Features Affecting Sample Adequacy. J Comput Assist Tomogr, v. 37, n. 2, 2013. 56 25. WANG, X.; LV, Y.; XU, Z.; ANIU, M.; QIU, Y.; WEI, B.; LI, X.; WEI, Q.; DONG, Q.; LIN, T. Accuracy and safety of ultrasound-guided percutaneous needle core biopsy of renal masses: A single center experience in China. Medicine (Baltimore), v. 97, n. 13, p. 17-18, 2018. 26. KAMEI, D.J.; ELIAS, J.Z.J.; LEGNANI, L.F.; SÁ JÚNIOR, L.G.H.; HOKAZONO, S.R.; MEYER, F. Comparação de biópsia renal guiada ou não por ultrassom em transplantados renais. Revista eletrônica da Comissão de Ensino e Treinamento da SBU, v. 5, n. 1, p. 14-18, 2018. 27. SHAMSHIRGAR, F.; BAGHERI, S.M. Percutaneous ultrasound-guided renal biopsy; A comparison of axial vs. sagittal probe location. Rom. J. Intern. Med., v. 2, p. 96- 102, 2017.
Compartilhar