Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Contabilidade Geral 1 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos CONTABILIDADE GERAL Contabilidade Geral 1 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Nunes, Priscila Pontes, 2020 Contabilidade Geral - Jupiter Press - São Paulo/SP 53 páginas Contabilidade Geral 2 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos s SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................3 1. FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE ........................................................................................4 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE ..................................................................4 ESTRUTURA CONCEITUAL PARA RELATÓRIO FINANCEIRO ...............................5 2. PATRIMÔNIO: CONCEITOS E APLICAÇÕES ............................................................................16 OBJETO DA CONTABILIDADE ...................................................................................................16 3. ATIVO PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO ................................................................................28 4.APURAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO ........................................................................35 5. ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ....................................................................41 INDICADORES PATRIMONIAIS E FINANCEIROS ..........................................................41 INDICADORES DE LUCRATIVIDADE E RENTABILIDADE ..........................................43 EXERCÍCIOS CONCEITUAIS E PRÁTICOS ......................................................................................44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................51 * * A navegação deste e-book por meio de botões interativos pode variar de funcionalidade dependendo de cada leitor de PDF. Contabilidade Geral 3 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos INTRODUÇÃO A contabilidade geral e financeira objetiva gerar informações úteis para auxiliar os usuários das informações contábeis na tomada de decisões. Para que as informações sejam úteis, o contador precisa conhecer diversos procedimentos e técnicas de reconhecimento e mensuração, assim como entender os conceitos e definições que norteiam a profissão, baseados nos pronunciamentos, nas normas e nas leis. Para atingir o objetivo da contabilidade é necessário que todos os passos intermediários sejam feitos corretamente, para que as informações não sejam divulgadas de formas distorcidas. Neste módulo será evidenciado os principais pontos sobre cada passo no processo lógico contábil. Será abordada uma breve história da origem da contabilidade, pois assim é possível entender o processo evolutivo contábil até os dias atuais, que auxilia a pensar em como pode ser no futuro. Será identificado os principais órgãos reguladores e normatizadores que são responsáveis pelas técnicas e pelos procedimentos atuais. Novos conceitos serão evidenciados, baseados em revisões recentes de normas e pronunciamentos. Também é importante conhecer as principais diferentes sobre os aspectos contábeis das normas e da Lei 6.404/76, com as alterações em vigor. Por último, será evidenciado algumas análises que podem ser feitas sobre as informações contábeis e como estas análises podem auxiliar no processo decisório dos diversos usuários contábeis. Contabilidade Geral 4 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 1. FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE A contabilidade possui três vertentes principais sobre sua origem. Uma vertente acredita que a contabilidade surgiu na pré-história quando os humanos controlavam o patrimônio por meio das pinturas. Outro acreditam que a contabilidade surgiu durante o final da idade antiga para o início da idade média, por meio do controle do patrimônio em papiros e com técnicas iniciais contábeis (técnicas rudimentares com partidas únicas ainda). Outros consideram a origem da contabilidade apenas na época do renascimento, com a consolidação da contabilidade das partidas dobradas divulgadas no livro de Luca Pacioli em 1445. De 1445 até o início do século XX a contabilidade foi evoluindo, assim como a sociedade. O mundo passou pela revolução industrial e por um crescimento das empresas e de seus negócios. Em 1929 o mundo, e principalmente os Estados Unidos, passaram por uma grande crise chamada de ‘A Grande Depressão’. Esta crise foi causada por diversos fatores, em que é possível destacar: superprodução, fraudes no mercado de capitais e falta de regulação da economia. Decorrente dessa crise o governo dos EUA resolveu se envolver mais na economia, com destaque para o fomento da regulação, fiscalização, auditoria contábil e procedimentos contábeis. A partir de 1930 a contabilidade começou a ter um nível de regulação e padronização que antes não existia. Este processo foi importante para a valorização e crescimento da profissão. Em 1930 foi criado o Comitê May e American Institute of Certified Public Accountants (AICPA), que eram responsáveis por criar e consolidar os procedimentos contábeis e de auditoria. Em 1933 Roosevelt publicou o New Deal, que abordava a intervenção do estado na economia. Em 1934 foi criada a Security and Exchange Commission (SEC), que equivale à Comissão de Valores Mobiliários no Brasil (entidade que regula, fiscaliza e normatiza o mercado de capitais). Dessa forma, a primeira metade do século XX foi fundamental para o início de uma contabilidade padronizada, regulamentada e auditada, a nível nacional. Já na segunda metade do século XX, houve novas mudanças no cenário empresarial que levou a contabilidade se ajustar novamente para que as informações continuassem sendo úteis para os usuários. As empresas começaram a ficar cada vez mais globalizadas, em que empresas possuíam filiais em diversos países. O problema é que cada país tinha a sua própria contabilidade, o que dificultava no momento de consolidar todas as informações contábeis das filiais junto a matriz. Dessa forma, países perceberam que seria necessário determinar procedimentos contábeis padronizados que fossem utilizados em qualquer país, Contabilidade Geral 5 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos para que assim fosse mais fácil consolidar e comparar as informações. Dessa forma, diversos órgãos foram criados para encaminhar a contabilidade para uma internacionalização de seus procedimentos, como o Financial Accounting Standards Board (FASB) e o International Accounting Standards Committee (IASC), criados em 1973 para serem os líderes do processo. A partir deste momento, foram lançadas as primeiras normas internacionais de contabilidade, chamadas de International Accounting Standards – IAS. Em 2001 o IASC virou International Accounting Standards Board (IASB), e as novas normas internacionais de contabilidade passaram a ser denominadas de International Financial Reporting Standards (IFRS). Até os dias atuais o IASB que é o órgão responsável pelas emissões das novas normas internacionais de contabilidade e pela revisão das normas já existentes. No Brasil, o processo foi um pouco mais demorado. A contabilidade começou a ganhar uma certa padronização a nível nacional a partir de 1946 com a criação do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). A partir daí a contabilidade passou a ser regulada. Somente em 1976 que o país conseguiu padronizar a contabilidade nacional de forma mais consistente, pois houve a emissão da Lei 6.404/76 e a criação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Por muitas décadas a contabilidade brasileira permaneceu praticamente estagnada e principalmente atrelada à contabilidade tributária. Apenas em 2005 que o país começou a agir para participar do processo de convergência contábil para os padrões internacionais com a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis(CPC). O processo de convergência teve início com a Lei 11.638 de 2007 que revogou e alterou diversos itens da 6.404/76 e instituiu que a contabilidade brasileira passasse a ser baseada na contabilidade internacional. A partir de 2008 diversos pronunciamentos e normas contábeis baseadas nas internacionais foram emitidas, dando início à contabilidade internacional dentro das empresas brasileiras (saindo da parte de preparação e indo para aplicação nas empresas). Até hoje são emitidas novas normas ou novas revisões. ESTRUTURA CONCEITUAL PARA RELATÓRIO FINANCEIRO Em âmbito internacional a estrutura conceitual para Relatórios Financeiros (conceptual framework for financial reporting) foi revisada e emitida pelo International Accounting Standards Board (IASB) e pelo IFRS Interpretations Committee em março de 2018 para aplicação a partir de 01 de janeiro de 2020. No Brasil, da publicação do conceptual framework até dezembro de 2019, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) traduziu, revisou e publicou a nova estrutura conceitual brasileira baseada na estrutura conceitual internacional. Contabilidade Geral 6 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos O CPC 00 foi aprovado no dia 01/11/2019 e publicado no dia 10/12/2019. O Comitê de Pronunciamento Contábil não possui poder para emitir normas e leis, então os órgãos reguladores e normatizadores que podem emitir (Bacen, CVM, CFC, entre outros) utilizam o CPC como base para emitir as suas próprias normas. Dessa forma, com base na estrutura conceitual aprovada pelo CPC, o Conselho Federal de Contabilidade aprovou a nova estrutura conceitual no dia 21/11/2019 e publicou no diário oficial da união no dia 13/12/2019, para aplicação na contabilidade das entidades brasileiras gerais a partir do exercício de 2020. Para que a nova estrutura conceitual também fosse aplicada para as empresas de capital aberto, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) revogou a deliberação 675 (deliberação que regia a antiga estrutura conceitual), e aprovou a nova estrutura conceitual no dia 10/12/2019, com publicação no diário oficial da união no dia posterior. Estas aprovações e publicações passaram a exigir, para quem utiliza os padrões internacionais de contabilidade na elaboração dos relatórios financeiros, a utilização da nova estrutura conceitual a partir do exercício de 2020. O conceptual framework foi emitido pela primeira vez em 1989, sendo revisado pela primeira vez em 2010 e pela segunda vez em 2018. A cada revisão os conceitos que fundamentam todas as normas contábeis são revisados e atualizados conforme a realidade que a sociedade empresarial e de negócios vive naquele momento. As operações e os negócios estão cada vez mais complexos, por isso é importante que estes ajustes sejam feitos. Decorrente desse aumento na complexidade dos eventos econômicos, a cada ano que passa é exigido do contador maior capacidade de análise e interpretação dos eventos econômicos para a retratação fidedigna nos relatórios financeiros. O profissional que se destaca atualmente é aquele que consegue interpretar e resolver cada situação, ao contrário daquele que ainda pensa que há lançamentos contábeis padrões, como por exemplo aqueles que utilizam sempre a tabela de depreciação de bens da receia federal para registrar a depreciação na contabilidade. A estrutura conceitual para relatório financeiro descreve o objetivo do relatório financeiros para fins gerais e os conceitos que norteiam esse relatório. De acordo com o CPC 00 (2019, n.p), a finalidade da Estrutura Conceitual é: (a) auxiliar o desenvolvimento das Normas Internacionais de Contabilida- de (IFRS) para que tenham base em conceitos consistentes; (b) auxiliar os responsáveis pela elaboração (preparadores) dos relatórios financeiros a desenvolver políticas contábeis consistentes quando ne- nhum pronunciamento se aplica à determinada transação ou outro even- to, ou quando o pronunciamento permite uma escolha de política contá- bil; e (c) auxiliar todas as partes a entender e interpretar os Pronunciamentos. Contabilidade Geral 7 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Resumidamente, a estrutura conceitual objetiva servir como base conceitual para a elaboração das normas internacionais de contabilidade, e consequentemente as nacionais pois a segunda é baseada na primeira; também auxilia os elaboradores dos relatórios financeiros a realizarem o processo de reconhecimento, mensuração e evidenciação de forma consistente; e objetiva ajudar os usuários das demonstrações contábeis a compreender os pronunciamento e normas inerentes à entidade. Cabe ressaltar que o CPC 00, assim como a estrutura conceitual emitida pelo CFC e pela CVM, não são exatamente um pronunciamento ou uma norma de contabilidade. Nada contido na Estrutura Conceitual se sobrepõe a qualquer norma/pronunciamento ou qualquer requisito em norma/pronunciamento. “Para atingir o objetivo de relatório financeiro, para fins gerais, o IASB pode algumas vezes especificar requisitos que divergem de aspectos da Estrutura Conceitual.” (CPC, 2019, n.p). Dessa forma, em determinadas situações, uma norma pode indicar um procedimento divergente da Estrutura Conceitual, em que o elaborador deve realizar o especificado pela norma em detrimento do especificado pela Estrutura Conceitual. A Estrutura Conceitual contribui para a missão declarada da IFRS Foundation e do IASB. Essa missão é desenvolver pronunciamentos que tragam transparência, prestação de contas (accountability) e eficiência aos mercados financeiros em todo o mundo. Confiança, crescimento e estabilidade financeira de longo prazo na economia mundial da sociedade são os principais pontos trabalhados pelo IASB. A Estrutura Conceitual (CPC, 2019, n.p) estabelece a base para pronunciamentos que: (a) contribuem para a transparência ao melhorar a comparabilidade in- ternacional e a qualidade de informações financeiras, permitindo que os investidores e outros participantes do mercado tomem decisões econô- micas fundamentadas; (b) reforçam a prestação de contas, reduzindo a lacuna de informações entre os provedores de capital e as pessoas a quem confiaram o seu di- nheiro. Os pronunciamentos baseados nesta Estrutura Conceitual for- necem informações necessárias para responsabilizar a administração. Como fonte de informações mundialmente comparáveis, esses Pronun- ciamentos também são de vital importância para os reguladores em todo o mundo; (c) contribuem para a eficiência econômica, ajudando os investidores a identificar oportunidades e riscos em todo o mundo, melhorando assim a alocação de capital. Para os negócios, o uso de uma linguagem de conta- bilidade única e confiável derivada dos Pronunciamentos com base nesta Estrutura Conceitual diminui o custo do capital e reduz os custos de rela- Contabilidade Geral 8 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos tórios internacionais. Figura 1: Missão IFRS Foundation Fonte: Autoria Própria O capítulo 1 da Estrutura Conceitual estabelece o objetivo do relatório financeiro para fins gerais e reforça que este objetivo é a base de toda a estrutura geral, em que todos os demais capítulos (características qualitativas de informações financeiras úteis e a restrição de custo sobre tais informações, o conceito de entidade que reporta, elementos das demonstrações contábeis, reconhecimento e desreconhecimento, mensuração, apresentação e divulgação) decorrem logicamente do objetivo da Estrutura. Dessa forma, o objetivo do relatório financeiro para fins gerais: “é fornecer informações financeiras sobre a entidade que reporta que sejam úteis para investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, na tomada de decisões referente à oferta de recursos à entidade.” (CPC, 2019, n.p). A Estrutura Conceitual (2019, n.p) explica que estas decisões envolvem decisões sobre: (a) comprar, vender ou manter instrumento de patrimônio e de dívida; (b) conceder ou liquidarempréstimos ou outras formas de crédito; ou (c) exercer direitos de votar ou de outro modo influenciar os atos da admi- nistração que afetam o uso dos recursos econômicos da entidade. Estas decisões dependem dos retornos que os existentes e os potenciais investidores, credores por empréstimos e outros credores esperam, como os dividendos, pagamento de juros, valorização no preço de mercado, etc. A avaliação do valor, da época e da incerteza dos futuros fluxos de entrada de caixa líquido para a entidade e da avaliação da administração dos gestores sobre os recursos econômicos da entidade são fatores cruciais para suprir as expectativas dos investidores, credores por empréstimos e outros credores quanto aos retornos Contabilidade Geral 9 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos esperados. Para isso, estes usurários necessitam de informações para auxiliá-los nestas avaliações. Figura 2: Retorno e Avaliação das Empresas para Tomada de Decisões Fonte: Autoria Própria Para fazer as avaliações, os investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, precisam de informações sobre: (a) os recursos econômicos da entidade, reivindicações contra a entidade e alterações nesses recursos e reivindicações. De forma resumida, recursos econômicos são os ativos da empresa (bens e direitos que a entidade controla e que geram benefícios econômicos a ela), e as reivindicações são os passivos, que evidencia a origem dos recursos econômicos que a empresa possui, como as reivindicações de terceiros (passivo exigível) e as reivindicações dos proprietários (patrimônio líquido). (b) a eficiência e eficácia da administração e do órgão de administração da entidade no cumprimento de suas responsabilidades sobre o uso dos recursos econômicos da entidade. A Estrutura Conceitual destaca que os investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, são os principais usuários aos quais se destinam os relatórios financeiros para fins gerais. Isto ocorre pois o foco principal das normas internacionais de contabilidade é o reporte para os usuários que não possuem acesso fácil e livre às informações da entidade, ou seja, os relatórios para fins gerais servem para que estes usuários consigam as informações necessárias para servirem de suporte em suas decisões. É este ponto que destaca a diferença entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial, em que a primeira tem como objetivo o reporte dos relatórios para os usuários externos, como forma de amenizar a assimetria informacional, e a segunda objetiva evidenciar informações para os usuários internos (gestores) tomarem decisões no processo de gestão da entidade. O gestor não é considerado um dos principais usuários da contabilidade financeira Contabilidade Geral 10 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos pois ele possui acesso detalhado às informações da entidade, ou seja, o gestor pode fazer análises mais profundas sobre a entidade em comparação aos usuários externos que possui menos informações à disposição. É importante ressaltar dois pontos sobre os relatórios financeiros para fins gerais, conforme o CPC (2019, n.p): (a) os relatórios financeiros não fornecem todas as informações que os usuários primários necessitam. Para uma análise mais consistente, os usuários primários devem procurar outras fontes de informações, tanto inerentes à entidade, quanto ao ambiente externo em qual ela está inse- rida. (b) os relatórios para fins gerais não se destinam a apresentar o valor exato da entidade, mas sim para evidenciarem informações que sirvam como base na estimativa do valor. As Informações sobre a natureza e os valores dos ativos, passivos e patrimônio líquido da entidade podem auxiliar os usuários a identificar os pontos positivos e negativos financeiros da entidade que reporta. Por exemplo, é possível avaliar a liquidez e solvência da entidade, a necessidade de financiamento adicional e a probabilidade de êxito na obtenção desse financiamento. Por outro lado, Informações sobre prioridades e exigências de pagamento de reivindicações existentes auxiliam os usuários a fazer previsões de como futuros fluxos de caixa serão distribuídos entre aqueles que tiverem reivindicações contra a entidade (CPC, 2019). Diferentes tipos de recursos econômicos afetam diferentemente a avaliação das perspectivas de fluxos de caixa futuros da entidade. Alguns fluxos de caixa futuros resultam diretamente de recursos econômicos existentes, tais como contas a receber, enquanto outros fluxos de caixa resultam da utilização de vários recursos em conjunto para produzir e comercializar produtos ou serviços a clientes. Embora esses fluxos de caixa não possam ser identificados com recursos econômicos (ou reivindicações) individuais, os usuários de relatórios financeiros precisam conhecer a natureza e o valor dos recursos disponíveis para uso nas operações da entidade (CPC, 2019). Além de ser necessário entender a natureza dos recursos econômicos e as reivindicações sobre a entidade, é também importante identificar as alterações ocorridas nestes recursos econômicos e reivindicações. Estas alterações resultam do desempenho financeiro das entidades e de outros eventos ou transações, como a emissão de instrumentos de dívida (debêntures, por exemplo) ou de instrumentos patrimoniais (ações e cotas). Para avaliar adequadamente tanto as perspectivas de fluxos de entrada de caixa futuros para a entidade que reporta quanto à gestão de recursos da administração sobre os recursos econômicos da entidade, os usuários precisam ser capazes de identificar esses dois tipos de mudanças (CPC, 2019). Contabilidade Geral 11 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Informações sobre o desempenho financeiro da entidade ajudam os usuários a compreender o retorno produzido pela entidade sobre seus recursos econômicos. Informações sobre o retorno produzido pela entidade podem auxiliar os usuários a avaliar a gestão de recursos da administração sobre os recursos econômicos. Informações sobre a variação e os componentes desse retorno também são importantes, especialmente na avaliação da incerteza dos fluxos de caixa futuros. Informações sobre o desempenho financeiro passado da entidade que reporta e sobre como a sua administração cumpriu suas responsabilidades de gestão de recursos são normalmente úteis para prever os retornos futuros da entidade sobre seus recursos econômicos (CPC, 2019, n.p). Figura 3: Informações Contábeis como Ferramentas para Análises Fonte: Autoria Própria Destaca-se que não é qualquer informação sobre os recursos econômicos, reivindicações e as alterações nestes itens que são úteis para os usuários primários. O Capítulo 2 da Estrutura Conceitual aborda os tipos de informações que tendem a ser mais úteis no processo decisório dos usuários primários. Neste capítulo são evidenciadas quais características qualitativas as informações contábeis precisam ter para serem úteis aos usuários. De forma resumida, para que uma informação seja útil ela precisa ser relevante e representar fidedignamente aquilo que pretende representar. Há também algumas características que melhoram as informações contábeis, como a comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade. Estas características são segregadas em fundamentais e de melhoria, em que a relevância e representação fidedigna são as fundamentais e as demais são as de melhoria. Contabilidade Geral 12 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 4: Características Qualitativas Fundamentais Fonte: Autoria Própria Para que uma informação seja útil ela obrigatoriamente precisa ser relevante e ser representada fidedignamente. Sem apenas uma destas duas características, a informação perde a utilidade. Por isso são classificadas como fundamentais. De acordo com a estrutura conceitual (CPC, 2019, n.p), informações financeiras relevantes são aquelas: capazesde fazer diferença nas decisões tomadas pelos usuários. Infor- mações podem ser capazes de fazer diferença em uma decisão ainda que alguns usuários optem por não tirar vantagem delas ou já tenham conhe- cimento delas a partir de outras fontes. Informações financeiras são capazes de fazer diferença em decisões se tiverem valor preditivo ou valor confirmatório, ou ambos. Informações financeiras têm valor preditivo se podem ser utilizadas como informações em processos empregados pelos usuários para prever resultados futuros. Informações financeiras não precisam ser previsões ou prognósticos para ter valor preditivo. Informações financeiras têm valor confirmatório se fornecem feedback sobre (confirmam ou alteram) avaliações anteriores. Um aspecto importante de relevância é a materialidade da informação. A informação é material se a sua omissão, distorção ou obscuridade puder influenciar, razoavelmente, as decisões que os principais usuários tomam com base nos relatórios financeiros, que fornecem informações financeiras sobre a entidade. Em outras palavras, materialidade é um aspecto de relevância específico da entidade com base na natureza e/ou magnitude dos itens aos quais as informações se referem no contexto do relatório financeiro da entidade individual. Consequentemente, não se pode especificar um limite quantitativo uniforme para materialidade ou predeterminar o que pode ser material em uma situação específica (CPC, 2019). Para serem úteis, informações financeiras não devem apenas representar Contabilidade Geral 13 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos fenômenos relevantes, mas também representar de forma fidedigna a essência dos fenômenos que pretendem representar. Em muitas circunstâncias, a essência de fenômeno econômico e sua forma legal são as mesmas. Se não forem as mesmas, é exigido fornecer informações sobre a essência da operação, para que ela seja representada fidedignamente (pressuposto contábil da essência sobre a forma). A estrutura conceitual afirma que para uma informação ser perfeitamente representada de forma fidedigna, a representação deve ter três características: (a) A representação completa inclui todas as informações necessárias para que o usuário compreenda os fenômenos que estão sendo repre- sentados, inclusive todas as descrições e explicações necessárias. Por exemplo, a representação completa de grupo de ativos inclui, no mínimo, a descrição da natureza dos ativos do grupo, a representação numérica de todos os ativos do grupo e a descrição daquilo que a representação numérica retrata (por exemplo, custo histórico ou valor justo). Para alguns itens, uma representação completa pode envolver também explicações de fatos significativos sobre a qualidade e natureza do item, fatores e cir- cunstâncias que podem afetar sua qualidade e natureza e o processo uti- lizado para determinar a representação numérica. (b) A representação neutra não é tendenciosa na seleção ou na apresen- tação de informações financeiras. A representação neutra não possui in- clinações, não é parcial, não é enfatizada ou deixa de ser enfatizada, nem é, de outro modo, manipulada para aumentar a probabilidade de que as informações financeiras serão recebidas de forma favorável ou desfavorá- vel pelos usuários. Informações neutras não significam informações sem nenhum propósito ou sem nenhuma influência sobre o comportamento. Ao contrário, informações financeiras relevantes são, por definição, capa- zes de fazer diferença nas decisões dos usuários. (c) Representação fidedigna não significa representação precisa em to- dos os aspectos. Livre de erros significa que não há erros ou omissões na descrição do fenômeno e que o processo utilizado para produzir as infor- mações apresentadas foi selecionado e aplicado sem erros no processo. Nesse contexto, livre de erros não significa perfeitamente precisa em to- dos os aspectos. Por exemplo, a estimativa de preço ou valor não obser- vável não pode ser determinada como precisa ou imprecisa. Contudo, a representação dessa estimativa pode ser fidedigna se o valor for descrito de forma clara e precisa como sendo a estimativa, se a natureza e as limi- tações do processo de estimativa forem explicadas e se nenhum erro ti- ver sido cometido na escolha e na aplicação do processo apropriado para o desenvolvimento da estimativa (CPC, 2019, n.p). Obviamente, a perfeição nunca ou raramente é atingida. O objetivo é maximizar essas qualidades tanto quanto possível. Comparabilidade, capacidade de verificação, tempestividade e compreensibilidade são características qualitativas que melhoram a utilidade Contabilidade Geral 14 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos de informações que sejam tanto relevantes como forneçam representação fidedigna do que pretendem representar. Em uma situação que há, por exemplo, duas formas de reconhecer um determinado evento econômico e que as duas formas fornecem informações igualmente relevantes e que a representação é igualmente fidedigna, as características de melhoria auxiliam na determinação de como reconhecer o fenômeno. Figura 5: Características Qualitativas de Melhoria Fonte: Autoria Própria As decisões dos usuários envolvem escolher entre alternativas, como, por exemplo, vender, comprar ou manter o investimento. Consequentemente, informações sobre a entidade que reporta são mais úteis se puderem ser comparadas a informações similares sobre outras entidades e a informações similares sobre a mesma entidade referentes a outro período ou a outra data (CPC, 2019). Dessa forma, comparabilidade é a característica qualitativa que permite aos usuários identificar e compreender similaridades e diferenças entre itens evidenciados. Diferentemente das outras características qualitativas, a comparabilidade não se refere a um único item. A comparação exige, no mínimo, dois itens (anos diferentes ou entidades diferentes) (CPC, 2019). A verificabilidade auxilia a garantir aos usuários que as informações representem de forma fidedigna os fenômenos econômicos que pretendem representar. Capacidade de verificação significa que diferentes observadores bem informados e independentes podem chegar ao consenso, embora não a acordo necessariamente completo, de que a representação específica é representação fidedigna. Informações quantificadas não precisam ser uma estimativa de valor único para que sejam verificáveis. Uma faixa de valores possíveis e as respectivas probabilidades também podem ser verificadas (CPC, 2019). A verificação pode ser direta ou indireta. Verificação direta significa verificar o valor ou outra representação por meio de observação direta, por exemplo, contando-se dinheiro. Verificação indireta significa verificar os dados de entrada de modelo, fórmula ou outra técnica e recalcular os dados de saída utilizando a mesma metodologia. Um exemplo é verificar o valor contábil do estoque, Contabilidade Geral 15 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos checando as informações (quantidades e custos) e recalculando o estoque final, utilizando a mesma premissa de fluxo de custo (por exemplo, utilizando o método primeiro a entrar, primeiro a sair). Tempestividade significa disponibilizar informações aos tomadores de decisões a tempo para que sejam capazes de influenciar suas decisões. De modo geral, quanto mais antiga a informação, menos útil ela é. Contudo, algumas informações podem continuar a ser tempestivas por muito tempo após o final do período de relatório porque, por exemplo, alguns usuários podem precisar identificar e avaliar tendências (CPC, 2019). Por último, classificar, caracterizar e apresentar informações de modo claro e conciso as torna compreensíveis. Relatórios financeiros são elaborados para usuários que têm conhecimento razoável das atividades comerciais e econômicas e que revisam e analisam as informações de modo diligente. Algumas vezes, mesmo usuários bem informados e diligentes podem precisar buscar o auxíliode consultor para compreender informações sobre fenômenos econômicos complexos (CPC, 2019). Contabilidade Geral 16 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 2. PATRIMÔNIO: CONCEITOS E APLICAÇÕES OBJETO DA CONTABILIDADE De acordo com Viceconte e Neves (2017) a contabilidade possui como objeto de estudo o patrimônio, que é composto por determinados bens, direitos e obrigações. Como forma de associar este conceito com os itens abordados pela Estrutura Conceitual, os bens e direitos são os recursos econômicos da entidade e as obrigações são as reivindicações de terceiros e dos proprietários sobre a entidade. O patrimônio de uma empresa é controlado na contabilidade por meio dos reconhecimentos de contas representativas dos eventos econômicos ocorridos na entidade. Cada conta representa uma parte do patrimônio da empresa ou representa um evento que modifica ou que possa modificar o patrimônio da entidade. As contas podem ser classificadas em contas patrimoniais e contas de resultado. As contas patrimoniais representam o patrimônio da entidade (bens, direitos e obrigações). As contas de resultado representam as contas de receitas e despesas que alteram o patrimônio da entidade. Enquanto as contas patrimoniais apresentam o patrimônio, as de resultado apresentam o desempenho da entidade. Para que os eventos econômicos de uma entidade possam ser registrados é importante seguir o processo lógico contábil. Esse processo lógico se inicia na identificação dos critérios de reconhecimento, depois passa pelas técnicas de mensuração para que seja finalmente reportado nos relatórios gerais. Durante este processo que é preciso garantir as características qualitativas das informações para que elas sejam úteis aos usuários. Figura 6: Processo Lógico Contábil Fonte: Autoria Própria Contabilidade Geral 17 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos O processo contábil sobre um evento econômico se inicia pela identificação da natureza do evento para que seja determinado se ele será reconhecido ou não em uma conta específica na contabilidade. As normas contábeis e a Estrutura Conceitual evidenciam os procedimentos para que os elaboradores saibam avaliar quando reconhecer um evento e de que forma reconhecer (ativo, passivo, patrimônio líquido, receita ou despesa). Para exemplificação, a NBC TG 27 – Ativo Imobilizado evidencia que para um ativo seja considerado como ativo imobilizado é necessário que ele seja utilizado nas principais operações da entidade, que seja consumido por mais de um período, que gere benefícios econômicos para a entidade e que tenha mensuração confiável. Dessa forma, uma empresa pode comprar um ativo que em uma classificação extracontábil pode ser denominado de imobilizado, mas não significa que na contabilidade também será considerado como imobilizado. Por exemplo, um pneu de um ônibus pode ser considerado como imobilizado de forma extracontábil, mas para ônibus que rodam muito é comum que um pneu não tenha uma vida útil superior a um ano, ou seja, na contabilidade não é permitido o registro deste pneu como imobilizado, mas sim diretamente como despesa do exercício. Após a constatação que o evento econômico será reconhecido e de que forma ele será reconhecido, o próximo passo é determinar por quanto ele será reconhecido. No processo contábil, a mensuração do valor de registro é a segunda etapa. Há diversas formas de mensurar um item registrado. A mensuração se divide em duas partes. A primeira parte é a mensuração inicial, que é o momento de registro inicial do evento econômico. A segunda parte é a mensuração subsequente, que define por quanto o evento econômico permanecerá registrado na contabilidade. As principais formas de mensuração inicial são: custo histórico, custo amortizado, valor justo e valor presente. As técnicas de mensuração subsequente também são semelhantes às da mensuração inicial, porém há algumas específicas apenas para a subsequente, como a depreciação acumulada, amortização acumulada, exaustão acumulada, ajuste por redução ao valor recuperável, entre outras. Nem sempre um ativo registrado inicialmente por um método permanece sendo atualizado pelo mesmo método. Uma ação comprada para revenda, por exemplo, é registrada pelo custo de aquisição e mantida subsequentemente pelo valor justo. Por último, a contabilidade atinge o objetivo de evidenciar informações úteis para os usuários por meio da divulgação das informações, anteriormente reconhecidas e mensuradas, nas demonstrações contábeis e nas notas explicativas. As normas contábeis evidenciam onde, como e o que divulgar sobre cada evento econômico da entidade. Para alguns itens com maiores materialidade é exigida Contabilidade Geral 18 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos maior divulgação e explicação, como os ativos imobilizados, receitas de contratos, tributos sobre o lucro, entre outros. Informações menos materiais normalmente são divulgadas de forma agregada com outras contas e sem muitas exigências de detalhamento em notas explicativas. Dessa forma, para garantir que as informações contábeis sejam úteis aos usuários, os normatizadores constantemente verificam os processos de reconhecimento e mensuração dos eventos econômicos, pois são essas duas etapas que definem a natureza e os valores das contas representativas do patrimônio da entidade e de seu desempenho. Qualquer alteração nos procedimentos de reconhecimento e mensuração pode afetar significativamente as informações divulgadas. Portanto, os órgãos normatizadores se atentam se cada norma ainda possui critérios consistentes para a atual conjectura mundial, em que revisam, modificam e republicam as normas consideradas com procedimentos ultrapassados. As principais fontes de divulgação das informações contábeis são as notas explicativas e as demonstrações contábeis, que compõem o relatório financeiro para fins gerais explicado pela Estrutura Conceitual. As notas explicativas fazem parte do conjunto completo das demonstrações contábeis e servem para detalhar os itens divulgados nas demonstrações. As demonstrações contábeis evidenciam somente a conta ou grupo de conta e os respectivos valores, enquanto as notas explicativas evidenciam as bases de mensuração, as informações qualitativas do evento econômico, entre vários outros itens. Já as demonstrações contábeis, a NBC TG 26 - Apresentação das Demonstrações Contábeis define como: “uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade” (CFC, 2017, n.p.). Aqui já foi explicado que as contas representam o patrimônio da empresa e as alterações no patrimônio mediante desempenho da entidade, dessa forma as demonstrações contábeis vão divulgar aos usuários estas contas de forma estruturada, para facilitar a análise e fomentar a utilidade da informação. As principais informações divulgadas sobre a entidade são: ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas, despesas, fluxos de caixa e as alterações no capital próprio mediante integralização dos proprietários e distribuição a eles (CFC, 2017). Estas informações são divulgadas em um conjunto de demonstrações, não apenas em uma. Entre a Lei 6.404/76 e as normas brasileiras de contabilidade há pequenas diferenças em relação às demonstrações exigidas. O item 10 da NBC TG 26 (2017) especifica o conjunto completo das demonstrações contábeis da seguinte forma: (a) balanço patrimonial ao final do período; (b1) demonstração do resultado do período; (b2) demonstração do resultado abrangente do período; Contabilidade Geral 19 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos (c) demonstração das mutações do patrimônio líquido do período; (d) demonstração dos fluxos de caixa do período; (e) notas explicativas, compreendendo as políticas contábeis significati- vas e outras informações elucidativas; (ea) informações comparativas com o período anterior; (f) balanço patrimonial do início do período mais antigo,comparativa- mente apresentado, quando a entidade aplicar uma política contábil re- trospectivamente ou proceder à reapresentação retrospectiva de itens das demonstrações contábeis, ou quando proceder à reclassificação de itens de suas demonstrações contábeis; e (f1) demonstração do valor adicionado do período, conforme Pronuncia- mento Técnico CPC 09, se exigido legalmente ou por algum órgão regu- lador ou mesmo se apresentada voluntariamente (CFC, 2017, n.p). Já para Lei 6.404/76, considerando as posteriores alterações (principalmente com as alterações advindas da Lei 11.638/07), no capítulo XV, seção II, art. 176: Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: I - balanço patrimonial; II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; III - demonstração do resultado do exercício; e IV – demonstração dos fluxos de caixa; V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado (BRASIL, 1976, n.p). O quadro a seguir auxilia na comparação entre as demonstrações exigidas pela lei e pela a norma. Demonstra- ção Norma Inter- nacional Pronunciamento Contábil Norma Brasi- leira de Con- tabilidade Obrigada por Lei? (6406/76) Balanço Patrimo- nial IAS 1 CPC 26 NBC TG 26 Sim D e m o n s t r a ç ã o do Resultado do Exercício IAS 1 CPC 26 NBC TG 26 Sim Demonstração do Resultado Abran- gente IAS 1 CPC 26 NBC TG 26 Não Contabilidade Geral 20 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos D e m o n s t r a ç ã o das Mutações do PL IAS 1 CPC 26 NBC TG 26 Não Demonstração do Lucro ou Prejuízo Acumulado - - - Sim D e m o n s t r a ç ã o dos Fluxos de Cai- xa IAS 7 CPC 03 NBC TG 03 Sim Demonstração do Valor Adicionado* Não há CPC 09 NBC TG 09 Sim** Quadro 1: Demonstrações Contábeis Exigidas pelas Normas e Lei. Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoral * A Demonstração do Valor Adicionado é uma demonstração brasileira. Não provém de normas internacionais; ** Somente se a companhia for de capital aberto. Destaca-se no quadro 1 que a Demonstração das Mutações do PL e a Demonstração do Resultado Abrangentes são exigidas pelas normas contábeis, mas não são exigidas pela lei. De forma contrária, a Demonstração do Lucro ou Prejuízo Acumulado (DLPA) é exigida pela lei, mas não é exigida pela norma. A DLPA, entretanto, de acordo com o art.186 “§ 2º A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá indicar o montante do dividendo por ação do capital social e poderá ser incluída na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e publicada pela companhia.” (BRASIL, 1976, n.p.). Dessa forma, a entidade é liberada de publicar a DLPA caso ela elabore a DMPL, pois a primeira está contida na segunda, em que a segunda é muito mais informativa. De forma resumida, cada demonstração contábil evidencia: a) Balanço Patrimonial: evidencia a situação patrimonial e financeira (ati- vos, passivos e patrimônio líquido) da entidade em um exato momento. b) Demonstração do Resultado do Exercício: evidencia o desempenho realizado (receitas e despesas realizadas) da entidade dentro de um de- terminado período. c) Demonstração do Resultado Abrangente: evidencia o desempenho total da entidade, em que leva em consideração tanto as receitas e des- pesas realizadas, quanto as receitas e despesas ainda não realizadas, mas que podem se realizar e afetar significativamente a situação patrimonial e financeira da empresa. d) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido: evidencia de for- ma detalhada as mutações ocorridas no patrimônio líquido da entidade em um determinado período (alterações nas contas do início do período para o final). e) Demonstração do Lucro e Prejuízo Acumulado: evidencia a formação do lucro ou do prejuízo acumulado e a destinação do lucro acumulado para as reservas de lucro e distribuição de dividendos. Esta demonstra- ção está contida na DMPL pois Lucro e Prejuízo acumulado é uma conta de PL. Contabilidade Geral 21 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos f) Demonstração dos Fluxos de Caixa: evidencia se a entidade consumiu ou gerou caixa e equivalente de caixa em um determinado período de acordo com três atividades (operacional, investimento e financiamento). g) Demonstração do Valor Adicionado: evidencia a criação ou recebi- mento da riqueza da entidade e a distribuição desta riqueza para os par- ticipantes de mercado (pessoal, governo, terceiros e proprietários). Se difere da DRE e DRA, pois o conceito de riqueza está mais relacionado ao PIB, enquanto a DRE e DRA evidenciam o desempenho econômico, independentemente de sua distribuição. Estas demonstrações podem ser classificadas de duas formas: demonstrações estáticas e demonstrações dinâmicas. Demonstração estática é aquela que evidencia as informações de uma data específica, como se fosse uma foto da entidade em um determinado momento. As demonstrações dinâmicas são aquelas que evidenciam as informações acumuladas em um período (normalmente 3 meses, 6 meses ou 1 ano). O Balanço Patrimonial é a única demonstração estática, que mostra a situação patrimonial e financeira da entidade apenas no dia especificado na demonstração (31/12/x1 para as demonstrações anuais, por exemplo). As demais demonstrações são dinâmicas. Aqui será detalhado o ativo do Balanço Patrimonial, no capítulo 03 serão detalhados o passivo e o patrimônio líquido, e no capítulo 4 a demonstração do resultado do exercício. Como já explicado, o balanço patrimonial evidencia os recursos econômicos da empresa, que são os ativos como bens e direitos, e evidencia as reivindicações das pessoas que injetaram os recursos econômicos que a entidade possui. Os recursos econômicos de uma entidade podem ser reivindicados por terceiros (obrigações que a entidade tem com terceiros, como fornecedores, bancos, governo, funcionários, etc.), e reivindicados pelos proprietários (capital próprio). A Lei 6.404/76, com as alterações da Lei 11.941/09, no artigo 178 especifica: No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia. § 1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, nos seguintes grupos: I – ativo circulante; e II – ativo não circulante, composto por ativo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. § 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: I – passivo circulante; II – passivo não circulante; e III – patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e Contabilidade Geral 22 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos prejuízos acumulados (BRASIL, 1976, n.p.). Dessa forma, a estrutura mínima obrigatória legal é a seguinte: Figura 7: Estrutura Mínima Legal do Balanço Patrimonial Fonte: Autoria Própria Ressalta-se que na figura o PL não está detalhado pois será estudado no próximo capítulo. As normas contábeis não exigem uma estrutura específica, mas exige as informações mínimas que um balanço patrimonial deve conter. O item 57 da NBC TG 26 indica que “Esta norma não prescreve a ordem ou o formato que deva ser utilizado na apresentação das contas do balanço patrimonial, mas a ordem legalmente instituída no Brasil deve ser observada.” (CFC, 2017, n.p.). Ao comparar o especificado pela lei com o descrito no item 57 da norma fica evidente que a estrutura atual do Balanço Patrimonial utilizada pelas empresas brasileiras provém da lei. A norma vai servir de complemento para deixar o balanço mais estruturado e completo. Ativo Com foco nos ativos da entidade, item 54 da NBC TG 26 especifica algumas das contas ou grupo decontas que devem ser evidenciadas no Balanço Patrimonial: (a) caixa e equivalentes de caixa; (b) clientes e outros recebíveis; (c) estoques; (d) ativos financeiros (exceto os mencionados nas alíneas “a”, “b” e “g”); (e) total de ativos classificados como disponíveis para venda e ativos à disposição para venda de acordo com o CPC 31 – Ativo Não Circulante Mantido para Venda e Operação Descontinuada; (f) ativos biológicos dentro do alcance do CPC 29; (g) investimentos avaliados pelo método da equivalência patrimonial; (h) propriedades para investimento; (i) imobilizado; (j) intangível; Contabilidade Geral 23 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos (o) impostos diferidos ativos e passivos, como definido no Pronunciamento Técnico CPC 32 (CFC, 2017, n.p.). Para uma melhor compreensão destes itens, é necessário estender o conceito de ativo. Já foi abordado até então que os ativos são os recursos econômicos da entidade, representados por determinados bens e direito que ela possui. Sobre este conceito mais básico é importante salientar que não é qualquer bem ou direito que será reconhecido como ativo. Há outras particularidades que definem o registro do evento como ativo. A Estrutura Conceitual (CPC, 2019, n.p.) define o ativo como: “recurso econômico presente controlado pela entidade como resultado de eventos passados.” Sobre este conceito é importante destacar 3 pontos. 1) recurso econômico é aquele bem ou direito que tem potencial de produzir benefícios econômicos para a entidade. Se a empresa possui uma máquina quebrada sucateada onde a venda dela seria mais custosa do que vantajosa, por mais que seja um bem que a entidade possui, a máquina deixa de ser um ativo para a entidade, pois já não gera mais benefícios econômicos; 2) o ativo precisa ser controlado pela entidade para que seja registrado. A compra à vista de uma máquina que só chegará na entidade daqui a 6 meses, a máquina ainda não pode ser registrada como ativo, pois a empresa ainda não possui o controle sobre ela. Neste caso, a empresa registra como um adiantamento, que é um direito que ela possui já que pagou antecipadamente. Quando a máquina estiver sob controle da entidade, a empresa registra a máquina em contrapartida da baixa do adiantamento. 3) Todos os ativos registrados são provenientes de eventos passados. Até mesmo as estimativas futuras, como as perdas estimadas para crédito de liquidação duvidosa, que são mensuradas de acordo com informações do passado. De acordo com os itens exigidos pela lei e pela norma o é possível representar o ativo circulante da seguinte forma. Figura 8: Principais Subgrupos do Ativo Circulante Fonte: Autoria Própria Contabilidade Geral 24 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos A figura evidencia os principais subgrupos do ativo circulante. Antes de explicar cada subgrupo, é importante identificar a forma de definir se um ativo é circulante ou não circulante, e destacar o conceito de ativos temporários e ativos permanentes. Para segregar o ativo circulante do ativo não circulante é comum utilizarmos o critério de prazo de realização do item. Consideramos que itens que serão realizados ou espera-se que seja realizado em até 12 da data do balanço seja considerado ativo circulante. Entretanto, de acordo com a NBC TG 26 há outros critérios de segregação. O ativo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos seguintes critérios: (a) espera-se que seja realizado, ou pretende-se que seja vendido ou consumido no decurso normal do ciclo operacional da entidade; (b) está mantido essencialmente com o propósito de ser negociado; (c) espera-se que seja realizado até doze meses após a data do balanço; ou (d) é caixa ou equivalente de caixa (conforme definido no Pronunciamen- to Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa), a menos que sua troca ou uso para liquidação de passivo se encontre vedada durante pelo menos doze meses após a data do balanço (CFC, 2017, n.p.). Todos os demais ativos devem ser classificados como não circulantes. Outra segregação importante, que está de forma implícita no Balanço, é a diferença entre ativos temporários e ativos permanentes. Ativos temporários são aqueles que a entidade possui com intuito de realizar/consumir/negociar no curto a médio prazo, como por exemplo a compra de estoque para revenda, compra de ações para fins de ganho de capital, compra de títulos de dívida, entre outros. Já os ativos permanentes, são aqueles que a empresa não pretende negociar em curto ou médio prazo, mas sim pretende usufruir dos benefícios gerados pelo ativo a longo prazo. Por exemplo, uma empresa que compra um veículo para fazer o frete de suas mercadorias não deseja que o veículo seja consumido o quanto antes, mas sim o contrário. Esta empresa deseja que este veículo dure o máximo possível, pois assim ela usufruirá dos benefícios em um tempo maior. Outro exemplo é a compra de ações para estreitar laços entre empresas para que uma tenha benefícios operacionais sobre a outra. Neste caso, a compra de ações não foi para a realização de ganho de capital em uma venda por um valor superior ao de compra, mas sim para benefícios operacionais e econômicos extraídos da relação entre as empresas. Ao relacionar a segregação entre ativo circulante e ativo não circulante com os conceitos de ativos permanentes e ativos temporários, juntamente com a exigência legal de organizar os ativos por ordem decrescente de grau de liquidez, podemos observar no balanço o seguinte: 1) todos os ativos circulantes são ativos temporários; 2) dos quatro grupos do ativo não circulante (realizável a Contabilidade Geral 25 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível), o realizável a longo prazo é temporário e os últimos três são permanentes. Observa-se que há uma clara divisão. Esta divisão está de acordo com a lei, pois ativos temporários possui um grau de liquidez maior que os permanentes, pois os temporários são realizados no curto e médio prazo, enquanto os permanentes são realizados no longo prazo. Em relação a cada subgrupo, Caixa e Equivalente de Caixa representa os valores que a entidade possui em espécie, em contas bancárias (corrente e poupança), e em aplicações financeiras de resgate imediato ou com resgate de até 3 meses. Esta definição é dada pela NBC TG 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa. O subgrupo de aplicações financeiras incorpora as aplicações com prazo de resgate superior a 3 meses ou aplicações financeiras sem prazo, como ações, investimentos cambiais e fundos de investimentos. De acordo com a NBC TG 48, há contas neste subgrupo mensuradas à valor justo ou custo de aquisição. Contas a receber evidencia os saldos dos valores que a empresa possui para receber de terceiros, principalmente relacionados às vendas a prazo. Dependendo da empresa, há diversos tipos de estoque. Uma empresa comercial possui o estoque de mercadoria. Uma prestadora de serviço possui o almoxarifado, que são os materiais utilizados na prestação de serviço. Uma indústria possui o estoque de matéria prima, de produtos em elaboração, de produtos acabados e as vezes estoque de embalagens. A NBC TG 16 é a norma que aborda sobre os estoques. Conforme a NBC TG 29, Ativos Biológicos são ativos de empresas rurais que negociam seres vivos, como touros, vacas, búfalos, entre outros. É uma espécie de estoque, porém biológico. Tributos a Recuperar representa os direitos que a empresa possui de recuperar e compensar os tributos que foram pagos antecipadamente ou retidos na fonte. A empresa pode recuperar o pago sobre os tributos em regime não cumulativos como o ICMS, PIS e COFINS, por exemplo. Por último, quando uma empresa paga antecipadamente por qualquer despesa ou por um ativo que ainda não possui controle, é gerado um direito de utilização do serviço ou recebimento do ativo comprado. Um exemplo comum é o seguro a apropriar.Uma empresa que paga no primeiro dia do ano o seguro de um veículo referente ao ano todo não pode registrar tudo como despesa com seguro no primeiro dia, pois o regime de competência deve ser respeitado. O regime de competência exige o registro das receitas e despesas quando incorrem, então a despesa com seguro deve ser registrada mensamente no valor equivalente a cada mês. Como o pagamento do ano todo já foi efetuado, gera-se um direito de uso do seguro. A cada mês utilizado, a despesa é efetivamente lançada no resultado e o direito do seguro a apropriar é baixado. Contabilidade Geral 26 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Já o ativo não circulante, podemos destacar estes principais subgrupos: O ativo realizável a longo prazo possui basicamente os mesmos subgrupos do ativo circulante, com algumas exceções. É possível destacar o grupo de ativo diferido, que está relacionado com a NBC TG 32 – Tributos sobre o Lucro, que aborda sobre o imposto de renda e a contribuição social corrente e diferido. Figura 9: Ativo não Circulante Realizável a Longo Prazo e Investimentos Fonte: Autoria Própria Para os ativos permanentes, o primeiro subgrupo é o de Investimentos. Este subgrupo incorpora ativos para benefício a longo prazo e que não são utilizados nas atividades operacionais principais da entidade. Esta é a principal diferença deste subgrupo para o subgrupo Imobilizado. Por exemplo, uma vidraçaria possui 2 imóveis, em que o 1º ela usa para fazer os serviços e o 2º ela aluga para ter uma renda extra. O primeiro imóvel será considerado imobilizado e o segundo será considerado investimento. O subgrupo de Investimento é regido pela NBC TG 28 e o ativo Imobilizado pela NBC TG 27. Conforme a NBC TG 04, os intangíveis são itens incorpóreos utilizados nas principais operações da entidade. Por não serem tangíveis estes itens são direitos de uso que a empresa possui (direito de franquia, de usar um software, direitos autorais, etc.). Como mensuração subsequente, os ativos permanentes podem sofrer redução ao valor recuperável, que ocorre quando um item de Investimento, Imobilizado e intangível está registrado por um valor superior ao de recuperação pela venda ou pelo uso. As normas contábeis não permitem a supervalorização destes itens, então é necessário reduzir o valor para o que a empresa conseguirá recuperar. Os ativos imobilizados sobre depreciação e exaustão (terrenos para extrativismo) e os intangíveis sobrem amortização Contabilidade Geral 27 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 10: Ativo não Circulante Imobilizado e Intangível Fonte: Autoria Própria Contabilidade Geral 28 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 3. ATIVO PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO Passivo A estrutura conceitual define o passivo como: “obrigação presente da entidade de transferir um recurso econômico como resultado de eventos passados” (CPC, 2019, n.p.). Assim como não são todos os bens e direitos que são considerados ativos, também não são todas as obrigações que são consideradas como passivo. O quadro a seguir evidencia quais obrigações são reconhecidas como passivo. Nível de Certeza da Obrigação Classificação da Obri- gação R e c o n h e c e como Passivo? Certa Demais Passivos Obrigações Presen- tes Sim Praticamente Certa Provável Passivo - Provisão Possível Passivo Contingente Obrigações não Pre- sentes Não Remota Passivo Contingente Quadro 2: Classificações das Obrigações Fonte: Autoria Própria Observa-se que as obrigações prováveis, as praticamente certas e as certas são as consideradas como obrigações presentes para a entidade, ou seja, são estas obrigações que são registradas como passivo. As obrigações possíveis e remotas não são passivos, e sim passivos contingentes, que não são reconhecidos. O nível de certeza de uma obrigação está relacionado ao prazo, valor e obrigatoriedade de repasse de recursos. Uma obrigação certa, por exemplo, é aquela em que a empresa compra mercadorias a prazo e terá que pagar o valor R$ X no dia Y. Neste caso é sabido a data e o valor, em que a empresa possui a obrigatoriedade de repasse decorrente do contrato firmado. Uma obrigação praticamente certa é aquela obrigação onde não há uma certeza do valor e/ou prazo, mas há praticamente uma certeza de que o repasse de recurso será feito. As férias a pagar é um exemplo de obrigação praticamente certa, pois o valor depende de vários fatores trabalhistas durante o ano aquisitivo e o prazo pode ser em qualquer mês do período concessivo, mas apesar da incerteza do valor e prazo o trabalhador já tem direito legal de receber as férias pelo período trabalhado. Já uma obrigação provável é aquela que além da incerteza do valor e/ou prazo, também há uma incerteza maior quanto a obrigatoriedade de pagamento. Por exemplo, uma empresa que esteja sofrendo um processo trabalhista e que foi determinado pelo setor jurídico que a empresa provavelmente perderá o caso. Há uma incerteza do valor, pois somente o juiz decidirá e uma incerteza em relação ao prazo por não saber quando o processo finalizará. Além disso, por mais que seja provável a perda do processo, ainda há uma chance que a empresa ganhe e que não precise fazer o repasse do recurso, ou seja, também há incertezas quanto Contabilidade Geral 29 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos a obrigatoriedade do repasse. Estas obrigações prováveis são as conhecidas provisões. É importante destacar que registrar as contas de provisão para férias, provisão para décimo terceiro e provisão para imposto de renda é considerado como procedimento errado de acordo com as normas brasileiras e internacionais, pois férias, décimo terceiro e IR não são provisões. A Lei 6.404/76 não define um critério de ordenação para os passivos como define para os ativos, então as ordenações utilizadas pelas empresas são as definidas pelas normas. É comum que o passivo seja ordenado por subgrupos de acordo com a natureza e função das contas. Muitos abordam a ordenação dos passivos com o grau de exigibilidade, porém na prática muitas das obrigações das empresas são mensais (amortização de empréstimos e financiamentos, pagamento de tributos, pagamentos de salários, pagamentos de energia, água e internet, etc.), o que dificulta decidir qual é o mais exigível. O item 69 da NBC TG 26 define que o passivo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos seguintes critérios: (a) espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade; (b) está mantido essencialmente para a finalidade de ser negociado; (c) deve ser liquidado no período de até doze meses após a data do balanço; ou (d) a entidade não tem direito incondicional de diferir a liquidação do passivo durante pelo me- nos doze meses após a data do balanço (ver item 73). Os termos de um passivo que podem, à opção da contraparte, resultar na sua liquidação por meio da emissão de instrumentos patrimo- niais não devem afetar a sua classificação (CFC, 2017, n.p.). Todos os outros passivos devem ser classificados como não circulantes. O passivo circulante é classificado da seguinte forma: Figura 11: Passivo Circulante Fonte: Autoria Própria Contabilidade Geral 30 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos O subgrupo das obrigações sociais e trabalhistas apresenta os saldos referentes às dívidas que a entidade possui para com seus trabalhadores e com o governo em âmbito previdenciário. Salários, comissões, FGTS, INSS, etc. As obrigações fiscais incorporam as dívidas que a entidade possui relacionados aos diversos tributos (ICMS, PIS, COFINS, IPI, ISS, entre outros). Empréstimos e financiamentos representa as obrigações que a entidade possui de repassar recursos para as instituições financeiras que geram crédito. Apesar do nome, também é possível classificar neste grupo as obrigações provenientes de leasings e de cartas de crédito, que são as duas outras grandes fontes de recursos além dos empréstimose financiamentos. As provisões, como já explicadas, são as obrigações prováveis que uma entidade possui. Normalmente decorrentes de processos em andamento ou de obrigações culturais que a entidade possui de arcar com determinados gastos mesmo não tendo obrigatoriedade para isto. A NBC TG 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes aborda sobre este conteúdo. O passivo não circulante possui basicamente os mesmos subgrupos do passivo circulante, com algumas exceções. Da mesma forma como foi destacado para o ativo não circulante realizável a longo prazo, aqui também é possível destacar o passivo diferido como subgrupo diferente no passivo circulante. O imposto de renda diferido e a contribuição social diferida podem ser tanto ativo quanto passivo. A NBC TG 32 aborda com detalhes este conteúdo. Patrimônio Líquido Por último, a definição de Patrimônio Líquido é dada pela Estrutura Conceitual como: “participação residual nos ativos da entidade após a dedução de todos os seus passivos” (CPC, 2019, n.p.). O conceito é simples, todos os recursos econômicos que a empresa possui teve como origem o capital de terceiros ou capital dos proprietários, então a empresa possui obrigações de repassar os recursos. Subtrair o total das reivindicações que terceiros possui sobre a entidade, o que sobra é o valor que será reivindicado pelos proprietários, ou seja, o patrimônio líquido. Assim como para os passivos, a Lei 6.404/76 não indica um critério de ordenação, mas neste caso ela exige que determinados subgrupos sejam evidenciados. “III – patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados.” (BRASIL, 1976, n.p.). Contabilidade Geral 31 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 12: Patrimônio Líquido – Capital Social e Reserva de Capital Fonte: Autoria Própria O primeiro grupo do patrimônio líquido é o capital social. O valor evidenciado nele é o líquido entre o capital subscrito, que é aquele acordado entre os proprietários para a constituição da empresa, menos o capital a integralizar, que é o valor do que foi acordo que os proprietários ainda não injetaram na empresa. Se tudo que foi acordado já foi integralizado, o valor do capital social é o mesmo do capital subscrito. As reservas de capital incorporam contas de transações de ganhos ou perdas de capital de transações da empresa com proprietários. Por exemplo: supondo que o valor nominal de uma ação de uma empresa seja R$ 50,0, mas decorrente de uma grande expectativa de mercado sobre a empresa ela conseguiu emitir novas ações e vender por R$ 70,0. A diferença de R$ 20,0 do valor nominal para o valor de venda é registrada como um ágio na emissão de ações na reserva de capital. No capítulo 4 este exemplo será retomado para que fique claro o motivo desse ganho não ser uma receita e, consequentemente, não ser apurado no resultado. Figura 13: Patrimônio Líquido – Reservas de Lucro e Prejuízo Acumulado Fonte: Autoria Própria Contabilidade Geral 32 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos As reservas de lucros são aquelas provenientes das destinações do lucro do exercício ou de algumas outras situações específicas, que serão especificadas aqui. A reserva legal, como o próprio nome já indica, é uma reserva obrigatória pela Lei 6.404/76. Conforme o art. 193: Do lucro líquido do exercício, 5% (cinco por cento) serão aplicados, antes de qualquer outra destinação, na constituição da reserva legal, que não excederá de 20% (vinte por cento) do capital social. § 1º A companhia poderá deixar de constituir a reserva legal no exercício em que o saldo dessa reserva, acrescido do montante das reservas de capital de que trata o § 1º do artigo 182, exceder de 30% (trinta por cento) do capital social. § 2º A reserva legal tem por fim assegurar a integridade do capital social e somente poderá ser utilizada para compensar prejuízos ou aumentar o capital (BRASIL, 1976, n.p.). A reserva estatutária é aquela criada pelo estatuto da empresa (documento que rege a criação e manutenção de uma sociedade anônima, assim como uma sociedade limitada precisa de um contrato social). As reservas estatutárias só podem ser criadas se respeitarem os seguintes critérios: I - Indicar, de modo preciso e completo, a sua finalidade; II - Fixar os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão destinados à sua constituição; e III – Estabelecer o limite máximo da reserva (BRASIL, 1976, n.p.). A reserva para expansão é criada como forma de retenção de lucro para fins de aplicação em um projeto específico. O artigo 196 especifica o seguinte: A assembleia-geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, deliberar reter parcela do lucro líquido do exercício prevista em orçamen- to de capital por ela previamente aprovado. § 1º O orçamento, submetido pelos órgãos da administração com a justificação da retenção de lucros proposta, deverá compreender todas as fontes de recursos e aplicações de capital, fixo ou circulante, e poderá ter a duração de até 5 (cinco) exercícios, salvo no caso de execução, por prazo maior, de projeto de investimento. § 2o O orçamento poderá ser aprovado pela assembleia-geral ordinária que deliberar sobre o balanço do exercício e revisado anualmente, quando tiver duração superior a um exercício social (BRASIL, 1976, n.p.). A reserva para contingências é criada para a compensação de futuras prováveis perdas que possam ser estimadas pela empresa. O artigo 195 da lei descreve o seguinte: A assembleia-geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, Contabilidade Geral 33 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos destinar parte do lucro líquido à formação de reserva com a finalidade de compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado. § 1º A proposta dos órgãos da administração deverá indicar a causa da perda prevista e justificar, com as razões de prudência que a recomendem, a constituição da reserva. § 2º A reserva será revertida no exercício em que deixarem de existir as razões que justificaram a sua constituição ou em que ocorrer a perda (BRASIL, 1976, n.p.). A reserva de lucros a realizar é constituída mediante critério definido no artigo 197 da Lei 6.404/76. No exercício em que o montante do dividendo obrigatório, calculado nos termos do estatuto ou do art. 202, ultrapassar a parcela realizada do lucro líquido do exercício, a assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar o excesso à constituição de reserva de lucros a realizar. § 1o Para os efeitos deste artigo, considera-se realizada a parcela do lucro líquido do exercício que exceder da soma dos seguintes valores: I - o resultado líquido positivo da equivalência patrimonial (art. 248); e II – o lucro, rendimento ou ganho líquidos em operações ou contabiliza- ção de ativo e passivo pelo valor de mercado, cujo prazo de realização financeira ocorra após o término do exercício social seguinte (BRASIL, 1976, n.p.). Por último, o artigo 195-A aborda sobre a reserva de incentivos fiscais da seguinte forma: A assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido de- corrente de doações ou subvenções governamentais para investimen- tos, que poderá ser excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório (BRASIL, 1976, n.p.). A conta prejuízo acumulado existe quando a empresa possui prejuízo no exercício e não possui saldos nas reservas de lucro para compensar o prejuízo do exercício. Cabe ressaltar que para as empresas sociedades anônimas não é permitido que a conta lucro acumulado tenha saldo. A empresa, se não tiver saldo na conta de prejuízo acumulado, deve destinar todo o lucro acumulado para as reservas de lucro e dividendos para os proprietários. ContabilidadeGeral 34 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 14: Outros Resultados Abrangentes e Ações em Tesouraria Fonte: Autoria Própria O subgrupo de outros resultados abrangentes incorpora as contas de receitas e despesas ainda não realizadas da empresa, mas que podem se realizar e alterar significativamente o patrimônio da entidade. Por exemplo, certas variações no preço da ação que uma empresa possui com o intuito de revender são registradas como ganhos e perdas não realizados. Supondo que uma empresa compre ações de outra empresa por R$ 100 a unidade e depois de 6 meses a ação está a R$ 130, o ganho ainda não realizado de R$ 30 será registrado como ajuste de avaliação patrimonial. Os R$ 30 reais se tornaria uma receita realizada caso a empresa vendesse a ação neste momento. Outros eventos relacionados às receitas e despesas não realizadas são: ajuste acumulado de conversão, que ocorre no momento da conversão de uma moeda para outra das demonstrações contábeis; ganhos e perdas atuariais em plano de benefício determinado a empregado; entre outros. Para finalizar, ações em tesouraria é a conta que representa as ações da própria empresa que foram recompradas no mercado. Em uma análise rápida, ações em tesouraria afeta o PL de forma oposta à emissão de novas ações no mercado. Quando uma entidade emite novas ações no mercado há entrada de recurso (normalmente caixa e equivalente de caixa) e o PL da empresa aumenta (aumento no capital social). De forma oposta, quando uma empresa recompra suas ações significa que está saindo recurso da empresa para o pagamento dessas ações e o PL está diminuindo por meio da conta negativa ações em tesouraria. A empresa possui um prazo para definir se estas ações serão recolocadas no mercado (revenda) ou se serão extintas. Se extintas, aí sim o capital social da empresa diminui, em contrapartida do estorno da conta de ações em tesouraria. Contabilidade Geral 35 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 4.APURAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO A apuração do resultado do exercício ocorre no final de cara período, normalmente anual, em que a empresa confronta as receitas realizadas com as despesas realizadas para determinar se neste período específico ela teve lucro ou prejuízo. O processo de apuração é simples, pois é justamente subtrair das receitas as despesas. Se o resultado for positivo significa que a empresa teve lucro, mas se for negativo significa que a empresa teve prejuízo. Na contabilidade essa apuração é feita por meio de uma conta transitória chamada ARE (apuração do resultado do exercício). Todos os saldos abertos nas contas de receitas são encerrados e transferidos para o lado credor da conta ARE. Todos os saldos abertos nas contas de despesas são encerrados e transferidos para o lado devedor da conta ARE. Dessa forma, o ARE terá valores do lado credor e do lado devedor, devendo, então, gerar um saldo. Se o valor total credor for maior que o devedor, significa que a empresa possui lucro, caso contrário a empresa possui prejuízo. Após a apuração do resultado o saldo é transferido para a conta de lucro ou prejuízo acumulado para as devidas destinações. Cabe ressaltar que apenas as receitas e despesas realizadas são apuradas no exercício. As receitas e despesas não realizadas (outros resultados abrangentes) não afetam o resultado do exercício. Este resultado apurado é evidenciado na demonstração do resultado do exercício. A DRE vai evidenciar aos usuários contábeis, de forma estruturada, a composição do resultado do exercício. A NBC TG 26 conceitua a DRE como “a apresentação, de forma resumida, das operações realizadas pela empresa, demonstradas de forma a destacar o resultado líquido do período (lucro ou prejuízo), de acordo com as receitas e despesas realizadas.” (CFC, 2017, n.p.). Para compreender a apuração do resultado e a demonstração dele, é necessário entender o conceito de receita e despesa. A estrutura conceitual define as receitas e despesas da seguinte forma: - Receitas: “Aumentos nos ativos, ou reduções nos passivos, que resultam em aumento no patrimônio líquido, exceto aqueles referentes a contribuições de detentores de direitos sobre o patrimônio.” (CPC, 2019, n.p.) - Despesas: “Reduções nos ativos, ou aumentos nos passivos, que resultam em reduções no patrimônio líquido, exceto aqueles referentes a distribuições aos detentores de direitos sobre o patrimônio.” (CPC, 2019, n.p.) Por parte, primeiramente é importante destacar que todas as receitas e despesas afetam o patrimônio total e o patrimônio líquido da entidade, sem exceções. As receitas aumentam o PL, pois elas aumentam o saldo credor no ARE, e as despesas diminuem o PL, pois elas aumentam o saldo devedor da conta ARE. Contabilidade Geral 36 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Lembre-se que o PL aumenta a crédito e diminui a débito. As receitas alteram as contas patrimoniais por meio de um aumento no ativo e/ou diminuição do passivo, como por exemplo a venda de mercadorias, em que a empresa registrará a receita de venda a crédito (PL aumenta a crédito) e a forma de recebimento a débito (caixa, banco ou duplicatas a receber), que aumentam o ativo. As receitas podem diminuir o passivo também, por exemplo um pagamento antecipado de dívida para conseguir desconto. Supondo que a empresa tinha uma dívida de R$ 1.000 referente a compra de mercadorias a pagar em 90 dias. 30 dias após a compra, o fornecedor ofereceu um desconto de 10% caso a empresa pagasse nesse dia, e a empresa realizou o pagamento via banco. Nesta situação, a empresa vai debitar a quitação da dívida no valor de R$ 1000 (redução do passivo), e creditar R$ 900 na redução do banco e R$ 100 como descontos financeiros obtidos. Observa-se que a receita foi o motivo da redução do passivo fornecedor no valor de R$ 100. As despesas podem diminuir o ativo ou aumentar o passivo. Por exemplo, as empresas podem optar, de modo geral, por pagar os salários dos funcionários dentro do mês de serviço (até o último dia do mês) ou pagar até o 5º dia útil do mês subsequente. Conforme o regime de competência, as despesas devem ser registradas quando incorrem, então a despesa do salário vai ser registrada no mês de serviço daquele trabalhador, independentemente se o salário já foi pago ou não. Para as empresas que pagam no mês de incorrência debita-se a despesa com salário (PL diminui a débito), e credita-se a redução no ativo (caixa ou banco). Para as empresas que pagam até o 5º dia útil do mês subsequente, no mês de incorrência da despesa, debita-se a despesa e credita-se um passivo (uma obrigação presente) de salários a pagar, para ser pago no mês subsequente. Outro ponto a destacar das receitas e despesas é que elas não podem estar relacionadas com transações com os proprietários. Uma integralização de capital, por exemplo, aumenta o ativo da empresa e aumenta o PL, mas não é uma receita porque a transação está relacionada com os sócios. É esta particularidade que segrega as contas de reserva de capital para as reservas de lucro e prejuízo acumulado. Por exemplo, o ágio na emissão de ações (quando uma empresa emite novas ações no mercado e as vende por um valor superior ao nominal) aumenta o PL e aumenta o ativo. Observa-se que a princípio o efeito observado bate com o conceito de receita, mas não é uma receita porque a transação foi realizada com sócios (quem compra ações da empresa se torna proprietário). Dessa forma, a compreensão das receitas e despesas auxiliam na apuração do resultado e na realização da DRE. Nos dias atuais, a DRE basicamente possui duas estruturas. Uma baseada na Lei 6.404/76, que é muito utilizada até mesmo para as pequenas e médias empresas. Outra baseada nas normas brasileiras e internacionais. Observe a estrutura geral da DRE da norma e da lei. Contabilidade Geral 37 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 15: DRE de Acordo com a NBC TG 26 Fonte: Autoria Própria Figura 16:
Compartilhar