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No Entrelaçar dos Fios de Cipó A construção e reconstrução das identidades culturais no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá

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Prévia do material em texto

INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ 
 
MARILIZE ALIPIO DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NO ENTRELAÇAR DOS FIOS DE CIPÓ: A CONSTRUÇÃO E 
RECONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES CULTURAIS NO MERCADO 
MUNICIPAL DO ARTESANATO DE PARANAGUÁ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARANAGUÁ 
2022 
 
 
MARILIZE ALIPIO DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NO ENTRELAÇAR DOS FIOS DE CIPÓ: A CONSTRUÇÃO E 
RECONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES CULTURAIS NO MERCADO 
MUNICIPAL DO ARTESANATO DE PARANAGUÁ 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso Superior de Licenciatura em Ciências Sociais, 
do Instituto Federal do Paraná – IFPR – Campus 
Paranaguá, como requisito parcial para obtenção do 
título de Licenciada em Ciências Sociais. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Patricia Martins 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARANAGUÁ 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico o presente trabalho a minha família, 
em especial à minha mãe, que foi a minha 
maior inspiração. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Primeiramente agradeço a Deus, por estar comigo em todos os momentos, me mantendo 
forte e corajosa, sem me apavorar e nem desanimar. 
Agradeço a minha família, pelo apoio e compreensão nos momentos que eu não pude 
estar presente. 
Agradeço as minhas amigas, amigos e colegas de turma, que tornaram mais leves todas 
as angústias sentidas durante os anos de graduação, bem como o apoio durante a pandemia de 
Covid-19, principalmente psicológico. 
Agradeço às professoras e professores, que me incentivaram, que acreditaram que seria 
possível concluir o curso, mesmo quando nem eu acreditava e também ofereceram apoio nos 
momentos críticos. 
Agradeço à minha orientadora, que contribuiu para que esse trabalho saísse do projeto 
e se tornasse efetivamente uma pesquisa. 
Agradeço a Capes, por me permitir fazer parte do Programa de Iniciação à Docência 
(PIBID) e o Programa Residência Pedagógica, o que proporcionou momentos de observações 
e regências das aulas, podendo assim participar do cotidiano escolar ainda na graduação, o que 
contribuiu para eu seguir em busca da conclusão da licenciatura. 
Agradeço ao Instituto Federal do Paraná – Campus Paranaguá, por ter me contemplado 
com o Programa de Assistência Estudantil (Pace), o que proporcionou custeio de parte das 
despesas com transporte e alimentação. 
Também quero agradecer a todas as artesãs e artesãos que contribuem para construção 
e reconstrução das Identidades Culturais, em especial as artesãs do Mercado Municipal do 
Artesanato de Paranaguá, que aderiram a ideia da presente pesquisa, o que me permitiu 
conhecer a fundo o universo das cestarias de cipó e seus significados. 
Em suma, agradeço todas essas interações, aprendizados e trocas de conhecimentos ao 
longo desse período, pois contribuíram para transformações na minha própria identidade e 
resultaram na permanência e o êxito de concluir o curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTOS, Marilize Alipio. No entrelaçar dos fios de cipó: A construção e reconstrução das 
identidades culturais no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá. 2022. Trabalho de 
conclusão de curso de graduação em Licenciatura em Ciências Sociais, Instituto Federal do 
Paraná, Campus Paranaguá – IFPR, 2022. 
 
 
RESUMO 
 
A abordagem da presente pesquisa ocorre sobre a formação das identidades culturais, através 
da realização da atividade artesanal frente ao mundo globalizado. Propõe-se analisar como as 
cestarias de cipó, expostas e comercializadas no Mercado Municipal do Artesanato de 
Paranaguá, estão relacionadas com a construção e reconstrução das identidades culturais. A 
discussão será feita a partir da análise do que se define como sendo atividade artesanal e 
artesanato, construção e reconstrução das identidades culturais, incluindo os processos de 
transformações das cestarias de cipó frente ao mundo globalizado. Para alcançar os objetivos 
propostos, a pesquisa adotou como metodologia a pesquisa bibliográfica, pesquisa documental 
e pesquisa qualitativa. Para tal, foi analisado o que se compreende como sendo a atividade 
artesanal e artesanato, incluso nessa abordagem as questões de envolvimento da relação das 
cestarias, e definido o processo de construção e reconstrução das identidades culturais, através 
das cestarias de cipó, para ir de encontro com o que as próprias artesãs narram sobre suas 
categorias nativas. Busca-se responder a seguinte indagação: como se dá a construção das 
identidades culturais através das cestarias de cipó frente ao mundo globalizado? Os resultados 
demonstram que objetos feitos artesanalmente trazem consigo a criatividade artesãs e artesãos, 
a influência do meio social e período histórico que ele está inserido e a herança dos povos que 
constituem a cultura. E, as cestarias de cipó como sendo o produto da atividade artesanal, 
constitui-se como representação da identidade cultural. Concluiu-se até aqui que, as identidades 
culturais se constroem e se reconstroem através das cestarias de cipó frente ao mundo 
globalizado, quando artesãs e artesãos interagem com diferentes culturas e grupos, e 
interiorizam alguns de seus elementos, e dão sentido a essas mudanças. E, as expressam através 
das cestarias de cipó, os quais são compartilhados pelo grupo, sendo esse o motivo que os 
mantém unidos enquanto grupo e com uma identidade própria. Diante disso, as transformações 
que as cestarias de cipó passam frente ao mundo globalizado, atendem ao período histórico e 
ao contexto social que estão inseridas, pois, assim como as culturas, as identidades culturais 
não são algo que está cristalizado no tempo, mas sim em constante transformação diante das 
interações, e sendo elas suas representações, também acompanham essas transformações, caso 
contrário perderiam seu significado. 
 
Palavras-chave: Caiçara; Cestarias; Cipozeiras; Cultural; Identidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1 Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá .................................................... 10 
Figura 2 Mãe do cipó Imbé na copa da árvore ....................................................................... 21 
Figura 3 Artesã Suely Alípio fazendo a seleção dos fios de cipó Imbé ................................. 21 
Figura 4 Artesãs Fátima Rocha e Suely Alípio extraindo os fios de cipó Imbé ..................... 22 
Figura 5 Artesãs com os fios de cipó Imbé prontos para serem transportados ...................... 23 
Figura 6 Cestinhas, chapeuzinho e lequinhos com cipó Imbé beneficiado ............................ 24 
Figura 7 Artesãs Suely Alípio e Fátima Rocha retirando a casca externa que envolve o fio de 
cipó Imbé .................................................................................................................................. 25 
Figura 8 Artesã Suely Alípio passando o cipó Imbé na raspadeira ........................................ 26 
Figura 9 Balaio, cesta e vaso de cipó Imbé com casca ........................................................... 28 
Figura 10 Cestarias de cipó Imbé expostas no Mercado Municipal do Artesanato de 
Paranaguá.................................................................................................................................. 29 
Figura 11 Artesã Fátima Rocha tecendo um cesto com fundo de madeira ............................ 43 
Figura 12 Cestaria de cipó Imbé com acabamento em verniz ................................................ 44 
Figura 13 Cestarias em cipó Imbé sem verniz ........................................................................ 45 
Figura 14 Samburá de cipó Imbé ............................................................................................ 45 
Figura 15 Bolsa confeccionada com base decipó e alças de fio industrializado ................... 46 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
BCA Base Conceitual do Artesanato Brasileiro 
CNA Comissão Nacional do Artesanato 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística 
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
MAE Museu de Arqueologia e Etnologia 
PAB Programa do Artesanato Brasileiro 
SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural 
SICAB Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro 
UFMA Universidade Federal do Maranhão 
UFPR Universidade Federal do Paraná 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8 
CAPÍTULO 1: ATIVIDADE ARTESANAL E ARTESANATO ...................................... 13 
1.1 SABERES ARTESANAIS NA CONFECÇÃO DE CESTARIAS DE CIPÓ................ 16 
1.2 USO DA MATÉRIA-PRIMA E A RELAÇÃO COM O AMBIENTE .......................... 18 
1.3 BENEFICIAMENTO DA MATÉRIA-PRIMA ............................................................. 23 
1.4 CONFECÇÃO DAS CESTARIAS DE CIPÓ ................................................................ 27 
1.5 COMERCIALIZAÇÃO DAS CESTARIAS DE CIPÓ .................................................. 28 
CAPÍTULO 2: CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES CULTURAIS ............................ 30 
2.1 CULTURA ...................................................................................................................... 30 
2.2 IDENTIDADE ................................................................................................................ 36 
2.3 IDENTIDADE CULTURAL .......................................................................................... 38 
CAPÍTULO 3: TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO GLOBALIZADO ....................... 40 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 47 
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 49 
ANEXO I - QUESTIONÁRIO .............................................................................................. 52 
ANEXO II - ROTEIRO DE ENTREVISTA GRAVADAS EM ÁUDIO .......................... 53 
 
 
 
8 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Objetos feitos a mão sempre estiveram presentes na minha vida, matérias-primas e 
objetos artesanais, ainda se misturam com os móveis da casa. Minha mãe Suely Alipio e sua 
amiga Fátima Rocha, exercem a atividade artesanal há cerca de vinte anos, na confecção de 
cestarias de cipó, as quais elas expõem e comercializam no Mercado Municipal do Artesanato 
de Paranaguá. E, por quinze anos, também tive como fonte de renda os trabalhos manuais. 
Mesmo tendo essa certa familiaridade com a atividade artesanal e com o Mercado Municipal 
do Artesanato, nunca os tinha visto com um olhar de pesquisadora. 
O tema da presente pesquisa, surgiu no primeiro ano da graduação, após uma aula da 
disciplina de Antropologia, ministrada pela professora Francieli Lisboa Almeida, a qual se 
constituiu em uma saída à campo, com uma visita guiada ao Museu de Arqueologia e Etnologia 
(MAE – UFPR)1. O museu estava com diversas exposições, dentre elas uma exposição de longa 
duração, intitulada como: “Assim vivem os homens”. Nessa exposição, vi expostos objetos 
artesanais, os quais alguns eram iguais aos que minha mãe e sua amiga produzem e 
comercializam no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá. Diante disso, fui em busca 
de descobrir a origem de tais objetos. Assim, no guia da exposição, que é distribuído na entrada 
do museu, pude consultar a origem dos objetos que compõem o acervo dessa exposição. E, 
descobri que o acervo é composto por objetos que representam a cultura popular, onde a 
utilização destes objetos ocorrem na pesca e no cotidiano dos caiçaras de São Paulo e 
principalmente do litoral do Paraná. Nesse contexto, decidi que o meu objeto de pesquisa seria 
as cestarias de cipó, pois, indaguei-me sobre qual era a relação que as cestarias de cipó, que são 
comercializadas no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá têm com a cultura local. 
E, daquele dia em diante, comecei a trabalhar na presente pesquisa. 
A presente pesquisa intitula-se como: “No Entrelaçar dos Fios de Cipó: A Construção e 
Reconstrução das Identidades Culturais no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá” e 
ocorre sobre a análise da formação das identidades culturais através do trabalho artesanal frente 
ao mundo globalizado. 
 Com esse contexto, busca-se responder a seguinte indagação: como se dá a construção 
e reconstrução das identidades culturais através das cestarias de cipó frente ao mundo 
globalizado? 
 
1 Museu de Arqueologia e Etnologia, gerido pela Universidade Federal do Paraná. 
9 
 
 
Diante dessa indagação, a realização da presente pesquisa justifica-se por diferentes 
motivos, sendo eles: Mesmo diante do fato de que a partir do século XX, muitos objetos 
utilizados para atender as necessidades cotidianas deixaram de ser produzidos de modo 
artesanal, por povos nativos das localidades, e passaram a ser feitos por máquinas, dentro das 
indústrias. E, que esse novo modo de produzir objetos tenha impactado a vida cotidiana. E, que 
esse novo modo de produzir tenha se intensificado com a expansão em escala mundial da 
industrialização dos produtos, devido a globalização, que de acordo com Giddens (1991, 60), 
pode ser compreendida como a “intensificação das relações sociais em escala mundial, que 
ligam localidades distantes”. As artesãs e artesãos continuam confeccionando objetos 
artesanais, os quais se fazem presentes na sociedade contemporânea. Um exemplo dessa 
afirmativa, são os objetos artesanais que continuam sendo confeccionadas e expostos para 
comercialização no município de Paranaguá, no Mercado Municipal do Artesanato. 
O município de Paranaguá está localizado na região litorânea do Estado do Paraná, sua 
fundação é datada no ano de 1648, quando o Estado do Paraná ainda não era emancipado do 
Estado de São Paulo. É o município mais antigo do Estado, sendo considerado como a mãe do 
Paraná. O Mercado Municipal do Artesanato (lócus desta pesquisa) ilustrado na figura 1, está 
localizado no Centro Histórico do município, às margens do rio Itiberê. Sua construção é datada 
em 1914. Seu prédio, assim como os que lhe rodeiam, foi tombado como Patrimônio Cultural 
Brasileiro em 2009, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)2, pois 
apresenta características arquitetônicas de construções históricas do século XVIII e XIX. Sua 
primeira funcionalidade foi como Mercado do Peixe, onde seu funcionamento ocorria durante 
a madrugada e atendia como escoamento do produto da pesca dos pescadores artesanais locais. 
Posteriormente o prédio foi restaurado, e em 1983 passou então a ser utilizado como Mercado 
Municipal do Artesanato. 
 
 
 
 
2 O IPHAN foi criado em 13 de janeiro de 1937, por meio da Lei nº 378, é uma autarquia federal vinculada ao 
Ministério do Turismo que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Cabe ao Iphan proteger 
e promover os bens culturais do país, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras. 
(IPHAN 2022) 
10 
 
 
Figura 1 Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá 
Fonte: (IPHAN 2022) 
 
Segundo a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Paranaguá, que é responsável 
pela gestão do Mercado Municipal do Artesanato, atualmente esse imóvel é dividido em nove 
espaços, os quais são ocupados por artesãos e artesãs locais, que trazem em seusobjetos a 
representação da cultura parnanguara, pois, são confeccionados com técnicas ancestrais de 
povos e comunidades tradicionais que contribuíram para o povoamento do município. 
 Nesse sentido, a presente pesquisa também se justifica por poder contribuir como 
material de divulgação desse espaço, e seus objetos que são produzidos de modo artesanal, 
difundir sua importância cultural; servir como material didático, para que docentes discutam 
em suas aulas as identidades culturais locais; cumprir com o que sugere a Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional (LDB)3, em seu Art. 43, inciso IV, sobre a finalidade da educação 
superior, que é “promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações 
ou de outras formas de comunicação” (BRASIL 1996). Bem como, contribuir para o 
desenvolvimento de novas pesquisas sobre a temática. 
Como objetivo geral, a pesquisa propõe-se analisar: como as cestarias de cipó expostas 
e comercializadas no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá estão relacionadas com 
a construção e reconstrução das identidades culturais. Para isso, foi preciso traçar os seguintes 
objetivos específicos, sendo eles: analisar o que se define como sendo atividade artesanal e 
artesanato; discutir como ocorre a construção e reconstrução das identidades culturais através 
 
3 LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sancionada através da Lei n° 9.394/1996. (BRASIL 
1996) 
11 
 
 
das cestarias de cipó e compreender os processos de transformação das identidades culturais e 
suas representações frente ao mundo globalizado. 
Para alcançar os objetivos propostos, em um primeiro momento a presente pesquisa 
adotou como metodologia a pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. Para tal, foi 
analisado o que se compreende como sendo a atividade artesanal e artesanato, incluso nessa 
abordagem as questões de envolvimento da relação das cestarias e definido o processo de 
construção e reconstrução das identidades culturais frente ao mundo globalizado, para ir de 
encontro com que as próprias artesãs nos dizem sobre suas categorias nativas. 
Em um segundo momento, a pesquisa adotou como metodologia a pesquisa qualitativa, 
com observação participante e entrevistas semiestruturadas com questões em aberto. Elegeu-se 
para a pesquisa um dos espaços do Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá, que é 
ocupado há cerca de dezessete anos pelas duas artesãs, Fátima Rocha de 67 anos e Suely Alipio4 
de 68 anos, que expõem e comercializam cestarias de cipó. Para conhecer e fazer o 
levantamento das cestarias de cipó que são comercializadas no local, foram aplicados 
questionários, (Anexo I) e foram realizados registros fotográficos. 
Em um terceiro momento, foi feita uma pesquisa de campo, realizada em 8 de março de 
2022, no distrito de Alexandra5, local esse que as interlocutoras da presente pesquisa extraem 
a matéria-prima. Para tal, foi realizada observação participante, desde a extração da matéria-
prima até a transformação em produto acabado para a comercialização, registros fotográficos 
dos processos e entrevistas semiestruturadas (Anexo II) gravadas em áudio, onde as artesãs 
puderam narrar suas experiências, dificuldades enfrentadas para obter a matéria-prima e as 
diversas técnicas que são aplicadas em seu saber nativo. 
 Posteriormente, fez-se o desenvolvimento da pesquisa, com o tratamento dos dados, 
análise dos questionários aplicados e entrevistas feitas, revisão das fontes de fundamentação 
teórica, transcrição das narrativas, escolha das fotos que documentam a presente pesquisa – 
nesse ponto, vale ressaltar que as fotos foram escolhidas conjuntamente com as artesãs, para 
 
4 Representante dos cipozeiros e cipozeiras do Paraná, na composição 2021/2023, junto ao Conselho Estadual de 
Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais do Estado do Paraná, que foi instituído pela Lei 17.425/2012, de 18 
de dezembro de 2012, que “tem por finalidade possibilitar a participação popular nas discussões e auxílio na 
implementação e fiscalização das políticas públicas para o desenvolvimento sustentável dos povos indígenas e 
comunidades tradicionais que se utilizem da autodefinição ou autoatribuição” (PARANÁ 2012) 
 
5 Alexandra é um distrito localizado no litoral do Paraná, pertencente à cidade de Paranaguá. (PARANAGUÁ 
2022) 
12 
 
 
que melhor representassem o seu saber fazer –, e pôr fim fez-se às considerações finais da 
presente pesquisa. 
 O texto organiza-se em três capítulos e considerações finais, construídos a partir de 
fundamentação teórica, análise documental, observação participante, registros fotográficos e 
narrativas das artesãs. 
O primeiro capítulo intitula-se como: “Atividade Artesanal e Artesanato”. Neste 
primeiro capítulo analisa-se o que se compreende como sendo a atividade artesanal e artesanato, 
seus produtores, suas categorias, seu produto e sua importância para a construção e reconstrução 
das identidades culturais. Para tal, utiliza-se das perspectivas e conceituações de diferentes 
autores, como por exemplo: Paulo Keller, Ricardo Lima, Néstor Canclini e Antonio Carlos 
Diegues. 
O segundo capítulo intitula-se como: “Construção das Identidades Culturais". Com esse 
capítulo responde-se o seguinte questionamento: como se dá a construção da identidade cultural 
através das cestarias de cipó? Para isso, parte-se de algumas definições do que se conceitua 
como sendo Cultura, Identidade e por fim Identidade cultural. Para tal, faz-se um compilado 
conceitual de diferentes autores, como por exemplo: Stuart Hall, Marilena Chauí, Antonio 
Arantes, Roque Laraia e Anthony Giddens. 
O terceiro capítulo intitula-se como: “Transformações do mundo globalizado”. Nesse 
último capítulo, compreende-se os processos de transformação das identidades culturais e suas 
representações frente ao mundo globalizado. Para tal, utilizou-se das contribuições dos autores 
Stuart Hall, Anthony Giddens e Antonio Carlos Diegues. 
E por fim, apresenta-se as considerações finais a respeito dos resultados da presente 
pesquisa. 
13 
 
 
CAPÍTULO 1: ATIVIDADE ARTESANAL E ARTESANATO 
 
 Inicialmente, na presente pesquisa, objetiva-se esclarecer conceitos iniciais acerca do 
tema. Com foco nisso, este primeiro capítulo busca analisar o que se compreende como sendo 
a atividade artesanal e artesanato, seus produtores, suas categorias, seu produto e sua 
importância para a construção e reconstrução das identidades culturais. O capítulo é construído 
a partir de fundamentação teórica, observação participante, registros fotográficos e narrativas 
das artesãs, que produzem de modo artesanal cestarias de cipó e as comercializam no Mercado 
Municipal do Artesanato de Paranaguá. Partindo desses pontos, será possível avançar nas 
próximas discussões acerca do tema que se sucedem nos próximos capítulos. 
A atividade artesanal se faz presente no processo histórico percorrido pela humanidade, 
é um fenômeno social, que remete tanto à tradição quanto à contemporaneidade, é uma das mais 
importantes da indústria criativa. Sua história no mundo teve seu início junto com a própria 
história do homem, surgindo da necessidade de se produzir bens de utilidades e de uso rotineiro. 
Diante disso, os produtos resultantes dessa atividade artesanal são o que hoje se conceitua como 
sendo artesanato. 
Lima (2011), em uma entrevista concedida ao professor Dr. Paulo Keller, do 
Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA6, no Museu de Folclore Edison 
Carneiro7, reforçou essa afirmativa, defendendo que tudo que é feito pelas mãos sem o auxílio 
de máquinas, é definido como sendo artesanato, sendo essa oposição que difere do produto 
industrial. E ressaltouque, o artesanato surgiu da necessidade de se produzir bens de utilidades 
e de uso rotineiro. Sua história teve início no mundo com a própria história do homem. Toda a 
antiguidade foi assim construída, pois por um longo período de tempo esse foi o único modo 
de se confeccionar objetos. Até a Revolução Industrial, tudo que já foi produzido pela 
humanidade foi feito à mão. Através do artesanato, o homem se satisfaz e ainda satisfaz 
demandas essenciais do seu meio social e econômico. E essa criação, expressa a capacidade 
criativa e produtiva do homem como forma de trabalho. 
Nesse sentido, Canclini (1983), enfatiza que na trajetória que o artesanato percorre 
desde sua produção até sua circulação e consumo, estão presentes diversas dimensões, as quais 
 
6 Universidade Federal do Maranhão. 
 
7 O Museu de Folclore Edison Carneiro, criado em 1968, soma hoje cerca de 17 mil objetos, que alimentam a 
exposição de longa duração, Os objetos e suas narrativas (no momento fechada para reforma em seu espaço), e as 
exposições temporárias da Galeria Mestre Vitalino. (IPHAN 2022) 
14 
 
 
suas funções podem ser examinadas. Tais como: “função econômica dos fatos culturais: serem 
instrumentos para a reprodução social; a função política: lutar pela hegemonia; as funções 
psicossociais: construir o consenso e a identidade”. (CANCLINI 1983) 
Diante disso, no Brasil, cada região possui seu artesanato típico e de acordo com a vida 
de suas comunidades locais, isso se dá ao fato do país possuir uma grande extensão territorial e 
ser heterogêneo, o qual proporciona múltiplas manifestações culturais. Segundo Gomes (2021), 
a origem do artesanato no Brasil “sempre esteve ligada à subsistência das tradições, fato muito 
importante para a consolidação de uma identidade cultural” (GOMES 2021). E as cestarias 
seriam uma das primeiras manifestações artesanais no Brasil produzidas primeiramente pelos 
povos indígenas. 
A partir disso, na contemporaneidade a atividade artesanal de confecção de cestarias, 
além de continuar sendo confeccionadas pelas comunidades indígenas, também é desenvolvida 
pelas artesãs e artesãos, que trazem esse saber fazer artesanal dessa herança cultural tradicional. 
Nesse sentido Keller (2019), define o que se entende por artesão ou artesã: “O artesão ou artesã 
pode entender-se como uma categoria cultural e de caráter simbólico, pois é definida desde as 
narrações tradicionais e locais. ” (KELLER 2019) 
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), 
no ano de 2019 haviam cerca de 10 milhões de pessoas exercendo a atividade artesanal no 
Brasil. Diante desse fato, vale ressaltar que o país sempre teve uma grande quantidade de 
trabalhadores identificados como artesãs e artesãos. Mas, somente em 1991, foram criadas 
algumas políticas públicas para que atendesse suas demandas. Uma das políticas públicas 
desenvolvidas para atender parte de suas demandas, foi o Programa do Artesanato Brasileiro 
(PAB)8. Criado em 1991, e ativo desde então, o programa tem como objetivo promover medidas 
que valorizem o trabalho das artesãs e artesãos. 
Nesse sentido, embora o PAB tenha atendido parte das demandas das artesãs e artesãos, 
a atividade artesanal ainda não era reconhecida como profissão. Esse fato ocorreu somente no 
ano de 2015, quando a então presidenta da República Dilma Rousseff sancionou a Lei n° 
13.180, de 22 de outubro de 2015. Em seu Art. 1° parágrafo único, consta a descrição do que 
se presume como sendo a profissão do artesão: 
 
A profissão de artesão presume o exercício de atividade predominantemente manual, 
que pode contar com o auxílio de ferramentas e outros equipamentos, desde que visem 
 
8 Programa do Artesanato Brasileiro. O programa foi criado vinte e um de março de 1991, com o objetivo de 
coordenar e desenvolver atividades que vissem a valorização do artesão brasileiro. (BRASIL 2015) 
15 
 
 
a assegurar qualidade, segurança e, quando couber, observâncias às normas oficiais 
aplicáveis ao produto. (BRASIL 2015) 
 
Como visto anteriormente, no ano de 2019 haviam cerca de 10 milhões de pessoas 
exercendo a atividade artesanal no país. Mas, após consulta ao banco de dados do Sistema de 
Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB), para se verificar a quantidade de 
pessoas atendidas pelo reconhecimento da profissão, foi constatado que destes, somente cerca 
de 170 mil estavam cadastrados. Diante desse fato, é possível concluir que, apesar da 
regulamentação da profissão de artesão, estabelecida pela Lei n° 13.180 de 2015, a maioria 
desses trabalhadores permanece na informalidade. 
Nesse contexto, no ano 2018, a fim de reparar algumas lacunas do PAB, é então incluída 
ao PAB a Comissão Nacional do Artesanato (CNA), que dispôs sobre a Base Conceitual do 
Artesanato Brasileiro (BCA), através da portaria n° 1.007-SEI, de 11 de junho de 2018. Em seu 
capítulo III, seção I, Art. 8°, é atualizado o que se compreende como sendo artesão: 
 
É considerado artesão toda pessoa física que, individualmente ou coletivamente, 
utiliza uma ou mais técnicas no exercício de um trabalho que seja predominantemente 
manual, que domine integralmente os processos e as técnicas, transformando matéria-
prima em produto acabado que expressam identidades culturais brasileiras. (BRASIL 
2018) 
 
Diante da nova Base Conceitual do Artesanato Brasileiro, que foi instaurada, também 
foram definidos o que se presume como sendo artesanato, suas classificações e finalidades. 
Assim, o que se presume como sendo artesanato passa a ser compreendido como: “todo produto 
resultante da transformação de matéria-prima em estado natural, em produto pronto, através da 
utilização de técnicas de produção artesanal que expressem a criatividade, identidade cultural, 
habilidade e qualidade” (BRASIL 2018). 
A classificação do artesanato passou a ser dividida conforme sua origem. Assim o 
artesanato agora é dividido em: Artesanato Tradicional; Arte Popular; Artesanato Indígena; 
Artesanato Quilombola; Artesanato de Referência Cultural e Artesanato Contemporâneo 
Conceitual. 
O produto resultante do artesanato, também passou a ser classificado conforme sua 
finalidade. Sendo assim, agora o produtor artesanal pode dividir sua produção em: objetos para 
adorno; objetos decorativos; objetos educativos; objetos lúdicos; objetos religiosos/místicos; 
objetos profanos; objetos utilitários e objetos para lembranças/ souvenires, que representam 
uma região ou uma manifestação cultural. 
16 
 
 
 A partir do que foi analisado até aqui, conclui-se que: a confecção das cestarias de cipó, 
configuram-se como sendo uma atividade artesanal, pois são confeccionadas de modo 
predominantemente manual e são classificadas como um produto dessa atividade, sendo então 
um artesanato. Os quais são desenvolvidos por artesãs que transformam a matéria-prima (cipó) 
em produto pronto (cestarias), com uso exclusivo das mãos ou com ajuda de pequenas 
ferramentas em sua execução. 
Diante do que exposto até aqui, parte-se para a próxima seção do presente capítulo. O 
qual se analisará em qual classificação de origem as cestarias se enquadram, e definirá em quais 
dessas categorias as cestarias de cipó, expostas e comercializadas no mercado Municipal de 
Paranaguá, estão alinhadas. 
 
1.1 SABERES ARTESANAIS NA CONFECÇÃO DE CESTARIAS DE CIPÓ 
 
 No Brasil, os saberes artesanais de confecção de cestarias de cipó que hoje é 
desenvolvido por artesãs e artesãos, tem sua origem no conhecimento ancestral indígena, pois, 
diante da miscigenação ocasionada pela colonização, esse conhecimento foi difundido entre os 
povos e comunidades tradicionais, sendo passado de geração em geração desde então. Esse 
conhecimento geralmente era transmitido dentro do próprio seio familiar.Por sua vez, as artesãs que confeccionam as cestarias de cipó, narram que não 
aprenderam seu saber fazer artesanal dentro do seio familiar, mas sim, através de curso 
ministrado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR)9 e através de uma amiga 
cipozeira da própria comunidade caiçara. 
Segundo a artesã Fátima Rocha, como ela possui em sua propriedade uma abundância 
de matéria-prima, ela buscou uma alternativa de poder aproveitar esses recursos naturais, e 
nessa busca amigos indicaram o SENAR. O SENAR então trouxe em sua propriedade uma 
professora, que possui o conhecimento de trabalhar com fibras naturais. As artesãs fizeram o 
curso, e aprenderam diversas técnicas, que vão desde a extração da matéria-prima até o processo 
de comercialização. Porém, segundo elas, o conhecimento mais significativo foi passado por 
uma amiga, que traz esse conhecimento artesanal ancestral de sua família, que vêm sendo 
 
9 Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, criado pela Lei n° 8.315, de 23/12/1991, com a finalidade de formar 
profissionais e a promoção social do homem do campo. (BRASIL 1991) 
 
17 
 
 
passado de geração em geração, onde sua mãe, sua avó e todas as gerações passadas possuíam, 
pois, aprenderem através da oralidade e observação no seu cotidiano dentro da comunidade 
tradicional10 caiçara. 
Diante disso, é importante ressaltar que o município de Paranaguá começou seu 
povoamento a partir do que se compreende como sendo a comunidade caiçara, que de acordo 
com Diegues (2004), apresenta formação a partir da miscigenação entre os indígenas, os 
portugueses e os africanos. O autor descreve que o território que é considerado como sendo 
caiçara, está localizado no espaço litorâneo entre o sul do Rio de Janeiro e o Paraná, onde seu 
povoamento originou-se no período dos grandes ciclos econômicos litorâneos do período 
colonial, e se fortaleceram com a decadência das atividades relacionadas a agricultura. E, que 
atualmente a maioria das áreas que são compreendidas como sendo caiçaras, passaram a ter 
como principal atividade econômica a pesca, o turismo, os serviços e o artesanato, sendo esse 
fator responsável pelas mudanças no modo de vida caiçara. Nesse sentido, Diegues salienta 
como podemos compreender o que seria esse modo de vida caiçara: 
 
[...] modo de vida caiçara, entendido como a forma pela qual as comunidades praianas 
ou praieiras do Sudoeste organizam a produção material, as relações sociais e 
simbólicas dentro de um determinado contexto espacial e cultural. A produção 
material e não material da vida não são espaços separados, mas combinam-se para 
produzir seu modo de vida. (DIEGUES 2004, 22) 
 
Nesse contexto, de acordo com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de 
Paranaguá e a classificação da Base Conceitual do Artesanato Brasileiro, as cestarias de cipó 
estão enquadradas no que se compreende como sendo Artesanato Tradicional, pois são 
confeccionadas a partir de técnicas que são transmitidas de geração em geração por 
comunidades tradicionais11, preservando a memória cultural da comunidade. 
Assim, considera-se que as artesãs possuem o conhecimento do saber fazer artesanal 
tradicional, esse, o qual vêm sendo passado de geração em geração dentro das comunidades 
 
10 [...] O fato de não utilizarem a escrita, de serem sociedades em que o conhecimento é gerado e transmitido pela 
oralidade através de um linguajar particular; conhecerem ciclos naturais e dependerem deles para sua 
sobrevivência; de viverem em pequenos aglomerados com atividades organizadas no interior de unidades 
familiares, em que as técnicas têm baixo impacto sobre a natureza, fazem que as comunidades caiçaras possam ser 
definidas como “tradicionais”. (DIEGUES 2004, 22) 
 
11 A partir do decreto N° 6.040, de 7 de fevereiro de 2007 que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento 
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais: “compreende-se como sendo povos e comunidades 
tradicionais os seguintes grupos: Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem 
formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para 
reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas 
gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL 2007) 
18 
 
 
tradicionais caiçaras e os utilizam para confeccionar as cestarias de cipó que elas 
comercializam, que agora são tradicionais e contemporâneos, pois estão imersos em tramas de 
relações sociais e econômicas na sociedade contemporânea, assim como remete a saberes 
artesanais tradicionais na forma de confeccionar as cestarias. 
Mas, antes de estarem prontas para a comercialização, as cestarias em cipó percorrem 
um longo caminho, o qual demanda uma enorme gama de conhecimento e de técnicas, que são 
desenvolvidas em várias etapas. Na presente pesquisa, foram acompanhadas através de 
observação participante essas etapas, as quais serão apresentadas nas seções seguintes deste 
capítulo. Começando pela extração da matéria-prima, passando pelo processo de 
beneficiamento da matéria-prima, depois pelas técnicas utilizadas na confecção das cestarias e 
pôr fim, à etapa de comercialização das cestarias de cipó. 
 
1.2 USO DA MATÉRIA-PRIMA E A RELAÇÃO COM O AMBIENTE 
 
Áreas que antes eram repletas de florestas, ricas em fauna e flora, hoje encontram-se 
degradadas, devido a desmatamentos, queimadas, avanço de pastos, plantações de monocultura 
e especulação imobiliária. A partir disso, os locais utilizados para extração de matéria-prima, 
os quais artesãos e artesãs utilizam para seu fazer artesanal, está cada dia mais escasso. Diante 
de tal fato, com as várias espécies de cipó, que são utilizados como matéria-prima na atividade 
artesanal de confecção das cestarias, não é diferente. 
Nesse contexto, o cipó Imbé (Philodendron corcovadense Kunth), o qual as artesãs do 
Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá, utilizam como matéria-prima na confecção de 
seu saber fazer artesanal, é extraído dentro da propriedade privada12 da artesã Fátima Rocha, 
pois ali ainda encontram-se em abundância. Como a artesã Fátima Rocha afirma: 
 
As matérias-primas são abundantes onde a gente tira, porque é dentro da minha 
propriedade, mas tem lugares ao redor que não tem mais cipó, foi tudo desmatado, 
tem lugares que sofrem queimadas. Mas, dentro da área que eu e Suely buscamos, 
ainda há riqueza de matérias-primas. (Entrevista concedida à autora em 08/03/ 2022) 
 
 
12 A propriedade privada da Artesã Fátima Rocha, possuí atualmente cerca de 11 alqueires (cerca de 266.200 
m2), desse total, é desmatado somente onde possui sua residência e as residências de seus familiares. (Entrevista 
concedida à autora em 08/03/ 2022) 
 
19 
 
 
Com a pesquisa à campo com observação participante, teve-se a oportunidades de 
acompanhar e registrar todo o processo de extração da matéria-prima dentro dos limites da 
propriedade da artesã Fátima Rocha, que está localizada no distrito de Alexandra13. 
 Sendo assim, chegando em Alexandra na propriedade da artesã Fátima Rocha, observa-
se: que o local está em volto de muita mata, e o local onde é feita a extração dos fios de cipó é 
ao redor da própria residência familiar, onde desde sua varanda possuem presentes algumas 
peças confeccionadas com cipó, demonstrando que seu saber fazer artesanal faz parte de seu 
cotidiano. A extração da matéria-prima é um trabalho coletivo feito por essas duas mulheres, o 
que fortalece o vínculo já existente. E envolvem diversas etapas a serem seguidas pelas artesãs. 
Essas etapas, começam antes mesmo que elas adentrem na mata e efetivem de fato a extração. 
Segundo as artesãs narram, elas só partempara mata fazer a extração da matéria-prima 
na lua minguante e quando possuem uma certa demanda de cestarias. Assim, elas já escolhem 
os fios que serão extraídos conforme a necessidade dessas encomendas. Nesse sentido, a artesã 
Fátima Rocha descreve o primeiro passo a ser seguido por elas: 
 
Primeiro passo para pegar o material é: mentalizar o que eu vou fazer, dentro daquilo 
que eu quero produzir eu vou catar o material para as peças. Por exemplo: no caso 
do cipó, eu quero fazer um cachepô ou um cesto, eu imagino o tamanho do cesto mais 
ou menos, ou a quantidade, aí vou para o mato. (Entrevista concedida à autora em 
08/03/ 2022) 
 
Diante disso, o próximo passo é o preparo com a segurança, pois devido a ser uma área 
de mata preservada, é suscetível a animais que possam ser peçonhentos. As artesãs, narram que 
antes mesmo de começar a trilha para chegada no local da extração do cipó, é preciso colocar 
botas, calça, blusa de manga comprida e passar repelente, pois ali é propício a encontrar animais 
no caminho. A artesã Suely Alípio reforça: 
 
É bom colocar! Eu tenho medo das cobras que podem estar escondidas no meio das 
folhas no caminho, das aranhas e de pegar carrapatos, porque tem disso aqui, a gente 
às vezes acaba voltando do mato com alguns. Mas, estamos na casa deles, então a 
gente só tem que ter cuidado. (Entrevista concedida à autora em 08/03/ 2022) 
 
Após as artesãs estarem vestidas e calçadas adequadamente, para que se evite ao 
máximo acidentes inconvenientes com animais peçonhentos, elas separam os instrumentos 
 
13 De acordo com o (IBGE), Alexandra é um distrito localizado no litoral do Paraná na cidade de Paranaguá e 
primeiramente era nomeado como sendo Rio das Pedras. Através do Decreto-lei Estadual n. º 6.667, de 31/03/1938, 
o distrito de Rio das Pedras tomou o nome de Alexandra. (IBGE 2022) 
 
20 
 
 
utilizados para a extração da matéria-prima. Sendo esses: Facão, foice, bambu comprido com 
uma lâmina na ponta14. 
Sendo assim, com tudo pronto, elas partem para a trilha que leva até o local da extração 
da matéria-prima, que fica a cerca de quinze minutos da residência. Logo no começo da trilha, 
pede-se que as artesãs descrevam, o que sentem ao entrar na mata para fazer a extração da 
matéria-prima para a confecção de seu saber artesanal? Ao se referir a sensação que sente, ao 
entrar na mata para fazer a extração do cipó Imbé, a artesã Suely Alípio descreve como sendo: 
 
 A sensação que eu sinto é que quando eu entro na mata para tirar o cipó, parece que 
estou entrando no céu. Eu sinto que aqui é o meu lugar! Até esqueço das dores e dos 
problemas. Não tem nem como explicar, o ar e cheiro aqui são diferentes. Mesmo 
com os perigos dos bichos nos morderem, eu amo fazer isso! (Entrevista concedida à 
autora em 08/03/ 2022) 
 
A artesã Fátima Rocha descreve sua sensação como sendo: 
 
Eu me sinto em liberdade, livre de qualquer compromisso com outro ser humano, 
livre de qualquer compromisso com a sociedade. De ter que mostrar uma coisa que 
a sociedade cobra da gente, uma postura. Você se solta aqui, não sente esse tipo de 
aprisionamento da sociedade. Eu sinto assim, uma liberdade de alma mesmo! Até o 
cheiro do mato, o ar é diferente. As coisas que a gente vai descobrindo, a gente vai 
se inteirando das coisas que tem, das coisas mínimas, uma flor, de uma semente, de 
um galho, da cor do tronco de uma árvore. São sensações que por mais que você ande 
todo dia no mesmo caminho, todo dia você encontra uma coisa diferente, a natureza 
tem alguma coisa diferente para te mostrar. E cada descoberta é um renovo. É assim! 
Cada vez é uma descoberta diferente, que faz bem tanto para o físico quanto para o 
espiritual. (Entrevista concedida à autora em 08/03/ 2022) 
 
De acordo com a descrição das artesãs, sobre a sensação sentida por elas, é possível 
perceber, que quando elas adentram na mata, para fazer a extração da matéria-prima, elas se 
reconhecem como pertencentes àquele local e aquele fazer que vem sendo repassado na 
comunidade caiçara. 
No percurso até a trilha, deparamos com uma grande árvore, com muitos fios 
pendurados vindos de sua copa. Então, a artesã Fátima Rocha mostra que esses fios pendurados 
são os fios de cipó Imbé, utilizados por elas como matéria-prima, e que lá na copa da árvore, 
está o que elas chamam de mãe do cipó (figura 2), que é de onde partem todos esses fios 
pendurados. 
 
14 Adaptado por elas para atender a necessidade do corte do cipó Imbé nas copas das árvores com grandes alturas. 
(Entrevista concedida à autora) 
 
21 
 
 
Figura 2 Mãe do cipó Imbé na copa da árvore 
Fonte: Marilize A. Santos (2022) 
 
 Segundo as artesãs, só no olhar e no tocar, elas já conseguem distinguir quais estão no 
ponto de serem extraídos (figura 3). Assim a artesã Fátima Rocha afirma: 
 
O cipó tem que estar maduro. A gente já sabe como é que ele está no tocar e no olhar 
para ele, você já sabe quanto ele está maduro, e quando não está. Então tem tudo 
isso, todo esse cuidado para não cortar ele muito novo, porque não vai ter utilidade 
e vai acabar sendo jogado fora. (Entrevista concedida à autora em 08/03/ 2022) 
 
Figura 3 Artesã Suely Alípio fazendo a seleção dos fios de cipó Imbé 
Fonte: Fátima Rocha (2022) 
 
Nessa fala fica exposto o que Diegues (2004) chamou de “manejo tradicional do 
ambiente” e o autor aponta que, as comunidades caiçaras possuem um amplo conhecimento 
22 
 
 
sobre a fauna, flora e os sistemas tradicionais de manejo dos recursos naturais de que dispõem, 
e isso contribui para a conservação da biodiversidade. 
Assim, após essa seleção visualizada na figura 3, elas partem para a extração dos fios 
de cipó. Segundo as artesãs, as técnicas utilizadas para extração dessa matéria-prima são feitas 
de modo sustentável, para que a planta não sofra danos com a retirada dos fios. Para isso, é 
preciso fazer a correta retirada, para que a planta continue produzindo mais fios e não aconteça 
a morte da mãe do cipó Imbé. Sendo assim, as artesãs buscam fazer a extração do cipó Imbé, 
existentes na propriedade, com equilíbrio e de modo que o seu desenvolvimento seja 
sustentável15, utilizando a técnica de corte (figura 4), para que assim não se comprometa as 
gerações futuras. Como Fátima explica: 
 
Eu e a Suely usamos um bambu com uma faca na ponta, ou um gancho afiado na 
ponta, para poder cortar o cipó de maneira sustentável, porque muita gente vai para 
o mato sem equipamento nenhum, porque eles boleiam o cipó, e isso é uma coisa que 
a gente não faz, a gente trabalha de maneira sustentável. Então se você bolear o cipó, 
lá em cima ele vai arrebentar na mãe, e ali não nasce mais nada. E como a gente 
corta com o gancho, onde foi cortado vai nascer mais dois ou três fios num 
determinado período, leva cerca de seis meses a um ano. (Entrevista concedida à 
autora em 08/03/ 2022) 
 
Figura 4 Artesãs Fátima Rocha e Suely Alípio extraindo os fios de cipó Imbé 
Fonte: Marilize A. Santos (2022) 
 
15 De acordo com o decreto n° 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, em seu Art. 3°, o desenvolvimento sustentável é 
o uso dos recursos naturais para que se tenha melhoria na qualidade de vida da geração atual, de modo que garanta 
essa possibilidade para as próximas gerações. (BRASIL 2007) 
23 
 
 
Após a extração, que leva cerca de três horas, esses fios são enrolados para serem 
transportados (figura 5). O transporte é feito nos ombros das próprias artesãs por todo o trajeto 
da trilha até a residência, onde seguirá para as próximas etapas. 
 
Figura 5 Artesãs com os fios de cipó Imbé prontos para serem transportados 
Fonte: Fátima Rocha (2022) 
 
1.3 BENEFICIAMENTO DA MATÉRIA-PRIMA 
 
Logo após os fios de cipó Imbé serem extraídosda mata, e serem transportados até a 
residência, as artesãs fazem a classificação desses fios. O fio é avaliado e classificado por 
espessuras. Assim, as artesãs já separam quais fios seguirão para o processo de beneficiamento 
e quais continuarão em seu estado primitivo. 
A partir disso, para peças mais rústicas e maiores, que suportarão mais pesos e que 
servirão tanto para decoração ou ambientes externos, as artesãs deixam o cipó Imbé em seu 
estado primitivo. Como as artesãs afirmam: 
 
O cipó com casca, geralmente é utilizado para balaio, cesta, cachepô e vaso, porque 
ele é bem mais resistente, aguenta mais peso. Numa luminária na varanda, ela vai 
durar muito mais e continuar bonita, ao contrário de uma sem casca que vai 
embolorar, vai ficar feio, vai estragar bem mais rápido. Então o cipó com casca ele 
pode ser utilizado para peças que ficam na parte externa das casas e podem ser 
lavados. (Entrevista concedida à autora em 08/03/2022) 
24 
 
 
 
Já para peças um pouco menores, mais finas ou para artigos delicados e que não 
suportam grandes pesos (figura 6), o cipó Imbé passa pelo processo de beneficiamento do fio. 
 
Figura 6 Cestinhas, chapeuzinho e lequinhos com cipó Imbé beneficiado 
Fonte: Marilize A. Santos (2022) 
 
A fim de executarem por completo o processo de beneficiamento dos fios de cipó Imbé, 
as artesãs necessitam seguir algumas etapas até chegarem ao ponto de tecer as cestarias. 
Assim, a primeira etapa a ser seguida no beneficiamento é a retirada da casca externa 
que envolve os fios de cipó Imbé. Para fazer a retirada dessa casca externa, as artesãs amarram 
o fio de cipó em uma base fixa, que fica na parte externa da residência, e com o auxílio de uma 
pequena faca, faz-se a retirada da ponta desse fio. Posteriormente as artesãs puxam essa casca 
externa que envolve os fios, para que fique só a parte interna desse fio. Como pode ser 
observado na figura 7. 
 
 
25 
 
 
Figura 7 Artesãs Suely Alípio e Fátima Rocha retirando a casca externa que envolve o fio de cipó Imbé 
Fonte: Marilize A. Santos (2022) 
 
A próxima etapa, é desamarrar o fio da base fixa, onde foi feita a retirada da casca 
externa que envolve o fio, para na sequência seguir para a próxima etapa, que as artesãs 
denominam como sendo o processo de partir os fios. No processo de partir, um mesmo fio, 
dependendo de sua espessura, pode ser dividido em cerca de três a quatro fios, o que garante 
um bom rendimento da matéria-prima. 
 Após a retirada da casca externa e o processo de partir, a próxima etapa é levar o fio 
para secar ao sol. É preciso que o cipó seja exposto ao sol por um determinado tempo, pois caso 
contrário ele poderá apresentar fungos e se tornar quebradiço, como afirmam as artesãs: 
 
Quando o sol está bem forte leva umas duas horas para o fio secar. Prá trabalhar se 
for cipó com casca, não tem problema nenhum em não ter sol. Agora no momento que 
você tira a casca, e você raspa ele, ele precisa de sol para ficar clarinho, senão ele 
fica amarelo, aí não fica uma cor bonita para trabalhar e ele cria fungos, embolora 
muito fácil. Agora se ele estiver bem seco, aí não tem problema nenhum, aí ele vai 
ficar bem branquinho, e fica fácil quando você vai trabalhar com ele, só precisa 
umedecer novamente para poder tecer, mas daí, não tem o perigo dele ficar amarelo 
e nem embolorar. (Entrevista concedida à autora em 08/03/2022) 
 
Após a retirada da casca que envolve os fios, ter passado pelo processo de partir e estar 
seco, a próxima etapa é deixar esse fio com a mesma espessura. Para atingir a espessura 
desejada, o fio é passado em um equipamento, o qual é chamado pelas artesãs de raspadeira16, 
 
16 Essa raspadeira é uma espécie de caixa retangular, revestida por uma lata na parte dentro, essa lata possui 
diversos furos com circunferências variadas. (Observação participante) 
26 
 
 
confeccionada pelas próprias artesãs, como descreve a artesã Fátima Rocha: “A raspadeira a 
gente mesmo faz com um retângulo de madeira, com furos e com uma lâmina, uma lata que 
você fura na mesma direção. É fácil de fazer, mas tem quem faça para vender”. (Entrevista 
concedida à autora em 08/03/ 2022) 
De acordo com as artesãs, para que os fios de cipó Imbé suportem serem passados pelo 
processo de beneficiamento, para atingir a espessura desejada, eles precisam ser hidratados, 
para que o fio não acabe se rompendo durante o processo. Como descreve a artesã Suely Alípio: 
 
Fazemos a raspagem para os fios ficarem com a mesma espessura, e eliminar as 
imperfeições e o trabalho ficar mais bonito. Após esses fios serem retirados do sol 
eles precisam ser molhados, para ficarem flexíveis e suportarem passar pelo processo 
de raspagem, pois se for feito com o fio seco, ele acaba arrebentando e perdemos esse 
fio. (Entrevista concedida à autora em 08/03/ 2022) 
 
Para hidratar os fios, as artesãs utilizam um recipiente cheio de água, o qual elas 
submergem esses fios na água por alguns minutos. Posteriormente, o fio é retirado da água e 
passado na raspadeira diversas vezes, até que atinja a espessura desejada (figura 8), concluindo 
assim o processo de beneficiamento do fio de cipó Imbé. 
 
Figura 8 Artesã Suely Alípio passando o cipó Imbé na raspadeira 
Fonte: Marilize A. Santos (2022) 
 
 
27 
 
 
1.4 CONFECÇÃO DAS CESTARIAS DE CIPÓ 
 
Para desenvolver o saber artesanal de confecção das cestarias, as artesãs fazem uso da 
matéria-prima tanto em seu estado primitivo, quanto após o processo de beneficiamento, 
apresentada na seção anterior. E fazem uso de diferentes técnicas. Dentre as técnicas, que são 
utilizadas para confecção das cestarias em cipó Imbé, está a técnica artesanal do trançado17, essa 
técnica tem origem na cultura caiçara, as quais são uma herança do conhecimento da cultura 
indígena que faz parte de sua matriz étnica, o qual foi transmitida através de curso e por uma 
amiga que detêm esse conhecimento ancestral. 
Para execução da técnica do trançado as artesãs fazem uso de poucas ferramentas, sendo 
elas: uma agulha grossa, e uma chave de fendas, que é utilizada para fazer as aberturas onde o 
fio vai passar, por exemplo: para fazer a alça do balaio. Para dar início a atividade artesanal do 
trançado, utilizado na feitura das cestarias, as artesãs primeiramente escolhem os fios que 
possuam espessura semelhante, mas, por conta de os fios de cipó Imbé variarem de 
comprimento, é impossível elas terem precisão de quantos fios serão utilizados para cada peça, 
por isso, somente durante a execução elas saberão quantos fios serão necessários para concluir 
a peça. 
O segundo passo para confecção das cestarias é dar o início ao trançado. Nos balaios, 
cestos e vasos (figura 9), o entrelaçar dos fios de cipó Imbé, tem seu início sempre pelo fundo, 
seguindo posteriormente para as bordas. O fundo das peças é a parte mais importante das 
cestarias, pois essa será a base da peça e o que dará o seu suporte. Diante disso, é necessário 
que esse fundo seja bem construído, para que fique bem estruturado e forte. Como afirma a 
artesã Suely Alípio: 
 
O fundo do cesto tem que ser bem feito, pois, é ali que começa a ser feito o trançado. 
Se lá no começo do cesto, do balaio ou do vaso, a gente não ver que tem algo errado, 
quando chegar lá no final, o trabalho vai ficar mal feito e os cestos, os balaios e os 
vasos vão ficar moles, tortos e fracos. (Entrevista concedida à autora em 08/03/2022) 
 
Segundo as artesãs, a partir desse trançado inicial é possível produzir diferentes peças, 
pois é basicamente o mesmo procedimento, o que varia é a quantidade de fios e a forma como 
 
17 De acordo com a (BCA), a técnica artesanal do trançado consiste no “entrelaçamento de fibras em forma de 
fios, iniciando-se mediante o cruzamento de duas ou mais tiras/talas,entrelaçando sempre novas tiras/talas, até 
obter-se a forma final”. (BRASIL 2018) 
 
28 
 
 
serão organizados para começar o processo de trançar e também o acabamento, pois produzem 
diversos modelos de cestarias, e cada modelo demanda um tipo de acabamento. 
 
Figura 9 Balaio, cesta e vaso de cipó Imbé com casca 
Fonte: Marilize A. Santos (2022) 
 
1.5 COMERCIALIZAÇÃO DAS CESTARIAS DE CIPÓ 
 
Após as cestarias estarem prontas, elas são levadas para que seja feita sua 
comercialização no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá. 
Nota-se que a comercialização é realizada pelas próprias artesãs. Diante disso, é possível 
considerar que as artesãs possuem um papel ativo em todas as etapas que as cestarias de cipó 
Imbé percorrem. Começando na extração da matéria-prima, depois pelo beneficiamento, 
confecção, precificação do valor que cada cestaria será vendida, posicionamentos que essas 
peças serão expostas nas prateleiras (figura 10), até a etapa de comercialização. 
As cestarias em cipó Imbé expostas no Mercado Municipal de Paranaguá (figura 10) 
são valiosas, não somente pelas técnicas empregadas, mas também porque envolvem toda uma 
significação na vida dessas artesãs, pois ao transformarem o fio de cipó Imbé em seu estado 
natural em produto pronto, através das técnicas de produção artesanal e uso de seus saberes e 
fazeres, elas expressam criatividade, habilidades, valores históricos e culturais da sua cultura e 
do grupo que pertencem. Fato esse, que proporciona aos clientes da própria localidade, bem 
29 
 
 
como turistas que estão visitando a cidade, não só a oportunidade de adquirir um objeto, mas, 
também a oportunidade de que estes interajam com a identidade cultural local. 
 
Figura 10 Cestarias de cipó Imbé expostas no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá 
Fonte: Suely Alípio (2022) 
 
 
Diante disso, o posicionamento de Melo e Froehlich (2021) é que a atividade artesanal 
desempenha esse papel importante nas sociedades, pois o artesanato possui um forte impacto 
na construção de uma identidade local. 
Nesse sentido, diante do que foi exposto até aqui, considera-se que as cestarias de cipó 
expostas e comercializadas no Mercado Municipal do Artesanato de Paranaguá, desempenham 
um papel importante na construção das identidades culturais. 
No capítulo seguinte, busca-se traçar o caminho para responder à seguinte indagação: 
Como se dá a construção e reconstrução das identidades culturais através das cestarias de cipó? 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
CAPÍTULO 2: CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES CULTURAIS 
 
Como apresentado no capítulo anterior, cada região possui seu artesanato típico e de 
acordo com a vida das comunidades locais, se tornando assim parte da identidade cultural de 
um povo. Nesse sentido, o segundo capítulo, intitulado como: “Construção das Identidades 
Culturais”, busca-se responder o seguinte questionamento: como se dá a construção das 
identidades culturais através das cestarias de cipó? Para isso, parte-se de algumas definições do 
que se conceitua como sendo Cultura, Identidade e por fim Identidade cultural. Cada uma delas, 
será tratada em seu contexto, para responder o mesmo questionamento inicial. 
 
2.1 CULTURA 
 
O conceito de cultura, o qual temos na atualidade, sofreu muitas variações ao longo do 
seu processo histórico. O termo vindo do verbo latino colere, primeiramente era utilizado para 
designar o cultivo de plantas e o cuidado com os animais. 
Já em definições mais tradicionalistas, o termo “cultura” abrangia a soma de ideias e 
falas grandiosas de uma sociedade. Como por exemplo, as que eram representadas nas telas 
pintadas, obras literárias, músicas clássicas e na filosofia, sendo essa considerada a “alta cultura 
de uma época”. (HALL 2016) 
 Nesse sentido, sua definição mais utilizada passou a ser atrelada a ideia do refinamento, 
a qual, consistia em afirmar que os sujeitos que possuíam cultura, ou seja, considerados 
“cultos”, eram os sujeitos que eram dotados de conhecimentos. Esse conhecimento do indivíduo 
“culto”, estava atrelado a locais frequentados, aos diplomas e titulações que possuía, assim, os 
que não possuíam certas titulações e nem frequentava locais que apresentavam a “alta cultura” 
eram considerados “incultos”. 
Com o passar do tempo, o termo passou por mudanças em sua conceituação, todavia, a 
separação do que era denominado como sendo “culto” e “inculto” tornou-se latente. Desse 
modo, a cultura e as artes passaram a ser divididas de dois modos: cultura erudita, marcada por 
produções e criações consideradas belas artes, o qual seu público era formado por indivíduos 
31 
 
 
pertencentes a elite, como por exemplo, intelectuais e artistas, e cultura popular18, propícia aos 
trabalhadores, é constituída por exemplo por: danças, músicas regionais, mitos, lendas, festas 
religiosas e artesanatos. 
Nessa perspectiva, a cultura popular era caracterizada sempre de forma negativa, vista 
até mesmo como uma cultura atrasada e desprovida de qualidades, como apontado por Hall: 
“Por muito tempo, o confronto entre alta cultura e cultura popular foi a maneira clássica de se 
enquadrar o debate sobre o tema (em que esses termos vêm inevitavelmente atrelados a uma 
carga de valor (grosso modo, alta = a bom; popular = a degradado) ”. (HALL 2016, 19) 
Fazendo um adendo a esse assunto das culturas populares, é importante frisar que, 
objetos e práticas denominadas como popular estão presentes no cotidiano da sociedade 
capitalista, como por exemplo, artesanatos, festas religiosas, benzimentos, etc., porém ainda 
existe uma certa disparidade de reconhecimento de seu valor. Mas é interessante ressaltar que 
quando se trata de definir a identidade de uma nação, região ou grupo social, é nos elementos 
tidos como pertencentes à cultura popular que se definem. Nesse sentido, a citação de Antonio 
Arantes corrobora perfeitamente com esse ponto de vista: 
 
 [...] Pois é justamente manipulando repertórios de fragmentos de “coisas populares” 
que, em muitas sociedades, inclusive a nossa, expressa-se e reafirma-se 
simbolicamente a identidade da nação como um todo ou, quando muito, das regiões, 
encobrindo a diversidade e as desigualdades sociais efetivamente existentes no seu 
interior. (ARANTES 1990, 14-15) 
 
Nesse contexto, os estudos antropológicos colaboraram para que o conceito de cultura 
fosse redefinido, passando então a ser compreendido como os modos de ser e viver de um 
determinado grupo, de uma nação, de uma comunidade ou de um povo. E ainda, o termo passou 
a ser utilizado para definir os valores que são compartilhados por seus membros. Esse 
fenômeno pode ser compreendido com a perspectiva de Hall (2016): 
 
Nos últimos anos, porém, em um contexto mais próximo das ciências sociais, a 
palavra “cultura” passou a ser utilizada para se referir a tudo o que seja característico 
sobre o “modo de vida” de um povo, de uma comunidade, de uma nação ou de um 
grupo social – o que veio a ser conhecido como a definição “antropológica”. Por outro 
lado, a palavra também passou a ser utilizada para descrever os “valores 
compartilhados” de um grupo ou de uma sociedade. (HALL 2016, 19) 
 
18 “[...]. Quando pensadas como produções e criações do passado nacional, formando a tradição nacional, a cultura 
e a arte populares recebem o nome de folclore, constituído por mitos, lendas e ritos populares, danças e músicas 
regionais, artesanato e etc.” (CHAUÍ 2021, 15) 
 
32 
 
 
Segundo Laraia (2001), o termo cultura, aos moldes que é utilizado atualmente, foi 
primeiramente definido por Edward Taylor (1871). “Taylor definiu cultura como sendo todo o 
comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética”. (LARAIA 
2001). Em 1917, Alfred Louis Kroeber completou, definindo que o homem por sua vez, se 
diferencia de outros animais,sendo o único a ter cultura, pois, é capaz de se comunicar, através 
da oralidade e construir instrumentos, que otimizem seu fazer cotidiano. 
Nesse sentido, Giddens (2008), concorda com Laraia (2001), e afirma que quando 
sociólogos se referem ao conceito de cultura, estão se referindo ao que diz respeito a elementos 
que são aprendidos na interação com outros membros da sociedade pertencente e não a algo 
herdado biologicamente. 
Assim, todo esse processo de interação e aprendizagem, que o indivíduo passa durante 
sua vida, pode ser compreendido como o processo de socialização, que é definida por Giddens 
(2008), como: “o processo através do qual as crianças, ou outros membros da sociedade, 
aprendem o modo de vida da sociedade em que vivem”. (GIDDENS 2008, 27) 
Desse modo, o processo de socialização acontece em duas fases, sendo elas, a fase da 
socialização primária, que ocorre na infância, onde a família é o seu principal agente de 
socialização. E socialização secundária, que ocorre a partir de quando a criança passa a 
interagir com outros agentes socializadores, ou seja, é através das interações sociais que os 
indivíduos aprendem as normas, valores, crenças, as ideias, bem como conhecem e partilham 
os objetos e símbolos que representam a cultura, a qual eles pertencem. 
Diante das perspectivas vistas acima, percebe-se que a cultura, portanto, é algo que não 
se transmite de forma natural, todos os elementos são aprendidos, através da observação e 
oralidade, sendo esse o seu principal canal de transmissão, através do tempo e das gerações. E, 
sendo seres sociais, estamos em constante interação e aprendizado com a sociedade, território19 
e com a cultura em que vivemos, esse processo que acontece desde o nascimento, 
primeiramente por intermédio da família e posteriormente através das escolas, instituições, 
meios de comunicação e local de trabalho, os quais fazemos parte. 
 
19 O território pode ser definido como uma porção da natureza e espaço sobre o qual uma sociedade determinada 
reivindica e garante a todos, ou uma parte de seus membros, direitos estáveis de acesso, controle ou uso sobre a 
totalidade ou parte dos recursos naturais aí existentes que ela seja capaz de utilizar [...]. Essa porção de terra 
fornece, em primeiro lugar, a natureza do homem como espécie, mas também os meios de subsistência, os meios 
de trabalho e produção e os meios de produzir os aspectos materiais das relações sociais, aos que compõe a 
estrutura determinada de uma sociedade (relações de parentesco, etc.). GODELIER (1984), apud (DIEGUES 2004, 
24). 
33 
 
 
Para tanto, mesmo que a transmissão da cultura obedeça a um certo padrão na maioria 
das culturas, elas não são homogêneas, pois apresentam diversas variações de uma para outra, 
por exemplo, normas e valores que são aceitáveis em uma, podem perfeitamente não ser aceitas 
em outra, isso se dá ao fato de que cada cultura possui suas próprias especificidades, as quais 
estão atreladas ao contexto que elas ocorrem. Mesmo dentro de uma mesma sociedade, podem 
ocorrer variações de padrões culturais. Tendo em vista que, a maior parte das sociedades 
industrializadas são formadas a partir da miscigenação dos povos e possuem uma multiplicidade 
de culturas e grupos em sua composição, ou seja, são culturalmente mistas. Sendo assim, as 
normas e valores podem se contrapor umas às outras. 
Diante disso, em culturas, povos e comunidades tradicionais20, os quais o passado e os 
seus símbolos são valorizados, também ocorrem mudanças, pois mesmo os elementos sendo 
considerados tradição, não é algo cristalizado no tempo. Nesse sentido, a cultura se reinventa, 
e se ressignifica a cada nova geração. Até mesmo os territórios tradicionais21 estão em constante 
mudanças, pois o território também está atrelado às relações sociais que existem nele, como 
Diegues aponta: “o território não depende somente do tipo de meio físico explorado, mas 
também das relações sociais existentes” (DIEGUES 2004, 24) 
 Para Diegues (2004), as culturas tradicionais em estado puro não existem mais, pois 
todas passam por processos de transformação, seja ela de menor ou maior grau. E Hall (2015), 
reforça essa perspectiva, dizendo que não existem mais culturas em seu estado puro, elas são 
todas híbridas culturais, pois são resultado das múltiplas interações que seus membros realizam, 
assim, “As nações modernas são, todas, híbridas culturais”. (HALL 2015, 36) 
A partir dessas perspectivas, é possível evidenciar que a cultura caiçara22, o qual as 
artesãs cipozeiras, interlocutoras da presente pesquisa se identificam, já nasceu híbrida, pois foi 
 
20 Art. 3° Povos e Comunidades tradicionais: “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, 
que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como 
condição para reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações 
e práticas gerados e transmitidos pela tradição”. (BRASIL 2007) 
 
21 Art. 3° II-Territórios Tradicionais: “os espaços necessários à reprodução cultural, social e econômica dos povos 
e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz 
respeito aos povos indígenas e quilombolas [...]”. (BRASIL 2007) 
 
22 “A cultura caiçara aqui definida como um conjunto de valores, visões de mundo, práticas cognitivas e símbolos 
compartidos, que orientam os indivíduos em suas relações com a natureza e com os outros membros da sociedade 
e que se expressam também em produtos matérias [...] e não materiais [...]”. (DIEGUES 2004, 22) 
 
34 
 
 
com a miscigenação de diferentes etnias que resultou no que hoje se compreende como sendo 
a comunidade caiçara23. 
Nesse sentido, as culturas, assim como os indivíduos, não é algo estático. A cultura é 
algo vivo, que está em constante transformação, mesmo que se tenha a intenção de preservar o 
que seria tradicional, esse fato se dá pela sua plasticidade, ou seja, facilidade de adaptar-se às 
condições do meio. A parte material, expressões, características e movimentos podem até 
estarem presentes, mas seus significados podem mudar com os processos históricos, por 
exemplo, um mesmo objeto cultural, pode possuir diferentes significados dependendo do 
contexto. Sendo assim, o significado cultural só pode ser compreendido se observado o universo 
do grupo social a que ele pertence, e não somente a observação do objeto em si. Como aponta 
Arantes: 
 
Cultura é um processo dinâmico; transformações (positivas) ocorrem, mesmo quando 
intencionalmente se visa congelar o tradicional para impedir a sua “deterioração”. É 
possível preservar os objetos, os gestos, as palavras, os movimentos, as características 
plásticas exteriores, mas não se consegue evitar a mudança de significado que ocorre 
no momento em que os eventos culturais são produzidos. (ARANTES 1990, 22) 
 
 Hall (2016), ressalta que a cultura é construída a partir de signos e símbolos, ou seja, é 
um conjunto de práticas, produção, intercâmbio de sentidos e o compartilhamento de 
significados entre os membros de uma sociedade ou grupo. Diante disso, quando se fala que 
dois indivíduos são pertencentes à mesma cultura, é o mesmo que falar que eles compartilham 
do mesmo modo de vida, e veem o mundo e dão sentido às coisas de modo semelhante. 
Assim, com as cestarias de cipó, confeccionadas com práticas culturais e exercidas no 
território caiçara, as artesãs interlocutoras da presente pesquisa, criam sentidos de quem elas 
são e ao que pertencem, como apresentado no capítulo 1. O sentido é criado quando as artesãs 
expressam sua identidade através das cestarias de cipó, pois nelas elas colocam valores e 
significados, que foram construídos e reconstruídos comas múltiplas interações sociais e 
culturais que tiveram, os quais são compartilhados pelo grupo. Diante disso, a narrativa da 
artesã Fátima Rocha corrobora com essa afirmativa: 
 
O artesanato para mim representa um fluir de ideias e como se eu tivesse trazendo lá 
do fundo muita coisa que estava guardada, que eu quero colocar em cada peça que 
 
23 “Entende-se por caiçara as comunidades formadas pela mescla da contribuição étnico-cultural dos indígenas, 
dos colonizadores portugueses e, em menor grau, dos escravos africanos. Os caiçaras apresentam uma forma de 
vida baseada em atividades de agricultura itinerante, da pequena pesca, do extrativismo vegetal e do artesanato”. 
(DIEGUES 2004, 9) 
35 
 
 
eu faço. Cada peça que eu faço, eu tenho uma ideia diferente, a outra peça já não sai 
igual, aí está o encanto do artesanato, você faz por exemplo: um cesto, o primeiro 
fica de um jeito, o segundo já fica de outro, no terceiro você já pensou no primeiro e 
no segundo e já faz de outro jeito, outra técnica porque foi mais fácil, esse terceiro 
vai sair totalmente diferente dos outros dois, podem sair parecidos, mas nunca sai 
igual, isso que é o bonito, são peças únicas. (Entrevista concedida à autora em 
08/03/2022) 
 
Nesse sentido, a definição feita por Hall (2016), em sua obra Cultura e Representação, 
ressalta perfeitamente essa afirmativa, o qual utilizo a seguinte citação: 
 
 [...] A ênfase nas práticas culturais é importante. São os participantes de uma cultura 
que dão sentido a indivíduos, objetos e acontecimentos. [...] O sentido é o que nos 
permite cultivar a noção da nossa própria identidade, de quem somos e a quem 
“pertencemos” – e, assim, ele se relaciona a questões sobre como a cultura é usada 
para restringir ou manter a identidade dentro do grupo e sobre a diferença entre 
grupos. [...] O sentido também é criado sempre que nos expressamos por meio de 
“objetos culturais”, os consumimos, deles fazemos uso ou nos apropriamos; isto é, 
quando nos integramos de diferentes maneiras nas práticas e rituais cotidianos e, 
assim, investimos tais objetos de valor e significado. Ou ainda, quando tecemos 
narrativas, enredos – fantasias – em torno deles. (HALL 2016, 20-22) 
 
A partir disso, portanto, a cultura o qual cada pessoa está inserida e as múltiplas 
interações sociais que ela experimenta, desde o nascimento até a sua morte, exerce influência 
direta no que ela considera certo ou errado, como se porta em diferentes situações, até mesmo 
os hábitos, postura corporal e expressões, no desenvolvimento de suas religiosidades, valores, 
ideais e visão de mundo, ou seja, os indivíduos se orientam em suas ações pela influência direta 
da cultura a qual pertencem. Todos os saberes compartilhados pelos membros da sociedade 
fazem com que eles se identifiquem e gere o sentimento de pertencimento a tal cultura, mas, 
ainda assim, o indivíduo possui uma individualidade e autonomia no desenvolvimento da 
própria identidade, ou seja, como apontado por Giddens: “não são simplesmente sujeitos 
passivos à espera de serem instruídos ou programados” (GIDDENS 2008, 29) 
Diante do que foi exposto até aqui, percebe-se o quanto a relação do povo com a sua 
história e cultura é importante, pois, aponta para uma caracterização de sua identidade e do seu 
sentimento de pertencimento. 
 
 
 
 
36 
 
 
 2.2 IDENTIDADE 
 
Como apresentado na seção anterior, o conceito de cultura sofreu múltiplas variações 
em sua definição ao longo do seu processo histórico. E com conceito de identidade não é 
diferente. Diante disso, nessa seção objetiva-se descrever o caminho histórico percorrido desse 
importante conceito. 
 Stuart Hall, em sua obra (A Identidade Cultural na pós-modernidade 2015), ressalta as 
mudanças sofridas no conceito de identidade ao longo do processo histórico. Para isso, o autor 
distingue três concepções de identidade, sendo elas: O sujeito do iluminismo, sujeito 
sociológico e o sujeito pós-moderno. Primeiramente, a concepção que se tinha de identidade 
era que ela já nascia com o sujeito, e o acompanhava durante toda sua vida, orientava sua razão 
e suas ações. O autor aponta, que esse era o sujeito do iluminismo. O sujeito do iluminismo, era 
totalmente centrado, unificado, portador das capacidades de razão e consciente de suas ações, 
cujo centro consistia num núcleo interior, que o acompanhava desde o nascimento até o seu 
último dia de vida, esse centro do “eu” era o que se considerava a identidade de uma pessoa. 
Posteriormente, com as mudanças do mundo moderno, o conceito de identidade foi 
redefinido. Nessa nova concepção, tinha-se que a identidade do indivíduo é formada nas 
relações que o sujeito tinha com as pessoas que este considerava importante, e também na 
interação com a sociedade. O autor aponta, que esse era o sujeito sociológico, onde o sujeito 
tem um núcleo, ou seja, o seu “eu real”, mas era formado e modificado continuamente, através 
da interação com os mundos culturais exteriores e as múltiplas identidades que esses mundos 
oferecem. Nessa concepção sociológica, a identidade preenche o espaço entre o “interior” e o 
“exterior”, entre o mundo pessoal e o mundo público. Assim, a identidade costurava o sujeito 
à estrutura e estabilizava os sujeitos e os mundos culturais que eles faziam parte, os tornando 
“mais unificados e predizíveis”. Hall (2015). 
No entanto, o autor aponta, que na contemporaneidade estão acontecendo mudanças. O 
sujeito que até então possuía uma identidade unificada e estável, está se fragmentado, sendo 
agora composto de múltiplas identidades, e que algumas vezes, elas seriam contraditórias ou 
não resolvidas. E, até o processo de identificação, pelo qual construímos nossas identidades 
culturais, tornou-se “provisório, variável e problemático” (HALL 2015, 11). Diante disso, o 
autor afirma que, esse processo é responsável por produzir o sujeito pós-moderno, onde o 
sujeito não possui uma identidade permanente, mas, sim uma identidade que é construída e 
37 
 
 
reconstruída, diante das formas que somos representados nos sistemas culturais, se tornando 
assim uma “celebração móvel”. (HALL 2015, 11) 
O autor destaca que, uma identidade totalmente unificada é algo que não seria possível, 
pois, “somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades 
possíveis, com as quais poderíamos nos identificar a cada uma delas – ao menos 
temporariamente” Hall (2015, 12). Assim, o sujeito pode assumir diferentes identidades ao 
longo de sua vida, sendo que, essas não são unificadas em torno de um “eu” coerente, ou seja, 
o sujeito possui em seu interior diferentes identidades e essas, por sua vez, podem ser 
contraditórias, empurrando para diferentes direções, fazendo então com que essas 
identificações sejam “continuamente deslocadas”. (HALL 2015, 12). 
Nesse sentido, o processo de identificação passa a ser algo provisório e variável. Diante 
de tal fato, é importante destacar é que o sujeito possa se identificar com diferentes identidades 
ao longo de sua vida, no caso das interlocutoras da presente pesquisa, elas se identificam 
simultaneamente como sendo artesãs pertencente a cultura caiçara e cipozeiras24. 
Em síntese, embora a cultura em que o indivíduo nasce, seja uma das principais fontes 
de identidade, ela não é fator determinante para formar a identidade do indivíduo. A identidade 
do indivíduo, ou seja, como ele se identifica, se reconhece, dá sentido às suas ações, pratica 
suas religiosidades, tem suas ideais e visão de mundo, não é algo biológico, como se definia na 
definição do sujeito do iluminismo, nem tão pouco algo que já estava no interior do indivíduo, 
e com a interação com pessoas importantes para ele e com a sociedade se transformou, como 
definido como sendo o sujeito sociológico. Assim, a identidade se conceitua como na 
concepção

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