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VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO E A PERCEPÇÃO DO TEMPO COMO BEM JURÍDICO

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Violação positiva do contrato e a percepção do tempo como bem jurídico
 
 
 
Página 
VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO E A PERCEPÇÃO DO TEMPO COMO BEM JURÍDICO
Positive breach of contract and time seen as legal property
Revista de Direito do Consumidor | vol. 126/2019 | p. 115 - 132 | Nov - Dez / 2019
DTR\2019\42435
	
Simone Maria Silva Magalhães 
Mestranda em Direito Constitucional no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Pós-graduada em Ordem Jurídica e Ministério Público pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (FESMPDFT). Diretora Adjunta de Apoio à Advocacia dos Consumidores do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (BRASILCON). Advogada. simonem@adv.oabdf.org.br 
 
Área do Direito: Consumidor
Resumo: A teoria da violação positiva do contrato interpreta o inadimplemento de forma mais ampla em relação àquela adstrita à mora e à impossibilidade de cumprimento por considerar que existem circunstâncias em que a entrega da obrigação principal não garante a plena satisfação do contrato, em decorrência da inobservância de deveres anexos ou secundários que causem prejuízo ao outro contratante. Desenvolve-se no Brasil a valoração do tempo empregado pelo consumidor, na tentativa de obter solução aos problemas de consumo que lhe foram impostos pelo descumprimento contratual por parte do fornecedor. 
 Palavras-chave:  Relação contratual – Violação positiva do contrato – Danos temporais – Desvio produtivo do consumidor
Abstract: The theory of positive violation of contract construes default in a broader manner when compared to that related to arrears and failure to comply it considers that there are circumstances under which delivery of the main obligation does not ensure full satisfaction of the contract, since failure to comply with ancillary or secondary duties may harm the other contracting party. Valuation of the time employed by consumers is under development in Brazil in an attempt to obtain solutions to the consumption problems caused thereto by suppliers’ malperformance. 
 Keywords:  Contractual relationship – Positive breach of contract – Time damage – Waste of consumers’ productive time
Sumário:  
1.Introdução - 2.Considerações sobre a teoria da violação positiva do contrato - 3.O tempo como bem jurídico - 4.Conclusão - 5.Referências 
 
1.Introdução
A teoria da violação positiva do contrato, desenvolvida pelo alemão Hermann Staub, representou um novo olhar para as situações de inadimplemento contratual, antes pautadas precipuamente nos âmbitos da mora ou da impossibilidade de cumprimento. 
Apesar de não estar expressamente prevista no ordenamento jurídico brasileiro, a citada teoria vem sendo aceita pela doutrina e aplicada pelos tribunais a partir da percepção da boa-fé como balizadora fundamental das relações contratuais, evidenciando outras vertentes do direito obrigacional, nem sempre contempladas em lei.
A violação positiva do contrato se firma na premissa de que, além do cumprimento da obrigação principal, existem outros deveres anexos que necessitam ser considerados a fim de que a relação contratual seja realmente satisfeita. 
Percebe-se uma íntima ligação entre esta apreciação mais ampla do contrato e algumas das novas abordagens teóricas surgidas no país, em que o tempo é avaliado sob a óptica jurídica. 
Assim, defende-se que os danos temporais e o desvio produtivo do consumidor sejam valorados, já que são resultados de descumprimentos contratuais perpetrados pelo fornecedor aos deveres anexos à obrigação principal, o que torna inafastável a qualificação do tempo como bem jurídico que necessita ser tutelado.
2.Considerações sobre a teoria da violação positiva do contrato
Historicamente, o tratamento legal do inadimplemento sempre deixou lacunas quanto à evidência de que não somente a mora e a impossibilidade de cumprimento da obrigação seriam os meios de se violar um contrato, razão pela qual se pondera que existem outras possibilidades além destas tradicionalmente aceitas. 
Tendo em vista oferecer respostas para as previsões legais de certa forma incompletas, surgiu na Alemanha do início do século XX a teoria da violação positiva do contrato com Hermann Staub. O estudioso, em seu artigo Die positiven Vertragsverletzungen und ihre Rechtsfolgen (“As violações positivas do contrato e suas consequências jurídicas”), criticava o Código Civil alemão (Bürgerliches Gesetzbuch – BGB) que entrou em vigor em 1900 e que cuidou da disciplina legal do descumprimento contratual1.
Segundo Staub, existem circunstâncias que configuram descumprimento contratual, mas que não seriam caracterizadas como mora (atraso temporal da prestação) ou como impossibilidade (impraticabilidade superveniente da prestação não executada). Haveria um espaço não disciplinado no Código Civil alemão em relação aos danos causados ao outro contratante, mesmo quando o sujeito teoricamente cumpre com a obrigação2. 
A partir desse entendimento, clamou-se por atenção à existência de deveres que seriam anexos, secundários ou acessórios à obrigação principal. Havendo descumprimento em algum dos planos ou fases do vínculo, afrontam-se os feixes finalísticos que integram o todo3. Neste caso, a violação positiva do contrato se aperfeiçoaria como uma via específica de inadimplementos contratuais. 
Terra salienta que Staub não constituiu contornos rígidos para a teoria, visto que a principal inquietação deste era demonstrar a existência da lacuna legal, cabendo à doutrina identificar hipóteses de aplicação4: 
a) mau cumprimento de deveres de prestação, a gerar danos distintos dos causados pela mora ou pela impossibilidade; 
b) descumprimento de deveres laterais; 
c) recusa antecipada do devedor a cumprir a obrigação; 
d) descumprimento de obrigações negativas; e 
e) não cumprimento de prestações singulares em contratos de fornecimento sucessivo.
Para Andrade e Pereira apesar de a teoria inaugurada por Staub ter sido recepcionada pela jurisprudência alemã, ela não conseguiu se manter ilesa às críticas doutrinárias tanto nas alegações de inexistência de lacuna legal a ser preenchida quanto na própria terminologia do instituto. Entre os mais severos, encontrava-se o posicionamento de Heinrich Stoll, que, em 1932, publicou o trabalho denominado Abschied von der Lehre von der positiven Vertragsverletzung (“Adeus à doutrina da violação positiva do contrato”). Nele, Stoll sugeriu a ampliação do conceito de obrigação, entendendo que o vínculo compreenderia os deveres reservados à satisfação da prestação (interesses de prestação) e também aqueles destinados à preservação dos bens dos contratantes (interesses de proteção). Desta forma, violações a qualquer um dos deveres teriam como consequência a impossibilidade ou a mora. 
Contrariamente à intenção de Stoll, sua crítica acabou reforçando aquilo já previsto na própria violação positiva do contrato, pois a clara divisão que ele afirmava haver entre os deveres de prestação e os de proteção faria existir naturalmente o âmbito de incidência da teoria. Desde então, apaziguou-se a interpretação de que o descumprimento de deveres de prestação acarretaria a impossibilidade ou a mora, enquanto a inobservância de deveres de proteção implicaria violação positiva do contrato5. 
Apesar da existência de divergências6 doutrinárias que recaem sobre os conceitos de mora e de inadimplemento absoluto, o descumprimento contratual não deveria ser considerado somente em relação ao dever violado, pois as consequências dessa transgressão na possibilidade ou na utilidade do recebimento da obrigação pelo credor não poderiam ser afastadas do âmbito da análise. Assim, não importa se a violação recaiu sobre um dever de conduta ou de prestação, mas, sim, o efeito que ela promoveu no resultado programado7. O conceito de adimplemento não mais se restringe ao pagamento ou direito de crédito, mas filia-se à prestação que atenda à finalidade do vínculo, às motivações, às expectativas ou a outros interesses e situações jurídicas esperadas8.
No direito brasileiro,o Código Civil (LGL\2002\400), em seu artigo 394, considera em mora “o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer”. Quando se tratar de inadimplemento absoluto (caso de descumprimento da obrigação), o devedor responderá por perdas e danos, acrescidos de juros, atualização monetária e honorários advocatícios9. Nas circunstâncias concretas em que a mora tornar a prestação inútil ao credor, ele poderá rejeitá-la e exigir a reparação das perdas e danos10.
Mesmo diante da não previsão textual da violação positiva do contrato no nosso Código Civil (LGL\2002\400), ela se faz manifesta quando se analisam os deveres jurídicos advindos da cláusula geral de boa-fé11. O artigo 422 prevê que “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. 
É inafastável que a boa-fé desenvolve funções cruciais no nosso ordenamento jurídico, interpretando e integrando a norma, limitando direitos subjetivos e criando deveres jurídicos12 laterais às relações negociais13. Além disso, ela impõe regras de conduta, respeito entre os contratantes e obediência aos termos contratados. 
Vale salientar que o conceito de boa-fé disposto no Código Civil (LGL\2002\400) foi fortemente influenciado pela edificação consumerista da Lei 8.078, de 1990 (LGL\1990\40), Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC (LGL\1990\40)). Nessa importante legislação, o princípio da boa-fé objetiva14 assume papel estruturante para a interpretação dos casos concretos havidos da relação entre consumidor e fornecedor. A boa-fé objetiva representa uma evolução do conceito de boa-fé, que saiu do plano psicológico ou intencional (boa-fé subjetiva) para o plano concreto da atuação humana (boa-fé objetiva)15.
Reconhecidamente, o instituto do inadimplemento apresenta uma importância crucial para o Direito, uma vez que o descumprimento provoca inúmeras consequências legais na relação entre as partes contratantes, conforme disciplina dos arts. 389 a 40116 do Código Civil (LGL\2002\400), bem como o dever de indenizar, previsto nos arts. 402 a 40417, sem prejuízo de outras responsabilizações como o dano moral e a resolução contratual18.
No entendimento de Silva, no Brasil, a violação positiva do contrato deve ser considerada “como todo inadimplemento decorrente do descumprimento culposo de dever lateral, quando este dever não tenha uma vinculação direta com os interesses do credor na prestação”19. Tal posicionamento mostra que esta teoria tem aqui se firmado como uma espécie autônoma de inadimplemento.
Muito embora a violação positiva do contrato seja aplicada tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência, Andrade e Pereira alertam que a elasticidade e a imprecisão da teoria evidenciam riscos de insegurança jurídica, uma vez que não existe consenso, por exemplo, sobre a necessidade de culpa e nem sobre as possíveis consequências aplicáveis ao caso concreto. Questionam, os autores, sobre a possibilidade de estipulação de bases mais sólidas para as premissas protetivas da violação positiva do contrato20. 
3.O tempo como bem jurídico
Desde sua publicação em 1990, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC (LGL\1990\40)) desempenha a função prática e primordial de inspirar e disciplinar a busca por relações de consumo mais equilibradas, percebendo o consumidor e o fornecedor como sujeitos possuidores de interesses complementares e não excludentes.
Uma importante característica do CDC (LGL\1990\40) é primar pelo caráter preventivo, a fim de que sejam evitadas conjunturas danosas. Para tanto, constitui como um direito básico do consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (CDC (LGL\1990\40), art. 6º, VI). 
Em consonância com a previsão legal, é razoável aspirar que os fornecedores sempre pautem suas decisões empresariais na adoção de métodos que permitam a disponibilização de produtos e serviços cada vez mais adequados, eficientes e seguros, como determinado no artigo 8º do CDC (LGL\1990\40):
“Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.”
Depreende-se que a postura preventiva do fornecedor tem grande impacto na efetiva redução dos danos potenciais que poderiam ocorrer no mercado de consumo. Diante da impossibilidade de se afastar integralmente todas as probabilidades de eventos que prejudiquem o consumidor, torna-se crucial a postura da empresa de buscar soluções eficientes e céleres para reparar os eventuais prejuízos causados. Porém, continua presente no mercado o fato de que nem todos os fornecedores se empenham no intuito genuíno de sanar os problemas gerados por sua ação ou omissão, o que acaba gerando um alto índice de ações judiciais com finalidade reparatória21. 
Diante de tantas demandas judiciais de consumidores que não obtiveram êxito nas tratativas com os fornecedores, tornaram-se comuns as sentenças sem o reconhecimento de reparação por danos morais, sob a fundamentação de que os episódios suportados pelo indivíduo não passariam de “mero aborrecimento” ou “mero dissabor” e que seriam decorrentes de fatos corriqueiros da vida em sociedade. No entanto, fica a reflexão de que, perante tantas dificuldades naturais para se recorrer ao Judiciário, que envolvem tempo, recursos financeiros e suporte emocional, somente uma pequena quantidade de pessoas realmente se dispõe a ajuizar ação buscando a reparação dos seus direitos. Assim, por trás da alegada “indústria do dano moral” que se alastrou nos julgamentos efetivados nos últimos anos, tudo indica, em verdade, a existência de um número bem maior de eventos danosos em que o consumidor tolerou os ônus da conduta lesiva perpetrada pelo fornecedor.
Em contraponto à pretensa existência de uma “indústria do dano moral” e em sintonia com os preceitos da violação positiva do contrato em que se verifica que não somente a obrigação principal necessita de tutela, mas também os deveres anexos, os estudiosos perceberam o tempo como um bem jurídico e econômico, originando os debates sobre o desvio produtivo do consumidor e o dano temporal.
Oliveira analisa muito bem alguns aspectos da nova vertente:
“Não há bem mais precioso que o tempo, e isso é uma constatação que todos aqueles que já sentiram saudades da infância, da primeira infância dos filhos, de pessoas que se foram, conhecem do fundo da alma. Mas o tempo é, também, e sobretudo, um bem econômico. Um site fora do ar por uma hora gera prejuízos financeiros altíssimos para um grande banco, por exemplo, e, nesse caso, a mensuração do “preço” de cada minuto (e dos prejuízos corporativos ocasionados) é relativamente simples de compreender. De outro lado, já não parece tão intuitiva assim a circunstância em que se encontra em jogo o tempo do consumidor. Ao contrário, não raro, atrasos na prestação de serviços e na entrega de produtos são considerados, nos Tribunais, meros aborrecimentos não indenizáveis sofridos pelo consumidor. [...] o tempo constitui bem econômico de titularidade de todos os sujeitos de uma relação de mercado, inclusive do consumidor.”22
Com a percepção do tempo como valor, reforça-se a responsabilidade do fornecedor de atuar de forma preventiva, apta a evitar danos e, quando isso não for possível, ser hábil na reparação dos problemas causados ao consumidor, não utilizando os recursos produtivos deste e lhe possibilitando o emprego de suas competências nas atividades de sua livre escolha e preferência, que geralmente são atividades existenciais23, entendidas por Dessaune como:
“aquelas que geralmente integram o projeto de vida das pessoas na sociedade contemporânea, e que se mostram fundamentais ao desenvolvimento de sua personalidade e à promoção de suadignidade, destacando-se estudar, trabalhar, descansar, dedicar-se ao lazer, conviver socialmente, cuidar de si e consumir o essencial. Note-se que trabalhar tem tanto o sentido de auferir renda para se viver dignamente quanto o de servir o outro, seja para contribuir no desenvolvimento dele, seja para se realizar como ser humano.”
Diante dos cuidados que os fornecedores necessitam manter para não atingir as atividades existenciais dos consumidores, é recomendável atenção integral às suas obrigações legais, a exemplo de: não colocar no mercado de consumo produtos ou serviços que acarretem riscos à saúde ou à segurança dos consumidores, ressalvados aqueles riscos normais e previsíveis (art. 8º)24; prestar as informações de forma clara, adequada e, em alguns casos, ostensiva (arts. 6º, III, 9º e 31)25; preservar o princípio da boa-fé objetiva (art. 4º, III)26; não utilizar cláusulas abusivas em seus contratos (art. 51)27; não realizar práticas comerciais abusivas (art. 39)28 e prevenir e reparar, efetivamente, os danos causados ao consumidor (art. 6, VI)29.
Quando, em uma situação concreta, o fornecedor não reparar o dano que sua ação ou omissão ocasionou, o consumidor será constrangido a assumir aquele prejuízo ou a buscar, ele mesmo, a solução para a circunstância lesiva. Para Dessaune: 
“o consumidor, impelido pelo seu estado de carência30, despende uma parcela do seu tempo, adia ou suprime algumas de suas atividades planejadas ou desejadas, desvia as suas competências dessas atividades e, muitas vezes, assume deveres operacionais e custos materiais que não são seus.” 
O autor explica que essa série de condutas caracteriza o “desvio produtivo do consumidor”, incorrendo na perda definitiva de uma parcela de seu tempo total de vida e na alteração prejudicial de seu cotidiano31.
Como o tempo causa impacto em todos os projetos de vida do indivíduo em razão dos inequívocos danos que sua perda lhe provoca, sua tutela merece cuidado especial. 
Rosa e Maia consideram que: 
“o tempo é fator de qualidade de vida e, consequentemente, saúde. Para descansar, trabalhar, locomover-se ao trabalho ou para casa, dedicar-se aos estudos, à família, à vida sentimental, o tempo é fator de ininterrupta necessidade e de atenção cogente para necessária organização das múltiplas atividades exigidas do ser humano.” 
Os autores ressaltam que, “na Sociedade do Cansaço, o tempo não pode mais ser visto enquanto instituto despido de impactos jurídicos indenizatórios na responsabilidade civil” e fazem uma provocação: “o dano temporal constitui causa de indenização autônoma em relação à indenização por danos morais?”32
A análise do dano temporal já está presente nos tribunais brasileiros; contudo, na maioria dos julgados, ele é reconhecido como forma integrante do dano moral. Na doutrina, também é perceptível o grande interesse despertado pelo assunto e a existência de discussões sobre sua pretensa autonomia. Enquanto alguns autores defendem que a perda de tempo é um fator inerente ao dano moral, outros a consideram como uma categoria independente33.
Entre os apoiadores da autonomia do dano temporal, encontra-se Maria Aparecida Dutra Bastos, que, em 2016, defendeu se tratar de uma nova categoria de dano em tese apresentada e aprovada no XIII Congresso Brasileiro de Direito do Consumidor – BRASILCON: 
“na qual faz análise do dano temporal oriundo do mau atendimento prestado ao consumidor e sustenta que o fornecedor de produtos e serviços deve ser responsabilizado pela subtração do tempo do consumidor, já que se trata de um bem jurídico irrecuperável que ultrapassa a égide do dano moral.”34
Ainda, na análise sobre a autonomia do dano temporal, Rosa e Maia traçam um paralelo ao dano estético, que, depois de um longo caminho de debates teóricos, foi entendido pelo Superior Tribunal de Justiça como um dano apartado do dano moral, ensejando até mesmo na publicação do Enunciado da Súmula 387, em que se depreende que “é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”. Dessa forma, o tempo humano é visto como um bem que deve ser protegido juridicamente, o que possibilita que se trilhe um caminho semelhante ao do dano estético para o dano temporal35.
4.Conclusão
A teoria da violação positiva do contrato trouxe respostas para algumas carências existentes na interpretação do inadimplemento contratual para as situações que não se enquadram nas possibilidades previstas na legislação: mora e impossibilidade de cumprimento. 
Existem conjunturas em que, mesmo quando um dos contratantes entrega a obrigação principal, o ato é feito de forma a não garantir a plena satisfação do contrato por descumprimento de deveres anexos ou secundários que, de alguma maneira, causem prejuízo à outra parte. 
Mesmo não prevista textualmente na legislação vigente, a teoria da violação positiva do contrato vem sendo aplicada em decorrência do princípio da boa-fé objetiva, que impõe obrigações de conduta para todos os sujeitos contratuais. 
Em harmonia com a importância da obediência aos deveres anexos, desenvolve-se atualmente no Brasil, a análise de algo que até então não era devidamente valorizado no mercado: o tempo despendido pelo consumidor na busca por soluções de problemas de consumo que lhe foram impostos pelo descumprimento contratual do fornecedor.
A análise do tempo como bem jurídico imputa automaticamente a obrigação de preservação de algo que é limitado, escasso e irrecuperável e de respeito a ele. Desta forma, o dano temporal e o desvio produtivo do consumidor defendem a premissa de que não é permitido aos fornecedores a proliferação de práticas que imponham ao indivíduo a turbação do tempo que ele poderia destinar para as atividades que melhor lhe aprouvessem.
Naturalmente, há um longo trajeto até que as novas abordagens sejam efetivamente debatidas, entendidas e incorporadas pela doutrina e pelos tribunais, mas é inegável que o Direito necessita estar atento aos anseios da sociedade a fim de conseguir fornecer respostas que solucionem os seus impasses.
5.Referências 
AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. In: SILVA, Jorge Cesar Ferreira da. A Boa-Fé e a Violação Positiva do Contrato. Prefácio. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. XI-XIII. Disponível em: [https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/464/.pdf]. Acesso em: 30.08.2018.
ANDRADE, Daniel de Pádua; PEREIRA, Fabio Queiroz. Revisitando o Papel da Violação Positiva do Contrato na Teoria do Inadimplemento. RevistaScientia Iuris, Londrina, v. 22, n. 1, p. 258-282, mar. 2018. 
BASTOS, Maria Aparecida Dutra. A Responsabilidade Civil Decorrente da Perda do Tempo no Contexto dos Chamados “Novos Danos” e a Necessidade de Categorização do Dano Temporal. In: BORGES, Gustavo; MAIA, Maurilio Casas (Orgs.). Dano Temporal: o tempo como valor jurídico. 1. ed. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018.
BRASIL. Conselho da Justiça Federal (CJF).I Jornada de Direito Civil. Enunciado n. 24: Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil (LGL\2002\400), a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. Disponível em: [www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/670]. Acesso em: 13.02.2019.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Relatório Justiça em Números 2017 (ano-base 2016). Disponível em: [www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/12/b60a659e5d5cb79337945c1dd137496c.pdf]. Acesso em: 30.08.2018.
BRASIL. Lei 8.078, de 11 de set. de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: [www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm]. Acesso em: 29.08.2018.
BRASIL JR., Samuel Meira; CUNHA, Gabriel Sardenberg. Violação positiva do contrato, obrigação como processo e o paradigma do inadimplemento. Civilistica.com, Rio de Janeiro, ano 7, n. 2, 2018. Disponível em: [http://civilistica.com/violacao-positiva-do-contrato-obrigacao]. Acesso em: 05.02.2019.
DESSAUNE, Marcos. Teoria Aprofundada do Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado e da vida alterada. 2. ed. rev. e ampl. Vitória: (s.n), 2017.
LOPES, José Reinaldode Lima. Decidindo sobre Recursos Escassos: raciocínio jurídico e economia. Direitos Sociais: teoria e prática. São Paulo: Método, 2006.
MARINANGELO, Rafael. A Violação Positiva do Contrato e o Inadimplemento dos Deveres Laterais Impostos Pela Boa-Fé. Dissertação de mestrado apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo: 2005. Disponível em: [https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/6374/1/RAFAEL.pdf]. Acesso em: 30.08.2018.
OLIVEIRA, Amanda Flávio de. In: DESSAUNE, Marcos. Teoria Aprofundada do Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado e da vida alterada. Apresentação à 2. ed. rev. e ampl. Vitória: (s.n), 2017.
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SANTOS, Camila Fernandes; SAMPAIO JÚNIOR, Rodolpho Barreto. Efeitos Jurídicos da Violação Positiva do Contrato: indenização ou resolução contratual? Disponível em: [www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=2f58929950c0c51f]. Acesso em: 30.08.2018. 
SILVA, Jorge Cesa Ferreira da apud ANDRADE, Daniel de Pádua; PEREIRA, Fabio Queiroz. Revisitando o Papel da Violação Positiva do Contrato na Teoria do Inadimplemento. RevistaScientia Iuris, Londrina, v. 22, n. 1, p. 258-282, mar. 2018. 
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito do Consumidor: direito material e processual. 2. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2013.
TERRA, Aline Miranda Valverde. A violação positiva do contrato é figura efetivamente útil no Direito brasileiro? In: MATOS, Ana Carla Harmatiuk; TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; TEPEDINO, Gustavo (Coords.). Direito Civil, Constituição e unidade do sistema: Anais do Congresso Internacional de Direito Civil Constitucional. V Congresso do IBDCivil, Belo Horizonte, p. 97-112, 2019. 
   
1 ANDRADE, Daniel de Pádua; PEREIRA, Fabio Queiroz. Revisitando o Papel da Violação Positiva do Contrato na Teoria do Inadimplemento. RevistaScientia Iuris, Londrina, v. 22, n. 1, 262, mar. 2018. 
 
2 Idem.
 
3 BRASIL JR., Samuel Meira; CUNHA, Gabriel Sardenberg. Violação positiva do contrato, obrigação como processo e o paradigma do inadimplemento. Civilistica.com. Rio de Janeiro, ano 7, n. 2, 2018. Disponível em: [http://civilistica.com/violacao-positiva-do-contrato-obrigacao]. Acesso em: 05.02. 2019.
 
4 TERRA, Aline Miranda Valverde. A violação positiva do contrato é figura efetivamente útil no Direito brasileiro? In: MATOS, Ana Carla Harmatiuk; TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; TEPEDINO, Gustavo (Coord.). Direito Civil, Constituição e unidade do sistema: Anais do Congresso Internacional de Direito Civil Constitucional. V Congresso do IBDCivil, Belo Horizonte, p. 98, 2019. 
 
5 ANDRADE, Daniel de Pádua; PEREIRA, Fabio Queiroz. Revisitando o Papel da Violação Positiva do Contrato na Teoria do Inadimplemento. RevistaScientia Iuris, Londrina, v. 22, n. 1, p. 263 e 264, mar. 2018.
 
6 Nesse sentido: “Ao contemplar-se a estrutura da relação obrigacional hoje entendida como complexa é possível nela constatar a existência de uma marcha processual findada com o adimplemento. Adimplemento este que, porém, não mais consegue ser explicado somente pelas noções de crédito e de débito. Isso porque esta obrigação complexa é dotada de um sem-número de feixes finalísticos que correspondem a uma ideia mais ampla de adimplemento, traduzida especificamente pela adequação da conduta dos obrigados a um standard jurídico de boa-fé. Desse modo, assim como ocorre com as noções de crédito e débito, também os institutos clássicos do inadimplemento absoluto e da mora não conseguem mais exaurir a compreensão do fenômeno do inadimplemento na atual concepção da relação obrigacional.” (BRASIL JR., Samuel Meira; CUNHA, Gabriel Sardenberg. Violação positiva do contrato, obrigação como processo e o paradigma do inadimplemento. Civilistica.com, Rio de Janeiro, ano 7, n. 2, 2018. Disponível em: [http://civilistica.com/violacao-positiva-do-contrato-obrigacao]. Acesso em: 05.02. 2019.).
 
7 TERRA, Aline Miranda Valverde. A violação positiva do contrato é figura efetivamente útil no Direito brasileiro? In: MATOS, Ana Carla Harmatiuk; TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; TEPEDINO, Gustavo (Coord.). Direito Civil, Constituição e unidade do sistema: Anais do Congresso Internacional de Direito Civil Constitucional .V Congresso do IBDCivil, Belo Horizonte, p. 102, 2019.
 
8 BRASIL JR., Samuel Meira; CUNHA, Gabriel Sardenberg. Violação positiva do contrato, obrigação como processo e o paradigma do inadimplemento. Civilistica.com., Rio de Janeiro, ano 7, n. 2, 2018. Disponível em: [http://civilistica.com/violacao-positiva-do-contrato-obrigacao]. Acesso em: 05.02. 2019.
 
9 CC, art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
 
10 CC, art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.
 
11 Enunciado 24 da I Jornada de Direito Civil: “Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.” (BRASIL. Conselho da Justiça Federal (CJF). I Jornada de Direito Civil. Enunciado n. 24. Disponível em: [www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/670]. Acesso em: 13.02. 2019.)
 
12 SANTOS, Camila Fernandes; SAMPAIO JÚNIOR, Rodolpho Barreto. Efeitos Jurídicos da Violação Positiva do Contrato: indenização ou resolução contratual? Disponível em: [www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=2f58929950c0c51f]. Acesso em: 30.08.2018. 
 
13 PEREIRA, Carlos Frederico Bastos; SILVESTRE, Gilberto Fachetti. As modalidades de violação positiva do contrato. Revista Fórum de Direito Civil, Belo Horizonte, ano 1, n. 1, p. 227, set.-dez. 2012.
 
14 CDC, art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:[...]
 III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica, sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
 
15 TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito do Consumidor: direito material e processual. 2. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2013.
 
16 CC, art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.CC, art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster.
CC, art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.
CC, art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
CC, art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua morader causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.
CC, art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.
CC, art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.
CC, art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.
CC, art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.
CC, art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.
CC, art. 401. Purga-se a mora:
I – por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta;
II – por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data.
 
17 CC, art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.CC, art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
CC, art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.
 
18 Assim, “quando se tratar de Direito das Obrigações, será utilizado o instituto da responsabilidade civil, e quando se tratar de Direito dos Contratos, será utilizada a Resolução Contratual. Porém, como já foi dito anteriormente, o contrato é uma fonte da obrigação, por isso, é demasiado difícil saber qual será a sanção, se responsabilidade civil ou se resolução do contrato, daí a discussão sobre qual o efeito jurídico da violação positiva. Basicamente, a responsabilidade civil surge em face de um descumprimento obrigacional, acarretando a imposição de indenizar por perdas e danos. Porém, o campo de abrangência da responsabilidade não alcança apenas as perdas e danos e o dever de indenizar, já que as transformações sociais fazem com que a responsabilidade tenha vários papéis para o Direito”. (SANTOS, Camila Fernandes; SAMPAIO JÚNIOR, Rodolpho Barreto. Efeitos Jurídicos da Violação Positiva do Contrato: indenização ou resolução contratual? Disponível em: [www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=2f58929950c0c51f]. Acesso em: 30.08.2018.)
 
19 SILVA, Jorge Cesa Ferreira da apud ANDRADE, Daniel de Pádua; PEREIRA, Fabio Queiroz. Revisitando o Papel da Violação Positiva do Contrato na Teoria do Inadimplemento. RevistaScientia Iuris, Londrina, v. 22, n. 1, p. 267, mar. 2018. 
 
20 ANDRADE, Daniel de Pádua; PEREIRA, Fabio Queiroz. Revisitando o Papel da Violação Positiva do Contrato na Teoria do Inadimplemento. RevistaScientia Iuris, Londrina, v. 22, n. 1, p. 268, mar. 2018.
 
21 Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Relatório Justiça em Números 2017 (Ano-base 2016). Assuntos mais demandados nos juizados especiais estaduais:1. Direito do Consumidor− Responsabilidade do Fornecedor/Indenização por Dano Moral: 1.234.983 (15,15%);
2. Direito Civil− Responsabilidade Civil/Indenização por Dano Moral: 554.922 (6,81%);
3. Direito Civil− Obrigações/Espécies de Títulos de Crédito: 345.149 (4,23%);
4. Direito Civil− Obrigações/Espécies de Contratos: 338.750 (4,16%);
5. Direito do Consumidor− Responsabilidade do Fornecedor/Indenização por Dano Material: 268.834 (3,30%). (BRASIL. Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Relatório Justiça em Números 2017 (ano-base 2016). Disponível em: [www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/12/b60a659e5d5cb79337945c1dd137496c.pdf]. Acesso em: 30.08.2018.)
 
22 OLIVEIRA, Amanda Flávio de. In: DESSAUNE, Marcos. Teoria Aprofundada do Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado e da vida alterada. Apresentação à 2. ed. rev. e ampl. Vitória: (s.n), 2017. p. 09.
 
23 DESSAUNE, Marcos. Teoria Aprofundada do Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado e da vida alterada. 2. ed. rev. e ampl. Vitória: (s.n), 2017. p. 270.
 
24 CDC, art. 8º. Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. 
 
25 CDC, art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...]III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; [...]
CDC, art. 9º O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
CDC, art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
Parágrafo único.As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.  
 
26 CDC, art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: [...]III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; [...]
 
27 CDC, art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III – transfiram responsabilidades a terceiros; IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveiscom a boa-fé ou a eqüidade; V – (Vetado); VI – estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII – determinem a utilização compulsória de arbitragem; VIII – imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; IX – deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII – obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; XIII – autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração; XIV – infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; XV – estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; XVI – possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias. [...]
 
28 CDC, art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: I – condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; II – recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes; III – enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; IV – prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; V – exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; VI – executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes; VII – repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; VIII – colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); IX – recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais;  X - (Vetado). X – elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. XI – Dispositivo incluído pela  MPV n. 1.890-67, de 22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da conversão na  Lei n. 9.870, de 23.11.1999; XII – deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério; XIII – aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido; XIV – permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo. Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento. (sic)
 
29 CDC, art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...]VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; [...]
 
30 O termo “carência” designa o conjunto das necessidades, desejos e expectativas da pessoa. (DESSAUNE, Marcos. Teoria Aprofundada do Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado e da vida alterada. 2. ed. rev. e ampl. Vitória: (s.n), 2017. p. 273.)
 
31 Nesse sentido, se o tempo é o suporte implícito da existência humana, isto é, da vida que nele se desenvolve, é possível concluir que o tempo vital, existencial ou produtivo é um dos objetos do direito fundamental à própria vida. Dessaune entende que “a jurisprudência tradicional – segundo a qual a via crucis percorrida pelo consumidor, ao enfrentar problemas de consumo criados pelos próprios fornecedores, representa “mero dissabor ou aborrecimento”, e não um dano moral indenizável – revela um raciocínio erigido sob premissas equivocadas que, naturalmente, conduzem a essa conclusão falsa. A primeira de tais premissas é que o conceito de dano moral enfatizaria as consequências emocionais da lesão, enquanto ele já evoluiu para centrar-se no bem ou interesse jurídico atingido; ou seja, o objeto do dano moral era a dor, o sofrimento, a humilhação, o abalo psicofísico, e se tornou qualquer atributo da personalidade humana lesado. A segunda é que, nos eventos de desvio produtivo, o principal bem ou interesse jurídico atingido seria a integridade psicofísica da pessoa consumidora, enquanto, na realidade, são o seu tempo vital e as suas atividades existenciais. A terceira é que esse tempo existencial não seria juridicamente tutelado, enquanto, na verdade, ele se encontra resguardado tanto no elenco exemplificativo dos direitos da personalidade quanto no âmbito do direito fundamental à vida”. (DESSAUNE, Marcos. Teoria Aprofundada do Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado e da vida alterada. 2 ed. rev. e ampl. Vitória: (s.n), 2017. p. 275 e 276.)
 
32 ROSA, Alexandre Morais da; MAIA, Maurilio Casas. O Dano Temporal na Sociedade do Cansaço: uma categoria lesiva autônoma? In: BORGES, Gustavo; MAIA, Maurilio Casas (Orgs.). Dano Temporal: o tempo como valor jurídico. 1. ed. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. p. 25-48.
 
33 Em relação ao dano temporal, Rosa e Maia fazem um panorama explicando que:No cenário doutrinário brasileiro, um dos primeiros estudos identificados é do desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), André Gustavo Corrêa de Andrade (2005), o qual analisou a questão da perda de tempo, enquanto fato ensejador de compensação por danos morais.André Gustavo Corrêa de Andrade (2009) publicou ainda o livro Dano Moral e Indenização Punitiva, no qual desenvolve tópico específico sobre o “dano moral em razão da perda de tempo livre”. Para Corrêa de Andrade, a “perda de tempo livre” se inclui na “ampliação do conceito de dano moral” (ANDRADE, 2009, p. 102).
Em 2010 (p. 67), a obra de Leonardo Medeiros Garcia pioneiramente destacava a indenização da perda de tempo: “Outra forma interessante de indenização por dano moral que tem sido admitida pela jurisprudência é a indenização pela perda do tempo livre do consumidor.”
Entretanto, a obra intitulada Desvio produtivo do consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado, de Marcos Dessaune (2011), foi a grande ampliadora da popularidade dos estudos sobre a perda de tempo. Porém, naquela ocasião, o dano em razão da perda de tempo continuava limitada ao reduto do dano moral. Para Dessaune (2011, p. 133-135), a tutela do tempo deveria ter regulamento próprio – do contrário, continuava o autor em sua primeira edição, o desvio produtivo seria “mero ‘novo fato gerador de dano moral’”.
Marcos Dessaune (2017, p. 276, g.n.), na segunda edição da obra Desvio Produtivo do Consumidor, considera o dano em razão do desvio produtivo um dano existencial: “Consequentemente um evento de desvio produtivo traz como resultado para o consumidor, acima de tudo, um dano existencial.”
Convém recordar que em maio de 2012, Vitor Guglinski veiculou na web (Jus Navigandi) texto intitulado “Danos morais pela perda do tempo útil: uma nova modalidade”, enquadrando o dano pela perda de tempo como uma modalidade de dano moral [...].
Também em maio de 2013, Maurilio Casas Maia posicionou-se acerca da autonomia do dano temporal enquanto categoria lesiva autônoma. [...] (ROSA, Alexandre Morais da; MAIA, Maurilio Casas. O Dano Temporal na Sociedade do Cansaço: uma categoria lesiva autônoma? In: BORGES, Gustavo; MAIA, Maurilio Casas (Orgs.).Dano Temporal: o tempo como valor jurídico. 1. ed. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. p. 25-48.) 
 
34 BASTOS, Maria Aparecida Dutra. A Responsabilidade Civil Decorrente da Perda do Tempo no Contexto dos Chamados “Novos Danos” e a Necessidade de Categorização do Dano Temporal. In: BORGES, Gustavo; MAIA, Maurilio Casas (Orgs.). Dano Temporal: o tempo como valor jurídico. 1. ed. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. p. 195-216.
 
35 ROSA, Alexandre Morais da; MAIA, Maurilio Casas. O Dano Temporal na Sociedade do Cansaço: uma categoria lesiva autônoma? In: BORGES, Gustavo; MAIA, Maurilio Casas (Orgs.). Dano Temporal: o tempo como valor jurídico. 1. ed. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. p. 25- 48.

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