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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS - ICJ CURSO DE DIREITO FERNANDA UCHOA BIZERRA O PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR COMO REMÉDIO PARA AS CLÁUSULAS ABUSIVAS NOS CONTRATOS DE ADESÃO MANAUS 2019 FERNANDA UCHOA BIZERRA O PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR COMO REMÉDIO PARA AS CLÁUSULAS ABUSIVAS NOS CONTRATOS DE ADESÃO Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Bacharel em Direito, apresentando à UNIP. Orientador (a) Professor Mestre Douglas Abreu. Manaus 2019 FERNANDA UCHOA BIZERRA O PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR COMO REMÉDIO PARA AS CLÁUSULAS ABUSIVAS NOS CONTRATOS DE ADESÃO Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Bacharel em Direito, apresentando à UNIP. Aprovado em ____/____/____ ____________________________________________________ Professor Mestre Douglas Abreu – Orientador (a) Universidade Paulista ____________________________________________________ 1º Membro da Banca UNIP Universidade Paulista ____________________________________________________ 2º Membro da Banca UNIP Universidade Paulista AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pai, todo poderoso, por ter me concedido a vida, saúde e a possibilidade de cursar o tão sonhado Curso de Direito. À minha querida Mãe, Tatyana Rodrigues Uchoa, por ser uma mulher guerreira, perseverante e sensível, que sempre deu sua vida em prol da criação de seus filhos; Ao meu querido Pai, Francisco Neilson Bizerra, por se meu maior exemplo de vida e ter me ensinado a ser batalhadora, a ter coragem e a ser uma Mulher honesta, ao qual tenho gratidão eterna que não cabem em palavras. Ao meu irmão, Neilson Edgar Uchoa Bizerra, que sempre foi meu companheiro, camarada. E por fim, ao meu Ilustre Professor e Orientador, Douglas Abreu, por ter me repassado conhecimento ao longo da jornada acadêmica e, principalmente, por me direcionar na confecção deste trabalho. RESUMO O Direito acompanha a evolução da sociedade, e neste contexto surge o contrato de adesão, que visa suprir as necessidades de contratação em massa de produtos e/ou serviços. Devido à forma de como se dá essa contratação, surge um problema que prejudica os consumidores, uma vez que o fornecedor, que é quem elabora o contrato de adesão, tem a prerrogativa de estabelecer as normas de como será disposta tal relação, e com isso tem a oportunidade de inserir termos que o beneficie, mas que prejudique a parte vulnerável. Nessa linha de pensamento, a Lei nº 8.078 de 1990 busca regular as relações contratuais por adesão, além de proteger a parte vulnerável da relação, sempre procurando impor a boa-fé como fonte de tais relações. Palavras-chave: Contrato de Adesão. Cláusula Abusiva. Boa-fé. Código de Defesa do Consumidor. Vulnerabilidade. ABSTRACT The Law accompanies the evolution of society, and in this context the contract of adhesion arises, which aims to meet the needs of mass contracting of products and / or services. Due to the way this hiring takes place, a problem arises that harms consumers, since the supplier, who is the one who draws up the contract of adhesion, has the prerogative to establish the norms of how such a relationship will be arranged, and with that you have the opportunity to insert terms that benefit you, but that will harm the vulnerable party. In this line of thought, Law No. 8,078 of 1990 seeks to regulate contractual relations by adhesion, in addition to protecting the vulnerable part of the relationship, always seeking to impose good faith as the source of such relations. KeyWords: Adhesion contract. Abusive Clause. Good faith. Code of Consumer Protection. Vulnerability. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................8 2. BREVE RELADO ACERCA DOS CONTRATOS CONSUMERISTAS EM GERAL ....... 10 3. CONTRATOS DE ADESÃO.........................................................................................................16 3.1 Contratos de Adesão sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor ......... 18 3.1.1 Princípio da Transparência ....................................................................................... 21 4. CLÁUSULAS ABUSIVAS INCOMPATÍVEIS COM A BOA-FÉ NOS CONTRATOS DE ADESÃO .............................................................................................................................................25 4.1. Da Cláusula abusiva incompatível com a boa-fé na Lei 8.078 de 1990 .................. 25 4.2. Cláusulas Abusivas que ferem a boa-fé no contrato de Adesão ............................ 29 4.3. Contrato de Adesão e o princípio da Vulnerabilidade do Consumidor ................. 32 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 37 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 38 8 1. INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo demonstrar a aplicação dos institutos estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor nas relações contratuais por adesão, explorando os princípios e normas estabelecidas por tal Códex. A importância dessas relações se dá pela incessante contratação por adesão, e pela cultura brasileira em manter-se inerte quando se trata de conhecer seus direitos, além do monopólio do poder de produção e escolha do fornecedor, o que torna vulnerável os consumidores e necessário a uma proteção legislativa e ampla para eles. Será explorado neste trabalho a supremacia do instituto da boa-fé nas relações contratuais pelo contrato de adesão, e como sua aplicação é indiscutível quando se fala de promover a equidade entre as partes pactuantes, pois o alicerce das relações contratuais nasce do Princípio da boa-fé, e nesse contexto, será abordado a boa-fé objetiva. Também será apontado como fator necessário ao negócio jurídico perfeito o princípio da função social do contrato e como sua aplicação é necessária, não somente ao interesse particular, mas de forma coletiva. Abordar-se-á o fundamento dos contratos de adesão, e a preocupação do legislador consumerista em evitar que tal espécie contratual ocorra de forma abusiva ao consumidor, fazendo referência ao Princípio da Transparência, uma vez que ele é a parte frágil da relação contratual consumerista. As cláusulas abusivas que ferirem a boa-fé serão abordadas para sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, sempre em parâmetro com o Contrato de Adesão. O princípio da Vulnerabilidade do Consumidor será apontado como remédio contra a imposição das Cláusulas Abusivas, sob análise de sua importância e amparo legal. A análise desse tema possui importante relevância no âmbito jurídico-social, pois a prática desse instituto pelos consumidores brasileiros é numerosa e rotineira, devido a sua busca por adquirir produtos, e somente o podem fazê-lo através do contrato de adesão. 9 Ademais, serão apontados referência doutrinárias, julgados e normas jurídicas sobre o tema discutido, buscando firmar a tese de que o consumidor é a parte vulnerável e precisa ser protegida dos absurdos maldosos do fornecedor ambicioso e ganancioso. 10 2. BREVE RELADO ACERCA DOS CONTRATOS CONSUMERISTAS EM GERAL As relações de consumo são cristalinas no cotidiano das pessoas em geral, uma vez que o ser humano está constantemente consumindo produtos e/ou serviços. Devido a esse ritmo de consumo,o Direito busca regular tais relações em prol de manter o equilíbrio nos vínculos consumeristas, sempre procurando frear os abusos que surgem junto à evolução social. Os contratos que norteiam as relações de consumo servem para estabelecer os termos que regerão a forma como será conduzida. É pacífico entre os doutrinadores que a Lei nº. 8.078 de 1990 é uma norma principiológica, devido à proteção constitucional aos consumidores, sendo taxado no rol dos Direitos Fundamentais estabelecidos na Carta Magna, como pode ser visto no Artigo 5º, XXXII, da Constituição Federal de 1988, qual seja, “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. (Constituição da República Federativa do Brasil.). O Código de Defesa do Consumidor é, portanto, um microssistema implantado pelo Estado na ânsia ne promover a mais límpida justiça nas relações de consumo, isso é evidente em seu Artigo 4º, caput e inciso III, o qual versa: Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. (Código de Defesa do Consumidor). 11 É notório, no texto normativo citado acima, que o legislador preocupou-se em estabelecer que as relações de consumo devem manter o equilíbrio necessário para que não ocorra injustiças entre consumidor e fornecedor, sendo o primeiro mais nitidamente protegido, por ser, teoricamente, o elo mais fraco em tal relação. Neste sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, TJ-RS, julgou: APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. DECISÃO PARADIGMA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AFASTAMENTO NO CASO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL EXPRESSA. 1. A jurisprudência nacional reconhece a possibilidade de capitalização de juros, desde que expressamente pactuada. Necessária a contratação expressa. Recurso Especial nº. 1.388.972/SC. Inexistência de pactuação, no caso. Ausente hipótese de retratação. 2. Não obstante à possibilidade de capitalização de juros destacada no Recurso Especial paradigma, que enseja o retorno dos autos a este Colegiado para juízo de retratação, o mesmo Colendo Superior Tribunal de Justiça determina a contratação expressa da rubrica para a sua incidência. Recurso Especial nº 1.388.972/SC representativo da controvérsia. 3. As relações de consumo impõem a submissão das partes à equidade contratual. Observância dos direitos e deveres do contrato, a fim de se alcançar e preservar uma relação equilibrada. Artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor. Regras contratuais excessivamente desvantajosas serão consideradas nulas de pleno direito. A autonomia da vontade deve ser permeada pelo dever de boa-fé objetiva, sob pena de o contrato conduzir o contratante vulnerável a... situação de abuso. 4. Cabe ao Estado, na coordenação da ordem econômica, exercer a repressão do abuso do poder econômico, com o objetivo de compatibilizar os objetivos das empresas com a necessidade coletiva. Quando evidenciada a desvantagem do consumidor, ocasionada pelo desequilíbrio contratual gerado pelo abuso do poder econômico, restando, assim, ferido o princípio da equidade contratual, deve ele receber uma proteção compensatória. Inteligência dos artigos 4º, inciso III e 47, ambos do Código de Defesa do Consumidor. Precedente do Superior Tribunal de Justiça. 5. Caso em que a análise do conteúdo fático-probatório autoriza o afastamento do paradigma invocado do Colendo Superior Tribunal de Justiça EM JUÍZO DE RETRATAÇÃO, MANTIDO O ACÓRDÃO. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10601113/artigo-51-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10600942/inciso-iv-do-artigo-51-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/código-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10608486/artigo-4-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10608217/inciso-iii-do-artigo-4-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10601431/artigo-47-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/código-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 12 (Apelação Cível Nº 70079613667, Primeira Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alberto Delgado Neto, Julgado em 28/05/2019).” (Processo n. AC 70079613667 RS ) (https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/719058830/apelacao- civel-ac-70079613667-rs?ref=juris-tabs) As relações consumeristas dão-se através da pactuação contratual, uma vez que o contrato é um acordo de vontades, em conformidade com a lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Nessa linha de pensamentos, o Código Civil, no Art. 421, orienta que os contratos em geral devem atender a função social, in verbis:“Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.” (Brasil. Código Civil. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.). A função social do contrato refere-se ao limite da autonomia da vontade que o legislador trouxe aos contratantes com a finalidade de promover o equilíbrio nas relações contratuais, pois assim evita-se que a liberdade contratual seja exercida de forma abusiva, autoritária ou em desconformidade com os interesses da coletividade. A respeito da função social do contrato, o brilhante Doutrinador Caio Mário da Silva Pereira se posiciona: A função social do contrato, portanto, na acepção mais moderna, desafia a concepção clássica de que os contratantes tudo podem fazer, porque estão no exercício da autonomia da vontade. O reconhecimento da inserção do contrato no meio social e da sua função como instrumento de enorme influência na vida das pessoas possibilita um maior controle da atividade das partes. Em nome do princípio da função social do contrato se pode, v.g., evitar a inserção de cláusulas que venham injustificadamente a prejudicar terceiros ou mesmo proibir a contratação tendo por objeto determinado bem, em razão do interesse maior da coletividade. (PEREIRA, pg. 13) Além, Miguel Reale também relata: Não há razão alguma para se sustentar que o contrato deva atender tão somente aos interesses das partes que o estipulam, porque ele, por sua própria finalidade, exerce uma função social inerente ao poder negocial que é uma das fontes do direito, ao lado da legal, da 13 jurisprudencial e da consuetudinária. (www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm) Outra ilustre doutrinadora, Maria Helena Diniz, também se posiciona sobre o tema: “É preciso não olvidar que a liberdade contratual não é ilimitada ou absoluta, pois está limitada pela supremacia da ordem pública, que veda convenções que lhe sejam contrárias aos bons costumes, de forma que a vontade dos contratantes está subordinada ao interesse coletivo. Pelo Código Civil, no art. 421, “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato” (CF, Arts. IV, 5º, XXIII, e 170, III). O contrato deverá ter, portanto, por finalidade e por limite a sua função social. O Projeto de Lei n. 276/2007, por sua vez, visa substituir a locução “liberdade de contratar” que toda pessoa tem desde que tenhacapacidade negocial, por “liberdade contratual”, por ser mais técnica, indicando o poder de discutir livremente as cláusulas do contrato, e também suprimir a expressão “em razão”, já que a liberdade contratual está limitada pela função social do contrato, mas não é sua razão de ser. O Parecer Vicente Arruda rejeitou essa proposta do PL n. 6.960/2002 (atual PL n. 276/2007), argumentando que: “ A mudança proposta não passa de um jogo de palavras, que, ainda por cima, piora o texto, pois contrato não tem liberdade, quem tem liberdade é a pessoa, cuja liberdade de contratar está vinculada à função social do contrato, imposta pelo ordenamento jurídico”. (DINIZ, 2008. PG 24) Ainda sobre a Função Social do Contrato, o Tribunal de Justiça do Amapá julgou: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO DE BUSCA E APREESSÃO - APLICAÇÃO DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO - PRINCÍPIOS DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS, DA PROBIDADE E BOA-FÉ. 1) A teoria do adimplemento substancial dos contratos visa a impedir o uso desequilibrado do direito de resolução por parte do credor, preterindo desfazimentos desnecessários em prol da preservação da avença da sociedade, com assistências à realização dos princípios da função social do contrato e da boa-fé. 2) No caso em apreço, é de se aplicar a teoria do adimplemento substancial dos contratos, em razão do réu/apelante ter pago mais de 90% (noventa por cento) da obrigação total fiduciária. 3) Recurso conhecido e provido. (TJ-AP - APL: 00046686520148030001 AP, Relator: Juiz Convocado MÁRIO MAZUREK, Data de Julgamento: 28/04/2015, CÂMARA ÚNICA) Pode-se observar que o Princípio da Função Social Contratual é necessária no momento em que deixa-se de observar a execução da justiça nas relações de consumo, uma vez que o fornecedor sempre vida o lucro, e a mão do Direito busca a Justiça, que sempre visa evitar ou punir os abusos impostos pelas pessoas. http://www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm 14 Nota-se a importância do princípio acima citado, vez que demonstra-se de forma vital à imposição da mais límpida Justiça, pois busca manter, e por vezes reaver, o equilíbrio nas relações contratuais, pois o homem, em sua natureza é mal, portanto, necessita-se que haja o Direito para que se tenha o equilíbrio necessário entre as partes que buscam pactuar um negócio jurídico. O filósofo inglês Thomas Hobbes tinha uma visão de que o homem é egoísta em sua essência, pois ele é movido pelo medo da morte e pela esperança de ganhos pessoais. Uma de suas frases que marcaram seu ponto ideológico, em sua Obra Leviatã, 1961, foi: “O homem é mau; o homem é o lobo do homem.” (HOBBES, Thomas. Leviatã. 1991.). Nota-se, portanto, a necessidade do Direito em clamar ao princípio da Função Social, pois nele assegura-se a Justiça nos contratos estabelecidos entre consumidor e fornecedor, que não deverão ultrapassar os interesses da coletividade. Ademais, há a necessidade em se falar da boa-fé objetiva, pois o Fornecedor e o Consumidor deverão obrigar-se sob o eixo de tal princípio, pois o Código de Defesa do Consumidor baseia-se em tal. O princípio da boa-fé é moldado na ideia do agir com justiça, com boa intenção, de forma honesta e equilibrada. Neste sentido, assevera o entendimento do Ilustre Doutrinador Silvio Rodrigues: Numa acepção genérica, derivada de sua própria etimologia, bona fides, a fides seria a honestidade, a confiança, a lealdade, a sinceridade que deve ser usada pelos homens em suas relações internegociais. (RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos Contratos e das Declarações Unilaterais. Ano. 2000. 30 ed. Pg. 61). Não são poucos os estudiosos que apontam duas maneiras como as várias legislações encaram a boa-fé. Uma maneira objetiva, que se poderia chamar de boa-fé lealdade, e outra subjetiva, que se poderia chamar boa-fé crença. No primeiro caso se cogita daquele dever genericamente imposto aos homens; no segundo, na boa-fé crença, na persuasão, ou seja, do convencimento que está agindo de maneira correta. (RODRIGUES, Silvio, Direito Civil: dos Contratos e das Declarações Unilaterais. Ano. 2000. 30 ed. Pg. 62). 15 Além disso, é claro no Art. 422 do Código Civil a preocupação do legislador em implantar o princípio da boa-fé objetiva nas relações contratuais, vejamos: ‘’Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé’’. Sobre tal artigo, o Doutrinador Caio Mário da Silva Pereira se posiciona: A boa-fé referida no art. 422 do Código é a boa-fé objetiva, que é característica das relações obrigacionais. Ela não se qualifica por um estado de consciência do agende de estar se comportando de acordo com o Direito, como ocorre com a boa-fé subjetiva. A boa-fé objetiva não diz respeito ao estado mental subjetivo do agente, mas sim ao seu comportamento em determinada relação jurídica de cooperação. O seu conteúdo consiste em um padrão de conduta, variando as suas exigências de acordo com o tipo de relação existente entre as partes. (PEREIRA, Caio Mário da Silva Pereira. Instituições de Direito Civil: Contratos. 22 ed. 2018. Rio de Janeiro: Forense. Pg. 604) É de suma importância que as partes estejam agindo em conformidade com o princípio da boa-fé objetiva, uma vez que em caso contrário, o contrato tornar-se-á nulo, uma vez que a falta de tal afeta sua essência. Sobre isso, aduz Judith Martins Costa: Na sua configuração no domínio das obrigações a expressão “boa- fé” indica, primeiramente, um modelo de comportamento, um standard valorativo de concretos comportamentos humanos. Esse standard considera modelar justamente um agir pautado por certos valores socialmente significativos, tais como a solidariedade, a lealdade, a probidade, a cooperação e a consideração aos legítimos interesses alheios, incluindo condutas omissivas sempre que o não- fazer, ou a abstenção, for o meio indicado para concretizar tais valores sociais que, mediante o princípio da boa-fé, adquirem entidade jurídica. (MARTINS, Judith Costa. A boa-fé objetiva e o adimplemento das obrigações. Revista Brasileira de Direito Comparado. Rio de Janeiro: Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro. 2003, p.233) O princípio da boa-fé objetiva torna-se tão necessário nas relações contratuais, que o legislador do Código de Defesa do Consumidor elaborou tal Códex em torno dele, pois assim, forçam os contratantes a agirem com boa intenção um com o outro ao estabelecerem suas relações consumerista. 16 3. CONTRATOS DE ADESÃO Em tese, os contratos são estabelecidos pelas partes, e de acordo com a vontade das partes. No entanto, com o advento da evolução da sociedade, e a massificação do consumo, principalmente após a Revolução Industrial, necessita-se que seja facilitada a forma de contratação. Nesse cenário, nascem dois modelos de contratos, os paritários e o por adesão. Os contratos paritários são aqueles onde contratante e contratado discutem os termos e inserem mutuamente suas vontades. São, portanto, elaborados da forma tradicional de que se conhece o contrato, ou seja, com base no princípio da autonomia da vontade. Sobre os contratos paritários, o Nobre Doutrinador define: “A situação oposta ao contrato de adesão se dá no chamado contrato paritário, em que há plena negociação do conteúdo pelas partes.” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito do Consumidor: Direito Material e Processual. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método. 2017. PG 201) Portanto, o contrato paritário ocorre de forma tradicional, conforme explana o Ilustre Doutrinador Clóvis Beviláqua: “o acordo de vontade de duas ou mais pessoas com a finalidade de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direito” (BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil Anotado, vol. 4. Rio de Janeiro: Francisco Alves.1916. PG 245). Ainda sobre o contrato paritário, dispõe o Ilustre DoutrinadorDaniel Amorim Assumpção Neves: “Como fica, destarte, evidente, estes contratos se opõe aos contratos paritários, que são aqueles que são contratos onde há, verdadeiramente, discussões com o escopo de se chegar a uma transigência. Como se bem depreende, neste tipo de contrato (paritário) as partes são colocadas em pé de igualdade, manifestando, deste modo, a autonomia de suas vontades que deveria ser peculiar a todos contratos. Ainda importante se dizer que, neste contrato as partes possuem uma ampla liberdade, pois cada parte poderá fazer suas considerações e objeções (fase da pontuação) para enfim se chegar a um acordo.” (MOREIRA ,Luiz Fernando. Teoria geral dos contratos de adesão. Disponível em <http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=202>.) 17 Distinto é o contrato de adesão, pois ocorre de forma diversa da tradicional, no entanto, por necessidade da massa, torna-se necessário e indispensável. Essa necessidade coletiva para contratar por adesão, insere tal instituto no Princípio da Função Social do Contrato, uma vez que sua utilização atende a necessidade da população consumidora. O contrato de adesão, portanto, é um reflexo da sociedade atual, como tudo no Direito, uma vez que ele adequa-se às necessidades sociais. Além disso, é indispensável ao cenário consumerista atual, tendo em vista a praticidade de tal modalidade contratual. Este instituto define-se por ser um negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, onde somente a parte contratada estabelece, previamente, as cláusulas que serão inseridas no contrato, e a parte contratante somente aceita ou não, sendo impedida de modificar substancialmente as condições do contrato. O Código Civil de 2002, define: Art. 423. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente por um dos contratantes, sem que o aderente possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. § 1º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a facilitar a sua compreensão pelo aderente. § 2º As cláusulas contratuais, nos contratos de adesão, serão interpretadas de maneira mais favorável ao aderente. (Brasil. Código Civil. 154. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.). O ilustríssimo doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra Direito Civil Brasileiro – Contratos e Atos Unilaterais, traz a definição para o tema: “Contratos de adesão são os que não permitem essa liberdade, devido à preponderância da vontade de um dos contratantes, que elabora todas as cláusulas. O outro adere ao modelo de contrato previamente confeccionado, não podendo modifica-las: aceita-as ou rejeita-as, de forma pura e simples, e em bloco, afastada qualquer alternativa de discussão. São exemplos dessa espécie, dentre outros, os contratos de seguro, de consórcio, de transporte e os celebrados com a concessionária de serviços públicos (fornecedoras de água, energia elétrica etc).” (Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais. 16º ed. São Paulo: Saraiva. 2019. PG 98) 18 Outra emérita doutrinadora, Maria Helena Diniz, relata: “Os contratos de adesão constituem uma oposição à ideia de contrato paritário, por inexistir a liberdade de convenção, visto que excluem a possibilidade de qualquer debate e transigência entre as partes, uma vez que um dos contratantes se limita a aceitar as cláusulas e condições previamente redigidas e impressas pelo outro, aderindo a uma situação contratual já definida em todos os seus termos.” (DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria das Obrigações Contratuais e Extracontratuais. 24º ed. São Paulo: Saraiva. 2008. PG 89) Outra definição interessante sobre o contrato de adesão é a disposta pelos Ilustres Doutrinadores Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assumpção Neves: “Como se pode perceber, o contrato de adesão é aquele imposto pelo estipulante, seja ele um órgão público ou privado, geralmente o detentor do domínio ou poderio contratual. Resta ao aderente duas opções, quais sejam aceitar ou não o conteúdo do negócio (take-it- or-leave-it). A situação oposta ao contrato de adesão se dá no chamado contrato paritário, em que há plena negociação do conteúdo pelas partes.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção; TARTUCE, Flávio. Manual de Direito do Consumidor. 3. ed. – Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: MÉTODO, 2014. PG 252) Essa espécie de contratos, é, portanto, um espelho da necessidade social, devido à massificação das relações de consumo, o que torna o contrato de adesão indispensável. 3.1 Contratos de Adesão sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor Por ser um contrato estritamente relativo à relação de consumo, o Código de Defesa do Consumidor trouxe uma sessão sob título DOS CONTRATOS DE ADESÃO para tratar do tema. O artigo 54, do acima citado Códex dispõe: Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. § 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato. § 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior. 19 § 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. § 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. § 5° (Vetado). (Brasil. Código de Defesa do Consumidor. 749. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.). O Código de Defesa do Consumidor é a ferramenta pela qual o Estado dispõe as normas a serem seguidas pelos fornecedores e consumidores, e visa, principalmente, proteger o consumidor, uma vez que, em tese, este é a parte vulnerável da relação consumerista. Nota-se, portanto, a importância de proteger a relação contratual que se dá por meio do contrato de adesão, uma vez que o consumidor, já vulnerável, não pode opinar sobre as cláusulas previamente estabelecidas, no entanto, seu conteúdo deve ser apresentado a ele previamente. Nesse sentido, o Ilustre doutrinador José de Oliveira Ascensão dispõe: “Daqui resulta que estas Cláusulas, sejam genéricas sejam individuais abusivas, devem ser apresentadas ao destinatário previamente à celebração do negócio, em condições de poder ser dele conhecidas. Se o não forem a consequência é radical: não se entrega o conteúdo do contrato. Não são sequer inválidas, porque não chegam a ser conteúdo contratual.” (ASCENSÃO, José de Oliveira. Cláusulas Contratuais Gerais, Cláusulas Abusivas e o Novo Código Civil. Revista da Faculdade de Direito UFPR. Pg 07 Paraná. Disponível em ˂revistas.ufpr.br/direito/article/view/1744˃. Acessado em 27/06/2019.) Além disso, é necessário explanar a intenção do fornecedor e a do consumidor, pois assim, pode-se verificar a importância de tal tutela. O fornecedor visa o lucro, seu objetivo é vender seu produto e obter lucros; ao passo que o consumidor adquire o produto em prol de suprir alguma necessidade. Citando como exemplo, pode ser apontado a relação contratual entre um fornecedor de serviço de telefonia, e o consumidor de tal produto. O fornecedor visa 20 o lucro que vai ser oriundo de tal relação, sem importar-se se o fornecimento de tal produto irá ser adequado, enquanto o consumidor visa os benefícios que o serviço irá lhe propor, para suprir sua necessidade de comunicação. E, para que o fornecedor disponha aoconsumidor um serviço de telefonia adequado o Estado, através do Código de Defesa do Consumidor regula tal relação. Nessa linha de raciocínio, o Superior Tribunal de Justiça julgou: AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL (CPC/73). PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS TELEFONIA. CONTRATO DE ADESÃO AO PLANO DE EXPANSÃO DE TELEFONIA. PRETENSÃO DE RECEBIMENTO DE DIFERENÇA DE AÇÕES. 1. Controvérsia acerca da aplicação do critério do balancete mensal a um contrato de planta comunitária de telefonia - PCT com previsão de retribuição de ações condicionada à integralização do capital mediante dação da planta comunitária à companhia telefônica, nos termos da Portaria 117/1991 do Ministério das Comunicações. 2. Nos termos do Enunciado n.º 371/STJ: "nos contratos de participação financeira para a aquisição de linha telefônica, o Valor Patrimonial da Ação (VPA) é apurado com base no balancete do mês da integralização". 3. Na linha da jurisprudência desta Corte Superior, a data da integralização, mencionada no Enunciado n.º 371/STJ, é a data do pagamento do preço estabelecido no contrato, ou a do pagamento da primeira parcela, no caso de parcelamento. 4. Particularidade dos contratos da modalidade PCT, em que a integralização do capital não se dá em dinheiro, no momento do pagamento do preço, mas mediante a entrega de bens, em momento posterior ao pagamento do preço, com a incorporação da planta comunitária ao acervo patrimonial da companhia telefônica. 5. Necessidade de prévia avaliação e de aprovação da assembléia geral da companhia, para a integralização do capital em bens ('ex vi' do art. 8º da Lei 6.404/1976). 6. Inviabilidade de aplicação do Enunciado n.º 371/STJ aos contratos de participação financeira celebrados na modalidade PCT. 7. Precedente específico da QUARTA TURMA desta Corte Superior no mesmo sentido. 8. Não apresentação pela parte agravante de argumentos novos capazes de infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão agravada. 9. AGRAVO INTERNO CONHECIDO E DESPROVIDO. (STJ - AgInt nos EDcl no AgInt nos EDcl no REsp: 1602441 SP 2016/0135777-4, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 13/05/2019, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/05/2019). Tudo isso mostra que a preocupação do legislador em proteger o consumidor nos Contratos de Adesão demonstra-se fundada, uma vez que é rotina do 21 fornecedor impor sua vontade, esquecendo-se de fazer prosperar o equilíbrio contratual. 3.1.1 Princípio da Transparência É notória a preocupação do legislador em manter o consumidor informado dos termos contratuais, uma vez que os parágrafos 3º e 4º do artigo 54 do CDC padroniza uma forma a ser seguida no contrato de adesão. Em relação ao instituto do Princípio da Transferência, o Ilustre Doutrinador Flávio Tartuce expõe: “No contexto de valorização da transparência e da confiança nas relações negociais privadas, o Código de Defesa do Consumidor estabelece um regime próprio em relação aos meios de se propagar a informação, tendente a assegurar que a comunicação do fornecedor e a do produto ou serviço se façam de acordo com regras preestabelecidas, adequadas a ditames éticos e jurídicos que regulam a matéria.” (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito do Consumidor: Direito Material e Processual. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método. 2017. PG 38) O corpo do contrato de adesão, conforme as normas acima citadas, deverá ser redigido de forma clara e simples, sendo vetado letras com formato inferior ao corpo doze, além de que, as cláusulas que limitam o direito do consumidor deverão ter destaque, com a finalidade de que o consumidor fique ciente do que está contratando, com base no Princípio da Transparência. Através desse princípio que rege o texto normativo do Consumidor, o fornecedor deve manter o consumidor informado de todos os seus direitos. Nesse sentido, o art. 4º versa: “Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (...) IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; (...)” 22 (Brasil. Código de Defesa do Consumidor. 745. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.). Reiteradas vezes demonstra-se a preocupação do legislador com a ciência do consumidor do que está adquirindo, o que torna inconfundível qualquer ação em desacordo. Ainda nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor dispõe: Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.” “Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (...). (Brasil. Código de Defesa do Consumidor. PG 748. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.). No contrato de adesão não poderia ser diferente, principalmente por se tratar de um contrato pré-estabelecido, onde deve ficar evidente e inconfundível os termos estabelecidos. O princípio da transparência possui duas vertentes, quais sejam, de informar e de ser informado. No tocante a de informar, refere-se ao fornecedor, que deve manter o contratante informado de todos os seus direitos; ao passo que o de ser informado é relativo ao consumidor vulnerável, que tem o direito de ser informado de todos os seus direitos e de todos os termos a ele estabelecidos pelo que está contratando. Em atenção a este instituto, o Superior Tribunal de Justiça se posiciona: “‘O acesso dos consumidores a uma informação adequada que lhes permita fazer escolhas bem seguras conforme os desejos e necessidades de cada um”. (Exposição de Motivos do Código de Defesa do Consumidor. Diário do Congresso Nacional, Seção II. 3 de maio de 1989. p. 1.663). Ainda sobre o princípio da Transferência, o Superior Tribunal de Justiça julgou: “Contrato de seguro. Cláusula abusiva. Não observância do dever de informar. A Turma decidiu que, uma vez reconhecida a falha no 23 dever geral de informação, direito básico do consumidor previsto no art. 6º, III, do CDC, é inválida cláusula securitária que exclui da cobertura de indenização o furto simples ocorrido no estabelecimento comercial contratante. A circunstância de o risco segurado ser limitado aos casos de furto qualificado (por arrombamento ou rompimento de obstáculo) exige, de plano, o conhecimento do aderente quanto às diferenças entre uma e outra espécie – qualificado e simples – conhecimento que, em razão da vulnerabilidade do consumidor, presumidamente ele não possui, ensejando, por isso, o vício no dever de informar. A condição exigida para cobertura do sinistro – ocorrência de furto qualificado –, por si só, apresenta conceituação específica da legislação penal, para cuja conceituação o próprio meio técnico-jurídico encontra dificuldades, o que denota sua abusividade” (STJ, REsp 1.293.006/SP – Rel. Min. Massami Uyeda – j. 21.06.2012). No que desrespeita a tal tutela, a princípio, destaque-se a previsão de proteção contra publicidade enganosa e abusiva, conforme art. 6º, inc. IV, da Lei 8.078/1990, inclusive pelo legado constitucional, por tratar o Texto Maior da regulamentação das informações que são levadas ao público e ao meio social. O conceito de publicidadedefinido no dicionário, dispõe: “Qualidade do que é público; vulgarização; anúncio por qualquer meio de propaganda.” (BUENO, Silveira. Minidicionário de Língua Portuguesa. 2º ed. São Paulo: FTD. 2007. PG. 635 Portanto, a publicidade é o ato pelo qual torna-se público uma ideia, com a finalidade de torná-la realidade. No entanto, quando se trata de publicidade no ramo do Direito do Consumidor, esta não pode ocorrer de forma a ludibriar o consumidor a consumir algo distinto daquilo que se espera, ou seja, as informações da propaganda não podem ser falsas, seja de forma total ou parcial. Sobre o tema publicidade enganosa, o Superior Tribunal de Justiça julgou: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSUMIDOR. "REESTILIZAÇÃO" DE PRODUTO. VEÍCULO 2006 COMERCIALIZADO COMO MODELO 2007. LANÇAMENTO NO MESMO ANO DE 2006 DE NOVO MODELO 2007. CASO "PÁLIO FIRE MODELO 2007". PRÁTICA COMERCIAL ABUSIVA. PROPAGANDA ENGANOSA. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. ALEGAÇÃO DE REESTILIZAÇÃO LÍCITA AFASTADA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROCEDENTE. 1.- Embargos de Declaração destinam-se a corrigir eventual omissão, obscuridade ou contradição intrínsecos ao julgado (CPC, art. 535), não constituindo via própria ao rejulgamento da causa 2.- O Ministério Público tem legitimidade 24 processual para a propositura de ação Civil Pública objetivando a defesa de direitos individuais homogêneos, de origem comum (CDC, art. 81, III), o que se configura, no caso, de modo que legitimado, a propor, contra a fabricante, Ação Civil Pública em prol de consumidores lesados por prática comercial abusiva e propaganda enganosa. 3.- Embora lícito ao fabricante de veículos antecipar o lançamento de um modelo meses antes da virada do ano, prática usual no país, constitui prática comercial abusiva e propaganda enganosa e não de "reestilização" lícita, lançar e comercializar veículo no ano como sendo modelo do ano seguinte e, depois, adquiridos esses modelos pelos consumidores, paralisar a fabricação desse modelo e lançar outro, com novos detalhes, no mesmo ano, como modelo do ano seguinte, nem mesmo comercializando mais o anterior em aludido ano seguinte. Caso em que o fabricante, após divulgar e passar a comercializar o automóvel "Pálio Fire Ano 2006 Modelo 2007", vendido apenas em 2006, simplesmente lançou outro automóvel "Pálio Fire Modelo 2007", com alteração de vários itens, o que leva a concluir haver ela oferecido em 2006 um modelo 2007 que não viria a ser produzido em 2007, ferindo a fundada expectativa de consumo de seus adquirentes em terem, no ano de 2007, um veículo do ano. 4.- Ao adquirir um automóvel, o consumidor, em regra, opta pela compra do modelo do ano, isto é, aquele cujo modelo deverá permanecer por mais tempo no mercado, circunstância que minimiza o efeito da desvalorização decorrente da depreciação natural. 5.- Daí a necessidade de que as informações sobre o produto sejam prestadas ao consumidor, antes e durante a contratação, de forma clara, ostensiva, precisa e correta, visando a sanar quaisquer dúvidas e assegurar o equilíbrio da relação entre os contratantes, sendo de se salientar que um dos principais aspectos da boa-fé objetiva é seu efeito vinculante em relação à oferta e à publicidade que se veicula, de modo a proteger a legítima expectativa criada pela informação, quanto ao fornecimento de produtos ou serviços. 6.- Adequada a condenação, realizada pelo Acórdão ora Recorrido, deve-se, a fim de viabilizar a mais eficaz liquidação determinada (Ementa do Acórdão de origem, item 5), e considerando o princípio da demora razoável do processo, que obriga prevenir a delonga na satisfação do direito, observa-se que, resta desde já arbitrado o valor do dano moral individual (item 5 aludido) em 1% do preço de venda do veículo, devidamente corrigido, a ser pago ao primeiro adquirente de cada veículo, com juros de mora a partir da data do evento danoso, que se confunde com o da aquisição à fábrica (Súmula 54/STJ). 7.- Pelo exposto, nega-se provimento ao Recurso Especial.” (STJ - REsp: 1342899 RS 2011/0155718-5, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento: 20/08/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/09/2013) Nessa linha de raciocínio, o art. 220, § 3º, inc. II, da CF/1988 utiliza a expressão propaganda; o art. 22, inc. XXIX, e o § 4º do art. 220 tratam da 25 propaganda comercial; o art. 5º, LX, disciplina a publicidade dos atos processuais. Por fim, o seu art. 5º, XIV, dispõe sobre o direito à informação como direito fundamental. Diante do exposto, nota-se a ampla proteção ao direito da informação presente no códex que rege as relações de consumo, além da prevista na Carta Magna, tudo isso em prol de manter incólume o equilíbrio entre as partes. 4. CLÁUSULAS ABUSIVAS INCOMPATÍVEIS COM A BOA-FÉ NOS CONTRATOS DE ADESÃO 4.1. Da Cláusula abusiva incompatível com a boa-fé na Lei 8.078 de 1990 O Código de Defesa do Consumidor taxa as condutas consideradas incompatíveis com negócio jurídico perfeito nas relações consumeristas em seu artigo 51, sob título de DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS, às tornando nulas. Dentre o rol taxativo acima citado, encontram-se aquelas condutas que estão em desacordo com a boa-fé objetiva, in verbi: Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...) IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; (...). (Brasil. Código de Defesa do Consumidor. PG 748. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.). Em prol de erradicar qualquer atentado à justiça, o legislador, logo no caput da norma, considera nula as condutas ali dispostas como abusivas, uma vez que tais comportamentos são incompatíveis com o Direito. Pode-se concluir, então, que o consumidor está escuso, ab initio, de qualquer cláusula abusiva a ele imposta, independente de decisão judicial, uma vez que, tal conduta já nasce nula, o que a torna inválida e prescindível de declaração de nulidade. 26 Neste sentido, o julgado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal dispõe sobre o tema: CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE FINANCIAMENTO. COBRANÇA DE TARIFA DE LIQUIDAÇÃO ANTECIDPADA. CLAUSULA ABUSIVA. NULIDADE. ARTIGO 51, IV, DO CDC. DEVOLUÇÃO. SENTENÇA CONFIRMADA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1) HÁ NOS AUTOS DEMONSTRAÇÃO DO PAGAMENTO DA TARIFA, CONFORME PONDEROU A JUIZA SENTENCIANTE, QUANDO COTEJOU A DOCUMENTAÇÃO CONSTANTE DOS AUTOS. A PRÓPRIA RECORRENTE CONFIRMA A COBRANÇA, RESSALTANDO QUE A MESMA É LÍCITA, POIS CONSTA DO CONTRATO. OCORRE QUE TAL COBRANÇA É ABUSIVA. 2) O CONSUMIDOR TEM DIREITO DE ANTECIPAR A LIQUIDAÇÃO DE SEU FINANCIAMENTO E A IMPOSIÇÃO DA TARIFA REPRESENTA UM ÓBICE A ESSE DIREITO. POR ISSO A APLICAÇÃO DO CDC NO QUE SE RELACIONA A ABUSIVIDADE DA COBRANÇA QUE REPRESENTA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO E AUTORIZA A DEVOLUÇÃO. 3) A CONSIDERAÇÃO DE LICITUDE DA TARIFA ENSEJARIA ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E A REPARAÇÃO DESSE ATO É JUSTAMENTE A SUA DEVOLUÇÃO. 4) RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 5) CUSTAS E HONORÁRIOS PELO RECORRENTE VENCIDO, À BASE DE 10% (DEZ POR CENTO) DO VALOR DA CONDENAÇÃO, DEVIDAMENTE CORRIGIDA, ARTIGO 55 DA LEI 9099/95. (TJ-DF - ACJ: 250315420088070007 DF 0025031-54.2008.807.0007, Relator: WILDE MARIA SILVA JUSTINIANO RIBEIRO, Data de Julgamento: 01/12/2009, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., Data de Publicação: 14/01/2010, DJ-e Pág. 112) A interpretação do termo cláusula deve ser de forma ampla, pois deve-se considerar como cláusula abusiva qualquer ato disposto do rol taxativo do art. 51 do CDC, seja realizado de forma escritaou verbal. A segunda parte do inciso IV, do artigo 51 do CDC dispõe que as condutas incompatíveis com a boa-fé ou equidade serão consideradas nulas. Torna-se redundante, e talvez tenha sido essa a intenção do legislador, em pôr os termos boa-fé e equidade lado a lado, pois, na essência da boa-fé objetiva, como já abordado, deve-se agir em prol de manter o equilíbrio entre as partes. Nessa linha de raciocínio, Paulo Luiz Netto Lôbo relata: A boa-fé sempre se entroncou historicamente com a equidade. O juízo de equidade conduz o juiz às proximidades do legislador, porém 27 limitado à decidibilidade do conflito determinado na busca do equilíbrio dos poderes contratuais, tendo de um lado o predisponente e de outro o aderente típico. Não atua no plano da política legislativa. Apesar de trabalhar com critérios objetivos, com standards valorativos e com o efeito erga omnes da decisão, a equidade é entendida no sentido aristotélico de justiça do caso concreto. No caso, a equidade surge como corretivo ou impedimento das condições gerais iníquas ou que provocam vantagem injusta ao predisponente em relação a qualquer aderente. A ideia da lei é que existam critérios definidos referenciáveis em abstrato e que o juiz- intérprete não os substitua por mera apreciação discricionária. (LOBÔ, Paulo Luiz Netto. Condições Gerais Dos Contratos E Cláusulas Abusivas. São Paulo: Saraiva. 1991. PG 147) Ainda sobre o tema, Flávio Tartuce explana: Eis o mais festejado inciso do art. 51 do CDC, por trazer um sistema totalmente aberto, que pode englobar uma série de situações, em especial pelas menções à boa-fé e à equidade. Da última, aliás, extrai-se a ideia de justiça contratual, inerente à eficácia interna da função social do contrato. (TARTUCE, Flávio. Manual de Direito do Consumidor: Direito Material e Processual. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método. 2017. PG 182) É importante frisar que a cláusula abusiva não invalida o contrato, somente anula a conduta prevista no rol taxativo acima mencionado artigo, aproveitando-se tudo aquilo que esteja em acordo com as normas estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor. Vejamos: Art. 51. (...) § 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes. (...). (Brasil. Código de Defesa do Consumidor. PG 748. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.). Qualquer conduta que esteja incompatível com a boa-fé, portanto, deve ter a mão impiedosa da Justiça sobre si. Com base nisso, o Tribunal de Justiça do Ceará decidiu: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL COM PEDIDO DE DEVOLUÇÃO DE QUANTIAS PAGAS E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. SENTENÇA DE 1º GRAU QUE JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO. CONTRATO DE PROMESSA DE 28 COMPRA E VENDA, INCORPORAÇÃO E CONSTRUÇÃO POR ADMINISTRAÇÃO. CONDOMÍNIO CRUZEIRO DO SUL. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DA INCORPORADORA/CONSTRUTORA AFASTADA. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RESOLUÇÃO CONTRATUAL PELO ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS COM RETENÇÃO DE 10%. DEVIDA. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. SITUAÇÃO FÁTICA QUE ULTRAPASSA O MERO ABORRECIMENTO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. CARÁTER PEDAGÓGICO DA CONDENAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA A PARTIR DE CADA DESEMBOLSO. RECURSOS CONHECIDOS, DESPROVIDO O APELO DA CONSTRUTORA/RÉ E PROVIDO O RECURSO DO AUTOR. 1. Preliminar de Ilegitimidade passiva. Possui a ré legitimidade para figurar no polo passivo, uma vez que o contrato foi firmado diretamente com a construtora/incorporadora, também responsável pela edificação do empreendimento e, inclusive, consta do contrato que responde pela Administração financeira da obra. Preliminar afastada. 2. O cerne da controvérsia consiste em analisar se é ou não devida a restituição das parcelas pagas por adquirente de imóvel desenvolvido em regime de construção por administração, em virtude de rescisão contratual decorrente do alegado atraso na entrega da obra, bem como se o fato ocasiona dano moral indenizável. 3. O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 51, incisos II e IV, expressamente delimita que são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que subtraiam do consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, assim como as que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou equidade. 4. Conforme ficha financeira de fls. 82/83, o promissário comprador quitou todas as parcelas pactuadas até 30/08/2007, e nessa data a promitente vendedora sequer havia iniciado a construção de seu apartamento. 5. Obrigou-se a requerida a entregar o imóvel 48 (quarenta e oito) meses após a conclusão das fundações, passível de um atraso de até 180 (cento e oitenta) dias, contudo, mesmo diante da obrigação contratual a qual estava vinculada, não cumpriu com o prazo estabelecido na avença e o bloco D (apartamento do autor), após decorridos seis anos do contrato, sequer havia sido iniciado. 6. Frise-se que o fato é apontado na exordial e confirmado pela recorrente em sua contestação uma vez que, em momento algum na peça de defesa apresentada às fls. 106/130, a apelante refutou o argumento autoral. Na realidade a explanação da recorrente convergiu para defender que o atraso se deu por ausência de recursos que gerou, por conseguinte, a necessária revisão orçamentária. 7. Não restaram comprovadas as alegações da incorporadora de que a obra não foi concluída no prazo estipulado em razão da ausência de aporte financeiro por parte dos condôminos, que, por conseguinte, gerou a necessidade de uma revisão orçamentária. 8. Por outro lado, a meu entender, é fato incontroverso nos autos o atraso demasiadamente extenso para a entrega o imóvel o que, por si só, é apto a ensejar a rescisão contratual ante a infringência aos ditames da avença pactuada. 9. A jurisprudência pátria, inclusive do Superior Tribunal de 29 Justiça, consolidou o entendimento de que, nos casos de rescisão de contrato de promessa de compra e venda de imóveis, o adquirente, mesmo que inadimplente, tem o direito à devolução das parcelas já pagas, após realizada a retenção, pelo credor, de parte do valor a título de ressarcimento pelos custos operacionais de contratação. 10. Em relação ao pedido de danos morais, de fato, o descumprimento ou a abusividade permeada em cláusulas de contrato não tem o condão de, por si só, ensejar tal indenização. Não obstante, a meu ver, o caso em apreço possui caráter excepcional, em que se verifica a ocorrência de dano moral indenizável. Isso porque, a conduta da ré, no sentido de procrastinar, sem motivo justificado, a entrega da obra, causou prejuízo moral ao autor, que teve frustrado o sonho de ter a casa própria. Reformada a sentença nesse ponto. 11. Atento ao princípio da prudência e às peculiaridades do caso sub judice, ausente o critério objetivo de fixação da verba indenizatória por danos morais, hei por bem fixar o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), haja vista ser quantia que não configura uma premiação, nem mesmo uma importância insuficiente para concretizar a pretendida reparação civil, além de estar em consonância com as mais recentes decisões dos Tribunais Pátrios. 12. A correção monetária deve incidir a cada desembolso e não a partir do ajuizamento da ação, como constou do decisum singular, conforme entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça que "em caso de rescisão de contrato de compra e venda de imóvel, a correção monetária das parcelas pagas, para efeitos de restituição, incide a partir de cada desembolso" (STJ - AgRg no REsp 1222042/RJ). Sentença reformada neste tópico. 13. RECURSO DA RÉ CONHECIDO E DESPROVIDO. APELO DO AUTOR CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA PARCIALMENTE.ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os MEMBROS DA PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, à unanimidade de votos, em CONHECER DOS RECURSOS DE APELAÇÃO, rejeitando a preliminar suscitada, e, no mérito, dar provimento ao apelo do promovente e desprover o recurso da promovida, nos termos do voto do Relator. Fortaleza, 12 de junho de 2019. Presidente da Câmara DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO Relator (TJ-CE - APL: 01838661520138060001 CE 0183866- 15.2013.8.06.0001, Relator: FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO, Data de Julgamento: 12/06/2019, 1ª Câmara Direito Privado, Data de Publicação: 12/06/2019) Tal norma reforça a imposição do instituto da boa-fé objetiva nas relações de consumo, pois os contratos devem atender a função social, ou seja, deve atentar à realidade social em que está inserida, e de forma equilibrada e transparente. 4.2. Cláusulas Abusivas que ferem a boa-fé no contrato de Adesão 30 A forma de contratação do Contrato de Adesão proporciona ao fornecedor em exigir uma vantagem indevida do consumidor, uma vez que é ele quem elabora as cláusulas contratuais. Geralmente, esse tipo de contratação se dá através de um telefonema, ou através do acesso à internet. As empresas, possuem os dados cadastrais dos consumidores, e ligam oferecendo um serviço, ou enquanto o consumidor está navegando em algum site virtual, aparece uma propaganda bastante sedutora para ele, e basta um click, ou um sim, no caso do telefone, para aderir ao contrato. Ao oferecer serviços através do contrato de adesão, os fornecedores fornecem parte das informações que virão vinculadas ao contrato, somente aquelas que fazem com que o consumidor adquira o produto. Não é rotina um fornecedor demonstrar todos os termos do contrato ao consumidor, somente após a contratação é que o consumidor recebe uma cópia do contrato, se o solicitar. Esse tipo de contratação dá azo ao surgimento das cláusulas abusivas, pois o consumidor, por vezes, não tem plena ciência do está contratando, e o fornecedor, como já apontado, sempre visa o lucro, e para isto, ele deve prender o consumidor de todas as formas possíveis, para que não pare de adquirir seus produtos. A respeito do abuso do Direito nas relações contratuais, os Doutrinadores Farias e Rosenvald dispõem: Com mais minúcias: não se pode deixar de reconhecer uma íntima ligação entre a teoria do abuso de direito e a boa-fé objetiva – princípio vetor dos negócios jurídicos no Brasil (CC, arts.113 e 422) – porque uma das funções da boa-fé objetiva é, exatamente, limitar o exercício de direitos subjetivos (e de quaisquer manifestações jurídicas) contratualmente estabelecidos em favor das partes, obstando um desequilíbrio negocial. Por isso, o eventual exercício de um direito contemplado em contrato, excedendo os limites éticos do negócio, poderá configurar abuso de direito. (FARIAS, Cristiano Chaves de Farias. Rosenvald, Nelson. Direito civil: teoria geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris. Ed. 1. 2011. FARIAS E ROSENVALD, 2011. p.745) Sobre a Cláusula Abusiva no contrato de Adesão, o Tribunal de Justiça de São Paulo julgou: 31 COMPRA E VENDA RESCISÃO DE CONTRATO COM PEDIDO DE REPARAÇÃO MATERIAL CLÁUSULA ABUSIVA DESRESPEITO AO PRINCIPIO DA BOA FÉ OBJETIVA IMPOSIÇÃO, PELA RÉ, DE CONDICIONANTES NÃO PREVISTAS NO CONTRATO IMPOSSIBILIDADE DE FRUIÇÃO DO CONTRATO PELA AUTORA FAVORECIMENTO ILEGAL DA RÉ SENTENÇA MANTIDA. Apelação não provida. (TJ-SP - APL: 02017272620088260100 SP 0201727- 26.2008.8.26.0100, Relator: Cristina Zucchi, Data de Julgamento: 30/06/2014, 34ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 01/07/2014) Outro julgado sobre o tema, é a decisão do Tribunal de Justiça do Amazonas: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. CLÁUSULA CONTRATUAL ABUSIVA. PAGAMENTO DE 20% SOBRE PARCELAS VINCENDAS EM CASO DE DESISTÊNCIA. ALUNO QUE CURSOU 2 MESES DE UM TOTAL DE 20 MESES DE DURAÇÃO. VANTAGEM EXCESSIVA. VIOLAÇÃO AO ART. 51, IV CDC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. - O CDC, em seu art. 51, IV, estabelece que são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada; - No caso concreto, o apelado participou do curso por somente 2 meses, sendo o valor total do mesmo de R$ 18.528,00 para o período de duração de 05/04/2013 a 13/12/2014; - Logo, a exigência da multa rescisória de 20% sobre o valor total das parcelas vincendas se mostra deveras abusiva, ferindo a legislação do consumidor diante da flagrante ofensa ao art. 51, IV do CDC; - Tal vantagem excessiva trazida pela cláusula em questão não se mostra viável e atenta aos preceitos da boa-fé e equidade contratuais; - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TJ-AM 06048868020158040001 AM 0604886-80.2015.8.04.0001, Relator: Ari Jorge Moutinho da Costa, Data de Julgamento: 28/06/2018, Segunda Câmara Cível) Tendo em vista tudo isso, nota-se a importância da proteção ao consumidor, uma vez que é o elo mais fraco da relação contratual, pois a cultura do brasileiro não é de ler o conteúdo antes de aderir, é de escutar o que seus ouvidos querem e aderir, sem se importar se o que está sendo contratado está em pleno acordo com os seus direitos. Portanto, a preocupação do legislador em proteger o consumidor, desde o princípio da relação contratual, ao solicitar que sejam atendidos os princípios da boa- fé objetiva, da função social do contrato, da transparência, entre outros; até o momento da elaboração do contrato de adesão, onde ele dispõe com deve ser feito, 32 e a vedação ab initio das cláusulas abusivas é válido e necessário ao cenário atual consumerista brasileiro. O contrato de adesão que tiver em desacordo com o princípio basilar do Código de Defesa do Consumidor, que é o Princípio da boa-fé objetiva, estará fadado ao fracasso, pois uma relação que viola tal instituto fere o princípio de todo o negócio jurídico pretendido. 4.3. Contrato de Adesão e o princípio da Vulnerabilidade do Consumidor Ao analisar o texto do Código de Defesa do Consumidor, evidencia-se a preocupação do legislador em proteger o consumidor, uma vez que ele é a parte vulnerável da relação. De acordo com a realidade da sociedade atual, essa situação desfavorável está difícil de mudar, uma vez que o cenário e as revoluções sociais em que a sociedade se encontra colaboram para que este quadro não mude. O mundo é capitalista, ou seja, visa o lucro incessante, o que dificulta o humanitarismo nas relações sociais, e principalmente, nas relações de consumo. Sobre a relação fornecedor versus consumidor, e a vulnerabilidade, o doutrinador Rizzatto Nunes comenta: E quando se fala em meios de produção não se está apenas referindo aos aspectos técnicos e administrativos para a fabricação e distribuição de produtos e prestação de serviços que o fornecedor detém, mas também ao elemento fundamental da decisão: é o fornecedor que escolhe o que, quando e de que maneira produzir, de sorte que o consumidor está à mercê daquilo que é produzido. (NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 12 ed. São Paulo: Saraiva. 2018. PG 122) Ainda neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça proferiu o seguinte acórdão: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE CONHECIMENTO. SAÚDE SUPLEMENTAR. DIREITO DO CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL OU DE SÚMULA. DESCABIMENTO. FUNDAMENTAÇÃO. AUSENTE. DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 211/STJ. INCIDÊNCIA DO CDC. RESCISÃO UNILATERAL E IMOTIVADA. EMPRESA COM MENOS DE TRINTA BENEFICIÁRIOS. FATO JURÍDICO RELEVANTE. ABUSIVIDADE CONFIGURADA. MOTIVAÇÃO. NECESSIDADE. VULNERABILIDADE. 33 RECONHECIDA. BOA-FÉ E MANUTENÇÃO DOS CONTRATOS. 1.Ação ajuizada em 27/10/15. Recurso especial interposto em 24/05/17 e concluso ao gabinete em 24/11/17. Julgamento: CPC/15. 2. O propósitorecursal consiste em definir se a operadora está autorizada a rescindir unilateral e imotivadamente contrato de plano de saúde coletivo empresarial firmado em favor de pessoa jurídica com 13 beneficiários. 3. A interposição de recurso especial não é cabível quando ocorre violação de dispositivo constitucional ou de qualquer ato normativo que não se enquadre no conceito de lei federal, conforme disposto no art. 105, III, "a" da CF/88. 4. A ausência de fundamentação ou a sua deficiência importa no não conhecimento do recurso quanto ao tema. 5. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados, não obstante a oposição de embargos de declaração, impede o conhecimento do recurso especial. 6. A Lei dos Planos de Saúde (Lei 9.656/98) prevê que se aplicam subsidiariamente as disposições do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde coletivo e individual/familiar (art. 35-G). 7. Apenas em relação aos contratos individuais/familiares é vedada a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou não-pagamento da mensalidade por período superior a sessenta dias, nos termos do art. 13, II, LPS. 8. Há expressa autorização concedida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para a operadora do plano de saúde rescindir unilateral e imotivadamente o contrato coletivo (empresarial ou por adesão), desde que observado o seguinte: i) cláusula contratual expressa sobre a rescisão unilateral; ii) contrato em vigência por período de pelo menos doze meses; iii) prévia notificação da rescisão com antecedência mínima de 60 dias. 9. Contudo, a rescisão do contrato por conduta unilateral da operadora em face de pessoa jurídica com até trinta beneficiários deve apresentar justificativa idônea para ser considerada válida, dada a vulnerabilidade desse grupo de usuários, em respeito aos princípios da boa-fé e da conservação dos contratos. 10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente provido. (REsp 1708317/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe 20/04/2018) O princípio da Vulnerabilidade do Consumidor tutela a parte frágil da relação consumerista, uma vez que quem adquire o produto já tem seu poder de escolha limitado pelo fornecedor, pois este é quem decide a quantidade, qualidade, tipo e o valor do produto que será lançado no mercado. Ademais, analisando a aplicação desse instituto ao tema dos contratos de adesão, é de suma importância sua aplicação, pois, como dispõe o eixo desse princípio, a relação contratual já nasce fadada ao consumidor ser a parte frágil da relação, uma vez que é o fornecedor quem estabelece as cláusulas que serão seguidas por ambos. 34 Em prol de promover o equilíbrio, o legislador da lei deixou claro que deveria ser respeitado o Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor, como pode ser visto em seu texto: Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; (...). (Brasil. Código de Defesa do Consumidor. 745. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.). Nesse sentido, o Doutrinador Luiz Antonio Rizzatto Nunes dispõe: “(…) o consumidor é a parte fraca da relação jurídica de consumo. Essa fraqueza, essa fragilidade, é real, concreta, e decorre de dois aspectos: um de ordem técnica e outro de cunho econômico. O primeiro está ligado aos meios de produção, cujo conhecimento é monopólio do fornecedor. E quando se fala em meios de produção não se está apenas referindo aos aspectos técnicos e administrativos para a fabricação de produtos e prestação de serviços que o fornecedor detém, mas também ao elemento fundamental da decisão: é o fornecedor que escolhe o que, quando e de que maneira produzir, de sorte que o consumidor está à mercê daquilo que é produzido.” (NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: direito material (arts. 1º a 54). São Paulo: Saraiva, 2000. PG. 106.) A aplicação desse instituto nos contratos de adesão mantém o equilíbrio em tal relação, e serve, inclusive, como remédio legal quando surgirem as cláusulas abusivas neste contrato. A respeito da Vulnerabilidade o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul julgou em um acórdão: “APELAÇÃO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. COSMÉTICO. REAÇÃO QUÍMICA LESIVA À SAÚDE. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR. DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. Da legitimidade passiva 1. No caso em exame, em se tratando de contrato decorrente das relações de consumo, aplica-se a teoria da 35 aparência, de sorte que perante o consumidor é a parte ré a responsável pelo curso em questão, pois foi quem realizou a referida inscrição, razão pela qual é parte legítima para figurar no polo passivo da presente demanda, a teor do que estabelece o art. 3º, caput, do CDC. Do mérito dos recursos em exame. 2. Restou demonstrada a aplicação do produto em estabelecimento especializado e com atuação profissional na área em análise, bem como a reação adversa e prejudicial à saúde experimentada pela autora após o uso daquela substância química no cabelo mediante as fotografias insertas nos autos. 3. Oportuno destacar que não é possível exigir do consumidor prova mais robusta quanto ao nexo de causalidade, pois não há dúvidas quanto ao fato da autora ter utilizado o produto para alisamento e este apresentar forte reação química em seu cabelo, causando evidente dano à saúde e estético. 4. Assim, a exigência do grau de certeza probatória pretendida constituiria extremada limitação aos direitos do consumidor, diante da dificuldade ou, até mesmo, da impossibilidade de sua realização, o que atenta ao garantismo à parte... hipossuficiente na relação de consumo. 5. De qualquer modo, devem ser informados ao consumidor, antes da aplicação do produto, todos os eventuais efeitos colaterais e danos que por ventura possam ocorrer com a utilização do cosmético. 6. No que tange à prova do dano moral, por se tratar de lesão imaterial, desnecessária a demonstração do prejuízo, na medida em que possui natureza compensatória, minimizando de forma indireta as consequências da conduta da ré, decorrendo aquele do próprio fato. Conduta ilícita da demandada que faz presumir os prejuízos alegados pela parte autora, é o denominado dano moral puro. 7. O valor a ser arbitrado a título de indenização por dano imaterial deve levar em conta o princípio da proporcionalidade, bem como as condições da ofendida, a capacidade econômica do ofensor, além da reprovabilidade da conduta ilícita praticada. Por fim, há que se ter presente que o ressarcimento do dano não se transforme em ganho desmesurado, importando em enriquecimento ilícito. Afastada a preliminar suscitada, negado provimento ao recurso da demanda e dado parcial provimento ao apelo da autora. (Apelação Cível Nº 70062896790, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 25/03/2015).” (TJ-RS - AC: 70062896790 RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Data de Julgamento: 25/03/2015, Quinta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 27/03/2015) O princípio da Vulnerabilidade do Consumidor é o remédio fundamental contra as cláusulas abusivas que surgirem no Contrato de Adesão. Através de tal instituto, nota-se a fragilidade do consumidor, desde o princípio limitado à vontade do fornecedor. 36 Apesar de que a disposição social brasileira exija a modalidade do contrato de adesão, e ainda, as normas brasileiras amplamente buscarema proteção do consumidor, é necessário uma vigilância minuciosa nas relações estabelecidas através dessa modalidade de contrato, uma vez que o consumidor nasce fragilizado, portanto, é imprescindível todo o cuidado a ele, afim de evitar que ocorra abusos na relação. Quando o fornecedor, vestido de sua ânsia em auferir lucro, inserir termos no contrato de Adesão, que prejudiquem o núcleo de tal instituto, ou seja, que estiver em desacordo com a Boa-fé, deve-se prosperar o Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor, uma vez que sua voz é fraca em tal relação, o que torna necessário um amparo legal para que seja promovido o equilíbrio contratual. 37 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste estudo, é possível afirmar que o consumidor é amplamente protegido legalmente, em virtude de sua vulnerabilidade na relação contratual. O Código de Defesa do Consumidor busca promover o equilíbrio nas relações de consumo, em prol de atender as necessidades do fornecedor, e principalmente, do consumidor. Verifica-se que a cultura brasileira não induz o consumidor a manter-se atento aos seus direitos, e devido a isto, é necessário que seja tutelado, de forma redundante e obstinada os direitos de tais pessoas, pois a parte fornecedora já tem ciência de seus direitos, ao passo que o outro lado não dispõe do mesmo conhecimento. Desta forma, se estiverem presentes os princípios da boa-fé objetiva, da função social do contrato, da vulnerabilidade do consumidor e da transparência, as relações contratuais por adesão poderão ocorrer de forma justa e certa, Considerando todo o exposto, resta-se nítida e comprovada a importância dos institutos abordados, uma vez que resta comprovado sua necessidade a promoção da justiça nas relações contratuais por meio de adesão. 38 REFERÊNCIAS ASCENSÃO, José de Oliveira. Cláusulas Contratuais Gerais, Cláusulas Abusivas e o Novo Código Civil. Revista da Faculdade de Direito UFPR. Pg 07 Paraná. Disponível em ˂revistas.ufpr.br/direito/article/view/1744˃. Acessado em 27/06/2019. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Ed 2. Salvador: JusPodium. 2019. Brasil. Código de Defesa do Consumidor. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. Brasil. Código Civil. 154. 25º edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria das Obrigações Contratuais e Extracontratuais. 24º ed. São Paulo: Saraiva. 2008. Exposição de Motivos do Código de Defesa do Consumidor. Diário do Congresso Nacional, Seção II. 3 de maio de 1989. FARIAS, Cristiano Chaves de Farias. Rosenvald, Nelson. Direito civil: teoria geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris. Ed. 1. 2011. FARIAS E ROSENVALD, 2011. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais. 16º ed. São Paulo: Saraiva. 2019. HOBBES, Thomas. Leviatã. 1991. 2 ed. 2008. Matins Fontes: Martins. https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/719058830/apelacao-civel-ac- 70079613667-rs?ref=juris-tabs. LOBÔ, Paulo Luiz Netto. Condições Gerais Dos Contratos E Cláusulas Abusivas. São Paulo: Saraiva. 1991. MARTINS, Judith Costa. A boa-fé objetiva e o adimplemento das obrigações. Revista Brasileira de Direito Comparado. Rio de Janeiro: Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro. 2003. MOREIRA, Luiz Fernando. Teoria geral dos contratos de adesão. Disponível em: <http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=202>. https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/719058830/apelacao-civel-ac-70079613667-rs?ref=juris-tabs https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/719058830/apelacao-civel-ac-70079613667-rs?ref=juris-tabs 39 NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 12 ed. São Paulo: Saraiva. 2018. NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: direito material (arts. 1º a 54). São Paulo: Saraiva, 2000. PG. 106 PEREIRA, Caio Mário da Silva, Noção Geral dos Contratos. 1º Edição Eletrônica. Rio de Janeiro. 2003. PEREIRA, Caio Mário da Silva Pereira. Instituições de Direito Civil: Contratos. 22 ed. 2018. Rio de Janeiro: Forense. RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos Contratos e das Declarações Unilaterais. 30 ed. 2000. STJ - AgInt nos EDcl no AgInt nos EDcl no REsp: 1602441 SP 2016/0135777-4, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 13/05/2019, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/05/2019. STJ, REsp 1.293.006/SP – Rel. Min. Massami Uyeda – j. 21.06.2012. STJ - REsp: 1342899 RS 2011/0155718-5, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento: 20/08/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/09/2013. STJ - REsp 1708317/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe 20/04/2018 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito do Consumidor: Direito Material e Processual. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Método. 2017. TJ-AP - APL: 00046686520148030001 AP, Relator: Juiz Convocado MÁRIO MAZUREK, Data de Julgamento: 28/04/2015, CÂMARA ÚNICA. TJ-DF - ACJ: 250315420088070007 DF 0025031-54.2008.807.0007, Relator: WILDE MARIA SILVA JUSTINIANO RIBEIRO, Data de Julgamento: 01/12/2009, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., Data de Publicação: 14/01/2010, DJ-e Pág. 112. TJ-CE - APL: 01838661520138060001 CE 0183866-15.2013.8.06.0001, Relator: FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO, Data de Julgamento: 12/06/2019, 1ª Câmara Direito Privado, Data de Publicação: 12/06/2019. 40 TJ-SP - APL: 02017272620088260100 SP 0201727-26.2008.8.26.0100, Relator: Cristina Zucchi, Data de Julgamento: 30/06/2014, 34ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 01/07/2014. TJ-AM 06048868020158040001 AM 0604886-80.2015.8.04.0001, Relator: Ari Jorge Moutinho da Costa, Data de Julgamento: 28/06/2018, Segunda Câmara Cível. TJ-RS - AC: 70062896790 RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Data de Julgamento: 25/03/2015, Quinta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 27/03/2015 www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm. http://www.miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm
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