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A gente precisa fazer uma introdução do que é a disciplina termos de “essa coisa do aprendizado dentro da profissão da engenharia florestal” Então porque que a gente tem essa disciplina, o que esta disciplina vai tá trazendo em termos de aplicação prática dos conhecimentos; como que ela surgiu; porque que ela ficou importante; E por que que ela é especial do curso de Engenharia Florestal; Então os objetivos da disciplina (estão no documento do curso) são: - Apresentar os conceitos de Hidrologia Florestal, então é muito importante a gente começar a separar os campos da hidrologia, pois a gente tem vários tipos de ciências hidrológicas e o que a gente foca na disciplina é exatamente a hidrologia aplicada à floresta. E essa hidrologia Florestal ela vem para a gente aplicar esses conceitos em um manejo sustentável da paisagem; a gente considera sempre a paisagem. A hidrologia Florestal que a gente vai trabalhar ela tem esse enfoque multidisciplinar e integrado, a gente não dá para separar as coisas, vamos sempre analisar tudo junto e é por isso que ela vem com a complexidade e as vezes as dificuldades na hora da gente é transpor esses conhecimentos vem exatamente dessa questão da complexidade que é aplicada nessa ciência. E a gente considera a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e tem um porquê científico da gente considerar a bacia hidrográfica, que a gente vai estar olhando mais para frente E aí vem, de forma mais específica, abordar conceitos sobre o funcionamento de uma bacia hidrográfica, onde a gente vai entender os fluxos, os caminhos que a água faz, como que o uso do solo, o clima e a geologia interferem nesse funcionamento. Apresentar os indicadores hidrológicos, então existem diversos indicadores a gente sempre ouve falar sobre indicadores mais “Quais que realmente a gente pode aplicar de uma forma mais consistente para ter informação a respeito do funcionamento da bacia hidrográfica quando a gente fala de monitoramento ambiental hidrológico. Também, durante a disciplina a gente discuti muito e sobre as formas de avaliar os impactos do manejo Florestal e também das técnicas conservacionistas que são aplicadas hoje em bacias hidrográficas, seja para conservação do solo, da água ou uma visão mais de biodiversidade Então a verdade é que a gente foca, quando se fala em produção de água, em regime hídrico, ou seja, a questão da sazonalidade, a questão dos picos de vazão, questão das épocas de estiagem. E a saúde da bacia hidrográfica ela vem pensando na manutenção do funcionamento hidrológico considerado natural, porque a própria natureza já é acostumada com ciclos de variação e, o grande desafio atualmente que se coloca como se fala de bacias hidrográficas ou de gestão hídrica é realmente o uso múltiplo dos recursos hídricos .Então o que a gente tem hoje são vários usos que se colocam na mesma paisagem, então a mesma bacia hidrográfica tem a função de, por exemplo, irrigação, abastecimento humano, geração de energia elétrica, geração de recursos pesqueiros, navegação. Então cada região do país tem uma característica mais específica daquele modo cultural, tradicional, econômico que se coloca naquela região ou que se desenvolveu naquela região. E a gente tem essa divisão entre bacias rurais e bacias urbanas, os usos mais comuns que se colocam na área rural e que se colocam na área urbana. Então a gente tem como ementa, e aí ementa são os tópicos mais genéricos da disciplina: a questão do diagnóstico da bacia hidrográfica, então a gente compreender essas características geomorfológicas, ou seja, as características que hoje a gente enxerga nas bacias hidrográficas, mas que são originárias de todo o processo de formação geomorfológica, então que envolvem a geologia, os fatores de intemperismo e até a questão do uso do solo (da cobertura, dos aspectos antrópicos) que influenciam essa bacia E como que todos essas características vão influenciar o comportamento das variáveis hidrológicas que seriam, por exemplo: a vazão, o escoamento superficial, a infiltração, a evapotranspiração. E a gente vê também os indicadores de qualidade e quantidade porque, para nós, quando a gente fala de monitoramento ambiental de bacia hidrográfica, não basta olhar somente a questão quantitativa de água, ou a questão qualitativa de água; a gente tem que considerar sempre os dois lados, os dois balanços porque a água é uma coisa que tem essas duas propriedades que são importantes para garantir usos múltiplos. Aí a gente vai também ter uma boa visão de como que o manejo florestal e agrícola interferem, influenciam nessas fluxos hidrológicos. É claro que existem impactos positivos e negativos e a gente vai estar olhando de uma forma mais específica dentro do que a gente tem de processos hidrológicos importantes ou fluxo e hidrológicos importantes que esses manejos podem estar influenciando. E por fim, a gente não pode deixar de falar, porque estamos sempre pensando nessa forma complexa, multidisciplinar e multiusual das bacias hidrográficas, a questão de gestão hídrica; que envolve principalmente as áreas urbanas, mas correlacionadas com aquilo que acontece na área rural. Então a gente vê a questão das políticas aplicadas, de como que é o gerenciamento de bacias hidrográficas no Brasil, que na verdade tem um arcabouço legal muito completo e que realmente acaba sendo uma ferramenta muito importante na hora de tomadas de decisão. E a gente também vai ver como que a ciência pode ser aplicada nesses processos de tomadas de decisão. Falamos de áreas rurais e áreas urbanas né… bacias rurais e bacias urbanas. A gente tem uma diferença no uso que se faz dessas bacias, de uma forma geral, as duas áreas podem ter impactos positivos e negativos, mas a importância que se dá para as áreas urbanas é porque as pessoas estão em muito maior quantidade então os processos hidrológicos muitas vezes já foram alterados, os processos naturais foram muito alterados e uma coisa é que já não é possível, as vezes, retornar ao estado original. Então a visão que a gente tem de áreas rurais é que seriam bacias mais propensas a uma restauração, propriamente dita, dos processos/dos fluxos naturais que existiam, não que seja sempre possível restaurar, por exemplo, uma área que foi completamente erodida. Então sempre existem limitações, essas limitações, na verdade, é resiliência do sistema. Então o que acontece é que em áreas rurais, a resiliência é possível em alguns casos retomar com as práticas de conservação do solo, com restauração da cobertura florestal, com boas práticas de manejo agrícola, mas a resiliência em áreas urbanas é muito mais complexa porque e a gente já alterou muitos processos, e também que acontece é que normalmente as áreas rurais vão impactar a forma como essas bacias chegam, o fluxo hidrológico das bacias, chega nas bacias urbanas, porque é todo um sistema interconectado. Outra questão é que muitas vezes aquilo que ocorre na área rural, em termos de produção hídrica, vai ser utilizado pelas áreas urbanas. Então a gente tem certas particularidades que ocorrem nas áreas rurais ou nas áreas urbanas e, de alguma forma, isso tudo está sempre conectado. Por isso que a disciplina tenta trazer essa discussão das duas regiões/ das duas visões, porque a gente tem essa conexão muito forte entre o que acontece na área rural e o que acontece na área urbana e vice versa também. Por exemplo, a gente fala muito de pagamento por serviços ambientais né, a maioria dos casos as práticas são realizadas, práticas por exemplo de restauração ou de aplicação de boas práticas agrícolas são aplicadasnas cabeceiras de drenagem, nas nascentes que são localizados na área rural, mas por sua vez, os beneficiários dessa relação são as pessoas que estão nas áreas urbanas, morando na cidade, então eles são os beneficiários. Então essa relação entre provedor e beneficiário é um exemplo muito clássico de como que as áreas rurais e as áreas urbanas acabam se intrigando nessa visão ecossistêmica da paisagem de bacias hidrográficas. É interessante comentar sobre experimentos que ocorreram e que trouxeram para a engenharia florestal a importância da disciplina MBH. Então, por volta do início do século de 1900, muitos experimentos florestais começaram a surgir, porque era importante era verificar qual era o efeito do manejo florestal. No caso, o manejo florestal que se fazia naquela época era sempre o corte raso, ou seja, remoção da cobertura florestal. E, para quem não se lembra, a gente não plantava floresta para colher, a gente colhia a floresta que já existia, então era um manejo de florestas nativas. E em Wagon Wheel Gap, no Colorado, que é um experimento, na área experimental florestal realizaram o primeiro experimento científico onde todos os fluxos estavam controlados, então monitoraram: a precipitação, o deflúvio (que é a produção de água da bacia) e fizeram um balança hídrico para verificar qual era a realmente diferença entre uma bacia que manteve a cobertura florestal e uma bacia que teve a cobertura florestal completamente removida. Tem também uma outra área experimental (um laboratório de hidrologia florestal a céu aberto) de Coweeta, que também é muito famosa porque ela tem um banco de dados muito rico e inclusive com artigos publicados recentemente que mostram qual foi a mudança nos fluxos depois de tantos anos, então ela é monitorada ainda e tem ainda a publicação de dados .Ela foi criada em 1934 na Carolina do Norte e ainda tem produção científica sobre o monitoramento, foi feito também vários experimentos como, por exemplo, a remoção da cobertura florestal total No Brasil, existe uma (área experimental) que fica no estado de São Paulo, que é o Laboratório de Hidrologia Florestal Walter Enuric que fica em Cunha e fica sob a responsabilidade do instituto florestal de são paulo, essas bacias experimentais ainda são monitoradas tãombém, na época tinha sido introduzido a melhor tecnologia para monitoramento Florestal e ambiental, ainda existe esse monitoramento, existem vários trabalhos são publicados a partir daquele laboratório. Bom ,falamos de como que surgiu os primeiros experimentos que mostram o impacto de florestas na questão de bacias hidrográficas, mas por que será que isso é importante? Porque será que a bacia hidrográfica começou a ser considerada realmente um ponto importante para monitoramento do manejo florestal? Porque precisou encontrar uma forma de monitorar? Inicialmente aqueles experimentos florestais vieram realmente para conhecer melhor os fluxos, conhecer o comportamento, e trabalhar alguns mitos que eram divulgados na época (existem vários mitos florestais como a questão do eucalipto secar o solo) e aquelas áreas experimentais realmente foram implantadas visando compreender melhor esses fluxos Mas, um processo muito importante, partir da década de 90, foi a implantação do sistema de certificação da origem do manejo florestal, esses sistemas de certificação baseados em princípios, critérios e indicadores exigiam que de alguma forma o manejo florestal fosse avaliado e, na hora de pensar em um indicadores do manejo florestal, a metodologia científica melhor aplicada seria realmente utilizar as bacias hidrográficas. E essa conclusão veio exatamente desses experimentos que foram conduzidos nessas estações experimentais. Então a verdade é que o que impulsionou a pesquisa mais aplicada foi realmente a certificação, até então a pesquisa era realizada como uma forma de conhecimento científico e a partir de então a pesquisa começou a ser realizada já com dados diferentes, com áreas diferentes, com manejos diferentes, numa amplitude muito maior que permitiu até desenvolver métodos de manejo com melhor qualidade ou com menor impacto. Então a bacia hidrográfica realmente é uma forma da gente monitorar os impactos ambientais do manejo, no caso do manejo florestal, mas poderia ser qualquer tipo de operação/uso, pensando realmente nessa questão de monitorar/avaliar determinados indicadores que vão resultar na melhoria do manejo/a melhoria constante. Este é o conceito que está por trás da certificação, aquela visão de que a gente monitora continuamente, avalia para poder ter uma melhoria contínua dos processos. Então a bacia hidrográfica vem como uma unidade da paisagem (muitas vezes ela é colocada dessa forma), uma unidade da paisagem em que os fluxos hidrológicos acontecem, então é possível delimitar dentro dessa unidade, que tem uma geomorfologia específica, uma área delimitada por topografia, onde é possível quantificar fluxos de precipitação, estimar interceptação, transpiração e evaporação, verificar efeitos do escoamento superficial; ela é formada por rios, por lagos. Existe na questão da percolação ou da infiltração de água no solo e também a formação do lençol freático. Mas por vezes, a bacia hidrográfica tem um olhar e como um sistema produtivo, e esse sistema produtivo para fornecer recursos, sejam naturais, hídricos, energéticos ou até recursos humanos na hora que a gente coloca o ser humano como um recurso que é abastecido por essa bacia hidrográfica. Então ela também é um sistema produtivo, ela é um sistema natural com fluxos naturais, mas ela também é um sistema produtivo. Além disso, a bacia hidrográfica também é uma fonte de água e essa fonte ela tem diversos usos. E aí vocês veem que a gente tem vários usos dentro dessa figura: Então temos aí a questão da geração de energia, recreação, a questão do uso industrial, do uso agrícola, até mesmo do habitat natural, então a questão da biodiversidade, a questão das cidades, o uso da água subterrânea. Então são vários usos, usos que muitas vezes são cosuntivos, ou seja, que vai retirar água do sistema ,que é o consumo; usos que são realizados para a produção de alguma coisa, então é uma captação para produzir um outro produto, uma questão da indústria ou da geração de energia elétrica e também como corpo receptor porque a maior parte do efluente que é gerado em todos esses sistemas seja agrícola e urbana ou Industrial, é um rio que vai tá recebendo esses dejetos então é um corpo receptor. Como por exemplo no caso da bacia do Guandu, onde a captação de água para nosso consumo é realizada no mesmo corpo receptor do esgoto.Então a gente precisa melhorar muito ainda essa visão ecossistêmica de gestão hídrica. A bacia hidrográfica tem por definição que é um sistema geomorfológico aberto, porque tem as entradas, ma as saída pode ser um rio, pode ser oceano, então não tem um ciclo fechado, é um ciclo aberto; com processos naturais que são clima, processos/fluxos geológicos que são processos naturais, porém com influência antrópica, tudo oq a gente faz na bacia hidrográfica influencia esses processos naturais; e ela tem um comportamento que é resultado da interação solo + água (precipitação ou o escoamento da água) + geologia + cobertura + manejo, por isso que cada bacia tem um comportamento, cada bacia é uma bacia. A gente pode compreender os processos que ocorrem de uma forma geral, mas o comportamento é específico de cada uma. É muito difícil comparar valores entre bacias ou resultados entre bacias diferentes. A gente costuma dizer que a bacia hidrográfica se tornou uma unidade de planejamento, uma unidade de monitoramentoe, por isso ela é aplicada para avaliação no manejo florestal, seja em sistema de certificação ou ela é utilizada como uma área de planejamento para tomadas de decisões político-administrativas porque naturalmente, todo o resultado de produção de água, ( e a gente inclui qualidade e quantidade), no qual chamamos de deflúvio. Então o deflúvio, que é aquilo que resulta de produção de água da bacia, ele reflete as características e as condições de clima, solo, geologia, cobertura, manejo e atividades antrópicas. Então, em uma bacia, é como se a gente tivesse um saquinho aonde, ele tem em vários componentes dentro dele, ou uma caixinha que eu tenho vários componentes dentro dela, e a entrada de água pela precipitação passa todos esses componentes e tem uma saída, e essa saída na verdade é resultado da interação entre o clima (que está representado pela precipitação) e todos esses componentes da bacia hidrográfica que são geologia, cobertura, manejo, etc. A disciplina de manejo de bacias hidrográficas ela é uma disciplina com essas características de hidrologia florestal somente aplicada ao curso de engenharia florestal, porque como eu falei existem vários tipos de hidrologia e, essa visão ela pode ser aplicada em diversas profissões de acordo com a atribuição profissional, mas na engenharia florestal a gente tem essa disciplina com a visão de aplicar os conhecimentos de hidrologia florestal que são específicos da nossa área, uma bacia com floresta ela tem funcionamento diferenciado e o manejo florestal também resulta em diferentes condições e características. Então esses conceitos de hidrologia florestal eles são aplicados ao manejo de bacias hidrográficas que são as atividades que a gente faz, seja as atividades de alteração para o bem ou mal, qualquer atividade que a gente faça, seja o plantio preparo de solo, seja a colheita, seja uma restauração florestal, seja qualquer tipo de atividade prática operacional que se faça na paisagem. ( Ex: construção de uma ponte, alteração da calha do rio) Nós monitoramos e avaliamos indicadores hidrológicos, isto nas empresas florestais por conta da certificação florestal, é algo que já faz parte do operacional. Então a certificação exige que se apresente alguma evidência, e as evidências são realmente monitoramento das microbacias experimentais, e as empresas são responsáveis dentro da sua área, dentro da sua fazenda, de monitorar. E, com essa avaliação e o monitoramento contínuo desses indicadores, que são variáveis, a gente consegue propor melhoria das práticas de manejo . Então a disciplina, ela vem dentro de uma área grande de conservação da natureza, embora a gente fale muito de operações florestais e o impacto delas, a visão é realmente de conservação. A questão também de sustentabilidade dos sistemas produtivos, então, manter a capacidade de produção dos solos, manter a capacidade de produção de um sistema operacional com alto rendimento, porém que seja sustentável que tenha um respeito a resiliência do próprio sistema; e também a visão de segurança hídrica. Como a gente falou lá no começo a interligação entre as áreas rurais e áreas urbanas é cada vez mais comum, cada vez mais complexa e a questão da segurança hídrica tem relação sim com os aspectos da infraestrutura verde aplicada nas hidrográficas, que também é uma um tipo de manejo, como por exemplo a restauração florestal nas nascentes. A hidrologia é uma ciência aplicada em várias áreas, aplicada com diferentes finalidades, mas a gente tem uma dependência da água em relação à sobrevivência humana, e essa sobrevivência em vários sentidos, muito grande. A água muitas vezes tem essa característica de ser um recurso natural renovável, mas essa renovação do recurso na natureza Depende de vários fatores, por isso que a gente as vezes questiona “será que a água realmente é um recurso natural renovável ou não renovável? por definição ela é renovável porque o ciclo da água é fechado no planeta, mas ser renovável não significa que sempre ela vai estar com boa disponibilidade, porque os processos que ocorrem na superfície terrestre e os processos que são alterados pelas atividades humanas acabam dificultando, muitas vezes, os fluxos naturais que vão dar essa continuidade a essa renovação. Por exemplo, quando a gente extrai a água de um aquífero muito profundo e a gente extrai numa quantidade muito maior do que naturalmente ele se renova, o que acontece? Acontece que o tempo da renovação é inferior a quantidade por tempo que é extraída, então a natureza não vai conseguir renovar esse estoque do aquífero, mas não é porque a natureza não consegue, é porque o tempo desse ciclo natural é muito maior do que o tempo que a gente permite que ele se renove. Então ele se torna um aquífero que vai ter cada vez menos quantidade de água disponível Uma outro exemplo também, com relação às águas superficiais que estão em rios lagos, lagoas, represas…, a gente tem um uso dessas águas, muitas vezes esse uso não é só a retirada, mas também há o lançamento de um efluente que causa uma alteração nesse ambiente, ou seja, a carga química e biológica muitas vezes é superior aquilo que o próprio corpo hídrico consegue consumir por autodepuração, (aquela limpeza natural que ocorre nos rios) e então aquele rio se tornando um rio indisponível em relação à qualidade de água. Quando, por exemplo, ocorre a retirada de água num volume muito superior ao que se consegue renovar a gente tem a indisponibilidade por quantidade. Muitas vezes as transposições entre bacias ou entre rios, o excesso de captação para irrigação ou para consumo industrial ou para consumo humano; são usos que a gente faz que alteram o ciclo natural (o ciclo da água) e isso pode então descaracterizar esse recurso como um natural renovável. De qualquer forma, só tem uma origem das águas nos rios. A gente fala que a única entrada de água no sistema hídrico é a precipitação, a gente não tem outra entrada de água, por mais que a gente “está tendo lançamento, tá tendo uma transposição”, mas de qualquer forma, o ponto de origem que vai dar essa esse volume de água é a precipitação e é um fenômeno atmosférico que a gente não controla. A gente não tem como fazer chover ou fazer parar de chover, embora tem algumas metodologias que podem adiantar uma chuva, mas a gente não controla, isso é um fenômeno que ocorre a nível planetário, global, então envolve as massas de ar, os ventos, as correntes marítimas, o relevo, então são vários fatores que vão estar influenciando essa origem das águas para os rios e também a origem das águas para os aquíferos. A gente sabe que a partir da precipitação ocorre uma infiltração de água no solo muitas vezes numa percolação profunda entre fissuras de rochas e esses são os caminhos que vão alimentar o armazenamento em maior profundidade. Porém, todo rio vai para um outro rio, um lago ou até mesmo no seu destino final no oceano. Então toda toda a carga que a gente coloca no rio, inevitavelmente, vai para os oceanos, e a fonte da água maior que nós temos que forma a precipitação são os oceanos. Então o ciclo da água é fechado no planeta, mas ele também depende de muitos fatores em que as atividades humanas estão alterando. Quando a gente está falando de rio e de qualidade de rio, inevitavelmente, a gente tá também falando de qualidade dos oceanos. Não tem como separar essa visão de que a conservação da água na área continental tá separada da conservação da água nos mares, porque inevitavelmente todo o rio vai para o mar. Uma coisa muito importante, uma reflexão que a gente coloca nesse momento sempre, é assim: o que que é a água para você? e o quêque é a água para o mundo? A gente tem uma visão muito romântica do “o que é a água” até uma certa idade e ,às vezes, essa visão romântica permanece por muitos anos “o que é a água para você? Ah a água fonte de vida, a água é o que sustenta vida”, então mas água não é só isso. A água ela tá relacionada com as questões econômicas, com os fluxos ecológicos; e essa visão econômica é uma visão muito complexa, ela é alimento, ela fonte de energia, ela é a parte de abastecimento humano, ela está relacionada com a produção industrial… então assim, a água ela tem diferentes finalidades, muita importância e essa importância é econômica ambiental e social. Não tem como a gente dissociar também essas características de importância da água, porque ela é o nosso fluido universal, ela está em todos os seres, em todos os ambientes, praticamente em todo lugar. Só que a disponibilidade de água não é igual em todos os lugares, ela está em todos os lugares, mas a disponibilidade dela não. A gente chama de água disponível, aquela água que a gente pode utilizar como seres humanos. Para nós, o que que é a água disponível? é a água doce. Somente dois e meio por cento mais ou menos da água que existe no planeta é água doce, então a gente tem uma pequena disponibilidade de água nos planeta e dessa porcentagem, o que tá realmente possível da gente utilizar também é menor ainda, então e a gente tem quase trinta por cento da água doce disponível está em meio subterrâneo, somente 0,3 por cento que está em rios e lagos e quase setenta por cento são geleiras. O que acontece com geleiras ou neve? no momento em que ela se torna o estado líquido, que estaria disponível para gente, ela se torna uma água salgada. Então a gente não tem, na verdade, essa disponibilidade real e parte dessas geleiras estão na verdade protegendo uma quantidade de metano e gás carbônico que tá “enterrado” nestas geleiras, então quando ocorre o degelo ou uma um escape, a gente também está alterando a quantidade de gases que têm na atmosfera, isso também e vai alterar o ciclo da água que a gente conhece. Mas o importante da gente ter bem claro na nossa cabeça é que a disponibilidade de água no planeta é pequena para o nosso uso e a gente precisa ter consciência de que essa pequena disponibilidade ainda é suficiente para manter toda a nossa demanda, a demanda ecológica, e a gente precisa na verdade é saber gerenciar. E tem mais uma coisa, além da disponibilidade de água no planeta ser dessa forma, uma pequena disponibilidade em relação a água doce; entre os continentes essa diferença também é muito grande. A gente tem países em que tem muita disponibilidade de água e uma pequena população e países que têm uma grande quantidade de água disponível e grande população. A América do Sul tem muita água disponível, a América do Norte também com pequena população. Na África já começa a ficar espareado essa relação (população x água), na Europa e na Ásia a gente tem uma demanda muito maior, então realmente pouca água disponível em relação à população e a Austrália tem uma boa quantidade de água. Há stimativas que até 2025, tres bilhões de pessoas vão estar vivendo sob estresse hídrico e essa é uma informação que deixa a questão da água muito mais crítica e a gente começa a pensar em segurança hídrica, como garantir a segurança hídrica? que é aquele volume de água e vai garantir a sobrevivência e as condições dessa população não só agora, mas como no futuro também. A gente tem uma estimativa de aumento de população em quarenta por cento até 2050 e do uso né de água para agricultura em setenta por cento, já que se aumenta a população, tem que aumentar a produção de alimentos, consequentemente, aumenta a extração de água para a produção de alimento, não só isso, mas também o maior consumo de água para abastecimento da população. Então o crescimento populacional acaba sendo o indutor de vários outros stress ambientais que vão estar relacionados com ela água. Mas então se a gente for pensar na história da relação humana com a água a gente tem relatos e sítios arqueológicos que foram encontrados com potes de cerâmica para armazenamento, que datam de 9 mil Antes de Cristo, tem coisa até mais antiga do que isso, como aquedutos, canais e represas. A gente tem evidências de irrigação na Mesopotâmia e Egito, em cinco mil Antes de Cristo; sistemas de drenagem e rede de esgoto na Índia. E a gente tem algumas observações de Hipócrates com relação à questão ambiental, aos hábitos alimentares, a forma de habitação e até questão psíquica, social, política e religiosa entre qualidade de água e saúde da população. Então ele tem relatos em que ele pede essa relação entre a saúde das pessoas e a qualidade da água. O Platão, tem uma informação de que ele ressaltou a necessidade de disciplinar o uso da água, por conta da questão realmente de estresse hídrico nas plantações, então ele já indicava que era preciso até prescrever penalização para quem causasse algum dano ao recurso hídrico porque ele percebia essa essa dependência da agricultura em relação a água. No século 15 e 16 começa a entrar a navegação, e aí todo o comércio que foi desenvolvido por conta dessa habilidade desenvolvida em poder transpor os oceanos e conquistar novos territórios e a questão da engenharia também aplicada. Aí tem a questão do trabalho escravo e do primeiro grande ciclo econômico das Américas, baseado na energia da água, que foi a produção e exportação da cana-de-açúcar e nesse período também já tinham uma maior preocupação em relação ao saneamento e a saúde humana. No século 18 tem a revolução industrial, em que as máquinas a vapor foram o principal motor dessa revolução, tanto nas ferrovias, quanto nas indústrias e teve realmente uma repercussão muito grande tanto no desmatamento, quanto na engenharia, nas construções para ter esse uso da água Industrial. No século 19, que a gente destaca realmente é a questão do saneamento e da relação entre saúde humana e água, então os primeiros tratamentos de água surgem, a questão da filtração com areia, a relação de doenças veiculadas pela água. Londres teve um surto de cólera e isso chamou muita atenção também para a necessidade do tratamento de água para consumo e veio a adição do cloro como uma medida de desinfecção da água padrão, no final do século 19. E em 1951 foi acrescentado o flúor como um tratamento regular também para água de abastecimento na prevenção de cáries e outras infecções. E depois começam as crises hídricas, também no final do século 19, por conta da industrialização, da globalização e da degradação das águas. Então essas condições começam a interferir no ciclo econômico e aí começam as crises hídricas né, a falta de água ou a falta de água de qualidade ou muitas doenças que foram veiculadas transmitidas pela água, e até hoje a gente tem uma porcentagem de saneamento muito baixa, que assusta quando a gente percebe que menos de 10 por cento, por exemplo, no Brasil das cidades tem tratamento de esgoto. E as pessoas ficam à mercê desta situação, Na área rural a gente ainda tem muito problema com a uso ainda de poço e fossa, então muitas pessoas não têm a orientação correta na hora de localizar o poço e a fossa e acabam muitas vezes se auto contaminando e nem percebe, não tem essa essa distinção do que ocorre abaixo da superfície do solo. Também tem muita gente que lança o esgoto sem fossa, então lança no mesmo curso d'água que capta a água para irrigar, então fica uma contaminação em ciclo fechado muitas vezes. Nas áreas urbanas a gente tem os aglomerados urbanos, as favelas que são grandes exemplos de áreas urbanas em infraestrutura mínima para garantir o saneamento das pessoas e, muitasvezes, por conta do crescimento desordenado, fica até inviável a instalação da rede de esgoto, então são vários problemas que vão se acumulando e causando aí um problema muito maior de crise hídrica e sanitária. No século 20 a gente tem uma crise hídrica caracterizada pelo abuso dos usos dos recursos hídricos, o abuso em que sentido? o abuso de obras, o abuso de obras hidráulicas, o abuso de sistemas de produção baseados em água como insumo que não respeitam os fluxos naturais, ou que não respeitam a demanda ecológica. A gente tem um grandes bacias entrando em colapso. E como a única entrada de água é precipitação, então a chuva não dá conta. E às vezes a chuva vem e vem com a sua energia, a sua intensidade, a sua frequência natural, mas o sistema já se encontram tão alterados que essa precipitação ela vem e causa danos, e aí a gente tem vários casos de contaminação das águas, a gente tem vários casos pelo mundo de pessoas que ficam sem água porque as fontes estão se esgotando e isso é algo que caracteriza também um abuso, então se você acabou em um lugar é porque em outro lugar que tem alguém pegando mais água; e uma dependência muito grande de alguns países em relação à produção de hidroeletricidade, então Brasil aí não se destaca como um país que depende muito dos recursos hídricos para geração de energia. Ela é limpa, teoricamente sustentável, comparada a outras fontes energéticas como termelétricas que são movidas a carvão a óleo combustível, mas o impacto de uma hidrelétrica também é muito significativo nos ecossistemas. Estamos falando de áreas que foram inundadas, de uma produção de metano pela decomposição dessa vegetação que tá abaixo da linha da água, a gente está falando de construções muito grandes/ complexas e que podem ter um risco muito alto e a questão da Pegada Ecológica associada aos barramentos. Qual é a Pegada Ecológica hidrológica? o quanto que a gente tá realmente utilizando de recursos naturais para a produção de uma unidade energética? A gente tem uma uma extração global de água bem acentuada em algumas regiões do planeta. Já a extração de água por setor econômico trata-se de agricultura, Indústria e Abastecimento humano, podemos observar que existe um consumo para agricultura muito maior quando se compara à indústria e ao consumo humano, porém a gente precisa compreender que o sistema de produção alimentar, ele é um sistema que desloca a água, mas ele não some com a água. Então quando a gente fala de irrigação, a gente está falando de captar água do rio e lançar o solo, parte dessa dessa água vai ser retornada para atmosfera pela evapotranspiração, parte da água vai percolar de novo dos rios e parte da água vai infiltrar no solo, é diferente de um consumo Industrial como a água de insumo de produção, como por exemplo para bebidas ou para água envasada, em que tira a água de uma fonte natural e ela se torna um produto a ser comercializado e é diferente também do consumo humano que retira/extrai a água de um ponto natural para depois ser distribuída e abastecer as pessoas, e a gente tem que pensar bem nesse “distribuída”, porque grande parte do desperdício de água nas áreas Urbanas está relacionado com os canais de distribuição. São três grandes setores econômicos que utilizam a água, mas eles utilizam a água de diferentes maneiras e o impacto de cada um deles também é diferente. E existe também uma relação entre volume de água e a produção de riquezas, por exemplo o PIB, existe uma tendência de diminuição de metros cúbicos por PIB, então é possível conforme o aumento da riqueza dos países, investir em tecnologias ou em políticas públicas, que vão garantir realmente uma economia de água. Então é natural, por exemplo, em países mais desenvolvidos alguns controles de consumo de água nas construções residenciais ou políticas públicas que garantam menor consumo de água pelos processos industriais, ou uma política que vai favorecer a implantação de sistemas de irrigação com alta eficiência. Então a gente tem realmente a relação entre produção de água, consumo de água e riqueza. E água virtual, que é um conceito também muito importante que a gente conhecer, a água virtual é uma água que está transitando pelo mundo, mas não como em volume de água engarrafado, então por exemplo quando a gente produz celulose, a celulose é um produto Florestal em que a maior parte da sua composição é a água, e a gente exporta muita celulose e a gente gera muita riqueza com esse produto porque a gente exporta celulose. E a gente exporta celulose e a gente exporta a água que está junto com a celulose. Esse é um exemplo clássico de água água virtual. De onde vem a água que está na celulose que está sendo exportada? veio dos sistemas brasileiros né. E vai ser utilizado aonde? em outro país porque tá indo para outro país. Então essa exportação de água virtual não quantificada, não é valorizada, então não existe um valor por essa água que tá dentro desse produto industrial ou não, e que está sendo exportado. Quando a gente exporta soja, quando a gente exporta álcool, então toda vez que a gente exporta ou importa um produto agrícola ou Industrial que na sua composição tem água, a gente tá tendo essa movimentação de água virtual no planeta, e isso é uma movimentação que não é controlada, não é quantificada, não é valorizada economicamente, mas é real; o fluxo hídrico que ocorre aí entre o comércio dos produtos Existe riscos a disponibilidade de água porque a gente está falando de ciclos que são diferentes tempos de retorno, então a gente tem as chuvas que ocorrem todo ano, mas a gente tem também situações climáticas que vão ocorrer aí a cada 100 200, 500 anos, a gente tem tempos geológicos de muito mais anos e eras. Então o que acontece é que existe uma região do planeta que tá mais localizada na parte entre Austrália e América, e muito mais concentrada na região do Equador em que a gente tá tendo uma o maior a previsão de maior alteração dos índices pluviométricos, isso se deve às mudanças climáticas que já são registradas e que estão previstas ainda para acontecer. Então com a mudança nos índices pluviométricos, essa é uma grande preocupação em relação às mudanças climáticas, o que as alterações na temperatura e na concentração dos gases atmosféricos pode pode estar relacionada e, com certeza está, mas que isto pode vir a causar nos fluxos hidrológicos, então “onde vai chover?” porque a concentração de gases também influencia as massas de ar, então “onde vai chover? quanto vai chover? Com que frequência vai chover?” a gente tem situações previstas Globo e as chuvas vão ficar mais intensas e tem os lugares em que as chuvas vão ficar menos intenso, mais regulares… ou seja, é uma alteração realmente em todo o sistema. O uso múltiplo da água, tem a questão da sobrevivência: que a nossa água de beber, tomar, de viver; tem a água de higiene e saneamento que está relacionado com a nossa qualidade de vida; tem a água o transporte; energia; e produção de alimentos que está relacionado com as questões econômicas; recreação que também está relacionado com a nossa qualidade de vida; a biodiversidade com o sustento da vida. Então a água ela está presente e é necessária para todos esses usos. Na comparação entre o que se consome e o que se extrai existe uma desigualdade entre os países em relação à extração consumo. A questão da água e energia, então quanto que a gente precisa de água para produção de energia? 90%. Quanto da água está prevista para aumentar? 50%. E o consumo? Previsão de aumento de 85% , então 3 bilhões de pessoas vão estar passando por escassez hídrica, 2,5 bilhões de pessoas não vão ter acesso a eletricidade e mudanças de clima vão impactar também no setorenergético. Na escassez da água em 2030, sessenta e dois por cento da população mundial vai estar com impacto em relação a escassez hídrica. E a questão de produzir alimento, quanto que a gente usa de água para produzir alimentos? a carne de boi é a que mais consome água, então a gente fala muito de irrigação, mas a produção animal consome bastante volume de água porque não é só a produção do insumo de dessedentação animal, mas também toda a parte de limpeza, de processamento, de industrialização, que acabam utilizando muita água. A gente não vê muita água que se usa nos processos de produção de alimentos, por exemplo, 1 litro de cerveja na verdade consome 5 litros e meio de água produzir, enquanto a carne de frango 1 kg consome 3700 litros de água. No Brasil, para onde vai a água?a gente tem a maior parte da água é para consumo humano, a segundo o maior uso é para irrigação, depois a gente tem as termoelétricas, as indústrias, o abastecimento animal, o abastecimento rural e a mineração. Em relação a pegada hídrica “Quanto de água utiliza para um determinado produto?” o café acaba sendo o campeão na pegada hídrica, mas todos (cerveja, vinho, leite, chá) estão aí acima de oitenta por cento de pegada hídrica, ou seja, oitenta por cento desses produtos no mínimo é a água. E a distribuição de água no Brasil não é igual, claro que tem regiões que têm mais disponibilidade, regiões que tem menos disponibilidades em relação a densidade demográfica e a concentração dos recursos hídricos. Em relação a água subterrânea, a gente tem dois grandes aquíferos que são importantíssimos pro nosso país, muitas cidades precisam desses aquíferos para abastecimento humano, além dos pontos de captação para irrigação e consumo Industrial. De qualquer forma, são aquíferos muito sensíveis, porque eles têm uma ligação, não em sua toda sua superfície, mas em alguns pontos eles estão bem próximos da superfície e eles estão muitas vezes com fissuras que conectam a superfície ao aquíferos isso é passível de ter pontos de contaminação e essas contaminações são por dejetos ou a deposição de resíduos sólidos, a questão de percolação de produtos químicos, e aí entram os agroquímicos também, então a gente tem várias preocupações em relação aos aquíferos. Por último, a questão do nexus entre água e energia. A questão da conexão que existe entre água e energia que, em termos de Brasil, a gente tem isso muito forte, poderia colocar aqui também a questão da produção alimentar. Tem muita relação entre a energia da água e a energia utilizada para o consumo de água, então quanto mais água a gente quer extrair, mais energia a gente precisa, quanto mais energia a gente precisa, mais água a gente demanda. Então existe uma relação aí muito intrínseca entre consumo de água, consumo de energia e produção de alimentos. Esse é o grande desafio para as próximas décadas que é equilibrar essa relação tão delicada. O Século 21 é o momento que a gente tem crise hídrica, crises hídricas instaladas, crises hídricas para gerenciar, a gente tem muita falta de saneamento, muita doença que é transmitida pela água, a gente tem escassez de água crescente, a gente tem um padrão de nível de vida que já se estabeleceu e depende de muito investimento para recursos hídricos, para explorar os recursos hídricos. A gente tem o ponto irreversível, porque as pessoas não vão se adaptar um novo estilo completamente diferente, então tem esse ponto muito complicado de manter a disponibilidade hídrica e não existem outras fronteiras, a gente não pode falar “a gente para buscar água em nosso planeta”, porque a gente não vai e não tem. Então o maior desafio realmente é recuperar os sistemas hídricos, é mitigar os impactos, deixar cada vez menos a influência das atividades humanas nesses impactos negativos e irreversíveis em relação às águas do planeta, garantir condições mínimas de sobrevivência e dignidade para todas as populações no planeta. Nosso grande foco é tentar atenuar essa crise, que envolve também a questão econômica mundial, então a principal mudança que a gente espera é o alinhamento de toda e qualquer atividade econômica aos fundamentos do desenvolvimento sustentável e a capacidade de suporte dos ecossistemas. E aí a gente tem uma missão muito importante que é trazer toda essa demanda de sustentabilidade para o setor Florestal. A hidrologia é uma ciência que ela é aplicada em várias ciências, ela está permeando o nosso fluido universal, permeando vários conhecimentos aí na sociedade. A gente aplica na hidrologia, ferramentas que vem também de outras áreas, então a gente tem matemática, química, física, biologia, geografia, tudo isso está junto quando a gente fala em hidrologia, ela acaba se tornando uma ciência complexa justamente porque ela tem o envolvimento de vários conhecimentos aplicados. E quando a gente fala de aplicação dos conhecimentos de hidrologia, a gente tem várias áreas de atuação que envolvem hidrologia, portanto, vários profissionais que são aptos a trabalhar com hidrologia, porém cada profissional na sua área de atuação, dentro do seu âmbitos da hidrologia. Então quando a gente fala em quem trabalha com água na atmosfera, é a hidrometeorologia; a água no solo pedohidrologia; oceanos, oceanologia; a água que vai ser utilizada para consumo humano, potamologia (a água dos rios para consumo humano); a água dos lagos: Limnologia; a água subterrânea: hidrogeologia; e as águas que estão em geleiras: criologia. Então tem várias ciências, várias logias que estão relacionadas à hidrologia, isso está relacionado com o nicho dentro do ambiente da água. Tem várias engenharias que estudam e aplicam a hidrologia, a gente tem os biólogos, os ecólogos, a gente tem várias outras profissões. Nas ciências agrárias, de uma forma geral, nas ciências biológicas e nas ciências sociais também. Uma ciência muito recente também que vem sendo desenvolvida e aplicada é a sociohidrologia, quando a gente trabalha a questão da hidrologia aplicada às questões sociais e está cada vez mais em destaque devido a questão das crises hídricas O desenvolvimento da hidrologia seguiu o desenvolvimento de todas as ciências como um todo, então a gente teve o período de observação em que o conhecimento era gerado por meio de observações. Depois começou a parte de medições, então experimentos que mediam, equipamentos que mediam algum processo, algum fluxo e isso foi sendo convertido em verdades, em conceitos, em teorias. Depois veio o período de experimentação, então a gente só podia acreditar em algo era real, verdadeiro, se no experimento ele tivesse reaplicabilidade e aquele resultado também fosse replicável então confirmava aquela veracidade. O período de modernização, em que a gente começa a ter equipamentos e instrumentos que vão ser utilizados para provar alguma coisa, algum conhecimento. Período de empiricismo, a gente não consegue provar, mas não tem como explicar se não for determinada verdade. O período de racionalização, em que a gente racionalizou tudo, então embora tenham conhecimentos empiristas, mas a gente precisa tentar sempre comprovar esses conhecimentos então aplica-se todo o conhecimento já desenvolvido, de equipamentos, de instrumentos, de cálculos, até chegar no período de teorização, em que fazemos simulações em que olhamos para trás, estabelecemos um padrão e fazemos simulações futuras no sentido de teorizar alguma coisa, alguma verdade. Por exemplo, afirma-se que a tendência é, por exemplo, o crescimento populacional exponencial porque observou-se até aqui, os dados que se tem até aqui e eu vejo que tudo corrobora para isso, e eu faço uma curva de projeção baseado no que já passou, e aí a curvase confirma, então esse é o período da teorização, por isso que surgiram tantos modelos matemáticos, tantos modelos para gente aplicar e isso tudo vem paralelo ao desenvolvimento tecnológico também. Então todos esses períodos, eles estão relacionados com o conhecimento que havia na época mas também com o desenvolvimento tecnológico que cada período desse representou. Hoje, como nós temos computadores capazes de fazer muitos cálculos ao mesmo tempo, a gente tem condição de obter dados por sensores remotos ou por outras formas, tipo séries históricas, então a gente tem muita informação e muitos dados ainda para gerar informação. Na estação experimental de manejo florestal de Wagon-Weel Gap, no Colorado, que foi um experimento conduzido pelo método hidrométrico, ou seja, nesse experimento a gente pode observar os fluxos de massa terrestre do ciclo da água dentro de uma unidade experimental que é a microbacia experimental, esse método foi por volta de 1910. E o que consistiu esse experimento? haviam duas microbacias, de praticamente 80 hectares, então a área ela é parecida, elas são adjacentes, ou seja, elas estão na mesma montanha, então elas possuem a mesma formação geológica, elas estão localizadas na mesma região climática e as duas tinham florestas, cobertura florestal, e foram instrumentalizados. Porque uma microbacia experimental tem que ter os instrumentos de medição dos fluxos, então ela tem um instrumento para medir a precipitação (o pluviômetro), ela tem um instrumento para medir a vazão (um vertedouro, uma régua alivimétrica) e o monitoramento contínuo, ou seja, nessa época aí alguém ia lá se todos os dias para fazer a medição, uma vez por dia, talvez duas vezes por dia. O importante é saber isso, que ela foi monitorado, ou seja, ela foi acompanhada periodicamente a variação nos fluxos. As variáveis falas foram precipitação (chuva) e deflúvio/vazão, ou seja, a entrada de água na bacia (precipitação) e a saída de água que é o deflúvio; produção de água na bacia. Então com essas duas variáveis sendo medidas continuamente, era possível estimar a evapotranspiração, então foi feito o experimento em microbacias que têm mesma mesmas características de formação geológica, clima… e a gente está falando aí de um experimento Florestal, ou seja, uma delas né teve um tratamento e o tratamento qual foi ?o corte raso da cobertura florestal. Então eram duas microbacias, mesmas condições geomorfológicas, mesmas condições climáticas, mesma cobertura Florestal e uma delas teve a cobertura removida. Então o experimento ele veio justamente para falar “e aí o que acontece quando a gente remove a cobertura florestal completamente de uma microbacia?” Então, veja que a gente teve aqui alguns dados desse experimento: Na microbacia que e sofreu tratamento, a gente teve um um ano que nenhuma das duas teve alteração da cobertura, então é o que chama de “período de calibragem”, nesse período de calibragem, a produção de água (o deflúvio anual) foi de 157,5 milímetros e no ano do tratamento foi 185,5 mm, o que isso significa? significa que teve um aumento! então um valor é maior que o outro, mas a gente tem a microbacia testemunha, a testemunha não alterou a cobertura cobertura florestal, se não alterou a cobertura cobertura florestal e houve algum alguma alteração foi por conta da chuva, nesse experimento ocorreu realmente um aumento de chuva nesse ano em que teve o corte. Esse aumento significou 2,5 mm, porque na testemunha também teve um aumento pequeno, que foi de 2,5 milímetros. Então o que a gente faz é descontar esse aumento que foi devido ao índice pluviométrico no aumento que houve desse período de tratamento na microbacia tratada. Então vem a conclusão: a conclusão é que o corte raso produziu 25,5 mm de aumento no deflúvio anual. Como assim? a microbacia que teve a cobertura Florestal removida teve consequência um aumento na produção de água no ano posterior, então cortou a floresta, aumentou a produção de água. Isso é verdade? é, isso é verdade. Isso ocorre? ocorre e o contrário também é verdadeiro. Eu tenho uma microbacias sem Floresta e eu vou plantar Floresta na microbacia inteirinha, o que vai acontecer? vai acontecer que a produção de água anual no ano posterior ao plantio, ou nos anos posteriores ao plantio vai diminuir; o grande fator de alteração é a evapotranspiração, se eu coloco floresta numa paisagem eu estou aumentando a evapotranspiração, se eu tiro floresta de uma paisagem eu estou diminuindo a evapotranspiração. Agora, esse resultado que gente vê é um resultado direto, ele ainda não é o resultado indireto, porque a gente não tá falando de todos os fluxos hidrológicos que ocorrem numa bacia hidrográfica, a gente só tá falando do deflúvio, da produção de água anual, então é importante a gente saber que isso é verdadeiro, nesse momento importante saber que é realmente aumentar a cobertura Florestal diminui a produção de água, diminui a cobertura Florestal aumenta a produção de água. “Mas como assim? porque a gente planta árvore para produzir água!” a gente faz isso, mas a gente vai entender o que é exatamente essa produção de água, não é necessariamente “maior volume de água”, é a floresta ela tem um impacto positivo, mas não é só um olhar é linear Não é uma coisa assim “então eu vou plantar Floresta e vou produzir água” essa frase assim diretamente é que não pode ser aplicada. É verdade plantar floresta produz água? depende. É verdade cortar floresta diminui água? depende; E o depende tem um porquê, porque o negócio não é assim tão simples, não é uma relação “dois mais dois é quatro”. Por isso temos a disciplina MBH, que traz para gente um monte de coisa para pensar, para refletir e que ajuda a compreender melhor esses fluxos e os impactos decorrentes das atividades antrópicas, porque os conceitos que a gente vai ver de hidrologia Florestal, eles podem ser aplicados em diferentes áreas. Quando a gente fala de manejo de bacias hidrográficas a gente também tá falando de vários tipos de manejo, então nesse sentido, a disciplina traz a capacidade pro profissional aplicar esses conhecimentos no manejo que for necessário, no uso que for necessário, então a gente pode aplicar os conceitos de hidrologia Florestal na área urbana, na área rural, com floresta, com agricultura, porque são vários conhecimentos organizados para compreensão das relações entre água e floresta. Então a hidrologia florestal ela é uma ciência, enquanto o manejo de bacias gráficas reflete todas as atividades operacionais que a gente pode aplicar numa bacia hidrográfica. E essas atividades quando são realizadas baseadas no conhecimento da hidrologia Florestal, a gente tem aí o bom manejo dos recursos naturais renováveis. Quando a gente fala, e aí que vem, ao ponto que vocês todos estavam ainda se sentindo muito incômodo quando eu falei que cortar floresta produz mais água, e aí vem essa questão do “o que é produzir a água em uma bacia hidrográfica?” essa produção de água para nós, que vamos trabalhar os conceitos de hidrologia florestal, a produção de água ela não é só vista em termos de quantidade, ela também é vista com as características de qualidade da água, produção de água numa bacia hidrográfica para nós, a partir desse momento da nossa vida, passa ser sempre os aspectos de qualidade e quantidade de água. E aí, por isso, é que para nós significam três grandes conjuntos de atividades operacionais: o manejo do solo, o manejo da evapotranspiração e o controle da poluição. Então quando a gente fala assim “produzir mais água, produzir menos água” a gente transforma esse conceito de produção de água em manejo “eu vou manejar o solo, eu vou alterar as propriedades do solo, ou vou conduzir as propriedades do solopara que tenha uma melhor qualidade e quantidade” “eu vou ter uma alteração na evapotranspiração devido às práticas que eu vou fazer na vegetação” pra pensar em produzir mais água ou menos água em qualidade e quantidade ou para alterar estes parâmetros de qualidade e de quantidade, da mesma forma a questão da poluição, controle de fontes poluidoras ou até mesmo de tratamento, para pensar em qualidade e quantidade. Então, para nós, produção de água nunca vai ser dissociado qualidade e quantidade e as práticas de manejo vão ser principalmente focadas em solo, em evapotranspiração e em poluição ou contaminação. E aí para isso a gente tem aplicação da ciência Hidrologia Florestal a vários terminologias, várias transformações de unidade. Por exemplo, temos comprimento que é aplicado para o curso d’água, a área, que é aplicada na bacia, volume (em metros cúbicos), já quando eu falo vazão é metros cúbicos por segundo. Qualidade da água a gente sempre usa concentração. Só que muitas vezes vocês vão tá trabalhando com a unidade milímetros porque o milímetros ele traz para gente possibilidade de comparar valores independente da área. Então a gente pode usar essa unidade de milímetros, que significa a lâmina pela área para precipitação, interceptação, infiltração, evaporação, transpiração e pro deflúvio. E a gente tem distâncias lineares e curvilíneas que são utilizadas na análise física da bacia hidrográfica e como perímetro, comprimento, a área . Volume que está relacionado com produção de água, ou o armazenamento de água no solo, ou irrigação, ou armazenamento de reservatórios. E a descarga ou vazão, é um volume por tempo, e a gente tem a vazão descarga específica que é o volume por tempo por área, por isso que unidade dela é metros cúbicos por segundo por quilômetro quadrado, e o deflúvio que é a produção de água na bacia, normalmente a gente trabalha com defluvio num período de tempo fechado, então o deflúvio diário, o deflúvio semanal, o deflúvio mensal, o deflúvio anual. Então eu tenho que transformar aquele volume por tempo que eu tinha por exemplo, metros cúbicos por segundo, para o volume por tempo para deflúvio diário, por exemplo. A ideia é trabalhar esse período fechado. Os conceitos que a gente fala sobre análise física da bacia hidrográfica são simples. É uma questão cartográfica, muitas vezes de interpretar a relação entre o relevo, forma da bacia, condição de declividade e o que isso resulta na produção de água ou comportamento hidrológico da bacia, mas a dificuldade da análise física de bacia hidrográfica realmente é realizar ela na prática, porque a gente tem que lembrar que antigamente toda essa análise era realizada mapas em papel, que precisavam de instrumentos gráficos para ter as dimensões da representação dessa bacia no papel, que hoje a gente já não usa mais, por exemplo, o curvímetro. Muitos nem nunca viram um curvímetro, então a relação entre escala era uma coisa muito mais séria no sentido de que se você errasse um cálculo você estava errando tudo, hoje com os softwares de SIG, a gente já consegue facilitar um pouco o trabalho no sentido de precisão e interpretação e a gente consegue fazer o trabalho muito mais rápido e também com maior qualidade, com maior facilidade muitas vezes Mas toda ferramenta, o SIG é uma ferramenta que pode ser utilizada em várias áreas, assim como a cartografia, assim como o desenho; então toda ferramenta envolve a habilidade de você trabalhar com essa ferramenta. E aí que é a grande dificuldade nossa, porque embora seja uma ferramenta já muito usual nos dias de hoje, a gente não tem ainda um tempo (cronológico) pra essas ferramentas já terem sido incorporados na nossa educação à noite tempos atrás, no tempo que teria dado condições a gente adquirir essas habilidades com muito mais antecedentes. Por exemplo, eu não tive disciplina de SIG, eu tive disciplina de sensoriamento remoto, e a gente fazia a interpretação das imagens de fotografia aérea, então essas ferramentas eu fui ter contato quando eu estava na pós graduação, embora eu sabia que elas já existiam, eu já tinha pessoas no meu ambiente acadêmico e profissional que utilizavam essas ferramentas, mas eram pouquíssimas pessoas. A maioria dos colegas que tinham alguma habilidade já desenvolvida na minha época de graduação, eram pessoas que estavam mais ligados a geografia. Então, com o passar dos anos, a gente incorporou realmente essas disciplinas na grade da graduação, de diversos cursos precisam dessa ferramenta, e mais ainda, ela é uma ferramenta muito complexa para a gente ganhar habilidade de uso autônomo em pouquinho tempo, que é por exemplo um semestre. Então o que eu quero dizer com essa introdução: o objetivo da aula hoje é para vocês compreenderem o significado da interpretação da análise física das bacias hidrográficas e, quando vocês puderem ter a prática dessa parte de análise, aí vocês vão conseguir desmistificar a forma de uso dessas ferramentas para essa finalidade. Então o importante hoje é a gente compreender porque que a gente faz essa análise física e porque ela é tão importante assim na hora de caracterizar uma bacia hidrográfica, ela é o primeiro passo que a gente faz caracterizar e isso tem uma interpretação do comportamento hidrológico da bacia. Essa imagem mostra pra gente uma análise física de bacia no formato 3D, onde a gente consegue observar relevo, declividade, cotas de altitude, sistemas de coordenadas, de uma forma bonita… de uma forma que a gente fica admirado com a capacidade de, numa tela plana, eu observar algo que é tridimensional, como é quando eu observo a paisagem. Essa é a grande diferença nas ferramentas atuais, modernas e tecnológicas e informáticas, que permitem essa observação pelos nossos olhos. Porque antigamente para você ter uma representação tridimensional a gente trabalhava com maquete, e maquete não é uma coisa tão simples de se representar quando você preza pela precisão, quando você precisa que essa representação seja realmente muito parecida com o real. Aí o que a gente tem que pensar: Qual é o limite físico de uma bacia hidrográfica? porque nessa imagem a gente tá vendo só uma área/uma região, que na verdade tem várias bacias. A área que delimita uma bacia hidrográfica, ela tem uma forma mais específica, que lembra uma gota, uma orelha… ela tem uma concavidade, então ela é um encaixe no relevo. Então por essas duas condições que a gente já coloca na nossa cabeça quando a gente fala de uma bacia. Então a bacia hidrográfica ela é chamada de bacia hidrográfica porque ela tem esse formato de reservatório, e esse reservatório ele tem os limites, ou seja, o divisor dessa bacia são as partes mais altas do relevo. O que que são as partes mais altas do relevo? as montanhas, os morros, os picos… esses são os divisores topográficos. A partir desse ponto de divisão, o que que acontece quando ocorre a chuva? a água vai se dividir, parte vai para uma bacia, parte vai para outra bacia. Então é por isso que são chamados divisores topográficos, é por isso que são os limites de bacias, porque é uma condição do relevo que caracteriza a captação de água da chuva pela superfície do terreno. Então é a área de captação natural da água da chuva que proporciona a drenagem para o canal principal seus tributários, ela tem esse formato de reservatório, então toda a água que é captada da chuva inevitavelmente vai acabar chegando nesse ponto mais baixo da bacia que é aonde forma os canais e os tributários e o que a gente chama de rio. Qual é a parte mais alta da bacia? Qual é o limite superior dessa bacia? a gente já falou, são os divisores topográficos. E até onde vai? onde termina a bacia? a bacia terminanum ponto em que a gente delimita como, por exemplo, o encontro de um outro rio. O limite inferior muitas vezes é definido pelo objetivo que a gente tem de estudo daquela bacia. Mas se a gente não vai ter motivo para definir uma área de estudo da bacia, então a gente normalmente considera a bacia daquele rio, então aquele rio quando ele se encontra com outro rio é o limite daquela bacia. Então, por exemplo, o Rio das Pedras quando se encontra com o Rio Guandu, acaba ali. O final de uma bacia normalmente é definido ou pela confluência de um outro rio ou por um ponto que o próprio usuário que vai fazer o estudo na bacia decide. O exutório é quando a gente fala assim “esse rio está deságuando”, “é a saída do rio” então, por exemplo, o exutório pode ser um outro rio, pode ser um lago, pode ser o mar. Se você pega um mapa da rede de drenagem, como essa figura, em que eu tenho os rios, tem ali a indicação de ter uma estação limimétrica, o uso do solo é floresta e pastagem, e eu pergunto “Cadê a bacia hidrográfica?” só o mapa da rede de drenagem não é suficiente para delimitar a bacia hidrográfica, é isso que é super importante compreender, porque eu só consigo delimitar a bacia hidrográfica se eu tiver o mapa topográfico planialtimétrico, ou seja, em outras palavras se eu tiver curvas de nível, cota, isso em escala, numa situação em que eu conheço coordenadas geográficas e que isso tudo está direitinho. Essa figura aqui, ela foi a digitalização de uma base cartográfica. “Ah eu não tenho as curvas de nível em nenhum lugar” porque hoje em dia gente a gente tem base de dados que fornecem esses mapas já vetorizados, ou seja, já tá digitalizado, as linhas são reconhecidas como linhas ou polilines, então isso facilita muito o trabalho. “Ah mas eu não tenho” se você não tem então você vai ter que digitalizar uma figura, e aí depende da precisão da digitalização. Mas eu só consigo delimitar a bacia hidrográfica se eu tiver as curvas de nível, se eu tiver a base cartográfica planialtimétrica. Hoje em dia a gente consegue outras bases cartográficas , além das cartas do IBGE, e a gente consegue também obter um modelo digital do terreno por imagens de satélites, então há várias formas de a gente obter essa informação para poder delimitar a bacia. Em relação ao tipo de drenagem, as bacias elas são classificadas de acordo com o desenho que elas mais se parecem então, por exemplo, vamos ver aqui as imagens: Se eu falo de uma bacia exorreica, significa que a rede de drenagem dela tem uma saída para o aberto como, por exemplo, para o oceano, ou por exemplo para um outro rio, é aberto, o fim dela ainda não termina. Diferente da endorreica, que é uma bacia hidrográfica que o exutório dela se vai dar em uma saída fechada, mas eu posso ter uma bacia que não forma rede de drenagem, uma “rede de drenagem invisível” que é a arreica, que ocorre na parte de deserto, de solos extremamente arenosos, profundos e secos, onde chove, mas a chuva é captado pela superfície do terreno e não forma uma rede de drenagem, não forma o escorrimento e uma linha de drenagem. Mas existe também as bacias hidrográficas subterrâneas, aquelas em que a rede de drenagem está abaixo da linha da superfície do terreno, que são as nossas cavernas, a maioria das cavernas são formadas pelo processo de fluxo de água subterrânea, então é chamada de bacia criptorreica. Mas uma bacia pode ter água o ano inteiro, pode ter água correndo somente parte do ano, e aí elas recebem nomes diferentes. Ela é uma bacia perene ou ela é um rio perene quando quase o ano inteiro tem água, então noventa porcento do ano tem a correndo, ela é uma bacia perene. Se ela tem a água correndo só em cinquenta por cento do período, então intermitente é quando a gente tem cinquenta por cento do período ou menos com água correndo. E o canal de água efêmero ou uma bacia efêmera é aquela que só vai ter a formação do fluxo de água, do rio ou da rede de drenagem quando está chovendo, acabou a chuva, acabou a rede de drenagem Em relação ao desenho da rede de drenagem, a forma do desenho da rede de drenagem, ou seja, o que eu consigo ver no mapa, aquele padrão de linhas dos rios. Eu posso ter rios com curvas mais suaves, eu posso ter rios com curvas muito quebradas, posso ter uma região com rios em que eles são paralelos, posso ter região que os rios não se encontram. Então a gente tem diferentes desenhos de rede de drenagem. Classificação da Rede de Drenagem a) dendrítica: lembra a configuração de uma árvore. É típica de regiões onde predomina rocha de resistência uniforme b) treliça: composta por rios principais consequentes correndo paralelamente, recebendo afluentes subsequentes que fluem em direção transversal aos primeiros c) retangular: variação do padrão treliça, caracterizado pelo aspecto ortogonal devido às bruscas alterações retangulares nos cursos fluviais.d) paralela: também chamada "cauda equina", ocorre em regiões de vertentes com acentuada declividade, ou onde existam controles estruturais que favorecam a formação de correntes fluviais paralelas e) radial: pode desenvolver-se sobre vários tipos e estruturas rochosas, como por exemplo, em áreas vulcânicas e dômicas f) anelar: típica de áreas dômicas; a drenagem acomoda-se aos afloramentos das rochas menos resistentes Temos o padrão dendrítico que lembra muito os neurônios ou árvores, o padrão de treliça estrela, o rio principal recebe os seus afluentes, os seus tributários de forma retangular. Na retangular, o rio principal ele faz uma curva muito parecida com um ângulo de 90 graus. A paralela em que eu tenho os rios tributários chegando no rio principal de forma paralela. Eu tenho uma região em que todas as nascentes estão ao redor de um afloramento. Posso ter também vários afloramentos que se interligam numa forma circular… cada uma dessas formas da rede de drenagem está relacionada diretamente com a formação geológica, o tipo de rocha mãe é que vai até determinar essa forma. A gente tem que lembrar que a formação do relevo ocorre principalmente pelo tipo de rocha mãe e o tipo de intemperismo a que ela foi submetida naquela região. Então é possível eu ter duas regiões em que é a mesma rocha mãe, mas que surgiam formas diferentes? é possível, porque depende muito também do tipo de intemperismo, mas o que ocorre é que o padrão de drenagem é muito mais relacionado com a rocha de origem do que com os fatores de intemperismo. É diferente do solo, as condições dos solos estão muito mais relacionadas aos fatores de intemperismo, porque eu posso ter solos completamente distintos no seu grau de intemperismo e, portanto, no seu grau de desenvolvimento do solo e, portanto, nas suas características de fertilidade, profundidade, permeabilidade, elasticidade… todas essas características do solo; relacionados então ao maior ou menor grau de intemperismo, considerando que está falando com uma mesma formação geológica. E aí a gente tem os parâmetros que a gente faz análise física da bacia são vários parâmetros. Eu posso ter um relatório só de análise física de bacia. Mas o que isso significa? essa é a grande realidade né, se eu ficar olhando só os parâmetros sem ter um significado para eles eu tô fazendo um trabalho de geógrafo ou de cartográfico. A ideia para nós que somos da área da hidrologia aplicada é saber porque que eu preciso saber dessas informações, “o que que isso me fala?”. Então, por exemplo, a gente tem vários parâmetros físicos, a área, o fator de forma… o que que essas informações significam para mim? elas significam o regime de água, o regime de sazonalidade, o comportamento hidrológico. Então esses parâmetros físicos vão me falar qual é, na verdade, o comportamento hidrológicodessa bacia, independente da cobertura vegetal ou da ocupação do solo. Saber algumas algumas informações a respeito da análise física da bacia me dá a prévia interpretação de qual é o comportamento esperado para aquela bacia, independente do manejo. Aí eu tenho os parâmetros geológicos, os parâmetros geológicos também são extremamente importantes, se eu tiver essa informação, porque a gente tem uma falha no Brasil em termos de dados disponibilizados na questão geológica. A gente tem poucas bases de dados confiáveis quando se fala de uma escala pequenininha, uma escala de microbacia, eu tenho informação para o Brasil, tenho informação pro estado, muitas vezes eu tenho informação para o município, mas é difícil ter essa informação para áreas menores. Mas quando eu tenho indícios também já ajuda. Porquê que é importante saber os parâmetros geológicos? me fala o que esperar da capacidade de armazenamento de água no solo; então a profundidade que eu vou encontrar numa bacia, em termos de capacidade de armazenamento de água, está muito relacionada com os parâmetros geológicos e com o relevo. Também a questão dos sedimentos, dos tipos de sedimentos, da sua resistência a erosividade, da questão da sua característica de erudibilidade, claro que isso está relacionado ao manejo, mas todo o rio recebe um aporte de sentimentos que é natural e esse “natural” depende dessas características geológicas porque às vezes não têm nenhuma alteração na cobertura ou não tem nenhuma atividade de manejo que impacta, mas tem uma liberação sedimentos. Aí eu tenho a questão dos parâmetros de vegetação que me dá a informação a respeito do manejo e as inter-relações, essas inter- relações são mais importantes na hora de comparar bacias, na hora de pensar em cálculos de alteração do comportamento da bacia. E aí a gente começa com os parâmetros físicos. O primeiro que a gente precisa entender é o ordenamento dos canais, eu falo assim “ah essa bacia ela tem primeira ordem”, primeira ordem significa ela tem canal de ordem um, “esta bacia é uma bacia de sexta ordem” significa que o canal principal dela ordem seis, o que que isso significa? que ela tem muito mais junções de tributários. Se eu tenho dois canais de primeira ordem (nascente é canal de primeira ordem) e eles se encontram forma um canal do segunda ordem. Se dois canais de segunda ordem se encontram, forma um canal de terceira ordem. É um ordenamento crescente, se um canal de terceira ordem se encontra um canal de primeira ordem ele não altera a ordem, ele permanece no canal de ordem três, se um canal de ordem três se encontra com um canal de ordem três, ele vai para ordem quatro. Então a regra é: a gente só aumenta o ordenamento no canal quando ele encontra um canal de mesma ordem ou de ordem superior, se ele conta um canal de ordem inferior ele permanece o mesmo valor. Densidade de drenagem é uma densidade de rede de drenagem em quilômetros por quilômetros quadrados. Então eu preciso conhecer quanto daquela área da bacia, que é em quilômetro quadrado por exemplo, é ocupada por rios (quilômetro). O que isso significa? quanto maior a rede de drenagem, mais sensível é essa bacia, porque os canais não são estáticos, os canais eles têm uma expansão e uma contração. Então imagine uma região com uma alta densidade de drenagem na época de chuva é porque os rios crescem mais ainda, então se já tem uma alta densidade de drenagem, você tem muito mais solo saturado na época de chuva, por outro lado, uma região com baixa densidade de drenagem significa que ela tem poucos canais, então se eu fosse decidir por uso solo para impermeabilizar, para plantar, para fazer um uso mais intensivo, eu iria preferir regiões com baixa densidade de drenagem, mas que eu estou pensando em delimitar áreas para conservação, aí eu vou para a regiões de alta densidade de drenagem, essa é a lógica, pela sensibilidade e pelos fluxos ecológicos que ocorrem em cada área diferente. A forma da bacia tem a ver com a forma do desenho da bacia, a bacia pode ser mais alongada ou mais circular. Tem vários índices, esse aqui é o anúncio de Orton, ele trabalha o comprimento do eixo da bacia e a área da bacia. E tem o índice de circularidade que trabalha então perímetro da bacia e a área da bacia, quanto mais próximo de 1, mais circular é a bacia. Uma bacia mais alongada ela tem uma característica de maior heterogeneidade na distribuição da precipitação, como assim ‘ ah uma bacia que ela é mais formato de salsicha pode acabar chovendo só em uma parte’, numa bacia que tem mais formato de laranja, é mais provável que a chuva seja homogênea na distribuição dessa bacia. Numa bacia mais alongada começa a chover e demora mais tempo para a água sair lá no ponto do exutório, numa bacia circular esse tempo é bem menor . Esse comportamento fala pra gente que se a gente tiver trabalhando numa bacia mais circular, a possibilidade de ocorrer enchentes ou a possibilidade de um pico de cheia ocorrer numa chuva mais rápida é maior. A gente também tem relação dessa questão com o tempo de concentração da bacia, na bacia circular o tempo de concentração é menor. E aí a gente fala da declividade, que é uma característica também super importante. A declividade tem várias fórmulas para calcular conforme a sua precisão nos dados de curvas de nível, você usa uma outra fórmula. Mas o que é declividade? da mesma forma que a gente faz declividade no solo pega dois pontos, cota distintas e ve qual distância pela diferença de altura, é a mesma coisa na bacia hidrográfica, a relação declividade é a mesma. Então eu posso ter porcentagem ou eu posso ter metros por quilômetros/ metros por metros. Quanto maior a declividade da bacia, mais acentuado é o escoamento superficial. Então mais acentuados são os processos de escorrimento, então a gente está falando de erosão, de transporte de sedimentos. E aí tem alguém a orientação da bacia, a gente fala assim muitas vezes ‘Qual é a face? Para qual sentido está a face da bacia?’ A bacia drena para Norte, para Sul, para o leste ou drena para o Oeste? Então essa é ideia, qual é a orientação da bacia. E esse gráfico veio de bacias experimentais no hemisfério norte em que a gente teve o monitoramento do deflúvio, e aí o que que acontece, um ano após o corte eles observaram uma alteração no deflúvio em relação às duas bacias, mas elas tinham uma diferença de orientação, uma estava drenando para o norte, ou seja, da nascente ao exutório, a face da bacia tava drenando para o norte, enquanto a outra bacia estava drenando para o sul. Então imagine a montanha, uma está drenando para o norte, a outra está drenando para o sul, só que isso no Hemisfério Norte, elas estão no hemisfério norte. Na bacia que está drenando para o norte ela recebe menos luz. E no hemisfério norte, a face que recebe mais luz é a face sul, e no hemisfério norte a face que recebe menos sol é a face norte. Então o que acontece se recebe menos radiação solar, tem menor evapotranspiração. Nesse experimento demonstrou isso, a importância da orientação da bacia que está relacionada com esse recebimento de radiação solar e com a capacidade de evapotranspiração. Para o hemisfério sul, as bacias que drenam para o norte recebem maior radiação do que as bacias no hemisfério sul que drenam para o sul, é o contrário que acontece no hemisfério norte. Então o que a gente espera é que tenha maior evapotranspiração no hemisfério sul, em bacias que drenam para o norte, por isso que uma condição quando a gente fala de restauração florestal, de priorizar a restauração florestal pensando em melhorar as condições para a produção de água numa bacia que tem a demanda hídrica para consumo humano que precise de maior volume de água, não tem muito sentido a gente ficar trabalhando com restauração
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