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06 DOS PRONUNCIAMENTOS JUDICIAIS - PROCESSO PENAL - RESUMO - CONCURSO - OAB

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Érika Cerri dos Santos 
erikacerridossantos@hotmail.com 
DOS PRONUNCIAMENTOS JUDICIAIS 
 
Os atos jurisdicionais no processo penal podem ser classificados em: 
 
→ Despachos: Destinados ao impulsionamento do processo. Tratam-se de manifestações sem carga decisória, 
caracterizando-se pela irrecorribilidade. 
 
Obs.: Cabe correição parcial se a figura do despacho for utilizado de forma equivocada. Lembrando que a 
correição parcial não tem natureza recursal, mas sim uma medida de caráter disciplinar oponível contra atos 
praticados por error in procedendo ou abuso de poder. 
 
→ Decisões: Pronunciamentos que produzem sucumbência, destinados a resolver incidentes processuais ou pôr 
fim ao processo. Utilizada para resolver situações relacionadas ao mérito. 
 
As decisões podem ser classificadas de diferentes formas, dentre as quais destacam-se8: 
 
→ Sentença definitiva: Põem fim ao processo, absolvendo ou condenando o réu. 
 
→ Decisões interlocutórias simples: São aquelas que resolvem os incidentes processuais ou questões 
atinentes à regularidade do processo, sem extinguir o procedimento ou uma de suas etapas. 
 
→ Decisões interlocutórias mistas: São aquelas que, julgando ou não o mérito, põem fim ao procedimento ou a 
uma de suas fases. 
 
→ Interlocutórias mistas terminativas: São as decisões que põem fim ao procedimento. 
 
→ Interlocutórias mistas não terminativas: São as que põem fim a uma etapa do rito. 
 
A classificação das decisões dessa forma pode ajudar na identificação do recurso cabível diante de um determinado 
pronunciamento judicial. 
 
As decisões interlocutórias são pronunciamentos que possuem certa carga de conteúdo decisório, podendo, 
inclusive, acarretar ou não a extinção do processo. O CPP prevê algumas hipóteses de proferimento deste tipo de 
decisão. 
• Classificação operada no procedimento dos crimes dolosos contra a vida (art. 419, do CPP); 
 
• Absolvição sumária (arts. 397 e 415, do CPP); 
 
8 OBS.: Em sala a professora só mencionou a classificação entre decisão e sentença. Não adentrou mais na classificação. 
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• Pronúncia (art. 413, CPP); 
 
• Não recebimento da denúncia em face da ausência de requisitos formais. 
 
SENTENÇA (STRICTO SENSU) 
 
SENTENÇA -> É a decisão terminativa do processo, podendo ser definitiva quanto ao mérito, abordando a pretensão 
punitiva do Estado, para acolhê-la ou refutá-la. 
 
É uma manifestação intelectual lógica e formal emitida pelo Estado, por meio de seus órgãos jurisdicionais, com a 
finalidade de encerrar um conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida, mediante a aplicação do 
ordenamento legal ao caso concreto (Capez, 2022). 
 
• Possui carga decisória plena, julgando o mérito da causa em todos os seus aspectos 
 
• Importam na condenação ou na absolvição do réu 
 
• Gera esgotamento da instância. Quer dizer que, uma vez proferida, não mais poderá ser modificada pelo seu 
prolator, salvo no caso de erros materiais9, suprimento ou esclarecimentos de omissões, contradições ou 
ambiguidades (oposição de embargos de declaração), ou interposição de recurso com efeito regressivo10 (art. 
589 do CPP). 
 
• Exaradas pelo juiz singular ou pelo juiz-presidente do Tribunal do Juri 
 
• Serão publicadas em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo termo (art. 389, CPP). 
Antes da publicação, em tese, não existe sentença. 
 
• A intimação da sentença ocorrerá nos termos do art. 370 e do art. 392 do CPP. 
 
• Sempre poderão ser impugnadas, sendo o recurso cabível a apelação (arts. 593, I e III, do CPP)11. 
 
9 Os erros materiais podem até mesmo ser corrigidos de ofício pelo julgador. Tratam-se de erros pontuais, que não se relacionam com o 
mérito da causa. Dessa forma, não pode o julgador, sob o pretexto de existência de erro material, quebrar o devido processo legal e 
mudar a essência do decidido em aspectos relativos ao mérito. Nem mesmo nulidades absolutas podem ser declaradas após o 
esgotamento de instância. 
10 Os recursos com efeito regressivo permitem que o prolator da sentença se retrate da decisão recorrida antes do encaminhamento da 
decisão ao Órgão competente. 
11 EXCEÇÃO: Sentença que decide a imputação de crime político será impugnável por recurso ordinário constitucional para o STF (art. 102, 
II, b, CF). 
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No caso de obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão, caberá embargos de declaração (art. 589 
e 382, CPP). 
 
SOBRE OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO: Deverão ser opostos em dois dias12, por meio de petição escrita13 instruída 
com as respectivas ações. 
 
Art. 382, CPP: Qualquer das partes poderá, no prazo de dois dias, pedir ao juiz que declare a sentença, 
sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão. 
 
Uma vez opostos, interrompem o prazo para recurso cabível, o qual passa a fluir normalmente após a decisão dos 
embargos opostos. 
 
Súmula 152 das Mesas de Processo Penal da FDSP: Embora a lei preveja embargos de declaração apenas contra 
sentença o acórdão, qualquer decisão judicial pode ser embargada, enquanto não ocorrer preclusão. 
 
Sobre os embargos em Juizados Especiais: Deverão ser opostos em 5 dias e não suspenderão o prazo para 
recurso quando opostos contra acórdão (art. 83, Lei 9.099/95). 
 
 
 
12 ATENÇÃO: O prazo para oposição de embargos declaratórios contra acórdãos é de cinco dias (art. 619, CPP) 
13 Não se admite a oposição por termo ou oral, com exceção dos procedimentos dos Juizados Especiais. Nestes casos, a oposição ocorre 
em cinco dias. 
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DOS REQUISITOS DA SENTENÇA 
A sentença exarada deve atender a alguns requisitos formais, sendo que a ausência dessas formalidades torna a 
decisão viciada. 
 
Art. 381, CPP: A sentença conterá: 
I – os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações 
necessárias para identifica-las; 
II – a exposição sucinta da acusação e da defesa; 
III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar 
a decisão; 
IV – a indicação dos artigos de lei aplicados; 
V – o dispositivo; 
VI – a data e a assinatura do juiz. 
 
 
 
 
Fonte: Nucci, 2022 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO 
FUNDAMENTAÇÃO 
DISPOSITIVO 
AUTENTICAÇÃO 
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❖ RELATÓRIO: Resumo das principais etapas do procedimento e dos incidentes que eventualmente tenham sido 
suscitados ou resolvidos. A ausência dessa formalidade é causa de nulidade absoluta da sentença14. 
É necessário que o relatório apresente a identificação das partes, em razão da formação da coisa julgada 
sobre essas pessoas15. A ausência do nome do réu causa prejuízo à ação penal. 
A ausência do nome da vítima não gera nulidade se a sentença faz alusão constante à denúncia (STJ). 
 
❖ FUNDAMENTAÇÃO/MOTIVAÇÃO: Trata-se de requisito geral das decisões judiciais, decorrendo de previsão 
inserida na própria Constituição Federal (art. 93, inciso IX, da CF). 
É o raciocínio lógico realizado pelo juiz a partir do contexto probatório inserido ao processo16. Deve abranger 
tanto as matérias de fato relativas à autoria quanto as matéria de direito, que constituem as teses de 
acusação e defesa. 
Na fundamentação, o juiz deve motivar o quantum da pena, o regime escolhido e a concessão ou negativa de 
benefícios. 
 
→ Devem ser indicados, ao menos implicitamente, os dispositivos de lei incidentes no caso concreto, sob 
pena de nulidade absoluta. 
 
→ Não necessariamente é preciso que o juiz faça menção à todas as teses apresentadas pela acusação 
e pela defesa nos autos. A análise pode ser feita contextualmente, sem a necessidade de resposta 
individualizada a todos os argumentos. Assim, basta que o juiz externe as razões de seu 
convencimento, de forma a permitir que a defesa possa apresentar argumentos contrários em 
eventual impugnaçãoque venha a propor. 
 
→ A sentença deve se ater ao objeto do processo, não podendo implicar em julgamento citra, ultra ou 
extra petita17. 
 
→ Fundamentação per relazione: É aquela em que o juiz adota como suas as razões de decidir ou de 
argumentar de outra decisão judicial ou de alguma manifestação da parte ou do Ministério Público, 
enquanto custos legis. Esta prática não nulifica o ato. 
 
❖ DISPOSITIVO: Trata-se da conclusão da sentença, momento em que o julgador condena ou absolve o réu, 
indicando os respectivos dispositivos legais. 
 
14 A lei 9.099/95 dispensa o relatório nas sentenças proferida pelos Juizados Especiais Criminais. Assim, não há nulidade na ausência do 
relatório. 
15 Não é preciso identificar o nome do Promotor de Justiça no caso de processo iniciado por denúncia. No caso de ação penal intentada 
mediante queixa, a identificação do querelante é obrigatória. 
16 O Tribunal do Juri não precisa motivar suas decisões. 
17 CITRA PETITA – Não analisa todos os fatos; ULTRA PETITA – Vai além do que consta no pedido formulado pelo autor; EXTRA PETITA – 
Reconhece objeto de natureza diversa à daquele requerido na inicial. 
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Tratando-se de sentença condenatória, o magistrado deve consignar o tipo legal em que inserida a conduta 
criminosa pela qual está sendo responsabilizado o réu. 
Já na sentença absolutória, impõe-se ao magistrado declinar o respectivo fundamento dentre os 
incorporados aos arts. 386, 397 ou 415 do CPP. 
 
→ Sentença suicida: É a sentença cujo dispositivo contraria as razões invocadas na fundamentação. 
Tais sentenças são nulas u sujeitas de embargos de declaração, para a correção de erros 
materiais. 
 
❖ AUTENTICAÇÃO: Trata-se da assinatura do juiz, sem a qual a sentença é inexistente. 
 
 
➢ A exigência de identificação das partes justifica-se no fato de que a coisa julgada, consistente na 
imutabilidade da decisão, apenas ocorre entre partes determinadas. 
Não há nulidade por ausência de menção do nome da vítima se esta não faz parte da triangulação processual. 
 
 
SENTENÇA ABSOLUTÓRIA 
É aquela que julga improcedente a acusação por qualquer das razões mencionadas no art. 386, do CPC – Absolvição 
vinculada. 
 
 
 
 
 
Art. 386, CPP: O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: 
I – estar provada a inexistência do fato; 
II – não haver prova da existência do fato; 
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; 
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; 
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena, ou mesmo se houver fundada 
dúvida sobre sua existência. 
VII – não existir prova suficiente para a condenação. 
 
FUNDAMENTOS DA ABSOLVIÇÃO 
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Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: 
I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade; 
II - ordenará a cessação das penas acessórias provisoriamente aplicadas; 
II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas; 
III - aplicará medida de segurança, se cabível. 
 
Fundamentos da absolvição: A absolvição ocorrerá nas seguintes hipóteses. 
 
• Estar provada a inexistência do fato: O fato imputado na denúncia não ocorreu. 
 
→ Faz coisa julgada na instância cível (art. 935, CC e art. 66 do CPP) 
 
• Não existe prova da existência do fato: Não se comprovou a materialidade ou a existência do fato imputado. 
 
• Não constituir o fato infração penal: A conduta descrita na denúncia é atípica. 
 
• Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal: O réu consegue provar que não praticou 
conduta delituosa. 
 
• Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal: A acusação não conseguiu provar a 
participação do réu no crime. 
 
• Existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena, ou mesmo se houver fundada 
dúvida sobre a sua existência 
 
→ Excludentes de ilicitude (art. 23, CP) 
→ Descriminantes putativas (art. 20, §1º, CP) 
→ Excludentes de culpabilidade (art. 21, 22, 26, 28,§1º, CP) 
 
• Não existir prova suficiente para a condenação: As provas apresentadas aos autos são frágeis, atraindo a 
aplicação do princípio in dubio pro reo. 
 
Efeitos da absolvição: 
 
• Liberdade do réu: Assim que proferida a sentença penal absolutória, deverá o réu preso ser solto. Trata-se 
de efeito imediato, que independe de recurso da acusação (art. 596, CPP). 
 
EFEITOS 
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→ No caso da aplicação de medida de segurança, é importante verificar se o réu estava ou não 
internado no momento do proferimento da sentença. No caso de estar em liberdade, deve se esperar 
o trânsito em julgado da sentença para que seja internado, salvo nas hipóteses em que cabe prisão 
preventiva. Caso esteja internado, assim vai continuar até o trânsito em julgado. 
 
• Levantamento do sequestro incidente sobre os bens do acusado (art. 131, III, CPP) 
 
• Cancelamento da hipoteca legal (art. 141, CPP) 
 
• Restituição integral da fiança (art. 337, CPP) 
 
 
SENTENÇA CONDENATÓRIA 
É aquela que reconhece a responsabilidade criminal do acusado em decorrência de infração a uma norma penal. 
Para o proferimento desta sentença, exige-se uma comprovação plena acerca da autoria e da materialidade do delito 
imputado, não bastando um mero juízo de possibilidade ou probabilidade. 
 
Art. 387, CPP: O juiz, ao proferir sentença condenatória: 
I – mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas pelo Código Penal, e cuja existência 
reconhecer; 
II – mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação 
da pena, de acordo com o disposto nos arts. 59 e 60 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - 
Código Penal; 
III - aplicará as penas de acordo com essas conclusões; 
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos 
sofridos pelo ofendido; 
V - atenderá, quanto à aplicação provisória de interdições de direitos e medid’as de segurança, ao disposto 
no Título Xl deste Livro; 
VI - determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e designará o jornal em que 
será feita a publicação (art. 73, § 1o, do Código Penal). 
 
§ 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão 
preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser 
interposta. 
 
§ 2º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, 
será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade. 
DETRAÇÃO 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#livroitituloxi
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art73%C2%A71
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São efeitos da sentença penal condenatória: 
 
• Aplicação da sanção penal ou imposição de medida de segurança 
 
→ Nos casos de pena privativa de liberdade, seja nos processo de competência de juiz singular ou seja 
nos processos de competência do Tribunal do Juri, apenas poderá ordenar a prisão do réu ou mantê-
lo preso a título de prisão preventiva caso estejam presentes os requisitos legais. 
 
→ Descabe a prisão a título de execução provisória 18. O STF entende que a pena apenas pode ser 
executada quando esgotados todos os recursos e após o trânsito em julgado da decisão condenatória 
(Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43, 44 e 54). 
 
→ A medida de segurança e as penas restritivas de direitos apenas podem ser aplicadas após transitar 
em julgado a sentença proferida. 
 
• Inclusão do nome do réu no rol dos culpados após o trânsito em julgado da sentença 
• Revogação dosursis e o livramento condicional concedidos em processo diverso 
• Reconversão de pena restritiva de direitos que já está sendo cumprida pelo apenado, quando inviabilizado o 
adimplemento simultâneo de ambas 
• A regressão do regime carcerário 
• Revogação da reabilitação criminal caso a condenação nova seja alguma que não a multa 
• Reincidência 
• Obrigação de reparar o dano 
• Perda dos instrumentos utilizados na prática do crime 
• Perda do produto do crime 
• Perda do cargo, função pública ou mandato eletivo 
• Incapacidade para o exercício do poder familiar 
• Inabilitação para dirigir veículo quando utilizado como meio para a prática de crime doloso 
 
Detração: A detração é o cômputo, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, do tempo em que o 
individuo esteve recolhido em razão da prisão provisória, no Brasil ou no exterior, assim como o tempo de prisão 
administrativa e o de internação em hospital de custodia e tratamento psiquiátrico. 
 
IMPORTANTE!!! O juiz pode condenar o réu mesmo o Ministério Público tendo opinado pela absolvição (art. 385, CPP). 
 
Art. 385, CPP: Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o 
 
18 Exceção: Sentença condenatória prolatada a partir do julgamento pelo Tribunal do Juri, quando a pena aplicada for igual ou superior a 
15 anos de reclusão, caso em que poderá o Juiz Presidente determinar a execução provisória das penas (art. 492, CPP). 
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Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer as agravantes, embora nenhuma 
tenha sido alegada. 
 
Essa prerrogativa é criticada pela doutrina, pelos seguintes motivos: 
 
→ O princípio da indisponibilidade evita que o MP desista da ação. Não faz sentido, portanto, 
não poder nem mesmo pedir pela absolvição do réu. 
 
Isso não se aplica aos crimes de ação penal privada exclusiva. 
 
Mutatio libelli e emendatio libelli: A sentença deve apresentar uma correlação entre o que foi apresentado pela 
peça inicial e a decisão final tomada pelo juiz. Em algumas situações, no entanto, permite-se que o juiz modifique a 
tipificação dada ao fato, desde que atendendo aos requisitos legais. 
 
Princípio do jura novit cúria -> Entende-se que o juiz conhece o direito. Explica que o acusado não se defende da 
capitulação dada ao crime na denúncia, mas sim dos fatos narrados na referida peça acusatória. 
 
No processo penal, o réu se defende de fatos, sendo irrelevante a classificação 
jurídica constante na denúncia ou queixa. Segundo o princípio da correlação, a 
sentença está limitada apenas à narrativa feita na peça inaugural, pouco 
importando a tipificação legal dada pelo acusador. Desse modo, o juiz poderá dar 
aos eventos delituosos explícita ou implicitamente na denúncia ou queixa a 
classificação jurídica que bem entender, ainda que, em consequência, venha a 
aplicar pena mais grave, sem necessidade de prévia visita à defesa, a qual 
não poderá alegar surpresa, uma vez que não se defendida da classificação 
legal, mas sim da descrição fática. 
- Capez, 2022 
 
A emendatio libelli e a mutatio libelli são institutos próprios da sentença condenatória e da decisão de pronúncia, 
implicando nova definição jurídica do fato. 
Estes institutos se relacionam a dois princípios do processo penal: 
 
CONSUBSTANCIAÇÃO -> O réu vai se defender dos fatos descritos na denúncia, e não da capitulação. 
CORRELAÇÃO DA SENTENÇA -> A sentença deve se amoldar aos fatos descritos na inicial acusatória. 
 
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EMENDATIO LIBELLI -> O juiz, ao condenar ou pronunciar o réu, dá uma nova definição jurídica, uma nova capitulação, 
ao fato descrito. Não se modifica a essência do fato imputado. 
 
Art. 383, CPP: O juiz, sem modificar a descrição do fato contido na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe 
definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. 
§1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão 
condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. 
§2º Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos. 
 
Art. 418, CPP: O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o 
acusado fique sujeito a pena mais grave. 
 
Pode ocorrer por: 
→ Capitulação distinta 
→ Supressão de circunstância19 
→ Interpretação distinta dos fatos 
 
 
 
 
19 Neste caso, há modificação fática, mas que subtrai circunstâncias do fato descrito. Por exemplo, o réu foi acusado de roubo, mas ao 
longo da instrução processual o juiz nota que não houve violência ou grave ameaça, de forma que a capitulação correta passa a ser furto. 
Neste caso, houve supressão da referência à violência e à ameaça, feita em inicial. 
EXEMPLO – Desclassificação de peculato para furto ou para apropriação indébita 
Atribuída a alguém a prática de peculato, em razão de crime patrimonial cometido no exercício da função 
pública, a simples supressão da circunstância “funcionário público” já faz surgir a figura do furto ou da 
apropriação. 
EXEMPLO – Desclassificação de estupro para importunação sexual 
Ao defender-se do crime de estupro (crime mais grave), o réu já se defende do crime de importunação 
sexual (crime mais leve). Neste caso, o juiz interpretou as circunstâncias do caso de forma diversa da 
interpretação dada pela promotoria. 
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IMPORTANTE! A desclassificação provocada pela emendatio libelli pode importar em modificação de competência 
do juízo. Neste caso, o juiz não deve condenar ou absolver o réu, mas tão somente proferir decisão na qual externa 
apenas as circunstâncias relacionadas à tipificação do crime. 
Neste caso, a decisão proferida se trata de decisão interlocutória. Após o trânsito em julgado da mesma, deverá o juiz 
ordenar a remessa dos autos ao juízo competente (art. 383 §2º). 
Caso a nova capitulação seja de competência do Juizado Especial e seja possível a suspensão condicional do 
processo, o MP deve ser intimado a se manifestar a respeito da possibilidade de ser efetivado ao acusado o sursis 
processual (Súmula 337, STJ). 
 
MUTATIO LIBELLI -> Hipótese em que o juiz atribui ao acusado novo crime, nova definição jurídica, mediante o 
acréscimo de circunstancias não mencionadas na denúncia ou na queixa-crime. 
Decorre, portanto, do surgimento de prova de elemento ou circunstância não contida na denúncia ou na queixa e que, 
pelo simples fato de seu acréscimo à imputação original, acarreta modificação da definição jurídica atribuída 
inicialmente. 
O juiz acrescenta ao fato descrito circunstâncias ou elementos que, por não integrarem a descrição realizada na peça 
vestibular, não foram objeto de defesa no curso normal da marcha processual. 
 
Art. 384, CPP: Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em 
conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na 
acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude 
desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, 
quando feito oralmente. 
 
Neste caso, há evidente prejuízo ao acusado. Por isso, não poderá ser condenado ou pronunciado pelo novo crime 
identificado sem que antes as providências dispostas no art. 384 sejam tomadas. 
 
 
→ Parte da doutrina entende não ser possível a mutatio libelli nos crimes de ação penal privada exclusiva. Este 
entendimento não é seguido por Avena (2022). 
 
→ Súmula 453, STF: Não poderão os Tribunais (em grau de recurso) aplicarem o instituto da mutatio libelli.. 
Caso em segunda instância seja verificado que a definição jurídica correta para o fato é diversadaquela 
EXEMPLO – Desclassificação de estelionato para furto qualificado mediante fraude 
A desclassificação de estelionato para furto qualificado pela fraude importa em reconhecer o 
magistrado circunstância elementar pertinente ao furto, e não incorporada à descrição do estelionato 
– o dissenso da vítima em realizar o comportamento desejado pelo sujeito passivo. 
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constante na inicial, não tendo sido aplicada a solução do art. 384 no curso do processo, a consequência será 
a absolvição do imputado. 
 
 
COMO SABER SE O JUIZ UTILIZOU O INSTITUTO DA EMENDATIO LIBELLI OU DA MUTATIO LIBELLI? 
 
PASSO 1) Verificar qual crime foi imputado ao acusado inicialmente. 
PASSO 2) Verificar qual crime foi definido como o correto pelo magistrado. 
PASSO 3) Analisar as elementares de cada crime. 
PASSO 4) Verificar se, para que fosse alterada a imputação, o magistrado teve de adicionar alguma circunstância ao 
fato concreto. 
Caso tenha sido necessário adicionar circunstância que altera a natureza do crime, prejudicando o acusado, 
o juiz terá utilizado o instituto da mutatio libelli. 
 
EXEMPLO: Crime de furto alterado pelo juiz para crime de receptação. 
 
1) Crime imputado em denúncia – Furto 
 
2) Crime apontado pelo juiz – Receptação 
 
3) O crime de furto depende da subtração de coisa alheia móvel, que é uma conduta diferente da conduta de 
adquirir, receber ou ocultar coisa fruto de roubou ou furto. 
Ao se defender do crime, portanto, o acusado se defendeu da conduta de subtração de coisa alheia móvel, não 
de adquirir coisa roubada. 
 
4) Para que fosse alterada a imputação, o juiz teve de modificar a ação penal substancialmente, prejudicando o 
réu. Isso porque atribuiu-se ao crime nova conduta, da qual o réu não havia se defendido. Assim, ocorreu a 
mutatio libelli.

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