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Página 1 de 9 CLÍNICA MÉDICA AULA 30/06/2023 NEFROLOGIA EM CÃES E GATOS Dois problemas principais: lesão/injúria renal aguda (insuficiência renal aguda) e doença renal crônica (insuficiência renal crônica) Não temos reversão da doença renal crônica (DRC). Néfrons morrem, até não termos mais massa renal o suficiente. O trata- mento é um transplante renal. Precisamos retardar a evolução da doença e oferecer o que o rim não faz mais. Fisiologia renal: Ele faz manutenção da homeostase Filtração de 20% do débito cardíaco Glomérulo: filtração de sangue TCP/TCD: reabsorção Alça de Henle: reabsorção Ducto coletor: excreção • Regulação: fluido extracelular e equilíbrio acidobásico e eletrolítico • Excreção de produtos metabólicos • Recuperação de substâncias filtradas • Produção hormonal: Renina Eritropoietina Se o rim parar de produzir, temos anemia. Calcitriol AZOTEMIA E UREMIA Azotemia: aumento de compostos nitrogenados no sangue (ureia e creatinina). Pode ser pré-renal (muito desidratado), renal ou pós-renal (paciente obstruído, com ruptura de bexiga, ureter, uretra) Quando está muito severa começa a síndrome urêmica, chegando até a ter sinais neurológicos Uremia: síndrome desencadeada pelo aumento destes compostos Avaliando o paciente: Tem doença renal? É um problema NO RIM? Consigo determinar se é glomerular? tubular? intersticial? É uma doença aguda ou crônica? É reversível ou irreversível? É progressiva ou não progressiva? O paciente teve contato com nefrotoxinas? Está tomando medicamento que altera a função renal? Qual o prognóstico? Injúria renal aguda • Reversível • Rins aumentados ou normais • Agudo Doença renal crônica • Não reversível • Rins vão ficando pequenos ou normais • Histórico de Pu (poliúria)/Pd (polidipsia) • Anemia Avaliação Laboratorial da Função Renal: Ureia e creatinina (azotemia renal = 75% afuncional) → não é um marcador precoce Proteinúria: só proteína na urina, precisamos pensar em causas pós renais, que não quer dizer que vem do rim. Precisamos analisar se é renal. Relação proteína/creatinina urinária (UPC/RPC) → diz se o paciente é proteinúrico ou não Urinálise: prestar atenção na densidade urinária (66% da função comprometida) Prestar atenção na presença de cilindros SDMA: dimetilarginina simétrica → biomarcador que mostra comprometimento do rim a partir de 30% da função renal. Caro (2/3 vezes mais) US IRIS (International Renal Interest Society) INJÚRIA RENAL AGUDA – IRA A injúria renal aguda (insuficiência renal aguda) é o estado no qual os rins perdem de modo abrupto, a capacidade de exercício de uma ou mais funções devido a um fator primário. É caracterizado pela diminuição da função renal e pela incapacidade de regular o equilíbrio acidobásico e hidroeletrolítico. Começa ocorrer retenção de compostos nitrogenados. A longo prazo muitos néfrons morrem, e lá na frente os pacientes podem ser doentes renais crônico. Página 2 de 9 Fases da IRA 1. Indução: começa o insulto em si (entrou em contato com nefrotoxina, doença). Durante/imediatamente após o insulto. Horas a dias 2. Instalação: temos isquemia/hipóxia, inflamação e injúria celular, apoptose celular ou necrose 3. Manutenção: paciente com azotemia, uremia. Dura dias a semanas. Pode ocorrer oligúria (produção de urina diminuída) ou anuria (não há produção de urina) → muito importante avaliar débito urinário do paciente. Usar sonda para verificar o volume de urina (1 a 2ml por kg/h é o volume OK). Para verificar o paciente precisa estar devidamente hidratado. 4. Recuperação: melhora azotemia, recuperação tubular renal, pode ocorrer poliúria IRA PRÉ-RENAL: Causas que podem ou não levar o paciente a IRA aguda: • Diminuição aguda do fluxo renal (perfusão) • Desidratação • Hipovolemia/hipotensão • Anestesia/drogas Paciente anestesiado com pressão baixa → pouco sangue, hipóxia, se não percebemos rápido causa lesão aguda • Choque (baixa perfusão) Características dos pacientes: • Azotemia • Urina concentrada (paciente desidratado está mais concentrado que deveria) • Rápida resolução quando tratado o problema de base • Tempo prolongado → IR intrínseca IRA RENAL: ocorre quando uma condição afeta diretamente o parênquima renal levando a um quadro de insuficiência Pode ser Glomerular/Tubular/Intersticial Causas que podem ou não levar o paciente a IRA aguda: • Isquemia: choque, baixo débito, anestesia • Agentes tóxicos • Drogas: ATB, AINE´S, QTs • Doenças infecciosas: Lepto, PIF, Erliquia (deposição de imunocomplexos no rim), Leish • Doenças imunomediadas: LES (Lupus eritematoso sistêmico – deposição de imunocomplexos no rim) • Neoplasia • Causas pré ou pós renal não revertidas IRA PÓS-RENAL: Causas que podem ou não levar o paciente a IRA aguda: • Obstrução das vias urinárias (obstruídos por cálculo) • Ruptura das vias urinárias (faz uroabdômen) Diagnóstico de uroabdômen: US, drenagem do líquido, fazer creatinina. Se queremos saber o que foi rompido fazemos contraste Classificação IRA pela IRIS: GRAU 1: pacientes não azotêmicos (creatinina menor que 1,6mg/dl) com presença de lesão renal aguda documentada por evidência de alteração renal nos exames de imagem, presença de oligúria ou anuria, ou aumento progressivo da creatinina igual ou superior a 0,3mg/dl em intervalo de 48 horas GRAU 2: pacientes com azotemia estática ou progressiva, com creatinina entre 1,7 e 2,5mg/dl GRAUS 3, 4 e 5: pacientes com azotemia moderada a severa, com valores de creatinina entre 2,6 a 5,0mg/dl, 5,1 a 10,0mg/dl e acima de 10mg/dl, respectivamente Avaliação do débito urinário – em todos os graus Manifestações Clínicas: • Histórico agudo • Anorexia • Vômito • Letargia/fraqueza • Desidratação • Hálito urêmico • Estomatite • Dor renal/abdominal • Bom escore corporal • Poliúria ou Oligúria, Anúria Página 3 de 9 • Encefalopatia urêmica Anúria: não produz urina Oligúria: menos que 1ml/kg/h <0,25 ml/kg/h Poliúria: mais que 2ml/kg/h Precisa avaliar o débito DIAGNÓSTICO: • Exames laboratoriais Hemograma (doenças infecciosas) • Bioquímico → ureia e creatinina • Dosar eletrólitos: aumento de P, diminuição de Ca e variação de K (depende do débito urinário, poliúrico pode estar mais baixo) Potássio alto pode matar o paciente • Hemogasometria: acidose metabólica • Urinálise Isostenúria: não consegue concentrar urina adequadamente Proteinúria Cilindrúria: remete a lesão tubular Hematúria: pode ter ou não depende da causa Glicosúria: rim não está legal e vai mandar tudo embora (diabetes precisa de glicemia alta e glicosúria) Enzimúria (GGT, N- acetilglicosamina) Leucócitos/bactérias - fazer cultura porque uma pielonefrite pode lesar a lesão renal aguda • Exames de imagem Radiografia: tamanho do rim e presença de cálculo US: tamanho rim, cálculo, hidronefrose (suspeita de quadro obstrutivo) Biópsia (geralmente não fazemos) Monitoramento: • Tratamento: tratar causa específica (Lepto) e suporte • Hidratação • Peso • Avaliar pressão arterial (pode estar normal, hipertensos ou hipotensos) Manter > 80mmHg para evitar danos renais Hipertensos: controlar variação • Hemogasometria/bioquímico (repetir) • Controlar débito urinário, produção de urina: 1-2ml/kg/h FLUIDOTERAPIA: Rl ou Nacl 0,9% (caso K alto) Corrigir desidratação (reposição): 4-6 horas Volume Choque: 60 – 90 ml/kg/h (cão) 60ml/kg/h (gato) Não desidratados/produção urinária normal/sem perdas Manutenção (40-60ml/kg/h Distúrbios eletrolíticos e acidobásico: Potássio Cardiotoxicidade (arritmia, bradicardia) Oligúria/anúria: aumenta K Fluido sem K Glicose + insulina regular → reduzir K Gluconato de Ca 10% (efeitos tóxicos) → tira efeitos tóxicos do K Paciente poliúrico: diminui K Reposição de K na fluido Acidose metabólica → pH < 7,2ou HCO3 Reposição com bicarbonato de sódio IV (hemogaso, animal com acidose, faz reposição) Oligúria/Anúria: 1. Hidrate o animal 2. Manitol (diurético) Página 4 de 9 3. Furosemida (diurético) 4. Diálise (se não funcionar) Hemodiálise Diuréticos: Manitol: 0,25 a 1g/kg/IV Animal deve estar hidratado!!! Diurese em 60 min Se não tiver resposta: furosemida Furosemida: 2-6mg/kg Aumento da produção de urina: 20-60min Boa resposta: mantém 6-8h Sem resposta: diálise Diálise Peritoneal: remove toxinas urêmicas por difusão Infunde líquido dentro do abdômen e por difusão absorver essas toxinas urêmicas. Infunde, e tira. Complicações: peritonite Hemodiálise: Tratar distúrbios Gastrointestinais: • Protetores gástricos • Antieméticos • Protetores de mucosa • Hipertensão Enalapril, benazepril, amlodipina Prognóstico: altamente dependente da causa Mortalidade em cães: 53 -60% gatos: 50% DOENÇA RENAL CRÔNICA: Existência de alterações funcionais e estruturais em um ou ambos os rins, que perduram por mais de 3 meses, com perda de função renal. Perda gradativa de néfrons por meses a anos (idosos). Dificilmente o agente etiológico é identificado Irreversível e progressiva. Gato demora para demonstrar sinal. Rim começa a sofrer dano, perda de população de nefrons, os que sobram faz a função dos outros, mas a longo prazo rim começa a falhar. Podemos ter paciente em estágio I que progridem, ou podem já ir a óbito. Congênita: • Rim policístico • Hipoplasia/displasia renal • Amiloidose • Glomerulopatia DRC adquirida: • Pielonefrite • Glomerulonefrite • Leptospirose • Erliquiose • LES • PIF • Agentes nefrotóxicos • Idiopático • Obstrução das vias de excreção ESTÁGIOS DA DRC: Levar em conta azotemia e sinais clínicos apresentados Associar com: • Densidade urinária • Pressão arterial Página 5 de 9 • Proteinúria (relação proteína: creatinina urinária) ESTÁGIO I: Não azotêmico Creatinina: Cão: < 1,4 Gato < 1,6 SDMA: < 18 Pode haver proteinúria e estar hipertenso. ESTÁGIO II: Azotemia leve Creatinina: Cão: 1,4-2,8 Gato: 1,6-2,8 SDMA – Cão: 18-35 Gato: 18-25 Sinais clínicos mínimos ou ausentes: • Pu/Pd • Proteinúria • Hipertensão ESTÁGIO III: Azotemia moderada Creatinina: Cão e gato: 2,9-5,0 SDMA – Cão: 36-54 Gato: 26-38 Sinais clínicos podem estar presentes: • Pu, Pd, hiporexia, desidratação • Proteinúria, acidose, anemia, diminuição K e aumento P • Hipertensão ESTÁGIO IV Azotemia severa Página 6 de 9 Creatinina: Cão e gato: > 5,0 SDMA - Cão: > 54 Gato: > 38 Sinais clínicos presentes: • Pu, Pd, hiporexia, desidratação • Sinais de uremia • Proteinúria, acidose, anemia, K e P • Hipertensão MANIFESTAÇÃO CLÍNICA: • Perda de peso/má condição corporal • Poliúria/Polidipsia • Desidratação (varia de paciente) • Apatia • Hiporexia/Anorexia • Vômito (pode ser com sangue depende de azotemia) • Hematêmese • Diarreia • Melena • Hematoquesia • Estomatite urêmica • Necrose de língua • Hálito urêmico • Mucosas pálidas Encefalopatia urêmica: • Ataxia • Alteração de comportamento • Convulsão • Estupor • Coma Aumento da pressão arterial → olhos: descolamento de retina Sinais de osteodistrofia → mandíbula de borracha Hiperparatireoidismo renal secundário: não há produção do calcitriol, pouco cálcio, corpo precisa regular relação porque fósforo tá alto, então corpo tira cálcio do osso. Quando começa ocorrer isso PTH (paratormônio) fica elevado DIAGNÓSTICO: Anamnese Exame físico Exames complementares Bioquímico: Azotemia Hipocalemia Hipocalcemia Hiperfosfatemia Urinálise: Baixa densidade Proteinúria Relação creatina/proteína urinária Cilindrúria (ausente ou presente) Página 7 de 9 Hemograma: Anemia não regenerativa pela deficiência de eritropoitina* Sangramento gastrointestinal (melena) Deficiência de Fe Nutricional Hemogasometria: Acidose metabólica Retenção de H+ Perda bicarbonato Aferir pressão arterial* Imagem Ultrassonografia Analisar ecogenicidade cortical aumentada Analisar perda de definição córtico-medular Coletar urina por cisto centese TRATAMENTO: • Descontinuar o uso de qualquer agente nefrotóxico • Identificar e tratar doenças concomitantes • Corrigir ou minimizar distúrbios hídrico, eletrolítico, A-B, endó- crino e nutricional • Manter /Estimular o funcionamento renal • Reduzir a gravidade dos sinais • Diminuir a progressão da doença renal Tutor precisa estar ciente que a doença vai progredir em algum momento. • Correção e manutenção da hidratação • Água “ad libitum” Fluidoterapia: • Para quem está desidratado • Tratamento da síndrome urêmica • Vômito e diarreia • Correção eletrolítica • Redução da azotemia Manutenção da Hidratação: Fluidoterapia Domiciliar? SC a cada 1 a 3 dias (Estágio III) Dieta: • Redução/restrição de proteína • Redução de sódio • Redução de fósforo • Vitamina B • Ômega 3 Tratar hiperfosfatemia: • Dieta com restrição de P • Quelantes entéricos de fósforo (diminui absorção) Hidróxido de alumínio: 10-30mg/kg/TID Tratar Hipocalemia: (mais comum no gato – flexão de cabeça, pendulosa) • Fluidoterapia com K • Dieta com suplementação de K • K oral: gluconato de K ou citrato de K • Estágio 4: hipercalemia, oligúria Tratar HPT renal secundário: • Estágio 3 e 4 • Calcitriol???? – não indicado pela Iris • Contraindicado em hiperfosfatemia Tratar hipertensão arterial: • Dieta com restrição de sódio • Inibidor de ECA (primeira escolha pros cães e para os gatos Anlodipino) Benazepril (excreção hepática) Enalapril Página 8 de 9 • Bloqueadores do canal de cálcio Anlodipino (gatos) Gato pode começar a parar de responder com o tempo e ai vamos para Telmisartana • Bloqueador receptor de Angiotensina Telmisartana (gatos) Tratar proteinúria: • Dieta: redução de proteína • iECA: Enalapril e benazepril Gatos: Telmisartana *** (pode usar nos cães) Manejo dos sinais GI: • Antieméticos • Protetores gástricos Corrigir anemia: • Estágio 3 e 4 • Tratar sangramento GI • Corrigir deficiência de Fe • Suporte nutricional • Transfusão sanguínea (VG menor que 15) • Esteroides anabolizantes • Decanoato de nandrolona (Deca-durabolin) • Eritropoitina - 50-100 UI/Kg 2 - 3 vezes na semana Usar quando Ht < 15-20% Resposta 2-8 sem. • Objetivo → Cão: 35-40% gato: 30-35% • Suplementar com Fe • Efeitos colaterais • Darbepoetina Outras opções: • Diálise peritoneal (síndrome urêmica) • Hemodiálise • Transplante renal (cura) Problemas: testar família e terapia imunossupressora PROGNÓSTICO: À curto prazo: Paciente em crise urêmica pode melhorar substancialmente com terapia hidroeletrolítica e terapia suporte Com terapia de manutenção: Paciente pode viver bem, apesar do problema Tempo de sobrevida é variável e imprevisível Fatores relacionados: • Gravidade dos sinais • Resposta a terapia • Grau de progressão da doença • Disponibilidade do proprietário • Acompanhamento periódico • Idade • Proteinúria e hipertensão = prognóstico pobre • Felinos: progressão mais lenta Página 9 de 9
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