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INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA. 1. INTRODUÇÃO. · É uma doença predominante em pacientes hospitalares, geralmente na UTI. · A mortalidade diminuiu com a diálise, mas ainda é alta. · A incidência é 0,25% na população, 18% nos pacientes hospitalares e 30 a 60% dos pacientes da UTI. · Está associada a alta mortalidade na UTI. · Há uma janela de tempo para atender pacientes com IRA: precisa tomar medidas, como reposição volêmica, drogas vasopressoras. · Dos pacientes com IRA, 60% recuperam a função renal, 13% recuperam parcialmente a função renal e 30% não recuperam a função renal, precisando de diálise. 2. FATORES DE RISCO. · Idosos. · Diabetes. · Pacientes com depleção de volume. · Cirurgia vascular. · Insuficiência renal crônica. · Uso de antibióticos. · Uso de muitos medicamentos. 3. CRITÉRIOS PARA INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA. · O RIFLE, AKIN e KDIGO são critérios de lesão renal baseados na elevação da creatinina e redução do débito urinário. · Para monitorar o paciente, tem que ter creatininas seriadas. IRA: aumento da creatinina > 0,3 mg/dL da creatinina basal. Aumento da creatinina em pelo menos 0,3 mg/dL em 48 h Aumento da creatinina em pelo menos 1,5 mg/dL em 7 dias Volume urinário < 0,5 ml/kg/h durante 6 h · Sempre classificar o paciente no estagio que ficou pior, comparando critérios da creatinina e débito urinário. Por exemplo, no critério da creatinina o paciente é estágio 2, mas no débito urinário é estágio 3, logo, a insuficiência renal do paciente é estágio 3. Creatinina: · A creatinina é um bom marcador para insuficiência renal aguda: · A creatinina é produzida pelos músculos. Tem uma produção e eliminação contínuas. Por isso se baseia na creatinina para diagnóstico. · Pode ter a mesma creatinina, no entanto, de acordo com a idade, muda a taxa de filtração glomerular. Se altera com idade, massa muscular. · No entanto, não é um bom marcador, pois pequenas variações na creatinina podem determinar grandes variações na taxa de filtração glomerular. · Além disso, pode ser subestimada em pacientes com insuficiência renal. · A creatinina não é o melhor marcador para IRA. Há outros marcadores precoces. Em vez de identificar alteração da TFG com a elevação da creatinina, já identificar precocemente a isquemia de células tubulares através de biomarcadores. No entanto, esses biomarcadores são caros e não são usados na prática. A creatinina é barata, no entanto, mostra quando já tem dano nos rins. 4. CLASSIFICAÇÃO: IRA DE ETIOLOGIAS PRÉ RENAIS, RENAIS E PÓS RENAIS. PRÉ RENAL: · São fatores hemodinâmicos. Há dificuldade de perfusão. · Há uma resposta a hipoperfusão renal, sem causar dano estrutural renal. Quando a perfusão renal restaura, o rim recupera sua função. · Quando a hipoperfusão se mantém, a IRA pré renal predispõe o desenvolvimento de IRA renal. Quando se identifica o marcador precoce, tem 48 horas para agir e restaurar a perfusão renal. · A diferença de IRA pré renal e renal é que na renal tem dano estrutural. · Pode ocorrer também por perdas de líquido por diarreias e vômitos. · As queimaduras também causa grande perda de líquidos. RENAL: · Tem dano estrutural renal. Necrose tubular aguda: · A necrose tubular aguda é a principal causa de IRA. · Pode ser isquêmica ou tóxica. · Necrose tubular aguda toxica: AINES, antibióticos, quimioterápicos, contrastes radiológicos usar mínima quantidade de contraste e administrar volume. Também pode ocorrer por rabdomiólise, pois quando há morte de células musculares libera mioglobina, a qual é tóxica para os rins, causando arranhões nos túbulos e necrose. · Necrose tubular aguda isquêmica: a necrose tubular aguda ocorre porque não corrigiu uma lesão pré renal e evolui para renal. Na pré renal há isquemia, que pode ser revertida. Se não restaura a perfusão do rim, evolui para necrose. Glomerulonefrites: · As glomerulonefrites causam 5% dos casos, é mais comum causar IRC. · As glomerulonefrites podem ser primárias, como a nefropatia por IgA, ou secundária, como lúpus, drogas, toxinas, glomerulonefrite pós estreptocócica. Nefrite intersticial aguda: · Há aumento da incidência por causa do uso de AINES. PÓS RENAL: · São causas obstrutivas, após o rim. · Devido ao ponto de obstrução, há aumento da pressão nos túbulos renais, causando disfunção. · Suspeitar de IRA pós renal quando o paciente apresenta anúria, tem algo obstruindo. · Solicitar exames de imagem: US de rins e vias urinárias, TC abdome. · Tratamento: desobstrução (tratar a causa) + reposição volêmica. · Para desobstruir, pode-se passar sonda vesical ou cateter duplo J. Evolução da fase pré renal para renal: · Como há redução da perfusão renal na fase pré renal, há ativação de mecanismos compensatórios até que a perfusão seja restaurada. · Os mecanismos são: aumento da reabsorção de sódio e água (manter líquido), vasoconstrição da arteríola eferente (manter mais líquido no rim), ativação da sede (para ingerir água e aumentar o líquido), ativação do sistema RAA (o rim percebe a hipoperfusão e ativa o sistema). · Esses mecanismos são compensatórios. Ao identificar, deve-se tentar restaurar precocemente a volemia, com reposição volêmica, drogas vasoativas. Após 48 horas os mecanismos compensatórios se esgotam, ocorre necrose, desenvolvendo IRA por etiologia renal (necrose tubular aguda). Como diferenciar a etiologia pré renal e renal: · Dosar fração de excreção do sódio para diferenciar renal e pré renal. · Se os túbulos estão intactos, a fração de excreção de sódio é baixa, pois o rim retém sódio. Se o túbulo está danificado, não consegue reabsorver o sódio, há aumento do sódio na urina. 5. APRESENTAÇÃO CLÍNICA. · Neurológicas: sonolência, tremores, convulsões, coma. · Cardiovasculares: pericardite, tamponamento cardíaco, IC, derrame pleural. · Gastrointestinais: náuseas, vômitos, diarreia, hemorragia digestiva alta, úlceras. · Infecciosas: há comprometimento da imunidade celular pela uremia, 80% dos pacientes com IRA tem sintomas associados a infecção. · Hematológicas: anemia (perda sanguínea, diminuição da eritropoiese por redução da produção de eritropoetina), plaquetopenia, distúrbios da coagulação. · Hidroeletrolíticas e ácido básicas: hipercalemia, hiponatremia (dilucional ou por perda de Na), hiperfosfatemia, acidose metabólica (há comprometimento da perfusão). 6. COMO DIFERENCIAR INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA E CRÔNICA. · Exames prévios. · Anemia normocítica e normocrônima: é a anemia de doença crônica. Indica IRC. · US de rins e vias urinárias: rins pequenos indicam IRC. O normal é > 9 cm. Na IRC, o rim é < 8,5 cm. No entanto, a nefropatia diabética pode ter rins normais ou aumentados. · Presença de doença óssea: indica IRC. · Aumento do PTH: indica IRC. Há aumento do paratormônio, retirando cálcio do osso e aumentando no sangue. 7. AVALIAÇÃO CLÍNICA. · Anamnese e exame físico. · Exame de imagem: US. · Exames laboratoriais: creatinina, ureia, EQU, ácido úrico, gasometria, hemograma, Ipc, CPK. · Avaliar a fração de excreção de sódio. 8. TRATAMENTO. Objetivos do tratamento: · Prevenção: se o paciente já tem diminuição da função renal, utilizar medidas nefroprotetoras, para prevenir a piora da função. · Monitorização hemodinâmica: nos pacientes de UTI tem que dar reposição volêmica. · Reposição volêmica, se não melhora usar drogas vasoativas. Tem que estabelecer um débito cardíaco adequado para chegar O2 nos rins e estabelecer PAM > 65. · Retirar ou evitar o uso de medicamentos tóxicos, como AINES. Se esses medicamentos não podem ser retirados, deve ajustar a dose e monitorar. Tratamento conservador: Objetivos do tratamento conservador: · Evitar PAM < 65. · Manter PVC 8 a 12. · Melhorar níveis de lactato sérico. Quando > 2 indica baixa perfusão. · Manter débito urinário > 0,5 ml/kg/h · Manter Hb 7 a 8. · Saturação venosa de O2 > 70: através da gasometria venosa. · Bicarbonato sérico 20. Manter glicemia 110 a 150 Nutrição: não se deve evitar as proteínas, são importantespara a nutrição. A dieta é enteral. Como fazer o tratamento conservador: · Reposição de volume: 20 a 30 ml/kg de cristaloides em 10 min. · Se dá volume excessivo pode aumentar a mortalidade, pois causa congestão sistêmica. A congestão ou edema pulmonar dificulta a ventilação do paciente, pois aumenta a pressão de ventilação, causando dano ao pulmão. O dano ao pulmão causa aumento de citocinas inflamatórias, que prejudicam os rins. Como monitorar a reposição volêmica: · Avaliação da PVC: manter 8 a 12. · Ecocardiograma: avaliar o tamanho da veia cava inferior, para saber se já tem congestão ou se ainda pode dar volume. Ao pressionar o transdutor, deve-se avaliar se a veia cava colaba. Se a veia colaba, é porque ainda pode dar volume. Quando o diâmetro da veia cava é <8, pode dar mais volume. · US pulmonar: as linhas B indicam que o parênquima pulmonar está congesto, indicam edema pulmonar. Não dar mais volume. Se o paciente está congesto, com excesso de volume: dar diuréticos. · O uso de diuréticos não é recomendado no tratamento de insuficiência renal aguda, apenas quando há excesso de volume e congestão. Além disso, não é recomendado para prevenção da IRA. · Indicação de diurético para excesso de volume e congestão: furosemida 40 a 80 mg (4 a 8 ampolas) IV. · Se os rins do paciente tem grande comprometimento, não vai responder aos diuréticos. Como saber se o paciente responde aos diuréticos: fazer teste de estresse. · Teste de estresse: após fazer a reposição volêmica e analisar o ecocardiograma que mostrou um diâmetro normal da veia cava, infundir 1 mg/kg de furosemida em bolus IV. Acompanhar a resposta de diurese do paciente. Se após o diurético, o paciente urinar < 200 ml nas próximas 2 h, indica que não tem resposta adequada ao diurético, pode-se indicar a terapia substitutiva ou diálise. Se o paciente urinou > 200 ml pode continuar com o tratamento conservador, fazendo reposição volêmica e avaliando. Esse teste só é realizado se o paciente estiver normo ou hipervolêmico, não pode fazer se tiver hipovolemico, apenas após a reposição volêmica. Se o paciente não atingiu PAM > 65 com reposição volêmica: usar drogas vasoativas. · Noradrenalina 4 ampolas (cada ampola tem 4 mg, logo, 16 mg), diluídas em 250 ml de soro glicosado. Administrar 0,5 mcg/kg/min. Evolução da IRA e complicações: · Hipercalemia. · Acidose metabólica. · Uremia. · Hipervolemia: edema agudo de pulmão. Se o paciente está com baixo débito urinário e desenvolve hipercalemia: · Se o paciente não está urinando, há aumento do potássio sanguíneo. A hipercalemia causa alterações cardíacas, pode gerar parada cardíaca. · Iniciar com dieta pobre em potássio. · Administrar diuréticos: furosemida 1 mg/kg IV. · Nebulização com fenoterol ou salbutamol: 10 gotas em 3 ml de soro fisiológico. Inalar a cada 4 horas. · Gluconato de cálcio 10% em 100 ml de soro fisiológico. Infundir em 20 min. · Solução polarizante: 200 ml soro glicosado 10% + 10 U insulina regular. · Essas medidas são temporárias, o tratamento definitivo é feito com resinas trocadoras (via oral ou retal) nos pacientes da enfermaria OU com diálise. Se o paciente está com baixo débito urinário e desenvolve acidose: · Quando há acidose, deve-se fazer reposição de bicarbonato. · Bicarbonato de sódio 8,4% 100 ml IV em 1 hora. · Se não melhorar, fazer diálise. Terapias de substituição renal: hemodiálise e diálise peritoneal. Indicações de diálise: · Ureia > 100 · Potássio alto mesmo com as medidas conservadoras. · Acidose mesmo com as medidas conservadoras. · Hipervolemia. · Já fez reposição volêmica e drogas vasoativas e o paciente não melhorou, evolui com acidose, hipercalemia. Tipos de diálise: · Hemodiálise contínua: o paciente faz diálise por 72h. · Intermitente: todos os dias, 4 a 6h por dia. · SLEED: hemodiálise estendida, 8 a 10h. Como fazer diálise: · Tem que ter acesso venoso: cateter na veia jugular. Também pode fazer na veia femoral. Necrose tubular aguda: 85% dos casos de IRA Nefrite intersticial Glomerulonefrite aguda Cálculos urinários Hiperplasia prostática benigna CA bexiga Obstrução no ureter Tratamento conservador Tratamento dialítico: hemodiálise ou diálise peritoneal IC Sepse TEP Estenose de artéria renal Cirurgia cardíaca Choque Hemorragia
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