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AULA2 Estrutura Organizacional da Produção

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GESTÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES
AULA 2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Paulo Friesen
CONVERSA INICIAL
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA PRODUÇÃO
Na unidade de estudo anterior, vimos onde tudo começou e como hoje a palavra “produção” carrega um significado amplo nos fazendo pensar
em fábricas, indústrias e grandes organizações que, através de um processo coordenado, produzem algum tipo de produto manufaturado em série
ou, se você preferir, grandes organizações com uma linha de produção. Agora conhecendo as características históricas dos métodos utilizados para
se chegar a uma produção em grande escala, fica mais coerente refletirmos sobre as grandes estruturas que compõem o setor de manufatura, como
o que é necessário para tornar possível o processo produtivo manufatureiro que tanto ouvimos falar, o que está por trás das metodologias
Taylorismo, Fordismo e Toyotismo que os permitiram pensar “apenas” no melhor formato para executar as atividades. Verificaremos, na mesma
medida, o setor de serviços, que, assim como o setor de manufatura, necessita de uma estrutura que possibilite o perfeito planejamento e a
execução das atividades que atendam a diferentes necessidades do mercado.
CONTEXTUALIZANDO
Todo projeto tem um idealizador, alguém que parou para pensar, sopesar e decidir se valia a pena empreender em determinado ramo. No setor
produtivo não é diferente, do mesmo jeito ocorre o planejamento realizado por alguém que decide investir em determinado segmento de forma
independente ou mesmo por meio de sociedades que busquem um mesmo objetivo com as mesmas ideias representadas no ramo que se deseja
atuar. Quando existe essa motivação e disposição por parte de um idealizador ou sociedades promissoras, ocorrem os investimentos em locais
previamente planejados para receberem a estrutura necessária para o que se deseja produzir. E tirar isso tudo do papel não é tarefa fácil, isso
porque a estrutura necessária para a operacionalização de um negócio, seja na produção de manufaturados ou na prestação de serviços, se faz
necessário um número significativo de variantes como local, prédio, máquinas, móveis, insumos e participantes que tornaram possível o negócio na
prática, ou seja, é preciso além de tudo, pessoas.
É diante dessas variáveis que conheceremos as diferentes áreas do setor produtivo, compreendendo como é possível toda uma operação de
manufatura e serviços, o que está por trás do produto acabado e de nossas necessidades atendidas na ponta final. Entenderemos desde os níveis
organizacionais até as elementares estruturas básicas operacionais de uma linha de produção e prestação de serviços. Veremos o quanto uma
operação necessita de amparo para seu perfeito funcionamento e como a interdependência é fator primordial para o trabalho em equipe, como os
tipos de arranjos físicos podem favorecer ou prejudicar o funcionamento de toda uma estrutura organizacional seja na manufatura ou prestação de
serviços e terminaremos falando sobre algo negligenciado no passado mas hoje é título de muitas ações empresariais com a seguinte ideia: “Não há
nível de produtividade que supere a vida humana”, nesse sentido veremos a ergonomia nos postos de trabalho.
TEMA 1 – NÍVEIS ORGANIZACIONAIS
Toda e qualquer organização possui seus níveis organizacionais, mesmo que a organização não saiba, ela tem. Você vai concordar comigo após
olharmos no detalhe de cada um dos níveis, mas antes é bom esclarecermos que os níveis organizacionais não têm nada a ver com um nível ser
mais importante que outro. São três níveis e ambos têm o mesmo grau de importância para o negócio, o que os diferencia é a atuação, pois cada
um atua sob uma perspectiva, parte de um princípio e se preocupa com resultados distintos uns dos outros.
Esse esclarecimento é necessário inicialmente, para que seja possível a perfeita compreensão do todo e justamente como cada parte de uma
organização tem sua relevância, cumprindo funções que muitas vezes, sob o olhar externo, representam pouca importância no processo, aliás, aqui
cabe uma reflexão: se não compreendermos inicialmente que uma organização é feita por pessoas e que cada pessoa cumpre um papel
fundamental na organização, não seremos capazes de compreender que os níveis organizacionais representam as diferentes frentes de atuação
necessárias para sobrevivência de um negócio e não há diferenciação de quem é mais importante.
Vamos a eles:
Figura 1 – Níveis organizacionais
Fonte: Paulo Friesen (2021).
Quando comentamos sobre “alguém” sopesar, planejar, decidir e empreender em determinado ramo de forma independente ou através de
sociedades, estamos falando do nível estratégico de uma organização, que, em grande medida, são os diretores e fundadores do negócio ou da
organização. É possível que você ainda não tenha empreendido, mas se empreendeu certamente não foi a um curto prazo, pelo menos não deveria
ser e é justamente aí que mora a principal diferença de perspectiva do nível estratégico, o qual atua sob a perspectiva do longo prazo, pensa em
ações que deverão ser medidas em um mínimo de cinco anos, isso porque pensar a longo prazo remete a considerar de 5 a 10 anos, o que estamos
dizendo é que não se espera resultados extraordinários como lucros pujantes antes de um mínimo de 5 anos. Pode parecer exagero, mas não é, pois
se olharmos para todo o investimento que um negócio no setor de manufatura exige, veremos que só a documentação necessária para começar a
tirar o planejamento do papel exige bastante tempo e dinheiro, depois vem a compra ou locação de espaço, construção de áreas físicas necessárias
para a operacionalização do negócio e outras tantas mais variáveis que comentamos como necessárias, então desempenhar todo esse trabalho para
operar um ano não parece uma ação inteligente.
Todo nível estratégico, após tirar seus planejamentos do papel, necessita de um nível tático, no qual geralmente encontramos as nomenclaturas
de cargos como supervisor, coordenador e gerente. Eles consideram como parâmetro para suas ações o médio prazo, ou seja, suas decisões
geralmente partem de uma projeção de resultados de 2 a 5 anos, suas ações em geral apresentam resultados no médio prazo e consideram pelo
menos um mínimo de 2 anos, sendo que uma das características mais predominantes que devem ter as pessoas inseridas no nível tático de uma
organização é a competência da comunicação, pois, como transformadores, eles recebem informações e decisões de impacto no longo prazo
(estratégico), precisam colocá-las em prática sob um parâmetro de médio prazo, para pessoas que trabalham com decisões e resultados no curto
prazo (operacional).
O nível operacional é no qual as coisas acontecem de fato na manufatura, mais conhecido como a “mão na massa”, popularmente chamado de
“chão de fábrica”. É aí que está o nível operacional, que tem esse nome justamente por operacionalizar tudo que foi planejado e decidido nos
parâmetros de longo e médio prazos. É diante dessas diferenças que é possível afirmar: o nível tático deve ter por principal característica a
habilidade na comunicação em transformar as decisões do estratégico para o operacional, que atua sob uma perspectiva de curto prazo.
Verifique no quadro a seguir as principais características de cada nível organizacional e sob qual perspectiva de prazo cada um trabalha:
Quadro 1 – Níveis organizacionais
Fonte: Paulo Friesen (2021).
Todos realizam atividades de extrema relevância para a organização e isso está muito claro, visto que um nível organizacional depende
diretamente do outro, mas o que precisamos compreender no detalhe são as atividades que cada um realiza e sob qual perspectiva, qual foco e
parâmetro que cada nível deve considerar em suas decisões e atuação. Esse é o detalhe que determinará o sucesso de uma tomada de decisão,
justamente por considerar as variáveis que de fato interagem com cada nível organizacional e sua respectiva autonomia na tomada de decisão.
TEMA 2 – A INTEGRAÇÃO DOS DEPARTAMENTOSAgora, sim, sabemos com clareza o ponto de partida e sob qual perspectiva atuam os níveis organizacionais, cada um com sua
representatividade de atuação e respectiva importância. Note que começamos nossa reflexão acerca da Estrutura Organizacional da Produção pelas
pessoas, conhecendo no detalhe como cada grupo de pessoas atua em uma organização, mas não sem razão, é nas pessoas que está a
organização, é de pessoas que é feito qualquer negócio, é através de pessoas que todo e qualquer tipo de produção ou oferta de serviços se torna
realidade. Nesse sentido, é preciso falarmos sobre a colaboração entre níveis e setores, afinal de contas somos seres sociais, vivemos em “grupos” e
ninguém faz nada sozinho.
É exatamente sob essa ideia de colaboração mútua que chegamos à integração dos departamentos, onde termina a atuação de um e começa a
atuação do outro. É dessa forma, “dê mão em mão” que a “mágica” acontece. Para falarmos sobre essa integração dos departamentos, é importante
abordar um conceito-chave que lhe ajudará a conceituar essa parte tão especial da organização, responsável pela operacionalização de
absolutamente tudo que tenha sido planejado em algum momento, a interdependência e colaboração mútua. Há os provérbios chineses, que nada
mais são do que uma forma didática de transmitir um ensinamento com sabedoria; eles são muito antigos e resistem ao tempo nos trazendo
ensinamentos de forma simplificada e marcante, como o a seguir.
Figura 2 – Provérbio chinês
Interdependência e colaboração mútua
“Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um com um pão, e, ao se encontrarem, trocarem os pães, cada um vai embora com um. Se dois homens vêm andando por uma
estrada, cada um com uma ideia, e, ao se encontrarem, trocarem as ideias, cada um vai embora com duas”.
Provérbio Chinês
Fonte: Paulo Friesen (2021).
Percebeu que interessante é a troca de informações e ideia que diferem da troca de objetos, pois na primeira ocorre a soma, o crescimento de
repertório de ambos e todos os envolvidos saem maior do que entraram. É nessa linha que se deve observar, o que está por trás da grande
necessidade de um bom relacionamento e integração dos departamentos e setores. Essa relevância aumenta quando chegamos no chão de fábrica,
por exemplo; é comum que em algumas organizações exista certa rivalidade entre o chão de fábrica e o administrativo, isso geralmente ocorre por
equívocos de um olhar menos apurado, que se apega em evidências isoladas para determinar se uma área é mais privilegiada que outra. Um
exemplo é a utilização de ar-condicionado. O que é uma grande bobagem, trata-se na maioria das vezes de uma questão simples: aplicar
aclimatização com um ar-condicionado em uma sala 2 x 2 metros é tarefa simples, agora aplicar um sistema de climatização em um barracão com 1
mil metros quadrados, que dispõe muitas vezes de máquinas que geram calor e aquecem o ar interno, entre outras variantes, climatizar o chão de
fábrica nessas condições seria inviável economicamente para o negócio da empresa, isso explica e justifica tal diferença, não significa em nenhuma
medida uma diferenciação de importância entre setores.
Figura 3 – Ciclo do processo produtivo
Fonte: Paulo Friesen (2021).
Geralmente representado por um gerente de PCP (Programação e Controle de Produção) e seus respectivos analistas, o setor comercial e de
programação de uma organização apresenta as vendas e a programação de produção do mês corrente aos supervisores e coordenadores de chão
de fábrica. Quando o setor comercial vende, ele precisa lançar mão de bons prazos, se certificar de que consegue oferecer um bom preço, buscar
formas de competitividade para ganhar mercado e superar a concorrência e, na maioria das vezes, quem torna isso tudo possível é o nível
operacional que “tira água de pedra” para entregar no prazo prometido, para tornar menos custoso o processo através de otimização de recursos e
mão de obra, assim como buscando soluções em meio a todo o processo produtivo.
Perceba que existem duas formas de compreender essa integração de departamentos: o chão de fábrica pode comprar a briga, assumir a
responsabilidade de tornar realidade todas as promessas realizadas pelo setor comercial, que busca um cliente satisfeito e maior representatividade
de mercado para organização: colaboração mútua. Ou o chão de fábrica pode apresentar o que chamaremos de “síndrome do funcionário”, que
consiste justamente em olhar de forma rasa o processo e se colocar na posição de vítima, olhar tudo com maus olhos como se tudo que chega até
ele é para prejudicá-lo. Esse tipo de postura pode ocorrer por parte de qualquer departamento, não apenas no chão de fábrica, isso geralmente
ocorre em locais que não estimulam as atividades em grupo, demonstrando que todos ocupam posição de relevância, mas em formatos e
atividades diferentes.
TEMA 3 – TIPOS DE ARRANJO FÍSICO PARA A MANUFATURA
Como um “desenho”, é necessário criar um fluxo para o processo produtivo que melhor atenda aos requisitos “tempo e produtividade”; esses
requisitos juntos definirão o lead time (tempo de produção) mais competitivo. Esse “desenho” mencionado é também chamado de leiaute e é
preciso encontrar o mais adequado para as particularidades do que se deseja produzir é fundamental, isso porque podemos estar falando da linha
de montagem de aviões que necessitam do manuseio e de montagem de milhares de dispositivos mecânicos, eletrônicos e hidráulicos, por
exemplo, ou até a montagem de uma simples caneta com apenas quatro componentes pequenos e de fácil montagem.
Salvo as devidas proporções, ambos deverão apresentar um lead time competitivo para valer a pena o custo e o nível de produtividade
esperado para a sustentabilidade financeira do negócio. A seguir, são mostradas as particularidades que devem ser consideradas no momento de
decidir o melhor tipo de arranjo físico para a manufatura, entre outros pontos relevantes:
Fluxo: a depender do tipo e da particularidade de cada produto, deve ser estabelecido o melhor fluxo físico, assim como de informações,
afinal as pessoas se comunicam no setor de manufatura e esse fluxo precisa ser considerado através da clareza nos caminhos e veículos a
serem utilizados para o melhoramento e aperfeiçoamento do fluxo físico e de informações.
Quantidade: em casos de grande volume de produção, é importante considerar no posicionamento de leiaute a possibilidade de
automatização de parte do processo; já em casos de pouco volume de produção, geralmente existe um tempo maior dedicado em cada etapa,
diminuindo a quantidade, mas elevando o valor agregado.
Sortimento: diante de um número grande de variedade, com diferentes tipos de produto, é necessário considerar uma flexibilização do
arranjo físico de forma a otimizar o tempo gasto em mudanças no processo produtivo.
Acessibilidade: todos os equipamentos, dispositivos e máquinas devem estar dispostos de uma forma que possibilite acesso suficiente para
limpeza e manutenção.
Segurança: nem sempre o arranjo físico mais produtivo será o mais seguro, isso precisa ser levado em conta, passivo de autuação trabalhista
amparada na NR12 (Norma Regulamentadora – Segurança do Trabalho).
Nesse sentido, o planejamento do arranjo físico deve considerar o melhor posicionamento de recursos físicos, pensando também no fluxo de
informações, acessibilidade e segurança. Conforme mencionado, existem normas regulamentadoras de segurança no trabalho que podem exigir
certos cuidados previstos em lei e não podem ser negligenciados neste momento estratégico de consideração do melhor leiaute. De acordo com
todos os pontos que tratamos até aqui, como fundamentais para esse tipo de definição, vamos conhecer os principais arranjos físicos mais
utilizados em processos de manufatura:
Arranjo físico posicional: também conhecido como arranjo físico de posição fixa, sua principal característica é em relação ao produto
manufaturado não se movimentar, seja pelo tamanho ou qualquer outro motivoque torne inviável que o produto se mova entre as etapas do
processo. Em geral, é um tipo de arranjo físico de baixa produtividade e, por esse fato, as empresas que os utilizam, terceirizam grande parte
das etapas do processo para empresas especializadas, entretanto esse arranjo físico permite alto grau de customização, as produções que se
utilizam desse arranjo, geralmente se dedicam a produtos únicos ou em pequenas quantidades. Ex.: produção de aeronaves e navios.
Arranjo físico funcional: também conhecido como arranjo físico por processo, a lógica desse tipo de arranjo é a de agrupar os recursos com
função similar no processo de manufatura. Exemplo: na indústria é onde as furadeiras ficam todas no setor de furação, as máquinas de
usinagem no setor de usinagem e assim sucessivamente, o produto segue pelos setores e etapas necessárias. Esse arranjo é muito flexível por
atender diferentes fluxos de produtividade, entretanto a presença de muitos fluxos ou sortimento de materiais deve ser planejada para não
comprometer os níveis de produtividade operacional.
Arranjo físico celular: ocorre onde recursos não similares, ou seja, de diferentes atuações, são agrupados para processar um grupo de itens
que requeiram similares etapas de processamento. A célula em questão é arranjada similar a um arranjo físico funcional, depois de serem
processados na célula, os recursos transformados podem prosseguir para outra célula e, nesse sentido, o arranjo físico celular é uma tentativa
de trazer alguma ordem para a complexidade de fluxo que caracteriza muitas vezes o arranjo físico funcional, visto que a maioria das células
tem o formato em “U” e geralmente os produtos iniciam e terminam a produção/montagem na mesma célula.
Arranjo físico por produto: Também conhecido por arranjo físico em linha, é usado quando se requer uma sequência linear de operações
para fabricar o produto, além de ser muito adequado a produtos com alto grau de padronização e com pouca ou nenhuma diversificação,
geralmente produzidos em grandes quantidades e de forma contínua. O fluxo de materiais passa a ser totalmente previsível e pode se ajustar
a diferentes fluxos, entretanto não é recomendado trabalhar com produções baixas justamente por exigir altos investimentos em capital. Ex.:
leiaute utilizado em linhas de montagem de veículos.
Além dos principais arranjos físicos que vimos, existem organizações que trabalham com arranjos físicos mistos, isso porque em determinado
momento o produto pode exigir um tipo de arranjo e num segundo momento, seja mais viável outro tipo de arranjo físico, isso sempre vai
depender da particularidade do produto e do processo produtivo. É comum grandes fábricas e indústrias utilizarem vários arranjos, de acordo com
a etapa da manufatura, o fato é que independentemente do tipo de arranjo físico, o foco deve ser no lead time competitivo de acordo com as
particularidades do produto e mercado.
TEMA 4 – ARRANJOS FÍSICOS PARA SERVIÇOS
Ao tratarmos dos arranjos físicos na manufatura, fica mais fácil compreender e imaginar o andamento de um processo produtivo, isso porque
ao pensarmos em determinado produto passando por uma linha de produção, etapa por etapa, estamos falando de algo palpável e visível. Na área
de serviços, ou podemos chamar também de operações, é onde não existe um produto em si, mas sim o atendimento de uma necessidade com a
prestação de um serviço que muitas vezes pode ser braçal ou até de comunicação, como o que está ocorrendo entre eu (professor) e você (aluno): é
uma operação na qual eu me comunico com você atuando como facilitador do seu maior esclarecimento e aumento de capacidade intelectiva.
Figura 4 – Alunos
Crédito: Monkey Business Images/Shutterstock.
Você se lembra quando estudava no Ensino Médio e até Fundamental, dependendo de colégio para colégio a dinâmica era os alunos mudarem
de sala de aula durante o período de estudos, por exemplo, no primeiro horário estudava Matemática na sala 1 e no segundo horário, os alunos se
dirigiam para a sala 5 para ter aula de Química. Nesse formato, o serviço de ensino que estava sendo prestado fazia uso de um arranjo físico
funcional em sua operação, cujos recursos para a prestação do serviço (professor e sala de aula) ficam parados e os alunos passam de etapa por
etapa. Contudo, existem colégios onde o professor é quem muda de sala e os alunos permanecem parados e a cada horário, muda o professor e
respectiva matéria, então nesse caso estaríamos diante do arranjo físico posicional.
Assim, os mesmos arranjos físicos que vimos para o mais perfeito funcionamento de processos de manufatura podem ser utilizados na
prestação de serviço, em que não se tem um produto em questão, mas sim uma necessidade sendo atendida. Esse tipo de operação pode ser
apenas em formato de comunicação, o que hoje é possível de ser realizado de forma muitas vezes remota, o que alterou completamente o tipo de
estrutura e arranjo físico necessário para os profissionais de serviços nesse formato. O que antes seria necessário, por exemplo, o deslocamento de
um profissional, cliente a cliente, para a execução do serviço, hoje essas operações podem perfeitamente ser realizadas remotamente sem a
necessidade de o profissional se deslocar.
Para a prestação de serviços onde a mão de obra executa uma atividade no solicitante ou no local do solicitante, aí então os arranjos físicos se
fazem necessários. Por exemplo: um profissional que conserta geladeira. Existem pelo menos duas formas de arranjo físico para este tipo de
operação: arranjo físico fixo, no qual o serviço vai até o produto ou local e muitas vezes esses profissionais carregam todos os equipamentos e
ferramentas necessárias em um veículo adaptado, ou então, a geladeira deveria ser transportada até a oficina do prestador de serviço, o que nesse
segundo caso seria o arranjo físico celular que agrupa diferentes recursos para atender a produtos de necessidades similares.
Vamos aos tipos de arranjos físicos sob a perspectiva de operações na prestação de serviços:
Arranjo físico posicional: também conhecido como arranjo físico de posição fixa, caracteriza-se pelo fato de a pessoa beneficiada pela
operação ficar parada por impossibilidade ou até por inviabilidade ou conveniência. Um exemplo é em casos de cirurgias onde o paciente não
pode ser movido por questões médicas, então são os médicos cirurgiões que se articulam para atender à necessidade do paciente.
Arranjo físico funcional: também conhecido por arranjo físico por processo, é provavelmente o arranjo da maioria das operações de
prestação de serviços, onde os centros de serviços são agrupados de acordo com a função que desempenham e as pessoas se deslocam até
eles, de acordo com a necessidade. A título de exemplos, temos hospitais, escolas e bancos.
Arranjo físico celular: ocorre onde recursos de diferentes atuações são agrupados para atender às necessidades de um grupo de pessoas que
requeiram similares processos de atendimento. Exemplo é o setor de maternidade em um hospital: os pacientes que necessitam de
atendimento em maternidade formam um grupo que pode ser tratado junto, onde a probabilidade é pequena de necessitar de cuidados de
outras partes do hospital ao mesmo tempo em que requerem cuidados específicos de maternidade.
Arranjo físico por produto: também conhecido por arranjo físico em linha, é pouco usual na área de prestação de serviços, mas para dar um
exemplo onde as necessidades dos clientes têm uma sequência comum é o caso de recrutas que se alistam para o exército, no qual
provavelmente serão direcionados a um processo de alistamento organizado segundo um arranjo físico por produto, em que o “cliente” se
desloca pelos recursos desejados ou necessários.
Todo fluxo, seja de materiais ou clientes, deve ser sinalizado de forma clara e evidente para funcionários e clientes, a fim de garantir o que se
planejou com o arranjo físico determinado. Por exemplo, as operações de manufatura geralmente possuemcorredores claramente identificados e as
operações de serviços tendem a usar rotas sinalizadas, como os hospitais que geralmente apresentam linhas coloridas pintadas no chão para indicar
as rotas aos diversos departamentos.
TEMA 5 – A SEGURANÇA NOS POSTOS DE TRABALHO
Em determinado momento de nossos estudos, ao falarmos sobre segurança no trabalho conhecendo os tipos de arranjos físicos, foi citado a
NR-12. Precisamos compreender no detalhe o que são NRs e quais são seus papeis no mundo do trabalho. No total existem 37 NRs, normas
regulamentadoras que fornecem instruções e orientações sobre obrigatoriedades relacionadas à saúde ocupacional do trabalhador sob regime de
contratação CLT. Elas são periodicamente revisadas pelos órgãos competentes, como Ministério do Trabalho e Previdência Social, não somente para
trabalhadores em regime de contratação CLT, pois algumas empresas tomam como base as NRs para determinar normas internas onde todo e
qualquer trabalhador, independentemente do regime de contratação, simplesmente por estar no interior da empresa, deve fazer cumprir as normas
estabelecidas.
Um exemplo é a NR-12 que fala sobre Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos. Ela estabelece procedimentos de caráter
obrigatório para locais destinados a máquinas e equipamentos e isso inclui desde a circulação de pessoas, os respectivos trabalhadores e possíveis
operadores das máquinas em questão, assim como a proteção e manutenção de máquinas e equipamentos.
A NR-12, assim como as demais NRs, dispõe de subcapítulos com a intenção de tratar de forma mais pontual alguns detalhes que merecem
atenção específica e orientações detalhadas acerca dos cuidados necessários para a garantia da segurança na atividade laboral. Por exemplo, no
caso da NR-12 no item 12.2 “Arranjo físico e instalações”, ela especifica o seguinte:
Nos locais de instalação de máquinas e equipamentos, as áreas de circulação devem ser devidamente demarcadas em conformidade com as normas técnicas
oficiais. É permitida a demarcação das áreas de circulação utilizando-se marcos, balizas ou outros meios físicos. As áreas de circulação devem ser mantidas
desobstruídas. A distância mínima entre máquinas, em conformidade com suas características e aplicações, deve resguardar a segurança dos trabalhadores
durante sua operação, manutenção, ajuste, limpeza e inspeção, e permitir a movimentação dos segmentos corporais, em face da natureza da tarefa.
Assim como a NR-12 determina e orienta situações relacionadas aos arranjos físicos, as demais tratam de assuntos distintos como a NR-11, que
fala sobre Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais, ou seja, ela trata sobre aspectos relacionados à intralogística de uma
organização, que geralmente contempla setores como almoxarifado, expedição e recebimento de materiais. E para mudar um pouco de área e
entendermos que as NRs abrangem todas as áreas de uma organização, temos a NR-35 que trata sobre Trabalho em Altura, ou seja, toda vez que
um trabalhador se coloca em uma situação acima de 2 metros de altura, é necessário seguir as orientações previstas nessa NR.
Esse cuidado com a saúde ocupacional do trabalhador, muitas vezes é visto como complicador, isso porque em muitos casos o lead time da
organização pode ser prejudicado se estabelecidos os parâmetros corretos que previnem e protegem a saúde ocupacional do trabalhador. Cautela!
“não há nível de produtividade que supere a vida humana” e é nesse sentido que devemos estar dispostos a colocar em prática todas as NRs
competentes a atividade que desejamos desempenhar, para isso, a organização deve dispor de um Técnico de Segurança do trabalho, que fará toda
a orientação e o acompanhamento necessário para que as atividades e os arranjos físicos estejam de acordo com o que prevê a lei e suas
respectivas normas regulamentadoras.
Apesar de existirem 37 NRs e atualizações periódicas por parte dos órgãos regulamentadores, a questão da segurança no trabalho ainda é
muito negligenciada por parte dos empregadores e trabalhadores no Brasil, que ainda ignoram as orientações de segurança no trabalho. Vamos aos
números para termos uma ideia da seriedade do tema, de acordo com os indicadores atualizados do Observatório de Segurança e Saúde no
Trabalho , elaborado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT): de 2012 a 2020, 21.467
trabalhadores e trabalhadoras sofreram acidentes fatais no Brasil, com uma taxa de mortalidade de 6 óbitos a cada 100 mil vínculos de emprego no
mercado de trabalho formal, o que mostra que ainda temos muito que nos esforçar com os cuidados relacionados a esse tema de segurança no
trabalho.
TROCANDO IDEIAS
Conhecendo os níveis organizacionais de uma empresa e sabendo da importância de integração entre os departamentos que são feitos por
pessoas, como uma companhia, agora precisamos falar da operacionalização do chão de fábrica, de como as coisas acontecem no processo de
manufatura, através da melhor alocação dos recursos físicos que contemplam uma linha de produção. Por exemplo, na empresa onde você trabalha
ou até na cozinha da sua casa onde são preparadas as receitas, o posicionamento de máquinas, móveis como armários, bancadas e estantes, oferece
praticidade e ganho de operacionalidade ao processo de manufatura? Conte no fórum da disciplina sobre arranjos físicos.
Nós refletimos sobre a “manipulação” correta dos recursos disponíveis em um processo, falamos sobre alocar, posicionar e organizar as pessoas
de acordo com suas expertises. Isso vale, em grande medida, no manejo e posicionamento das máquinas e estruturas físicas também, exatamente
porque uma posição mal planejada pode tornar o tempo de produção muito maior e, consequentemente, fazer com que o processo se torne
oneroso. Afinal, determinado produto pode demorar mais tempo para ser montado em relação a outro, mas a margem de lucro por unidade
produzida pode ser diferente também.
NA PRÁTICA
É necessário olhar o todo, compreender que ambos os setores de uma empresa devem trabalhar de forma integrada e não como concorrentes.
Aliás, é comum dentro de uma organização a utilização da seguinte ideia: “Cliente interno”. Explique como funciona essa ideia de “Cliente Interno” e
como funciona o fluxo de informações sob está perspectiva. Esses assuntos serão tratados na videoaula.
Esse termo é utilizado justamente para deixar claro que todos os departamentos de forma integrada se atendem, isso mesmo, quando fazemos
parte de determinado departamento de uma organização, temos os nossos clientes internos, ou seja, os demais setores que dependem diretamente
de nós, recebendo o processo após a atuação de nosso departamento, então dá sequência no processo produtivo, ou nós somos clientes de algum
outro departamento e damos sequência no processo produtivo agregando valor ao produto ou serviço.
Figura 5 – Ciclo clientes internos
Fonte: Paulo Friesen (2021).
FINALIZANDO
Conhecemos os níveis organizacionais de uma empresa e qual a perspectiva de prazo que cada nível trabalha. Nível operacional: atua de forma
isolada focando na realização de suas atividades a curto prazo; nível tático: atua de forma mais planejada e detalhada considerando o que
chamamos de células ou setores no médio prazo; nível estratégico: atua considerando o todo, isso porque suas tomadas de decisão afetam toda a
organização no longo prazo.
Falamos sobre a integração dos departamentos que pode ocorrer de forma física com a passagem de uma peça manufaturada, por exemplo, de
departamento em departamento ou no fluxo de informações e serviços, que devem ser executados para que o produto possa ser entregue ao
cliente. Nos dois formatos podemos ser clientes internos, seja atendendo ou sendo atendido, o fato é que de forma completamente integrada, uma
organização só consegue atuar perfeitamente com seus processos e operações se houver a integração entre os departamentos.
E finalizamos olhando a ergonomianos postos de trabalho, compreendendo que ninguém começa negligenciando uma atitude muito grave,
geralmente esse descuido com a atividade laboral vai acontecendo aos poucos, como quando o trabalhador se depara com as questões
ergonômicas relacionadas às atividades exercidas em um processo de manufatura ou prestação de serviço.
REFERÊNCIAS
ADIZES, Ichak. Gerenciando as mudanças: o poder da confiança e do respeito mútuos na vida pessoal, familiar, nos negócios e na sociedade.
São Paulo: Pioneira, 1993.
BRASIL. Secretaria do Trabalho. Normas Regulamentadoras. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho/pt-br/inspecao/seguranca-e-saude-
no-trabalho/ctpp-nrs/normas-regulamentadoras-nrs>. Acesso em: 9 ago. 2021.
FALCONI, Vicente. Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia. Belo Horizonte: Falconi, 2013.
FALZON, Pierre. Ergonomia. São Paulo: Edgar Blucher, 2007
KIT, Wong. O livro completo Do Tai Chi Chuan: um manual pormenorizado dos seus princípios e práticas. São Paulo: Pensamento, 2001.
LACOMBE, Patrícia. Ergonomia: boas práticas para manter uma boa postura no trabalho. Disponível em:
<http://patricialacombe.com.br/blog/ergonomia-boas-praticas-para-manter-uma-boa-postura-no-trabalho/>. Acesso em: 9 ago. 2021.
MONDEN, Yasuhiro. Sistema Toyota de produção uma abordagem integrada ao Just-in-Time. Porto Alegre: Bookman, 2014.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Disponível em: <https://www.ilo.org/brasilia/lang--es/index.htm>. Acesso em: 9 ago. 2021.
PANSONATO, Roberto. Projeto de fábrica e arranjo físico. Curitiba: Contentus, 2020.
SMART LAB. Disponível em: <https://smartlabbr.org/sst>. Acesso em: 9 ago. 2021.

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