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Gestão Pública Gestão Pública Gestão Pública Sumário Apresentação institucional 5 Apresentação da disciplina 7 Unidade 1 A administração, as organizações e a gestão pública: conceitos e fundamentos 9 Unidade 2 Evolução das teorias administrativas 35 Unidade 3 As tipologias da Administração Pública 61 Unidade 4 Ferramentas do GesPública 89 Perfi l dos autores 113 Apresentação institucional A Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil – UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta- -se para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações em Administração Pública e Administração Pública Municipal. Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a SEDIS tem disponibilizado um conjunto de meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfi co para atender às necessidades de um aluno que aprende a distân- cia. O conteúdo é elaborado por profi ssionais qualifi cados e que têm experiên- cia relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas, livros, textos, fi lmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que possibilitam ampliar os conteúdos e a inte- ração entre os sujeitos do processo de aprendizagem. Assim, a UFRN através da SEDIS se integra ao grupo de instituições que assumiram o desafi o de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como modalidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o acesso à graduação e à pós- graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos de graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e transformar o conhecimento em uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local. Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLETE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil. Secretaria de Educação a Distância SEDIS/UFRN 5 7 A administração, as organizações e a gestão pública: conceitos e fundamentos 1 Unidade 1 2 3 4 Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 11 Apresentação Caro estudante, Vamos iniciar nossa caminhada em busca de conhecimentos, habilidades e atitudes sobre os fundamentos da gestão pública. Antes, porém, é importante conhecermos um pouco do surgimento da Administração como ciência. Nesta unidade, após a passagem por um breve histórico, iremos estudar os conceitos e fundamentos da gestão pública, começando com a explicação de alguns termos que aparentemente são sinônimos, mas cada um tem suas peculiaridades. Em seguida, vamos conhecer as funções básicas de uma organização, seja ela pública ou privada, qualquer que seja o seu porte e, fi nalmente, estudar as funções bá- sicas do administrador, ou do gestor, conforme sua opção na escolha do termo. Objetivos Conhecer os antecedentes históricos da Admi- nistração. Conceituar organização, administração e gestão pública. Identifi car as funções básicas da organização. Descrever as funções básicas do administrador. Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 13 Antecedentes históricos da Administração A Administração como ciência surgiu, aproximadamente, em 1903 com as obras de Taylor, Fayol e Henri Ford (Maximiano, 2004). Essas pesso- as iniciaram seus estudos buscando a melhor forma de produção nas linhas de montagem. Ora, você deve estar imaginando: como as organizações eram administradas antes dessa época? Como foi possível a realização de grandes empreendimentos no passado como a construção das pirâmides do Egito (Figura 1), por exemplo? Pense um pouco sobre isso, refl ita e depois acompanhe a nossa descrição. Figura 1 – As pirâmides do Egito Fonte: <http://tilesexperts.com/wordpress/wp-content/Piramides2.jpg>. Acesso em: 19 dez. 2012. Então, pensou sobre o assunto? Muitas das teorias e técnicas utilizadas atualmente para administrar as organizações são oriundas de práticas do pas- sado. Os exemplos mais clássicos encontrados na literatura sobre a história da administração estão apresentados no quadro a seguir: Eventos Grandes projetos do oriente Organizações militares Grécia Roma Revolução industrial Períodos Desde 4.000 a.C. Desde 3.500 a.C. 500 a.C Entre VII a.C. e IV a.D. Século XVIII Principais ideias Administração de projetos de engenharia: cidades, pirâmides, projetos de irrigação. Organização, disciplina, hierarquia, logística, formação de pessoas. Democracia, ética, qualidade, método científi co. Administração de império multinacional, formação de executivos, etc. Invenção das fábricas, surgimento de sindicatos, inicio da Administração como ciência. Quadro 1 – Origens da Administração moderna Fonte: Adaptado de Maximiano (2004, p. 49). Unidade 1 Introdução à Gestão Pública14 � O princípio da unidade de comando, em que cada subordinado só pode ter um superior. � A escala hierárquica, onde os níveis de comando correspondem ao grau de autoridade e responsabilidade correspondente. � Princípio da direção, por meio do qual todo subordinado deve saber perfeitamente o que se espera dele e aquilo que ele deve fazer. � Platão: preocupou-se com os problemas políticos e sociais ine- rentes ao desenvolvimento social e cultural do povo grego. Em sua obra, “A República”, expõe o seu ponto de vista sobre a forma democrática de governo e de administração nos negócios públicos. Ele desenvolve suas ideias através de diálogos. Em seu diálogo intitulado “O Político”, Platão defende a ideia de que a responsabilidade fundamental dos políticos era promover a felicidade dos cidadãos. � Aristóteles: estudou a organização do Estado e distingue três formas de administração pública: a monarquia, ou governo de um só, a aristocracia, ou governo de uma elite e democracia, ou governo do povo. Conforme pode ser observado no Quadro 1, muitas das ideias que já eram praticadas há milênios estão presentes no dia a dia das organizações contem- porâneas. As pirâmides do Egito e a Grande Muralha da China são exemplos concretos de que projetos com grandes proporções, empregando milhares de pessoas, foram realizados muito antes dos tempos modernos. Independente da forma como os administradores fossem chamados na época, certamente exis- tiram, nesses empreendimentos, entidades organizadas e dirigidas por pessoas responsáveis por atividades de planejamento, organização, liderança e controle (ROBBINS; COULTER, 1998). As organizações militares também infl uenciaram os princípios e fundamentos da administração através da aplicação de alguns princípios que caracterizam o regime militar, como organização, disciplina, hierarquia, logística e formação de pessoas. Chiavenato (1993) aponta as principais contribuições das organizações militares para a ciência da Administração. Veja algumasdelas: Segundo Maximiano (2004) e Chiavenato (1993), a administração moderna é muito infl uenciada pelo pensamento de fi lósofos gregos, como os exemplos de: Leituras complementares Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 15 Essas ideias estão presentes nas organizações contemporâneas, sejam elas públicas ou privadas, que fundamentam seu processo gerencial em princípios como o da administração participativa, da valorização das pessoas, entre outros. Na quarta unidade do nosso livro iremos explorar com mais detalhes esses fundamentos. Conforme aponta Maximiano (2004, p. 51), “a capacidade de construir e manter o domínio sobre o que hoje é a Europa comprova as aguçadas habilida- des administrativas dos romanos”. Roma apresentou o primeiro caso no mundo de organização e administração de um império multinacional, onde foram cria- dos diferentes tipos de executivos, como os reis, os imperadores, os césares, os cônsules, os magistrados entre outros. Por outro lado, a má administração ajudou a destruir Roma no fi nal de seu longo período de glória. Outro exemplo muito interessante da prática administrativa é a Igreja Católica Romana, que conta com uma estrutura que permanece basicamente inalterada há quase 2.000 anos. Ao longo dos séculos, conforme nos mostra Chiavenato (1993), a Igreja Católica foi estruturando sua organização, sua hierarquia de autorida- de, seu estado-maior (assessoria) e a sua coordenação funcional. A estrutura é composta de cinco níveis: padre da paróquia, bispo, arcebispo, cardeal e papa, cuja autoridade fi nal, a do papa, é centralizada em Roma (ROBBINS; COULTER, 1998). A estrutura da organização eclesiástica serviu de modelo para muitas organizações, religiosas ou não, que, em busca de experiências bem-sucedidas, passaram a incorporar vários dos princípios e normas administrativas utilizadas na Igreja Católica. Além desses exemplos, você poderá encontrar outros nas obras que falem sobre as origens das práticas administrativas. Para tanto, indicamos algumas fontes para quem quiser conhecer mais sobre os primórdios da Administração como ciência. Leia os capítulos indicados nos dois livros citados para aprender mais sobre os antecedentes históricos da Administração. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teorias da Administração: ideias fundamentais. In: ______. Introdução à administração. 6. ed. Revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2004. cap. 2. p. 47-69. ______. Da revolução urbana à revolução industrial. In: ______. Teo- ria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. cap. 2. p. 24-48. Unidade 1 Introdução à Gestão Pública16 Após esse breve relato dos primórdios da administração, vamos abordar um fator que infl uenciou decisivamente a Administração como ciência. Estamos falando da Revolução Industrial. Alguns dos fatores que contribuíram para a criação de grandes corporações que mais tarde iriam requerer práticas adminis- trativas formalizadas são: o advento da força da máquina, a produção em massa, a redução dos custos de transportes decorrentes da rápida expansão das estradas de ferro e a regulamentação governamental. No início do século XX foram dados os primeiros passos na direção do de- senvolvimento da Administração como ciência. O chamado movimento da Ad- ministração Científi ca foi liderado por Frederick Taylor, considerado o pai da administração científi ca, Henry Fayol e Henri Ford. Frederick W. Taylor (Figura 2) era uma pessoa extremamente meticulosa na sua vida pessoal, como nos conta Hampton (1983, p. 10): Taylor separava seu mundo nas suas partes mais diminutas. Ao jogar cro- qué, ele preocupava os seus companheiros por planejar minuciosamente os ângulos de suas tacadas. Quando caminhava, ele contava o número dos passos, para descobrir qual seria o melhor modo de andar. Nervoso, alto, embora não fumasse ou bebesse, nem mesmo café ou chá, toda a sua vida sofreu de insônias e pesadelos; e temendo deitar-se, ele apenas conseguia adormecer sentado na cama ou em uma cadeira. Não podia suportar ver um torno ou um homem inativo. Ele nunca perdia tempo e queria ter a certeza de que isso não acontecia com ninguém. A revolução Industrial (século XVIII) foi resultante de dois eventos: o surgimento das fábricas e a invenção da máqui- na a vapor, que revolucionaram a produção e a aplicação de conhecimentos administrativos (MAXIMIANO, 2006). Figura 2 – Frederick Taylor Fonte: <http://www.biography.com/people/frederick-w-taylor-9503065>. Acesso em: 19 dez. 2012. Com esse espírito meticuloso, Taylor realizou a maior parte de seus expe- rimentos, como engenheiro mecânico, nas companhias de aço de Midvale e Bethlehem, na Pensilvânia. Suas observações sempre buscavam, através dos estudos de tempos e movimentos dos operários nas linhas de produção, a “me- lhor maneira” de fazer as tarefas. Taylor cronometrava os movimentos dos tra- balhadores, dividindo-os nas tarefas que compunham o trabalho, chamando-as Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 17 de unidades básicas de trabalho, as quais eram analisadas buscando a melhor maneira de executá-las e de combiná-las para ter mais efi ciência como um todo. Os resultados de seus estudos foram largamente assimilados e outras pessoas e empresas começaram a utilizar os seus métodos e, ao mesmo tempo, a criar novos para aumentar a efi ciência na indústria. O taylorismo, como são conhecidas as técnicas da administração científi ca de Frederick Taylor, formou parceria notável com a expansão da indústria e com a linha de montagem de Henri Ford (MAXIMIANO, 2004), outra inovação revo- lucionária do início do século XX. Henri Ford criou dois princípios da produção em massa: as peças padronizadas e o trabalhador especializado. Na produção em massa, as qualifi cações dos trabalhadores resumem-se ao conhecimento ne- cessário para a realização de uma única tarefa. Podemos tomar como exemplo o fi lme “Tempos Modernos” (Figura 3), em quem Charlie Chaplin representa um trabalhador cuja sua função é reduzida apenas ao aperto de parafusos. Vale sa- lientar que essas técnicas foram alvos de muitas críticas, em que a mecanização da atividade humana poderia provocar a alienação do trabalhador. Figura 3 – Cena do fi lme “Tempos Modernos” Fonte: Charles Chaplin – Tempos Modernos – 1936. Enquanto Taylor e Ford concentravam sua atenção no “chão da fábrica”, Henri Fayol, que atuava como diretor executivo de uma grande companhia, não escuta- va, nem observava os trabalhadores. Ele fi cava em sua mesa de trabalho tentando colocar no papel suas ideias sobre as funções gerais da administração. De acordo com Fayol (MAXIMIANO, 2004, p. 57), “a administração é uma atividade comum a todos os empreendimentos humanos (família, negócios, governo), que sempre exi- gem algum grau de planejamento, organização, comando, coordenação e controle”. Em síntese, Taylor e Ford procuraram identifi car a melhor forma de executar as tarefas e Fayol procurou identifi car e compartilhar com os outros as chaves da ad- ministração efi caz e da organização como um todo (HAMPTOM, 1983). Embora o chamado movimento da Administração Científi ca tenha recebido crí- ticas, suas ideias constituem o marco inicial da Administração como ciência. Outras “escolas” ou “correntes” foram surgindo com o tempo, como a Escola de Relações Humanas, a Escola Burocrática, a Teoria Geral de Sistemas e outras que serão estu- dadas na Unidade 2 de nosso livro. Unidade 1 Introdução à Gestão Pública18 No Brasil, a administração como campo de trabalho profi ssional surgiu na década de 1940, com as companhias de navegações americanas, que tinham em seus comandos profi ssionais formados em Administração de Empresas. No entanto, foi por volta de 1960 que a administração começou a ser reconhecida como a atividade profi ssional, notadamente pela ênfase no governo de Getúlio Vargas, que valorizou a ciência, através do aprimoramento da Administração Pública Federal e dasreformas administrativas e sociais. Segundo o Conselho Federal de Administração (CRA, s.d), o ensino de Ad- ministração ganhou legitimidade no Brasil, em 1941, com a criação do primeiro curso, na Escola Superior de Administração e Negócios – ESAN/SP, inspirado no modelo do curso da Graduate School of Business Administration da Universi- dade de Harvard. Em 1946, foi criada a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), que ministrava os cursos de Ciências Econômicas e de Ciências Contábeis, onde eram apresentadas algumas matérias ligadas à Administração. Em 1952 foi criada a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getúlio Vargas – EBAPE/ FGV, cuja primeira turma se formou em 1954. Ainda em 1952, foi criada a Esco- la Brasileira de Administração de Empresas de São Paulo – EAESP, vinculada à Fundação Getúlio Vargas, com estrutura curricular criada no Brasil e com técnicas modernas de Administração. A primeira turma de graduação da EAESP se formou em 1959. Esse currículo foi referência para os outros cursos que surgiram no país. Embora o ensino da Administração no Brasil tenha surgido na década de 1940, a profi ssão só foi regulamentada com a promulgação da Lei n° 4.769, de 9 de setembro de 1965. Desde então, com base em dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP (2010), o número de alunos matriculados nos cursos de Administração cresceu signifi cativamente e hoje se encontra entre os dez maiores cursos de graduação do país em números de inscritos, conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1 – Os dez maiores cursos de graduação – Brasil - 2009 N° CURSO MATRÍCULAS % 1 Administração 1.102.579 18,5 2 Direito 651.730 10,9 3 Pedagogia 573.898 9,6 4 Engenharia 420.578 7,1 5 Enfermagem 235.804 4,0 6 Ciências Contábeis 235.274 4,0 7 Comunicação Social 221.211 3,7 8 Letras 194.990 3,3 9 Educação Física 165.848 2,8 10 Ciências Biológicas 152.830 2,6 Outros cursos 1.999.279 33,6 Fonte: INEP (2010, p. 14). Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 19 Nessa primeira seção, estudamos os antecedentes históricos da administra- ção. Para o melhor entendimento do que foi estudado até agora, faça a atividade proposta a seguir. Administração, gestão e organização Na seção anterior foi feito um breve resgate do surgimento da Administra- ção como ciência. No entanto, podemos observar atualmente que existe certa “confusão” na utilização dos termos administração, gestão e organização. Você sabe se essas palavras signifi cam a mesma coisa? Existem diferenças entre elas? Vamos pensar um pouco sobre o signifi cado de cada uma delas? Unidade 1 Introdução à Gestão Pública20 Vejamos o que diz a literatura dessa área: a) Conceitos de administração e gestão Comecemos com a origem da palavra administração. Vem do latim ad, que signifi ca direção e minister signifi ca subordinação ou obediência, isto é, a palavra administração é uma atividade realizada por alguém sob o comando de outro. Para Maximiano (2006, p. 6), “administração é o processo de tomar decisões sobre objetivos e utilização de recursos. O processo administrativo abrange cinco tipos principais de decisões, também chamadas processos ou funções: planeja- mento, organização liderança, execução e controle”. O conceito de administração se aplica a qualquer tipo de organização, seja ela pública, privada, familiar, social, etc., as quais necessitam organizar as funções administrativas com planejamento e liderança e utilizam-se de recursos (recursos humanos), de dinheiro (recursos fi nanceiros) e de edifícios, além dos recursos materiais (TRIGUEIRO; MARQUES, 2009). Logo, para que uma organização al- cance realizar suas atividades de forma adequada, fornecendo os serviços ou os produtos aos seus usuários ou clientes, precisarão de um profi ssional de admi- nistração, ou seja, de alguém com as competências necessárias para organizar todas as partes envolvidas no seu processo. É muito comum ouvirmos comentários de que o “problema” de uma determinada organização é relacionado à administração, ou à gestão. Mas, será que administração e gestão signifi cam a mesma coisa? As palavras gestão e administração fazem parte do cotidiano de várias pessoas, entre elas as pessoas que frequentam uma universidade. No entanto, não é comum encontrar autores que estabeleçam uma relação clara entre elas. Dias (2002) apresenta uma revisão crítica sobre os conceitos de gestão e administração. Para o autor, o uso da palavra gestão vem se intensifi cando no Brasil nos últimos anos de forma conspícua, levando o termo administração a perder o seu status. O autor constatou, em sua pesquisa, que existe a falta de concordância na delimitação dos signifi cados dos termos administração e gestão. As autoras deste livro entendem que não cabe aqui adentrarmos nas dis- cussões científi cas e do senso comum sobre o uso dos dois termos. Para tanto, buscamos no Novo Dicionário Aurélio (BUARQUE, 1997) o signifi cado das duas expressões e chegamos à conclusão de que ambos têm signifi cados semelhantes e podem ser utilizados indistintamente. Vejamos: A palavra gestão vem do latim gestione e signifi ca ato de gerir; ge- rência; administração. O termo administração vem do latim administratione e signifi ca a ação de administrar; gestão de negócios públicos ou particulares; go- verno, regência; conjunto de princípios, normas e funções que tem por fi m ordenar os fatores de produção e controlar a sua produtividade e efi ciência, para se obter determinado resultado. Leitura complementar Organização Pessoas Informação Conhecimento Espaço Tempo Dinheiro Instalações Objetivos Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 21 Veja o blog de Stephen Kanitz no endereço <http://blog.kanitz.com. br/2011/03/gest%C3%A3o-ou-administra%C3%A7%C3%A3o-qual- -%C3%A9-a-diferen%C3%A7a-.html>, que faz uma interessante dis- cussão sobre a diferença entre administração e gestão. b) Conceito de organização Vejamos, agora, o conceito de organização e como ele se distingue da ad- ministração. Para Maximiano (2006, p 4), “Uma organização é um sistema de recursos que procura realizar algum tipo de objetivo (ou resultados)”, conforme é mostrado na Figura 4. Figura 4 – Conceito ilustrativo de organização Fonte: Maximiano (2006, p. 4). Unidade 1 Introdução à Gestão Pública22 As organizações assumem diferentes formas, conforme apontado por Trigueiro e Marques (2009), são elas: � Organizações privadas, que são responsáveis pela produção de bens e serviços. � Organizações do terceiro setor, que oferecem serviços à socieda- de, como saúde, educação e lazer. � Organizações públicas, que atuam: � na administração direta, como os órgãos integrados diretamen- te na estrutura administrativa do Estado, no âmbito federal, no estadual ou no municipal. � na administração indireta, como os órgãos com personalidade jurídica própria, que executam atividades do governo de forma descentralizada, como as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as fundações. Na disciplina Direito Administrativo (que será ofertada no segundo módulo) esses tipos de organizações serão estudadas de forma mais detalhada. Pelas conceituações apresentadas, percebemos que existe clara distinção en- tre organização e administração. A organização pode ser entendida como se fosse uma estrutura, em termos de forma e organização das partes que a consti- tuem, além do inter-relacionamento entre elas. Por sua vez, a administração é o conjunto dos processos organizacionais, incluindo o planejamento, o comando e o controle dos mesmos. Em outras palavras, o objetivo da administração é ge- renciar os recursos a fi m de que a organização como um todo consiga a efi ciência e a efi cácia dos seus processos. A organização (como instituição) assume várias funções, como: técnica, comercial, fi nanceira, de segurança, dentre outras, as quais serão apresentadas com mais detalhes naseção a seguir. Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 23 As funções organizacionais Conforme vimos na seção anterior, a organização desenvolve várias funções, as quais variam conforme a natureza das suas atividades. Segundo Maximiano (2004) as funções organizacionais são compostas pela produção (ou operações), pelo marketing, pela pesquisa, pelo desenvolvimento, pelas fi nanças e pelos recursos humanos. No caso das organizações públicas, Santos (2006) aponta as seguintes funções principais: fi nanceira, recursos humanos, marketing e admi- nistração de materiais e serviços. Vamos agora conhecer cada uma dessas funções e como elas são aplicadas nas organizações públicas. a) Finanças A função fi nanceira cuida do dinheiro da organização (MAXIMIANO, 2006) e tem por objetivo a proteção e a utilização efi caz dos recursos fi nanceiros, incluindo a maximização de retorno aos acionistas ou proprietários, no caso das empresas privadas. A função fi nanceira abrange decisões sobre investi- mentos, fi nanciamentos, controle dos recursos e destinação dos resultados fi nanceiros obtidos. Segundo Saldanha (2006, p. 77), “a administração fi nanceira em uma or- ganização pública, constitui-se na captação, na aplicação e na distribuição efi ciente dos recursos necessários para satisfazer aos anseios da população e aos objetivos e metas aos quais se propõe o governo”. A função fi nanceira será estudada em detalhes nas disciplinas Contabilidade Pública, Finanças Públicas e Orçamento Público. b) Recursos humanos A função de recursos humanos é atualmente chamada de gestão de pessoas. A função de recursos humanos, ou gestão de pessoas, segundo Maximiano (2004), tem como objetivos encontrar, atrair e manter as pessoas de que a orga- nização necessita. Envolve, dessa forma, atividades que começam antes da pes- soa ser contratada e vão até depois que a pessoa se desliga de uma organização. Essa função inclui, segundo o Modelo de Excelência na Gestão Pública – MEGP – (BRASIL, 2008, p. 49), “a organização do trabalho, a estrutura de cargos, os processos relativos à seleção e contratação de pessoas, assim como a gestão do desempenho de pessoas e equipes. Inclui também os processos relativos à capacitação e ao de- senvolvimento das pessoas e como a organização promove a qualidade de vida das pessoas interna e externamente ao ambiente de trabalho”. Na disciplina Gestão de Pessoas no Setor Público essas funções serão estudadas detalhadamente. Unidade 1 Introdução à Gestão Pública24 c) Marketing O marketing consiste na área de conhecimento do saber administrativo que estuda o relacionamento de uma organização com o mercado, com seus clientes ou usuários de seus produtos ou serviços. Tanto as organizações lucrativas, como as que não visam o lucro desenvolvem atividades de marketing, que incluem: pesquisa com os clientes/usuários, desenvolvimento de produtos e serviços, desenvolvimento dos canais de distribuição dos produtos e serviços, preço, pro- moção e vendas (MAXIMIANO, 2004). Segundo o MEGP (BRASIL, 2008), a organização, no cumprimento das suas competências institucionais, deve identifi car os cidadãos usuários dos seus ser- viços e produtos, conhecer suas necessidades e avaliar a sua capacidade de atender ou antecipar-se a essas necessidades. Além disso, a organização deve divulgar os seus serviços, produtos e ações, no sentido de fortalecer sua imagem institucional, bem como estreitar o relacionamento com seus cidadãos usuários, medindo a sua satisfação e implementando e promovendo ações de melhoria. d) Administração de materiais e serviços A administração de materiais e serviços, segundo Santos (2006, p. 135), “envolve a totalidade dos fl uxos de informações e de materiais na organização pública, desde a programação de tais itens, passando pelas compras, recepção, armazenamento, conservação, controle, movimentação interna, distribuição e transporte externo.” Sua fi nalidade é assegurar o contínuo abastecimento dos materiais necessários e capazes de atender aos serviços executados por uma organização (MESSIAS, 1989). O estudo detalhado dessa função será feito atra- vés das disciplinas de Gestão de Materiais e Patrimônio e Compras e Licitações. e) Produção (ou operações) A nomenclatura produção é utilizada pelas organizações que fabricam algum produto e operação é aplicada àquelas que oferecem serviços. O objetivo básico da função produção (ou operações) é fornecer o produto ou o serviço da organiza- ção (MAXIMIANO, 2004). Essa função representa a razão de ser da organização, pois utiliza e transforma recursos para fornecer bens e/ou serviços aos clientes, usuários ou público-alvo. f) Pesquisa e desenvolvimento A função de pesquisa e desenvolvimento, também chamada de P&D, objetiva, segundo Maximiano (2004), transformar as informações de marketing, as ideias originais, ou seja, as necessidades do consumidor, e os avanços da ciência em produtos e serviços. As grandes organizações contam com grupos de pessoas desenvolvendo pesquisas tanto em relação aos produtos que fabricam (novas fórmulas, novas matérias-primas, etc.), como em relação à introdução de novas tecnologias para o melhoramento nos processos produtivos. Nas empresas de pequeno porte, geralmente as novas ideias são adquiridas (copiadas ou compra- das) de outras organizações mais inovadoras. Leitura complementar Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 25 Veja o site da NATURA <http://www.naturacampus.com.br/> e consulte as várias frentes de pesquisa e desenvolvimento adotadas por ela, que são: ciências clássicas, tecnologias sustentáveis, bem-estar e design de experiências. Unidade 1 Introdução à Gestão Pública26 As funções básicas do administrador/gestor Todos nós desempenhamos papéis na organização de nossas vidas, não é mesmo? E qual seria então a principal função do administrador? Qual é o seu papel e quais são suas responsabilidades no contexto organizacional? Esta seção trata sobre as funções e habilidades próprias à profi ssão do administrador (ou gestor), bem como os vários níveis organizacionais onde esse profi ssional atua. Para desempenhar as funções administrativas e organizacionais com desen- voltura, os administradores também exercem determinados papéis e devem pos- suir determinadas habilidades. Entre as funções tradicionais que competem aos administradores, podemos citar o planejamento, a organização, a liderança e o controle. Alguns autores, como, por exemplo, Maximiano (2006), também citam a execução como uma função essencial. Desse modo, desempenhando essas funções os gestores podem aproveitar melhor os recursos humanos, fi nanceiros e materiais para atingir os objetivos da organização. As funções básicas do administrador, ou gestor, são o planejamento, a orga- nização, a direção e o controle, que constituem um ciclo de melhoria contínua de todo o processo orga---nizacional. Veja cada uma em detalhes a seguir. a) As funções do administrador A literatura apresenta variada contribuição sobre as funções do administrador. No entanto, para a nossa exposição sobre essas funções vamos utilizar conceitos de Maximiano (2006) e Trigueiro e Marques (2009), pois traduzem o consenso a respeito do papel do administrador nas organizações: Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 27 � Planejamento é a ferramenta para administrar as relações com o futuro da organização. Ou seja, são as decisões que irão infl uen- ciar o futuro da organização, que devem ser tomadas com base na análise interna e externa, que indicam o comportamento no pas- sado e as tendências que irão infl uenciar o desenvolvimento da sua missão. Um plano nada mais é do que um guia para ação no futuro e que estabelece qual situação deverá ser alcançada (um objetivo), o que precisa ser feito para alcança-la e os recursos que serão empregados para esse esforço. Para tanto, o administrador precisa obter e interpretar as informações que identifi quem as necessidades, oportunidades e ameaças nos ambientesinterno e externo à organização. Um exemplo na Administração Pública é o Plano Plurianual, que estabelece diretrizes, objetivos e metas da administração pública por um prazo de pelo menos quatro anos (TRIGUEIRO; MARQUES, 2009, p. 36). Na disciplina Orçamento Público você irá estudar com detalhes os elementos do processo de planejamento das organizações públicas. � Organização é o processo de organizar os recursos disponíveis de maneira que facilite a execução dos planos. Essa função com- preende as decisões de dividir o trabalho, atribuir responsabi- lidades a pessoas e estabelecer mecanismos de comunicação e coordenação das tarefas. � A liderança é responsável por fazer funcionar todos os outros processos da administração, pois todos eles dependem de pes- soas. É através da liderança que os gestores coordenam, direcio- nam, motivam e comunicam-se com as pessoas da organização. Essa infl uência, no entanto, vai depender do estilo e do poder do líder. � O controle, por sua vez, tem por fi nalidade manter um sistema na direção de um objetivo, com base em informações contínuas sobre as atividades do próprio sistema e sobre o objetivo. Ou seja: o próprio objetivo torna-se o padrão de controle. Os gesto- res devem monitorar os indicadores referentes ao seu alcance, para saber se estão no caminho certo e, consequentemente, para conseguir os melhores resultados em relação aos cidadãos usu- ários, à sociedade, aos aspectos orçamentários e fi nanceiros, às pessoas, aos processos de suprimento e aos processos fi nalísticos e de apoio (BRASIL, 2008). Leitura complementar Ação: Corretiva Preventiva Melhoria Definir meta Definir método Educar e treinar Executar Coletar dados Checar metas x resultados A C P D Unidade 1 Introdução à Gestão Pública28 Note que as funções do administrador demandam um ciclo constante de coleta de informações, planejamento e controle dos resultados. Esse ciclo assemelha- -se a um conceito de Administração da Qualidade: o Ciclo PDCA, ou Ciclo de Deming, que consiste numa metodologia que potencializa a melhoria contínua e se desenvolve em 4 fases, podendo ser aplicada a cada processo e a todo sistema (PINTO; SOARES, 2010, p. 23), como mostra a Figura 5 a seguir. Figura 5 – Ciclo PDCA Assim como as funções do administrador que vimos nesta seção, o PDCA consiste num ciclo de Planejar (Plan), Executar (Do), Controlar (Check) e Agir (Act). A fi losofi a desse ciclo é utilizar a aprendizagem de um ciclo para aprimorar e ajustar as expectativas para o ciclo seguinte. Esse circuito repete-se de forma permanente, sempre focado na melhoria contínua dos processos. Perceba que o ciclo PDCA pode ser implementado nas mais diferentes situações. Você consegue imaginá-lo na sua realidade? Consulte a página a seguir e veja uma cena simples que ilustra bem o uso do PDCA nas atividades mais rotineiras: <http://www.mbc.org. br/mbc/pgqp/index.php?option=com_pilulas&Itemid=188&id=15&t ask=detalhe&tipo=v_pausa> Nível estratégico - Alta administração Nível operacional - Supervisores de primeira linha Nível tático - Gerência intermediária Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 29 b) Níveis organizacionais onde as funções do administrador são realizadas Essas funções da administração, no entanto, são executadas de maneira dis- tinta em diferentes níveis numa organização. Para entender melhor como elas são postas em prática, veja a Figura 6 a seguir. Figura 6 – Níveis de administração Fonte: Adaptado de Maximiano (2006, p. 146). A fi gura anterior apresenta os três níveis de administração. No nível estraté- gico, encontra-se o alto escalão e seus órgãos colegiados, responsáveis por esta- belecer os objetivos e estratégias mais abrangentes da organização. As decisões neste nível geralmente são de longo prazo, e geram ações de efeitos mais dura- douros e mais difíceis de inverter. Pensando numa Universidade como exemplo para ilustrar esses níveis, podemos dizer que neste nível se encontra a Reitoria e suas pró-reitoras, responsáveis por traçar os objetivos de longo prazo para a Universidade como um todo. No nível tático, encontram-se os gerentes intermediários, responsáveis por traduzir as diretrizes estratégicas da alta administração para os grupos de trabalho operacional, atuando como elo entre esses dois grupos. Aqui, os objetivos são traçados a médio prazo, e é necessário que cada área tenha seus planos especí- fi cos, embora eles estejam estritamente ligados às ações estratégicas defi nidas no nível estratégico. Voltando para o exemplo da Universidade, podemos dizer que os Diretores de Centro atuam neste nível, sendo responsáveis por colocar em prática as decisões emanadas da direção superior da UFRN. Na base da pirâmide, encontra-se o nível operacional, onde os administradores executam os projetos. Nesse nível as decisões são, geralmente, de curto prazo. Nele encontram-se os especialistas, técnicos ou operadores, e as demais pessoas que desempenham o trabalho operacional. As decisões estão ligadas principal- mente ao controle e às atividades técnicas. Os Coordenadores de Curso e Chefes de Departamento encontram-se no nível operacional de uma Universidade, já que eles encontram-se na “linha de frente” das ações da UFRN, que é a realização das atividades de ensino, de pesquisa e de extensão. Unidade 1 Introdução à Gestão Pública30 c) As habilidades do administrador Até aqui, já vimos os papéis que um administrador deve exercer para alcançar os objetivos da organização. Essas funções, porém, são apenas uma parte da capacidade profi ssional do administrador. Ele também deve ter um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que contribuem para o desenvolvimento do seu trabalho, além do conhecimento técnico. As habilidades, segundo Maxi- miano (2006, p. 148), são “competências que determinam o grau de sucesso ou efi cácia do gerente em exercício e da organização”. Segundo Neves et al (2001, p. 2), o desempenho de cada pessoa em seu meio profi ssional está fortemente relacionado às aptidões e habilidades que ela possui. A importância e a necessidade de uma maior ou menor intensidade das habilidades variam de acordo com o nível hierárquico ocupado, tipo e porte da empresa, carac- terísticas culturais e interferências ambientais por elas sofridos. A partir deste conceito, podemos entender melhor o trabalho de Robert L. Katz, que dividiu as habilidades gerenciais em três categorias. A seguir vamos conhecê-las um pouco mais, a partir dos conceitos de Neves (2001) e Maximiano (2006): � Habilidade técnica – Relaciona-se à atividade específi ca do gestor. Utiliza os conhecimentos, métodos, técnicas, tecnologia e equipa- mentos necessários para que o administrador realize suas tarefas específi cas. As habilidades técnicas representam o conhecimen- to particular de um cargo, e normalmente estão presentes nos gestores do nível operacional, que estudamos na seção anterior. � Habilidade humana – Consiste na capacidade para trabalhar com pessoas, compreender suas atitudes e motivações e aplicar uma liderança efi caz. A capacidade de entender, liderar e trabalhar com pessoas é a expressão da habilidade humana do gerente. Essa habilidade está normalmente presente no nível tático, da gerência intermediária. � Habilidade conceitual – Essa habilidade envolve a capacidade de compreender e lidar com a complexidade da organização como um todo e de usar o intelecto para formular estratégias. A criativi- dade, o planejamento, o raciocínio abstrato e o entendimento do contexto são manifestações da habilidade conceitual, geralmente presente no nível estratégico das organizações. Administração superior Habilidades técnicas Habilidades humanas Habilidades conceituais Gerência intermeciária Supervisão de primeira linha Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 31 A Figura 7 a seguir ilustra a relação entre as habilidades e as respectivas posições na hierarquia. Figura 7 – Habilidades gerenciais e sua relação com a posição na hierarquia Fonte: Katz(1970), apud Maximiano (2006, p. 149). Você consegue perceber a importância da habilidade humana? Ela é tão im- portante, pois é ela que evidencia a capacidade de entender, liderar e trabalhar com pessoas, aspecto fundamental em qualquer tipo de organização. Estudamos nesta seção as funções básicas de um administrador/gestor. Para ajudá-lo a fi xar os conceitos abordados, propomos a seguinte atividade. Resumo Unidade 1 Introdução à Gestão Pública32 Estudamos nesta unidade os conceitos e fundamentos da administração e da organização, onde procuramos focar os aspectos inerentes à gestão pública. Conhecemos os antecedentes históricos da Administração como ciência e você pôde perceber que seus conceitos e princípios eram utilizados desde a antiguidade. Vimos ainda os conceitos, diferenças e semelhanças entre administração, gestão e organização, bem como as funções básicas que são exercidas por todas as organizações, independente do seu porte e da sua natureza. Finalmente, relatamos as funções do administrador, mostrando os níveis em que atuam e as principais habilidades que são exercidas por esse profi ssional. Como esta é uma disciplina introdutória do curso de Tecnólogo em Gestão Pública, você deve ter observado que, no decorrer desta unidade, indicamos as disciplinas nas quais os assuntos serão desenvolvidos com mais profundidade. Unidade 1 Introdução à Gestão Pública 33 Referências BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GesPública; Prêmio Nacional da Gestão Pública – PQGF. Instruções para Avaliação da Gestão Pública – 2008/2009. Brasília: MP, SEGES, 2008. Versão 1/2008. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da Administração. 4. ed. São Paulo: Makron Books, 1993. CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO – CFA. História da profi ssão. Disponí- vel em: <http://www2.cfa.org.br/administrador/diversos/pagina-teste-1>. Acesso em: 23 jan. 2013. DIAS, Emerson de Paula. Conceitos de gestão e administração: uma revisão crítica. Revista eletrônica de Administração, Franca, SP: UNIFACEF, v. 1, n. 1, 2002. Dispo- nível em: <http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/view/160/16>. Acesso em: 19 nov. 2012. HAMPTON, David R. Administração contemporânea. 2. ed. São Paulo: McGraw- -Hill do Brasil, 1983. KANITZ, Stephen. Artigos e comentários: blog. Disponível em: <http://blog.kanitz. com.br/2011/03/gest%C3%A3o-ou-administra%C3%A7%C3%A3o-qual-%C3%A9- -a-diferen%C3%A7a-.html>. Acesso em: 19 nov. 2012. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. - São Paulo: Atlas, 2004. MESSIAS, Sergio B. Manual da administração de materiais. São Paulo: Atlas, 1989. NEVES, J. O processo de liderança. In: CARVALHO FERREIRA, J. M.; NEVES, J.; CAETANO, A. (Eds.). Manual de psicossociologia das organizações. Lisboa: McGraw-Hill, pp. 377-403, 2001. ROBINS, Stephen; COULTER, Mary. Administração. 6. ed. Rio de Janeiro: Prentice- -Hall do Brasil, 1998. SANTOS, Clézio Saldanha. Introdução à gestão pública. São Paulo: Saraiva, 2006. TRIGUEIRO, Francisco Mirialdo Chaves; MARQUES, Neiva de Araujo. Teorias da Administração I. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; Brasília – CAPES: UAB, 2009. Anotações Unidade 1 Introdução à Gestão Pública34 Evolução das teorias administrativas 2 Unidade 1 2 Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 37 Apresentação Caro estudante, Nesta segunda unidade vamos conhecer as contribuições e os diferentes en- foques que serviram de base para a formação da Ciência da Administração. Di- vidiremos nosso estudo em duas abordagens, a clássica e a contemporânea. Na abordagem clássica, estudaremos as contribuições da Administração Científi ca de Taylor, Fayol e Henri Ford, as da Escola de Relações Humanas e abordagem sociológica, com ênfase na obra de Max Weber e a teoria da burocracia, que infl uenciou fortemente a Administração Pública. Na abordagem contemporânea estudaremos as principais tendências do pensamento administrativo, em especial, a Abordagem de Sistemas e o Movimento da Gestão da Qualidade. É importante observar a complexidade da Ciência da Administração, pois abrange conhecimento multidisciplinar, como a Matemática, a Estatística, a Sociologia, a Economia, o Direito e a Biologia (vamos perceber a contribuição dessa ciência com o estudo da Teoria de Sistemas). O desafi o é que você construa uma base bem estruturada de conhecimentos para poder interpretar, modifi car e gerenciar os sistemas organizados, que caracterizam o objeto de estudo da Administração. Bons estudos a todos! Objetivos Reconhecer as contribuições da abordagem clássica. Identifi car as contribuições das teorias contem- porâneas da Administração. Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 39 Abordagem clássica da Administração E studamos na primeira unidade as contribuições dos primórdios da Adminis- tração e os avanços no pensamento administrativo que ocorreram a partir da Revolução Industrial, período no qual os primeiros textos sobre Admi- nistração ganharam força. Nesta seção, vamos estudar os primeiros cinquenta anos da evolução da Administração como Ciência. As abordagens tradicionais da administração Ênfase nas tarefas Administração Científica (1903) Frederick Taylor Franck Gilbreth Teoria das Relações Humanas (1932) Elton Mayo Kurt Lewin Organização Burocrática (1947) Max Weber Administração Científica (1911) Henri Fayol Ênfase na estrutura Ênfase nas pessoas Unidade 2 Introdução à Gestão Pública40 Figura 1 – Síntese da abordagem clássica da Administração Adaptado de: Chiavenato (2004, p. 37). Observe que qualquer organização (independente do seu porte e da nature- za das suas atividades) precisa ser administrada para sobreviver, concorda? A organização na qual você trabalha é formada por recursos fi nanceiros e físicos, por pessoas, por tecnologias e pelo conjunto de conhecimentos e de informa- ções circulantes (JACOBSEN; LORETTO NETO, 2009), os quais precisam ser gerenciados da melhor forma possível para que os resultados esperados sejam obtidos. Com esse entendimento em mente, vamos iniciar o estudo das teorias administrativas, começando pela Administração Científi ca. Em seguida, estuda- remos a Escola de Relações Humanas e depois a Teoria da Burocracia de Max Weber. Cada uma dessas abordagens enfatiza um aspecto da organização, as quais estão apresentadas na Figura 1. Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 41 Administração Científi ca Vocês devem lembrar que iniciamos a primeira unidade com algumas ideias das principais fi guras dessa escola, que são Taylor e Fayol. Taylor é considerado o Pai da Administração Científi ca e escreveu o primeiro livro sobre administração, inaugurando a teoria administrativa (CHIAVENATO, 2004). Em sua obra, Taylor propunha sua fi losofi a de administração, que com- preendia quatro princípios (MAXIMIANO, 2008, p. 31): � O objetivo da boa administração era pagar salários altos e ter baixos custos de produção; � Com esse objetivo, a administração deveria aplicar métodos de pesquisa para determinar a melhor maneira de executar tarefas; � Os empregados deveriam ser cientifi camente selecionados e treinados, de maneira que as pessoas e as tarefas fossem compatíveis; � Deveria haver uma atmosfera de íntima e cordial cooperação entre a administração e os trabalhadores, para garantir um ambiente psicológico favorável à aplicação desses princípios. Para colocar em prática os seus princípios, Taylor fazia os estudos de tempos e movimentos e cronometrava os movimentos dos trabalhadores e os dividia nas tarefas que as compunham, as quais eram chamadas unidades básicas de trabalho. Taylor analisava essas unidades procurando encontrar a melhor forma de executá-las de combiná-las para a tarefa maior. O pagamento era feito por peças produzidas, aumentando a efi ciênciado processo produtivo. As ideias de Taylor e seus seguidores foram recebidas com entusiasmo pelas indústrias da época, embora tenham sido alvo de críticas, principalmente entre os trabalhadores e a imprensa. As principais críticas eram fundamentadas no receio de que a efi ciência provocasse o desemprego e que o uso da técnica da Administração Científi ca fosse uma estratégia para o operário trabalhar mais e ganhar menos. Apesar das críticas, as ideias de Taylor foram levadas às indús- trias da época que passaram a utilizar técnicas, como estudos de tempos e mo- vimentos, descrição de cargos, organização e métodos, engenharia de efi ciência e racionalização do trabalho (MAXIMIANO, 2008). Henry Ford é considerado o introdutor da produção em massa de automó- veis, seguindo as ideias de Taylor. Um exemplo conhecido da aplicação dos princípios da Administração Científi ca, segundo Jacobson e Moretto Neto (2009, p. 51), é a “fábrica que Henry Ford construiu para fazer a produção em série do Modelo T – produzido por 19 anos (1908–1927) e conhecido no Brasil como Ford Bigode. Seu sistema de produção esteve baseado em plata- formas volantes (vagões) que transportavam as peças de um lugar para outro na linha de montagem. Os operários podiam permanecer em seus postos de trabalho ganhando tempo na fábrica por se moverem o mínimo possível”. Unidade 2 Introdução à Gestão Pública42 Taylor foi bastante criticado, principalmente porque entendia que o empre- gado era motivado somente pelo ganho material e fi nanceiro. Os argumentos utilizados nas críticas são resumidos por Jacobson e Moretto Neto (2009, p. 53) da seguinte forma: � Taylor ignorava os fatores psicológicos e sociais; é preciso considerar mais do que a variável econômica na natureza humana; � As tarefas, reduzidas a um conjunto de rotinas, podiam levar o operário ao tédio, à apatia e, consequentemente, a problemas de qualidade de vida. Além disso, a falta de visão do todo e a ausência de habilidades em outras atividades conduziriam a problemas futuros; e � Os sindicatos se opuseram à aplicação de tais técnicas, já que os padrões impostos e as gratifi cações poderiam ser usados para explorar os traba- lhadores. Afi nal, na opinião dos sindicatos, o trabalhador era visto apenas como instrumento de produção que integrava uma máquina. Esses aspectos demonstram uma abordagem de sistema fechado, que visuali- zava somente o que acontecia dentro da organização. Mais adiante vamos estudar a infl uência de fatores externos nas atividades de uma organização. No entanto, vale ressaltar que embora os princípios de Taylor tenham sido focados somente nas atividades operacionais, são considerados, até hoje, uma base signifi cativa para o desenvolvimento da Teoria Administrativa. Enquanto Taylor se preocupava com o trabalho de cada operário no chão de fábrica, na Europa começava outro movimento com foco nos aspectos gerais da administração e da composição estrutural das empresas. O trabalho de Henri Fayol foi considerado uma das maiores contribuições para o campo da gerência e da administração. Seus estudos foram realizados na mesma época que o de Taylor, sendo que os de Taylor começaram no nível operacional (ofi cinas das fábricas) e Fayol começou nos níveis organizacionais de cúpula administrativa. Ele demonstrou a aplicabilidade de seus princípios tanto em indústrias como em organizações governamentais (KWASNICKA, 2009). Fayol foi o pioneiro no reconhecimento de que a administração deveria ser vista como uma função separada das demais funções da empresa. Para ele, o administrador não deveria se envolver com detalhes técnicos da produção, pois estaria negligenciando a função de gerenciar a organização como um todo. Com isso, Fayol ajudou a tornar mais nítido o papel e a importância dos executivos de nível mais alto na hierarquia da organização (MAXIMIANO, 2008). Fayol publicou seu livro “Administração Industrial Geral”, em 1916, e acredi- tava que toda empresa é composta de seis funções básicas: fi nanceira, técnica, comercial, contábil, de segurança e administrativa; sendo a função administrativa aquela que coordena e integra todas as demais funções. Com o foco no trabalho do dirigente, Fayol criou 14 princípios que deveriam ser seguidos para que a administração seja efi caz: Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 43 1) Divisão de trabalho, a designação de tarefas específi cas para cada indivíduo, resultando na especialização das funções e separação dos poderes; 2) Autoridade e responsabilidade, sendo a primeira o direito de mandar e o poder de se fazer obedecer, e a segunda, a sanção – recompensa ou penali- dade – que acompanha o exercício do poder; 3) Disciplina, o respeito aos acordos estabelecidos entre a empresa e seus agentes; 4) Unidade de comando, de forma que cada indivíduo tenha apenas um superior; 5) Unidade de direção, um só chefe e um só programa para um conjunto de operações que visam ao mesmo objetivo; 6) Subordinação do interesse individual ao interesse geral; 7) Remuneração do pessoal, de forma equitativa e com base tanto em fatores externos quanto internos; 8) Centralização, o equilíbrio entre a concentração de poderes de decisão no chefe, sua capacidade de enfrentar suas responsabilidades e a iniciativa dos subordinados; 9) Cadeia de comando (linha de autoridade), ou hierarquia, a série dos chefes desde o primeiro ao último escalão, dando-se aos subordinados de chefes diferentes a autonomia para estabelecer relações diretas; 10) Ordem, um lugar para cada pessoa e cada pessoa em seu lugar; 11) Equidade, o tratamento das pessoas com benevolência e justiça, não ex- cluindo a energia e o rigor quando necessários; 12) Estabilidade do pessoal, a manutenção das equipes como forma de promo- ver seu desenvolvimento; 13) Iniciativa, que faz aumentar o zelo e a atividade dos agentes; e 14) Espírito de equipe (MAXIMIANO, 2008, p. 35). Leituras complementares Unidade 2 Introdução à Gestão Pública44 Nesses princípios, Fayol procurou contemplar os cinco elementos primários do processo administrativo, que vêm sendo utilizados até hoje: planejamento, organização, direção, coordenação e controle (KWASNICKA, 2009). Assim como aconteceu com a teoria de Taylor, a de Fayol também recebeu críticas, principalmente porque “os princípios defi nidos por ele foram interpre- tados como verdades universais, embora o desejo do autor era de que fossem utilizados de modo fl exível no contexto organizacional” (JACOBSEN; MORETTO NETO, 2009, p. 57). Outra crítica era a obsessão pelo comando, pois Fayol focou seus estudos na unidade de comando, na autoridade e na responsabilidade. Em síntese podemos dizer que a visão científi ca de Taylor se caracterizava por enfatizar as tarefas realizadas pelo operário, enquanto Fayol destacou a estrutura que a organização deve possuir para ser efi ciente, partindo das necessidades e da atuação do administrador. Assim, as contribuições de ambos se completam, mas faltou uma abordagem essencial no funcionamento de uma organização, que são as pessoas. Vamos tratar desse assunto na próxima seção. Sugerimos a leitura dos livros de Taylor e Fayol, indicados a seguir, para aprender mais sobre seus princípios. FAYOL, Henri. Administração industrial e geral. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1978. TAYLOR, Frederic. Princípios de administração científi ca. São Paulo: Atlas, 1995. Escola de Relações Humanas As teorias até agora estudadas apresentavam como fundamentos a ideia do homo economicus e a necessidade de controlar os aspectos formais da organi- zação, dentro de uma visão mecanicista. Em resposta a essa perspectiva, foi desenvolvida a Experiência de Hawthorne, em 1932, conforme veremos a seguir. Tratava-se de uma pesquisa, com abordagem humanística, resultante de uma pes- quisa desenvolvida ao longo da Administração Científi ca de Taylor, tendo como mentores o casal Lilian e Frank Gilbret e Mary Parket Follet, considerada a grande dama da Administração.Esse estudo foi denominado Estudos de Hawthorne. Vale a pena conhecermos os detalhes dessa pesquisa para compreendermos melhor os efeitos dos seus resultados nas teorias que haviam sido construídas até então. Observe a seguir esses detalhes: Homo economicus Segundo a ideia de homo economicus, as pessoas são in- fl uenciadas exclusivamente por recompensas salariais, econômi- cas e materiais. Assim, o homem procura o trabalho, não porque gosta dele, mas como um meio de ganhar a vida por meio do salário que o trabalho proporcio- na (CHIAVENATO, 2004). Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 45 Bateman e Snell (1998), apud Jacobson e Moratto Neto (2009, pp. 59- 61) citam alguns detalhes do referido projeto: a Western Eletric Com- pany, de Chicago, fabricante de equipamentos de comunicação (para a Bell Telephone), contratou uma equipe de pesquisadores de Harvard, comandada por Elton Mayo, os quais deveriam investigar a infl uência das condições físicas de trabalho na produtividade e na efi ciência dos trabalhadores em uma das fábricas da empresa. Esse projeto de pesquisa (1927 a 1932) forneceu os dados mais inte- ressantes e controversos da história da Administração. Para termos uma ideia, durante o primeiro estágio da pesquisa foram feitos experi- mentos com a iluminação, em que o nível de luminosidade da fábrica era alterado para se determinarem os efeitos dessa mudança sobre o desempenho das pessoas. No entanto, nada foi detectado, concluindo-se, no entanto, que os trabalhadores desempenhavam e reagiam diferentemente, porque os pesquisadores os estavam observando – o que foi chamado de efeito de Hawthorne –, pois signifi cava que a direção da organização estava mais interessada e preocupada com eles. A segunda fase ocorreu na sala de relés elétricos, onde seis mulheres foram colocadas pelos pesquisadores para trabalhar em um local dife- rente do seu, em uma sala menor, com iluminação mais intensa, ob- tendo uma forma de pagamento diferenciada, com direito a ter peque- nos intervalos de descanso e receber lanches nesses intervalos. Essas mulheres podiam, ainda, conversar e interagir durante o trabalho. Os pesquisadores perceberam que, nessas condições, tais trabalhadores produziam mais, já que estavam trabalhando mais satisfeitas. Na fase seguinte, os trabalhadores foram entrevistados buscando-se obter suas opiniões e atitudes em relação às punições e formas de pagamento aplicadas pelos superiores. Nessa pesquisa, descobriu-se a presença da organização informal dentro da organização formal, que se manifestava por uma variedade de padrões de interação não for- mais criados pelos próprios trabalhadores. Já na quarta fase, os pesquisadores passaram a analisar a organização informal. Nesses termos, os pagamentos eram feitos de acordo com a produção do grupo, e não mais individualmente. Como resultado, observou-se que os trabalhadores tornaram-se mais solidários entre si, cooperando para que o grupo produzisse mais. Mayo e sua equipe de pesquisadores puderam concluir que o nível de produção é intensamente determinado pela expectativa do grupo, pelos benefícios e pela atenção que recebem da organização e pela interação com seu grupo informal. Autor- realização Status - Estima Sociais Segurança Fisiológicas Unidade 2 Introdução à Gestão Pública46 Com o impacto das conclusões da Experiência de Hawthorne, os conceitos de organização formal, disciplina, departamentalização, etc. deram lugar para novas abordagens como organização informal, liderança, comunicação, motivação, grupos sociais, recompensas simbólicas, etc. O conceito de homo economicus foi substituído pelo de homo social, ou seja, o homem voltado para a vida em sociedade e em grupos sociais. Em consequência, surgiram os cursos de relações humanas no trabalho, voltados aos supervisores de primeira linha, a fi m de melhorar o tratamento dado às pessoas e propiciar um ambiente psicológico de trabalho mais favorável e amigável (CHIAVENATO, 2004). Outro grande colaborador do movimento da Escola de Relações Humanas foi Abraham Maslow, com a Teoria da Motivação Humana, que defi ne em cinco os níveis de necessidades dos seres humanos, representadas por uma pirâmide, mostrando a sua hierarquia (ver Figura 2). Figura 2 – Hierarquia de necessidades humanas de Maslow Fonte: Maximiano (2008, p. 235). As necessidades fi siológicas são aquelas relacionadas a ter roupas, abrigo, alimentação, conforto físico, sexo, além de outras. As necessidades de segurança são aquelas que atendem a família do trabalhador, como ter planos de saúde, de aposentadoria, higiene e segurança no trabalho. As necessidades sociais dizem respeito à participação em grupos e a estar integrado à família. As necessidades de autoestima dizem respeito ao desejo do indivíduo de demonstrar a sua ca- pacidade profi ssional e a sua expectativa de receber recompensas sociais e pro- fi ssionais. Finalmente, a necessidade de autorrealização envolve a preocupação com o desenvolvimento de trabalhos mais signifi cativos e o desenvolvimento profi ssional (JACOBSEN; MORETTO NETO, 2009). Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 47 De acordo com Maslow (MAXIMIANO, 2008, p. 235): � As necessidades fi siológicas estão na base da hierarquia. As pes- soas procuram satisfazê-las antes de se preocupar com as de nível mais elevado. � Uma necessidade em qualquer ponto da hierarquia precisa ser aten- dida antes que a necessidade de nível seguinte se manifeste. Se uma necessidade não for satisfeita, a pessoa fi cará estacionada nesse nível de motivação. � Uma vez atendida, uma necessidade deixa de se fazer sentir. A pes- soa passa a ser motivada pela ordem seguinte de necessidades. � As pessoas estão num processo de desenvolvimento contínuo. As pessoas tendem a progredir ao longo das necessidades, buscando atender uma após outra, e orientam-se para a autorrealização. � Uma necessidade pode predominar sobre as demais, devido a fatores como idade, meio social ou personalidade. Por exemplo, a autoafi r- mação é predominante na juventude. O trabalho de Maslow foi muito relevante para a Ciência Administrativa e vem sendo aplicado até hoje nas organizações, em especial, na gestão de pessoas. O desafi o do administrador é utilizar estratégias que contribuam para a satisfação das necessidades dos indivíduos e das organizações. Em decorrência dos estudos apresentados anteriormente, surgiram outras teorias motivacionais e de liderança, como a Teoria X e Y de Douglas McGregor, a teoria situacional e tantas outras que serão apresentadas na seção que trata das abordagens contemporâneas da Administração e que serão aprofundadas na disciplina Comportamento Organizacional. Mas, a Escola de Relações Humanas também recebeu críticas, principalmente pelo fato de deixar de lado os aspectos racionais do trabalho. Deparamo-nos, ago- ra, com duas escolas em que cada uma enxerga um lado da organização. Então, o desafi o é juntar todas as perspectivas em uma só teoria. Será que isso é possível? Vamos estudar as outras escolas e descobriremos aspectos muito interessantes. Unidade 2 Introdução à Gestão Pública48 Teoria da Burocracia A Teoria da Burocracia enfatiza a estrutura organizacional. Voltando à Figura 1, vamos perceber que já estudamos as contribuições de Henri Fayol, que também enfoca a estrutura da organização. Vamos ver quais as novidades que a teoria da burocracia nos apresenta. Os estudos do sociólogo alemão Max Weber foram traduzidos em 1947 para a língua inglesa e provocaram o surgimento da Teoria da Burocracia na Admi- nistração. Para Weber (MAXIMIANO, 2004, p. 40), “a burocracia é a organização racional e efi ciente por excelência. Ele achava que o século XX seria o século das burocracias”. A burocracia surgiu e se consolidou em decorrência das limitações apre- sentadas pelas escolas anteriores, pelo crescente tamanho e complexidade das empresas e pela consolidação da sociedade consumista. A Teoria da Burocracia está estruturada em seis dimensões,segundo Chiave- nato (2004, p. 41): 1) Divisão do trabalho: uma sistemática divisão do trabalho para permitir alto grau de especialização profi ssional e pessoas tecnicamente qua- lifi cadas. Os cargos são fragmentados em tarefas simples, rotineiras e bem defi nidas. 2) Hierarquia de autoridade: os cargos são arranjados, organizados e remu- nerados em uma hierarquia, onde cada nível é supervisionado e con- trolado pelo nível superior. A autoridade é bem defi nida e se estrutura sob forma escalar ou de pirâmide, desde o topo até a base. 3) Regulamentação: normas, regras e procedimentos formais e escritos que, juntos com a estrutura de autoridade, permitem a coordenação e asseguram uniformidade, eliminando decisões arbitrárias e regulando e controlando as ações dos empregados. 4) Comunicações formalizadas: todas as comunicações são feitas por meios escritos e documentados. 5) Impessoalidade: a ênfase é colocada nos cargos e não nas pessoas, para assegurar que as regras e os controles sejam aplicados uniformemente, evitando envolvimentos com pessoas e preferências pessoais para asse- gurar continuidade, independente da rotatividade das pessoas. 6) Competência profi ssional: a admissão e o encarreiramento são baseados na competência técnica e profi ssional, mediante concursos ou provas para seleção. Com algum tempo de serviço, o profi ssional segue carreira dentro da organização, para promoção, progresso e acesso na escala hierárquica. Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 49 A teoria burocrática tem semelhanças com a abordagem de Fayol, no entanto, existem diferenças, visto que este se preocupou mais com detalhes e especifi ci- dades e sua orientação era voltada para o ambiente interno da organização. Já Max Weber estudou o contexto social mais amplo, identifi cando o fenômeno da autoridade racional-legal nas sociedades modernas. Esse tipo de organização foi, durante a era da industrialização clássica, o mo- delo ideal para as grandes organizações enquanto funcionavam em um ambiente estável e de poucas mudanças. As burocracias eram encontradas em organiza- ções industriais, políticas, religiosas, educacionais, militares, dentre outras. No entanto, com o passar do tempo, as rápidas mudanças e as inovações constantes passaram a requerer organizações mais ágeis, com menor grau de predominância das dimensões burocráticas (CHIAVENATO, 2004). Por isso, a burocracia passou a ser vista como uma organização na qual os papéis se multiplicam, impedindo ações rápidas e efi cientes. O termo é empregado por grande parte da população hoje em dia de forma pejorativa, referindo-se à inefi ciência organizacional. Apesar dos benefícios trazidos pela teoria burocrática, ela ainda está muito voltada para dentro da organização. Além disso, não leva em conta a organiza- ção informal e a imprevisibilidade do comportamento humano e das situações diárias (JACOBSEN; MORETTO NETO, 2009). Unidade 2 Introdução à Gestão Pública50 Abordagens contemporâneas da Administração A Segunda Guerra Mundial foi um marco na ciência administrativa, pois a partir dela surgiram concepções com características próprias das mudanças e inovações tecnológicas dos últimos anos. As escolas que surgiram foram a Ad- ministração Quantitativa, o Comportamento Organizacional, a Teoria dos Siste- mas, a Gestão da Qualidade Total, dentre outras. Veremos cada uma delas em detalhes a seguir. Abordagem quantitativa A abordagem quantitativa começou a ser utilizada na década de 1940 pelos responsáveis pelo planejamento militar para lidar com problemas de defesa e de logística. Nesse sentido, Robins (2005, apud JACOBSEN; MORETTO NETO, 2009, p. 84) comenta que, “durante a Segunda Guerra Mundial, os militares ingleses e americanos empregaram equipes de matemáticos, físicos e estatísticos para conceber métodos para a solução de problemas complexos de logística”. Daí, surgiram algumas técnicas que são utilizadas até hoje, como a pesquisa opera- cional, a teoria estatística da decisão, a programação linear, a teoria das fi las, a teoria dos jogos, dentre outras. Escola do comportamento organizacional Nas décadas de 1950 e 1960, percebeu-se que os conceitos das áreas de Sociologia e Psicologia passaram a incorporar defi nitivamente o conteúdo da Administração, dando suporte para explicar e compreender o comportamento do indivíduo no ambiente de trabalho (JACOBSEN; MORETTO NETO, 2009). Nesse contexto, surgiram várias propostas, como os fatores higiênicos e motivacionais de Frederick Herzberg, a Teoria X e Y de Douglas McGregor e os Estilos de Ad- ministração defi nidos por Likert. Estudamos na seção relativa à Escola de Relações Humanas as contribuições da Experiência de Hawthorne e a pirâmide da Hierarquia das Necessidades de Maslow. Vejamos agora a contribuição de Frederick Herzberg, idealizador dos fatores higiênicos e motivacionais, também chamada de teoria dos dois fatores. Segundo Maximiano (2006), essa teoria divide os fatores que infl uenciam o desempenho em dois grupos: os fatores motivacionais, que são os que se rela- cionam com o conteúdo do trabalho; e os fatores higiênicos, que se relacionam ao ambiente do trabalho. Para que você entenda melhor a diferença entre ambos, apresentamos os exemplos citados por Maximiano (2006, p. 268). Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 51 Os fatores motivacionais estão relacionados ao próprio trabalho e são também chamados de fatores intrínsecos. São exemplos: � Conteúdo do trabalho em si (natureza das tarefas e sua sintonia com os interesses e qualifi cações da pessoa). � Sentido de realização de algo importante. � Exercício de responsabilidade. � Possibilidade de crescimento. � Orgulho e sentimento de prestígio decorrentes da profi ssão. � Reconhecimento pelo trabalho bem feito. Os fatores higiênicos são relacionados com as condições de trabalho e são também chamados fatores extrínsecos. São exemplos: � Estilo de supervisão do chefe. � Relações pessoais com os colegas. � Salário. � Políticas de administração de pessoal. � Condições físicas e segurança do trabalho. Os fatores higiênicos (ambiente de trabalho) produzem satisfação ou insatis- fação com o próprio ambiente, mas não são fatores motivadores para o traba- lho. Por exemplo, quanto melhor for as relações entre os colegas de trabalho e o tratamento recebido pelo supervisor, melhor será o clima organizacional. Ou seja, contribui para a satisfação do funcionário em seu local de trabalho. Por outro lado, somente as boas condições ambientais não são sufi cientes para levar o indivíduo a sentir-se mais motivado para o trabalho. Segundo a Teoria de Herzberg (MAXIMIANO, 2006, p. 269), para que haja motivação, é preciso que a pessoa esteja sintonizada com seu trabalho, que enxergue nele a possibilidade de exercitar suas habilidades ou desenvolver suas aptidões. Autor- realização Estima Sociais Fatores motivadores Fatores higiênicos Segurança Fisiológicas Unidade 2 Introdução à Gestão Pública52 Fazendo um comparativo da Teoria de Herzberg com a Hierarquia de Ne- cessidades de Maslow, os fatores higiênicos estão relacionados às necessidades básicas, de segurança e sociais, e os fatores motivacionais estão relacionados com a necessidade de estima e de autorrealização. Veja a Figura 3 para compreender melhor essa relação. Figura 3 – Comparativo entre a hierarquia de necessidades de Maslow e a Teoria dos dois fatores de Herzberg Fonte: Adaptado de Maximiano (2006, p. 270). Como estratégia para proporcionar a motivação para o trabalho, Herzberg propõe a técnica do enriquecimento do trabalho, que consiste em “incrementar os fatores motivacionais de um cargo ou de um grupo de cargos, cujos ocupantes tenham responsabilidade pela mesma tarefa” (MAXIMIANO, 2006, p. 270). O enriquecimento de tarefas pode ser feito, por exemplo, através de delegação de atribuições adicionais, como o treinamento de novos colegas, o desenvolvimento de novas habilidades, etc. Outra teoria quesurgiu com a abordagem do comportamento organizacional é a Teoria X e Teoria Y, proposta pelo psicólogo Douglas McGregor, segundo o qual a natureza humana se apresenta de duas formas: � “Teoria X: interpreta o trabalhador como um ser preguiçoso e irresponsável que, portanto, requer controle e motivação constantes; e � Teoria Y: interpreta o trabalhador como alguém que quer trabalhar e que tem condições de se autodirigir e autocontrolar, exigindo do administrador somente ações no sentido de encorajá-lo a participar e de oferecer oportuni- dades para o desafi o e iniciativa individuais” (JACOBSEN; MORETO NETTO, 2009, p. 89-90) Amplitude do comportamento O gerente decide e comunica a decisão O gerente “vende”a decisão O gerente apresenta ideias e promove debates O gerente apresenta uma decisão possível, sujeita a mudança O gerente apresenta o problema, pede sugestões e toma a decisão O gerente define limites, dentro dos quais o grupo decide O gerente permite que a equipe trabalhe sozinha dentro dos limites Liderança orientada para o chefe Uso da autoridade pelo gerente Área de liberdade dos subordinados Liderança orientada para os subordinados Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 53 Cada uma dessas teorias conduz a um estilo de liderança. Os líderes que pensam como a Teoria X, possuem um comportamento mais autoritário e os que acreditam na Teoria Y têm um comportamento mais democrático. Mc Gregor (JACOBSEN; MORETTO NETO, 2009, p. 91) defendia a instituição da Teoria Y, pois compreendia que os administra- dores que criam condições para que seus colaboradores possam atingir melhor os seus objetivos, encorajando-os e lhes oferecendo oportunidades, podem conseguir deles um desempenho superior. Para ele, os administra- dores deveriam, sobretudo, usar o lado psicológico do colaborador a favor da organização. A discussão entre os psicólogos e sociólogos sobre qual o melhor estilo de lide- rança (autocrata ou democrata) conduziu ao desenvolvimento de várias teorias, entre as quais se destaca o Modelo de Liderança Situacional de Tannembaum e Schmidt (MAXIMIANO, 2006). Os autores desenvolveram suas ideias através de uma “régua” dos estilos de liderança, dentro da qual a autoridade do gerente e a liberdade dos integrantes da equipe se combinam. Veja a Figura 4. Figura 4 – Modelo de liderança de Tannembaum e Schmidt Fonte: Maximiano (2006, p. 287). O princípio básico da teoria situacional é que não existe uma forma ide- al para liderar. A efi cácia do líder reside na sua capacidade de ajustar-se a determinada situação. Informação Energia Recursos materiais Transformação ou processamento Retroação Ambiente Ambiente Entradas Saídas Informação Energia Recursos materiais Unidade 2 Introdução à Gestão Pública54 Outras teorias sobre liderança são encontradas na literatura, mas vocês irão estudá-las com mais detalhes na disciplina Comportamento Organizacional. Escola Sistêmica Até o momento, as teorias apresentadas estavam mais preocupadas em ex- plicar e dominar os elementos internos de uma organização. A Escola Sistêmica, também chamada de Teoria de Sistemas, é um marco na teoria da administração, pois representa o primeiro esforço para estabelecer uma relação entre as partes que compõem uma organização e entre a organização e o seu meio ambiente. O precursor dessa teoria é Karl Ludwing Von Bertalanffy, que, em seus estudos em biologia, verifi cou que muitos princípios e conclusões de algumas ciências têm validade para várias outras. Segundo essa teoria (CHIAVENATO, 2004, p. 51), cada organização vive e opera em um ambiente, do qual recebe insumos e entradas (como materiais, energia, informação) e no qual coloca seus pro- dutos ou saídas (como produtos, serviços, informação). Nesse ambiente, existem os mercados com os quais a organização se relaciona e interage e dos quais é dependente. Assim, a organização é visualizada como um sis- tema operando em um meio ambiente e dependente dele para obter seus insumos e colocar seus produtos/serviços. Para melhor compreensão, observe a Figura 5. Figura 5 – Representação de um sistema Fonte: Adaptado de Jacobsen e Moreto Netto (2009, p. 96). Segundo essa concepção de sistema, o funcionamento do sistema organi- zacional está baseado em um processo dinâmico que transforma insumos em produtos ou serviços e infl uencia e é infl uenciado pelo seu meio externo. Como exemplo, podemos citar o fornecedor (ambiente externo) que entrega uma mer- cadoria sem a qualidade requerida. O produto ou o serviço que for usar aquela mercadoria defeituosa também não será entregue ao cliente/usuário (ambiente externo) com a qualidade que foi prometida. Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 55 Uma das ideias mais importantes do enfoque sistêmico é a inter-relação entre vários subsistemas. Por exemplo, uma rodovia é parte de um sistema de transporte, que abrange veículos, motoristas, postos de serviços, praças de pedágio, empresa de manutenção e muitos outros componentes. Da mesma forma, todas as organizações são sistemas que podem fazer parte de outros sistemas maiores (MAXIMIANO, 2008, p. 42). Gestão da Qualidade Total A Gestão pela Qualidade Total é outra abordagem com características integra- tivas, que busca a satisfação dos consumidores/usuários pelo uso de ferramentas e técnicas destinadas a atingir alta qualidade em bens e serviços. Essa abordagem surgiu durante a Segunda Guerra Mundial com a adoção, pelas Forças Armadas americanas de procedimentos de inspeção por amostragem para garantir alto padrão de qualidade dos produtos que utilizava. No entanto, a cultura da qualidade nas organizações ganhou força no Japão, cujo modelo é uma combinação dos princípios e técnicas da qualidade total, da administração científi ca e das tradições culturais japonesas. Os princípios gerais da Gestão da Qualidade são apontados por Bateman e Snell (1998, apud JACOBSEN; MORETO NETTO, 2009, p. 108), como: � Faça certo a primeira vez para eliminar retrabalhos. � Escute e aprenda com seus clientes e colaboradores. � Desenvolva trabalho em equipe com confi ança e respeito mútuo. � Faça das melhorias contínuas um assunto diário. Os precursores do movimento da Gestão da Qualidade são Walter A. Shewart, William Edwards Deming, Joseph Juran, Arnald Feigenbaum, Joseph M. Juran, Philip B. Crosby, Kaoru Ishikawa e Genichi Taguchi (CARVALHO; PALADINI, 2005). No Brasil, destaca-se a fi gura de Vicente Falconi Campos (CAMPOS, 1992) e a Fundação Nacional da Qualidade. Leitura complementar Unidade 2 Introdução à Gestão Pública56 O movimento da Gestão da Qualidade originou programas que hoje são utili- zados nos mais diversos setores, como: Programa 5S; Certifi cação ISO 9001:2008; Programa Seis Sigma; Prêmio Nacional da Qualidade; Prêmio Nacional da Gestão Pública, dentre outros. Na disciplina Gestão da Qualidade vocês irão conhecer e estudar essas ferramentas. Sugerimos a leitura do capítulo 1 (Histórico da Gestão da Qualidade) do livro de CARVALHO, Marly Monteiro e PALADINI, Edson Pacheco (Coord.). Gestão da qualidade: teoria e casos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Os autores fornecem uma visão histórica da trajetória desta área, apresentando os principais marcos teóricos neste campo. Também dis- cutem o papel dos profi ssionais da área da qualidade nas organizações e as perspectivas futuras. Resumo Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 57 Estudamos nesta unidade as contribuições e os diferentes enfoques que serviram de base para a formação da Ciência da Administração, os quais foram divididos em duas abordagens: a clássica e a contemporânea. As contribuições da abordagem clássica estão focadas nas tarefas (Administração Científi ca de Taylor), na estrutura (Administração Científi ca de Fayol e a Escola Burocrática de Max Weber) e nas pessoas (Escola de Relações Humanas, com destaque para a experiência de Hawthorne). Você também viu que a teoria da burocracia infl uenciou fortementea Gestão Pública. Já a abordagem contemporânea foca as contribuições da Matemática, da Teoria Geral de Sistemas, da Escola Comportamental (Teoria X e Y de Douglas McGregor, a Teoria dos dois Fatores de Herzberg e a Teoria Situacional da Liderança) e da Gestão da Qualidade. Todas elas apresentam ferramentas e concepções que marcam as transformações vividas pela Ciência da Administração nos últimos tempos. Unidade 2 Introdução à Gestão Pública58 Referências CAMPOS, Vicente Falconi. TQC – Controle da qualidade total (no estilo japo- nês). Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1992. CARVALHO, Marly Monteiro; PALADINI, Edson Pacheco (Coord.). Gestão da qualidade: teoria e casos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2. ed. Rio de Ja- neiro: Elservier, 2004. JACOBSEN, Alessandra de Linhares; MORETTO NETO, Luis. Teorias da Admi- nistração II. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasilia]: CAPES: UAB, 2009. KWASNICKA, Eunice Lascava. Introdução à administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008. TAYLOR, Frederic. Princípios de administração científica. São Paulo: Atlas, 1995. Anotações Unidade 2 Introdução à Gestão Pública 59 Anotações Unidade 2 Introdução à Gestão Pública60 As tipologias da Administração Pública 3 Unidade 1 2 3 4 Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 63 Apresentação Caro estudante, Nesta terceira unidade, vamos estudar conceitos importantes sobre o universo complexo e dinâmico que envolve a Administração Pública. Vamos abordar as tipologias (ou reformas) da Administração Pública, passando, inicialmente, pela dominação tradicional, chamada de Administração Pública Patrimonialista. Em seguida, estudaremos a dominação racional-legal que caracteriza a Administração Pública Burocrática. Finalmente, passaremos pela nova abordagem da Gestão Pública, também chamada de Administração Pública Gerencial. A maioria des- sas reformas teve seu foco na estrutura organizacional do aparelho do Estado e nos instrumentos legais que defi niram e criaram órgãos e entidades, planos, carreiras e rotinas. A mais recente é o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GesPública), criado em 2005 com a fi nalidade de contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados e para o aumento da competitividade do País, mediante melhoria contínua da gestão, no rumo da excelência (BRASIL, 2009). Objetivos Reconhecer a Administração Pública como prática social. Identifi car as características da Administração Pública Patrimonialista. Identifi car os elementos da reforma burocrática. Indicar as características da Administração Pública Gerencial. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 65 Administração Pública como prática social Nas duas unidades anteriores, estudamos a evolução do pensamento admi- nistrativo. Nesta unidade, o desafi o é que você adquira um olhar mais abran- gente sobre o conceito de Administração, introduzindo a ideia de prática social, importante para sua ação futura como gestor público. Para melhor compreensão desse aspecto, vejamos as três perspectivas mais comumente encontradas nos estudos sobre gestão (REED, 1997): a técnica, a política e a crítica. Na abordagem técnica, a gestão é concebida a partir de estruturas racionais formalizadas e de sistemas de controle capazes de garantir a efi ciência, sob a coordenação de ações humanas. Em outras palavras, é um conjunto de conceitos e técnicas de como administrar. Essa abordagem foi predominante na Escola da Administração Científi ca de Taylor e Fayol, vistos na Unidade 2 do nosso livro. Na abordagem política, as estruturas organizacionais são vistas como resulta- do de processos dinâmicos e contínuos de negociações entre interesses, advindos de interpretações distintas de seus atores. Essa abordagem é uma contraposição ao tecnicismo da anterior. Junquilho (2010) ilustra essa abordagem enfatizando que as estruturas e os processos organizacionais deixam de representar o aspec- to predominante e dão lugar aos confl itos de interesses distintos dos membros organizacionais, em busca do alcance da coletividade. A perspectiva crítica considera a gestão como um mecanismo de controle que funciona para satisfazer o sistema econômico capitalista e para disseminar sua ideologia. Essa perspectiva foi inaugurada por Karl Marx, considerado um autor clássico e um dos fundadores do pensamento sociológico. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública66 Agora, você deve estar se perguntando: o que essas três perspectivas têm a ver com a Administração como controle social? Como podemos incorporá-las ao entendimento do que vem a ser a Administração ou Gestão Pública? Vamos utilizar a explicação de Junquilho (2010) para facilitar o entendimento. Se estudarmos a Gestão Pública utilizando somente uma das três perspectivas citadas anteriormente, teremos uma visão empobrecida dos fenômenos que ocor- rem à nossa volta. Embora seja muito importante compreender e dominar as técnicas de gestão, é preciso perceber que a organização está inserida em um contexto maior de confl itos históricos, sociais, políticos, culturais e econômicos de uma determinada realidade e que infl uenciam no dia a dia da gestão e dos resultados a serem alcançados. Assim, o caminho é compreendermos a Gestão Pública como prática social, capaz de integrar as questões inerentes às técnicas e ferramentas e aos dilemas éticos aos quais as organizações públicas e os seus membros são submetidos no dia a dia. Para você se certifi car de que compreendeu bem o que estamos estudando nesta unidade, propomos a seguinte atividade. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 67 Agora, que você compreendeu bem o conceito de Gestão Pública como prática social, deve estar pensando: será que a Gestão Pública sempre foi como se vê atualmente? Estudamos nas duas primeiras unidades que a atividade adminis- trativa sempre existiu, desde os primórdios da humanidade. No entanto, a Admi- nistração Pública é um fenômeno típico do Estado Moderno, nascido a partir dos meados do século XV. Até então, os governantes não separavam o bem público do bem privado. As reformas na Gestão Pública foram surgindo acompanhando as transformações do papel do Estado e as mudanças de objetivos do governo. Assim, é preciso fazer uma retrospectiva de como se dava esse processo e como hoje funciona em nosso país. São três as tipologias que caracterizam a evolução da Gestão Pública no Brasil: a Administração Patrimonialista, a Admi- nistração Burocrática e a Administração Gerencial. Vale salientar, conforme afi rma Bresser Pereira (2002, p. 6), que essas três formas se sucedem no tempo, sem que qualquer uma delas tenha sido inteira- mente abandonada. Para o autor, “as mudanças organizacionais e administrati- vas tendem a se mover em um ritmo mais lento do que as mudanças em níveis político e institucional”. Administração Pública Patrimonialista O patrimonialismo é uma herança da época feudal, vigente nas sociedades pré-democráticas e vigorou até o fi nal do século XIX. Nesse modelo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxi- liares, servidores, possuem status de nobreza real. Os cargos são considerados prebendas, ou seja, uma ocupação rendosa e de pouco trabalho. A coisa pública não é diferenciada da coisa pessoal. Em consequência, a corrupção e o nepotismo se tornam inerentes a esse tipo de administração. Entretanto, a evolução da sociedade, da democracia e do próprio Esta- do fi zeram com que a administração do bem público, em prol do interesse de poucos, deixasse de ser algo aceitável. Em decorrência, surge a necessi- dade de um modelo de Administração Pública que conseguisse eliminar essas disfunções administrativas. Daí, surge a Administração Pública Burocrática, na segunda metade do séculoXIX, na época do Estado liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. No contexto brasileiro, segundo Faoro (2001), o sistema patrimonialista de- monstra que o Estado e a Administração Pública tiveram origem como marcas perceptíveis de uma ética em que a apropriação da coisa pública se expressa especialmente nas práticas administrativas e estamentais. Para o autor, as tradi- ções portuguesas foram reproduzidas no Brasil por intermédio de Dom Pedro I, Unidade 3 Introdução à Gestão Pública68 desde o tempo do Império, quando se deu a reformulação do Estado brasileiro, por intermédio da Carta de 1824. Um dos problemas nessa época era que os re- presentantes da nação se preocupavam em representar seus próprios interesses, em detrimento dos interesses das bases eleitorais. Junquilho (2011) caracteriza a Administração Pública Patrimonial como aquela na qual: � Todos os cargos de governo que constituem suas estruturas admi- nistrativas estão sob o domínio pessoal (comunidade doméstica) de um soberano; � Os funcionários patrimoniais podem ascender a um cargo mediante concessão do mandatário, bem como pela compra ou arrendamento desses direitos, fazendo jus ao recebimento de benefícios; � O exercício de um governo é fortemente centralizado e dependente da economia baseada em atividades comerciais, empreendidas estas pessoalmente pelo mandatário; � A apropriação de parte das atividades comerciais é realizada por ter- ceiros, via imposição de tributos e concessões criadas pelo soberano; � As forças militares são fi éis e obedientes à autoridade arbitrária do soberano, inclusive para a expansão territorial de seus domínios; � O livre arbítrio do senhor, no exercício do poder decisório, é legitima- do socialmente pela crença ancestral (tradicional) de sua capacidade para possuí-lo. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 69 Essas características do Patrimonialismo deixaram marcas, como as apontadas por Fadul e Souza (2006), vejamos. � O clientelismo, caracterizado por uma relação pessoal com os clien- tes, sendo essa relação sustentada pelo vínculo de fi delidade pessoal e partidária. Em contrapartida a essa lealdade, são solicitados em- pregos, recursos políticos e/ou fi nanceiros, dentre outros, ofertados pelos patrões ou chefes políticos. � O populismo, caracterizado pelo contato direto entre o líder caris- mático e a massa urbana tem como principal mecanismo de governo um sistema de políticas ou métodos para a atração das classes sociais de baixo poder aquisitivo, como forma de angariar votos e prestígio. � O fi siologismo – está intrinsecamente ligado à corrupção política e refere-se a uma forma de relação de poder político em que as ações políticas e decisões são tomadas em troca de favores, favorecimentos e outros benefícios e interesses individuais. � O nepotismo, termo utilizado para designar o favorecimento de pa- rentes em detrimento de pessoas mais qualifi cadas, especialmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos. � O estatismo, defi nido como a tendência de se considerar o Estado como o ordenador da sociedade e considerado como a principal marca no relacionamento entre Estado e sociedade no contexto do patrimonialismo brasileiro. � O centralismo, que é um sistema de organização que leva à cen- tralização das decisões e da ação, consistindo num tipo de organi- zação política estruturalmente centralizada em que seu principal alicerce é o estamento burocrático – segmento social encarregado de assegurar o império do poder mediante o controle de todos os domínios da vida social. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública70 Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 71 Com o advento do capitalismo e da democracia, houve a necessidade da adoção de um novo paradigma capaz de combater o nepotismo e a corrupção e proteger o patrimônio público contra privatização do Estado. Esse cenário impõe à Administração Pública, a necessidade de desenvolver um tipo de administração que procure distinguir não apenas o político e o administrador público, mas também a separação entre o que é privado e o que é público (BRESSER PEREIRA; SPINK, 2006). Assim, surge a Administração Pública Burocrática, que estudare- mos na seção seguinte. Administração Pública Burocrática A Revolução Industrial e o surgimento do Estado liberal contribuíram para uma nova ótica sobre o papel do Estado, dando espaço ao surgimento do modelo burocrático, baseado na impessoalidade, no profi ssionalismo e na racionalida- de. Esse modelo foi uma resposta aos abusos e demais vícios experimentados pela Administração Pública. Disseminava-se uma ideia de desconfi ança prévia dos administradores por parte da sociedade, como uma reação ao modelo pa- trimonialista. Por essa razão, propôs-se uma instauração do poder proveniente da autoridade racional-legal (baseado na razão e na lei), em que se garantisse a efetividade da contenção de abusos. A Administração Pública Burocrática surge no Brasil na década de 1930, atra- vés da criação, pelo governo de Getúlio Vargas, do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), com a função de ser um agente modernizador dos processos administrativos, de acordo com o paradigma burocrático, promovendo a racionalidade e a efi ciência do aparelho do Estado. O DASP tinha como objetivo implantar critérios profi ssionais para o ingres- so, a promoção e o desenvolvimento de carreira no serviço público através da formação de uma política de administração de pessoal baseada no sistema de mérito. Além disso, objetivava supervisionar a Administração Pública e fi xar o orçamento nacional vinculado ao planejamento. A Administração Burocrática se destaca pela ideia de sua submissão ao direito, de racionalidade, de ponderação entre meios e fi ns e de precisão. A proposta é de realização de um controle rígido dos processos a priori, por exemplo, aque- les referentes à admissão de pessoal e às contratações a serem realizadas pelo poder público, baseando-se nos princípios da profi ssionalização, da carreira, da hierarquia, da impessoalidade e do formalismo (BRASIL, 1995). Em relação à profi ssionalização, opõe-se ao nepotismo, que caracterizava o modelo patrimonialista. Pode-se dizer que, de acordo com o modelo burocrá- tico, é atribuído um grande valor ao mérito do funcionário (meritocracia), os quais chegam ao cargo por meio de competição e ascensão profi ssional baseada em critérios de experiência e desempenho. São atributos do profi ssionalismo o trabalho remunerado e a divisão racional de tarefas. Outra característica que diz Leitura complementar Unidade 3 Introdução à Gestão Pública72 respeito tanto ao princípio da profi ssionalização como ao da impessoalidade é a separação das propriedades pública e privada e dos ambientes de vida pessoal e de trabalho. Ainda no que diz respeito ao profi ssionalismo, pode-se dizer que o modelo burocrático acolhe a ideia taylorista (estudada na segunda unidade do nosso livro) de maximizar o rendimento funcional através da separação das funções de planejamento e execução de tarefas. A impessoalidade signifi ca que os cargos pertencem à organização, e não às pessoas que os estão ocupando. Consequentemente, evita-se a apropriação individual do poder, a obtenção de benefícios em função da posição ocupada pelo profi ssional. A formalidade diz respeito à imposição de deveres e responsabilidades aos servidores públicos, à existência de uma hierarquia administrativa, aos proce- dimentos administrativos (documentados de forma escrita), à formalização de processos decisórios e das comunicações internas e externas (SECHI, 2009). A formalidade tem como objetivo garantir a continuidade do trabalho e a padroni- zação dos serviços prestados, evitando assim a discricionariedade. Observa-se que o modelo burocrático caracteriza-se por uma ideia de Admi- nistração submissa à lei, a ser exercida levando-se em conta elevados padrões de conduta moral. O objetivo que norteia esse pensamentoé o de defesa do interesse público, através de um conceito de integridade, com a redução da corrupção e maximização da democracia. Apesar de o modelo burocrático ser funcional para controlar a corrupção, que era o principal objetivo proposto quando de sua criação, a extrema racionalidade e o excesso de regulamentos do sistema acabaram por ocasionar efeitos negativos, como a lentidão de processos e a redução de efi ciência. Assista ao vídeo sobre Administração Pública Burocrática, no qual são apresentadas ideias simples que permitem uma boa compreensão do que estamos falando. <http://www.youtube.com/watch?v=mAmaaktSTTU> Ainda hoje, a palavra burocracia é usada de forma pejorativa para designar gargalos e lentidão de procedimentos, caracterizados pelo extremo formalismo, acabando por comprometer a efi ciência da ação administrativa. Assim, várias são as críticas feitas ao modelo, entre as quais são citadas: desmotivação dos funcionários, resistência às mudanças, abuso da senioridade como critério de Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 73 ascensão profi ssional e a grande separação entre o cidadão e o funcionalismo público, que acaba por não atender às necessidades e aos anseios dos usuários principais de seus serviços. Entretanto, Ferreira (1999) considera que o trabalho de Max Weber não pode ser considerado o criador de todas as mazelas da Administração Pública Burocrática. Ao contrário, esse modelo contribuiu signifi cativamente na fase de estruturação dos governos, quando buscou racionalizar as ações gover- namentais, criando princípios que foram considerados válidos. Além disso, o desenvolvimento do modelo burocrático se deu em condições em que se destacava uma sociedade de ritmo mais lento e mudanças menos frequentes. Assim, na sua época, os governos burocráticos foram capazes de grandes re- alizações, mas, ao longo do tempo, se afastaram de sua missão, tornando-se inefi cientes e funcionando com desperdício. Para Bresser Pereira (1997), a decadência da Administração Pública Burocrá- tica começou ainda no Regime Militar. Embora tenha valorizado importantes mecanismos, como a instituição do concurso público e treinamentos sistemáticos, a Administração Burocrática não adotou uma política de recursos humanos que suprisse a necessidade do Estado. Além disso, esse modelo se mostrou inefi ciente quando o Estado foi assumindo um número crescente de serviços sociais e econô- micos, como: a educação, a saúde, a cultura, a previdência e a assistência social, a pesquisa científi ca, a regulação do sistema econômico interno e das relações econômicas internacionais, a estabilidade da moeda e do sistema fi nanceiro, a provisão de serviços públicos e de infraestrutura. Assim, em resposta à expansão dessas funções econômicas e sociais do Es- tado, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia, emerge na metade do século XX, a Administração Pública Gerencial (BRESSER PEREIRA; SPINK, 2001), que estudaremos na seção seguinte. Antes, porém, você deverá realizar a seguinte atividade. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública74 Administração Pública Gerencial A partir da crise do modelo burocrático, apontada na seção anterior, junta- mente com outros fatores, como a globalização da economia, a nova dinâmica do mercado, a crise fi scal do Estado e o cada vez maior distanciamento entre as decisões da Administração e os interesses dos administrados, passou-se a eviden- ciar a necessidade de um modelo que propusesse a estruturação e a gestão da Administração Pública, baseado em valores de efi ciência, efi cácia e efetividade. Na segunda metade do século XX, como resposta à ampliação das funções eco- nômicas e sociais do Estado, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização, foi emergindo um novo modelo de Administração Pública, a chamada Administração Gerencial, ou nova Gestão Pública (BRESSER PEREIRA, 2001). Esse modelo tem como base a efi ciência e a qualidade na prestação de serviços públicos, além da redução de custos. Parte-se do pressuposto de que todo desempenho pode ser medido focando-se os resultados – que devem ser mensurados em comparação com as expectativas – e o cidadão benefi ciário, ou cidadão cliente. A ideia de avaliação de desempenho, entre outros princípios norteadores da Administração Pública Gerencial, teve como inspiração o uso de práticas de gestão provenientes da administração privada. Contudo, deve-se levar em conta certas diferenças, como o objetivo (de lucro, no caso das organizações privadas, e da realização do interesse público, no caso da Administração Pública) e a origem das receitas. É importante salientar que nenhum modelo de administração rompe totalmen- te com os preceitos do anterior, havendo sempre uma continuidade, sem que o modelo precedente seja abandonado. No caso da transição do modelo burocrático para o gerencial, houve um certo rompimento, mas foram conservados, de forma fl exibilizada, alguns princípios, como admissão por critérios de mérito, sistema estruturado e universal de remuneração, as carreiras, a avaliação de desempenho e o treinamento (BRASIL, 1995). Contudo, a principal mudança refere-se à forma de controle, que antes era realizado a priori e focava-se nos processos, passando a concentrar-se nos resul- tados e a ser feito a posteriori. Também, observa-se uma evolução no sentido de interesse público. Enquanto no modelo burocrático o interesse público acabava- -se misturando ao próprio interesse do aparato do Estado, no modelo gerencial o interesse público passa a ter como foco o atendimento das necessidades do cidadão, contribuinte de impostos e destinatário dos serviços públicos. A primeira iniciativa do governo brasileiro na busca pela Administração Geren- cial foi a criação, em 1995, do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. O plano foi elaborado pelo então Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, Senhor Luiz Carlos Bresser Pereira, contendo um conjunto de ações inerentes ao que foi chamado de “processo de reconstrução do Estado”. Um de seus principais objetivos era “modernizar e aumentar a efi ciência dos governos da União, dos Estados e municípios, bem como contribuir para o ajus- te fi scal destes, sugerindo enxugamentos de quadros de pessoal em excesso, a Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 75 fi xação de tetos de remuneração para servidores públicos e mudanças nas regras inerentes à aposentadoria e à previdência” (JUNQUILHO, 2011, p. 140). Neste cenário, a Administração Pública Gerencial passou a defender caracte- rísticas, tais como (JUNQUILHO, 2011): � A profi ssionalização dos servidores públicos; � A busca de controle de resultados por meio de indicadores de desempenho; � A descentralização administrativa; � A utilização de técnicas de gestão consagradas no setor privado da economia, como a satisfação do cidadão-cliente, a melhoria contínua, a fl exibilização de rotinas e procedimentos operacionais, a maior participação dos servidores nos processos decisórios; a valorização do gerente no lugar do administrador burocrático, dentre outras ferramentas; � A utilização mais racional de recursos públicos. No seio da Administração Pública Gerencial, Lima (2007) faz um relato da tra- jetória dos programas criados pelo governo brasileiro em busca da consolidação de um processo de Gestão Pública mais dinâmico e adequado aos novos tempos. Os programas são: Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP); Qualidade e Participação na Administração Pública (QPAP); Qualidade no Servi- ço Público (PQSP) e o Programa de Excelência na Gestão Pública (GesPública). O PBQP foi criado em 1990 pelo governo brasileiro com a fi nalidade de sensi- bilizar o setor produtivo nacional para o desafi o de um mundo em mudança, mais competitivo e mais exigente. O foco da qualidade na Administração Pública nesse período foi a mobilização dos servidores e na análise e melhoria de processos, com uso intensivo das ferramentas da qualidade. No entanto,o programa não surtiu os efeitos desejados, causando indiferença da alta Administração Pública que não proibia o desenvolvimento das ações, mas também não demandava por elas nem pelos seus resultados. Em 1995, a gestão pela qualidade na Administração Pública passou por uma revisão muito importante, em função das novas diretrizes para uma reforma da Administração Pública estabelecida no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, segundo o qual as estratégias devem ser realizadas em três dimensões: institucional-legal, cultural e gerencial. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública76 Na dimensão institucional-legal, o programa não difere muito das reformas administrativas ocorridas no passado. Apesar de propor novos modelos de insti- tuições públicas (as agências executivas e as organizações sociais), esta dimensão nada acrescentou em termos de transformação. Conforme afi rma Lima (2007, p. 34), “a história da administração pública é testemunha de que não se resolvem problemas criando e extinguindo órgãos”. Em relação à dimensão cultural e gerencial, o plano trouxe uma proposta de mudança, como a transformação de atitudes e o estabelecimento de novos refe- renciais da boa gestão pública, entre eles, o resultado e a satisfação do cidadão- -usuário dos serviços públicos. Na época do referido Plano Diretor, foi lançado o QPAP, com foco no sistema de gestão. Foi criada uma logomarca para o programa, utilizada nas ações de divulgação e marketing, contribuindo para a construção de um símbolo positivo para o programa e, principalmente, para a Administração Pública. Para apoiar o programa na sensibilização e preparação das organizações para adesão, foi constituída uma rede de consultores que atuam de forma voluntária e sem remuneração. Esses consultores são servidores públicos especialistas em alguma área da Gestão pela Qualidade e conhecedores da Administração Pública que se dispõem a trabalharem como facilitadores e multiplicadores do Programa QPAP. Em março de 1998, foi lançado o Prêmio Qualidade do Governo Federal (PQGF) como forma de reconhecer e premiar as organizações que demonstras- sem bom desempenho gerencial e organizacional de acordo com os parâmetros estabelecidos pelos critérios de excelência na Gestão Pública. No fi nal de 2001, o programa contava com aproximadamente 1.000 adesões e estava representado em 20 Estados da Federação por seus núcleos regionais e por sua Rede Nacional de Consultores ad hoc. O programa passou por algumas reformulações e, em fevereiro de 2005, foi instituído o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GesPú- blica, baseado no pressuposto de que o desafi o do Estado e dos sucessivos governos que o colocam em movimento é, antes de tudo, um desafi o de natureza gerencial, pois quanto maiores forem as demandas sociais e menores os recursos para atendê-las, mais capacidade de gestão será exigida (LIMA, 2007, p. 49). Para fi nalizar a abordagem sobre a nova Gestão Pública, transcrevemos partes do texto publicado no Anexo 6 – Choques de gestão na Administração Pública – do livro de Matias-Pereira (2012). Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 77 O debate sobre a necessidade de se modernizar as administrações públicas no Brasil, com vistas a elevar a qualidade dos serviços públicos ofertados à sociedade, começou a ganhar espaço em meados da década de 1990, na elaboração do Plano Diretor de Reforma do Estado (MARE). Desde aquela época havia uma percepção que o grande desafi o do setor público brasileiro era de natureza gerencial. O principal objetivo era defi nir um modelo de gestão pública que fosse voltado para resultados e que satisfi zesse os cidadãos. Decorrida mais de uma década, verifi ca-se que as mudanças gerenciais e os resultados obtidos pelas administrações públicas no país fi caram abaixo das expectativas. Observa-se que tem sido uma prática comum dos governantes brasi- leiros, nos últimos anos, adotar inúmeras medidas pontuais na busca de melhorar o desempenho do governo e da administração pública no país. Nesse sentido, são orientadas ações para reduzir a burocracia no serviço público, simplifi car o atendimento ao cidadão e melhorar o desempenho da administração, implantação da gestão por resultados no serviço pú- blico, com incentivos aos órgãos e aos servidores que cumprirem metas de desempenho, entre outras. Diante desse cenário, formulamos a seguinte pergunta: as medidas pontuais adotadas são sufi cientes para melhorar o desempenho da ad- ministração pública? A resposta é não. A adoção de ações pontuais na administração pública, conforme evidenciados na literatura, indicadores sociais e nas pesquisas de opinião pública, apenas ameniza o problema em áreas específi cas do Estado. Nesse sentido, torna-se relevante fazer algumas considerações a respeito da difícil tarefa de governar num con- texto onde as pressões da sociedade são crescentes, exigindo serviços públicos de qualidade, com custos menores e transparência na gestão. [...] Observa-se que o governo Lula (2003-2010), no esforço de construir uma base parlamentar de apoio, promoveu uma forte politização da administração pública direta e indireta, o que tem contribuído para prejudicar o desempenho governamental. As difi culdades que o gover- no Lula encontrou para avançar adequadamente em diversos projetos e ações prioritárias do seu governo, como por exemplo, a implementa- ção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), evidencia que tomar decisões corretas e de forma intempestiva, principalmente sobre assuntos técnicos, requer uma administração pública profi ssional, bem remunerada, treinada de forma contínua, e com legitimidade junto à sociedade. Em que pese o esforço do governo Dilma Roussef (2011-2013) de combater a corrupção, verifi ca-se que a política de loteamento dos ministérios, secretarias e empresas públicas para os partidos políticas da base do governo continua em vigor, ou seja, a politização da admi- Unidade 3 Introdução à Gestão Pública78 nistração pública direta e indireta adotada no governo Lula – no qual os critérios de competência técnica e reputação ilibada para ocupação desses cargos fi cou em segundo plano –, não foi alterada. A construção de um Estado moderno e inteligente, menos burocrático e que incentive a competitividade passa pelo aprofundamento da refor- ma do Estado. Para que isso ocorra, é preciso haver esforço e vontade política do governo para realizar a denominada “reforma-mãe”, ou seja, a reforma da administração pública, que diante de sua envergadura e complexidade precisa ser discutida intensamente pelo parlamento e pela sociedade civil, visto se tratar de uma reforma de longo prazo, que interessa a toda sociedade brasileira. Fonte: Texto extraído de Matias-Pereira (2012, p. 283-285). Na próxima unidade do nosso livro, abordaremos os princípios e os funda- mentos do GesPública, bem como as ferramentas utilizadas pelo programa para o gerenciamento das organizações públicas. Como atividade desta seção, indicamos a leitura de um caso sobre a adoção de boas práticas gerenciais na Policia Militar de São Paulo. Em seguida, você deverá responder às questões. Eis o relato: Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 79 Nos últimos dez anos, a Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo tem posto em prática um conjunto de ações para modernizar e aperfeiçoar o atendimento policial. Com essas ações, procura responder à demanda crescente da população por um desempenho mais efi caz no combate à criminalidade e, ao mesmo tempo, valorizar a imagem da corporação. A principal estratégia escolhida foi aproximar-se da sociedade e integrá- -la na busca de soluções para os problemas de segurança. A criação do programa de qualidade total foi uma das medidas adotadas. O tenente- -coronel Renato Aldarvis, da 6ª Seção do Estado-maior da Polícia Mili- tar, órgão do Comando Geral que administra o programa de qualidade, explica: “a qualidade total aporta ferramentas que permitemmedir a gestão, de forma objetiva e contínua”. No Brasil, as metodologias de gestão da qualidade ganharam espaço no início da década de 90, com o lançamento do Programa Nacional de Qualidade e Produtividade. Na esfera federal, a gestão da qualidade era mencionada como instrumento de modernização do Estado no plano de reforma do Ministério da Administração e Reforma do Estado. Em 1995, surgiu o Programa Permanente de Qualidade e Produtividade no Serviço Público do Estado de São Paulo. Mudança cultural O passo inicial para o programa de qualidade na Polícia Militar foi dado em 1995, por meio de um convênio com o Serviço de Apoio à Peque- na e Média Empresa (Sebrae) para realizar treinamentos. Em 1996, o programa foi ofi cialmente implantado. No ano seguinte, já estava em andamento o sistema de avaliação de desempenho profi ssional. “Ofi ciais e sua tropa sentaram-se frente a frente para falar sobre suas atuações e seus problemas. Foi uma grande mudança cultural”, afi rma o tenente Vagner Rodrigues Robiatti, da 6ª Seção do Estado-maior. Se- mestralmente, passaram a ser avaliados os seguintes aspectos: grau de responsabilidade, iniciativa para o trabalho, capacitação profi ssional, grau de motivação para o trabalho, disciplina, controle emocional, re- lacionamento interpessoal, grau de tenacidade, capacidade de trabalho em equipe, produtividade, saúde física e mental, e sociabilidade. “Des- de então, o policial e seu superior estabelecem metas de desempenho, cujo atingimento é cobrado no semestre seguinte”, esclarece o tenente- -coronel Aldarvis. Para disseminar a cultura da qualidade, vários cursos foram ministrados a partir de 1997. A disciplina Gestão da Qualidade foi incorporada ao currí- culo de formação e aperfeiçoamento da corporação. “Podemos afi rmar que, agora, em todas as organizações da PM existe um profi ssional técnico capaz Unidade 3 Introdução à Gestão Pública80 de assessorar os comandos na condução de projetos voltados ao aperfei- çoamento administrativo e operacional”, afi rma o major David Antonio de Godoy, da 6ª Seção do Estado-maior. Novas práticas de trabalho foram introduzidas no caminho de uma gerência participativa. Um exemplo de mecanismo de participação é a caixa de sugestões. “Qualquer policial pode depositar na caixa uma sugestão ou uma crítica. Mensalmente, as contribuições são analisadas por uma comissão integrada por policiais de diversos níveis hierárquicos. Nem todas as sugestões são acolhidas, mas nenhuma pode fi car sem resposta”, esclarece o tenente-coronel Aldarvis. Em junho de 2000, todas as unidades iniciaram o Programa 5S (senso de utilização, senso de organização, senso de limpeza, senso de saúde, senso de autodisciplina), cujo objetivo é melhorar o ambiente de traba- lho e elevar a auto-estima do policial. No mesmo ano, foi editado o Manual de Padronização dos Serviços da PM e, em 2002, a Polícia iniciou os treinamentos para a efetiva aplicação de procedimentos operacionais-padrão. Hoje, um guia em CD fornece orientações aos policiais militares sobre como agir diante das mais bási- cas situações profi ssionais. O tenente-coronel Aldarvis relembra: “Quan- do iniciamos o trabalho, identifi camos, por exemplo, diversas maneiras diferentes de algemar uma pessoa. Agora existe um único procedimento- -padrão para isso. Não podemos contar com o chamado ‘bom senso’ do profi ssional para realizar uma tarefa. Esta é uma noção vaga, subjetiva”. A padronização dos procedimentos visa a reduzir ao máximo os erros operacionais e assegura legitimidade às ações profi ssionais. Os conceitos da qualidade trouxeram um novo modo de olhar a pres- tação do serviço público. Mas todos admitem que essas mudanças re- presentam um amplo processo de aculturamento, e que os resultados virão lentamente. Certifi cação e premiação Dentre as iniciativas para disseminar a qualidade total na PM, a mais abrangente é a elaboração, em 2001, de critérios de avaliação da gestão, baseados no Prêmio Nacional da Qualidade, e a criação do Prêmio Polícia Militar da Qualidade. Podem concorrer ao Prêmio - que inclui certifi cações em três categorias: ouro, prata e bronze - todas as organizações policiais militares (OPM) do Estado. São cerca de 180, entre unidades operacionais e administra- tivas. O atendimento aos critérios de certifi cação sinaliza o esforço por alcançar níveis de excelência na gestão, mas cada organização pode seguir o seu ritmo. Em 2001, ano da primeira edição do Prêmio, foram 23 Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 81 candidatas. Em 2002, participaram 35 organizações. Já no ano passado, o número subiu para 51 unidades envolvidas na competição. Estima-se que neste ano o número de candidatas cresça no mesmo ritmo. Desde a instituição da certifi cação, quinze OPM foram premiadas, três com grau prata e as demais com grau bronze. Em 2001, a Polícia Militar teve suas iniciativas na área da qualidade reconhecidas pela Internatio- nal Quality Service ao receber o Prêmio Quality. Competência administrativa O Centro de Despesa de Pessoal (CDP) é o órgão responsável por pla- nejar, controlar, executar e fi scalizar todo o processamento da folha de pagamento da Polícia Militar, que conta com mais de 92 mil policiais na ativa e 37 mil inativos. São processados valores totais que giram em torno de R$ 240 milhões. Distribuídas por todo o Estado, 640 unidades enviam as informações que serão processadas: folgas, tempo de serviço e informações individuais que precisam estar disponíveis no tempo certo, mensalmente e na forma correta. Com a implantação do programa de qualidade, a partir de 1999, a uni- dade recebeu investimentos para serem injetados em programas de mo- dernização tecnológica e capacitação de pessoal. Dentre as OPM do país, o CDP do Estado de São Paulo é o pioneiro na certifi cação ISO 9001, da Fundação Carlos Alberto Vanzolini, recebida em 2001. Em 2002, recebeu o grau bronze e, em 2003, o prata, do Prêmio da Qualidade da Polícia Militar. Uma das mais importantes mudanças foi o estabelecimento de canais de comunicação mais efi cientes com o público interno. Policiais e pensio- nistas têm acesso via Internet às informações sobre seus vencimentos, e os recibos dos inativos passaram a ser enviados para as suas residências. O CDP é vinculado à Diretoria de Pessoal, que em 2003 também recebeu a certifi cação ISO 9001. A qualidade vai para a rua No interior do Estado, encontram-se bons exemplos de resultados operacionais positivos obtidos com a aplicação das ferramentas da qualidade na operação policial. É o caso do Comando de Policiamento do Interior – Região IV (CPI-IV), que engloba as regiões administra- tivas de Bauru, Marília e Presidente Prudente, com 143 municípios, 2,6 milhões de habitantes e nove batalhões. O Comando priorizou um programa de valorização do policial. Aten- dimentos médico e odontológico foram melhorados, e campanhas pre- Unidade 3 Introdução à Gestão Pública82 ventivas foram intensifi cadas. Além disso, psicóloga e assistente social passaram a desenvolver um trabalho de apoio ao policial. Reformas nos vestiários e nas acomodações também foram providenciadas. “Visito todas as bases e quero ver em que condições os homens estão trabalhan- do. Nos detalhes fazemos a diferença”, informa o comandante, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges. Subordinado ao Comando de Policiamento do Interior - Região IV está o 4º Batalhão da Polícia Militar do Interior, de Bauru. A unidade con- quistou a categoria prata em dois concursos da qualidade da gestão: no Prêmio Paulista de Excelência da Gestão e no Prêmio Polícia Militar da Qualidade. O Batalhão tem duas companhias, cada uma responsável por três bases comunitárias. Um tenente é responsável por cada base. “O policial não é responsável por seu turno de serviço, mas por sua área. Adotamos o conceito de responsabilidade territorial”, comenta o tenente-coronel José Alexandre Cintra Borin. Para isso, foi criado o programa “Personalizando a Emergência”, em que um sargento é apresentadoà população como o agente de segurança daquela área. Um jornal local imprimiu mais de 100 mil folhetos com informações sobre os serviços prestados e disponíveis ao usuário. Esses folhetos trazem a fotografi a do supervisor da respectiva área, persona- lizando o chefe de polícia local e tornando-o conhecido dos cidadãos do bairro. Destaque na cidade de São Paulo O comando do 13º Batalhão da PM Metropolitano, grau bronze no Prêmio Polícia Militar da Qualidade em 2003, também reconhece os benefícios da gestão da qualidade. A comandante do Batalhão, tenente- -coronel Ângela Di Márzio Godoy Vasconcellos, e a subcomandante, major Marlene Ferreira, consideram que o programa permitiu quebrar uma série de barreiras. Talvez a principal delas tenha sido o receio de medir resultados e ser cobrado por isso. Atualmente, a Polícia Militar dispõe de dados de grande valor para pla- nejar as ações de combate e prevenção ao crime. É o caso do Infocrim: “As informações regionalizadas signifi cam muito para nós. É a partir delas que tomamos decisões estratégicas. Qualidade também é usar bem o que se tem à disposição”, informa a comandante. De fato, o policia- mento da área atendida pelo 13º Batalhão, que tem quatro companhias, requer grande habilidade estratégica. Em pouco menos de 15 quilôme- tros quadrados, estão os bairros do Bom Retiro, Higienópolis, parte de Santa Cecília, Campos Elíseos, Pari, Canindé, parte do Brás e do Belém. A área inclui a Pinacoteca do Estado, a Sala São Paulo, o Museu de Arte Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 83 Sacra, a Estação da Luz, além de região de intenso movimento comer- cial, como a rua José Paulino e imediações. Estão abrangidas também a favela do Gato, às margens do rio Tamanduateí, a favela do Moinho, entre as linhas férreas da CPTM, e a favela da Piscina, atrás do Estádio do Canindé. São cerca de 150 mil residentes e uma população fl utuante de mais de 500 mil pessoas, diariamente. O comandante da 1ª Companhia, capitão João Carlos Pelissari, explica que a PM organiza eventos nas favelas, durante os quais os moradores têm acesso a vacinas, podem requisitar documentos, participam de ce- rimônias de casamento. Para a população das favelas, procura-se aliar a repressão e a prevenção ao crime à disponibilização de serviços públicos. Para conquistar a confi ança da população (e assim ter mais sucesso em ações de prevenção), o policial identifi ca-se com um prestador de serviços e busca integrar-se na comunidade. Outras áreas são caracterizadas pela diversidade étnica. Em alguns dos bairros policiados pelo 13º Batalhão, moram e trabalham imigrantes ou descendentes de imigrantes judeus, gregos, armênios, coreanos e bolivianos. É preciso reconhecer as diferenças e trabalhar com elas. O capitão cita o exemplo da comunidade coreana. Por serem imigrantes recentes, ignoram serviços tradicionais de atendimento. “Percebemos que os números 190 e o 0800 15 63 15, do Disque Denúncia, eram pouco conhecidos. Agora passarão a ser divulgados no jornal da comunidade, editado em coreano”, explica o capitão. Legitimação Indagado sobre os resultados que a Polícia Militar espera obter no futuro com o programa de qualidade, o tenente-coronel Aldarvis resume: “a partir das premiações, poderemos identifi car e incorporar novas práticas de gestão, que contribuam efetivamente para a obtenção de melhores resultados. São os bons resultados que legitimam o programa”. Ele cita ainda a importância de as OPM participarem de concursos externos de qualidade, com o objetivo de assegurar a credibilidade das iniciativas junto à sociedade. “Nossa intenção é, gradativamente, sedimentar um Modelo gerencial focado em resultados”, sintetiza. Fonte: <http://www.revista.fundap.sp.gov.br/revista1/gest_qualid_PM.htm>. Acesso em: 19 jan. 2013. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública84 Resumo Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 85 Nesta terceira unidade, estudamos a noção da Administração vinculada à ideia de prática social. Com isso, entendemos a importância da Gestão Pública incorporar em suas práticas as três perspectivas analisadas: a técnica, a política e a crítica. Em seguida, conhecemos as características das principais transformações ocorridas na Administração Pública brasileira, incluindo a abordagem patrimonialista, a burocrática e a gerencial. Finalmente, estudamos as características da chamada nova gestão pública, que pretende adotar princípios de gestão até então utilizados somente no setor privado. Unidade 3 Introdução à Gestão Pública86 Referências BRASIL. Ministério da Administração e Reforma do Estado. Plano diretor da reforma administrativa do aparelho do Estado. Brasilia: MARE, 1995. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GesPública; Prêmio Nacional da Gestão Pública – PQGF; Documento de Referência; Fórum Nacional 2008/2009 / Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão. Brasília: MP; SEGES, 2009. BRESSER PEREIRA, L. C. Reforma da nova gestão pública: agora na agenda da América Latina. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 53, n. 1, p. 5-27, jan./ mar. 2002. BRESSER PEREIRA, L. C.; SPINK, Peter (Coord.). Reforma do estado e adminis- tração pública gerencial. 6. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006. FADUL, Elvia; SOUZA, Antonio Ricardo de. Analisando a interface entre o ge- rencialismo, a criação das agências reguladoras e a inovação institucional. In: ENCONTRO DA ANPAD, 30., 2006, Salvador, Bahia. Anais... Salvador, 2006. CD-ROM. FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasi- leiro. 3. ed. São Paulo: Globo, 2001. GONÇALVES, Andréa de Oliveira; BILHIM, João Abreu de Faria (Org.). Casos de ensino em Administração Pública – Brasil – Portugal. São Paulo: Atlas, 2012. JUNQUILHO, Gelson Silva. Teorias da administração pública. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; Brasília: CAPES: UAB, 2010. LIMA, Paulo Daniel Barreto. A excelência na gestão pública: a trajetória e a estratégia do GESPÚBLICA. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007. MATIAS-PEREIRA, José. Manual de gestão pública contemporânea. 4. ed. rev. atual. São Paulo: Atlas, 2012. REED, M. Sociologia da gestão. 1. ed. Lisboa: Celts, 1997. p. 147. SECCHI, Leonardo. Modelos organizacionais e reformas da Administração Públi- ca. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 43, n. 2, mar./abr. 2009. Anotações Unidade 3 Introdução à Gestão Pública 87 Anotações Unidade 3 Introdução à Gestão Pública88 Ferramentas do GesPública 4 Unidade 1 2 Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 91 Apresentação Caro estudante, Nesta quarta unidade vamos conhecer as ferramentas do GesPública. Hoje essas ferramentas são utilizadas por várias organizações que buscam a excelência em sua gestão. Inicialmente, serão estudados os fundamentos e princípios do GesPública e, em seguida, as ferramentas intituladas Carta de Serviços, Avaliação Continuada, Simplifi cação de Processos e Pesquisa de Satisfação. Objetivos Reconhecer o modelo de excelência na gestão pública – o GesPública; Identifi car as ferramentas utilizadas no GesPública –Carta de Serviços, Avaliação Continuada, Sim- plifi cação de Processos e Pesquisa de Satisfação. Princípios constitucionais Bases do MEGP Modelo de Gestão Pública (critérios de excelência) Fundamentos Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 93 O modelo de excelência na gestão pública – GesPública A ssim como ocorre nas organizações privadas, cabe ao gestor público ter como meta a excelência da gestão da organização que está sob o seu co- mando. Observe, conforme já estudamos em unidades anteriores, que essa organização é mais ampla do que quando estamos tratando de uma organização privada. Ela pode ser o País, o Estado, o Município, ou uma unidade administra- tiva do governo. O gestor público “representa o Estado, eo Estado representa os princípios legais que norteiam os valores essenciais para manutenção do Estado de Direito, da convivência social justa, pacífi ca” (KAANANE; FIEL FILHO; FER- REIRA, 2010, p. 20). O agente público não difere dos demais indivíduos sociais, todos devem cumprir com suas obrigações legais. Isso signifi ca que o gestor público pode tomar conta de um pequeno almoxarifado, ou tomar conta de um país, com toda a sua complexidade econômica, social, educacional, etc. Princípios constitucionais Os primeiros princípios de uma gestão pública estão na nossa Constituição Federal, no artigo 37. Eles são a base de sustentação do MEGP (Modelo de Ex- celência na Gestão Pública). A Figura 1 irá acompanhar toda a nossa explicação sobre os princípios constitucionais, os fundamentos e os critérios de excelência do Modelo. Figura 1 – O modelo de Gestão Pública Adaptado de: Ministério do Planejamento (2009, apresentação ppt). Leitura complementar Unidade 4 Introdução à Gestão Pública94 Segundo o art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, “a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência” (BRASIL, 1988, pág. 24). Você poderá ver esses cinco princípios descritos a seguir. A legalidade é a “estrita obediência à lei; nenhum resultado poderá ser considerado bom, nenhuma gestão poderá ser reconhecida como de excelência à revelia da lei” (BRASIL, 2008, p. 12). Lima (2007) esclarece que os gestores públicos devem buscar o apoio possível nas leis estabelecidas para melhorar a boa gestão e, por outro lado, buscar sugerir novas leis que apresentam obstáculos na melhoria da qualidade dos serviços prestados ao cidadão. A impessoalidade é “não fazer acepção de pessoas. O tratamento diferenciado restringe-se apenas aos casos previstos em lei [...] Em se tratando de organização pública, todos os seus usuários são preferenciais, são pessoas muito importantes” (BRASIL, 2008, p. 12). Observamos que, nas empresas privadas, as práticas de gestão são utilizadas para fi delizar clientes, por exemplo, proporcionando-lhes identifi cação e tratamento diferenciado. No setor público, a não ser nos casos previstos em lei essas práticas seriam ilegais, discricionárias e antidemocráticas (LIMA, 2007). A moralidade signifi ca “pautar a gestão pública por um código moral. Não se trata de ética (no sentido de princípios individuais, de foro íntimo), mas de princípios de aceitação pública” (BRASIL, 2008, p. 12). O princípio da moralidade é um preceito que obriga o homem a agir de acordo com a justiça e equidade, requerendo honestidade nos atos administrativos. A respeito da ética e da moral, sugerimos que você assista à entrevista com Mário Sergio Cortella no programa do Jô Soares: <http://www.youtube.com/watch?v=LK91Ut7jJIM>. Ele esclarece de forma bem lúdica a questão da moral e da ética. Leitura complementar Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 95 Quando a publicidade signifi ca “ser transparente, dar publicidade aos fatos e aos dados. Essa é uma forma efi caz de indução do controle social” (BRASIL, 2008, p. 12). Isso signifi ca que todos os atos e fatos da administração são públicos. Sugerimos que você visite a página do Portal da Transparência do Governo Federal a seguir, lançado pela Controladoria Geral da União em novembro de 2004: http://www.portaltransparencia.gov.br/. O portal foi lançado com o objetivo de aumentar a transparência da gestão pública, permitindo que o cidadão acompanhe a utilização dos recursos públicos e exerça o seu papel de controlador social. A efi ciência signifi ca “fazer o que precisa ser feito com o máximo de qua- lidade ao menor custo possível. Não se trata de redução de custo de qualquer maneira, mas de buscar a melhor relação entre qualidade do serviço e qualidade do gasto” (BRASIL, 2008, p. 12). Em outras palavras, signifi ca utilizar da melhor maneira os recursos públicos, de forma a atender aos seus usuários. Sabemos que essa não é a realidade vislumbrada na maioria das nossas organizações. No en- tanto, a profi ssionalização da gestão pública é um passo importante nesse sentido e o curso que você está fazendo é um exemplo de que a excelência é possível. Fundamentos da gestão Conforme visualizamos na Figura 1, os princípios constitucionais são o alicer- ce de uma gestão pública de excelência. Além desse alicerce, o modelo precisa de “pilares de sustentação da casa”, que são os fundamentos. São eles: pensa- mento sistêmico, aprendizado organizacional, cultura da inovação, liderança e constância de propósitos, orientação por processos e informações, visão de futuro, geração de valor, comprometimento com as pessoas, foco no cidadão e na sociedade, desenvolvimento de parcerias, responsabilidade social, controle social e gestão participativa. Vamos ver o que cada um desses fundamentos sig- nifi cam? É importante salientar que, na prática, muitas vezes esses fundamentos estão presentes ao mesmo tempo em uma gestão pública. Mas, para efeito de compreensão dos signifi cados vamos explicar um por vez. Unidade 4 Introdução à Gestão Pública96 Pensamento sistêmico é o “entendimento das relações de interdependência entre os diversos componentes de uma organização, bem como entre a orga- nização e o ambiente externo, com foco na sociedade (BRASIL, 2008, p. 12)”. Como estudamos na segunda unidade do nosso livro, esse conceito teve origem na abordagem de sistemas, segundo a qual a organização pode ser considerada com um sistema orgânico, imerso num ambiente de informação e conhecimen- to (interno e externo) com o qual precisa relacionar-se de forma harmônica e integrada (KWASNICKA, 2009). O aprendizado organizacional compreende a “busca contínua e alcance de novos patamares de conhecimento, individuais e coletivos, por meio da per- cepção, refl exão, avaliação e compartilhamento de informações e experiências” (BRASIL, 2008, p. 13). Essa é considerada uma estratégia poderosa para elevar a qualidade da gestão pública, pois ela é transversal a todos os processos e práticas. Como exemplo, podemos citar o momento em que a organização faz uma autoavaliação (ou avaliação externa) da forma como é feito o atendimento ao usuário de um determinado serviço. Nesse sentido, sugestões e melhorias podem ser incorporadas e novos processo podem ser criados com isso, de forma a proporcionar o atendimento aos usuários daquele serviço. A cultura da inovação é defi nida como a “promoção de um ambiente favo- rável à criatividade, à experimentação e à implementação de novas ideias que possam gerar um diferencial para a atuação da organização” (BRASIL, 2008, p. 13). Atualmente, as mudanças ocorrem de forma cada vez mais rápida e as organizações precisam estar preparadas para acompanhar essa evolução. Daí, a importância das organizações buscarem e desenvolverem continuamente ideias originais e incorporando-as a seus processos, seus produtos e serviços, bem como a seus relacionamentos com usuários, com fornecedores e com a sociedade. A liderança é o “elemento promotor da gestão, responsável pela orientação, estímulo e comprometimento para o alcance e melhoria dos resultados organi- zacionais e deve atuar de forma aberta, democrática, inspiradora e motivadora das pessoas, visando o desenvolvimento da cultura da excelência, a promoção de relações de qualidade e a proteção do interesse público” (BRASIL, 2008, pp. 13-14). Para que o Modelo de Excelência de Gestão seja possível de ser colocado em prática, é fundamental a participação pessoal, ativa e continuada de todos que ocupam cargos administrativos, de forma a dar unidade de propósitos à organização, incluindo a criação de um ambiente propício à inovação e ao aper- feiçoamento constante. A orientação por processos e informação se dá através da compreensão de que todas as atividades de uma organizaçãoestão relacionadas (ver o fundamen- to de pensamento sistêmico) e atuam de forma interativa transformando insu- mos (entradas) em produtos/serviços (saídas). Toda organização é uma grande coleção de processos, como diz Gonçalves (2000) em seu artigo: “As empresas são grandes coleções de processos”. Leitura complementar Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 97 Sugerimos a leitura do artigo de José Ernesto Lima Gonçalves, que pode ser encontrado no link a seguir: <http://www.scielo.br/pdf/rae/ v40n1/v40n1a02.pdf>. O artigo, intitulado “As empresas são grandes coleções de processos”, oferece um quadro organizado de defi nições e aplicações para o conceito de processo empresarial. A visão de futuro indica “o rumo de uma organização e a constância de propósitos que a mantém nesse rumo” (BRASIL, 2009, p. 15). Esse fundamento está diretamente relacionado à inovação, já estudado anteriormente. A gestão pública de excelência, preconizada pelo GesPública, é uma organização que tem no futuro desejado a inovação como fator preponderante de sucesso para obtenção dos resultados desejados pela sociedade. A geração de valor signifi ca o “alcance de resultados consistentes, asseguran- do o aumento de valor tangível e intangível de forma sustentada para as partes interessadas” (BRASIL, 2009, p. 15). Atualmente, essa geração de valor está dependendo cada vez mais do capital intelectual, que atualmente representa a maior parte do valor das organizações. O comprometimento com as pessoas signifi ca criar condições de melhoria da qualidade nas relações de trabalho, para que elas se realizem profi ssional e humanamente, maximizando seu desem- penho por meio do comprometimento, de oportunidade para desenvolver competências e de empreender, com incentivo e reconhecimento (BRASIL, 2008, p. 16). Sabemos que as pessoas fazem a diferença quando o assunto é o sucesso de uma organização e esse é considerado o princípio mais polêmico de toda a abordagem da gestão da qualidade, conforme afi rma Lima (2007). Segundo esse autor (2007, p. 78), “não se faz qualidade por decreto, porque não é possível mudar atitudes, estabelecendo e substituindo normas e regulamentos”. As pes- soas precisam ser mobilizadas, envolvidas, conscientizadas e convencidas das vantagens de participar de processos de mudanças. O cidadão e a sociedade são “os sujeitos de direitos e as organizações públi- cas têm a obrigação de atender, com qualidade e presteza, às suas necessidades e às suas demandas, de forma regular e contínua” (BRASIL, 2008, p. 16). Esse é o foco principal do Modelo de Excelência na Gestão que busca romper os modelos patrimonialista e burocrático (estudados na terceira unidade) em busca de um Unidade 4 Introdução à Gestão Pública98 modelo gerencial voltado para atender às necessidades dos cidadãos-usuários e da sociedade. O desenvolvimento de parcerias consiste em desenvolver “atividades conjun- tamente com outras organizações com objetivos comuns, buscando o pleno uso das suas competências complementares para desenvolver sinergias” (BRASIL, 2008, p. 16). É comum encontrarmos na mídia exemplos de parcerias fi rmadas entre organizações, sejam elas públicas ou privadas. Você lembra de alguma notícia nesse sentido? Se sim, anote-a no espaço a seguir para discutirmos no fórum da disciplina. A responsabilidade social consiste na atuação voltada para assegurar às pessoas a condição de cidadania com garantia de acesso aos bens e serviços essenciais, e ao mesmo tempo tendo também como um dos princípios gerenciais e a preservação da biodiversida- de e dos ecossistemas naturais, potencializando a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades (BRASIL, 2008, p. 17). É importante observar que a responsabilidade social de uma organização pública vai além do seu objetivo regimental. Um exemplo é a preocupação com o meio ambiente que hoje é comum encontrarmos em várias organizações, inclusi- ve com atitudes simples, como reciclagem de lixo e de cartuchos descartáveis, etc. O último fundamento da base de sustentação do modelo é o controle social que é entendido como “atuação que se defi ne pela participação das partes in- teressadas no planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades da Administração Pública e na execução das políticas e dos programas públicos” (BRASIL, 2008, p. 18). Assim, as organizações públicas de excelência devem incentivar seus usuários e a sociedade em geral para exercer o controle social da sua gestão. Após a leitura dos princípios constitucionais e fundamentos gerenciais do GesPública, vamos realizar uma atividade para que os conceitos sejam melhor entendidos. 1Atividade Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 99 Leia, atentamente, o relato a seguir e identifi que os fundamentos gerenciais que você acredita que estão sendo praticados pela organização. A EMBASA é Ouro Brasília, 8/3/2006 A empresa pública baiana de abastecimento de água e esgotamento sanitário (Embasa), caminha para consolidar-se como referência nacional. O percurso inclui o compromisso diário com práticas de excelência em gestão focadas na satisfação do cidadão a quem presta serviços. A instituição conquistou, na cate- goria especial Saneamento o reconhecimento na Faixa Ouro do Prêmio Nacional da Gestão Pública, organizado pelo Ministério do Planejamento. As homenagens a Embasa e a outras 14 organizações brasileiras reconhecidas em 2005 pelo alto padrão institucional e gerencial serão conduzidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no próximo dia 14 de março, no Palácio do Planalto. “O caminho da qualidade não pode e não deve ter fi m. O PQGF foi mais um de- safi o e vencemos” - disse o diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Embasa, Abal Simões de Magalhães sobre a empresa de águas e saneamento, única nessa área a participar do prêmio federal, ao concorrer com outras 85 organizações inscritas e 56 organizações candidatas, que entregaram o Relatório da Gestão. Magalhães, que já foi superintendente da organização de 1994 até meados de 2005 destacou que a Embasa tomou uma decisão estratégica em 2000, quando resolveu candidatar-se ao Prêmio Gestão Qualidade Bahia. “A nossa intenção foi unicamente disseminar critérios de excelência para uma força de trabalho composta por mais de duas mil pessoas”, disse. O dirigente acentuou que a idéia de formar uma nova cultura na Embasa alicer- çada em inovação, criatividade e visão de futuro prosperou em novas candida- turas e premiações de lá para cá. “Em 2000 veio o primeiro diploma, que hoje é representado pelo Troféu Bronze”, frisou. Depois disso, a empresa deu continui- dade a seu aperfeiçoamento, com a elaboração do Plano de Melhoria de Gestão. “Partimos para implantar práticas referenciadas por empresas com tradição em vencer pelo mérito gerencial, como Cetrel, Politeno e Suzano”. O esforço surtiu efeitos com as premiações, Prata em 2001 e Ouro em 2002, na esfera do Prêmio Gestão Qualidade Bahia. “Por sermos uma unidade res- ponsável pelos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e serviços comerciais o maior ganho com a implantação do novo modelo foi a melhoria do atendimento aos nossos clientes”, destacou Magalhães ao dizer que as pesquisas realizadas no período sobre o nível de satisfação dos usu- ários atestam o salto de qualidade. Unidade 4 Introdução à Gestão Pública100 A premiação em nível estadual serviu de estímulo para novos desafi os até a Em- basa chegar à situação de empresa modelo, na sua área, em termos de gestão. No planejamento estratégico para 2003 foram revistas as diretrizes organizacionais e o foco passou a ser o de alcançar a condição de referência nacional no setor de saneamento. “Participamos em 2003 do Prêmio Nacional de Qualidade do Sane- amento (PNQS), patrocinado pela Associação Brasileira de Engenharia (ABES), quando fomos vencedores do Troféu Quiron, com a pontuação máxima”, salien- tou o diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Embasa. SegundoMagalhães, os diversos prêmios conquistados por várias unidades da Embasa têm relação direta com o apoio permanente do presidente da organização, José Lúcio Lima Machado. “Nosso presidente sempre nos incentivou, como o fez com relação ao PQGF 2005”, disse. Uma das ações de qualidade A Embasa é responsável pelo Programa Bahia Azul, de empreendimentos na área de saneamento e meio ambiente do Governo do Estado da Bahia. O programa se diferencia por conduzir a maior estrutura de saneamento ambiental em execução na América do Sul. A expectativa é benefi ciar mais de 2,5 milhões de pessoas que vivem nos municípios que circundam a Baía de Todos os Santos. No local do entorno mais de 70% da população deverá contar com esgotamento sanitário. O programa deverá gastar no total US$ 600 milhões, dos quais US$ 264 milhões fi nanciados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), US$ 73 mi- lhões pelo Banco Mundial (BIRD), US$ 78,2 milhões pelo Overseas Economic Cooperation Fund (OECF), US$ 29 milhões pela Caixa Econômica Federal (CEF), US$ 60,8 milhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e US$ 95 milhões pelo Governo do Estado da Bahia. A maior parte dos recursos está sendo aplicada em esgotamento sanitá- rio e abastecimento de água, a partir da construção de reservatórios e esta- ções de tratamento, ampliação e substituição de rede distribuidora. Também vêm sendo implementadas ações para melhorar os serviços de coleta e dis- posição fi nal dos resíduos sólidos (lixo), intensifi car o controle de poluição industrial, principalmente em relação ao lançamento de efl uentes na Baía de Todos os Santos e desenvolver projetos de educação sanitária e ambiental. Segundo previsão dos técnicos da EMBASA, Salvador será uma das capitais me- lhor atendidas por esse tipo de serviço no país. Por enquanto, o Bahia Azul já garantiu a recuperação de áreas degradas e das condições de balneabilidade de praias como Barra, Ondina, Amaralina, Itapuã, Stella Maris, Bogari e Boa Viagem. O Programa Bahia Azul deverá gerar mais de 100 mil empregos temporários no tempo da sua execução. Também serão criados postos de trabalho permanentes a partir da revitalização econômica do Recôncavo e do aproveitamento do seu potencial turístico e patrimônio cultural. Mas, principalmente, o programa deverá repercutir na melhoria do padrão de saúde pública, reduzindo a mortalidade in- fantil e a ocorrência de doenças transmissíveis por veiculação hídrica, conferindo mais desenvolvimento, aliado ao bem estar social. Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 101 A empresa Ligada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, a Superin- tendência Metropolitana de Salvador (Embasa) é a maior empresa em saneamen- to básico do Nordeste, ocupa a posição de 27ª empresa estatal do país e está entre as 100 maiores empresas da região Norte-Nordeste, segundo a Revista Exame. A estatal tem uma receita operacional líquida anual da ordem de R$ 370 milhões e atende a uma população estimada em 7,2 milhões de pessoas em 344 municípios da Bahia. A instituição conta com treze unidades de negócios no interior e seis na Região Metropolitana de Salvador. Visa em sua atuação uma combinação de resultados que representem satisfação a clientes e fornecedores e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida. Depois do Ouro obtido no Prêmio Nacional da Gestão Pública, o próximo passo da Embasa será novamente vencer e conquistar o Troféu PQGF. Na trajetória que não cessa, a meta é o reconhecimento como uma empresa de Classe Mundial. Fonte: <http://www.gespublica.gov.br/folder_noticia/embasa?searchterm=embasa>. Acesso em: 15 fev. 2013. 1 Liderança 3 Cidadãos 2 Estratégia Planos 8 Resultados 7 Processos 6 Pessoas 4 Sociedade 5 Informações e Conhecimento Unidade 4 Introdução à Gestão Pública102 O Modelo de Excelência em Gestão Pública – MEGP Caro aluno, voltemos à Figura 1. Observe que já estudamos o alicerce e os pilares de sustentação do modelo. Agora, vamos compreender seus elementos, que são chamados de critérios de excelência, os quais representam o estado da arte em gestão (BRASIL, 2008). O “Modelo de Excelência em Gestão Pública é a representação de um sistema gerencial constituído de oito partes integradas, que orientam a adoção de práticas de excelência em gestão com a fi nalidade de levar as organizações públicas brasileiras a padrões elevados de desempenho e de excelência em gestão” (BRASIL, 2008, p. 19). A Figura 2 representa grafi camente o modelo, destacando a relação entre suas partes. Figura 2 – Modelo de Excelência na Gestão Pública Fonte: Brasil (2008, p. 20). Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 103 O primeiro bloco, marcado pela linha pontilhada, é denominado de planeja- mento e compreende os critérios de Liderança, Estratégias e Planos, Cidadãos e Sociedade, que são os elementos direcionadores da ação e do sistema de decisão da organização pública. Para Lima (2007, p. 92 e 93): – a liderança é o elemento promotor do movimento organizacional, atua nas defi nições estratégicas, na motivação e na provisão dos meios; seus principais instrumentos são a vontade, a decisão e o exemplo; – as estratégias e os planos são o pensamento contínuo sobre o futuro de- sejado e sobre a melhor forma de atingi-lo, considerando o ambiente e a capacidade (recursos de toda ordem) para realiza-lo; – os cidadãos e a sociedade são os mantenedores e demandantes do Estado e, ao mesmo tempo, destinatários de sua ação e dos seus serviços. O segundo bloco é denominado de execução e compreende os critérios de Pessoas e Processos. Esse bloco é o centro prático da ação, onde os objetivos e metas são transformados em resultados. Os processos devem estar bem defi nidos e as pessoas capacitadas e motivadas para que os resultados esperados sejam conseguidos. O terceiro bloco é denominado de controle e compreende o critério Resulta- dos, que serve para acompanhar o atendimento à satisfação dos destinatários dos serviços e da ação do Estado, o orçamento e as fi nanças, a gestão das pessoas, a gestão de suprimento e das parcerias institucionais, bem como o desempenho dos serviços/produtos e dos processos organizacionais (BRASIL, 2009, p. 20). O quarto bloco é denominado de ação corretiva e compreende o critério Informação e Conhecimento, que representa a inteligência da organização. “As ações corretivas permitem medir com precisão as diferenças entre previsão e resultado, dão qualidade ao processo decisório, corrigem desvios, aperfeiçoam e inovam além de representarem o espaço do aprendizado organizacional” (LIMA, 2007, p. 95). Vale salientar o que afi rma Lima (2007, p. 91), quando diz que no mundo real não há situação ou ambiente que possa ser enquadrado com precisão e detalhes nos princípios e características dos modelos teóricos, que, pelo simples fato de serem modelos são, necessariamente, reduções de realidade feitas a partir da exaltação de características marcantes dessa realidade e que guardam, essas características, certa lógica interna. Você deve estar imaginando que não há organizações públicas que se “encai- xam” nesse modelo. No entanto, felizmente, é possível perceber vários exemplos de utilização do modelo em várias organizações públicas brasileiras, como as Leitura complementar Unidade 4 Introdução à Gestão Pública104 Confi ra outras organizações que utilizam o Modelo de Excelência na Gestão Pública no site: <www.gespublica.gov.br>. Troféu PQGF (Prêmio Nacional da Gestão Pública): INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial HEMORIO – Instituto Estadual de Hematologia Artur de Siqueira Organizações Reconhecidas: Faixa Ouro: INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial HEMORIO – Instituto Estadual de Hematologia Artur de Siqueira Faixa Prata: CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará DAEP – Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Penápolis – SP Diretoria de Crédito– Banco do Brasil S/A HEMOPA – Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará Faixa Bronze: CIGS – Centro de Instrução de Guerra na Selva – Exército Brasileiro 15º BL – 15º Batalhão Logístico – Exército Brasileiro Unidade de Serviços Compartilhados – Petrobras Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes – Ceará CASNAV – Centro de Análises de Sistemas Navais – Marinha do Brasil que ganharam o Prêmio Nacional da Gestão Pública nos últimos anos. A título de informação, essas empresas estão listadas a seguir – as organizações que ga- nharam o troféu e as que foram reconhecidas pelo referido prêmio, no ciclo 2010: Leitura complementar Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 105 Ferramentas do GesPública O GesPública desenvolve e dissemina várias ferramentas que objetivam apoiar o gerenciamento das organizações públicas. São elas: � Carta de Serviços � Avaliação Continuada � Simplifi cação de Processos � Pesquisa de Satisfação Iremos, a seguir, apresentar cada uma das ferramentas, sendo que não será possível explorar todas as nuances de cada uma delas, considerando que se trata de uma disciplina introdutória. Carta de Serviços A Carta de Serviços “tem a fi nalidade de orientar as organizações públicas na elaboração e divulgação dos compromissos de atendimento assumidos para com os cidadãos, usuários dos seus serviços, considerando tanto pessoa física quanto jurídica” (BRASIL, 2009, p. 7). A implementação dessa ferramenta tem sido considerada uma prática de sucesso em várias organizações públicas, tanto no Brasil como em outros países. Temos um exemplo bem próximo a nós que é a Carta de Serviço ao Cidadão do Departamento de Administração de Pessoal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DINIZ et. al., 2010). Para visualizar a Carta de Serviço ao Cidadão do Departamento de Adminis- tração de Pessoal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte acesse o site: <http://www.portaldap.ufrn.br/carta_servicos.php> P a rt ic ip a ç ã o C o m p ro m e ti m e n to In fo rm a ç ã o T ra n sp a rê n c ia A p re n d iz a g e m P a rt ic ip a ç ã o d o c id a d ã o Organização Controle social Unidade 4 Introdução à Gestão Pública106 A adoção dessa ferramenta requer que a organização passe por um processo de transformação sustentada em princípios fundamentais, como: participação e comprometimento, informação e transparência, aprendizagem e participação do cidadão (BRASIL, 2009b). Esses princípios estão apresentados na Figura 3. Figura 3 – Princípios da Carta de Serviços Adaptado de: Brasil (2009, p. 10). A participação e o comprometimento de todas as pessoas que integram a or- ganização são muito importantes para a elaboração e a prestação de um serviço de qualidade ao cidadão. Os líderes têm um papel fundamental nesse processo, demonstrando comprometimento e participando de todas as fases do processo, desde a preparação da equipe até a avaliação da sua implantação. A fi nalidade da Carta de Serviço, segundo BRASIL (2008, p. 12), é: � Divulgar os serviços prestados pelas organizações públicas com os seus compromissos de atendimento para que sejam amplamente conhecidos pela sociedade; � Fortalecer a confi ança e a credibilidade da sociedade na administração pública quando esta percebe uma melhora contínua em sua efi ciência e efi cácia; e � Garantir o direito do cidadão para receber serviços em conformidade com as suas necessidades. Para que a Carta de Serviços seja colocada em prática é preciso uma fase de planejamento que engloba acordos institucionais, preparação da equipe e ela- boração de um plano de ação. Na segunda etapa deve ser elaborado o plano de trabalho, levando em consideração o tempo e os recursos necessários para a im- plementação da Carta de Serviços. Esse plano deve ser validado pelo dirigente da organização ou da unidade que vai divulgar a referida Carta. Após a elaboração, Leituras complementares Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 107 a Carta é divulgada para todos os usuários dos serviços. Além disso, a equipe deve estabelecer um sistema de monitoramento e avaliação da organização com relação aos serviços divulgados, bem como às possíveis melhorias necessárias. Assim, a implementação dessa ferramenta gera benefícios para o cidadão, para a organização e para toda a sociedade. O cidadão terá conhecimento prévio sobre os serviços ofertados e os respectivos requisitos. Por sua vez, a organiza- ção legitima sua imagem perante os usuários e adquire confi ança dos mesmos através de uma gestão transparente. Além disso, para a sociedade, a organização adquire maior credibilidade perante a Administração Pública e promove maior visibilidade dos seus serviços (BRASIL, 2009). Confi ra o guia para elaboração da Carta de Serviços na página: <http:// www.gespublica.gov.br/ferramentas/pasta.2010-04-26.4809412060> Veja, também, as Cartas de Serviços de organizações públicas no site a seguir: <http://www.gespublica.gov.br/biblioteca/pas- ta.2011-01-03.6819661654> Avaliação Continuada A Avaliação Continuada consiste num processo de autoavaliação, verifi cando o grau de aderência de seus processos gerenciais em relação ao Modelo de Exce- lência em Gestão Pública. Nessa avaliação são identifi cados os pontos fortes e os aspectos gerenciais menos desenvolvidos nas organizações, os quais devem ser objeto de ações de melhoria e aperfeiçoamento. O GesPública conta com três instrumentos de avaliação – 1.000 pontos, 500 pontos, ou de 250 pontos –, sendo que cada organização conduz o seu processo dependendo da experiência da instituição em avaliação, bem como do nível de gestão em que ela se encontra. Quando a organização avaliar que o seu sistema de gestão atingiu um grau de maturidade em relação ao Modelo da Excelência da Gestão Pública ela poderá optar por participar do processo de reconhecimento e premiação à excelência do Prêmio Nacional da Gestão Pública, promovido pelo Ministério do Planejamento. Leitura complementar Leitura complementar Unidade 4 Introdução à Gestão Pública108 Conheça os três instrumentos de avaliação no link a seguir. <http://www.gespublica.gov.br/ferramentas/pasta.2010-04-26.6448349404> Pesquisa de satisfação A pesquisa de satisfação consiste num instrumento que objetiva avaliar o nível de satisfação dos usuários com os serviços que são ofertados pelas organizações públicas. O processo de pesquisa requer etapas que devem ser planejadas cui- dadosamente. Nas disciplinas Marketing no Serviço Público e Estatística Básica serão fornecidos os instrumentos necessários para a elaboração de uma pesquisa. Simplifi cação de processos A simplifi cação de processos objetiva eliminar a exigência de rotinas que geram fl uxos desconexos na tramitação de documentos e de informações e que não agregam valor ao serviço prestado pela organização e, em consequência, pelo Estado. Essa ferramenta é muito útil para que a organização cumpra um dos requisitos do GesPública, que é a orientação por processos e informações. Na disciplina Organização e Processos você irá estudar, em detalhes, as fer- ramentas de simplifi cação e melhoria. Conheça o guia e os vídeos apresentados pelo GesPública para a análise e simplifi cação de processos em: <http://www.gespublica.gov.br/ferramentas/pasta.2010-04-26.0851676103> Leitura complementar Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 109 Consulte o guia para elaboração do Instrumento de Pesquisa de Sa- tisfação na página do GesPública no site a seguir: <http://www.gespublica.gov.br/ferramentas/pasta.2010-04-26.2946656561> Assim, chegamos ao fi nal da nossa disciplina. Mas, lembre-se que esta é ape- nas uma disciplina introdutória do seu curso de Tecnólogo em Gestão Pública. Aproveite muito bem cada uma das disciplinas que virão, pois elas irão comple- mentar os conteúdos que foram trabalhados na Introdução à Gestão Pública. Con- tamos com suas contribuições, como Gestor Público, para transformar as nossas organizações embusca da excelência na prestação dos serviços aos cidadãos. Bom proveito no seu curso! Resumo Unidade 4 Introdução à Gestão Pública110 Você estudou nesta unidade os princípios e fundamentos do GesPública, bem como suas principais ferramentas. Você viu que os princípios constitucionais são aqueles constantes na nossa Constituição Federal – legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência –, os quais devem ser seguidos por todas as organizações públicas. Além desses, você pôde compreender que a gestão das organizações públicas contemporâneas deve ser pautada em fundamentos gerenciais que possibilitem o alcance da excelência dos serviços prestados ao cidadão. Por fi m, você conheceu as principais ferramentas do GesPública, como a Carta de Serviços, a Avaliação Continuada, a Simplifi cação dos Processos e a Pesquisa de Satisfação. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasilia, DF: Senado, 1988. p. 24. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GesPública; Prêmio Nacional da Gestão Pública – PQGF. Instruções para Avaliação da Gestão Pú- blica: 2008/2009. Brasília: MP, SEGES, 2008. Versão 1/2008. ______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GesPública; Prêmio Nacional da Gestão Pública – PQGF. Carta de Serviços ao Cidadão. Brasília: MPOG, Seges, 2009. Versão 1/2009. DINIZ et al. Carta de serviços DAP: síntese informativa de serviços e direitos do servidor. Natal, RN: UFRN, Departamento de Administração de Pessoal, 2010. GONÇALVES, José Ernesto Lima. As empresas são grandes coleções de processos. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 40, n. 1. p. 6-19, jan./ mar. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v40n1/v40n1a02. pdf>. Acesso em: 30 jan. 2013. Anotações Unidade 4 Introdução à Gestão Pública 111 KAANANE, Roberto; FIEL FILHO, Alécio; FERREIRA, Maria das Graças (Org.). Gestão pública: planejamento, processos, sistemas de informação e pessoas. São Paulo: Atlas, 2010. KWASNICKAS, Eunice Lacava. Introdução à administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. LIMA, Paulo Daniel Barreto. A excelência em gestão pública: a trajetória e a estratégia do GesPública. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007. Anotações Unidade 4 Introdução à Gestão Pública112 113 Perfi l dos autores Matilde Medeiros de Araújo Graduada e mestre em Administração pela UFRN. Professora Adjunta da UFRN desde 1994. Coordenou o Curso Piloto de Administração, na modalidade a distância (1996 a 2010). Coordenou o Curso de Administração Pública, na modalidade a distância (2010 a 2012). Leciona disciplinas no curso de Administração, nas modalidades presencial e a distância. Maíra Medeiros de Araújo Professora no Centro Universitário FACEX em Natal/RN. Mestranda em Engenharia da Produção pela UFRN. Possui graduação em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2010). Atua desde 2008 no Ensino a Distância, tendo atuado como tutora presencial, tutora a distância e tutora de projetos de Trabalho de Conclusão do Curso de Administração Pública. Autora do livro Marketing no Serviço Público (2011). Anotações 114 Anotações 115 Anotações 116 C A P E S Ministério da Educação G O VE R N O FE D E R AL PAIS RICO 1:: PAíS SEM POBREZA