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2014 AdministrAção PúblicA Prof.ª Maiara Busarello Prof.ª Orlandina Gonçalves da Cruz Copyright © UNIASSELVI 2014 Elaboração: Prof.ª Maiara Busarello Prof.ª Orlandina Gonçalves da Cruz Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 354 B976 Busarello, Maiara Administração pública / Maiara Busarello, Orlandina Gonçalves da Cruz. Indaial : Uniasselvi, 2014. 244 p. : il ISBN 978-85-7830-848-3 1. Administração pública. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III APresentAção Prezado(a) acadêmico(a)! Nossa sobrevivência neste mundo concorrido depende da nossa capacidade e vontade de aprender. É preciso se adaptar às mudanças na mesma velocidade em que elas acontecem. E como tudo muda rápido, sempre se tem o que aprender. Conhecimentos de matemática, língua portuguesa, história e geografia são importantes, assim como, é importante ter conhecimento, no mínimo básico, sobre administração e administração pública. Embora a administração seja uma ciência jovem, se comparada à filosofia, ela tem se mostrado uma excelente ferramenta para planejar, organizar e fazer prosperar empresas dos mais diversos ramos, inclusive, as públicas. Sim, é possível profissionalizar a administração pública, planejar, organizar e aplicar os recursos do povo com efetividade. Ao analisarmos nosso país, veremos que a maioria das pessoas não se interessa em acompanhar as empresas públicas, o que elas estão fazendo, como estão fazendo. Talvez o motivo seja a falta de conhecimento, ou será que é por que a maioria de nós prefere não se envolver? Ou ainda, “porque no governo ninguém trabalha, só sabem roubar”... Enfim, não faltam desculpas para “justificar” nossa omissão nos cuidados com a coisa pública. Mas aí perguntamos, e se você comprar ações na bolsa de valores da empresa X, você vai querer acompanhar o desempenho dessa empresa, ou simplesmente vai deixar que ela seja administrada, sem se importar se trará lucro ou prejuízo? Certamente você respondeu “irei acompanhar, preciso que ela tenha lucros”. O mesmo acontece na empresa pública, você não percebe, mas é o seu dinheiro que está lá fazendo a máquina girar. A empresa pública é de todos nós, por isso, temos que conhecer o funcionamento da administração pública, as leis, enfim, tudo que envolve o funcionamento de uma empresa pública, só assim, poderemos acompanhar e cobrar resultados positivos dos nossos administradores. Nesta disciplina você aprenderá sobre a administração, bem como suas ferramentas, além disso, conhecerá as origens e a importância da administração pública, seu objetivo, sua estrutura e modelos, as formas e sistemas de governo e as crises que o Estado brasileiro enfrentou até os dias de hoje. Parabenizamos você, acadêmico(a), pela vontade de aprender e garra na busca pelo conhecimento, talvez você já conheça muita coisa sobre a administração pública, talvez, após o estudo desta disciplina, você vá descobrir coisas que nunca imaginava que existiam, mas o importante é que você nunca pare de buscar conhecimento, nunca perca a vontade de aprender. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Esperamos contribuir para aumentar seu conhecimento e agradecemos a oportunidade de também aprender com você. Tenha um ótimo estudo! Prof.a Orlandina Gonçalves da Cruz Prof.a Maiara Busarello UNI V UNI Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! VI VII UNIDADE 1 – ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ....................................... 1 TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO ........................................................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO .................................................................................................. 5 2.1 TEORIA CLÁSSICA ....................................................................................................................... 6 2.2 TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS ...................................................................................... 10 2.3 TEORIA NEOCLÁSSICA .............................................................................................................. 11 2.4 TEORIA ESTRUTURALISTA ........................................................................................................ 13 2.5 TEORIA COMPORTAMENTAL ................................................................................................... 15 2.6 TEORIA SISTÊMICA ...................................................................................................................... 16 2.7 TEORIA CONTINGENCIAL ........................................................................................................ 17 3 FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................ 18 3.1 PLANEJAMENTO .......................................................................................................................... 18 3.2 ORGANIZAÇÃO ............................................................................................................................ 20 3.3 DIREÇÃO (EXECUÇÃO) ............................................................................................................... 21 3.4 CONTROLE ..................................................................................................................................... 22 4 PLANEJAMENTO ............................................................................................................................... 22 5 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................................................................................... 24 6 DIFERENÇA ENTRE ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA ........................ 26 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 28 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 33 TÓPICO 2 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ..................................................................................... 37 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 37 2 ORIGENS HISTÓRICAS ................................................................................................................... 37 3 ESTADO ................................................................................................................................................ 40 4 OS TRÊS PODERES DO ESTADO .................................................................................................. 42 5 AS CONSTITUIÇÕES ........................................................................................................................ 44 5.1 CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 ........................................................................................ 46 5.2 CONSTITUIÇÃO DE 1891 ............................................................................................................. 47 5.3 CONSTITUIÇÃO DE 1934 ............................................................................................................. 49 5.4 CONSTITUIÇÃO DE 1937 ............................................................................................................. 52 5.5 CONSTITUIÇÃO DE 1946 ............................................................................................................. 53 5.6 CONSTITUIÇÃO DE 1967 ............................................................................................................. 54 5.7 CONSTITUIÇÃO DE 1988 ............................................................................................................. 55 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 57 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 60 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 61 TÓPICO 3 – O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ....................................................... 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 63 2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................... 63 sumário VIII 2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE .................................................................................................... 64 2.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE OU FINALIDADE ......................................................... 64 2.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE .................................................................................................. 64 2.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE ................................................................................................... 65 2.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ....................................................................................................... 65 3 PRINCÍPIOS RECONHECIDOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ..................................... 66 3.1 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO ................................................... 66 3.2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE E DE VERACIDADE .......................... 67 3.3 PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE .............................................................................................. 67 3.4 PRINCÍPIO DO CONTROLE ADMINISTRATIVO OU TUTELA ........................................... 68 3.5 PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA ADMINISTRATIVA .............................................................. 68 3.6 PRINCÍPIO DA HIERARQUIA .................................................................................................... 69 3.7 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO ..................................................................................................... 69 3.8 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO ................................................. 69 4 DIREITO ADMINISTRATIVO ......................................................................................................... 70 5 PROCESSO LEGISLATIVO BRASILEIRO .................................................................................... 71 5.1 ESPÉCIES NORMATIVAS ............................................................................................................. 73 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 75 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 76 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 78 UNIDADE 2 – ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............ 81 TÓPICO 1 – ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 83 2 SERVIÇOS PÚBLICOS ....................................................................................................................... 84 2.1 CLASSIFICAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO ............................................................................... 85 2.1.1 Serviços públicos .................................................................................................................... 86 2.1.2 Serviços de utilidade pública ............................................................................................... 86 2.1.3 Serviços próprios do Estado ou serviços indelegáveis ..................................................... 87 2.1.4 Serviços impróprios do Estado ou serviços delegáveis ................................................... 88 2.1.5 Serviços administrativos ....................................................................................................... 89 2.1.6 Serviços industriais ................................................................................................................ 90 2.1.7 Serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis ........................................................ 91 2.1.8 Serviços uti singuli ou serviços individuais/divisíveis .................................................... 92 2.2 FORMAS E MEIOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO .............................................. 92 2.2.1 Forma de serviço centralizado ............................................................................................. 92 2.2.2 Forma de serviço descentralizado ....................................................................................... 93 2.2.3 Forma de serviço desconcentrado ....................................................................................... 94 2.2.4 Meio de execução direta ....................................................................................................... 95 2.3 MEIO DE EXECUÇÃO INDIRETA .............................................................................................. 95 3 CENTRALIZAÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO, CONCENTRAÇÃO, DESCONCENTRAÇÃO..................................................................................................................... 96 4 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA ......................................................................................... 97 5 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA .................................................................................... 98 5.1 AUTARQUIAS ................................................................................................................................. 99 5.2 SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA E EMPRESA PÚBLICA ............................................. 100 5.3 FUNDAÇÕES PÚBLICAS ............................................................................................................. 101 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 103 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 104 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 106 IX TÓPICO 2 – IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .............................................. 109 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 109 2 IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................... 109 3 OBJETIVO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................................................ 111 4 DEVERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .............................................................................. 113 5 PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .............................................................................. 116 5.1 PODER VINCULADO ................................................................................................................... 119 5.2 PODER DISCRICIONÁRIO .......................................................................................................... 119 5.3 PODER HIERÁRQUICO ................................................................................................................ 120 5.4 PODER DISCIPLINAR ................................................................................................................... 121 5.5 PODER REGULAMENTAR .......................................................................................................... 122 5.6 PODER DE POLÍCIA ..................................................................................................................... 123 6 USO E ABUSO DE PODER ................................................................................................................ 126 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 128 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 130 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 131 TÓPICO 3 – GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS ................................................. 133 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 133 2 GOVERNO ............................................................................................................................................ 133 3 POLÍTICAS ........................................................................................................................................... 134 3.1 POLÍTICA REGULATÓRIA .......................................................................................................... 136 3.2 POLÍTICA FISCAL ......................................................................................................................... 137 3.3 POLÍTICA MONETÁRIA .............................................................................................................. 137 4 AGENTES PÚBLICOS ........................................................................................................................ 138 4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS ......................................................................... 140 4.1.1 Agentes políticos .................................................................................................................... 140 4.1.2 Agentes administrativos ....................................................................................................... 141 4.1.3 Agentes honoríficos ............................................................................................................... 142 4.1.4 Agentes delegados ................................................................................................................. 143 4.1.5 Agentes credenciados ............................................................................................................ 143 4.2 FORMAS DE INVESTIDURA DOS AGENTES PÚBLICOS ..................................................... 144 4.2.1 Investidura administrativa ................................................................................................... 144 4.2.2 Investidura política ................................................................................................................ 145 4.2.3 Investidura originária e derivada ........................................................................................ 145 4.2.4 Investidura vitalícia ............................................................................................................... 146 5 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ............................................................................................ 147 5.1 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPORTAM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (ART 9º) ....................................................................................... 149 5.2 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO (ART 10º) ................................................................................................................... 151 5.3 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ART 11º) ............................................... 152 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 154 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 156 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 158 X UNIDADE 3 – MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO ................................................................................................................. 161 TÓPICO 1 – FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO .................................................................... 163 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 163 2 FORMAS PURAS DE GOVERNO ................................................................................................... 164 2.1 MONARQUIA ................................................................................................................................. 166 2.2 REPÚBLICA ..................................................................................................................................... 169 3FORMAS IMPURAS DE GOVERNO .............................................................................................. 171 4 SISTEMA DE GOVERNO: PARLAMENTARISMO .................................................................... 175 5 SISTEMA DE GOVERNO: PRESIDENCIALISMO ..................................................................... 178 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 183 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 185 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 187 TÓPICO 2 – MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................................ 189 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 189 2 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................................................ 189 3 MODELO PATRIMONIALISTA ...................................................................................................... 190 4 MODELO BUROCRÁTICO .............................................................................................................. 192 5 MODELO GERENCIAL ..................................................................................................................... 193 6 OS 3 ES: EFICÁCIA, EFICIÊNCIA E EFETIVIDADE ................................................................... 195 6.1 EFICÁCIA ........................................................................................................................................ 196 6.2 EFICIÊNCIA .................................................................................................................................... 197 6.3 EFETIVIDADE ................................................................................................................................. 197 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 198 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 201 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 204 TÓPICO 3 – CRISES E REFORMAS DO ESTADO ......................................................................... 207 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 207 2 CRISES E REFORMAS DO ESTADO .............................................................................................. 208 3 DASP – DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO (ERA VARGAS – 1936) ........................................................................................................................ 214 4 DECRETO-LEI No 200 (1967) ............................................................................................................. 216 5 MINISTÉRIO DA DESBUROCRATIZAÇÃO (1980) .................................................................... 218 6 CONSTITUIÇÃO FEDERAL (1988) ................................................................................................. 219 7 EMENDA CONSTITUCIONAL 19 (1998) ....................................................................................... 223 8 LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (2000) ............................................................................. 225 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 231 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 236 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 239 1 UNIDADE 1 ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • saberá o que significa administração, bem como a origem dessa ciência tão importante para as organizações; • conhecerá as teorias e as funções da administração; • entenderá como é feito o planejamento dentro das organizações; • aprenderá o que é Administração Pública e as principais diferenças entre ela e a administração particular. • descobrirá as origens históricas da Administração Pública, como se deu a formação do Estado e a divisão dos três poderes; • conhecerá as constituições que já fizeram parte da história do nosso país; • saberá quais são os princípios constitucionais e os princípios reconhecidos que regem a Administração Pública; • entenderá o que é Direito Administrativo; • saberá como funciona o processo legislativo brasileiro, ou seja, como são aprovadas as leis. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO TÓPICO 2 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TÓPICO 3 – O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Assista ao vídeo desta unidade. 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ADMINISTRAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Certamente em vários momentos já escutamos, ou até mesmo já proferimos a palavra administração, mas afinal, será que sabemos mesmo o seu significado? Se lhe pedissem para definir administração como você definiria? O dicionário brasileiro O Globo de Fernandes, Luft e Guimarães (1992, grifo dos autores) traz a seguinte definição: “ADMINISTRAÇÃO, s.f. Ato ou efeito de administrar; gerência de negócios; pessoal que administra; direção; governo; superintendência; repartição onde se tratam negócios de administração pública; local onde se administra; [...].” Ora, se administração é ato ou efeito de administrar, o que vem a ser administrar? “ADMINISTRAR, v. tr. dir. Exercer a administração de (negócios públicos ou particulares); gerir, superintender, governar; dirigir; [...]” (O GLOBO, 1992, grifo dos autores). Podemos observar que existem vários significados para a palavra administração. Entretanto, quando se refere à administração de negócios, Kwasnicka (2010, p. 20, grifo da autora) define da seguinte forma: O mais importante e consistente uso do termo administração é aquele em que ele é visto como um processo integrativo fundamental, buscando a obtenção de resultados específicos. Administrar é, portanto, um processo pelo qual o administrador cria, dirige, mantém, opera e controla uma organização. Maximiano (2011, p. 6, grifo do autor), por sua vez, afirma que: “Administração é o processo de tomar decisões sobre objetivos e utilização de recursos [...]. O processo administrativo abrange cinco tipos principais de decisões, também chamadas processos ou funções: planejamento, organização, liderança, execução e controle.” Com base nos conceitos acima apresentados, podemos concluir que administração envolve tomada de decisões para atingir objetivos previamente estabelecidos, e para que esses resultados sejam alcançados é necessário utilizar algumas ferramentas, tais como planejamento, execução, direção e controle, que serão mais bem explicados futuramente. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4 Mas afinal, de onde surgiu a administração? Podemos dizer que a administração sempre esteve presente na vida dos homens, pois, desde a sua existência o homem viu a necessidade de se organizar em sociedade, analisar situações, resolver problemas, evoluir. O uso de ferramentas de administração não é necessário apenas para os negócios. Conforme Kwasnicka (2010, p. 19): A administração não está confinadaapenas a setores produtivos de bens e serviços. Até mesmo um núcleo familiar requer certo grau de administração. Quanto maior o nível de complexidade de atividade definida pelo grupo formal, maior a necessidade de aplicar os conhecimentos da ciência administrativa. Enquanto algumas ciências são estudadas desde o início das civilizações, como é o caso da Filosofia, o estudo da administração como ciência é relativamente novo: No que se refere à administração, nunca foram encontradas obras que comprovem seu desenvolvimento na Antiguidade. Entretanto, a construção de uma pirâmide, a estrutura de uma cidade como Atenas e a administração de um império tão vasto como o Império Romano certamente revelam conhecimentos de administração. (KWASNICKA, 2010, p. 27). Agora, se analisarmos que a essência da administração está presente em diversas áreas da vida humana, como vida pessoal, organização em sociedade, trabalho, fica a pergunta: por que o estudo da administração não era considerado importante? Porque, na Antiguidade, o trabalho era considerado uma atividade desprezível. Razões para isso? A escravidão e a orientação dos povos primitivos para a guerra (onde quem era soldado possuía status social), nessa época quem trabalhava era considerado inferior aos demais. (KWASNICKA, 2010). Na Idade Média também não houve grande evolução, de acordo com Kwasnicka (2010, p. 28): “Com o preconceito das classes mais favorecidas em relação ao trabalho, e a tradição e o misticismo impedindo as inovações técnicas, a Idade Média transcorre sem grandes alterações nas aplicações práticas das ciências.” A mudança começa a partir do Renascimento, em que o Humanismo – uma nova doutrina filosófica – recupera o patrimônio filosófico, literário e artístico da Antiguidade, e liberta, através da racionalidade, o homem do misticismo medieval. Com o Renascimento, a estrutura social da Idade Média, baseada no misticismo e na tradição, dá lugar a uma nova ordem social calcada na objetividade e na racionalidade. Os preconceitos em relação ao trabalho são esquecidos, e inicia-se uma transformação de tratamento ao trabalho. (KWASNICKA, 2010). TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 5 “HUMANISMO, s.m. Doutrina dos humanistas do Renascimento, que ressuscitaram o culto das línguas e das literaturas antigas [...].” (DICIONÁRIO O GLOBO, 1992, grifo dos autores). A Revolução Industrial provocou grandes transformações na forma de ver a administração. As empresas que eram domiciliares (não tinham divisão de trabalho, não possuíam máquinas) começaram a crescer, utilizar máquinas, empregar várias pessoas, produzir em grande escala, e viram-se obrigadas à melhor administrar seus negócios, a fim de superar a concorrência e conquistar mercado. (KWASNICKA, 2010). E assim foram surgindo diversas teorias com o objetivo de melhorar e aumentar a produção, conquistar novos mercados, superar a concorrência. A seguir, passaremos ao estudo das principais teorias da administração. 2 TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO Os problemas sempre estiveram presentes nas organizações, cabendo aos administradores a busca por soluções e novas técnicas que propiciassem melhores resultados produtivos e financeiros, surgindo assim, as teorias da administração. De acordo com Maximiano (2011, p. 25): As teorias da administração [...] surgiram e vêm se aprimorando há muito tempo, desde que os administradores do passado enfrentaram problemas práticos e precisaram de técnicas para resolvê-los. [...] Ao longo dos séculos, essas ideias e técnicas, influenciadas pelas circunstâncias de cada momento histórico, evoluíram continuamente. O que são as teorias da administração? “As teorias da administração são conhecimentos organizados, produzidos pela experiência prática das organizações.” (MAXIMIANO, 2011, p. 8). De forma mais completa, Maximiano (2011, p. 8) define: “Teorias são explicações, interpretações ou proposições sobre a realidade. Por exemplo: teoria da burocracia, teorias da motivação. A própria definição da administração como processo de planejar, organizar, executar e controlar é uma teoria.” Com o intuito de facilitar a compreensão, vamos dividir esse estudo em abordagens da administração, sendo: abordagem clássica, abordagem humanística, abordagem neoclássica, abordagem estruturalista, abordagem comportamental, abordagem sistêmica e abordagem contingencial. NOTA UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 6 2.1 TEORIA CLÁSSICA A abordagem clássica é formada pela escola da Administração Científica e pela Teoria Clássica. O precursor do movimento da administração científica foi Frederick Wislow Taylor. Taylor nasceu em 1856, na Pensilvânia e apesar de pertencer a uma família renomada tornou-se trabalhador manual. Entre 1874 e 1878 trabalhou numa empresa de bombas hidráulicas como torneiro, e foi nessa empresa que passou a observar o que considerava má administração: falta de vontade dos funcionários e péssimas relações entre trabalhadores e gerentes. Em 1878 foi trabalhar na usina siderúrgica Midvale Steel, onde entrou como trabalhador e acabou se tornando engenheiro chefe. Foi nessa empresa que observou os problemas das operações fabris. (MAXIMIANO, 2011). Entre os problemas observados por Taylor, seguem alguns exemplos: • A administração não tinha noção clara da divisão de suas responsabilidades com o trabalhador. • Não havia incentivos para melhorar o desempenho do trabalhador. • Muitos trabalhadores não cumpriam suas responsabilidades. • As decisões dos administradores baseavam-se na intuição e no palpite. • Não havia integração entre os departamentos da empresa. • Os trabalhadores eram colocados em tarefas para as quais não tinham aptidão. • Os gerentes pareciam ignorar que a excelência no desempenho significaria recompensas tanto para eles próprios quanto para a mão de obra. • Havia conflitos entre capatazes e operários a respeito da quantidade da produção. (MAXIMIANO, 2011). Taylor, durante sua carreira, dedicou-se à resolução desses e outros problemas comuns nas empresas. A partir de suas observações e experiências desenvolveu seu sistema de administração de tarefas, sistema que ficou conhecido como taylorismo e mais tarde, administração científica. (MAXIMIANO, 2011). Segundo Chiavenato (2008, p. 5): Taylor teve inúmeros seguidores (como Gantt, Gilbreth, Emerson, Ford, Barth e outros) provocou uma verdadeira revolução no pensamento administrativo no mundo industrial de sua época. A preocupação original foi eliminar o fantasma do desperdício e das perdas sofridas pelas indústrias e elevar os níveis de produtividade por meio da aplicação de métodos e técnicas de engenharia industrial. “O nome Administração Científica é devido à tentativa de aplicação dos métodos da ciência aos problemas da Administração a fim de aumentar a eficiência industrial. [...] Para Taylor [...] A improvisação deve ceder lugar ao planejamento e o empirismo à ciência [...].” (CHIAVENATO, 2008, p. 5). TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 7 A abordagem básica da Administração Científica consiste nas tarefas. Taylor observou que a mesma tarefa era executada de formas diferentes pelos trabalhadores e considerou que através de análise científica esses métodos poderiam ser melhorados e padronizados. Conforme Chiavenato (2008, p. 6, grifo do autor): “Essa tentativa de substituir métodos empíricos e rudimentares pelos métodos científicos recebeu o nome de Organização Racional do Trabalho (ORT).” Quando se fala em métodos empíricos, podemos considerar que são métodos baseados apenas na experiência, uma vez que “EMPIRISMO, s.m. Doutrina que atribui a origem das ideias ou conhecimentos à experiência; conhecimentos práticos devidos à experiência; [...].” (DICIONÁRIO O GLOBO, 1992, grifo dos autores). De acordo com Chiavenato (2008), a ORT se fundamenta em: 1 – Análise do trabalho e do estudo dos tempos e movimentos – O trabalho foi analisado, verificando-se cada movimento necessário para a execução de determinadatarefa, eliminando-se movimentos inúteis e simplificando os úteis. Além disso, acompanharam o tempo de execução dos trabalhos, determinando tempos médios para a realização das tarefas. Dessa forma, o método de trabalho e o tempo para sua execução foram padronizados. O estudo dos tempos e movimentos dos operários foi proposto pelo engenheiro Frank B. Gilbreth. 2 – Estudo da fadiga humana – Gilbreth observou que um trabalhador cansado produz menos, apresenta queda na qualidade, perde tempo, corre mais risco de acidentes, em resumo, o cansaço reduz a eficiência. A administração científica tinha como objetivo a eliminação dos movimentos que produzem fadiga e que não estão ligados à tarefa do funcionário. 3 – Divisão do trabalho e especialização do operário – após a análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos percebeu-se que dividindo o trabalho e o operário se especializando em determinada tarefa era possível aumentar a produtividade. 4 – Desenho de cargos e tarefas – no desenho de cargos foram especificados seu conteúdo (tarefas), os métodos de executar as tarefas e as relações com os demais cargos existentes. Entre as vantagens de desenhar os cargos podemos destacar: redução nos custos de produção com a contratação de empregados com qualificações mínimas e salários menores; minimização de custos com IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 8 treinamento; redução de erros na execução; facilidade de supervisão (cada supervisor pode controlar um número maior de empregados) e aumento da produtividade em decorrência do aumento da eficiência. 5 – Incentivos salariais e prêmios de produção – com os métodos para a realização dos trabalhos definidos e organizados era preciso fazer com que os operários colaborassem e trabalhassem dentro dos padrões de tempo previstos. Para isso, Taylor e seus seguidores criaram planos de incentivos salariais e prêmios de produção, a ideia foi remunerar com base na produção de cada trabalhador. 6 – Conceito de homo economicus – homem econômico, de acordo com esse conceito toda pessoa é influenciada apenas por recompensas salariais, econômicas e materiais. O homem não gosta de trabalhar, trabalha devido ao medo da fome e pela necessidade de obter dinheiro para viver. Assim, as recompensas salariais e os prêmios incentivariam cada operário a usar o máximo de sua capacidade física para produzir mais. 7 – Condições ambientais de trabalho – conclui-se que além do método de trabalho e do incentivo salarial a eficiência depende também de um conjunto de condições de trabalho que garantam o bem-estar físico e diminuam a fadiga do trabalhador. Algumas condições de trabalho que preocuparam a Administração Científica: 1. Adequação de instrumentos e ferramentas de trabalho e de equipamentos de produção para minimizar o esforço do operador e a perda de tempo na execução da tarefa. 2. Arranjo físico das máquinas e dos equipamentos para racionalizar o fluxo da produção. 3. Melhoria do ambiente físico de trabalho de maneira que o ruído, a ventilação, a iluminação e o conforto no trabalho não reduzam a eficiência do trabalhador. 4. Projeto de instrumentos e equipamentos especiais, como transportadores, seguidores, contadores e utensílios para reduzir movimentos inúteis. 8 – Padronização – além do estudo dos tempos e movimentos, da divisão do trabalho, existiu a preocupação com a padronização dos métodos e processos de trabalho e a padronização das máquinas e equipamentos. 9 – Supervisão funcional – assim como o operário deve ser especializado em determinada tarefa, deve acontecer a especialização do supervisor. Taylor propôs a existência de diversos supervisores, cada um especializado em determinada área, com autoridade funcional relativa somente à sua especialidade. O operário recebe ordens de vários encarregados. Podemos perceber que na Administração Científica os processos passaram a ser analisados e padronizados, com o intuito de aumentar a eficiência. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 9 Enquanto a Administração Científica era desenvolvida nos Estados Unidos, na França, em 1916, Fayol fundava a Teoria Clássica da Administração, caracterizada pela ênfase na estrutura que a organização deveria possuir para ser eficiente. (CHIAVENATO, 2008). De acordo com Chiavenato (2008, p. 12, grifo do autor): “Fayol define o ato de administrar como: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. [...] os elementos da Administração que constituem o chamado processo administrativo: são localizáveis no trabalho do administrador em qualquer nível ou área de atividade da empresa.” Fayol definiu 14 princípios gerais da Administração, conforme Maximiano (2011): 1 – Divisão do trabalho – tarefas específicas para cada pessoa. 2 – Autoridade e responsabilidade – autoridade é o direito de mandar e fazer-se obedecer; responsabilidade é consequência do poder. 3 – Disciplina – respeito às regras estabelecidas. 4 – Unidade de comando – cada pessoa tem apenas um superior. 5 – Unidade de direção – apenas um chefe e um programa para operações que têm o mesmo objetivo. 6 – Interesse geral – os interesses da empresa estão acima dos interesses individuais. 7 – Remuneração do pessoal – deve ser justa. 8 – Centralização – o poder de decisão é do chefe. 9 – Cadeia escalar (linha de comando) – hierarquia. 10 – Ordem – um lugar para cada pessoa e cada pessoa em seu lugar. 11 – Equidade – tratamento justo às pessoas. 12 – Estabilidade do pessoaWl – evitar rotatividade, pois prejudica o desempenho da empresa. 13 – Iniciativa – capacidade de ver o problema e buscar soluções. 14 – Espírito de equipe – harmonia e união entre as pessoas da organização. Segundo Kwasnicka (2010, p. 232): “Hierarquia é a posição que cada grupo ocupa dentro do desenho que a organização adota. As posições de mais status tendem a ser de menor número de pessoas, ou até de uma pessoa. À medida que o status dentro dessa figura diminui, aumenta o número de grupos, e consequentemente o número de pessoas em cada grupo. Esses grupos são normalmente constituídos segundo um critério que atenda às necessidades da empresa. A hierarquia atende características de delegação de autoridade e é alocada em posições da organização e não em pessoas.” IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 10 Após o estudo das principais características da Administração Científica e da Teoria Clássica podemos perceber que ambas buscavam a eficiência. No entanto, partiam de pontos de vista diferentes: a Administração Científica de Taylor tinha ênfase nas tarefas, enquanto a Teoria Clássica, de Fayol, tinha ênfase na estrutura da organização. A maior contradição entre essas duas teorias é na questão da forma de comando, onde a Administração Científica pregava a existência de vários chefes para um mesmo trabalhador, e a Teoria Clássica, a unidade de comando e o poder centralizado, ou seja, apenas um chefe (com poder de decisão) para vários trabalhadores. 2.2 TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS Após o estudo das tarefas e da estrutura da organização chega o momento de analisar as pessoas como parte importante para o desempenho das organizações. De acordo com Chiavenato (2008, p. 15): A Abordagem Humanística faz com que a preocupação com a máquina e com o método de trabalho e a preocupação com a organização formal e os princípios de Administração cedam prioridade para a preocupação com as pessoas e os grupos sociais – dos aspectos técnicos e formais para os aspectos psicológicos e sociológicos. A Teoria das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos, em 1930, em função das conclusões da Experiência de Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e colaboradores, em oposição à Teoria Clássica. Entre os fatos que deram origem à Teoria das Relações Humanas estão: a necessidade de humanizar e democratizar a administração, o desenvolvimento das ciências humanas (especialmente a psicologia), as ideias da filosofia pragmática de John Dewey eda Psicologia Dinâmica de Kurt Lewin e as conclusões da Experiência de Hawthorne. (CHIAVENATO, 2008). FUTUROS: Na leitura complementar você terá a explicação do que foi a Experiência de Hawthorne. Conforme Chiavenato (2008, p. 16, grifo do autor): “O advento da Teoria das Relações Humanas trouxe uma nova linguagem que passou a dominar o repertório administrativo: fala-se agora em motivação, liderança, comunicação, organização informal, dinâmica de grupo etc.” ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 11 Na Teoria das Relações Humanas o homo economicus dá lugar ao homem social, o comportamento das pessoas é influenciado por fatores motivacionais, entre esses fatores estão: a interação social com os colegas de trabalho, bom relacionamento com o líder e comunicação (tanto para definir padrões dentro da empresa quanto para interação com colegas de trabalho). (CHIAVENATO, 2008). É a partir dessa teoria que as pessoas passaram a ser vistas como peça importante para o sucesso da organização, ficando evidenciada a importância da existência de bons líderes. De acordo com Chiavenato (2008, p. 23): Como o sucesso da organização depende diretamente das pessoas, o trabalho básico do administrador é lidar com as pessoas que fazem parte da organização. Para Pfefer a chave do sucesso organizacional está nas pessoas e na liderança. O administrador deve ser um verdadeiro líder. “Liderança é a realização de metas por meio da direção de colaboradores. A pessoa que comanda com sucesso seus colaboradores para alcançar finalidades específicas é líder. Um grande líder tem essa capacidade dia após dia, ano após ano, em uma grande variedade de situações.” (MAXIMIANO, 2011, p. 277). 2.3 TEORIA NEOCLÁSSICA A partir de 1950 houve grande desenvolvimento econômico e industrial, o mundo passava por mudanças e transformações, como o surgimento da televisão, do motor a jato e o esboço das telecomunicações, e a teoria administrativa também precisou se adaptar. Embora tenha havido críticas em relação ao que pregava a teoria clássica, ela nunca foi totalmente substituída por outra abordagem. As teorias que surgiram depois sempre tiveram como base a clássica, como ponto de partida ou como crítica para tentar uma posição diferente. (CHIAVENATO, 2008). A Teoria Neoclássica representa a Teoria Clássica colocada em um novo figurino e dentro de um ecletismo que aproveita a contribuição de todas as demais teorias administrativas. A abordagem neoclássica baseia-se nos seguintes fundamentos: 1. A Administração é um processo operacional composto por funções, como: planejamento, organização, direção e controle. 2. Como a Administração envolve uma variedade de situações organizacionais, ela precisa fundamentar-se em princípios básicos que tenham valor preditivo. IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 12 3. A Administração é uma arte que, como a Medicina ou a Engenharia, deve se apoiar em princípios universais. 4. Os princípios de administração, a exemplo dos princípios das ciências lógicas e físicas, são verdadeiros. 5. A cultura e o universo físico e biológico afetam o meio ambiente do administrador. Como a ciência ou arte, a teoria da Administração não precisa abarcar todo o conhecimento para poder servir de fundamentação científica aos princípios de Administração. (CHIAVENATO, 2008). Foi na Teoria Neoclássica que a organização empresarial passou a ser dividida em três níveis: nível institucional (formado por dirigentes e diretores), nível intermediário (formado por gerentes) e nível operacional (formado por supervisores que administram a execução das tarefas e operações da empresa). (CHIAVENATO, 2008). Outro ponto importante a ser destacado nessa teoria é o enfoque na Administração por objetivos (APO). De acordo com Maximiano (2011, p. 77): A administração por objetivos é um procedimento sugerido para aplicação prática do processo de planejar, organizar, executar e controlar. [...] A base da APO é o processo do qual participam o chefe e sua equipe (ou um subordinado em particular). Esse processo participativo substitui o processo hierárquico, no qual o chefe simplesmente define os objetivos e os transmite pela cadeia de comando abaixo, para depois avaliar o desempenho da equipe. Quando os métodos hierárquicos foram substituídos pelos participativos, final da década de 90, a ideia principal da Administração por objetivos (APO) se tornou irrelevante, entretanto, seus três componentes continuam sendo válidos em qualquer metodologia de Administração. Esses componentes são: objetivos específicos (definição de objetivos de forma específica e mensurável), tempo definido (é definido um tempo para a realização dos objetivos) e feedback sobre o desempenho (durante o período definido para a realização dos objetivos o desempenho da equipe é avaliado, para que, se necessário, sejam feitas correções e os objetivos sejam alcançados). (MAXIMIANO, 2011). A ideia de Fayol de que administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar sobreviveu a várias abordagens posteriores, tendo seu conceito evoluído para processo administrativo (planejar, organizar, dirigir e controlar). Em meio a tantas mudanças o processo administrativo precisa ser flexível. O processo administrativo além de ser o núcleo da Teoria Neoclássica é também o fundamento da moderna Administração. (CHIAVENATO, 2008). TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 13 2.4 TEORIA ESTRUTURALISTA A abordagem estruturalista divide-se em duas teorias: a Teoria da Burocracia com ênfase na estrutura e a Teoria Estruturalista com ênfase na estrutura, nas pessoas e no ambiente. As burocracias surgiram da necessidade que as organizações sentiram de ordem e exatidão e também do apelo dos trabalhadores por tratamento mais justo. A burocracia tinha como fim organizar e dirigir as atividades da empresa com a maior eficiência possível. (CHIAVENATO, 2008). Max Weber foi um cientista que se dedicou ao estudo das organizações. Conforme Maximiano (2011, p. 99): De acordo com Weber, as organizações formais modernas baseiam-se em leis, que as pessoas aceitam por acreditarem que são racionais, isto é, definidas em função do interesse das próprias pessoas e não para satisfazer aos caprichos arbitrários de um dirigente. As pessoas que integram as organizações modernas também aceitam que algumas pessoas representem a autoridade da lei: guardas de trânsito, juízes, prefeitos e gerentes. A autoridade é contrapartida da responsabilidade que têm essas pessoas de zelar pelo cumprimento da lei. A obediência é devida às leis, formalmente definidas, e às pessoas que as representam, que agem dentro de uma jurisdição. Qualquer sociedade, organização ou grupo que se baseie em leis racionais é uma burocracia. A Teoria da Burocracia surgiu a partir da década de 1940, quando alguns estudiosos buscaram na obra de Max Webber, já falecido, inspiração para essa nova teoria da organização. São características da burocracia, para Weber: caráter legal das normas e regulamentos, caráter formal das comunicações, caráter racional e divisão do trabalho, impessoalidade nas relações, hierarquia de autoridade, rotinas e procedimentos padronizados, competência técnica e meritocracia, especialização da administração, profissionalização dos participantes e completa previsibilidade do funcionamento. (CHIAVENATO, 2008). Segundo Carvalho (2008, p. 46-47): Para Weber (1947) apud Chiavenato (2003, p. 266): As vantagens da burocracia são: racionalidade dos objetivos, precisão na definição do cargo e na operação, rapidez nas decisões, única interpretação de informações recebidas, uniformidade de rotina e procedimentos, continuidade da organização, redução dos conflitos interpessoais, decisões tomadas nas mesmas circunstâncias, confiabilidade e benefícios para as pessoas da organização. Todo sistema possui desvantagens, e alguns autores passaram a analisar as consequências negativas da burocracia, o que denominaramdisfunções da burocracia. Confira no quadro a seguir: UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 14 QUADRO 1 – PANORAMA DAS DISFUNÇÕES ORGANIZACIONAIS, SEGUNDO DIVERSOS AUTORES DISFUNÇÃO CARACTERÍSTICAS PARTICULARISMO Dentro da organização, defender os interesses de grupos externos, por motivos de convicção, amizade ou interesse material. Fazer “panelinhas” com colegas de escola. SATISFAÇÃO DE INTERESSES PESSOAIS Defender interesses pessoais dentro da organização. Contratar parentes, fazer negócios com empresas da família. E X C E S S O D E REGRAS Multiplicidade de regras e exigências para a realização de atividades. Firma reconhecida, encaminhamento de processos burocráticos. HIERARQUIA E INDIVIDUALISMO A hierarquia divide responsabilidades e atravanca o processo decisório. Realça vaidades e estimula a luta pelo poder. Hierarquia das grandes empresas e dos militares. MECANICISMO Burocracia são sistemas de cargos limitados, que colocam pessoas em situações alienantes. Cargos de escritório, montadores de peças. FONTE: Maximiano (2011, p. 105) Passamos neste momento para o estudo da Teoria Estruturalista. De acordo com Chiavenato (2008, p. 45): A Teoria Estruturalista significa um desdobramento da Teoria da Burocracia e uma leve aproximação à Teoria das Relações Humanas. Representa uma visão crítica da organização formal. O estruturalismo está voltado para o todo e para o relacionamento das partes na constituição do todo. A totalidade, a interdependência das partes e o fato de que o todo é maior do que a simples soma das partes são as características básicas do estruturalismo. Segundo Chiavenato apud Carvalho (2008, p. 49): A Teoria Estruturalista tem como objetivo principal, o estudo das organizações, fundamentalmente na estrutura interna e na interação com outras organizações, que são as unidades sociais e são concebidas para cumprir e atingir objetivos específicos, mantendo relações estáveis a fim de viabilizar o conjunto de metas propostas. A Teoria Estruturalista foca no homem organizacional que desempenha diferentes papéis em várias organizações, e para ser bem sucedido em todas as organizações precisa ser flexível, tolerante às frustrações, capaz de adiar recompensas e ter sempre o desejo de realização. (CHIAVENATO, 2008). Segundo Chiavenato (2008, p. 46): O desenvolvimento das organizações se deu por quatro etapas: etapa da natureza (é a inicial, onde a única base de subsistência da humanidade eram os elementos da natureza); etapa do trabalho (os elementos da natureza passaram a ser transformados por meio do trabalho, o trabalho TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 15 passou a condicionar as formas de organizar a sociedade); etapa do capital (o capital supera a natureza e o trabalho, torna-se um dos fatores básicos da vida social); e etapa da organização (as etapas anteriores se submetem à organização; a organização utiliza-se da natureza, do trabalho e do capital para alcançar seus objetivos). A Teoria Estruturalista inicia o estudo das organizações como sistemas abertos, considerando que a organização interage com o ambiente externo. Nas organizações sempre existirão os conflitos, no entanto, isso tem seu lado positivo: a organização sempre estará inovando e mudando. Analisando os aspectos positivos, restrições e limitações do estruturalismo, conclui-se que essa é uma teoria de transição em direção à Teoria de Sistemas. (CHIAVENATO, 2008). 2.5 TEORIA COMPORTAMENTAL Segundo Chiavenato (2008, p. 52): A Teoria Comportamental (ou Teoria Behaviorista) da Administração trouxe uma nova concepção e um novo enfoque dentro da teoria administrativa: a abordagem das ciências do comportamento [...], o abandono das posições normativas e prescritivas das teorias anteriores (Teorias Clássica, das Relações Humanas e da Burocracia) e a adoção de posições explicativas e descritivas. A ênfase permanece nas pessoas, mas dentro do contexto organizacional mais amplo. McGregor, um dos autores dessa teoria, comparou dois estilos opostos de administrar, dividindo-os em Teoria X (baseada na teoria tradicional, mecanicista e pragmática) e Teoria Y (baseada nas concepções modernas a respeito do comportamento humano). A Teoria X considera que as pessoas são preguiçosas por natureza, não têm ambição, são resistentes às mudanças e, por serem dependentes, não desenvolvem autocontrole e autodisciplina; e por isso, as pessoas precisam ser dirigidas e orientadas no desenvolvimento das atividades. A Teoria Y, por sua vez, considera que as pessoas sentem prazer em trabalhar, têm interesse em conquistar bons resultados para a empresa, têm motivação e capacidade para assumir responsabilidades e têm capacidade e criatividade para solucionar problemas. (CHIAVENATO, 2008). Herbert Simon utilizou a teoria das decisões para explicar o comportamento humano nas organizações. Na Teoria Comportamental, a organização é vista como um sistema de decisões. Toda decisão envolve seis elementos: tomador de decisão (quem faz a escolha), objetivos (o que pretende atingir com sua escolha), preferências (critérios utilizados para escolher alguma coisa), estratégia (como atingir os objetivos), situação e resultado. O processo decisório envolve sete etapas: percepção da situação que envolve algum problema, análise e definição do problema, definição dos objetivos, procura de alternativas de solução ou de cursos de ação, escolha da alternativa mais adequada, avaliação e comparação das alternativas e implementação da alternativa escolhida. (CHIAVENATO, 2008). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 16 De acordo com Chiavenato (2008, p. 59): A partir da Teoria Comportamental, um grupo de cientistas sociais e consultores de empresas desenvolveu uma abordagem moderna, democrática e variada ao desenvolvimento planejado das organizações, que recebeu o nome de Desenvolvimento Organizacional (DO). Entre os objetivos do Desenvolvimento Organizacional estão: fazer com que as pessoas se identifiquem com a organização, sejam comprometidas, leais e compartilhem dos objetivos da empresa; e desenvolver espírito de equipe através da integração e interação das pessoas. (CHIAVENATO, 2008). É nessa teoria que as pessoas começam a ser percebidas como parte importante do processo decisório dentro das organizações. 2.6 TEORIA SISTÊMICA A Teoria Geral dos Sistemas foi elaborada pelo biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffy, por volta de 1950. Essa teoria demonstra o isomorfismo das ciências, permitindo a eliminação de suas fronteiras e o preenchimento dos espaços vazios (espaços brancos) entre elas. Os sistemas não podem ser compreendidos apenas pela análise separada e exclusiva de cada uma de suas partes. (CHIAVENATO, 2008). De acordo com Maximiano (2011, p. 308, grifo do autor): Sistema é um todo complexo ou organizado; é um conjunto de partes ou elementos que formam um todo unitário ou complexo. Um conjunto de partes que interagem e funcionam como um todo é um sistema. Qualquer entendimento da ideia de sistema compreende: • Um conjunto de entidades chamadas partes, elementos ou componentes. • Alguma espécie de relação ou interação das partes. • A visão de uma entidade nova e distinta, criada por essa relação, em um nível sistêmico de análise. A partir dessa teoria as empresas passaram a ser consideradas sistemas que possuem vários sistemas internos e que interagem com outros sistemas. “Todo sistema está integrado dentro de um ambiente, formado por outros sistemas que se organizam em sistemas cada vez maiores. Os sistemas importam energia do ambiente e a processam, para transformá-la e devolvê-la aos outros sistemas.” (MAXIMIANO, 2011, p. 321). Compreender o sistema no qual a organização está inserida faz toda diferença na forma de planejar e tomar decisões. Conforme Maximiano (2011, p. 321): Na análise de qualquer sistema, é necessário entender qual seu ambiente e seu papel dentro dele: as relações de interdependência, as fontes derecursos, os destinatários dos produtos e serviços, as regras que devem ser obedecidas. Principalmente, a análise deve focalizar a missão do sistema dentro do ambiente: sua utilidade para outros sistemas. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 17 O enfoque sistêmico permite ao administrador visão integrada das organizações e do processo administrativo, além de auxiliar no planejamento e na elaboração de sistemas que produzam resultados. (MAXIMIANO, 2011). Maximiano (2011) apresenta exemplos de ideias baseadas no enfoque sistêmico: • Administração da qualidade total – a qualidade é um problema de toda a empresa, não apenas do departamento de qualidade. • Reengenharia e redesenho de processos – o desempenho de um processo depende de toda a organização. • Mudança organizacional – a mudança é realizada para melhorar o desempenho da organização, por isso não deve acontecer de forma isolada, deve atingir todos os departamentos necessários. • Administração estratégica – o equilíbrio entre sistemas internos e externos garante o desempenho e a sobrevivência da organização. • Abordagem situacional – as soluções dependem sempre de um ajuste com a situação. Não existe receita pronta. A organização é um sistema aberto, ou seja, está em constante interação com o ambiente, influenciando-o e sendo influenciada. O sistema aberto tem capacidade de crescimento, mudança e adaptação ao ambiente. (CHIAVENATO, 2008). Essa abordagem possibilitou grandes avanços para as organizações, uma vez que se passou a analisar fatores internos e externos que influenciam seu desempenho. Os administradores deixaram de considerar fatores isolados e passaram a analisar a empresa como um todo. 2.7 TEORIA CONTINGENCIAL Segundo Chiavenato (2008, p. 81): A Teoria da Contingência enfatiza que não há nada de absoluto nas organizações ou na teoria administrativa. Tudo é relativo. Tudo depende. A abordagem contingencial explica que existe uma relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos da organização. “A visão contingencial está dirigida acima de tudo para desenhos organizacionais e sistemas gerenciais adequados para cada situação específica.” (CHIAVENATO, 2008, p. 81). Essa teoria considera duas variáveis que influenciam as características da organização: o ambiente e a tecnologia. O ambiente é multivariado e complexo, por isso, é preciso analisá-lo conforme seu conteúdo. E a tecnologia envolve os equipamentos utilizados para produzir determinado bem e o conhecimento acumulado e UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 18 desenvolvido para realizar tarefas. A partir dessa teoria a variável tecnologia assumiu importante papel na teoria administrativa. (CHIAVENATO, 2008). Conforme Chiavenato (2008, p. 82): A organização passou a ser diferenciada em três níveis organizacionais: nível institucional ou estratégico (responsável pela formulação de políticas gerais), nível intermediário (responsável pela elaboração de planos e programas específicos) e nível operacional (responsável pela execução de rotinas e procedimentos). Para finalizar, vejamos o que pensa Kwasnicka (2010, p. 49): Toda organização deve estar atenta para os elementos do ambiente, que são muitos e que mudam com certa rapidez. Essa é a base para a visão contingencial da organização: a organização adapta e auxilia a moldar seu ambiente de forma a torná-lo viável. Ou seja, não é o ambiente que se adapta à empresa, é a empresa que se adapta ao ambiente”. 3 FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO Segundo Fayol apud Maximiano (2011, p. 72): “A administração compreende cinco funções: planejamento, organização, comando, coordenação e controle.” Fayol apud Maximiano (2011) definiu as funções da administração da seguinte maneira: l Planejamento (previsão): examinar o futuro e traçar um plano de ação a médio e longo prazo. l Organização: montar uma estrutura humana e material para realizar o empreendimento. l Comando: manter o pessoal em atividade em toda a empresa. l Coordenação: reunir, unificar e harmonizar toda a atividade e esforço. l Controle: cuidar para que tudo se realize de acordo com os planos e as ordens. A grande maioria dos autores aborda as funções como sendo quatro: planejamento, organização, direção e controle. Por esse motivo, vamos nos ater à explicação destas quatro. 3.1 PLANEJAMENTO Conforme Chiavenato (2008, p. 341): “O planejamento está voltado para o futuro. [...] É para [o futuro] que a organização deve estar preparada a todo instante. Planejamento é a função administrativa que define objetivos e decide sobre os recursos e tarefas necessários para alcançá-los adequadamente.” TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 19 O processo de planejamento é a ferramenta para administrar as relações com o futuro. É uma aplicação específica do processo decisório. As decisões que procuram, de alguma forma, influenciar o futuro, ou que serão colocadas em prática no futuro, são decisões de planejamento. (MAXIMIANO, 2011, p. 79). Planejar é decidir antecipadamente. O processo do planejamento segue seis etapas: definição de objetivos, verificação da atual situação da organização em relação aos objetivos (onde a empresa está? O que precisa ser feito?), desenvolvimento de premissas quanto às condições futuras (o que temos pela frente?), análise das alternativas de ação, escolha de um curso de ação entre as várias alternativas e implementação do plano e avaliação dos resultados. (CHIAVENATO, 2008). O processo de planejamento acontece por meio de planos. De acordo com Maximiano (2011, p. 80-81): [...] Um plano é um guia para a ação no futuro. O plano estabelece qual situação deverá ser alcançada, o que precisa ser feito para alcançá-la e os recursos que serão aplicados nesse esforço. Os planos também devem incluir uma previsão dos meios de controle da ação e do consumo dos recursos, para assegurar a realização dos objetivos. A parte mais importante de um plano são os objetivos. “Objetivos são os resultados desejados, que orientam o intelecto e a ação. São os fins, propósitos, intenções ou estados futuros que as pessoas e as organizações pretendem alcançar, por meio da aplicação de esforços e recursos.” (MAXIMIANO, 2011, p. 81). Os planos podem ser temporários ou permanentes. Planos temporários extinguem-se após a realização dos objetivos (exemplo: construção de uma casa), enquanto os permanentes apresentam decisões programadas, que são utilizadas em situações predefinidas (exemplo: definição do negócio, missão da empresa). (MAXIMIANO, 2011). O planejamento é classificado de acordo com o nível organizacional que abrange. São três o níveis de planejamento: estratégico, tático e operacional, que serão abordados com maior ênfase em momento futuro. “Objetivos são resultados específicos que se pretende atingir.” (CHIAVENATO, 2008, p. 341) NOTA UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 20 O sucesso de um bom planejamento depende de ótima organização para sua execução. É nesse processo que se define o que será feito, como será feito e por quem será feito. De acordo com Maximiano (2011, p. 83): “Organizar é, como todas as funções da administração, um processo de tomar decisões. As decisões de dividir o trabalho, atribuir responsabilidades a pessoas e estabelecer mecanismos de comunicação e coordenação são decisões de organizar.” Para Chiavenato (2008, p. 359): “[...] organização significa o ato de organizar, estruturar e integrar os recursos e os órgãos incumbidos de sua administração e estabelecer relações entre eles e suas atribuições.” O processo de organizar possui as seguintes etapas: • Analisar os objetivos e o trabalho a serem realizados. • Dividir o trabalho, de acordo com os critérios mais apropriados para a realização dos objetivos. • Definir as responsabilidades pela realização do trabalho. • Definir os níveis de autoridade. • Desenhar a estrutura organizacional. (MAXIMIANO, 2011). A divisãodo trabalho é feita para que os funcionários se especializem em determinada tarefa e a executem com maior eficiência. (CHIAVENATO, 2008). Em relação à etapa de desenho da estrutura organizacional, Maximiano (2011, p. 85) afirma: Todas as decisões sobre divisão do trabalho, responsabilidades e autoridade resumem-se na estrutura organizacional. A estrutura organizacional mostra a autoridade e as responsabilidades das pessoas, como indivíduos e como integrantes de grupos. Além disso, a estrutura organizacional mostra a comunicação entre as pessoas e grupos. A estrutura organizacional é um conceito, representado pelo gráfico chamado organograma. 3.2 ORGANIZAÇÃO “O organograma é o tipo mais comum de gráfico para representar a estrutura organizacional de uma empresa. Usualmente, é composto por um número de blocos interligados [...] que mostram a relação de autoridade e responsabilidade existente na estrutura.” (KWASNICKA, 2010, p. 243). IMPORTANT E TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 21 3.3 DIREÇÃO (EXECUÇÃO) A função administrativa de direção está relacionada com a maneira pela qual os objetivos devem ser alcançados através da atividade das pessoas e da aplicação dos recursos que compõem a organização. [...] Dirigir significa interpretar os planos para as pessoas e dar as instruções e orientação sobre como executá-los e garantir o alcance dos objetivos”. (CHIAVENATO, 2008, p. 368). É nessa etapa que o papel do administrador no tratamento com seus subordinados é fundamental para se atingir bons resultados. Conforme Chiavenato (2008, p. 373): “O administrador exerce direção, toma decisões e influencia e motiva as pessoas. Ele comunica e estrutura as organizações e desenha cargos e tarefas que repercutem no relacionamento interpessoal dos membros. Ele incentiva as pessoas sob diferentes aspectos.” O comportamento do administrador pode variar de acordo com a situação, conforme segue: TABELA 1 - COMO VOCÊ GOSTARIA DE ADMINISTRAR UMA EMPRESA? Sistema 1 Autoritário coercitivo Sistema 2 Autoritário benevolente Sistema 3 Consultivo Sistema 4 Participativo Total Centralização das decisões Alguma centralização das decisões Descentralização e delegação das decisões Total descentralização das decisões Imposição, coerção, intimidação Alguma imposição de regras e regulamentos Consulta aos níveis inferiores, com certa delegação Participação, consenso e debate Nenhuma transformação, somente ordens e comandos. Pouca informação, ordens, comandos e alguma orientação Fluxo de informação vertical (ascendente e descendente) Intensa informação e comunicação, troca de ideias e sugestões Nenhuma liberdade, muitas regras e regulamentos Alguma liberdade, desconfiança e condescendência Confiança nas pessoas. Algum trabalho em equipe Total liberdade e autonomia das pessoas. Poucas regras e restrições Punições e ações disciplinares, obediência rígida Punições menos arbitrárias, recompensas salariais Ênfase nas recompensas salariais, raras punições ou castigos Ênfase nas recompensas salariais, sociais e simbólicas FONTE: Chiavenato (2008, p. 373) É importante ressaltar que muitas vezes durante a execução de um plano pode haver necessidade de alterar decisões e implementar correções. (MAXIMIANO, 2011). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 22 3.4 CONTROLE O sucesso do que foi planejado depende de um bom controle. De acordo com Chiavenato (2008, p. 377): “[...] o controle é a função administrativa que monitora e avalia as atividades e os resultados alcançados para assegurar que o planejamento, a organização e a direção sejam bem-sucedidos.” Segundo Maximiano (2011, p. 91), “[...] o processo de controle produz e usa informações para tomar decisões. As informações e decisões de controle permitem manter qualquer sistema orientado para o objetivo.” São etapas do processo de controle: 1. Estabelecimento de objetivos ou padrões de desempenho. 2. Avaliação ou mensuração do desempenho atual. 3. Comparação do desempenho atual com os objetivos ou padrões estabelecidos. 4. Tomada de ação corretiva para corrigir possíveis desvios ou anormalidades. (CHIAVENATO, 2008). O ciclo compreendido pelo processo de controle inicia com o estabelecimento dos padrões de desempenho, uma vez definidos esses padrões, é preciso analisar o desempenho atual da organização e compará-lo com os padrões fixados, e havendo necessidade, efetuar as devidas correções para que o que foi planejado seja executado. Uma organização que não controla e não faz adequações para corrigir os problemas, corre o risco de investir recursos e não atingir os objetivos estabelecidos. Daí a importância dessa função. 4 PLANEJAMENTO De acordo com Oliveira (2011, p. 4): “[...] o planejamento pode ser conceituado como um processo [...] desenvolvido para o alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços e recursos pela empresa”. É através do planejamento que a empresa define o que será feito, e como será feito, para atingir os objetivos esperados. O planejamento envolve toda a empresa, e faz parte de sua rotina diária. Segundo Chiavenato (2008, p. 347): “[...] toda organização está sempre planejando: o nível institucional elabora genericamente o planejamento estratégico, o nível intermediário segue-o com planos táticos e o nível operacional traça detalhadamente os planos operacionais”. São três os tipos de planejamento: estratégico, tático e operacional. O tipo de planejamento varia de acordo com o nível organizacional, dessa forma, o planejamento estratégico (nível institucional) aborda a empresa como um todo; o planejamento tático (nível intermediário) aborda cada unidade da empresa TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 23 separadamente; e o planejamento operacional (nível operacional) aborda cada operação. (CHIAVENATO, 2008). Vejamos mais algumas particularidades de cada tipo de planejamento. Iniciemos pelo planejamento estratégico. Conforme Chiavenato (2008, p. 348): O planejamento estratégico é um processo organizacional compreensivo de adaptação através da aprovação, tomada de decisão e avaliação. Procura responder a questões básicas, como: por que a organização existe, o que ela faz e como faz. O resultado do processo é um plano que serve para guiar a ação organizacional por um prazo de três a cinco anos. Como abrange toda a empresa, o planejamento estratégico é elaborado pelos níveis mais altos da organização. São parâmetros do planejamento estratégico: a visão do futuro, os fatores ambientais externos e os fatores organizacionais internos. (CHIAVENATO, 2008). O planejamento tático, por sua vez, é desenvolvido pelos níveis organizacionais intermediários, tendo como principal finalidade a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consolidação de objetivos previamente fixados, segundo uma estratégia predeterminada, bem como as políticas orientativas para o processo decisório da empresa. (OLIVEIRA, 2011). Além disso, o planejamento tático é de médio prazo, ou seja, se estende para o exercício de um ano e abrange departamentos específicos, envolvendo planos de produção, planos financeiros, planos de marketing e planos de recursos humanos. (CHIAVENATO, 2008). E finalmente, o planejamento operacional, que foca no curto prazo e abrange cada tarefa ou operação individualmente. (CHIAVENATO, 2008). De acordo com Oliveira (2011, p. 20): O planejamento operacional é, normalmente, elaborado pelos níveis organizacionais inferiores, com foco básico nas atividades do dia a dia da empresa. Os planejamentos operacionais detalham os recursos necessários para sua criação e implantação; os procedimentos que serão adotados; os resultados finais esperados; os prazos; e os responsáveis por sua execução e implantação. Os planos operacionais cuidam da administração da rotina para assegurar que todos executem as tarefas e operações de acordo com os procedimentosestabelecidos pela organização, a fim de que esta possa alcançar os seus objetivos. (CHIAVENATO, 2008). Os planos operacionais podem ser: procedimentos (métodos), orçamentos (envolvem dinheiro), programações (tempo) e regulamentos (comportamento das pessoas). (CHIAVENATO, 2008). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 24 Segundo Oliveira (2011, p. 181-182): “Numa empresa, a estratégia está correlacionada à arte de utilizar, adequadamente, os recursos físicos, tecnológicos, financeiros e humanos, tendo em vista a minimização dos problemas internos e a maximização das oportunidades que estão no ambiente empresarial, o qual não é controlável”. 5 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Todos dependemos diariamente de serviços públicos, e certamente, a maioria de nós nunca parou para analisar a estrutura administrativa que move os órgãos públicos. Sim, porque por trás dos serviços que utilizamos existem inúmeros processos e procedimentos a serem seguidos. Mas afinal, o que é e para que serve a Administração Pública? A Administração Pública pode ser conceituada em sentido subjetivo e em sentido objetivo. Segundo Moraes (2005, p. 91, grifo do autor): A Administração Pública pode ser definida objetivamente como a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve para a consecução dos interesses coletivos, e subjetivamente como o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado. Podemos dizer, então, que Administração Pública de forma objetiva envolve as atividades que o Estado desenvolve para atender o bem comum, enquanto a Administração Pública de forma subjetiva inclui os órgãos e pessoas que executarão as atividades obedecendo às leis. Para Marcello Caetano citado por Moraes (2005, p. 91), Administração Pública é o “[...] conjunto de pessoas jurídicas, cuja vontade se exprime mediante órgãos e cuja atividade se processa através de serviços.” “Administração Pública é o planejamento, organização, direção e controle dos serviços públicos, segundo as normas do direito e da moral, visando ao bem comum.” (BÄCHTOLD, 2008, p. 26). Bächtold (2008, p. 26) complementa que: NOTA TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 25 A palavra administração vem do latim ad (direção) e minister (obediência), ou seja, o administrador dirige obedecendo à vontade de quem o contratou. Assim, o administrador público vai conduzir seu trabalho procurando atender à necessidade da população que o elegeu (obediência ao seu objetivo). É importante lembrar que, embora o administrador público trabalhe de forma a atender a vontade do povo que o escolheu, na Administração Pública “[...] a vontade decorre da lei que fixa a finalidade a ser perseguida pelo administrador.” (DI PIETRO, 2011, p. 50). A Administração Pública em sentido objetivo engloba: fomento, polícia administrativa, serviço público e intervenção: • fomento: atividade administrativa de incentivo à iniciativa privada de utilidade pública, por meio de subvenções, financiamentos, favorecimentos fiscais e desapropriações; • polícia administrativa: exercício de restrições ao exercício de direitos individuais em benefício do interesse maior da coletividade, exteriorizando-se por intermédio de sanções, notificações, licenças, fiscalizações; • serviço público: corresponde a toda atividade, sob regime predominantemente público, executada direta ou indiretamente, pela Administração Pública, com a finalidade de satisfazer à necessidade da coletividade; • intervenção: corresponde à regulamentação e à fiscalização da atividade econômica de natureza privada, e da atuação direta do Estado no domínio econômico, por meio de empresas estatais. A Administração Pública deve garantir o cumprimento da lei, desconsiderando a vontade particular, pois sua função é o bem comum, não individual. Para que a Administração Pública realize suas atividades o ordenamento jurídico lhe conferiu alguns poderes, que são os chamados poderes administrativos, são eles: poder regulamentar, poder disciplinar, poder hierárquico e poder de polícia. (MORAES, 2005). O estudo detalhado de cada um desses poderes será feito na Unidade 2. ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 26 6 DIFERENÇA ENTRE ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Os conceitos de administração já apresentados, mostram que administrar é planejar, organizar, dirigir e controlar recursos para alcançar objetivos estabelecidos. Isso vale tanto na iniciativa privada quanto na pública. No entanto, as diferenças entre administração privada e administração pública são inúmeras e começam pela sua finalidade. De acordo com Saravia (2010, p. 4-5): O ponto de partida da distinção está na própria finalidade de cada uma das duas esferas de ação. O Estado se define pelo seu objetivo de bem comum ou interesse geral que, no caso do Brasil, está explícito na Constituição Federal. Vale a pena lembrar o preâmbulo, quando estabelece a razão de ser do Estado brasileiro: “um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional com a solução pacífica das controvérsias”. Enquanto a finalidade de uma empresa é obter ganho econômico através da organização de recursos (materiais, financeiros, humanos e tecnológicos) utilizados para produção de um bem ou prestação de um serviço. (SARAVIA, 2010). Outra diferença de grande relevância decorre do princípio da legalidade, expresso na Constituição, conforme Meirelles (2005, p. 88): Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa “pode fazer assim”; para o administrador público significa “deve fazer assim”. O fato é que, conforme Bächtold (2008, p. 26): “Em todos os países, qualquer que seja sua forma de governo ou organização política, existe uma administração pública. É a administração pública que permite aos governantes cumprir as funções básicas do governo, de forma a tratar o bem público da melhor maneira possível.” De acordo com Meirelles (2005, p. 86): “Os fins da administração pública resumem-se num único objetivo: o bem comum da coletividade administrada.” Ao longo deste caderno de estudos você aprenderá como surgiu a Administração Pública, como ela funciona, suas principais características, seus princípios, sua evolução, como e por quem é exercida. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 27 Outras grandes diferenças apontadas por Osborne e Gabler citados por Saravia (2010) são: a motivação, pois os chefes do setor público têm a reeleição como motivação, enquanto os empresários, o lucro; os recursos financeiros do governo são obtidos através do pagamento de impostos pelos contribuintes, enquanto numa empresa originam da venda de produtos aos clientes; as decisões na esfera pública são adotadas democraticamente, enquanto na iniciativa privada o empresário decide sozinho ou com os acionistas da empresa. Outra diferença entre empresa privada e administração pública é com relação à contratação de seus funcionários. A administração pública deve fazer concurso público para cargos efetivos, ou processo seletivo quando houver necessidade de contratar temporariamente. O mesmo acontece para aquisição de produtos e serviços, quando a administração pública deve fazer processo licitatório. O regime jurídico também é diferente, para a empresa é de direito privado e para a organização pública – pelo menos, em princípio – é o direito público. Consequentemente, o pessoal da empresa privada está regido pelo direito trabalhista (CLT) e o da administração pública é, em princípio, estatutário ou dedireito público (com as exceções previstas em lei). (SARAVIA, 2010). Apesar de todas essas diferenças elencadas, a administração pública depende da iniciativa privada, e esta por sua vez, também depende daquela. Conforme Simon citado por Saravia (2010, p. 8): Uma sociedade produtiva necessita de organizações produtivas e de mercados eficazes. Sem as primeiras, as segundas não têm negócios possíveis. E entre as organizações necessárias estão as governamentais que podem fornecer o marco legal e a infraestrutura de serviços essenciais que fazem com que as operações comerciais sejam possíveis, eficazes e capazes de responder às necessidades e metas da sociedade. Leia o artigo Administração Pública e Administração de Empresas: Quem Inspira a Quem? De Enrique Jeronimo Saravia, disponível na íntegra no site: <http://revistaadmmade. estacio.br/index.php/admmade/article/viewFile/100/103>. DICAS http://revistaadmmade.estacio.br/index.php/admmade/article/viewFile/100/103 http://revistaadmmade.estacio.br/index.php/admmade/article/viewFile/100/103 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 28 EXPERIÊNCIA DE HAWTHORNE As causas imediatas do aparecimento da Escola de Relações Humanas foram os estudos e as experiências realizados por professores da Universidade de Harvard na Western Electric em sua fábrica de equipamentos telefônicos de Hawthorne a partir de 1927. Esses estudos foram precedidos por outros, realizados a partir de 1924 pela Academia Nacional de Ciências, os quais se concentraram na análise das relações da produtividade com a iluminação no local de trabalho. Tal análise baseava-se nas orientações de Taylor, Gilbreth e seus sucessores. O homem era visto como uma unidade isolada cuja eficiência poderia ser estimada cientificamente. Acreditava-se que essa eficiência seria influenciada principalmente pelos fatores que seguem: • movimentos dispendiosos e ineficientes na execução do trabalho; • fadiga; • deficiência do ambiente físico. Os estudos de Hawthorne podem ser divididos em três fases. A primeira fase iniciou-se em 1923 e foi orientada por membros do Comitê em Iluminação Industrial (Committee on Industrial Lighting), fundado pela General Electric Company sob supervisão de Charles Snow. Snow conduziu estudos sobre os efeitos da intensidade de luz na produtividade. Realizaram-se então experiências com os indivíduos, para estudar esses fatores e como eles influenciavam na execução da tarefa. De acordo com esse centro de referência, na primeira experiência realizada, os métodos de produção e os sistemas de remuneração foram mantidos constantes. Inicialmente foram selecionados dois grupos de operários. Em um grupo, a iluminação permaneceu constante durante toda a experiência; no outro, teve sua intensidade sempre aumentada. A produção do segundo grupo elevou-se, mas também cresceu a produção do primeiro, o que mostrava que a iluminação não era uma variável que afetava o trabalho das equipes. Os resultados até então não tinham levado a nada. Como continuação das pesquisas, foi reduzida a iluminação no grupo de teste e, surpreendentemente, a produção continuou a aumentar. A conclusão evidente foi de que havia outras variáveis que não estavam sendo controladas e que exerciam influência direta sobre a produtividade. A partir desses resultados, o grupo de pesquisadores de Hawthorne iniciou novas pesquisas, com o objetivo de determinar essas novas variáveis. Esses resultados, interpretados LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO 29 por um dos colegas de Charles Snow, Homer Hilbarger, ficaram conhecidos como efeito Hawthorne: o fato de que os trabalhadores eram observados pelos pesquisadores durante o seu trabalho e a comunicação com estes os levou a considerar que havia maior interesse e preocupação por parte da direção com a melhoria de suas condições de trabalho e isso os impulsionou a trabalhar e a produzir mais, independentemente da variação da iluminação. Esses resultados mostraram que o simples fato de os indivíduos serem observados muda seu comportamento. Chamou-se a atenção para as necessidades afetivas dos empregados. A segunda fase dos experimentos foram os testes conduzidos no Relay Assembly Test Room em 1927. Seis mulheres foram escolhidas para o estudo, separadas das outras operárias e colocadas para trabalhar na montagem de relés elétricos, em condições especiais. As mulheres trabalhavam em uma sala menor que a anterior, com uma iluminação mais intensa, as condições de pagamento e de trabalho na linha de montagem foram modificadas e havia um pesquisador- observador que também trabalhava na supervisão de tarefas. Uma das mudanças mais marcantes é que as mulheres estavam autorizadas a conversar umas com as outras e a interagir durante o trabalho. Mais uma vez, constatou-se que a possibilidade de comunicar-se entre si e interagir, bem como a interação com o pesquisador, influenciaram fortemente nos resultados. A última fase da pesquisa começou em 1931 e ficou conhecida como experimentos do Bank Wiring Observation Room. Foram utilizados métodos de pesquisa sofisticados, com foco na dinâmica entre pequenos grupos. Catorze homens foram selecionados para participar das observações na sala de estudos. Eles foram encarregados de montar componentes elétricos em equipe. Os pesquisadores interagiram menos com os trabalhadores. A produtividade não aumentou; ao contrário, ficou comprovado que o grupo limitava o ritmo de trabalho e a produtividade. O fracasso das tentativas de relacionar as condições físicas de trabalho com a produtividade não constitui, todavia, o único fato importante na origem da Escola das Relações Humanas. Como já dissemos, esta foi a causa próxima, embora outras mais gerais, como as que seguem, não possam ser esquecidas. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 30 Os resultados de Hawthorne foram interpretados da seguinte maneira: • A produtividade dos trabalhadores era determinada por padrões e comportamentos informais estabelecidos pelo grupo de trabalho. • Os padrões e as normas informais dos grupos de trabalhadores são influenciados por elementos que eles trazem em sua cultura e hábitos próprios, que refletem características de sua socialização. • Quando existe um conflito entre as regras de trabalho e os padrões informais estabelecidos pelo grupo, a tendência deste era diminuir a produtividade. FONTE: MOTTA, Fernando C. Prestes; VASCONCELOS, Isabella F. Gouveia de. Teoria geral da administração. 3. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. p. 44 e 45. 31 Neste tópico vimos que: • Administração envolve planejamento, organização, direção e controle de recursos materiais, humanos, financeiros e tecnológicos para atingir resultados positivos para a organização. • Apesar de o estudo da Administração como ciência ser recente, já existem muitas teorias com o intuito de adaptar as organizações e as pessoas para atingir melhores resultados. • A Teoria Clássica abrange a Teoria Científica, proposta por Taylor nos Estados Unidos, que dava ênfase às tarefas. Enquanto na França, Fayol propunha a Teoria Clássica, cujo foco era na estrutura que a organização deveria possuir para ser eficiente. • A Teoria das Relações Humanas surgiu nos Estados Unidos, por volta de 1930 em decorrência da Experiência de Hawthorne. Seu precursor foi Elton Mayo. Essa teoria passou a considerar as pessoas e os grupos sociais dentro da organização. • A Teoria Neoclássica nada mais é do que a Teoria Clássica aproveitando os conhecimentos das outras teorias. Foi nessa teoria que a organização passou a ser dividida nos níveis institucional, intermediário e operacional. • A Teoria Estruturalista estuda a organização na estrutura interna e na interação com outras organizações. A empresa passa a ser considerada um sistema aberto, que interage com o ambiente externo. • A Teoria Comportamental foca no comportamento humano dentro da organização. As pessoas começam a ser percebidascomo parte importante do processo decisório dentro das organizações. • Na Teoria Sistêmica a organização passa a ser estudada como um sistema aberto em constante interação com o ambiente, influenciando-o e sendo influenciada, capaz de crescer de adaptar-se ao ambiente. • A Teoria Contingencial enfatiza que numa organização tudo é relativo, tudo depende. Não existe solução pronta para os problemas, tudo vai depender da situação. • As funções da administração (planejar, organizar, dirigir e controlar) são essenciais para o bom desempenho das organizações e devem estar integradas. RESUMO DO TÓPICO 1 32 • O planejamento é de suma importância para a sobrevivência da empresa. É dividido em planejamento estratégico (nível institucional), planejamento tático (nível intermediário) e planejamento operacional (nível operacional). • A Administração Pública também envolve planejamento, organização, direção e controle, no entanto, sua finalidade é o bem comum, não o lucro. • As principais diferenças entre administração particular e Administração Pública são a finalidade (lucro x bem comum) e o fato de a Administração Pública só poder fazer o que a lei autoriza e a administração particular poder fazer tudo o que a lei não proíbe. 33 1 No que se refere à Administração, analise as proposições a seguir e assinale a alternativa CORRETA: I. Administração envolve planejamento, organização, direção e controle. II. Administrar é tomar decisões sobre objetivos e utilização de recursos. III. Uma empresa que não utiliza as ferramentas da Administração terá sucesso garantido, diferentemente daquelas que utilizam. a) ( ) Apenas a proposição I está correta. b) ( ) Apenas a proposição II está correta. c) ( ) As proposições I e II estão corretas. d) ( ) Todas as proposições estão corretas. 2 O estudo da Administração como ciência é recente. Das alternativas a seguir, quais são as causas desse fato: a) ( ) Na Antiguidade o trabalho era visto com desprezo. b) ( ) Na Antiguidade o trabalho era visto com desprezo e na Idade Média as classes mais favorecidas tinham preconceito em relação ao trabalho, quem era nobre não trabalhava. c) ( ) O estudo da Administração não tem nada a ver com a forma como o trabalho era visto. d) ( ) A Administração não fazia parte da vida dos homens, até hoje muitos nem precisam dela. 3 Com base nas teorias da Administração, relacione a coluna da direita com a coluna da esquerda: AUTOATIVIDADE I. Administração Científica ( ) Ênfase nas pessoas. II.Teoria Clássica ( ) Ênfase na estrutura. III.Teoria das Relações Humanas ( ) Ênfase no comportamento das pessoas que passam a ser consideradas parte importante do processo decisório dentro da empresa. IV.Teoria Comportamental ( ) Ênfase nas tarefas. A sequência CORRETA é: a) ( ) I - II - IV e III. b) ( ) I – II – III e IV. c) ( ) II – I – III e IV. d) ( ) III – II – IV e I. Assista ao vídeo de resolução da questão 1 34 4 Taylor procurou substituir os métodos rudimentares por métodos científicos, esse projeto recebeu o nome de: a) ( ) Organização Internacional do Trabalho. b) ( ) Organização Regional do Trabalho. c) ( ) Organização Racional do Trabalho. d) ( ) Organização Radical do Trabalho. 5 A Administração Científica e a teoria das Relações Humanas classificavam o homem de acordo com seus interesses. Para a Administração Científica o homem foi conceituado como ________ __________, enquanto na teoria das Relações Humanas era considerado _________ __________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas: a) ( ) Homo economicus; homem social. b) ( ) Homo economicus; homem racional. c) ( ) Homem social; homo economicus. d) ( ) Homem social; homem racional. 6 São funções da Administração: a) ( ) Planejamento e organização. b) ( ) Planejamento, organização, direção e controle. c) ( ) Organização, controle e liderança. d) ( ) Planejamento, auditoria e ouvidoria. 7 O planejamento é vital para o sucesso das empresas e abrange toda a organização. Acerca do planejamento relacione a coluna da direita com a coluna da esquerda. I. Planejamento ( ) Compreende o nível intermediário da empresa, aborda cada unidade separadamente, é de médio prazo. II. Planejamento estratégico ( ) Processo desenvolvido para alcance de situação futura desejada. III. Planejamento tático ( ) Abrange o nível operacional da empresa, compreende cada tarefa individualmente, foca no curto prazo. IV. Planejamento operacional ( ) Elaborado pelos níveis mais altos da organização, compreende toda a organização, é de longo prazo. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) IV – I - II e III. b) ( ) III – II - IV e I. c) ( ) III – I - II e IV. d) ( ) III – I - IV e II. 35 8 Podemos resumir os fins da Administração Pública: a) ( ) Na aquisição de bens para o órgão público. b) ( ) Na busca pelo bem comum. c) ( ) Na conquista de prêmios de responsabilidade social. d) ( ) Na obtenção de lucro. 9 Com base nas diferenças entre administração particular e Administração Pública, analise as proposições abaixo: I. A finalidade da Administração Pública é o bem comum, enquanto da Administração particular é o lucro. II. A Administração particular só pode fazer o que está em lei, enquanto a Administração Pública pode fazer tudo que a lei não proíbe. III. A Administração Pública deve obedecer ao princípio da legalidade, ou seja, só pode fazer o que está expresso em lei, enquanto a administração particular pode fazer tudo que a lei não proíbe. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas a I está correta. b) ( ) Apenas a II está correta. c) ( ) Apenas I e III estão corretas. d) ( ) Todas estão corretas. 36 37 TÓPICO 2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Vistos os conceitos e a diferença de Administração e Administração Pública, vamos começar a nos aprofundar na matéria que trata da Administração Pública. Para isto, é importante conhecer e entender como a Administração Pública surgiu, quais são suas origens. Ao falar sobre Administração Pública, aparecerá a figura do Estado e seus componentes. Neste caderno de estudos, quando falarmos em Estado com letra maiúscula, estamos nos referindo ao país. Entre os componentes do Estado, além do povo e do território, está o governo. Estudaremos como o governo se organiza em seus três poderes, que são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Por fim, vamos estudar sobre as constituições do Brasil. Para ficar mais claro, a constituição é a lei máxima de um país. 2 ORIGENS HISTÓRICAS Seguindo a linha de raciocínio de Meirelles (2011, p. 60, grifo do autor): “O estudo da Administração Pública em geral, compreendendo a sua estrutura e as suas atividades, deve partir do conceito de Estado [...]”. Observamos que para entendermos melhor como surgiu a Administração Pública, precisamos antes ter o entendimento do conceito de Estado. Aqui, quando falamos em Estado, nos referimos sob o aspecto político, ou seja, um povo que vive em um território comandado por um governo, “O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que é considerado. [...] sob o aspecto político, é comunidade de homens, fixada sobre um território, com potestade superior de ação, de mando e de coerção [...].” (MALBERG apud MEIRELLES, 2011, p. 61). Em um Estado independente deve haver soberania, ou seja, um poder que faça cumprir a vontade de seu povo em um determinado território. Dessa forma, surgem os poderes do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário. Para Meirelles (2011, p. 61, grifo do autor): “A vontade estatal apresenta-se e se manifesta através dos denominados Poderes de Estado. [...] são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário [...].” UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 38 Os poderes do Estado serão estudados ainda nesta unidade do caderno de estudos. Para que na prática a soberania funcione, é necessário haver uma organização do Estado.A organização do Estado, conforme Meirelles (2011, p. 62): “[...] é matéria constitucional no que concerne à divisão política do território nacional, à estruturação dos Poderes, à forma de Governo, ao modo de investidura dos governantes, aos direitos e garantias dos governados.” No caso da nossa Federação, podemos também dizer do nosso Estado Federal, o território nacional compreende a União, os estados-membros, o Distrito Federal e os municípios, todos com autonomia política. Antes a União se organizava de forma diferente, era dual, onde existia apenas a União e os Estados-membros. Segundo Meirelles (2011, p. 63, grifo do autor): No Estado Federal, que é o que nos interessa, a organização política era dual, abrangendo unicamente a União (detentora da Soberania) e os Estados-membros ou Províncias (com autonomia política, além da administrativa e financeira). Agora, a nossa Federação compreende a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios, que também são entidades estatais, com autonomia política reconhecida pela Constituição da República (art. 18), embora em menor grau que a dos Estados-membros (art. 25). [...] Assim, integra a organização política da nossa Federação um Estado-membro anômalo, que é o Distrito Federal, onde se localiza a Capital da União: Brasília (Art. 18 e § 1º). As únicas entidades com autonomia política, além de administrativa e financeira, são as entidades estatais, que são a União, os estados-membros, os municípios e o Distrito Federal. Estudaremos mais adiante as autarquias, as fundações, as empresas governamentais, as entidades paraestatais que são as entidades estatais e constituem a Administração Pública. Conforme Meirelles (2011, p. 63, grifo do autor): Na nossa Federação, portanto, as entidades estatais, ou seja, entidades com autonomia política (além da administrativa e financeira) são unicamente a União, os Estados-membros, os Municípios e o Distrito Federal [...] As demais pessoas jurídicas instituídas ou autorizadas a se constituírem por lei, ou são autarquias, ou são fundações, ou são empresas governamentais, ou são entidades paraestatais, [...] Esse conjunto de entidades estatais, autárquicas, fundacionais, empresariais e paraestatais constitui a Administração Pública em sentido instrumental amplo, ou seja, a Administração centralizada e descentralizada. ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 39 A Administração Pública pode ser Direta/Centralizada ou Indireta/ Descentralizada. Estudaremos este assunto detalhadamente no Tópico 1 da Unidade 2 deste caderno de estudos. Surgindo a Administração Pública sob a necessidade de administrar um Estado, se faz necessária a organização da mesma. Conforme Meirelles (2011, p. 64, grifo do autor): Após a organização soberana do Estado, com a instituição constitucional dos três Poderes que compõem o Governo, e a divisão política do território nacional, segue-se a organização da Administração, ou seja, a estruturação legal das entidades e órgãos que irão desempenhar as funções, através de agentes públicos (pessoas físicas). Esta organização da Administração pública deve ter base legal. A partir disto surge o Direito Administrativo para regulamentar as condutas da Administração. Nesse campo estrutural e funcional do Estado atua o moderno Direito Administrativo [...] O Direito Administrativo impõe as regras jurídicas de organização e funcionamento do complexo estatal; as técnicas de administração indicam os instrumentos e a conduta mais adequada para o pleno desempenho das atribuições da Administração. (MEIRELLES, 2011, p. 64, grifo do autor). Estudaremos sobre o Direito Administrativo no Tópico 3 desta unidade. Vale ressaltar que o conceito de Administração não deve ser confundido com o conceito de Governo. Meirelles (2011, p. 65, grifo do autor) explica que “Governo - em sentido formal, é o conjunto de Poderes e órgão constitucionais [...]”, enquanto a “Administração Pública - em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo [...].” ESTUDOS FU TUROS ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 40 3 ESTADO O Estado é composto por três elementos: o povo, o território e o governo. De acordo com Meirelles (2011, p. 61, grifo do autor): O Estado é constituído de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Território e Governo Soberano. Povo é o componente humano do Estado; Território, a sua base física; Governo soberano, o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização emanado do Povo. O povo é a parte humana do Estado (com vínculos que ao longo da sua existência se tornaram em comum, como por exemplo, a religião e a cultura) e determina suas características, já que o Estado é caracterizado e moldado conforme a vontade e necessidade do povo. Segundo Alkmim (2009, p. 72): Povo é o elemento humano do Estado, razão de sua existência. É o conjunto de pessoas unidas por vínculos culturais, históricos, religiosos, entre outros, que juntas buscam a consecução de objetivos comuns. Esse conjunto de pessoas mantém um vínculo jurídico-político com o Estado, o que o torna parte integrante deste. O território é a área geográfica delimitada onde existirá o seu povo e consequentemente, o governo. “Território é o espaço geográfico delimitado, onde se encontra fixado o elemento humano que é o povo e onde se exerce a soberania.” (ALKMIM, 2009, p. 73). O governo, como o próprio nome diz, tem o poder para governar, administrar os recursos do povo para atingir o bem e objetivos comuns, assegurando o bem- estar e atendendo as necessidades do povo dentro do seu território. Alkmim (2009, p. 77), conceitua governo como: O governo representa o elemento formal do Estado, aquele responsável pelo exercício do Poder político dentro do território. Vale dizer que o povo, como elemento humano do Estado, precisa se organizar. Esta organização se dá por meio da instituição de um governo que terá a função de exercer o poder dentro do Estado por delegação de seu titular que é o povo. Governar é administrar, estruturar a sociedade, organizar o povo dentro de certo território. É imprescindível a existência do governo em um Estado, visto que o povo tem necessidades básicas, como por exemplo, educação, saúde e segurança. Seria impossível cada indivíduo integrante do povo conseguir suprir estas necessidades por si só, de forma individual. Alkmim (2009, p. 68-69), afirma que: TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 41 Trata-se de um ente abstrato, politicamente organizado e para a satisfação das necessidades básicas da comunidade que o integra. Necessidades essas que não podem ser supridas de modo isolado por cada cidadão, emergindo daí a necessidade de surgimento de um ente maior, capaz de prover toda a sociedade de utilidades essenciais à sua manutenção e desenvolvimento, como: a segurança, a educação, a saúde, o abastecimento, a jurisdição, entre outros igualmente importantes. Mesmo que o povo tenha necessidades básicas em comum, sempre haverá divergência de opinião e pontos de vista diferentes, além disso, como já vimos, é impossível cada indivíduo integrante do povo suprir suas necessidades individualmente. Sendo assim, mais uma vez podemos afirmar que é indispensável a figura do governo, pois caberá a ele avaliar e tomar as decisões necessárias para que essas necessidades sejam atendidas. Dessa forma, o Estado se organiza a partir dos Poderes do Estado. De acordo com Meirelles (2011, p. 61, grifo do autor): [...] Não há nem pode haver Estado independente de Soberania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível e incontrastável de organizar- se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo e de fazer cumprir as suas decisões inclusive pela força, se necessário. A vontade estatal apresenta-se e se manifesta através dos denominados Poderes de Estado. Os poderes do Estadosão respectivamente, o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário, ambos se complementam e devem trabalhar em conjunto e em harmonia, cada um cumprindo sua função. “Os Poderes de Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos Estados de Direito, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º).” (MEIRELLES, 2011, p. 6, grifo do autor). O Estado é composto por três elementos: o povo, o território e o governo. O governo se organiza a partir de três poderes que se complementam e trabalham de forma harmônica. Os três poderes são respectivamente, Legislativo, Executivo e Judiciário. IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 42 4 OS TRÊS PODERES DO ESTADO O Estado é governado pelo governo e se organiza a partir dos poderes de Estado. São três os poderes do Estado: o Poder Legislativo que tem como função elaborar/fiscalizar as leis, o Poder Executivo que tem como função administrar/ executar a lei e o Poder Judiciário que tem como função aplicar/julgar a lei. Os três poderes devem trabalhar em harmonia e de forma independente. Meirelles (2011, p. 61) explica os poderes de Estado: [...] Os poderes de Estado [...] são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Não há nem pode haver Estado independentes e harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º). [...] Assim a função precípua do Poder Legislativo é a elaboração da lei (função normativa); a função precípua do Poder Executivo é a conversão da lei em ato individual e concreto (função administrativa); a função precípua do Poder Judiciário é a aplicação coativa da lei aos litigantes (função judicial). Os três poderes do Estado surgiram para que o poder fosse dividido em mais de uma esfera, dessa forma evitaria a soberania, onde o poder ficaria nas mãos de apenas uma pessoa. Além disso, cada um dos três poderes do Estado tem suas funções definidas, e cabe a eles buscar, estudar e se especializar nas melhores alternativas para cumpri-las de forma eficiente. Integram a organização política do Estado os denominados “Poderes”, que representam uma divisão estrutural interna, visando ao mesmo tempo à especialização no exercício das funções estatais e a impedir a concentração de todo o poder do Estado nas mãos de uma única pessoa ou órgão [...]. (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 14-15). Cada poder do Estado, tanto o Legislativo, Executivo e Judiciário, possui funções típicas (funções próprias) e atípicas (funções acessórias que aparentemente seriam de outro poder). Como vimos os três poderes do Estado devem trabalhar em harmonia, cada um com sua função e de forma independente, sem que exista uma separação entre eles, mas sim, uma complementação, trabalhando de forma integrada. Ou seja, três poderes com funções definidas e distintas que se complementam. No início era um pouco diferente, existia uma visível e rígida separação entre os três poderes, mais tarde esta separação se tornou mais flexível. Com o tempo houve uma nova adaptação, onde de forma harmônica passaram a trabalhar em conjunto IMPORTANT E TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 43 e cumprir além de suas próprias funções (funções típicas), funções acessórias que aparentemente seriam de outro poder (funções atípicas). De acordo com Alexandrino e Paulo (2011, p. 15, grifo dos autores): Na história do constitucionalismo, a ideia inicial de uma rígida separação entre os Poderes foi sendo substituída pela proposta de uma maior interpenetração, coordenação e harmonia entre eles. Com isso, cada Poder passou a desempenhar não só as duas funções próprias, mas também, de modo acessório, funções que, em princípio, seriam características de outros Poderes. A separação rígida, aos poucos, deu lugar a uma divisão flexível das funções estatais, na qual cada Poder termina por exercer, em certa medida, as três funções do Estado: uma em caráter predominante (por isso denominada típica), e outras de natureza acessória, denominadas atípicas (porque, em princípio, são próprias de outros poderes). Sendo assim, além das funções típicas de cada poder, haverá também as funções atípicas. Para entender melhor podemos descrever como isso ocorre. O Poder Legislativo tem como função típica elaborar/fiscalizar as leis, também exerce funções atípicas como administrar e julgar. Já o Poder Executivo que tem como função típica administrar/executar a lei, também exerce funções atípicas como legislar. E por fim, o Poder Judiciário que tem como função típica aplicar/ julgar a lei, também exerce funções atípicas como administrar e legislar. De acordo com Alkmim (2009, p. 622-623): A função típica de um Poder é atípica dos outros, sendo que o aspecto da tipicidade se dá com a preponderância. Por exemplo, o Poder Legislativo tem a função principal de elaborar o regramento jurídico do Estado – é sua função típica –, mas também administra seus órgãos, momento em que exerce uma atividade típica do Executivo, podendo, ainda, julgar seus membros, como é o caso do sistema brasileiro. Da mesma forma, a função típica do Poder Executivo é a administração da máquina estatal, mas compete ao Presidente da República a edição de medidas provisórias, sendo esta uma função atípica do Poder Executivo. No caso da União, podemos exemplificar de forma prática como se organizam os três poderes. No Poder Executivo encontraremos a Presidência da República, os Ministérios, órgão de assessoria etc. Conforme Meirelles (2011, p. 807): No sistema presidencialista adotado pela nossa Constituição o Presidente da República exerce o Poder Executivo da União auxiliado pelos Ministros de Estado (art. 76), [...] todos secundados por órgão de assessoramento e de execução, além de Tribunais Administrativos, Procuradorias e outros desdobramentos da Administração direta e indireta da União [...]. No poder Judiciário encontraremos os Tribunais Superiores, Tribunais Regionais Federais, Tribunais Eleitorais, Tribunais do Trabalho, entre outros. Conforme Alkmim (2009, p. 687): “A estrutura do Poder Judiciário brasileiro é complexa, tendo em vista, sobretudo, a natureza federativa do Estado e a existência de Justiças especializadas, além dos juizados especiais.”. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 44 No Poder Legislativo encontraremos o Senado Federal e a Câmara dos Deputados. “Na esfera Federal, o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, o qual possui uma composição bicameral, ou seja, é composto por duas Casas Legislativas que são o Senado Federal e a Câmara dos Deputados.” (ALKMIM, 2009, p. 625). Nos municípios não há Poder Judiciário, apenas o Poder Executivo representado pela Prefeitura tendo como chefe do Poder o Prefeito, e o Poder Legislativo representado pela Câmara de Vereadores. Meirelles (2011, p. 833) afirma que: “[...] se realiza a administração municipal, através da Prefeitura, como órgão executivo, e da Câmara de Vereadores, como órgão legislativo. Essa composição é uniforme para todos os municípios, variando apenas o número de vereadores.”. O quadro a seguir ilustra de forma clara e simplificada a estrutura dos três poderes: QUADRO 2 – ESTRUTURA DOS TRÊS PODERES DO ESTADO EXECUTIVO LEGISLATIVO JUDICIÁRIO União Presidente da República Congresso Nacional Conselho Nacional de Justiça, Tribunais Superiores e Regionais, Juízes Estados Governador Assembleia Legislativa Tribunal de Justiça e Juízes de Primeira Instância Municípios Prefeito Câmara de Vereadores - FONTE: OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras (2011, p. 9) 5 AS CONSTITUIÇÕES Constituição, segundo Alkmim (2009, p. 151): “[...] é a norma estruturante do Estado, à qual todas as instituições estatais, todo o ordenamento jurídico e, porque não dizer, toda a sociedade encontram-se vinculados e submetidos.” A Constituição integra as leis, é considerada a lei máxima de umpaís. A atual Constituição do Brasil é a Constituição de 1988. Já sofreu diversas emendas e alterações. ATENCAO Alkmim (2009, p. 151) afirma ainda que: TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 45 É fácil perceber, nesse sentido, que não há Estado sem Constituição, já que cabe a esta estabelecer não só os elementos orgânicos desse Estado, mas também os preceitos jurídicos e políticos sobre os quais serão erguidas as colunas normativas da sociedade. Trata-se, pois, do grande instrumento condicionador da vida social. Nesse sentido, podemos afirmar que a Constituição rege as condutas do Estado, sendo a lei máxima que deverá ser respeitada. Quanto à origem, as constituições poderão ser: outorgadas, promulgadas, cesaristas ou pactuadas. Uma constituição outorgada é aquela que é imposta por agente revolucionário, grupo ou governante que não foi escolhido pelo povo para em seu nome atuar (exemplos: Constituição de 1824 – Império, Constituição de 1937 – Getúlio Vargas e Constituição de 1967 – Ditadura Militar. (LENZA, 2011). Uma constituição promulgada, também denominada democrática, resulta do trabalho da Assembleia Constituinte, que foi eleita pelo povo, ou seja, recebeu deste poder para representá-lo. (exemplos: Constituições de 1891, 1934, 1946 e a de 1988). Uma constituição cesarista não é outorgada, nem democrática. Sua criação ocorre com a participação popular, onde o povo apenas confirma a vontade do detentor do poder que pode ser um imperador ou ditador (exemplos: plebiscitos napoleônicos – imperador; plebiscito de Pinochet – ditador do Chile). E por fim, uma constituição pactuada acontece quando o poder constituinte está nas mãos de mais de um titular e estes acabam fazendo um pacto (exemplos: durante a monarquia estamental da Idade Média em que o poder estatal era dividido entre o monarca e as ordens privilegiadas). (LENZA, 2011). O Brasil teve oito Constituições desde a sua independência em 1822. A partir do momento que o Brasil deixou de ser dominado por Portugal e D. Pedro I proclamou a independência do nosso País, se fez necessário existir uma Constituição. Conforme Alkmim (2009, p. 179): Com o rompimento dos laços coloniais que ligavam o Brasil a Portugal, nascia o Estado brasileiro. Um novo Estado independente e soberano que, como tal, necessitava de uma Constituição que viesse a estruturar formalmente todo o aparato estatal e que viesse a criar e organizar as suas instituições. Com efeito, precisava o Brasil de uma Constituição que viesse a dar forma ao novo Estado que surgia, pois, como dito, não há Estado sem Constituição. Embora oficialmente, segundo o site do Senado Brasileiro, o Brasil apresente sete constituições, alguns autores consideram a emenda de 1969 como uma oitava constituição. FONTE: https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/constituicoes-brasileiras IMPORTANT E UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 46 5.1 CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 A primeira Constituição do Brasil foi outorgada em 1824 por D. Pedro I. “Assim, por ato solene de 25 de Março de 1824, foi outorgada pelo Imperador a primeira Constituição brasileira, na condição de um Estado livre e independente, denominada de “Constituição Política do Império do Brasil”. (ALKMIM, 2009, p. 182). De acordo com Alkmim (2009, p. 183): “Como forma de governo, estabeleceu-se a monarquia hereditária [...].” Nessa Constituição vigorava a Monarquia hereditária, ou seja, o poder do Imperador era transferido ao filho após sua morte. O Estado era unitário, onde todo o território Imperial apesar de ser dividido em províncias é subordinado ao Imperador. As províncias não tinham autonomia. Como se tratava de um Estado unitário centralizado, as províncias criadas foram subordinadas ao poder central, por meio de seu presidente, escolhido e nomeado pelo Imperador, e do chefe de polícia, também escolhido e nomeado pelo Imperador, com atribuições não só policiais, como também judiciais, até 1870. (ALKMIM, 2009, p. 184). Houve também nesta Constituição a divisão dos poderes, sendo eles o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Moderador que controlava os demais poderes e era chefiado pelo Imperador. Alkmim (2009, p. 183) afirma: Pode-se dizer que a Constituição do Império inovou ao estabelecer uma formulação quadripartita para a divisão dos poderes, a qual previa a existência do Poder Legislativo, do Poder Moderador, do Poder Executivo e do Poder Judiciário. [...]. O Poder Moderador, por sua vez, considerado a chave de toda a organização política, era exercido privativamente pelo Imperador, como Chefe Supremo da nação e seu primeiro representante, para que incessantemente, velasse sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos. O voto era censitário, ou seja, apenas os ricos tinham o direito de votar. “A eleição era direta e censitária.” (ALKMIM, 2009, p. 183). Após anos de desgaste e confrontos para a mudança da Monarquia, em 15 de Novembro de 1889, o Império chega ao fim. A Monarquia é vencida sob o comando de Marechal Deodoro da Fonseca, e o Imperador foi exilado, Alkmim (2009, p.185) explica: [...] A monarquia se encontrava desgastada e enfraquecida. Assim, após um longo período de crise entre civis e militares, a monarquia sucumbiu sob o comando do Marechal Deodoro da Fonseca, que depôs o gabinete do Visconde de Ouro Preto, com o Imperador encaminhando-se para o exílio e a república sendo proclamada em 15 de Novembro de 1889. Terminava, assim, juntamente com o Império, os 250 anos de domínio dos Bragança em terras brasileiras. TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 47 A Constituição de 1824 foi a que mais tempo durou, predominou a Monarquia. O Estado era unitário, ou seja, ao contrário da Federação (onde o País é dividido em estados, cada um com determinada autonomia). Sendo unitário, o Poder era centralizado nas mãos do Rei. A Religião oficial era a Católica. O voto era censitário, portanto apenas os “ricos” tinham o direito de votar. O Governo se organizava em quatro Poderes, o Legislativo, Judiciário, Executivo e o Moderador que controlava os demais Poderes. 5.2 CONSTITUIÇÃO DE 1891 A segunda Constituição do Brasil foi promulgada em 1891. De acordo com Alkmim (2009, p. 185): O projeto da nova Constituição ficou a cargo de uma comissão de juristas, sob a presidência de Saldanha Marinho, que deveria ser submetido à discussão e aprovação da Assembleia Constituinte, escolhida por meio de eleições e a ser instalada em 15 de Novembro de 1890, primeiro aniversário da república. O projeto não foi aprovado e posteriormente foi revisado por Rui Barbosa. “A primeira versão não contou com a aprovação da Assembleia, sendo a redação do projeto submetida à revisão por Rui Barbosa, que discutiu emendas e modificações com todos os ministros, sendo aprovada, [...] em junho de 1890.” (ALKMIM, 2009, p. 185). A Constituição aprovada tinha como princípios fundamentais: “[...] a federação, a república, o presidencialismo e a divisão do poder em Legislativo, Executivo e Judiciário.”. (ALKMIM, 2009, p. 185). Houve influência da Constituição americana. Alkmim (2009, p. 186) explica que: Deve-se ressaltar, nada obstante esse cenário, que a Constituição consagrou em seu texto grandes inovações políticas advindas, em especial, da Constituição Americana, buscando privilegiar as garantias e direitos individuais do cidadão, além de estabelecer a divisão dos poderes. ATENCAO UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 48 A Constituição de 1891 teve algumas modificações. Da Monarquia o Brasil passou a se tornar uma República (quando o governo é eleito pelo povo por um período determinado), o Estado deixa de ser unitário e se torna uma Federação (União dividida em vários estados – antigas províncias – cada um com uma parcela de autonomia). Segundo Alkmim (2009, p. 184-185): “Com a Constituição de 1891, o Brasil se transformou política e estruturalmente.O então Estado unitário transformou-se em federação. As províncias transformaram-se em Estados. A Monarquia deixou de existir, dando lugar à república.”. O País que até então era nomeado Império do Brasil passou para República dos Estados Unidos do Brasil. “Até o nome do país mudou, passando de Império do Brasil para República dos Estados Unidos do Brasil.” (ALKMIM, 2009, p. 185). O Poder Moderador é extinto, permanecendo os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O voto permaneceu aberto, mas deixou de ser censitário, todos os homens a partir dos 21 anos tinham direito de votar, exceto os analfabetos. Conforme Alkmim (2009, p. 186): “Foram abolidos os títulos hierárquicos do Império, juntamente com as principais instituições monárquicas, como o Poder Moderador [...]. O direito de voto foi estendido a todos os homens a partir dos 21 anos de idade, excluindo-se os analfabetos.”. Outra mudança que ocorreu nesta Constituição foi com relação à Igreja, pois o Estado tinha como religião oficial a Católica. “Houve a separação entre Estado e Igreja, tornando-se o Brasil um país laico.” (ALKMIM, 2009, p. 186). Com o Federalismo, o Poder Central enfraqueceu já que cada estado tinha uma parcela de autonomia. Os estados que antes eram enfraquecidos e subordinados ao Poder Central, se fortaleceram, e agora é o governo federal que para se sustentar busca ajuda junto aos estados. O problema é que essa ajuda era dada em troca de favores, desta forma, concedia aos estados forças necessárias em troca de favores que lhe era conveniente. Isso levou o país a enfrentar crises econômicas e políticas, predominando o sistema oligárquico. Alkmim (2009, p. 186) explica: Um dos grandes problemas enfrentados pela república, em sua primeira fase, foi o enfraquecimento do poder central em razão da maior autonomia política e administrativa de que foram dotados os Estados, o que é próprio da federação. Assim, reacenderam-se os poderes regionais e locais, antes enfraquecidos em função dos mecanismos centralizadores do Império. Dessa forma, para sustentar-se, o governo federal haveria de fazer inúmeras concessões às forças estaduais, de modo a contar sempre com o apoio delas, o que levou o país ao domínio das forças oligárquicas que passaram a se revezar no poder, mantendo o Brasil em um estado de estagnação econômica e retrocesso político. TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 49 Oligarquia é um sistema político no qual o poder está concentrado num pequeno grupo pertencente a uma mesma família, um mesmo partido político ou grupo econômico. Esse pequeno grupo controla as políticas sociais e econômicas em benefício de interesses próprios. FONTE: Disponível em: <http://www.significados.com.br/oligarquia/>. Fica visível que a Constituição de 1891 teve sua importância, mas com estes acontecimentos de instabilidade política e deficiência no desenvolvimento econômico, novamente o País sofre alterações e caminha rumo a uma nova Constituição. Conforme Alkmim (2009, p. 186): [...] a Constituição de 1891 trouxe inúmeros avanços ao cenário político brasileiro. [...] não se mostrou eficaz na manutenção da estabilidade política e na criação de mecanismos que propiciassem o desenvolvimento econômico, o que [...] seria sentido no Brasil e conduziria a uma nova ruptura da Ordem Constitucional. Na Constituição de 1891, foi abolida a Monarquia, dando lugar à República, onde o governante era escolhido pelo povo. O Estado deixou de ser unitário, e se tornou uma Federação (o País foi dividido em estados, cada um com determinada autonomia). O Estado se tornou laico, sem religião oficial. O Poder Moderador foi extinto, permanecendo os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O voto era aberto e sem sigilo. 5.3 CONSTITUIÇÃO DE 1934 Ainda na Constituição de 1891, a instabilidade política resultou em uma emenda em 1926. A luta também era contra a oligarquia, ou seja, contra o poder da minoria privilegiada ao qual a maioria do povo era subordinada. Conforme Alkmim (2009, p. 187): Em razão da realidade política dominante no país nas primeiras décadas do século XX, de domínio das lideranças regionais, a Constituição de 1891 foi emendada em 1926, com vista à adequação da Constituição formal à realidade social e política, o que efetivamente não foi conseguido e, nem tampouco, foi impedido que prosperasse a luta contra o regime oligárquico dominante. UNI ATENCAO http://www.significados.com.br/oligarquia/ UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 50 Esta luta sem sucesso desencadeou a Revolução liderada por Getúlio Vargas, quatro anos após a Emenda à Constituição. Surgiu então a necessidade de uma nova Constituição que adequasse o Estado às novas mudanças políticas e sociais. Segundo Alkmim (2009, p. 187): Quatro anos depois dessa Emenda à Constituição, irrompeu-se a Revolução que pôs abaixo a primeira república, quando Getúlio Vargas, como líder civil da Revolução subiu ao poder, havendo a iminente necessidade de uma nova Constituição que pudesse amoldar o Estado à nova realidade política e social. Nesta Constituição que estava nascendo, o governo e os grupos oligárquicos tinham objetivos distintos, que, segundo Alkmim (2009, p. 187): Foram meses de intensa articulação e disputa política [...] [onde] para o governo a futura Constituição deveria incorporar o conjunto de mudanças que vinham sendo promovidas nos campos social, político e econômico. Já para os grupos oligárquicos, a nova Constituição deveria assegurar aos estados um papel de maior relevo. Alkmim (2009, p. 187) aponta: “[...] os estados do norte e nordeste, mais fracos economicamente e dependentes do governo federal, defenderam o centralismo, os estados do centro-sul reivindicavam maior autonomia em relação ao poder central”. Oito meses depois, “no dia 16 de julho de 1934, foi promulgada a nova Constituição”. (ALKMIM, 2009, p. 187). Segundo Silva apud Alkmim (2009, p. 187): [...] a nova Constituição não era tão bem estruturada como a primeira. Trouxera conteúdo novo. Mantivera da anterior, porém, os princípios formais fundamentais: a república, a federação, a divisão de poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e coordenados entre si), o presidencialismo, o regime representativo. Mas ampliaram-se os poderes da União, enumerados extensamente nos arts. 5º e 6º. Por fim, segundo Alkmim (2009, p. 187-188): A importância dos estados foi assegurada pela vitória do princípio federalista. [...] No plano de política social, foram aprovadas medidas que beneficiavam os trabalhadores, como a criação da Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de trabalho de oito horas, férias anuais remuneradas e descanso semanal. TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 51 O Estado se federalizar significa que a União foi dividida em estado, com isso ocorre “o enfraquecimento do poder central em razão da maior autonomia política e administrativa de que foram dotados os estados, o que é próprio da federação.” (ALKMIM, 2009, p.186). Como vimos, “A Constituição de 1934, [...] Ao mesmo tempo em que tentou estabelecer uma ordem liberal e moderna, buscou também fortalecer o Estado e seu papel diretor na esfera econômica e social.” (ALKMIM, 2009, p. 188). Vargas, descontente, revisou novamente a Constituição, fazendo surgir uma nova Constituição, a de 1937. Conforme Alkmim (2009, p. 188): “O resultado não agradou a Vargas, que se sentiu tolhido em seu raio de ação pela nova Carta. Vargas chegou a afirmar que estava disposto a ser o primeiro revisor da Constituição, o que de fato ocorreu.”. Na Constituição de 1934, o país continuou sendo uma Federação (dividido por estados), com os três Poderes (Executivo, Legislativo e o Judiciário), o Estado permaneceu laico, ou seja, sem religião oficial. As mulheres passaram a ter o direito de votar, mas apenas as funcionárias públicas. Houve confronto na disputa de Poder, onde “para o governo a futura Constituição deveria incorporaro conjunto de mudanças que vinham sendo promovidas nos campos social, político e econômico. Já para os grupos oligárquicos, a nova Constituição deveria assegurar aos estados um papel de maior relevo.”. (ALKMIM, 2009, p. 187). Por fim, “A importância dos estados foi assegurada pela vitória do princípio federalista. [...] No plano de política social, foram aprovadas medidas que beneficiavam os trabalhadores, como a criação da Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de trabalho de oito horas, férias anuais remuneradas e descanso semanal.” (ALKMIM, 2009, p. 187- 188). Outra mudança significativa foi em relação ao voto, onde “Uma importante inovação foi a instituição do voto feminino obrigatório, mas só para as mulheres que fossem funcionárias públicas.” (ALKMIM, 2009, p. 188). NOTA ATENCAO UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 52 5.4 CONSTITUIÇÃO DE 1937 A Constituição de 1937 se caracterizou pela forte concentração do poder novamente nas mãos do chefe do Executivo. “A quarta Constituição do Estado Brasileiro nasceu de forma autoritária, sendo outorgada por Getúlio Vargas em 10 de Novembro de 1937, mesmo dia em que se implantava no país o regime ditatorial denominado “Estado Novo”. (ALKMIM, 2009, p. 188). Para complementar, Silva apud Alkmim (2009, p. 189): A Carta de 1937 não teve, porém, aplicação regular. Muitos de seus dispositivos permaneceram letra morta. Houve ditadura pura e simples, com todo o poder Executivo e Legislativo concentrado nas mãos do Presidente da República, que legislava por via de decretos-leis que ele próprio depois aplicava, como órgão do Executivo. Segundo Alkmim (2009, p. 188-189): “Sob o aspecto político- administrativo seu conteúdo era fortemente centralizador, ficando a cargo do presidente da república a nomeação das autoridades estaduais, os chamados “interventores”. Aos interventores, por sua vez, cabia a nomeação das autoridades municipais.”. Sob o aspecto econômico, “[...] a intervenção estatal ganhava força, o que já se delineava desde 1930, havendo a criação de órgãos técnicos voltados para esse fim. Ganhava destaque também, o estímulo à organização sindical em moldes corporativos, uma das influências mais evidentes dos regimes fascistas então em vigor.” (ALKMIM, 2009, p. 189). A Segunda Guerra Mundial motivou o Presidente da República a rever a Constituição, pois além do nosso País, o mundo estava com sede de democracia. “O fim da Segunda Grande Guerra, [...] promoveu a ampliação dos movimentos que objetivavam a redemocratização do Brasil. [...] A pressão social nesse período fez com que o próprio Presidente da República iniciasse com expedição da Lei Constitucional no 9, de 28 de fevereiro de 1945 [...].”. (ALKMIM, 2009, p. 189). A Constituição de 1937 se caracterizou pela forte concentração do poder novamente nas mãos do chefe do Executivo. A Segunda Guerra Mundial motivou o Presidente da República Getúlio Vargas, a rever a Constituição, pois além do nosso País, o mundo estava com sede de democracia. ATENCAO TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 53 5.5 CONSTITUIÇÃO DE 1946 Como vimos, a Constituição de 1946 foi motivada com o fim da Segunda Guerra Mundial, onde o mundo lutava por constituições mais justas. De acordo com Alkmim (2009, p. 189): “Havia, também, no mundo pós-guerra, extraordinária recomposição dos princípios constitucionais, com reformulação de constituições existentes ou a promulgação de outras, como na Itália, França e Alemanha, e que tiveram influência decisiva na reconstitucionalização do Brasil.”. A Constituição de 1946 teve forte influência das Constituições de 1891 e 1934. Alkmim (2009, p. 190) explica: [...] em 18 de setembro de 1946, foi promulgada a nova Constituição, inspirada, em grande parte, nos textos de 1891 e 1934 e teve como eixos básicos: a consolidação de um sistema político fundado na democracia representativa, a institucionalização da federação e da autonomia municipal e a progressão no tratamento constitucional dos direitos e garantias fundamentais e de matéria econômica e social. Ampliou-se o rol dos direitos e garantias individuais em comparação com o texto de 1934. Nesta Constituição, segundo Alkmim (2009, p. 190): [...] foram estabelecidas a soberania do júri e a individualização da pena. Também, foram ampliados os direitos sociais, sendo estatuído o salário mínimo capaz de atender às necessidades do trabalhador e de sua família, criação da participação do trabalhador nos lucros das empresas, proibição de trabalho noturno aos menores de 18 anos, assistência aos desempregados, entre outras medidas. Esta Constituição sofreu várias emendas, “A partir do golpe de 1964, a Constituição de 1946 sofreu múltiplas emendas e suspensão de vigência de muitos de seus artigos.” (ALKMIM, 2009, p. 190). Essas emendas vigoraram graças aos militares que impuseram poder e perseguiam os que eram a favor do Presidente que foi destituído (expulso) do cargo. Conforme Alkmim (2009, p. 190): “Esses atos institucionais eram o reflexo do governo militar então instaurado, que passou a efetuar prisões arbitrárias de todos os que seguiam o Presidente deposto ou que simplesmente protestavam contra o regime de autoritarismo então inaugurado”. Com os militares no poder, uma nova Constituição vigoraria, sob um governo autoritário que não se importava muito com a vontade do povo. Segundo Alkmim (2009, p. 191): “Assim, em 24 de janeiro de 1967, foi promulgada a nova Constituição, elaborada e votada sob pressão de um governo ilegítimo e por um Congresso Nacional que não representava os interesses da sociedade.” UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 54 A Constituição de 1946 teve forte influência das Constituições de 1891 e 1934. Esta Constituição sofreu várias emendas, essas emendas vigoraram graças aos militares que impuseram poder e perseguiam os que eram a favor do Presidente que foi destituído (expulso) do cargo. Com os militares no poder, uma nova Constituição vigoraria, sob um governo autoritário que não se importava muito com a vontade do povo. 5.6 CONSTITUIÇÃO DE 1967 Conforme Alkmim (2009, p. 191): “A Constituição promulgada em 24 de janeiro de 1967 entra em vigor quando assumia a presidência o Marechal Arthur da Costa e Silva”. A Constituição de 1967 é da ditadura militar, ou seja, com um governo autoritário, além disso, aumentou os poderes da União, diminuindo os poderes dos estados. Teve influência da Constituição de 1937 que foi outorgada por Getúlio Vargas. Alkmim (2009, p. 191) afirma: “Dado o seu forte contorno autoritário, sofreu nítida influência da Constituição de 1937, assimilando suas características básicas. Preocupou-se, basicamente, com a segurança nacional, incorporando as mudanças estabelecidas por meio dos atos institucionais.” Algumas das mudanças da Constituição de 1967, segundo Alkmim (2009, p. 191): [...] atualizou o sistema orçamentário, reformulou o sistema tributário nacional, instituiu normas de política fiscal, tendo em vista o desenvolvimento e o combate à inflação, reduziu a autonomia individual, permitindo a suspensão de direitos e de garantias constitucionais. De outro lado, definiu mais eficazmente os direitos dos trabalhadores. Havia dois partidos, o MDB – Movimento Democrático Brasileiro que era contra os militares e a ARENA – Aliança Renovadora Nacional, que apoiava os militares. Conforme Alkmim (2009, p. 191): “Nesse período, a representação partidária limitou-se a dois únicos partidos, o Movimento Democrático Brasileiro – MDB e a Aliança Renovadora Nacional – ARENA, sendo o primeiro de oposição e o segundo representando a situação de apoio aos militares”. Em 1969, a Constituição teve uma emenda que obrigou uma nova Constituição, conforme Alkmim (2009, p. 191): “[...] em 30 de outubro de 1969, entrou em vigor a Emenda nº 1 à Constituição de 1967, que representava, na verdade a imposição de uma nova Constituição”. Silva apud Alkmim (2009, p. 191) complementa:ATENCAO TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 55 [...] teórica e tecnicamente, não se tratou de emenda, mas de nova constituição. A Emenda só serviu como mecanismo de outorga, uma vez que verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformulado, a começar pela denominação que se lhe deu: Constituição da República Federativa do Brasil, enquanto a de 1967 se chamava apenas Constituição do Brasil. Esta Constituição após a emenda de 1969 teve mais vinte e cinco emendas até que em 1985, novas emendas determinaram que fosse elaborada uma nova Constituição pela Assembleia Nacional, Constituição esta que perdura até os dias atuais e já sofreu várias alterações, a nossa atual Constituição de 1988. Segundo Alkmim (2009, p. 192): Essa Constituição foi modificada por outras vinte e cinco emendas, afora a de nº 26, de 27 de novembro de 1985, que convocou a Assembleia Nacional Constituinte para a elaboração da nova Constituição, promulgada a 05 de outubro de 1988 e que vige até os dias atuais, muito embora profundamente modificada ao longo dos anos, por inúmeras Emendas Constitucionais. A Constituição de 1967 é da ditadura militar, ou seja, com um governo autoritário, além disso, aumentou os poderes da União, diminuindo os poderes dos estados. Em 1969, a Constituição teve uma emenda que obrigou uma nova Constituição. Esta Constituição após a emenda de 1969 teve mais vinte e cinco emendas até que em 1985, novas emendas determinaram que fosse elaborada uma nova Constituição pela Assembleia Nacional, Constituição esta que perdura até os dias atuais e já sofreu várias alterações, a nossa atual Constituição de 1988. 5.7 CONSTITUIÇÃO DE 1988 Sabemos que a Constituição de 1988 é a atual Constituição do nosso País e que sofreu várias alterações desde que foi promulgada. Como vimos anteriormente, a Constituição de 1988 surgiu das diversas emendas da Constituição anterior, a de 1967, até que as últimas emendas determinaram que fosse feito projeto de uma nova Constituição. Alkmim (2009, p. 192) explica: “A Constituição brasileira de 1988 foi elaborada por Assembleia Nacional Constituinte, convocada por meio da Emenda Constitucional, [...] tendo sido instalada no dia 1º de fevereiro de 1987”. A Constituição de 1988 compreende nove títulos: 1) dos princípios fundamentais; 2) dos direitos e garantias fundamentais; 3) da organização do ATENCAO UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 56 Estado; 4) da organização dos poderes; 5) da defesa do Estado e das Instituições democráticas; 6) da tributação e do orçamento; 7) da ordem econômica e financeira; 8) da ordem social; 9) das disposições constituintes gerais. (ALKMIM, 2009). Foram introduzidos ainda preceitos sobre seguridade social, compreendendo saúde, previdência social, assistência social, ciência e tecnologia, comunicação, meio ambiente, criança, adolescente, idoso, índio, alargando-se, sobremaneira, o campo constitucional. (ALKMIM, 2009). Através de plebiscito foi determinada a forma e sistema de governo, onde venceu a república e o presidencialismo. Conforme Alkmim (2009, p. 193): Quanto à organização do Estado, foi mantida a forma federativa, a república e o sistema presidencialista, sendo que, em relação à forma e sistema de governo, foi estabelecida a realização de plebiscito após cinco anos, para que o povo pudesse decidir entre república e monarquia e entre presidencialismo e parlamentarismo. Como se sabe, venceu a república e o presidencialismo. Segundo Guimarães apud Alkmim (2009), a Constituição de 1988 se trata de uma Constituição cidadã, visto que contou com ampla participação popular em sua elaboração e, em especial, porque se volta decididamente para a plena realização da cidadania, muito embora os sucessivos governos que vieram após a sua promulgação pouco tenham feito para o seu pleno atingimento. Podemos afirmar que a Constituição evoluiu bastante e continua evoluindo para acompanhar a evolução da sociedade. “O certo é que a Constituição deve evoluir na medida em que também evolui a sociedade, não para ser violada ou afrontada, mas para adequar-se à sociedade à qual visa estruturar e organizar.” (ALCKMIM, 2009, p. 194). Sabemos que a Constituição de 1988 é a atual Constituição do nosso País e que sofreu várias alterações desde que foi promulgada. Através de plebiscito foi determinada a forma e sistema de governo, onde venceu a república e o presidencialismo. Podemos afirmar que a Constituição evoluiu bastante e continua evoluindo para acompanhar a evolução da sociedade. ATENCAO TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 57 LEITURA COMPLEMENTAR OS ENTES DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA 1 OS ESTADOS MEMBROS Como Estado federal que é, o Brasil é composto de estados federados que gozam, segundo já se ensinou, de autonomia. Autonomia significa etimologicamente autogoverno (mais exatamente, governo de si próprio de acordo com as regras por si próprio estabelecidas). Mas na linguagem usual do Direito Público significa governo de si próprio dentro do âmbito fixado (e limitado) por um poder mais alto, o poder soberano. Na estrutura federativa brasileira, a autonomia do Estado federado importa em auto-organização. Cada Estado federado se rege por uma Constituição que o seu Poder Constituinte estabelece. Mas este Poder Constituinte do Estado-Membro não é originário, é decorrente do Poder Constituinte originário que gerou como federativa a Constituição brasileira. Não é, pois, um poder ilimitado. Ao contrário, é um poder de auto-organização delimitado pela Constituição Federal, que fixa em parte a estruturação estadual. Com efeito, por um lado, a Constituição Federal impõe aos estados a observância, sob pena de intervenção federal, de alguns princípios que devem ser adaptados pelo constituinte estadual às peculiaridades locais. São os princípios enumerados no art. 34, VII, da Constituição, ou seja; forma republicana, sistema representativo e regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal; prestação de contas da administração pública, direta e indireta. Verifica-se que aos estados foi concedida maior autonomia de auto- organização do que aquela que lhes cabia no Direito anterior. A Constituição de 1967 previa a auto-organização dos estados, mas limitava-lhes extensamente esse poder, obrigando-os ao respeito de inúmeras regras, preordenando sua organização (EC no 1/69, art. 13), além de incorporar-lhes grande parte do Direito federal (CC no 1/69, art. 200). A Constituição vigente apenas determina aos estados o respeito aos seus princípios, que, como já se disse, são os previstos no art. 34, VII. Não é necessário repetir que esses estados têm uma competência própria, a que resta após excluir-se o que cabe à União ou aos municípios (art. 25, § 1º). Nem que têm eles receitas próprias resultantes, inclusive, de tributos privativos (art. 155). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 58 Igualmente não é preciso sublinhar que os poderes estaduais não estão sujeitos aos poderes federais correspondentes, como não o está a administração estadual à federal. 2 OS TERRITÓRIOS Como é sabido, a primeira Constituição republicana não previa a existência de territórios de onde surgiu difícil problema com a aquisição do Acre. Daí em diante fixou-se na doutrina e nos textos posteriores a ideia de que os territórios são estados em embrião. Não há na Constituição atual, como na anterior, critérios fixados para que se afira estar ou não o território em condições de se tornar estado. Por analogia, contudo, poder-se-ia aplicar o critério fixado pelo “Ato das Disposições Constitucionais Transitórias” à Constituição de 1946, art. 9º, em relação ao Acre, isto é, igualarem as rendas do Território às do Estado de menor arrecadação. Essa transformação observará o procedimento fixado em lei complementar. Embora estados em embrião no plano político, no jurídico, os territórios são meras divisões administrativas da União, podendo ser divididos,redivididos ou reunidos por esta sem maiores dificuldades. Não têm autonomia política, pois são regidos por um governador nomeado pelo Presidente da República, mediante aprovação prévia do Senado, por voto secreto e com arguição Pública. Em regra, os territórios não têm órgão legislativo próprio. É o Congresso Nacional que vota os projetos de lei a eles referentes. O texto constitucional em vigor excepciona os territórios com população excedente de cem mil habitantes, determinando que disporão de Câmara Territorial que exercerá competência legislativa nos termos da lei (art. 33, § 3º). Remanesce, todavia, a competência do Congresso Nacional sobre sua organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública (art. 48, IX, c/c o art. 61, § 1º, II, b). Neles existe a autonomia administrativa, mas a soma de competências conferidas a seu órgão dirigente, de nomeação do executivo federal, pode variar de um para outro. Nos territórios, compete, como é lógico, à União arrecadar os tributos que a Constituição atribui aos Estados-Membros (art. 147). Igualmente, cabe à união exercer nos territórios as competências que seriam estaduais. Os territórios não têm, como tais, representação política. Não há lugar no Senado para representantes dos territórios. Todavia, o povo de cada território elege quatro deputados à Câmara Federal. TÓPICO 2 | ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 59 O Território de Fernando de Noronha foi incorporado ao Estado de Pernambuco pela nova Constituição. Note-se, porém, que hoje inexiste qualquer território. Os que existiam antes da vigência da Constituição atual foram pelo Ato das Disposições Constitucionais Transitórias transformados em Estados. Não estão sequer incluídos na Constituição vigente entre os entes federativos, ao contrário do que constava do direito anterior. FONTE: FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 36. ed. São Paulo: Saraiva 2010. 60 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • A Administração Pública é mais fácil de ser compreendida a partir do momento que se tem claro, o conceito de Estado, que por sua vez, é composto por três elementos: o povo, o território e o governo. • O governo se organiza em três poderes, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. • Cada poder do Estado tem funções típicas e atípicas. Como função típica do Poder Executivo é executar/administrar as leis, do Poder Legislativo é elaborar e fiscalizar as leis e do Poder Judiciário é aplicar/julgar as leis. • A Administração Pública se organiza para realizar as atividades de acordo com os objetivos do governo. • O Direito Administrativo rege as condutas da Administração Pública. • A Constituição é a lei máxima do País. • O Brasil está na oitava Constituição, a de 1988, que já sofreu várias alterações. 61 1 Quais são os elementos do Estado? a) ( ) O Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. b) ( ) O povo, o território e o Governo. c) ( ) As fontes do Direito Administrativo. d) ( ) A sociedade e os Municípios. 2 Complete as lacunas: (1)Território (2) Povo (3) Governo (4) Estado (5) Administração Pública ( ) É o componente humano do Estado. ( ) É o elemento condutor do Estado. ( ) É constituído de três elementos originários e indissociáveis. ( ) É a base física do Estado. ( ) Organiza-se para realizar as atividades de acordo com os objetivos do governo. A sequência CORRETA é: a) ( ) 5, 3, 2, 1, 4. b) ( ) 4, 3, 2, 5, 1. c) ( ) 2, 3, 4, 1, 5. d) ( ) 5, 4, 3, 1, 2. AUTOATIVIDADE 62 3 O Estado é comandado pelo governo conforme a vontade de seu povo. O governo por sua vez, se organiza conforme os três poderes do Estado. Assinale V para verdadeiro e F para falso: a) ( ) Os poderes do Estado são o Executivo, Legislativo e Judiciário. b) ( ) Cada um dos três poderes exercem apenas sua função típica. c) ( ) O três poderes devem trabalhar com uma rígida separação, cada um exercendo sua função. d) ( ) Os três poderes do Estado devem trabalhar em harmonia, cada um com sua função e de forma independente, sem que exista uma separação entre eles, mas sim, uma complementação, trabalhando de forma integrada. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F - F. b) ( ) V – V – V - F. c) ( ) V – F – F - V. d) ( ) F – V – V - F. 4 Sobre Constituição, assinale a alternativa CORRETA: I. A Constituição rege as condutas do Estado, sendo a lei máxima que deverá ser respeitada. II. A Constituição de 1988 é a atual Constituição do nosso País e já sofreu várias alterações. III. O Brasil já está na décima Constituição. IV. A primeira Constituição do Brasil foi outorgada em 1824 por D. Pedro I. a) ( ) I e IV estão corretas. b) ( ) Apenas a III está correta. c) ( ) I, II e IV estão corretas. d) ( ) Todas estão corretas. Assista ao vídeo de resolução da questão 3 63 TÓPICO 3 O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como vimos, Meirelles (2011, p. 65) conceitua a Administração Pública em sentido formal, como o “conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo”. Para isto, tem princípios a serem seguidos para que a Administração Pública seja realizada com ética e transparência. Neste tópico estudaremos os elementos que regem a Administração Pública, sendo os seus princípios constitucionais e os princípios reconhecidos da Constituição Federal, seguidos do Direito Administrativo que rege as condutas da Administração Pública em caráter jurídico. Também estudaremos sobre o processo legislativo brasileiro, que explica como ocorre a elaboração das leis. 2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública deve ser dirigida baseada em alguns princípios para que seja ética e transparente. Moraes (2005, p. 98) explica que: O Capítulo VII, do Título III (Da organização do Estado), da Constituição da República Federativa do Brasil, consagra as normas básicas regentes da Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e proclama os princípios constitucionais essenciais para a probidade e transparência na gestão da coisa pública. Os princípios da Administração Pública são os seguintes: “princípio da legalidade; princípio da impessoalidade; princípio da moralidade; princípio da publicidade; princípio da eficiência.” (MORAES, 2008, p. 320). Os princípios básicos da Administração Pública têm como finalidade garantir a honestidade na execução das atividades. Segundo Moraes (2005, p. 99, grifo do autor): “Em ambas as Constituições, a constitucionalização dos princípios básicos da Administração Pública tem a mesma finalidade: garantir a honestidade na gerência da res publica e possibilitar a responsabilização dos agentes públicos que se afastarem dessas diretrizes obrigatórias”. 64 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE O agente/administrador público deve executar apenas o que a lei autoriza. Tudo o que for fazer deverá estar previsto em lei. Já um administrador particular, pode executar o que quiser, desde que a lei não proíba. Conforme Moraes (2005, p. 99): [...] o administrador público somente poderá fazer o que estiver expressamente autorizado em lei e nas demais espécies normativas, inexistindo incidência de sua vontade subjetiva, pois na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza, diferentemente da esfera particular, onde será permitida a realização de tudo que a lei não proíba. 2.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE OU FINALIDADE O princípio da impessoalidade, conforme Meirelles (2011, p. 93, grifo do autor), nada mais é do que o princípio da finalidade: “O princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37, caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. [...]de forma impessoal.” Todo ato que o agente/administrador público praticar, deverá ser de interesse público, não de interesse pessoal ou de terceiros. Meirelles (2011, p. 93, grifo do autor) explica: “Desde que o princípio da finalidade exige que o ato seja praticado sempre com finalidade pública, o administrador fica impedido de buscar outro objetivo ou de praticá-lo no interesse próprio ou de terceiros.” Dessa forma, este princípio serve também, “para excluir a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações administrativas (CF, art. 37 § 1º).” (MEIRELLES, 2011, p. 93). 2.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE Como o próprio nome sugere, o princípio da moralidade está ligado com a moral e a ética da conduta do agente/administrador público na execução das suas atividades na Administração Pública. Hauriou apud Meirelles (2011, p. 90) explica que: [...] o agente administrativo, como ser humano dotado de capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético da sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o importuno, mas também entre o honesto e o desonesto. TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 65 Nem tudo que é legal é honesto, “Por considerações de Direito e Moral, o ato administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal é honesto [...].”. (HAURIOU apud MEIRELLES, 2011, p. 90). Assim como o ser humano tem a moral comum (externa), quando atua como administrador/agente público deverá praticar a moral administrativa (interna), onde, como já vimos, a finalidade da ação do agente/administrador público deverá ser o bem comum. Conforme Hauriou apud Meirelles (2011, p. 90, grifo do autor): “A moral comum, [...] é imposta ao homem para sua conduta externa; a moral administrativa é imposta ao agente público para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum.”. 2.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Todo ato administrativo deve ser publicado, pois o povo tem o direito de estar informado dos atos públicos que possam lhe interessar e intervir de forma legal se achar necessário. Conforme Meirelles (2011, p. 96): Em princípio, todo ato administrativo deve ser publicado, porque pública é a Administração que o realiza [...] O princípio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através dos meios constitucionais [...]. Há exceção, quando, por segurança nacional, algum ato seja sigiloso, “[...] só se admitindo sigilo nos casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior da Administração a ser preservado em processo previamente declarado sigiloso nos termos da Lei no 8.191, e pelo Dec. no 2.134, de 24.1.97.” (MEIRELLES, 2011, p. 96, grifo do autor). Sem dúvidas, existem casos onde o que deveria ser publicado, não é sob falso argumento. Meirelles (2011, p. 96), explica: “Lamentavelmente, por vício burocrático, sem apoio em lei e contra a índole dos negócios estatais, os atos e contratos administrativos vêm sendo ocultados dos interessados e do povo em geral, sob o falso argumento de que são “sigilosos”, quando, na realidade, são públicos e devem ser divulgados [...].”. 2.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA Este princípio exige que o agente/administrador público execute suas atividades com eficiência, agilidade, dedicação e perfeição. Para Meirelles (2011, p. 98, grifo do autor): “O princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional”. 66 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Moraes (2005, p. 109, grifo do autor) complementa: O princípio da eficiência vem reforçar a possibilidade do Ministério Público, com base em sua função constitucional de zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promover as medidas necessárias, judicial e extrajudicialmente, a sua garantia (CF, artigo 129, II). Como características básicas, o princípio da eficiência, segundo Moraes (2005, p. 109), são: “[...] direcionamento da atividade e dos serviços públicos à efetividade do bem comum, imparcialidade, neutralidade, transparência, participação e aproximação dos serviços públicos da população, eficácia, desburocratização e busca da qualidade [...]”. 3 PRINCÍPIOS RECONHECIDOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA De acordo com Moraes (2005, p. 116): “Além dos princípios constitucionais, previstos no caput do artigo 37 da Constituição Federal, existem princípios infraconstitucionais básicos que regem a Administração Pública, em consonância com os preceitos da Carta Magna [...]”. A Carta Magna é a Constituição Federal, ambos os termos têm o mesmo significado, representam a lei máxima do país. Os princípios reconhecidos da Administração são: “[...] supremacia do interesse público, presunção de legitimidade ou de veracidade; especialidade, controle administrativo ou tutela, autotutela, hierarquia, continuidade do serviço público, motivação.”. (MORAES, 2005, p. 116, grifo do autor). 3.1 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO Este princípio determina que todo serviço público deverá ter efetividade em atingir o bem comum. “O princípio da supremacia ou preponderância do interesse público, também conhecido por princípio da finalidade pública, consiste no direcionamento da atividade e dos serviços públicos à efetividade do bem comum”. (MORAES, 2005, p. 116). NOTA TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 67 Segundo Moraes (2005, p.116, grifo do autor): “A Constituição Federal prevê no inciso IV, do artigo 3º, que constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. O princípio da supremacia do interesse público tem uma forte ligação com o princípio da finalidade que já estudamos no item 2.2 desta unidade. Para Meirelles (2011, p. 105-106): “O princípio do interesse público está intimamente ligado ao da finalidade. A primazia do interesse público sobre o privado é inerente à atuação e denomina-a, na medida em que a existência do Estado justifica-se pela busca do interesse geral [...].” 3.2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE E DE VERACIDADE Este princípio é devido para executar determinados atos sempre que for presumido legal e verdadeiro. Se gerar obrigação ao particular, o mesmo deverá cumpri-la mesmo que seja contra sua vontade. “[...] os atos, condutas e decisões administrativas, por serem considerados verdadeiros e legais, são de execução imediata, e podem criar deveres e obrigações ao particular, independentemente de sua aceitação”. (MORAES, 2005, p. 117). O agente/administrador público se torna responsável e deverá responder por seus atos, e neste princípio, que é muito relativo, se a decisão for comprovada ilícita, trará consequências ao agente/administrador público. Moraes (2005, p. 117), explica: “Obviamente, por tratar-se de presunção relativa, sempre haverá a possibilidade de comprovar-se a ilegalidade ou mesmo a falsidade das decisões administrativas, consequentemente, os servidores públicos”. 3.3 PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE Estudaremos na próxima unidade sobre a Administração Direta e Indireta. Este princípio da especialidade está interligado com a Administração Indireta. Administração Indireta é o Poder descentralizado, quando terceiros realizam serviço em nome do Estado. “Esse princípio refere-se às entidades integrantes da Administração Pública indireta e dotadas de personalidade jurídicade direito privado, criadas com o objetivo de prestação de serviços públicos ou exploração de atividade econômica.” (MORAES, 2005, p. 117-118). Essas entidades deverão estar de acordo com os critérios previstos em lei impostos pelo Estado. Conforme Moraes (2005, p. 118): A Constituição Federal, em seu artigo 37, inciso XIX, determina que somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação. 68 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Sendo assim, todos os prestadores de serviços públicos deverão estar alinhados com os princípios e leis impostas pelo Estado, neste caso estudado, segundo Moraes (2005, p. 118): “[...] no caso das autarquias, a incidência do princípio da especialidade impedirá o afastamento, no exercício de suas atividades, das finalidades e dos objetivos determinados na lei de sua criação [...].” Já no caso “[...] das empresas públicas, das sociedades de economia mista e das fundações, a especialidade refere-se à obrigatoriedade de obediência às áreas de atuação fixadas pela lei complementar a que se refere o inciso XIX, no artigo 37, e as suas finalidades previstas na lei que autorizará sua instituição.” (MORAES, 2005, p. 118). 3.4 PRINCÍPIO DO CONTROLE ADMINISTRATIVO OU TUTELA Este princípio tem como finalidade a Administração Pública Direta fiscalizar a Administração Pública Indireta, se sua conduta está de acordo com o que está fixado em lei. Ou seja, podemos dizer que o princípio do controle administrativo ou tutela, fiscaliza se o princípio da especialidade é posto em prática. Segundo Moraes (2005, p. 118): Trata-se de corolário ao princípio da especialidade, uma vez que surgiu da necessidade de assegurar que os entes da Administração Pública indireta respeitem estritamente as finalidades e os objetivos determinados em lei para suas atuações. Dessa forma, caberá à Administração Pública direta, na forma e limites previamente fixados em lei, a fiscalização das atividades dos entes da Administração Pública indireta, com o objetivo de garantir o cumprimento de suas finalidades institucionais. Apesar de a Administração Direta impor as leis que devem ser obedecidas, a Administração Indireta tem certa autonomia e a Administração Direta só poderá fiscalizar por meio legal. “[...] em virtude da independência e autonomia existentes nas entidades da Administração Pública indireta e definida em lei, igualmente somente por meio de previsão legal haverá a possibilidade de controle por parte da Administração direta.” (MORAES, 2005, p. 118). 3.5 PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA ADMINISTRATIVA O princípio da autotutela administrativa concede à Administração Pública o direito de anular seus próprios atos caso julgar ilegal ou contra os princípios pelos quais deve zelar. Moraes (2005, p. 118-119) explica: A Administração Pública tem dever de zelar pela legalidade, moralidade e eficiência de seus atos, condutas e decisões, bem como por sua adequação ao interesse público, e pode anulá-los se considerá-los ilegais ou imorais e revogá-los caso entenda que os mesmos são inoportunos e inconvenientes, independentemente da atuação do Poder Judiciário. TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 69 3.6 PRINCÍPIO DA HIERARQUIA O princípio da hierarquia presume que deverá existir hierarquia entre os órgãos públicos para que exista a devida coordenação do chefe em relação aos seus subordinados nas atividades executadas. Conforme Moraes (2005, p. 119): “A estruturação da Administração Pública cria uma relação de coordenação e subordinação entre os vários órgãos administrativos, o poder hierárquico caracteriza-se pela autoridade do chefe sobre seus subordinados no exercício de suas funções estabelecidas em lei.” Este princípio incide sob as funções administrativas, não cabe às funções legislativas, judiciárias e do Ministério Público, pois estes têm autonomia funcional. Conforme Moraes (2005, p. 119): “O princípio da hierarquia tem incidência nas funções administrativas, e não se aplica nas funções legislativas, judiciárias e do Ministério Público, nas quais a Constituição Federal consagrou expressamente o princípio da autonomia funcional.”. De acordo com Moraes (2005), algumas atividades do princípio da hierarquia são: unidade de direcionamento das funções administrativas; possibilidade de revisão dos atos dos subordinados; possibilidade de delegação e avocação de atribuições; dever de vigilância para com os subordinados; possibilidade de delegação e avocação de atribuições; dever de vigilância para com os subordinados; dever de obediência dos subordinados; existência de mecanismos de resolução de conflitos de atribuições. 3.7 PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO O princípio da motivação defende a ideia de que todo ato administrativo deverá ter uma causa, de preferência prevista em lei, conforme Meirelles (2011, p. 103): “A motivação, portanto, deve apontar a causa e os elementos determinantes da prática do ato administrativo, bem como o dispositivo legal em que se funda”. Pela motivação, segundo Meirelles (2011 p. 103): “[...] o administrador público justifica sua ação administrativa, indicando os fatos (pressupostos de fato) que ensejam o ato e os preceitos jurídicos (pressupostos de direito) que autorizam sua prática”. 3.8 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO O princípio da continuidade do serviço público se refere aos serviços essenciais que não podem ser suspensos, como por exemplo, na área da saúde. Conforme Moraes (2005, p. 121): “A atividade da Administração Pública é ininterrupta, e não se admite paralisação nos serviços públicos básicos, cujas funções são essenciais ou necessárias a toda coletividade, como por exemplo, os serviços de saúde, justiça, segurança pública, transportes, entre outros”. 70 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4 DIREITO ADMINISTRATIVO O Direito Administrativo surgiu da necessidade de leis para o funcionamento da Administração Pública. Conforme Meirelles (2011, p. 38, grifo do autor): “A escola francesa, capitaneada por Ducrocq, Batbie e Gianquinto, sustenta que o Direito Administrativo se detém no estudo do sistema de leis que regem a Administração Pública.” O conceito de Direito Administrativo varia muito de país para país. “A diversidade das definições está a indicar o desencontro doutrinário sobre o conceito de Direito Administrativo, variando o entendimento consoante a escola e o critério adotado pelos autores que procuram caracterizar seu objeto e demarcar sua área de atuação”. (MEIRELLES, 2011, p. 39). Para Meirelles (2011, p. 39) o conceito de Direito Administrativo no Brasil não tem coerência com os conceitos estrangeiros: “A doutrina estrangeira não nos parece habilitada a fornecer o exato conceito do Direito Administrativo Brasileiro [...].” O Direito Administrativo Brasileiro, “para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado.” (MEIRELLES, 2011, p. 40, grifo do autor). Meirelles (2011, p. 40, grifo do autor) explica individualmente cada elemento do conceito do Direito Administrativo Brasileiro: Conjunto harmônico de princípios jurídicos... significa que a sistematização de normas doutrinárias de Direito. [...] que regem os órgãos, os agentes... indica que ordena a estrutura e o pessoal do serviço público; e as atividades públicas...isto é, a seriação de atos da Administração Pública, praticados nessa qualidade, e não quando atua, excepcionalmente, em condições de igualdade com o particular, sujeito às normas do Direito Privado; tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado. Aí estão a caracterização e a delimitação do objeto do Direito Administrativo. Ostrês primeiros termos – concreta, direta e imediatamente – afastam a ingerência desse ramo do Direito na atividade estatal abstrata que é a legislativa, na atividade indireta que é a judicial, e na atividade mediata que é a ação social do Estado. [...] – fins desejados pelo Estado – estão a indicar que ao Direito Administrativo não compete dizer quais são os fins do Estado. De forma objetiva, podemos afirmar que “O Direito Administrativo apenas passa a disciplinar as atividades e os órgãos estatais ou a eles assemelhados, para o eficiente funcionamento da Administração Pública.” (MEIRELLES, 2011, p. 40). TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 71 No fim desta unidade, a leitura complementar irá abordar as fontes do Direito Administrativo. 5 PROCESSO LEGISLATIVO BRASILEIRO Um dos princípios mais relevantes na Administração Pública, senão o mais relevante é o princípio da legalidade, ou seja, a Administração Pública só pode fazer o que está expresso em lei. Logo, não se pode falar em Administração Pública sem falar em lei. A Administração Pública é dependente das leis. Por esse motivo, é importante conhecer um pouco sobre o processo legislativo. Conforme Moraes apud Cantergi (2007, p. 8), o processo legislativo sob a ótica jurídica é: “[...] o conjunto coordenado de disposições que disciplinam o procedimento a ser obedecido pelos órgãos competentes na produção das leis e atos normativos que derivam diretamente da própria constituição.” Silva apud Cantergi (2007, p. 8) destaca que: “[...] processo legislativo é o conjunto de atos (iniciativa, emenda, votação, sanção) realizados pelos órgãos legislativos e órgãos cooperadores para o fim de promulgar leis.” Com base nisso, entendemos que o processo legislativo nada mais é do que as etapas para elaboração das leis. A própria Constituição Federal, no artigo 59 estabelece o processo legislativo (2005, p. 26): Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I – emendas à Constituição; II – leis complementares; III – leis ordinárias; IV – leis delegadas; V – medidas provisórias; VI – decretos legislativos; VII – resoluções. “De acordo com a organização política do Estado, é possível vislumbrar quatro modalidades distintas de processo legislativo: autocrático, direto, representativo e semidireto.” (CANTERGI, 2007, p. 8). O processo legislativo é autocrático quando compete ao próprio governo elaborar as leis, sem participação de órgãos legislativos ou cidadãos; é direto quando a lei é discutida, votada e promulgada pelo povo; é representativo quando NOTA 72 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA existe um órgão específico com a função de produzir normativas, o povo escolhe seus representantes e lhe atribui essa tarefa; e é semidireto quando a formação da lei depende de acordo entre vontades do órgão legislativo representante dos cidadãos e entre a vontade do povo. (CANTERGI, 2007). Com relação ao processo legislativo semidireto, Cantergi (2007, p. 9) afirma que: “[...] os projetos de leis elaborados pelos representantes populares somente adquirem validade e eficácia se ratificados pelos cidadãos, os quais se manifestam por meio do exercício do referendo.” No caso do Brasil, geralmente utiliza-se o sistema representativo, entretanto, não é vedado o uso de referendo para garantir a aplicabilidade de lei a ser editada. (CANTERGI, 2007). Mas afinal, quem elabora as leis? Segundo Brancato (2009, p. 30): “A competência constitucional para elaboração de leis é do Poder Legislativo, mas o Poder Executivo também colabora na sua feitura, por meio da sanção e da publicação.” O processo legislativo inclui as seguintes etapas: “[...] iniciativa, tramitação, votação, sanção/veto, promulgação e publicação.” (OCB, 2011, p. 20). A iniciativa é a apresentação do projeto ou proposta de lei. A tramitação e votação é a etapa em que os deputados, senadores ou vereadores (dependendo da esfera em que está sendo proposta a lei) irão analisar o projeto e votar. Quanto à sanção ou veto, se o projeto for aprovado dizemos que houve sanção, caso contrário, houve veto, ou seja, recuso ao projeto de lei. Conforme Filho (2010, p. 223), a sanção “[...] é que transforma o projeto aprovado pelo Legislativo em lei.” A aprovação das proposições legislativas também depende do quórum, a “Regra geral [...] é de maioria simples, contudo, existem proposições que necessitam de uma maioria qualificada [...].” (OCB, 2011, p. 31). Observe o quadro a seguir: QUADRO 3 - QUÓRUM DE APROVAÇÃO Proposição Quórum Projeto de Lei Ordinária Maioria Simples Maioria (metade + 1) dos presentes na sessão. Medida Provisória Projeto de Decreto Legislativo Projeto de Lei Complementar Maioria Absoluta M a i o r i a ( m e t a d e + 1 ) dos membros da Casa Parlamentar. Proposta de Emenda à Constituição Maioria Qualificada 3/5 dos membros da Casa Parlamentar. FONTE: OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras (2011, p. 31) TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 73 Quanto à promulgação, Filho (2010, p. 229) afirma que “por força do art. 66, § 7º, da Constituição, o Presidente deverá promulgar o ato, dentro do prazo de quarenta e oito horas decorridas da sanção, expressa ou tácita, ou da comunicação da rejeição do veto.” Ou seja, a promulgação nada mais é do que a determinação da sanção ou veto do projeto de lei. A última etapa é a publicação que é a comunicação da existência da lei, pode-se dizer que é a comunicação da promulgação. Não se pode confundir promulgação com publicação. Promulgação determina se aprova ou não o projeto de lei, já a publicação comunica/informa a existência da lei que entra em vigor. Para Filho (2010, p. 230), “promulgação e publicação são atos juridicamente distintos. Aquela atesta, autentica a existência de um ato normativo válido, executável e obrigatório. Esta “comunica” essa existência aos sujeitos a que esse ato normativo se dirige. Esta é notícia daquela. E a notícia de um fato não se confunde com o fato”. 5.1 ESPÉCIES NORMATIVAS O processo legislativo culmina na elaboração das espécies normativas elencadas no art. 59 da Constituição: emendas à Constituição; leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. As emendas modificam a Constituição Federal. É importante entender que: Não podem ser emendadas as denominadas cláusulas pétreas (CF, art. 60, § 4º) que se referem à forma federativa de Estado, ao voto direto, secreto, universal e periódico, à separação dos Poderes, e aos direitos e garantias individuais. Existem ainda cláusulas pétreas que são implícitas, como o próprio processo de alteração da Constituição. Ademais, a Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, do estado de defesa ou de estado de sítio. (OCB - ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2011, p. 60). As leis complementares regulamentam normas constitucionais. Segundo Lenza (2011, p. 531, grifo do autor): “As hipóteses de regulamentação da Constituição por meio de lei complementar estão taxativamente previstas no Texto Maior. Sempre que o constituinte originário quiser que determinada matéria seja regulamentada por lei complementar, expressamente, assim o requererá.” Tudo o que não for regulamentado por lei complementar, decreto legislativo e resoluções será regulamentado por lei ordinária. (LENZA, 2011). Conforme a OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras (2011, p. 39): “O texto constitucional se refere à lei ordinária apenas como lei, sem a utilização do adjetivo “ordinária”, visto que este está implícito. Mas quando quer diferenciá-la de outra espécie normativa, normalmente traz a expressão “lei ordinária”. 74 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A lei delegada é quando o Poder Legislativo delega poder ao Executivo para editar regras jurídicas. (FILHO, 2010). De acordo com Lenza (2011, p. 534, grifo do autor): “[...] o Legislativopode delegar o poder de elaborar as regras tanto internamente, qual seja, para as Comissões temáticas, [...] como também externamente, para outro Poder, [...] tendo-se como bom exemplo a lei delegada.”. “Assim, o Legislativo brasileiro está habilitado a delegar o poder de editar regras jurídicas novas ao Poder Executivo, pelo seu chefe – delegação propriamente dita (art. 68).” (FILHO, 2010, p. 230). Com relação às medidas provisórias: [...] são espécies normativas que possuem força de lei e são editadas, pelo Presidente da República, em situações de urgência e relevância. Estas devem ser submetidas à apreciação do Congresso Nacional tão logo sejam publicadas no Diário Oficial (CF, art. 62). Em regra, os requisitos de relevância e urgência devem ser analisados primeiramente pelo Presidente da República (juízo discricionário) e posteriormente pelo Congresso Nacional. Excepcionalmente, o Poder Judiciário poderá fazer um controle de constitucionalidade dos pressupostos constitucionais, quando houver desvio de finalidade ou abuso do poder de legislar. (OCB – ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2011, p. 54). Segundo Lenza (2011, p. 550): “O decreto legislativo [...] é o instrumento normativo por meio do qual serão materializadas as competências exclusivas do Congresso Nacional [...].” Por exemplo, o Congresso aprova tratados ou atos internacionais através da edição do decreto legislativo. Convém destacar que os decretos legislativos não precisam ser sancionados ou vetados pelo Presidente da República, porque versam sobre matéria de competência do Congresso. (LENZA, 2011). Conforme Moraes (2008, p. 694): Resolução é ato do Congresso Nacional ou de qualquer de suas casas, tomado por procedimento diferente do previsto para a elaboração das leis, destinado a regular matéria de competência do Congresso Nacional ou de competência privativa do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados, mas em regra com efeitos internos; excepcionalmente, porém, também prevê a constituição resolução com efeitos externos, como a que dispõe sobre a delegação legislativa. [...] [A resolução] disporá sobre a regulação de determinadas matérias pelo Congresso Nacional, não incluídas no campo de incidência dos decretos legislativos [...] e da lei, além das matérias privativas da Câmara dos Deputados [...] e do Senado Federal [...]. TÓPICO 3 | O QUE REGE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 75 LEITURA COMPLEMENTAR FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO O Direito Administrativo abebera-se, para sua formação, em quatro fontes principais, a saber: a lei, a doutrina, a jurisprudência e os costumes. A lei, em sentido amplo, é a fonte primária do Direito Administrativo, abrangendo esta expressão desde a Constituição até os regulamentos executivos. E compreende-se que assim seja, porque tais atos, impondo o seu poder normativo aos indivíduos e ao próprio Estado, estabelecem relações de administração de interesse direito e imediato do Direito Administrativo. A doutrina, formando o sistema teórico de princípios aplicáveis ao Direito Positivo, é elemento construtivo da Ciência Jurídica à qual pertence a disciplina em causa. A doutrina é que distingue as regras que convêm ao Direito Público e ao Direito Privado, e mais particularmente a cada um dos sub-ramos do saber jurídico. Influi ela não só na elaboração da lei como nas decisões contenciosas e não contenciosas, ordenando, assim, o próprio Direito Administrativo. A jurisprudência, traduzindo a reiteração dos julgamentos num mesmo sentido, influencia poderosamente a construção do direito, e especialmente a do Direito Administrativo, que se ressente de sistematização doutrinária e de condição legal. A jurisprudência tem um caráter mais prático, mais objetivo, que a doutrina e a lei, mas nem por isso se aparta de princípios teóricos que, por sua persistência nos julgados, acabam por penetrar e integrar a própria Ciência Jurídica. Outra característica da jurisprudência é o seu nacionalismo. Enquanto a doutrina tende a universalizar-se, a jurisprudência tende a nacionalizar-se, pela contínua adaptação da lei e dos princípios teóricos ao caso concreto. Sendo o Direito Administrativo menos geral que os demais ramos jurídicos, preocupa-se diretamente com a Administração de cada Estado, e por isso mesmo encontra, muitas vezes, mais afinidade com a jurisprudência pátria que com a doutrina estrangeira. A jurisprudência, entretanto, não obriga quer a Administração, quer o Judiciário, porque não vigora entre nós o princípio norte-americano do stare decises, segundo o qual a decisão judicial superior vincula as instâncias inferiores, para os casos idênticos. Para entender melhor as resoluções veja um exemplo prático: [...] o Congresso Nacional delegará competência ao Presidente da República para elaborar a lei delegada por meio de resolução; [...] o Senado Federal, por meio de resolução, fixará as alíquotas máximas no imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos, a ser instituído pelos estados e pelo DF. (LENZA, 2011, p. 560). 76 UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O costume tem perdido muito de sua importância na construção do Direito, desde a Lei da Boa Razão (1769), que desautorizou seu acolhimento quando contrário à lei, até a promulgação do código Civil de 1916, que declarou revogados os “usos e costumes concernentes às matérias de Direito Civil” por ele reguladas (art. 1.807). Agora, foi praticamente afastado com a revogação, feita pelo art. 2.045 do CC/2002, da Parte Primeira do Código Comercial, na qual constavam os arts. 130 e 133, que o admitia expressamente desde que secundum legem. No Direito Administrativo Brasileiro o costume exerce ainda influência, em razão da deficiência da legislação. A prática administrativa vem suprindo o texto escrito, e, sedimentada na consciência dos administradores e administrados, a praxe burocrática passa a suprir a lei, ou atua como elemento informativo da doutrina. FONTE: MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 37. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2011. 77 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico vimos que: • A Administração Pública deve ser dirigida baseada em alguns princípios legais para que seja ética e transparente. • Os princípios da Administração Pública são: princípio da legalidade; princípio da impessoalidade; princípio da moralidade; princípio da publicidade e princípio da eficiência. • A Constituição Federal ou a Carta Magna traz outros princípios além dos constitucionais, os princípios reconhecidos da Administração Pública. São eles: supremacia do interesse público, presunção de legitimidade ou de veracidade; especialidade, controle administrativo ou tutela, autotutela, hierarquia, continuidade do serviço público e motivação. • O Direito Administrativo surgiu da necessidade de leis para o funcionamento da Administração Pública. • O conceito de Direito Administrativo varia muito de país para país. • O Direito Administrativo Brasileiro pode ser conceituado como o conjunto de princípios jurídicos que regem os elementos (órgão, agentes, atividades públicas) que executam as atividades para atingir os objetivos do Estado. • O processo legislativo é composto por algumas fases até que um projeto de lei se efetive. Basicamente são: iniciativa, tramitação e votação, sanção ou veto, promulgação e divulgação. • As espécies normativas são: lei ordinária, lei complementar, medida provisória, emenda constitucional, decreto legislativo e resoluções. 78 1 Para que a Administração Pública seja executada com ética e transparência, deverá respeitar os _______________________________________. São eles: princípio da legalidade; princípio da ____________________; princípio da moralidade; princípio da publicidade e princípio da eficiência. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) Princípios Reconhecidos da Administração Pública, impessoalidade. b) ( ) Impessoalidade, PrincípiosReconhecidos da Administração Pública. c) ( ) Impessoalidade, Princípios Constitucionais da Administração Pública. d) ( ) Princípios Constitucionais da Administração Pública, impessoalidade. 2 Os princípios reconhecidos da Administração Pública são: a) ( ) Princípio da legalidade; princípio da impessoalidade; princípio da moralidade; princípio da publicidade; princípio da eficiência e princípio da razoabilidade. b) ( ) Princípio da supremacia do interesse público, princípio da presunção de legitimidade ou de veracidade, princípio da especialidade, princípio do controle administrativo ou tutela, princípio da autotutela, princípio da hierarquia, princípio da continuidade do serviço público, princípio da motivação. c) ( ) Princípio da impessoalidade, princípios da hierarquia. d) ( ) Princípio da moralidade; princípio da publicidade; princípio da eficiência e princípio da motivação. 3 Assinale V para verdadeiro ou F para falso: ( ) O conceito de Direito Administrativo é o mesmo em todos os países. ( ) O Direito Administrativo surgiu da necessidade de leis para o funcionamento da Administração Pública. ( ) O Direito Administrativo Brasileiro pode ser conceituado como o conjunto de princípios jurídicos que regem os elementos (órgão, agentes, atividades públicas) que executam as atividades para atingir os objetivos do Estado. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) V – F - F. b) ( ) V – F - V. c) ( ) F – V - V. d) ( ) F – V - F. AUTOATIVIDADE 79 4 Sobre o Processo Legislativo Brasileiro é CORRETO afirmar que: ( ) As espécies de proposição legislativa estão elencadas no art. 59 da Constituição e são apenas leis complementares e leis ordinárias. ( ) Não existe distinção de domínios entre a resolução e o decreto legislativo pelo critério formal. ( ) Sanção e veto tem o mesmo significado, ambos significam a aprovação da lei. ( ) O processo legislativo inclui as seguintes etapas: iniciativa, tramitação, votação, sanção/veto, promulgação e publicação. 80 81 UNIDADE 2 ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • conhecer a estrutura da administração pública e os serviços públicos; • entender as classificações da Administração Direta e Indireta; • compreender a importância da Administração Pública, bem como seu principal objetivo; • saber quais são os deveres e poderes da Administração Pública e para que servem; • aprender o que é o governo, quais são as políticas públicas e quem são os agentes públicos; • entender o que são atos de improbidade administrativa. Esta unidade está dividida em três tópicos e no final de cada um deles você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TÓPICO 2 – IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TÓPICO 3 – GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS Assista ao vídeo desta unidade. 82 83 TÓPICO 1 ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A administração pública é estruturada de forma a alcançar e atingir os objetivos do governo. Sua estrutura é ampla, e este será o assunto desta unidade. A administração pública pode ser direta ou indireta. Direta quando os próprios órgãos do Estado realizam os serviços, e indireta quando o Estado outorga, cria por lei outra pessoa jurídica (entidades) para executar determinados serviços. Os serviços prestados tanto pela administração direta quanto pela administração indireta são caracterizados pela forma (centralizada, descentralizada, concentrada) e meio (direta ou indireta) de execução. Além disso, como cada tipo de serviço público tem suas particularidades, os serviços públicos podem ser classificados em: serviços públicos e de utilidade pública, serviços próprios do Estado ou serviços indelegáveis, serviços impróprios do Estado ou serviços delegáveis, serviços administrativos, serviços industriais, serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis e serviços uti singuli ou serviços individuais/divisíveis. Conhecer como é estruturada a administração pública para realizar os serviços públicos a fim de atingir os objetivos do governo nos faz entender melhor e nos traz uma visão mais clara de como tudo acontece na prática e no dia a dia. Além disso, ter o entendimento do que é um serviço público, como é caracterizado e classificado, não apenas como profissional, mas também como cidadão, pode nos beneficiar de várias formas. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 84 2 SERVIÇOS PÚBLICOS Apesar do conceito “serviços públicos”, quando citado, sugerir e trazer à mente vários exemplos, não há uma definição específica para este conceito na nossa Constituição: “[...] a Constituição da República não conceitua serviço público; tampouco o fazem as leis no Brasil”. (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 653). Não existindo um conceito para serviços públicos na Constituição Federal, há escolas e teóricos que buscam caracterizar e identificar os serviços públicos. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 653), “Certo é que não existe um conceito doutrinário consensual de ‘serviço público’. O que há são escolas ou correntes teóricas que, segundo critérios variados, procuram indicar os elementos relevantes para a identificação ou a conceituação de uma atividade como ‘serviço público’”. Meirelles (2011) afirma que não há um conceito uniforme na doutrina para serviços públicos, e que dependendo do contexto, sua definição pode variar conforme sua forma (orgânica, formal, material). Para ele, serviço público é todo aquele prestado pela administração direta e indireta, sob o controle do Estado para satisfazer as necessidades do povo. Veja o conceito a seguir: O conceito de serviço público não é uniforme na doutrina, que ora nos oferece uma noção orgânica, só considerando como tal o que é prestado por órgãos públicos; ora nos apresenta uma conceituação formal, tendente a identificá-lo por características extrínsecas; ora nos expõe um conceito material, visando defini-lo por seu objeto. Realmente, o conceito de serviço público é variável e flutua ao sabor das necessidades e contingências políticas, econômicas, sociais e culturais de cada comunidade, em cada momento histórico, como acentuam os modernos publicistas. Eis o nosso conceito: Serviço público é todo aquele prestado pela administração ou por seus delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade ou simples conveniência do Estado. (MEIRELLES, 2011, p. 364, grifo do autor). Caro(a) acadêmico(a), existem três critérios que ajudam a identificar o que é considerado um serviço público. São eles: critério subjetivo ou orgânico, critério material e critério formal. A leitura complementar desta unidade explica cada um desses critérios de forma prática e clara. Não deixe de ler e se integrar melhor sobre este assunto que é muito importante e facilitador para um melhor entendimento sobre serviços públicos. IMPORTANT E TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 85 Podemos então afirmar que serviço público é um dever que o Estado tem de proporcionar benfeitorias, comodidade, utilidade e serviços essenciais aos indivíduos da sociedade. Para Di Pietro apud Alexandrino e Paulo (2011, p. 656, grifo dos autores), serviço público “[...] é o que abrange todas as prestações de utilidade ou comodidades materiais efetuadas diretamente à população, pela administração pública ou pelos delegatários de serviços públicos, e também as atividades internas ou atividades-meio da administração (por vezes chamadas de ‘serviços administrativos’) [...]”. Para complementar o conceito de serviço público, o Prof. Celso Antônio Bandeira de Mello apud Alexandrino e Paulo (2011, p. 656, grifo dos autores): “[...] considera serviço público unicamente a prestação direta à população, pela administração pública ou pelos delegatários deserviços públicos, de utilidades ou comodidades materiais voltadas à satisfação de suas necessidades ou meros interesses”. A prestação do serviço público pode ser direta ou indireta. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 653, grifo do autor): Assim sendo, decorre do caput do art. 175 da vigente Carta Política que a prestação de serviços públicos pela administração pública, incluídas todas as entidades da administração indireta, enquadra-se como prestação direta, ou seja, prestação pelo próprio poder público; é prestação indireta tão somente a realizada por particulares, mediante delegação (concessão ou permissão de serviços públicos, ou, quando cabível, autorização de serviços públicos). Portanto, sempre que o serviço for prestado pelo Estado (administração direta) e suas entidades (administração indireta), a prestação de serviço é direta. E quando o serviço for prestado por particulares, a prestação de serviço é indireta. 2.1 CLASSIFICAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO Serviço público é um assunto complexo, cada tipo de serviço tem sua finalidade, responsabilidade, formas e meios de execução, entre outros fatores. Para Meirelles (2011, p. 366, grifo do autor), a classificação dos serviços públicos deve ser feita “levando-se em conta a essencialidade, a adequação, a finalidade e os destinatários dos serviços, podemos classificá-los em: públicos e de utilidade pública; próprios e impróprios do Estado; administrativos e industriais; ‘uti universi’ e ‘uti singuli’ [...]”. Portanto, é de extrema importância conhecer e saber classificar os serviços públicos. Estudaremos a seguir: serviços públicos e de utilidade pública, serviços próprios do Estado ou serviços indelegáveis, serviços impróprios do Estado ou serviços delegáveis, serviços administrativos, serviços industriais, serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis e serviços uti singuli ou serviços individuais/ divisíveis. Em seguida, estudaremos as formas (centralizada, descentralizada ou concentrada) e os meios (direta ou indireta) de execução do serviço. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 86 2.1.1 Serviços públicos Serviços públicos são os considerados essenciais e necessários à comunidade. Este tipo de serviço deve ser prestado obrigatoriamente pela administração/poder público, sem transferir este serviço a terceiros. No conceito de Meirelles (2011, p. 366): Serviços públicos: propriamente ditos, são os que a administração presta diretamente à comunidade, por reconhecer sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência do grupo social e do próprio Estado. Por isso mesmo, tais serviços são considerados privativos do poder público, no sentido de que só a administração deve prestá-los, sem delegação a terceiros, mesmo porque geralmente exigem atos de império e medidas compulsórias em relação aos administrados. Exemplos desses serviços são os de defesa nacional, os de polícia, os de preservação da saúde pública. Como exemplo de serviço público podemos citar a área da saúde, que é uma necessidade crucial do povo; também podemos citar o serviço de polícia. 2.1.2 Serviços de utilidade pública Os serviços de utilidade pública são os considerados convenientes e facilitadores para uma parcela dos membros da comunidade, já que nem todos necessariamente usufruem deste serviço. É um tipo de serviço útil, facilitador e não obrigatoriamente necessário e essencial. Podem ser prestados por terceiros que respondem por seus próprios atos, porém os serviços prestados ficam sob controle da administração. Meirelles (2011, p. 366-367) explica: Serviços de utilidade pública: são os que a administração, reconhecendo sua conveniência (não essencialidade) para os membros da coletividade, presta-os diretamente ou aquiesce em que sejam prestados por terceiros (concessionários, permissionários ou autorizatários), nas condições regulamentadas e sob seu controle, mas por conta e risco dos prestadores, mediante remuneração dos usuários. São exemplos dessa modalidade os serviços de transporte coletivo, energia elétrica, gás, telefone. Não confunda a classificação de serviço público com serviço de utilidade pública. ATENCAO TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 87 Há diferença entre os termos serviço público e utilidade pública. Serviço público se trata de serviços necessários e essenciais que beneficiam toda a sociedade (na área da saúde, por exemplo), são de interesse coletivo, enquanto utilidade pública facilita e beneficia apenas uma parcela da sociedade que possa vir a utilizar determinado serviço (serviço de transporte coletivo, por exemplo). Meirelles (2011) explica que o serviço público visa satisfazer necessidades gerais e essenciais da sociedade, para que ela possa substituir e desenvolver-se como tal, enquanto que a utilidade pública objetiva facilitar a vida do indivíduo na coletividade, pondo à sua disposição utilidades que lhe proporcionarão mais conforto e bem-estar. Para diferenciar serviço público de utilidade pública, Meirelles (2011) faz uma comparação e explica que serviço público são serviços pró-comunidade que se dirigem ao bem comum, enquanto os serviços de utilidade pública são serviços pró-cidadão que, embora reflexamente interessem a toda a comunidade, atendem precipuamente às conveniências de seus membros individualmente considerados. 2.1.3 Serviços próprios do Estado ou serviços indelegáveis Serviços próprios do Estado, ou serviços indelegáveis, são os serviços que devem ser realizados exclusivamente pelo poder público, e não por particulares. O termo “Serviço próprio do Estado” é utilizado pelo autor Hely Lopes Meirelles, já o termo “serviços indelegáveis” é utilizado pelos autores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo. Vamos ver e conhecer os conceitos trazidos por esses autores citados. Para Alexandrino e Paulo (2011, p. 665-666): São “serviços públicos indelegáveis” aqueles que somente podem ser prestados pelo Estado, centralizadamente, ou pelas pessoas jurídicas de direito público integrantes da administração indireta. São, portanto, serviços públicos cuja prestação exige exercício de poder de império. Os exemplos usualmente apontados são a garantia da defesa nacional, da segurança interna, a fiscalização de atividades etc. Para Meirelles (2011, p. 367): Serviços próprios do Estado: são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do poder público (segurança, polícia, higiene e saúde pública etc.) e para a execução dos quais a administração usa da sua supremacia sobre os administrados. Por esta razão, só devem ser prestados por órgãos ou entidades públicas, sem delegação a particulares. Tais serviços, por sua essencialidade, geralmente são gratuitos ou de baixa remuneração, para que fiquem ao alcance de todos os membros da coletividade. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 88 Esses serviços, como citado acima, por sua essencialidade, podem ser executados pelo Estado através da administração direta, e desta forma prestados pelos órgãos do Estado, ou pela administração indireta, quando o Estado cria uma entidade (outra pessoa jurídica) para executar o serviço. Este tipo de serviço próprio do Estado, quando prestado pela administração indireta, fica sob fiscalização e vinculação do Estado. São exemplos de serviços próprios do Estado as áreas de saúde, segurança, polícia etc. Conforme citado, este tipo de serviço é gratuito ou de baixo valor por sua essencialidade, pois assim fica acessível a todos os membros do povo. 2.1.4 Serviços impróprios do Estado ou serviços delegáveis “Serviços impróprios do Estado” é o termo utilizado por Meirelles, e “serviços delegáveis” é o termo utilizado por Alexandrino e Paulo. Nos termos os autores divergem, porém o significado é o mesmo, vamos analisar. Para Meirelles (2011, p. 367): Serviços impróprios do Estado: são os que não afetam substancialmente as necessidades da comunidade, mas satisfazem interessescomuns de seus membros, e, por isso, a administração os presta remuneradamente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações governamentais), ou delega sua prestação a concessionários, permissionários ou autorizatários. Esses serviços, normalmente, são rentáveis e podem ser realizados com ou sem privilégio (não confundir com monopólio), mas sempre sob regulamentação e controle do poder público competente. Para Alexandrino e Paulo (2011, p. 665): [...] “serviços públicos delegáveis” são aqueles que podem ser prestados pelo Estado – centralizadamente ou por meio das entidades integrantes da administração indireta – ou, alternativamente, ter a sua prestação delegada a particulares, mediante contratos de concessão ou permissão de serviço público (ou, ainda, se cabível, mediante ato administrativo de autorização de serviço público). Exemplos são os serviços de telefonia, de fornecimento de energia elétrica, de transporte coletivo rodoviário de passageiros etc. Alexandrino e Paulo (2011, p. 667, grifo dos autores) criticam a classificação como serviço impróprio do Estado. “Consideramos inadequada essa classificação exatamente porque os assim denominados ‘serviços públicos impróprios’ simplesmente não são serviços públicos (são aquilo que a doutrina costuma chamar de ‘serviços de utilidade pública’).” Para eles, esse tipo de serviço não é público, se enquadrariam melhor como serviços de utilidade pública, já que não se trata de uma necessidade de toda a comunidade e sim de uma facilidade que atende apenas quem utiliza o serviço oferecido. TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 89 Utilidade pública é um tipo de serviço útil, facilitador e não obrigatoriamente necessário e essencial à comunidade. Independente de qual termo deve ou não ser utilizado, o conceito/ significado de “serviços impróprios do Estado” e “serviços delegáveis” é o mesmo. São serviços que podem ou não ser prestados pelo Estado. Quando não for prestado diretamente por ele, o prestador fica sob fiscalização daquele. Estes serviços não se tratam necessariamente de necessidades da comunidade e sim de facilidades para quem o usufruir. Justamente por este motivo que Alexandrino e Paulo não concordam com essa classificação, pois, como vimos, para eles este tipo de serviço se enquadra melhor como utilidade pública, e por isso denominam como “serviços delegáveis”. Podemos citar como exemplo deste serviço os serviços de telefonia, energia elétrica, transporte coletivo etc. 2.1.5 Serviços administrativos Serviços administrativos são aqueles realizados internamente na administração pelos agentes/administradores/servidores públicos para o funcionamento dos órgãos e entidades do Estado. Conforme Meirelles (2011, p. 367), serviços administrativos “[...] são os que a administração executa para atender a suas necessidades internas ou preparar outros serviços que serão prestados ao público, tais como o da imprensa oficial, das estações experimentais e outros dessa natureza”. Ou seja, são as atividades administrativas internas realizadas na administração. Para Alexandrino e Paulo (2011, p. 666, grifo dos autores): A doutrina costuma chamar de “serviços públicos administrativos” as atividades internas da administração pública, as suas atividades- meio. São todas aquelas atividades que, embora não representem uma prestação diretamente fruível pela população, beneficiam indiretamente a coletividade, porque são necessárias ao adequado funcionamento dos órgãos públicos e entidades administrativas. São, ademais, atividades preparatórias que visam assegurar a efetiva e eficiente prestação dos serviços diretamente fruíveis pela população. Aqui o autor destaca que embora estas atividades administrativas internas não sejam “palpáveis” ou “visíveis” à população, estes serviços são de extrema necessidade para o bom funcionamento dos órgãos públicos e das entidades. UNI UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 90 Para ficar mais claro, podemos citar um exemplo. Vamos imaginar que você vendeu um produto ou prestou um serviço para algum órgão público. Desde o momento em que foi contratado houve serviço administrativo interno. Mas vamos diretamente ao pagamento deste produto ou serviço: como você imagina que é feito o pagamento? Por pessoas que trabalham na administração pública interna, que realizarão os procedimentos necessários até que o seu pagamento seja efetuado. Serviços administrativos na administração pública são os serviços realizados internamente pelos agentes públicos, assim como uma empresa privada tem o setor administrativo interno integrado por seus colaboradores. 2.1.6 Serviços industriais Serviços industriais são aqueles que não são pagos através dos impostos/ tributos arrecadados, geram renda para quem o presta, ou seja, é um serviço pago pela comunidade, não é gratuito. A remuneração deste tipo de serviço sempre será estabelecida pelo poder público, podendo ser por meio de tarifa quando prestado pela administração direta (órgãos do Estado) ou indireta (entidades) ou por meio de preço público, quando o serviço é prestado por outra pessoa jurídica que não faça parte da administração pública direta e indireta, no caso os concessionários, permissionários ou autorizatários. Meirelles (2011, p. 367-368, grifo do autor) conceitua serviços industriais da seguinte forma: Serviços industriais: são os que produzem renda para quem os presta, mediante a remuneração da utilidade usada ou consumida, remuneração esta que, tecnicamente, se denomina tarifa ou preço público, por ser sempre fixada pelo poder público, quer quando o serviço é prestado por seus órgãos ou entidades, quer quando por concessionários, permissionários ou autorizatários. Os serviços industriais são impróprios do Estado, por consubstanciarem atividade econômica que só poderá ser explorada diretamente pelo poder público quando “necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei” (CF, art. 173). Conforme Meirelles citou acima, este tipo de serviço é considerado impróprio do Estado, ou seja, é delegável, não precisa ser obrigatoriamente prestado pelo Estado. Portanto, o poder público só poderá explorar esta atividade econômica dos serviços industriais quando, segundo a CF, art. 173, for relevante o interesse coletivo, tudo conforme define a lei. ATENCAO TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 91 Serviços industriais são os pagos pela comunidade através de taxa ou tarifa, não é um serviço “gratuito” (não é pago com impostos/tributos), por serem considerados serviços individuais. Quem obter o serviço deverá pagar por ele, como o fornecimento de água. 2.1.7 Serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis Serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis são serviços que atendem toda a coletividade, de forma que se torna impossível identificar individualmente quem está usufruindo deste serviço público geral indispensável. Podemos citar como exemplo a iluminação pública, o serviço está lá, sendo prestado, para quem? É impossível descrever individualmente, mas sabemos que é para toda a comunidade/coletividade. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 665): Conforme a orientação do Pretório Excelso, serviços públicos gerais (uti universi) ou indivisíveis são aqueles prestados a toda coletividade, indistintamente, ou seja, seus usuários são indeterminados e indetermináveis. Não é possível ao poder público identificar, de forma individualizada, as pessoas beneficiadas por um serviço prestado uti universi. Não há, tampouco, meio de mensurar a utilização por parte de cada usuário. Exemplo de serviços gerais são o serviço de iluminação pública, o serviço de varrição de ruas e praças, o serviço de conservação de logradouros públicos, entre outros. Caso se adote uma concepção ampla de serviço público, poderãoser designados ainda como serviços gerais ou indivisíveis o policiamento urbano, a garantia da segurança nacional, a defesa das fronteiras etc. Sendo assim, serviços uti universi ou serviços gerais são serviços indivisíveis, ou seja, é impossível mensurar/dividir o quanto ou quem está usufruindo deste serviço. Conforme citado acima, alguns exemplos deste tipo de serviço são: iluminação pública, manutenção de ruas e praças, conservação de logradouros públicos etc. Os serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis são “gratuitos”, por serem prestados diretamente a toda a coletividade, pagos pelo Estado com as receitas obtidas através dos impostos pagos pela população. ATENCAO UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 92 2.1.8 Serviços uti singuli ou serviços individuais/divisíveis Serviços uti singuli ou serviços individuais/divisíveis são serviços prestados de forma individual ao usuário, é possível dividir/mensurar qual serviço está sendo prestado para quem. Para ficar mais claro, podemos citar como exemplo o fornecimento de água. Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 665): Os serviços individuais, específicos ou singulares (uti singuli), ou, ainda, divisíveis, são prestados a beneficiários determinados. A administração pública sabe a quem presta o serviço e é capaz de mensurar a utilização por parte de cada um dos usuários, separadamente. Tais serviços podem ser remunerados mediante a cobrança de taxas (regime legal) ou de tarifas (regime contratual). São exemplos os serviços de coleta domiciliar de lixo, de fornecimento domiciliar de água encanada, de gás canalizado, de energia elétrica, o serviço postal, os serviços telefônicos etc. Serviços uti singuli ou serviços individuais/divisíveis são pagos através de taxas ou tarifas, cada usuário pagará pelo serviço que adquirir, de forma individual. 2.2 FORMAS E MEIOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO As formas de prestação dos serviços públicos podem ser: centralizada, descentralizada ou desconcentrada. Enquanto sua execução pode ser: direta ou indireta. Entenda que os serviços prestados de forma centralizada, descentralizada ou desconcentrada podem ser executados de forma direta ou indireta. Segundo Meirelles (2011, p. 379, grifo do autor), “Os serviços centralizados, descentralizados ou desconcentrados admitem execução direta ou indireta, porque isto diz respeito à sua implantação e operação, e não a quem tem a responsabilidade pela sua prestação ao usuário.” Isso significa que, embora determinado ente possua a responsabilidade de oferecer determinados serviços à população, ele não tem a obrigatoriedade de prestar esse serviço diretamente, pode contratar outra pessoa jurídica para fazê-lo, de forma indireta. A seguir explicaremos as formas e os meios de execução dos serviços de forma individualizada. 2.2.1 Forma de serviço centralizado É o serviço público prestado pelo próprio Estado, por meio de seus órgãos (administração direta), sob sua responsabilidade. TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 93 Para Meirelles (2011, p. 378), serviço centralizado “[...] é o que o poder público presta por seus próprios órgãos em seu nome e sob sua exclusiva responsabilidade. Em tais casos o Estado é, ao mesmo tempo, titular e prestador do serviço, que permanece integrado na agora denominada administração direta (DECRETO-LEI no 200/67, art. 4º, I)”. O serviço centralizado é aquele prestado pelo próprio Estado, pela administração direta, pelos órgãos do Estado. Além disso, a responsabilidade desse serviço também passa a ser do Estado. 2.2.2 Forma de serviço descentralizado Ocorre quando o Estado outorga ou delega outra pessoa jurídica para executar o serviço. Segundo Meirelles (2011, p. 378, grifo do autor), serviço descentralizado “[...] é todo aquele em que o poder público transfere sua titularidade ou, simplesmente, sua execução, por outorga ou delegação, a autarquias, fundações, empresas estatais, empresas privadas ou particulares individualmente e, agora, aos consórcios públicos (Lei no 11.107, de 6.4.2005)”. Ou seja, o serviço descentralizado é quando outra empresa/pessoa jurídica (administração indireta ou particular) criada ou delegada pelo Estado (administração direta) presta o serviço determinado por ele. Conforme Meirelles (2011, p. 378, grifo do autor): “Há outorga quando o Estado cria uma entidade e a ela transfere, por lei, determinado serviço público ou de utilidade pública”. Portanto, outorga é quando o Estado cria uma entidade obrigatoriamente por lei para executar determinado serviço. Conforme Meirelles (2011, p. 378, grifo do autor): “Há delegação quando o Estado transfere, por contrato (concessão ou consórcio público) ou ato unilateral (permissão ou autorização), unicamente a execução do serviço, para que o delegado o preste ao público em seu nome e por sua conta e risco, nas condições regulamentares e sob controle estatal”. Existe diferença entre outorga e delegação. A outorga é quando o Estado cria outra pessoa jurídica para executar determinado serviço, e isto só pode ser criado e modificado por lei. Já a delegação por ato administrativo é um serviço delegado a um terceiro por contrato e isto pode ser modificado conforme os atos desta natureza. Meirelles (2011, p. 378, grifo do autor) explica: A distinção entre serviço outorgado e serviço delegado é fundamental, porque aquele é transferido por lei e só por lei pode ser retirado ou modificado, e este tem apenas sua execução traspassada a terceiro, por ato administrativo (bilateral ou unilateral), pelo que pode ser revogado, modificado e anulado, como são os atos dessa natureza. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 94 Quanto ao tempo de contrato, uma empresa/pessoa jurídica outorgada pelo Estado normalmente presta serviço por tempo indeterminado, se trata da administração indireta, das entidades do Estado. Já quando o Estado delega outra empresa/pessoa jurídica para executar determinado serviço, geralmente é por tempo determinado, firmado por contrato. Conforme Meirelles (2011, p. 379, grifo do autor): “[...] os serviços de outorgados o são, normalmente, por tempo indeterminado, e os delegados por prazo certo, para que ao seu término retornem ao delegante”. Como exemplo de descentralização por delegação podemos citar a concessão de serviço de transporte coletivo. Enquanto a descentralização por outorga ocorre quando o Estado cria uma empresa pública prestadora de serviços de saneamento básico (SAMAE). Ambos, tanto a outorga quanto a delegação, são caracterizados como serviço descentralizado, pois o Estado transferiu um serviço para tal. Vale salientar que a empresa/pessoa jurídica que foi outorgada ou delegada pelo Estado está sob seu controle, regulamentação e fiscalização deste. 2.2.3 Forma de serviço desconcentrado A desconcentração sempre vai ocorrer dentro da mesma pessoa jurídica, onde a administração direta (centralizada) desconcentra, ou seja, distribui o serviço entre os órgãos da sua estrutura para facilitar e agilizar os serviços. Conforme Meirelles (2011, p. 379, grifo do autor): Serviço desconcentrado - é todo aquele que a administração executa centralizadamente, mas o distribui entre vários órgãos da mesma entidade, para facilitar sua realização e obtenção pelos usuários. A desconcentração é uma técnica administrativa de simplificação e aceleração do serviço dentro da mesma entidade, diversamente da descentralização, que é uma técnica de especialização, consistente na retirada do serviço dentro de uma entidade e transferência a outra para que o execute com mais perfeição e autonomia. A desconcentração é diferente da descentralização. A desconcentração ocorre dentro da mesma pessoa jurídica, o serviço é transferido para um órgão da mesma pessoa jurídica. Já a descentralização é quando a administração direta, o Estado, transfere o serviço para outra pessoa jurídica executar. A desconcentraçãotem como objetivo facilitar e agilizar os serviços e a descentralização tem como objetivo a especialização, onde visa à execução do serviço com mais perfeição e autonomia. Exemplo de serviço desconcentrado são as delegacias de polícia. TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 95 2.2.4 Meio de execução direta O meio de execução direta é quando o responsável pela prestação do serviço também o executa. Para Meirelles (2011, p. 379, grifo do autor): Execução direta do serviço - É a realizada pelos próprios meios da pessoa responsável pela sua prestação ao público, seja esta pessoa estatal, autárquica, fundacional, empresarial, paraestatal, ou particular. Considera-se serviço em execução direta sempre que o encarregado de seu oferecimento ao público realiza pessoalmente, ou por seus órgãos, ou por seus prepostos (não por terceiros contratados). Para essa execução não há normas especiais, senão aquelas mesmas constantes da lei instituidora do serviço, ou consubstanciadora da outorga, ou autorizada da delegação a quem vai prestá-lo aos usuários. De forma simplificada, podemos dizer que o meio de execução direta é quando o serviço é realizado por quem vai responder pelo mesmo, sem contratação de terceiros. Esta pessoa que executará o serviço e se responsabilizará por ele pode ser uma pessoa estatal, autárquica, fundacional, empresarial, paraestatal ou particular, conforme citado acima. Como exemplo de serviço prestado por meio de execução direta podemos citar o serviço de água e saneamento prestado pela autarquia municipal SAMAE. SAMAE – Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto. 2.3 MEIO DE EXECUÇÃO INDIRETA Ocorre quando a empresa responsável pelo serviço designa ou destina a realização deste a terceiros. Conforme Meirelles (2011, p. 380, grifo do autor): “Execução indireta do serviço é a que o responsável pela sua prestação aos usuários comete a terceiros para realizá-lo nas condições regulamentares. Serviço próprio ou delegado, feito por outrem, é execução indireta”. IMPORTANT E UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 96 Então, tanto a administração direta quanto a administração indireta e as empresas privadas e particulares podem executar indiretamente o serviço público que lhe foi designado, contratando um terceiro para realizar o mesmo, mas não em todos os casos. Segundo Meirelles (2011, p. 380, grifo do autor): [...] quer a administração direta, quer a administração indireta (autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista), como também os entes de cooperação (serviços sociais autônomos, organizações sociais etc.), ou as empresas privadas e particulares que receberem serviços públicos para prestar aos destinatários, podem, em certos casos, executar indiretamente o serviço, contratando-o (não delegando) com terceiros. A possibilidade de execução indireta depende, entretanto, da natureza do serviço, pois alguns existem que não admitem substituição do executor, como, por exemplo, os de polícia, e para outros a própria outorga ou delegação proíbe o traspasse da execução. Em alguns casos não é admitido contratar um terceiro para realizar o serviço, é o caso dos serviços de polícia. Como exemplo de serviço prestado por meio de execução indireta podemos citar os serviços de análises clínicas. Observe que o governo deve prestar os serviços na área de saúde, mas nesse caso contrata os laboratórios para que prestem esse serviço à população. 3 CENTRALIZAÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO, CONCENTRAÇÃO, DESCONCENTRAÇÃO Centralização na administração púbica ocorre quando o próprio Estado executa suas atividades administrativas através de seus órgãos, ocorre dentro da mesma pessoa jurídica, é o mesmo que a administração pública direta. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 23, grifo dos autores), “Ocorre a chamada centralização administrativa quando o próprio Estado executa suas tarefas diretamente, por meio dos órgãos e agentes integrantes da administração direta.” Observe que os serviços de saúde e educação da sua cidade são prestados de forma centralizada através das secretarias. Descentralização é o oposto da centralização, é o mesmo que a administração pública indireta, quando o Estado cria uma pessoa jurídica/ entidade para executar determinadas atividades administrativas, sem hierarquia e subordinação, porém com fiscalização. Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 25, grifo dos autores), “em nenhuma forma de descentralização há hierarquia. [...] há vinculação (e não subordinação)”. Ainda segundo os autores (2011, p. 23, grifo do autor), “Ocorre a chamada descentralização administrativa quando o Estado desempenha algumas de suas atribuições por meio de outras pessoas, e não pela administração direta”. Como já vimos no item 2.2.2, a descentralização pode ocorrer por outorga (por lei, geralmente por tempo indeterminado) ou por delegação (por contrato, TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 97 normalmente com tempo determinado). Como exemplo de descentralização temos as empresas públicas, as autarquias como o SAMAE e as sociedades de economia mista. Concentração ocorre quando uma pessoa jurídica na administração pública extingue algum órgão da sua própria estrutura, dentro da mesma pessoa jurídica. Para Alexandrino e Paulo (2011, p. 27), concentração é “[...] a situação em que uma determinada pessoa jurídica integrante da administração pública extingue órgãos antes existentes em sua estrutura, reunindo em um número menor de unidades as respectivas competências.”. Na concentração não existe divisão interna de competências, não existe divisão em órgãos ou secretarias. Se analisarmos a estrutura interna dos nossos órgãos públicos, veremos que a maioria é dividida em órgãos e secretarias. Para entender a concentração, imagine que a prefeitura da sua cidade decide extinguir as secretarias e fique com todas as atividades centradas numa única estrutura. Desconcentração ocorre quando uma pessoa jurídica pública cria um novo órgão dentro da sua própria estrutura (da mesma pessoa jurídica). Alexandrino e Paulo (2011, p. 26, grifo dos autores) explicam: Diferentemente da descentralização, que envolve sempre mais de uma pessoa jurídica, a desconcentração ocorre exclusivamente dentro da estrutura de uma mesma pessoa jurídica. [...] quando uma pessoa política ou uma entidade da administração indireta distribui competências no âmbito de sua própria estrutura a fim de tornar mais ágil e eficiente a prestação dos serviços. Vale repetir, desconcentração envolve, obrigatoriamente, uma só pessoa jurídica. A desconcentração pode ser entendida analisando a estrutura da prefeitura da sua cidade, certamente ela possui secretarias (de Educação, Saúde, Desenvolvimento, entre outras), fundações (Fundação de Esportes e Fundação de Cultura) e autarquias (SAMAE). 4 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA A administração pública direta é composta por pessoas políticas do Estado e tem como função executar atividades administrativas. Quando falamos em administração direta, é o mesmo que centralização ou administração pública centralizada. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 27): “Administração direta é o conjunto de órgãos que integram a pessoa política do Estado (União, estados, Distrito Federal e municípios), aos quais foi atribuída a competência para o exercício, de forma centralizada, de atividades administrativas”. De forma simplificada, podemos afirmar que administração pública direta ou administração pública centralizada é quando a execução das atividades administrativas é feita pelos próprios órgãos do Estado. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 98 Esses órgãos compõem as pessoas políticas do Estado (União, estados, Distrito Federal e municípios) e possuem autonomia política, administrativa e financeira. Meirelles (2011, p. 63) afirma: “Na nossa Federação, portanto, as entidades estatais, ou seja, entidades com autonomia política(além da administrativa e financeira) são unicamente a União, os estados-membros, os municípios e o Distrito Federal [...].”. 5 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA A administração pública indireta, ou administração pública descentralizada, ocorre quando o Estado (administração direta) cria outras pessoas jurídicas para executar atividades em seu nome e assumindo as responsabilidades. Essas pessoas jurídicas criadas pelo Estado são chamadas de entidades administrativas (administração indireta), não são subordinadas ao Estado, mas são vinculadas e fiscalizadas por ele, pois não possuem autonomia política. Essas entidades administrativas devem ser obrigatoriamente criadas por lei pelo Estado. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 24, grifo dos autores): A descentralização será efetivada mediante outorga quando o Estado cria uma entidade (pessoa jurídica) e a ela transfere determinado serviço público. A outorga pressupõe obrigatoriamente a edição de uma lei que institua a entidade, ou autorize a sua criação, e normalmente seu prazo é indeterminado. [...] A descentralização é efetivada mediante delegação quando o Estado transfere, por contrato (concessão ou permissão de serviços públicos) ou ato unilateral (autorização de serviços públicos), unicamente a execução do serviço, para que a pessoa delegada o preste à população, em seu próprio nome e por sua conta e risco, sob fiscalização do Estado. Como dito, as entidades administrativas da administração indireta não possuem autonomia política. “Entidades administrativas são pessoas jurídicas que integram a administração pública formal brasileira, sem dispor de autonomia política.” (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 22). Apesar das entidades administrativas não disporem de autonomia política, possuem autonomia administrativa, portanto esta pessoa jurídica/entidade que o Estado criou não é subordinada a ele, não existe uma hierarquia, apenas a fiscalização do Estado (administração direta) sob a entidade administrativa (administração indireta). Alexandrino e Paulo (2011, p. 23, grifo dos autores) explicam: Embora as entidades administrativas não tenham autonomia política, possuem autonomia administrativa, capacidade de autoadministração, significa dizer, não são hierarquicamente subordinadas à pessoa política instituidora e têm capacidade para editar regimentos internos dispondo acerca de sua organização e funcionamento, gestão de pessoas, gestão financeira, gestão de seus serviços, sempre nos termos e limites estabelecidos na lei que criou ou autorizou a criação da entidade administrativa. Essas entidades são vinculadas TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 99 (sem hierarquia) à pessoa política instituidora, que exerce sobre elas controle administrativo denominado tutela ou supervisão, exercido nos termos da lei, voltado essencialmente à verificação do atingimento de resultados, tendo em conta as finalidades para cuja consecução a entidade administrativa foi criada. Essas entidades administrativas, que são as pessoas jurídicas que compõem a administração indireta, que possuem autonomia administrativa e financeira, exceto autonomia política, são: “[...] as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas e as sociedades de economia mista”. (ALEXANDRINO E PAULO, 2011, p. 22). Como exemplo de autarquias temos: INMETRO, IBAMA E INSS; fundações públicas: FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); empresas públicas: EBCT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) e CEF (Caixa Econômica Federal); e sociedades de economia mista: Banco do Brasil e Petrobras. Vamos estudar cada uma dessas entidades citadas da administração indireta. A seguir, estudaremos os quatro tipos de entidades de forma individualizada. 5.1 AUTARQUIAS As autarquias fazem parte do grupo de entidades criadas pelo Estado para executar atividades determinadas por ele, são empresas jurídicas, têm autonomia administrativa e financeira, exceto autonomia política. As autarquias são exemplos de administração pública indireta. Alexandrino e Paulo (2011, p. 39) transcrevem o art. 5º, inciso I, do Decreto- Lei no 200/1967, que define autarquia da seguinte forma: Autarquia – o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios para executar atividades típicas da administração pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. É importante compreender que as atividades outorgadas às autarquias devem ser as atividades típicas da administração, não sendo possível a criação de uma autarquia para desenvolver atividades econômicas. Observe que, embora possuam certa autonomia, as autarquias são vinculadas ao Estado e fiscalizadas por ele. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 39, grifo dos autores): UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 100 As autarquias estão sujeitas a controle da pessoa política que as criou [Estado], à qual são vinculadas. Trata-se do denominado controle finalístico, de tutela, ou supervisão, exercido apenas nos termos e limites expressos em lei, uma vez que não há hierarquia entre a autarquia e o ente federado que a instituiu [...]. A União, o Distrito Federal, os estados e municípios podem criar autarquias. Podemos citar como exemplos de autarquias o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e o BACEN (Banco Central do Brasil). A criação das autarquias ocorre por lei específica (a lei só pode tratar da criação da autarquia), mas a organização é feita por decreto, que aprova o regulamento ou estatuto da entidade, e a partir daí sua implantação se completa pelos atos da diretoria. (MEIRELLES, 2006). Para facilitar seu entendimento, observe a seguir as principais características das autarquias: Criada através de lei específica. Sua organização se dá através de decreto (aprova regulamento ou estatuto). Só pode ser extinta através de lei específica. Possui autonomia administrativa e financeira, exceto autonomia política. É fiscalizada pelo ente que a criou (União, Distrito Federal, Estado ou município). Patrimônio próprio. FONTE: As autoras 5.2 SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA E EMPRESA PÚBLICA A sociedade de economia mista possui muitas semelhanças com a empresa pública. É bem verdade que as poucas diferenças existentes entre essas entidades são cruciais para o entendimento de suas denominações. Vejamos os conceitos de cada uma delas. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 74, grifo dos autores): [...] é possível definir sociedades de economia mista como pessoas jurídicas de direito privado, integrantes da administração indireta, instituídas pelo poder público, mediante autorização de lei específica, sob forma de sociedade anônima, com a participação obrigatória de IMPORTANT E TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 101 capital privado e público, sendo da pessoa política instituidora ou entidade da respectiva administração indireta o controle acionário, para a exploração de atividades econômicas ou para a prestação de serviços públicos. Agora, observe o conceito de empresa pública e compare-o com o conceito acima exposto: [...] podemos conceituar empresas públicas como pessoas jurídicas de direito privado, integrantes da administração pública indireta, instituídas pelo poder público, mediante autorização em lei específica, sob qualquer forma jurídica e com capital exclusivamente público, para a exploração de atividades econômicas ou para a prestação de serviços públicos. (ALEXANDRINO E PAULO, 2011, p. 74, grifo dos autores). Veja as diferenças existentes entre sociedades de economia mista e empresas públicas: Sociedade de economia mista Empresa Pública Forma jurídica Sociedade anônima Qualquer forma jurídica Capital Composto por dinheiro público e privado Totalmente público FONTE: As autoras Convém destacar uma característica importante das sociedades de economiamista e empresas públicas: o fato de poderem explorar atividades econômicas. Além disso, o bens dessas empresas não são públicos. E assim como sua criação, a extinção também depende de lei específica. Podemos citar como exemplo de sociedade de economia mista o Banco do Brasil e a Petrobras. Como exemplo de empresa pública podemos citar a Caixa Econômica Federal. 5.3 FUNDAÇÕES PÚBLICAS Uma fundação pública é uma entidade que integra a administração indireta, criada pelo poder público por lei, de personalidade jurídica. Pode ser de direito público ou de direito privado, dependendo da forma de criação. Normalmente, as fundações públicas são criadas para atender determinadas atividades de interesse social. IMPORTANT E UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 102 Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 56, grifo dos autores): [...] fundação pública é conceituada como a entidade da administração indireta instituída pelo poder público mediante a personificação de um patrimônio que, dependendo da forma de criação, adquire personalidade jurídica de direito público ou personalidade jurídica de direito privado, à qual a lei atribui competências administrativas específicas, a serem definidas em lei complementar (sua vocação teórica são atividades de interesse social). Às fundações públicas não é permitido explorar atividade econômica. Alexandrino e Paulo (2011, p. 55) citam três elementos essenciais no conceito de fundação: a) A figura do instituidor, que faz a dotação patrimonial, ou seja, separa um determinado patrimônio para destiná-lo a uma finalidade específica. b) O objeto consistente em atividades de interesse social. c) A ausência de fins lucrativos. Portanto, fica claro que uma fundação não é criada com fins lucrativos e sim com o objetivo de atender e realizar atividades de interesse social. Além disso, sua existência se origina de um patrimônio e para uma finalidade específica, este patrimônio pode ser público ou privado. Alguns exemplos de fundações públicas: Fundação Nacional do Índio; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Fundação Nacional da Saúde; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; Fundação Escola de Administração Pública. (ALEXANDRINO E PAULO, 2011). IMPORTANT E TÓPICO 1 | ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 103 LEITURA COMPLEMENTAR CRITÉRIOS PROPOSTOS PARA IDENTIFICAÇÃO DE UMA ATIVIDADE COMO SERVIÇO PÚBLICO [...] Historicamente, a doutrina administrativa em geral, a partir da noção francesa de serviço público propugnada pela “escola do serviço público”, apontava a necessidade de serem atendidos, cumulativamente, três critérios para que uma atividade fosse considerada serviço público, a saber: a) critério subjetivo ou orgânico: dá relevância ao prestador do serviço público; só considera serviço público aquele prestado diretamente pelos órgãos e entidades estatais, integrantes da administração pública; b) critério material: confere relevância à atividade, em si mesma considerada; segundo esse critério, as atividades de importância crucial para o grupo social, das quais depende a própria existência deste, devem ser tidas por serviço público; as atividades que visam à satisfação de necessidades coletivas fundamentais deveriam, portanto, ser prestadas como serviço público; c) critério formal: dá relevância ao regime jurídico sob o qual é desenvolvida a atividade; exige que os serviços públicos sejam prestados sob regime jurídico de direito público, portanto, orientados pelo princípio da supremacia do interesse público (que assegura prerrogativas especiais para a sua prestação) e pelo princípio da indisponibilidade do interesse público (que resulta em restrições não existentes no exercício de atividades privadas). Não é difícil perceber que, hoje, nenhum administrativista pode defender a necessidade de serem atendidos simultaneamente os três critérios para que uma atividade seja considerada serviço público. Basta pensarmos nas modalidades de delegação de serviços públicos a particulares (desatendem ao critério subjetivo) ou lembrarmos que há serviços não essenciais, como as loterias, que são prestados pelo Estado sob regime jurídico de direito público (desatendem ao critério material). Ainda há serviços que podem ser prestados como serviço privado, ou seja, podem ser prestados por particulares sob regime jurídico de direito privado, a exemplo dos serviços de educação e saúde. Portanto, atualmente, os administrativistas costumam utilizar para definir serviço público um dos critérios acima expostos, ou a combinação de dois deles, mas não exigem o atendimento aos três, conjuntamente, como ocorria na época em que era hegemônica a “escola do serviço público”. FONTE: ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo descomplicado. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2011. 104 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico vimos que: • Apesar do conceito de “serviços públicos”, quando citado, sugerir e vir em mente vários exemplos, não há uma definição específica para este conceito na nossa Constituição. Não existindo um conceito para serviços públicos na Constituição Federal, há escolas e teóricos que buscam caracterizar e identificar os serviços públicos. • Podemos então afirmar que serviço público é um dever que o Estado tem de proporcionar benfeitorias, comodidade, utilidade e serviços essenciais aos indivíduos da sociedade. • É de extrema importância conhecer e saber classificar os serviços públicos, que podem ser classificados em: serviços públicos e de utilidade pública, serviços próprios do Estado ou serviços indelegáveis, serviços impróprios do Estado ou serviços delegáveis, serviços administrativos, serviços industriais, serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis e serviços uti singuli ou serviços individuais/divisíveis. • Existem as formas e os meios de prestação de serviço público e utilidade pública. As formas podem ser centralizadas, descentralizadas ou desconcentradas. Os meios de execução podem ser classificados de maneira direta ou indireta. • Centralização na administração pública ocorre quando o próprio Estado executa suas atividades administrativas através de seus órgãos, ocorre dentro da mesma pessoa jurídica, é o mesmo que a administração pública direta. • Descentralização é o oposto da centralização, é o mesmo que a administração pública indireta, quando o Estado cria uma pessoa jurídica/entidade para executar determinadas atividades administrativas, sem hierarquia e subordinação, porém com fiscalização. • Concentração ocorre quando uma pessoa jurídica na administração pública extingue algum órgão da sua própria estrutura, dentro da mesma pessoa jurídica. • Desconcentração ocorre quando uma pessoa jurídica pública cria um novo órgão dentro da sua própria estrutura (da mesma pessoa jurídica). • De forma simplificada, podemos afirmar que administração pública direta ou administração pública centralizada é quando a execução das atividades administrativas é feita pelos próprios órgãos do Estado. 105 • A administração pública indireta, ou administração pública descentralizada, ocorre quando o Estado (administração direta) cria outras pessoas jurídicas para executar atividades em seu nome e assumindo as responsabilidades. Essas pessoas jurídicas, criadas pelo Estado, são chamadas de entidades administrativas (administração indireta), não são subordinadas ao Estado, mas são vinculadas e fiscalizadas por ele, pois não possuem autonomia política. Essas entidades administrativas devem ser obrigatoriamente criadas por lei pelo Estado. • Essas entidades administrativas, que são as pessoas jurídicas que compõem a administração indireta, que possuem autonomia administrativa e financeira, exceto autonomia política, são: as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas e as sociedades de economia mista. 106 AUTOATIVIDADE 1 Assinale a alternativa CORRETA: I. Osserviços públicos têm seu conceito claro na Constituição Federal. II. Os serviços públicos só podem ser realizados pela administração direta. III. Serviço público é um dever que o Estado tem em proporcionar benfeitorias, comodidade, utilidade e serviços essenciais aos indivíduos da sociedade. a) ( ) Apenas a afirmativa I está correta. b) ( ) Apenas a afirmativa III está correta. c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas. 2 É INCORRETO afirmar: a) ( ) Centralização na administração pública ocorre quando o próprio Estado executa suas atividades administrativas através de seus órgãos. b) ( ) Descentralização ocorre quando o Estado cria uma pessoa jurídica/ entidade para executar determinadas atividades administrativas, sem hierarquia e subordinação, porém com fiscalização. c) ( ) Concentração ocorre quando uma pessoa jurídica na administração pública extingue algum órgão da sua própria estrutura, dentro da mesma pessoa jurídica; d) ( ) Desconcentração ocorre quando uma pessoa jurídica pública extingue algum órgão dentro da sua própria estrutura (da mesma pessoa jurídica). 3 Assinale a alternativa CORRETA: I. Existem as formas e os meios de prestação de serviço público e utilidade pública. As formas podem ser centralizadas, descentralizadas ou desconcentradas. Os meios de execução podem ser classificados de maneira direta ou indireta. Estes conceitos são comumente confundidos, e isto não pode ocorrer. II. Administração pública indireta, ou administração pública descentralizada, ocorre quando o Estado (administração direta) cria outras pessoas jurídicas para executar atividades em seu nome e assumindo as responsabilidades. III. Administração pública direta, ou administração pública centralizada, é quando a execução das atividades administrativas é feita pelos próprios órgãos do Estado. a) ( ) Apenas a afirmativa I está correta. b) ( ) Apenas a afirmativa III está correta. c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas. 107 4 Assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Os serviços públicos podem ser classificados em: serviços públicos e de utilidade pública, serviços próprios do Estado ou serviços indelegáveis, serviços impróprios do Estado ou serviços delegáveis, serviços administrativos, serviços industriais, serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis e serviços uti singuli ou serviços individuais/ divisíveis. b) ( ) As entidades administrativas criadas pelo Estado, que são as pessoas jurídicas que compõem a administração indireta e possuem autonomia administrativa e financeira, exceto autonomia política, são: as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas e as sociedades de economia mista. c) ( ) Serviços uti universi ou serviços gerais/indivisíveis são serviços que atendem toda a coletividade, de forma que se torna impossível identificar individualmente quem está usufruindo deste serviço público geral indispensável. d) ( ) Não há diferença entre serviços públicos e utilidade pública, ambos têm o mesmo conceito e as mesmas características. Assista ao vídeo de resolução da questão 2 108 109 TÓPICO 2 IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO É impossível existir homens convivendo em sociedade sem que esteja presente a administração pública. Afinal, a partir do momento em que existem pessoas convivendo num mesmo espaço, compartilhando bens, é preciso determinar regras a fim de organizar a vida em sociedade. Ao longo do tempo, a forma de administrar os estados foi sofrendo alterações, sendo modelada conforme as necessidades do povo, até chegar à estrutura que temos atualmente. Embora ainda seja preciso evoluir em busca de boas práticas de gestão dos recursos públicos, não podemos desconsiderar todas as evoluções que aconteceram e vêm acontecendo. Você consegue imaginar como seria sua vida se não existissem os órgãos públicos? Talvez você tenha pensado: “eu não pagaria impostos”, “não pagaria multas” e por aí vai. Mas, se não houvesse a administração pública, quem organizaria a segurança da sua cidade? Quem a manteria limpa? Quem seria responsável pela saúde, pela educação? A lista de perguntas seria gigantesca! O fato é que é preciso que tenha um órgão acima do povo para organizar a “casa”. A partir de agora, estaremos lhe explicando a importância da administração pública, seu objetivo, seus deveres e poderes. Ao terminar a leitura deste tópico, certamente você verá a administração pública com outros olhos. 2 IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A importância histórica da administração pública pode ser compreendida partindo da ideia de que, a partir do momento em que existem pessoas convivendo em sociedade, é necessário ter um ente maior que estabeleça regras e se preocupe em manter o bem-estar de todos. E como sabemos, o homem, desde sempre, vive em grupo. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 110 Afinal, o que faz com que o homem viva em sociedade? Conforme Dallari (2011, p. 23): Para Ranelletti, o homem é induzido fundamentalmente por uma necessidade natural, porque o associar-se com os outros seres humanos é para ele condição essencial de vida. Só em tais uniões e com o concurso dos outros é que o homem pode conseguir todos os meios necessários para satisfazer as suas necessidades e, portanto, conservar e melhorar a si mesmo, conseguindo atingir os fins de sua existência. Em suma, só na convivência e com a cooperação dos semelhantes o homem pode beneficiar-se das energias, dos conhecimentos, da produção e da experiência dos outros, acumuladas através de gerações, obtendo assim os meios necessários para que possa atingir os fins de sua existência, desenvolvendo todo o seu potencial de aperfeiçoamento, no campo intelectual, moral ou técnico. Logo, podemos concluir que a evolução humana, as inovações tecnológicas, o avanço das ciências são fruto da associação e cooperação entre o ser humano. Caso vivêssemos isolados, cada um no seu “mundo”, toda essa evolução não teria sido possível. E talvez estivéssemos ainda morando em cavernas. E por falar no homem das cavernas, conforme Bächtold (2008, p. 15): “Nem o homem das cavernas escapou da administração pública!”. Esse mesmo autor faz uma análise das principais características dos grupos sociais de acordo com a Idade da Pedra Lascada, Idade da Pedra Polida e Idade dos Metais: • Na Idade da Pedra Lascada o homem teve que aprender a cooperar e se organizar socialmente, pois dependia do sucesso dessa organização para comer e ficar seguro. A liderança era ocupada pelo mais forte, o estilo de vida era nômade (não tinham lugar fixo para morar, mudavam conforme a necessidade). • Na Idade da Pedra Polida, o homem se organizou e começou a cultivar a terra e domesticar animais para controlar a fonte de alimentação. Passou a morar num lugar fixo (vida sedentária), não havia diferença social entre os integrantes do grupo, as tarefas eram divididas entre o grupo. Por questão de segurança, esses grupos foram aumentando e se transformando em tribos, o que implicou a formação de grupos sociais mais complexos. • Na Idade dos Metais surgiu a civilização, as pessoas passaram a construir suas casas, formaram-se as cidades, foi necessário criar regras, começaram a aparecer as propriedades privadas, os ricos (aqueles que possuíam propriedades) passaram a explorar os mais desfavorecidos. A partir desse período, a administração pública deixou de ser exercida por todos e surgiram as classes sociais (ricos/ pobres; senhores/escravos) e, finalmente, nasceu o Estado. TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 111 Como podemos perceber, a existência da raça humana dependeu da organização em grupos, da divisão de tarefas, da colaboração de todos para atingir o bem comum, isso nada mais é do que administração pública. Entretanto, como os grupos foram aumentando,era preciso delegar a função de buscar o bem comum para órgãos específicos, surgindo assim a figura do Estado. Segundo Gropalli apud Brancato (2009, p. 60): “Estado é a pessoa jurídica soberana constituída de um povo organizado sobre um território sob o comando de um poder supremo, para fins de defesa, ordem, bem-estar e progresso social”. Do conceito acima, podemos entender que o Estado deve garantir a defesa, a ordem, o bem-estar e o progresso social de seu povo. A seguir, passamos ao estudo dos objetivos da administração pública, que podem ser considerados, também, os objetivos do Estado. 3 OBJETIVO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA As ações do Estado são concretizadas através da administração pública. Um objetivo é o que se pretende atingir, é um resultado esperado. A administração pública também possui objetivos, e esses objetivos nada mais são do que os fins do Estado. Conforme definição do Dicionário O Globo (apud FERNADES; LUFT; GUIMARÃES, 1992, p, 202, grifo dos autores): “OBJETIVO [...] s.m. fim que se tem em vista; objeto de uma ação ou de uma ideia; alvo; propósito. [...].” O Estado surgiu com o propósito de organizar a vida em sociedade, garantir que os bens de uso comum sejam distribuídos de forma igual entre todos os seus integrantes e zelar pelo desenvolvimento e crescimento de seu povo, dando estrutura para que isso ocorra. Os fins do Estado podem ser jurídicos e sociais. Segundo Brancato (2009, p. 69-70): Os fins jurídicos ou essenciais do Estado são: a) garantir a ordem interna – o que é chamado “poder de polícia” – por meio da força armada; b) assegurar a soberania na ordem internacional – o que se realiza não só pelas forças armadas, como também por meio da representação diplomática; c) dizer o direito, ou seja, fazer as leis; d) ministrar ou distribuir justiça. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 112 Embora os fins jurídicos do Estado sejam considerados essenciais, não podemos deixar de pensar na importância dos cuidados sociais com o povo, a fim de garantir uma vida digna. O Estado não pode servir apenas para criar leis, exercer o poder de polícia e assegurar a representação internacional. Um Estado precisa cuidar de seu povo. “Os fins sociais do Estado, também chamados não essenciais, realizam-se pela assistência à família, à educação e cultura, pelas instituições de previdência social, pelo amparo à infância e à velhice e também pela disciplina da ordem econômica e social.” (BRANCATO, 2009, p. 70). A atual Constituição do Brasil contempla os fins jurídicos e sociais do Estado Brasileiro. Você consegue identificar isso na Carta Magna? Os fins do Estado se resumem no objetivo da administração pública, que é, como já dito em outros momentos, o bem comum. Conforme Di Pietro (2011, p. 57, grifo da autora): “[...] a administração pública pode ser definida como a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob regime jurídico total ou parcialmente público, para a consecução dos interesses coletivos.” Tudo que é feito pela administração pública deve garantir o bem do seu povo. Deve satisfazer ao interesse público. Todo ato administrativo praticado pelo administrador que não tiver como objetivo atender o interesse público é ilícito e imoral. Segundo Meirelles (2006, p. 86, grifo do autor): [...] Os fins da administração pública resumem-se num único objetivo: o bem comum da coletividade administrada. Toda atividade do administrador público deve ser orientada para esse objetivo. Se dele o administrador se afasta ou desvia, trai o mandato de que está investido, porque a comunidade não institui a administração senão como meio de atingir o bem-estar social. Ilícito e imoral será todo ato administrativo que não for praticado no interesse da coletividade. A fim de garantir que a administração pública cumpra seu objetivo, a lei impôs aos administradores públicos deveres e lhes concedeu poderes, para que, dentro da lei, façam cumprir o bem comum e a defesa do interesse coletivo. A partir desse momento, passamos ao estudo dos deveres e poderes administrativos da administração pública. TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 113 Ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da administração pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria. (MEIRELLES, 2006, p. 149, grifo do autor). 4 DEVERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Até mesmo na nossa vida temos deveres e poderes. Existem inúmeras coisas que, se pudéssemos escolher, certamente não faríamos. Temos o dever de pagar impostos, temos o poder (preferimos dizer direito) de cobrar que o dinheiro recebido pelo governo através dos impostos que pagamos seja bem aplicado. A administração pública também possui deveres a cumprir. Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 211, grifo dos autores): [...] como decorrência da indisponibilidade do interesse público, a Constituição e as leis impõem ao administrador público alguns deveres específicos e peculiares, preordenados a assegurar que sua atuação efetivamente se dê em benefício do interesse público e sob controle direto e indireto do titular da coisa pública, o povo. São esses os chamados deveres administrativos. Esses deveres administrativos são impostos ao administrador público a fim de garantir que este atue em benefício do interesse do povo. Dentre os principais deveres do administrador público estão: poder-dever de agir, dever de eficiência, dever de probidade e dever de prestar contas. Dizer que o administrador público possui poder-dever de agir, conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 212, grifo dos autores): “Significa dizer que as competências administrativas, por serem conferidas visando ao atingimento de fins públicos, implicam ao mesmo tempo um poder para desempenhar as correspondentes funções públicas e um dever de exercício dessas funções.” Ou seja, o gestor público não possui apenas o poder de agir, tem o dever de agir, diferentemente do que ocorre na esfera privada, onde, possuindo o poder, o administrador pode escolher se irá ou não agir. NOTA UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 114 De acordo com Meirelles (apud FILHO, 2011, p. 42): “Se para o particular o poder de agir é faculdade, para o administrador público é uma obrigação de atuar, desde que se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da comunidade.” Em decorrência desse poder-dever, fica claro que os poderes administrativos são irrenunciáveis (devem ser exercidos pelos titulares) e que a omissão do agente caracteriza abuso de poder. (ALEXANDRINO; PAULO, 2011). Além do poder-dever de agir, o administrador público também deve cumprir o dever da eficiência. Eficiência é fazer algo bem feito, de forma correta, rápida e com o mínimo de recurso possível. O dever da eficiência é o dever da boa administração. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 212, grifo dos autores): “O dever da eficiência traduz-se na exigência de elevado padrão de qualidade na atividade administrativa, na imposição de que o administrador e os agentes públicos em geral tenham sua atuação pautada na celeridade, perfeição técnica, economicidade, coordenação, controle, entre outros atributos.” Da análise desse dever, podemos considerar que este objetiva a profissionalização do serviço público. De acordo com Meirelles (2006), a eficiência funcional considera a produtividade do servidor, a qualidade do seu serviço, bem como adequação técnica, pois se existe critério técnico para os assuntos, a administração não pode se basear em critérios leigos. Se o gestor dos recursos públicos deve geri-los com eficiência, deve também atuar de forma limpa, ser honesto, ter boa-fé, agir de acordo com a ética. Só assim os recursos públicos estarão em boas mãos e beneficiarão o povo. “O dever de probidadeexige que o administrador público, no desempenho de suas atividades, atue sempre com ética, honestidade e boa-fé, em consonância com o princípio da moralidade administrativa.” (ALEXANDRINO; PAULO; 2011, p. 213, grifo dos autores). Um administrador que age com probidade, age com honestidade. Quando alguém contraria esse dever, dizemos que houve ato de improbidade administrativa. São três as espécies de atos de improbidade administrativa: os que importam enriquecimento ilícito, os que causam prejuízo ao Erário e os que atentam contra os princípios da administração pública. As penas variam de acordo com a extensão do dano e o proveito patrimonial obtido pelo agente. (MEIRELLES, 2006). O agente público que cometer ato de improbidade administrativa está cometendo um crime, e será punido por isso. TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 115 Conforme Meirelles (2006, p. 108), a Constituição da República, em seu art. 37, § 4º, traz as punições para os atos de improbidade administrativa: “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao Erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.” E, finalmente, vamos abordar o dever de prestar contas, que está ao lado do dever de probidade. Quando se trata do uso do seu dinheiro ou de seus atos, você não deve explicações para ninguém do que faz. No entanto, quando estamos falando de dinheiro e atos públicos, a prestação de contas é um dever. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 214, grifo dos autores): “O dever de prestar contas decorre diretamente do princípio da indisponibilidade do interesse público, sendo inerente à função do administrador público, mero gestor de bens e interesses alheios, vale dizer, do povo.” É simples entender porque o administrador público deve prestar contas: simplesmente porque o dinheiro que está gerindo não é apenas seu, é do povo, e deve beneficiar o povo. Os atos também devem beneficiar o interesse coletivo, jamais particular. De acordo com Meirelles (2006, p. 109): O dever de prestar contas alcança não só administradores de entidades e órgãos públicos, como, também, os de entes paraestatais e até os particulares que recebam subvenções estatais para aplicação determinada [...] A regra é universal: quem gere dinheiro público ou administra bens ou interesses da comunidade deve contas ao órgão competente para fiscalização. Portanto, envolveu recurso ou ato público, é devida a prestação de contas. Nesse título você aprendeu que a lei, ao dar o poder de agir ao administrador público, também lhe impôs o dever de agir e os deveres da eficiência, probidade administrativa e o de prestar contas, tudo isso com o objetivo de garantir que os recursos do povo sejam bem administrados e utilizados para beneficiar seu verdadeiro dono: o povo. Sua compreensão acerca dos deveres dos agentes públicos pode ser melhorada com a leitura do quadro a seguir. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 116 QUADRO 4 - DEVERES DOS AGENTES PÚBLICOS Dever Característica Exemplo Poder-dever de agir Para que possa agir o agente público recebe poder, consequentemente, passa a ter o dever de agir. Ao fiscal de trânsito é dado o poder de multar o motorista que estacionar em local proibido. Ao ver um veículo estacionado de forma irregular, o fiscal tem o dever de multá-lo. Dever da eficiência O agente público deve utilizar os recursos públicos de forma eficiente. Deve garantir que os serviços sejam prestados à população de forma rápida e com qualidade; em resumo, os bens públicos devem ser bem administrados. Quando um cidadão entra com pedido de licença para construção, cabe à prefeitura fazer sua parte sem retardar a liberação (desde que esteja dentro da lei). Outro exemplo é a profissionalização dos agentes a fim de garantir serviços de melhor qualidade. Dever de probidade Dever de agir com honestidade e ética. O dinheiro público deve ser utilizado com boa-fé para beneficiar a coletividade. Um agente que age com probidade não tira vantagem, para si ou outrem, do dinheiro público. Dever de prestar contas Todo aquele que utilizar dinheiro público, ou que agir em nome do Estado, tem o dever de prestar contas de suas ações. Quando um agente público recebe dinheiro para pagar alimentação durante viagem a outra cidade, deverá fazer a prestação de contas dessa despesa. FONTE: As autoras 5 PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA São os poderes que permitem que a administração pública atinja seus fins. Segundo Di Pietro (2011, p. 90): “[...] tais poderes são inerentes à administração pública, pois, sem eles, ela não conseguiria fazer sobrepor-se a vontade da lei à vontade individual, o interesse público ao interesse privado.” É através dos poderes administrativos que o gestor público pode garantir a defesa dos interesses coletivos em detrimento dos interesses particulares, a aplicação da lei em detrimento da vontade de cada um. Afinal, se a administração pública gere os recursos do povo, deve beneficiar a todos, não apenas parte da população. TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 117 De acordo com Filho (2011, p. 46): “Pode-se, pois, conceituar os poderes administrativos como o conjunto de prerrogativas de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos para o fim de permitir que o Estado alcance seus fins.” Dentre os poderes administrativos que a administração pública possui, temos: poder vinculado, poder discricionário, poder hierárquico, poder disciplinar, poder regulamentar e poder de polícia. Segundo Meirelles (2006, p. 116, grifo do autor): Os poderes administrativos nascem com a administração e se apresentam diversificados segundo as exigências do serviço público, o interesse da coletividade e os objetivos a que se dirigem. Dentro dessa diversidade, são classificados, consoante a liberdade da administração para a prática de seus atos, em poder vinculado e poder discricionário; segundo visem ao ordenamento da administração ou à punição dos que a ela se vinculam, em poder hierárquico e poder disciplinar; diante da sua finalidade normativa, em poder regulamentar; e, tendo em vista seus objetivos de contenção dos direitos individuais, em poder de polícia. A partir da explicação acima citada, podemos compreender que os poderes são classificados conforme sua necessidade para o poder público na busca pelo bem comum. Dentro dessa classificação, os poderes vinculado e discricionário tratam da liberdade que tem a administração para a prática de seus atos; os poderes hierárquico e disciplinar tratam da punição que a administração pública pode aplicar aos que a ela se vinculam (servidores/prestadores de serviço, respectivamente); o poder regulamentar trata da sua finalidade normativa e o poder de polícia para garantir que os direitos individuais não firam os direitos de outros. É importante lembrar que esses poderes são para toda a administração pública, nas esferas Federal, Estadual e Municipal. Além disso, podem ser usados sozinhos ou ao mesmo tempo, dependendo da situação. Um exemplo de como podem ser usados ao mesmo tempo é apontado por Meirelles (2006, p. 117): [...] o ato de polícia administrativa, que é normalmente precedido de uma regulamentação do Executivo (poder regulamentar), em que a autoridade escalona e distribui as funções dos agentes fiscalizadores (poder hierárquico), concedendo-lhes atribuições vinculadas (poder vinculado) ou discricionárias (poder discricionário), para a imposição de sanções aos infratores (poder de polícia). Agora que você conhece os poderes administrativos que permitem à administração pública buscar seu objetivo, qual seja, o bem comum, vejamos as principais características de cada um desses poderes. Observe o quadro a seguir com explicações sobre os poderes da administração pública:UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 118 QUADRO 5 - OS PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Tratam da Poder Característica Exemplo Liberdade que a administração pública tem para praticar seus atos Vinculado O agente não possui liberdade nenhuma, deve fazer o que está expresso na lei. Se a lei que regulamenta a atuação do fiscal sanitário determina que, ao identificar produtos alimentícios com prazo de validade vencido, este deverá inutilizá-los, quando o fiscal for a um estabelecimento e identificar produtos nessa condição deverá cumprir a lei. Discricionário O a g e n t e p o s s u i c e r t a liberdade, podendo agir de acordo com a conveniência e o que for melhor, desde que esteja previsto na lei. Se a lei que regulamenta a atuação do fiscal sanitário determina que ao identificar produtos alimentícios com prazo de validade vencido, este poderá inutilizá-los ou deixar que o dono do estabelecimento o faça, quando o fiscal for a um estabelecimento e identificar produtos nessa condição, poderá escolher o que considerar mais adequado à situação. Punição dos que a ela se vinculam Hierárquico Relação de subordinação entre os órgãos e o Executivo. Obediência às ordens dos superiores (atinge o público interno). O secretár io de Planejamento determinou que fossem expedidos alvarás de liberação de construção diariamente. Maria, subordinada a este, tem a obrigação de cumprir o que lhe foi ordenado. Disciplinar Utilizado para punir condutas inadequadas dos servidores e também para punir aqueles que mantêm contrato com a administração e não o cumprem. Se o servidor faltar ao trabalho sem justificativa, a administração deve apurar os fatos para punir a conduta do servidor. Finalidade normativa Regulamentar Poder que o Poder Executivo (Presidente, governadores e prefeitos) possui para adequar as leis editadas pelo Legislativo a fim de aplicá-las. A Câmara de Vereadores aprovou determinada lei, no entanto, para facilitar a sua aplicação foi necessário que o prefeito regulamentasse, através de decreto, essa lei. Contenção dos direitos individuais de Polícia Poder que a administração pública possui de limitar a t iv idades ou bens que afetam ou possam afetar a coletividade. A vigilância sanitária recebeu denúncia de que o estabelecimento “x” está vendendo produtos com prazo de validade vencido. Após visita ao local, identificou que a denúncia procedia e ordenou ao dono do estabelecimento a retirada e destruição das mercadorias vencidas. FONTE: As autoras TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 119 5.1 PODER VINCULADO O poder vinculado não é exatamente um poder, é mais um dever, uma vez que a administração pública não tem liberdade para agir de acordo com a conveniência, deve fazer exatamente o que está expresso na lei. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 214): “Em relação aos atos vinculados, não cabe à administração tecer considerações de oportunidade e conveniência, nem escolher seu conteúdo. O poder vinculado apenas possibilita à administração executar ato vinculado nas estritas hipóteses legais, observando o conteúdo rigidamente estabelecido na lei.” Nesse caso, a administração pública deve fazer exatamente o que está previsto em lei. Caso não o faça, o ato será nulo. É como se fosse preciso seguir um roteiro pronto, não cabendo ao administrador análise de alternativas. 5.2 PODER DISCRICIONÁRIO No caso do poder discricionário, a administração pública possui certa liberdade para escolher o que considerar mais adequado e o que for mais satisfatório para o interesse público. De acordo com Alexandrino e Paulo (2011, p. 216, grifo dos autores): O poder discricionário tem como núcleo a autorização legal para que o agente público decida, nos limites da lei, acerca da conveniência e da oportunidade de praticar, ou não, um ato administrativo, e, quando for o caso, escolher o seu conteúdo. Dito de outro modo, o núcleo essencial do poder discricionário traduz-se no denominado mérito administrativo. Convém lembrar que a ação do administrador público deve ficar dentro dos limites estabelecidos pela lei. Justamente por dar ao gestor certa liberdade no momento da escolha da ação, existem alguns limites ao poder discricionário. “O poder discricionário tem como limites, além do próprio conteúdo da lei, os princípios jurídicos administrativos, sobretudo os da razoabilidade e da proporcionalidade – os quais decorrem implicitamente do postulado do devido processo legal, em sua acepção substantiva.” (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 218, grifo dos autores). Qualquer ato que seja praticado fora dos limites da lei será anulado, uma vez que será ilegal. Segundo Meirelles (2006, p. 118-119, grifo do autor): “[...] poder discricionário não se confunde com poder arbitrário. [...] Discricionariedade é liberdade de ação UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 120 administrativa, dentro dos limites permitidos em lei; arbítrio é ação contrária ou excedente da lei. Ato discricionário, quando autorizado pelo Direito, é legal e válido; ato arbitrário é sempre ilegítimo e inválido.” A validade de um ato decorrente do poder discricionário depende de este ser executado dentro dos limites da lei, só assim o ato será legal. Entretanto, se o administrador usar o poder arbitrário, o ato será inválido e ilegal. A liberdade concedida pela lei nesse caso não é total, pois o administrador deverá cumprir algumas exigências previstas na lei, não poderá fazer o que bem entender. 5.3 PODER HIERÁRQUICO A partir do momento em que temos dentro de uma organização alguém que comanda e outras pessoas que seguem esses comandos, tem-se uma relação de hierarquia. Dentro da estrutura da administração pública também existe a hierarquia. Conforme Meirelles (2006, p. 121, grifo do autor): “Poder hierárquico é o que dispõe o Executivo para distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal.” Hierarquia é a relação de subordinação existente entre os vários órgãos e agentes do Executivo, com a distribuição de funções e a gradação da autoridade de cada um. Dessa conceituação resulta que não há hierarquia no Judiciário e no Legislativo, nas suas funções próprias, pois ela é privativa da função executiva, como elemento típico da organização e ordenação dos serviços administrativos. (MEIRELLES, 2006, p. 121, grifo do autor). O poder hierárquico permite ao administrador dar ordens, fiscalizar, controlar, aplicar punições e delegar competências, é através desse poder que é possível organizar e melhorar a qualidade dos serviços prestados. É através do poder de comandar que o superior hierárquico garante que os serviços que estão sob sua responsabilidade sejam executados de forma adequada. Os subordinados (aqueles que recebem as ordens) têm o dever de obedecê-las, a menos que sejam ilegais. E no caso de serem ilegais, deverá tomar as providências para que o ato não ocorra. IMPORTANT E TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 121 A importância do poder hierárquico deve-se ao fato de ser necessário organizar e controlar a execução dos serviços, uma vez que a estrutura da administração pública é grande, além de envolver inúmeros processos e detalhes ligados às leis, que devem ser cumpridos. É importante lembrar que o poder hierárquico acontece dentro da administração pública, com seu público interno (servidores), jamais com o público externo (o povo). Na leitura complementar você confere os objetivos do poder hierárquico, bem como das obrigações dos subordinados e dos superiores. 5.4 PODER DISCIPLINAR A administração pública usa o poder disciplinar para punir as atitudes incorretas de seus servidores, bem como para punir outras entidades ou pessoas que mantenham contrato com ela e que não cumpram com seus deveres.Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 223, grifo dos autores): O poder disciplinar [...] possibilita à administração pública: a) punir internamente as infrações funcionais de seus servidores; e b) punir infrações administrativas cometidas por particulares a ela ligados mediante algum vínculo jurídico específico (por exemplo, a punição pela administração de um particular que com ela tenha celebrado um contrato administrativo e descumpra as obrigações contratuais que assumiu). Isso quer dizer que a administração pública pode punir tanto seu servidor, quanto quem com ela contrata, no entanto, a grande diferença, nesse caso, está em que a aplicação da punição ao servidor decorre da hierarquia, já ao contratado mediante contrato administrativo (fornecimento de material de expediente, por exemplo) não tem relação alguma com a hierarquia. Na aplicação das punições ao infrator, servidor ou contratado, o administrador público possui certa discricionariedade. Conforme Meirelles (2006, p. 125): “O administrador, no seu prudente critério, tendo em vista os deveres do infrator em relação ao serviço e verificando a falta, aplicará a sanção que julgar cabível, oportuna e conveniente, dentre as que estiverem enumeradas em lei ou regulamento [...].” ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 122 O fato de o administrador poder aplicar a sanção que julgar cabível não lhe dá o direito de não punir, pois havendo ato que mereça punição, o administrador tem o poder de punir, e acima de tudo, o dever de fazê-lo. Deixar de punir disciplinarmente é crime contra a administração pública. De acordo com Alexandrino e Paulo (2011, p. 224): “[...] quando a administração constata que um servidor público, ou particular que com ela possua vinculação jurídica específica, praticou uma infração administrativa, ela é obrigada a puni-lo; não há discricionariedade quanto a punir ou não alguém que comprovadamente tenha praticado uma infração disciplinar.” As penas disciplinares são de seis espécies: advertência; suspensão; demissão; cassação de aposentadoria ou disponibilidade; destituição de cargo em comissão e destituição de função comissionada. As penas só podem ser aplicadas após a apuração regular da falta disciplinar; além disso, é preciso que se tenha a motivação (justificativa) da punição. (MEIRELLES, 2006). Para finalizar a explicação sobre o poder disciplinar, podemos considerar que estão sujeitos às penalidades disciplinares os que possuírem vínculo jurídico específico com a administração pública, compreendendo os servidores e os prestadores de serviços ou fornecedores de mercadorias. No caso dos servidores, esse poder decorre da hierarquia. Uma vez comprovada a necessidade da punição, o administrador tem o dever de fazê-lo, sob pena de cometer crime não o fazendo. 5.5 PODER REGULAMENTAR As leis editadas pelo Poder Legislativo nem sempre são possíveis de aplicação imediata, muitas vezes precisam ser complementadas, e para isso serve o poder regulamentar, para a administração pública adequar as leis editadas pelo Legislativo, garantindo que estas possam ser aplicadas. Esse poder é de uso privativo dos chefes do Executivo, não sendo possível delegá-lo. Segundo Meirelles (2006, p. 127, grifo do autor): “O poder regulamentar é a faculdade de que dispõem os chefes de Executivo (Presidente da República, governadores e prefeitos) de explicar a lei para sua correta execução, ou de expedir decretos autônomos sobre matéria de sua competência ainda não disciplinada em lei.” É importante também frisar que essa regulamentação não pode contrariar a lei. Caso isso ocorra, o ato será invalidado. Segundo Filho (2011, p. 52, grifo do autor): “Poder regulamentar, portanto, é a prerrogativa conferida à administração pública de editar atos gerais para complementar as leis e permitir a sua efetiva aplicação. A prerrogativa, registre- se, é apenas para complementar a lei; não pode, pois, a administração alterá-la a pretexto de estar regulamentando.” TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 123 O poder regulamentar atinge as esferas federal, estadual e municipal. Se você for até a sede da prefeitura do seu município, encontrará um mural onde estarão afixados alguns atos de regulamentação, geralmente, decretos, resoluções, portarias e instruções normativas. A formalização do poder regulamentar acontece através dos decretos, regulamentos, instruções normativas, resoluções, portarias, entre outros. Os decretos e regulamentos são atos de regulamentação de primeiro grau, enquanto os demais são atos de regulamentação de segundo grau. (FILHO, 2011). Sobre o poder regulamentar, podemos destacar que: é de uso exclusivo dos chefes do Executivo, que são: Presidente da República, governadores e prefeitos. Além disso, devem apenas adequar a lei, jamais contrariá-la. 5.6 PODER DE POLÍCIA O objetivo da administração pública, como já falamos em outros momentos, é garantir o bem comum, protegendo os interesses da coletividade. Para garantir que esse objetivo seja alcançado, a administração possui deveres e poderes. Dentre esses poderes, temos o poder de polícia administrativa. O poder de polícia administrativa é exercido pela administração pública sobre todas as atividades e bens que afetam ou possam afetar a coletividade. As três esferas possuem competência para exercer esse poder, e quando as atividades forem de interesse nacional, o poder é dividido entre todos e cada um atua dentro do seu território. (MEIRELLES, 2006). É importante lembrar que esse poder de polícia não tem nada a ver com a atuação das Polícias Civil e Militar. O poder de polícia serve para que a administração pública limite determinadas atividades ou serviços garantindo o bem da população. Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 236, grifo dos autores): “[...] conceituamos poder de polícia, simplesmente, como o poder de que dispõe a administração pública para, na forma da lei, condicionar ou restringir o uso de bens, o exercício de direitos e a prática de atividades privadas, visando a proteger os interesses gerais da coletividade.” IMPORTANT E UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 124 No Código Tributário Nacional também podemos encontrar o conceito de poder de polícia: Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (MEIRELLES, 2006, p. 132). Dos conceitos acima apresentados, podemos identificar que o uso do poder de polícia age sobre atividades e bens, não sobre os indivíduos, para garantir o bem-estar destes. Você consegue imaginar como seria o país se o poder público não estabelecesse regras para quem oferece um produto ou presta um serviço? É bem provável que muita gente sairia lesada pela má-fé de alguns. O poder de polícia pode ser exercido de duas formas: preventiva ou repressiva. No exercício preventivo são estabelecidas regras de como os serviços ou bens devem ser prestados aos consumidores e é exigido que o prestador consiga junto ao poder público autorização para prestar os serviços ou exercer a atividade pretendida. Essa autorização é formalizada pelos alvarás. Os alvarás podem ser de licença (exemplo: o exercício de uma profissão) ou autorização (exemplo: o porte de arma de fogo). A forma repressiva é a aplicação de penalidades administrativas em decorrência da prática de infrações a normas de polícia pelos particulares a ela sujeitos. A repressão acontece quando a autoridade administrativa identifica a infração, registra e dá conhecimento aoparticular da penalidade aplicada. (ALEXANDRINO; PAULO; 2011). Após conhecer as formas de exercer o poder de polícia, podemos perceber que é possível evitar as sanções administrativas impostas por esse poder. Basta, para isso, legalizar a atividade que se pretende desenvolver. No entanto, por comodismo ou por “falta de conhecimento”, muitos preferem correr riscos a legalizar sua atuação. De acordo com Alexandrino e Paulo (2011), dentre as sanções cabíveis estão: imposição de multas administrativas; interdição de estabelecimentos comerciais; suspensão do exercício de direitos; demolição de construções irregulares; embargo administrativo de obra; destruição de gêneros alimentícios impróprios para o consumo; e apreensão de mercadorias irregularmente entradas no território nacional. TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 125 Para compreender o poder de polícia em sua totalidade é importante saber que este possui três características: discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade. A discricionariedade, como já vimos anteriormente, é quando a administração pública possui certa liberdade para atuar. Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 247-248): A discricionariedade no exercício do poder de polícia significa que a administração, quanto aos atos a ele relacionados, regra geral, dispõe de uma razoável liberdade de atuação, podendo valorar a oportunidade e a conveniência de sua prática, estabelecer o motivo e escolher, dentro dos limites legais, seu conteúdo. Atente que a liberdade que a administração possui para atuar deve ficar dentro dos limites estabelecidos pela lei. A autoexecutoriedade é o direito que a administração possui de impor medidas ou sanções sem a necessidade de prévia autorização judicial. Meirelles, citado por Alexandrino e Paulo (2011, p. 248), afirma que: “[...] a autoexecutoriedade consiste na possibilidade que certos atos administrativos ensejam de imediata e direta execução pela própria administração, independente de ordem judicial.” Para exemplificar o exercício do poder de polícia autoexecutório, imagine a seguinte situação: a prefeitura identifica uma construção irregular que oferece perigo à coletividade e imediatamente embarga a obra e promove a sua demolição sem necessidade de autorização judicial. No entanto, nem toda atuação de polícia pode ser concluída de forma autoexecutória, principalmente quando quem sofreu a sanção se mostra contrário ao pagamento da multa, ou entende que a administração não agiu dentro da lei. “Nem toda atuação de polícia administrativa, contudo, pode ser levada a termo de forma autoexecutória. Exemplo consagrado de ato não autoexecutório é a cobrança de multas administrativas de polícia, quando resistida pelo particular.” (ALEXANDRINO; PAULO; 2011, p. 248, grifo dos autores). Nesse caso, o particular recorre judicialmente, cabendo ao Judiciário decidir em favor da administração ou do particular. IMPORTANT E UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 126 Por fim, estudemos a característica da coercibilidade. É através da coercibilidade que a administração impõe medidas aos administrados, podendo usar, se necessário, a força. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 250): [...] a coercibilidade traduz-se na possibilidade de as medidas adotadas pela administração pública serem impostas coativamente ao administrado, inclusive mediante o emprego da força. Caso o particular resista ao ato de polícia, a administração poderá valer-se da força pública para garantir o seu cumprimento. Todo ato de polícia por si é coercitivo, ou seja, impõe ao administrado a obrigação de cumpri-lo. Para exemplificar o ato de polícia coercitivo, podemos considerar a proibição de vender carne temperada nos supermercados. O fiscal sanitário, ao verificar que o estabelecimento descumpre a norma, poderá usar da força e recolher os alimentos. Caro(a) acadêmico(a), observe que o poder de polícia serve para garantir o bem da coletividade, é através desse poder que a administração regula as atividades e bens que serão fornecidos ou prestados aos consumidores, garantindo que esses bens não causem prejuízo ao povo. Você aprendeu que o poder de polícia pode ser de forma preventiva ou de forma repressiva. No primeiro caso, a administração regula a forma como a atividade deve acontecer e o interessado busca um alvará junto ao governo para praticar a atividade; no segundo caso, a administração pune quem não está de acordo com as normas estabelecidas. 6 USO E ABUSO DE PODER Sabemos que o principal princípio da administração pública é o da legalidade, ou seja, tudo que a administração pública fizer deve ser com base em leis, deve ter autorização legal para fazer. O uso dos poderes administrativos também é autorizado por lei, e justamente por isso, possui limites. Uma vez ultrapassados esses limites, o administrador estará abusando do poder. Com relação ao uso do poder, Meirelles (2006, p. 110) afirma: “Usar normalmente do poder é empregá-lo segundo as normas legais, a moral da instituição, a finalidade do ato e as exigências do interesse público.” Afinal, o administrador público recebe autoridade para usar os poderes em benefício da coletividade. Caso o poder seja usado para outros fins que não seja o bem comum, o administrador estará abusando do poder. TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 127 “O abuso do poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas.” (MEIRELLES, 2006, p. 110, grifo do autor). Do conceito acima vamos destacar dois pontos principais: “ultrapassa limites de suas atribuições = excesso de poder” e “se desvia das finalidades = desvio de poder”. Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 255, grifo dos autores): O abuso de poder [...] desdobra-se, mais precisamente, em duas categorias consagradas, a saber: a) excesso de poder, quando o agente público atua fora dos limites de sua esfera de competências; b) desvio de poder, quando a atuação do agente, embora dentro de sua órbita de competências, contraria a finalidade explícita ou implícita na lei que determinou ou autorizou a sua atuação; tanto é desvio de poder a conduta contrária à finalidade geral (ou mediata) do ato – o interesse público – , quanto a que discrepe de sua finalidade específica (ou imediata). Todo agente público recebe poderes que são inerentes ao cargo que ocupa, devendo exercer esse poder apenas para cumprir as funções a ele atribuídas. Conforme Meirelles (2006, p. 104, grifo do autor): Cada agente administrativo é investido da necessária parcela de poder público para o desempenho de suas atribuições. Esse poder é de ser usado normalmente, como atributo do cargo ou da função, e não como privilégio da pessoa que o exerce. É esse poder que empresta autoridade ao agente público quando recebe da lei competência decisória e força para impor suas decisões aos administrados. Por isso mesmo, o agente, quando despido da função ou fora do exercício do cargo, não pode usar da autoridade pública, nem invocá-la ao talante de seu capricho para superpor-se aos demais cidadãos. É importante também dizer que se o uso em excesso do poder constitui crime por parte do agente administrativo, o fato de este não usá-lo quando deve também o é. Isso quer dizer que o abuso de poder pode ocorrer tanto pela ação quanto pela omissão, pois essas duas situações podem contrariar a lei e prejudicar indivíduos. Nesse sentido, Meirelles (2006, p. 111) coloca que: “O abuso de poder tanto pode revestir a forma comissiva como a omissiva, porque ambas são capazes de afrontar a lei e causar lesão a direito individual do administrado.” O abuso de poder de forma comissiva acontece quando o agente público possui poder para julgar determinado ato, e fazendo-o aplica sanção além do que está previsto em lei, com o objetivo de prejudicar o cidadão. Enquanto o abuso de poderde forma omissiva resulta da não ação por parte do agente público, ele tem o dever de verificar a situação e dar uma resposta, mas não o faz. UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 128 Como já mencionado em outros vários momentos, a lei é soberana na administração pública e concede aos administradores poderes para garantir o bem comum; entretanto, se esse poder não for utilizado dentro dos limites da lei, o administrador estará cometendo abuso de poder e será punido por isso. Quando um indivíduo sente que seu direito está sendo lesado por abuso de poder, pode se utilizar de mandado de segurança, previsto na Constituição. LEITURA COMPLEMENTAR Você já estudou o que é o poder hierárquico. Nesta leitura você verá os objetivos desse poder, bem como as faculdades que decorrem desse poder. Poder hierárquico [...] O poder hierárquico tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e corrigir as atividades administrativas, no âmbito interno da administração pública. Ordena atividades da administração, repartindo e escalonando as funções entre os agentes do poder, de modo que cada um possa exercer eficientemente seu encargo; coordena, entrosando as funções no sentido de obter o funcionamento harmônico de todos os serviços a cargo do mesmo órgão; controla, velando pelo cumprimento da lei e das instruções e acompanhando a conduta e rendimento de cada servidor; corrige os erros administrativos, pela ação revisora dos superiores sobre os atos dos inferiores. Desse modo, a hierarquia atua como instrumento de organização e aperfeiçoamento do serviço e age como meio de responsabilização dos agentes administrativos, impondo-lhes o dever de obediência. [...] Do poder hierárquico decorrem faculdades implícitas para o superior, tais como a de dar ordens e fiscalizar o seu cumprimento, a de delegar e avocar atribuições e a de rever os atos dos inferiores. IMPORTANT E TÓPICO 2 | IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 129 Dar ordens é determinar, especificamente, ao subordinado os atos a praticar ou a conduta a seguir em caso concreto. Daí decorre o dever de obediência. Fiscalizar é vigilar permanentemente os atos praticados pelos subordinados, com o intuito de mantê-los dentro dos padrões legais regulamentares instituídos para cada atividade administrativa. Delegar é conferir a outrem atribuições que originariamente competiam ao delegante. As delegações dentro do mesmo poder são, em princípio, admissíveis, desde que o delegado esteja em condições de bem exercê-las. O que não se admite, no nosso sistema constitucional, é a delegação de atribuições de um poder a outro, como também não se permite delegação de atos de natureza política, como a do poder de tributar, a sanção e o veto de lei. No âmbito administrativo as delegações são frequentes, e, como emanam do poder hierárquico, não podem ser recusadas pelo inferior, como também não podem ser subdelegadas sem expressa autorização do delegante. Outra restrição à delegação é a de atribuição conferida pela lei especificamente a determinado órgão ou agente. Delegáveis, portanto, são as atribuições genéricas, não individualizadas nem fixadas como privativas de certo executor. Avocar é chamar a si funções originariamente atribuídas a um subordinado. Nada impede tal prática, que, porém, só deve ser adotada pelo superior hierárquico quando houver motivos relevantes para tal substituição, isto porque a avocação de um ato sempre desprestigia o inferior e, não raro, desorganiza o normal funcionamento do serviço. Pela avocação substitui-se a competência do inferior pela do superior hierárquico, com todas as consequências dessa substituição, notadamente a deslocação do juízo ou da instância para ajustá-lo ao da autoridade avocante em caso de demanda. Assinale-se, também, que a avocação desonera o inferior de toda responsabilidade pelo ato avocado pelo superior [...]. Não pode ser avocada atribuição que a lei expressamente confere a determinado órgão ou agente, como, por exemplo, o julgamento de concorrência pela comissão competente, ou a aprovação de um ato por autoridade superior diversa da que deveria praticá-lo originariamente por determinação legal. Rever atos de inferiores hierárquicos é apreciar tais atos em todos os seus aspectos (competência, objeto, oportunidade, conveniência, justiça, finalidade e forma), para mantê-los ou invalidá-los, de ofício ou mediante provocação do interessado. A revisão hierárquica é possível enquanto o ato não se tornou definitivo para a administração, ou não criou direito subjetivo para o particular, isto é, não fez nascer para o destinatário um direito oponível à administração [...]. FONTE: Meirelles (2006, p. 121-123) 130 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • A administração pública existe desde que o homem vive em grupo. • A sobrevivência da raça humana dependeu que esta se organizasse e se ajudasse, com isso surgiram os grupos e mais tarde as sociedades. • O objetivo da administração pública é garantir o bem comum. • A administração pública possui deveres e poderes. • Dentre os deveres da administração pública temos: poder-dever de agir, dever de eficiência, dever de probidade e dever de prestar contas. • São poderes da administração pública: poder vinculado, poder discricionário, poder hierárquico, poder disciplinar, poder regulamentar e poder de polícia. • Os deveres estão previstos em lei, assim como o exercício dos poderes também é limitado pela lei. • O abuso de poder acontece quando o administrador ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas. 131 AUTOATIVIDADE 1 Marque V para as proposições verdadeiras e F para as falsas: ( ) Podemos dizer que a essência da administração pública está presente na vida humana desde a formação dos primeiros grupos. ( ) O Estado já existia antes de surgirem os primeiros grupos. ( ) O povo concede poder ao Estado para organizar e defender o bem-estar e o progresso social. ( ) A associação e cooperação entre os humanos foram fatores cruciais para a evolução humana. Assinale a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V – V. b) ( ) V – F – F – V. c) ( ) V – F – V – V. d) ( ) V – V – F – F. 2 Os fins do Estado são: a) ( ) Somente jurídicos. b) ( ) Jurídicos ou essenciais e sociais. c) ( ) Somente sociais. d) ( ) Nem jurídicos, nem sociais, são financeiros. 3 Analise as proposições a seguir: I. A administração pública é a atividade por meio da qual o Estado cumpre sua função. II. O objetivo da administração pública é o bem-estar de seu povo. As afirmativas acima são: a) ( ) Verdadeiras. b) ( ) Falsas. c) ( ) Apenas a II é verdadeira. d) ( ) Apenas a I é verdadeira. 4 São deveres da administração pública: a) ( ) Poder-dever de agir, dever de probidade e dever de prestar contas. b) ( ) Dever de eficiência e dever de probidade. c) ( ) Dever de eficiência e dever de prestar contas. d) ( ) Poder-dever de agir, dever de eficiência, dever de probidade e dever de prestar contas. 132 5 Sobre os poderes da administração pública: I. Os poderes vinculado e discricionário são os que estabelecem a liberdade da administração pública na prática de seus atos. II. Os poderes hierárquico e disciplinar tratam das punições que a administração pública pode aplicar aos que a ela se vinculam. III. O poder regulamentar é de uso privativo dos chefes do Executivo (Presidente da República, governador e prefeito). IV. É através do poder de polícia que a administração pública limita determinadas atividades ou serviços para garantir o bem da coletividade. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as assertivas I, III e IV são verdadeiras. b) ( ) Todas as assertivas são verdadeiras. c) ( ) Todas as assertivas são falsas. d) ( ) Somente as assertivas II e III são verdadeiras. 133 TÓPICO 3 GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Para que seja possível concretizar os objetivosdo Estado é preciso que exista toda uma estrutura envolvida. Nesta estrutura temos o governo, as políticas e os agentes públicos. É o governo que dirige o Estado e que conduz o povo no cumprimento das regras estabelecidas. O governo, por sua vez, estabelece as políticas para o bom funcionamento do Estado. As políticas são ações que regulam a vivência em sociedade. Dentre as políticas temos: política regulatória, política fiscal e política monetária, que buscam direcionar o país na busca dos objetivos econômicos. Sabemos que o Estado, por si, não tem como desenvolver suas atividades, por esse motivo a lei concede poderes aos agentes públicos para atuarem em nome do Estado. Nesse tópico você aprenderá também quem são os agentes públicos, e conhecerá os atos de improbidade administrativa. 2 GOVERNO O Estado é dirigido pelo governo. Podemos dizer que governar é administrar, é organizar as ações do Estado para atingir os objetivos propostos. Segundo Bächtold (2008, p. 16, grifo do autor): “Governo – Ato ou efeito de administrar, sistema político que dirige um Estado com poder soberano. É a organização necessária para o exercício do poder e leva a população ao cumprimento das normas que estabelece como condição para a convivência social.” O governo estabelece regras ao seu povo com o intuito de organizar a convivência em grupo. Podemos considerar que as regras são impostas aos cidadãos por meio das leis. Todo o conceito de Estado só pode ser colocado em prática através das ações do governo. De acordo com Brancato (2009, p. 62): “O governo dá ao Estado a sua conotação jurídica. É a organização necessária para o exercício do poder, a força que conduz a coletividade para o cumprimento das normas que cria, estabelece e exige, como condição de vida de um povo [...].” 134 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Existem formas e sistemas de governo. Dentre as formas temos as puras e impuras e nos sistemas temos o parlamentarismo e o presidencialismo. As formas puras são formas boas de governo, as formas impuras são formas más. Enquanto os sistemas de governo existentes são o parlamentarismo e o presidencialismo. (BÄCHTOLD, 2008). As formas e sistemas de governo serão estudados no Tópico 1 da Unidade 3. O objetivo do estudo do governo aqui é mostrá-lo como ente que cria e estabelece as políticas de funcionamento do Estado. O governo tem a função de órgão regulador, por isso, todas as políticas são estabelecidas por ele. Conforme Meirelles (2006, p. 64, grifo do autor): “[...] A constante, porém, do governo é a sua expressão política de comando, de iniciativa, de fixação de objetivos do Estado e de manutenção da ordem jurídica vigente. O governo atua mediante atos de soberania ou, pelo menos, de autonomia política na condução dos negócios públicos.” O governo mantém a ordem jurídica através da criação das políticas. A seguir você passará ao estudo das políticas existentes no nosso país. 3 POLÍTICAS Quando você escuta falar em política, o que lhe vem em mente? A maioria de nós já vai se lembrando de escândalos de corrupção envolvendo políticos, de falcatruas, enfim, não temos prazer em falar de política, pois lembramos sempre das ações vergonhosas de alguns de nossos políticos. Façamos uma diferença aqui, isso não é política, é politicagem. Porque política é uma coisa boa, ou melhor, política é fundamental para o desenvolvimento da sociedade e para atingir os fins do Estado. Segundo Lacombe e Heilborn apud Bächtold (2008, p. 79, grifo do autor): ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 135 Política é um conjunto de declarações escritas a respeito das intenções das instituições em relação a determinado assunto. As políticas indicam os meios e a forma para atingir os objetivos principais. São formuladas, em geral, de forma ampla e proporcionam as linhas mestras para orientar as decisões mais importantes e a formulação dos objetivos setoriais e das normas. Ela também pode significar o conjunto de guias e intenções que traçam o rumo de uma instituição e governam suas atividades e decisões para atingir o objetivo geral para o qual a instituição foi criada. Toda organização, seja pública ou privada, possui política. As regras internas de uma organização são políticas, ou seja, são diretrizes estabelecidas para organizar as ações e a convivência dentro da organização. As políticas podem ser implícitas ou explícitas. Conforme Lacombe e Heilborn apud Bächtold (2008, p. 79, grifo do autor): Políticas Implícitas – São práticas genéricas correntes na empresa, não oficializadas nem escritas, que orientam as decisões dos administradores. Na maioria dos casos, as políticas são implícitas porque ninguém se deu ao trabalho de escrevê-las. [...] Existe ainda a possibilidade de a empresa ter uma política oficial, documentada e divulgada, mas seguir práticas diferentes das que estão explicitamente estabelecidas. Políticas Explícitas – São as políticas expressas da empresa. Aquelas regras de conduta, regras de ação. Elas não prevalecem sobre as políticas implícitas, ao contrário, principalmente na administração pública, a política expressa é de ideologias pautadas em princípios éticos e morais, mas nem sempre a prática segue estes pressupostos. O estudo das políticas, aqui, se refere às ações praticadas pelo governo para garantir a ordem e o desenvolvimento da sociedade. O governo estabelece as políticas para conduzir o país na busca por seus objetivos, quer seja, o crescimento econômico, o desenvolvimento social, entre outros. Conforme Giambiagi apud Bächtold (2008, p. 80): “[...] a existência do governo é necessária para guiar, corrigir e complementar o sistema de mercado que, sozinho, não é capaz de desempenhar [sic] todas as funções econômicas.” Dentre as várias políticas estabelecidas pelo governo, abordaremos três que são de grande importância para o desenvolvimento econômico do país, que são as políticas: regulatória, fiscal e monetária. No entanto, antes de explicar cada uma dessas políticas, é necessário conceituar políticas públicas. Segundo Lopes, Amaral e Caldas (2008, p. 5): 136 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Para atingir resultados em diversas áreas e promover o bem-es tar da sociedade, os governos se utilizam das políticas públicas [...] as políticas públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. É certo que as ações que os dirigentes públi cos (os governantes ou os tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles entendem serem as de mandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar da sociedade é sempre definido pelo governo e não pela sociedade. É comum as pessoas se organizarem em grupos para reivindicar ações do governo, uma vez que não é possível atender ao interesse de cada indivíduo. Dessa forma, através das reivindicações dos grupos, o governo define as ações nas suas diversas áreas de atuação: saúde, educação, esporte, lazer, desenvolvimento, planejamento, turismo, entre outras. A seguir você conhecerá um pouco sobre as políticas regulatória, fiscal e monetária. 3.1 POLÍTICA REGULATÓRIA Dentre as funções exercidas pelo Estado está a de regular e normatizar a atividade econômica, com o intuito de promover o bem-estar social, e limitar os direitos individuais para garantir o bem da coletividade. Essa função está explícita na Constituição Federal de 1988: “Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.” Através do uso de normativas como decretos e leis, o governo estabelece normas e condutas que deverão ser seguidas pelas empresas, a fim de organizar aeconomia do país, isso nada mais é do que a política regulatória. Segundo Bächtold (2008, p. 80, grifo do autor): Política Regulatória - envolve o uso de medidas legais como decretos, leis, portarias, expedidas como alternativa para alocar, distribuir os recursos e estabilizar a economia. Com o uso das normas, diversas condutas podem ser banidas, como a criação de monopólios, cartéis, práticas abusivas, aumento da poluição, entre outras. Observe que a política regulatória serve para garantir que o mercado não adote condutas abusivas e que o consumidor não seja prejudicado. Mais uma vez, fica claro o objetivo do Estado, que é garantir o bem comum. TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 137 3.2 POLÍTICA FISCAL Entende-se por política fiscal o conjunto de ações que o governo toma para arrecadar receita e realizar despesas. A receita do governo deriva da arrecadação de impostos. Quando falamos do governo no sentido de arrecadar impostos, utilizamos a denominação “fisco”. É o fisco que controla e fiscaliza a arrecadação dos impostos. Conforme definição encontrada no site do Tesouro Nacional (BRASIL, 2013): Política fiscal reflete o conjunto de medidas pelas quais o governo arrecada receitas e realiza despesas de modo a cumprir três funções: a estabilização macroeconômica, a redistribuição da renda e a alocação de recursos. A função estabilizadora consiste na promoção do crescimento econômico sustentado, com baixo desemprego e estabilidade de preços. A função redistributiva visa assegurar a distribuição equitativa da renda. Por fim, a função alocativa consiste no fornecimento eficiente de bens e serviços públicos, compensando as falhas de mercado. É através da política fiscal que o governo monitora e influencia a economia de um país. “É possível, com a política fiscal, aumentar a renda e o PIB, e aquecer a economia, com melhor distribuição de renda.” (BÄCHTOLD, 2008, p. 80). Podemos acompanhar as ações de política fiscal tomadas pelo governo nos diversos meios de comunicação: jornais, revistas, telejornais, internet, entre outros. Através da política fiscal o governo pode incentivar algumas empresas, mas também pode criar barreiras para seu crescimento. Você já deve ter ouvido em algum momento que o governo liberou determinados produtos do pagamento de impostos para que as vendas aumentassem, aumentando consequentemente a necessidade de contratar mais pessoal (exemplo: redução do IPI para linha branca e veículos). O contrário também pode ocorrer, o governo pode aumentar a carga tributária de determinados produtos ou serviços para frear o consumo (exemplo: empresas que produzem cigarros). É importante destacar que a política fiscal está diretamente ligada à política monetária. 3.3 POLÍTICA MONETÁRIA A palavra monetária nos remete à palavra dinheiro, logo, podemos concluir que as ações de política monetária envolvem o dinheiro. O controle da oferta de dinheiro, a taxa de juros e a oferta de crédito são ações reguladas pela política monetária. 138 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Segundo Bächtold (2008, p. 80, grifo do autor): Política Monetária – envolve o controle da oferta de moeda, da taxa de juros e do crédito em geral, para efeito de estabilização da economia e influência na decisão de produtores e consumidores. Com a política monetária, pode-se controlar a inflação, preços, restringir a demanda, entre outros. Como o governo pode restringir a demanda? Aumentando a taxa de juros, aumentando os impostos. Quando o consumidor precisa pagar mais impostos, mais juros, ele passa a controlar seus gastos com o que realmente é necessário. De acordo com Rebouças (2013, grifo do autor): A política monetária visa defender o poder de compra de uma moeda, sendo ela expansionista ou restritiva. Na política restritiva, o dinheiro em circulação é diminuído ou estabilizado para desaquecer a economia e manter os preços de mercado. Na política expansionista, o dinheiro em circulação aumenta de quantidade para aquecer a economia, a demanda de mercado e consequentemente o crescimento econômico do país. O aquecimento possui o risco de gerar efeito inflacionário na economia. As ações de política monetária também podem ser acompanhadas nos meios de comunicação. É visto que a política monetária influencia em muito a economia do país. Certamente você já ouviu falar no Conselho Monetário Nacional ou no Banco Central, são essas entidades que estabelecem as políticas monetárias. Conforme Rebouças (2013): “No Brasil essas políticas ocorrem a partir do Conselho Monetário Nacional, posteriormente avaliadas pelo Banco Central, Copom e sistema bancário; daí estabelece-se a oferta monetária no mercado e a taxa de juros.” Assim como as políticas regulatória e fiscal, a política monetária serve para controlar a economia do país. É através de todas elas que o governo direciona ações para atingir objetivos de crescimento e desenvolvimento. 4 AGENTES PÚBLICOS O agente público é a figura humana da administração pública, é toda pessoa física que exerce qualquer atividade em função do Estado. Para Meirelles (2011, p. 76, grifo do autor): “Agentes públicos – São todas as pessoas físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma função estatal”. Para complementar este conceito, vejamos o que dizem Alexandrino e Paulo (2011, p. 124): “Considera-se agente público toda pessoa física que exerça, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, http://www.infoescola.com/economia/politica-monetaria/ http://www.infoescola.com/economia/politica-monetaria/ TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 139 nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função pública”. Portanto, agente público não é apenas a pessoa que trabalha na administração pública interna, mas também todas as pessoas físicas envolvidas nas atividades executadas a fim de realizar um objetivo do Estado. Geralmente, quando ouvimos o termo agente público, logo pensamos nos funcionários públicos, porém, como vimos e ainda vamos nos aprofundar, este conceito é mais amplo e envolve outras pessoas. O Estado é composto por órgãos, para que a administração desta estrutura funcione é preciso de pessoas para executar as atividades, essas pessoas são os agentes públicos que têm suas funções definidas e que podem, ou não, ocupar algum cargo dentro do órgão. Conforme Meirelles (2011, p. 76): Os agentes normalmente desempenham funções do órgão, distribuídas entre os cargos de que são titulares, mas excepcionalmente podem exercer funções sem cargo. A regra é a atribuição de funções múltiplas e genéricas ao órgão, as quais são repartidas especificamente entre os cargos, ou individualmente entre os agentes de função sem cargo. Em qualquer hipótese, porém, o cargo ou a função pertence ao Estado, e não ao agente que o exerce, razão pela qual o Estado pode suprimir ou alterar cargos e funções sem nenhuma ofensa aos direitos de seus titulares, como podem desaparecer os titulares sem extinção dos cargos e funções. Como os cargos e as funções pertencem ao Estado, e não ao agente que apenas ocupa a função ou cargo existente, o Estado a qualquer momento poderá alterar ou extinguir o cargo ou função, caso achar conveniente. Para ficar mais claro, vamos conhecer os termos cargo e função, segundo Meirelles (2011, p. 76, grifo do autor): “Os cargos, [...] são apenas os lugares criados no órgão para serem providos por agentes que exercerão as suas funções na forma legal. O cargo é lotado no órgão e o agente é investido no cargo. [...] As funções são os encargos atribuídos aos órgãos, cargos e agentes.” Portanto, quando falarmos em cargo estamos nos referindo aos postos existentes no órgão que serão ocupados pelo agente público. Logo, as funções são as tarefas propriamente ditas, impostas para determinado órgão, cargo ou agente.Ou seja, existe o órgão composto pelos cargos, ocupados pelos agentes. A função vai definir a responsabilidade e a atividade a ser executada pelo órgão, cargo ou agente. Agente público é um conceito empregado em sentido amplo. Há duas espécies de agentes públicos que são mais estudadas: servidor público e empregado público. “A expressão ‘agente público’ é utilizada em sentido amplo e genérico. [...] Dentre todos os integrantes do gênero ‘agentes públicos’, duas espécies são mais estudadas [...] a saber: ‘servidor público’ e ‘empregado público’”. (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 125, grifo dos autores). 140 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Servidor público é identificado por ocupar um cargo público, podendo ser efetivo ou em comissão em regime estatutário e sob regime jurídico de direito público. Enquanto o empregado público é contratado sob o regime contratual trabalhista (CLT) e sob regime jurídico privado. Caro(a) acadêmico(a), você deve se perguntar por que não falamos no termo “funcionário público”, já que é tão comum ouvir este nome quando se fala em alguém que trabalha na administração pública, correto? Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 125-126, grifo dos autores): “Outro conceito, não mais utilizado no direito administrativo, mas sim no direito penal, é o de “funcionário público” [...] A Constituição vigente abandonou a antes consagrada expressão funcionário público. Na seara do direito penal, todavia, ela ainda é empregada [...]”. Agora que já temos o conhecimento do conceito de agente público, cargo e função, além das espécies de agentes públicos, vamos nos aprofundar e estudar a classificação dos agentes públicos e as formas de investidura desses agentes públicos. 4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS Como vimos, o termo agente público é empregado em sentido amplo, é de suma importância conhecer este conceito minuciosamente. Alexandrino e Paulo (2011) adotaram de Meirelles a classificação dos agentes públicos, que são classificados da seguinte forma: agentes políticos, agentes administrativos, agentes honoríficos, agentes delegados e agentes credenciados. Estudaremos a seguir cada espécie/grupo de agentes públicos citados. 4.1.1 Agentes políticos Os agentes políticos são os que detêm o poder de comando, compõem o governo e estão nos mais altos escalões do poder público. Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 126, grifo dos autores): “Os agentes políticos são os integrantes dos mais altos escalões do poder público, aos quais incumbe a elaboração das diretrizes de atuação governamental, e as funções de direção, orientação e supervisão geral da administração pública”. UNI TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 141 Os agentes políticos são representados pelo Presidente da República, governadores, prefeitos, secretários, ministros, senadores, procuradores, promotores, entre outros. As principais características dos agentes políticos, segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 127), são: a) sua competência é haurida da própria Constituição; b) não se sujeitam às regras comuns aplicáveis aos servidores públicos em geral; c) normalmente são investidos em seus cargos por meio de eleição, nomeação ou designação; d) não são hierarquizados (com exceção dos auxiliares imediatos dos chefes dos Executivos), sujeitando-se, tão somente, às regras constitucionais. Os agentes políticos são diferenciados dos demais agentes públicos em alguns aspectos, por ser o grupo que representa o governo (sendo assim responsável por tomadas de decisões importantes e por não possuir hierarquia), ficarão salvos em eventuais situações de erro sem intenção, afinal de contas, haveria grande temor por parte do agente político responsável por determinada decisão, ser punido por algum grave erro sem intenção. (MEIRELLES, 2011). Portanto, os agentes políticos, diferente dos demais agentes públicos pela responsabilidade da tomada de decisão, só serão salvos de eventual erro quando este for ocasionado sem intenção. Caso houver culpa, má-fé ou abuso de poder, haverá punição. 4.1.2 Agentes administrativos Os agentes administrativos são todos aqueles que executam atividades e são vinculados à administração direta ou indireta, são aqueles que ocupam algum cargo ou alguma função pública, sem ser pessoa política. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 127, grifo dos autores): Os agentes administrativos são todos aqueles que exercem uma atividade pública de natureza profissional e remunerada, sujeitos à hierarquia funcional e ao regime jurídico estabelecido pelo ente federado ao qual pertencem. São os ocupantes de cargos públicos e de funções públicas nas administrações direta e indireta das diversas unidades da Federação, nos três Poderes. Os agentes administrativos a que nos referimos aqui são os servidores e empregados públicos, que já estudamos anteriormente. Estes agentes administrativos podem ser classificados, conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 127-128, grifo dos autores), em: 142 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA a) servidores públicos: são os agentes administrativos sujeitos a regime jurídico- administrativo, de caráter estatutário (isto é, de natureza legal, e não contratual); são os titulares de cargos públicos de provimento efetivo e de provimento em comissão; b) empregados públicos: são os ocupantes de empregos públicos, sujeitos a regime jurídico contratual trabalhista; têm “contrato de trabalho” em sentido próprio, e são regidos basicamente pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (são, por isso, chamados “celetistas”); c) temporários: são os contratados por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos do art. 37, IX, da Constituição, não têm cargo público nem emprego público, exercem uma função pública remunerada temporária e o seu vínculo funcional com a administração pública é contratual, mas se trata de um contrato de direito público, e não de natureza trabalhista (eles não têm o “contrato de trabalho” propriamente dito, previsto na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT); em síntese, não são agentes públicos celetistas, nem propriamente estatutários, mas estão vinculados à administração pública por um regime funcional de direito público, de natureza jurídico-administrativa (e não trabalhista). Portanto, esses agentes administrativos são aqueles que trabalham na administração interna do setor público, onde ocupam um cargo ou função pública, sem ser pessoa política. 4.1.3 Agentes honoríficos Os agentes honoríficos atuam em função pública quando solicitado, por colaboração junto ao Estado, sem remuneração e sem vínculo profissional. Conforme Alexandrino e Paulo (2011, p. 128, grifo dos autores): Os agentes honoríficos são cidadãos requisitados ou designados para, transitoriamente, colaborarem com o Estado mediante a prestação de serviços específicos, em razão de sua condição cívica, de sua honorabilidade ou de sua notória capacidade profissional. Não possuem qualquer vínculo profissional com a administração pública (são apenas considerados “funcionários públicos” para fins penais) e usualmente atuam sem remuneração. São os jurados, os mesários eleitorais, os membros dos Conselhos Tutelares criados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e outros dessa natureza. Conforme citado acima, os jurados e mesários são exemplos desta categoria dos agentes honoríficos. TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 143 4.1.4 Agentes delegados Os agentes delegados são particulares (não são servidores, nem empregados públicos) incumbidos de executar determinada atividade por sua conta e risco e sob fiscalização do Estado. Conforme Meirelles (2011, p. 81): Agentes delegados: são particulares – pessoas físicas ou jurídicas, que não se enquadram na acepção própria de agentes públicos – que recebem a incumbência da execução de determinada atividade, obra ou serviçopúblico e o realizam em nome próprio, por sua conta e risco, mas segundo as normas do Estado e sob a permanente fiscalização do delegante. [...] Nessa categoria encontram-se os concessionários e permissionários de obras e serviços públicos, os serventuários de ofícios ou cartórios não estatizados, os leiloeiros [...] [e] as demais pessoas que recebem delegação para a prática de alguma atividade estatal ou serviço de interesse coletivo. Fica claro que os agentes delegados são pessoas físicas ou jurídicas, portanto são particulares sem ser servidores ou empregados públicos, sem possuir vínculo profissional com a administração pública, incumbidos de realizar determinada atividade. Podemos citar aqui como exemplo os concessionários e os permissionários de obras, conforme citado acima. 4.1.5 Agentes credenciados Os agentes credenciados são aqueles incumbidos de representar a administração em determinada ocasião. Conforme Meirelles (2011, p. 82): “Agentes credenciados: são os que recebem a incumbência da administração para representá-la em determinado ato ou praticar certa atividade específica, mediante remuneração do poder público credenciante”. Como podemos perceber aqui, os agentes credenciados são remunerados. Vale considerar que os agentes credenciados “também são considerados ‘funcionários públicos’ para fins penais”. (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 129). Podemos citar como exemplo de agente credenciado “[...] um artista consagrado que fosse incumbido de oficialmente representar o Brasil em um congresso internacional sobre proteção da propriedade intelectual [...]”. (ALEXANDRINO E PAULO, 2011, p. 129). 144 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4.2 FORMAS DE INVESTIDURA DOS AGENTES PÚBLICOS Um agente público se torna vinculado ao Estado somente por alguma forma ou ato legal, a forma como o agente público ingressou na administração pública é denominada investidura. Conforme Meirelles (2011, p. 82, grifo do autor), “Todo agente público vincula-se ao Estado por meio de ato ou procedimento legal a que se denomina investidura, variável na forma e nos efeitos, segundo a natureza do cargo, do emprego, da função ou mandato que atribui ao investido”. Portanto, é através da investidura que o agente público ingressa na administração pública ou vincula-se ao Estado. A investidura, conforme citado por Meirelles, é variável conforme suas características, que podem ser: “administrativa ou política; originária ou derivada; vitalícia, efetiva ou em comissão, e outras formas temporárias”. (MEIRELLES, 2011, p. 83, grifo do autor). A seguir, vamos estudar todas as formas de investidura citadas. 4.2.1 Investidura administrativa Os agentes vinculados à administração pública por cargo, função ou mandato administrativo são os casos de investidura administrativa. Conforme Meirelles (2011, p. 83, grifo do autor): Investidura administrativa: é toda aquela que vincula o agente a cargo, função ou mandato administrativo, atendidos os requisitos de capacidade e idoneidade que a lei estabelecer. Destina-se, em geral, à composição dos quadros do serviço público, em sentido amplo, abrangendo o pessoal dos três Poderes e dos serviços autárquicos e fundacionais. Para que o agente público possa ocupar sua posição na administração pública, precisa atender os requisitos que a lei determinar, como, por exemplo, no que diz respeito à sua capacidade e idoneidade. Quanto à forma usual da investidura administrativa, conforme Meirelles (2011, p. 83, grifo do autor): “[...] é a nomeação, por decreto ou portaria, mas admite, também, a admissão, a designação, a contratação e a eleição administrativa, nos termos regulamentares, regimentais ou estatutários”. TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 145 4.2.2 Investidura política A investidura política é feita através de eleição. Não são exigidos requisitos profissionais do candidato, mas é necessário que ele tenha este direito político. Conforme Meirelles (2011, p. 83, grifo do autor): Investidura política: realiza-se, em regra, por eleição direta ou indireta, mediante sufrágio universal, ou restrito a determinados eleitores, na forma da Constituição da República (arts. 2º e 14), para mandatos nas Corporações Legislativas (Senado Federal, Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais) ou nas Chefias dos Executivos (Presidente da República, Governadores de Estados- membros, Governadores do Distrito Federal e Prefeitos Municipais). O fundamento desta investidura é a condição cívica do cidadão, razão pela qual não se exigem do candidato requisitos profissionais, mas apenas a plenitude de seus direitos políticos, nos termos da legislação eleitoral. É o caso de eleições para presidente, governadores, prefeitos, vereadores, entre outros integrantes do Poder Legislativo e Poder Executivo. 4.2.3 Investidura originária e derivada A investidura originária é a forma pela qual o agente público ingressou na administração pública de acordo com o cargo ou função que lhe foi designado. A investidura derivada ocorre a partir da investidura originária, quando um agente público é promovido e passa a ocupar outra posição dentro da administração pública. Conforme Meirelles (2011, p. 84, grifo do autor): Investidura originária e derivada: investidura originária é a que vincula inicialmente o agente ao Estado, tal como a primeira nomeação para cargo público a que se refere a Constituição (art. 37, II); investidura derivada é aquela que se baseia em anterior vinculação do agente com a administração, como a promoção, a transferência, a remoção, a reintegração etc. Para o funcionalismo em geral, a investidura originária depende de concurso público de provas, ou de provas e títulos, salvo as dispensas indicadas em lei; a investidura derivada normalmente se faz por seleção interna pelo sistema de mérito e tempo de serviço, na forma estatutária (v. cap. VII). Vale destacar que a investidura originária é dada através de concurso público, entre outras modalidades de seleção. Por exemplo, João prestou concurso público para o cargo de auxiliar administrativo na prefeitura de sua cidade, tendo 146 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA sido aprovado e nomeado, assumiu o cargo. Tempos depois, João passou por processo de seleção interna e foi promovido para o cargo de oficial administrativo. Podemos dizer que no primeiro caso a investidura foi originária, enquanto no segundo, derivada. Investidura derivada é dada através de seleção interna considerando tempo de serviço e mérito, tudo conforme base legal. 4.2.4 Investidura vitalícia A investidura vitalícia significa certa estabilidade da permanência do agente público na administração pública, é exigido processo judicial caso o agente público por algum motivo perder o direito de exercer seu cargo ou função pública. Conforme Meirelles (2011, p. 84, grifo do autor): Investidura vitalícia, efetiva e em comissão: investidura vitalícia é a de caráter perpétuo, como a dos magistrados, e cuja destituição exige processo judicial; investidura efetiva é a que tem presunção de definitividade, para tornar o agente estável no serviço após o estágio probatório, pelo quê [sic] a sua destituição depende de processo administrativo ou de sentença judicial; investidura em comissão é a de natureza transitória, para cargos ou funções de confiança, sendo o agente exonerável ad nutum, a qualquer tempo e independentemente de justificativa. Nesta modalidade de investidura o agente não adquire estabilidade no cargo ou na função exercida, dada a precariedade de seu exercício. Na investidura vitalícia temos a investidura efetiva e a investidura em comissão. Na investidura efetiva encontramos os agentes com estabilidade definitiva, e após o estágio probatório o agente só pode ser exonerado através de processo administrativo ou de sentença judicial. IMPORTANT E TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTESPÚBLICOS 147 Já na investidura em comissão, se trata de agentes que exercem funções ou cargos de confiança, e a qualquer tempo, sem ser necessária justificativa, o agente poderá ser dispensado do serviço, pois não possui estabilidade. Para complementar este assunto: A investidura efetiva é própria dos cargos do quadro permanente da administração, ocupados pela grande massa do funcionalismo, com provimento inicial por concurso, para o desempenho de atividades técnicas e administrativas do Estado, com caráter de exercício profissional. Diversamente, a investidura em comissão é adequada para os agentes públicos de alta categoria ou de confiança, chamados a prestar serviços ao Estado, sem caráter profissional, e até mesmo de natureza honorífica e transitória (v. cap. VII). (MEIRELLES, 2011, p. 84). De forma simplificada, podemos dizer que a investidura efetiva é aquela que garante estabilidade ao agente público que é admitido após aprovação em concurso público, enquanto na investidura comissionada os agentes públicos podem a qualquer momento ser exonerados sem ser necessária justificativa, se trata aqui dos cargos de confiança. 5 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Podemos entender como improbidade administrativa condutas ilícitas e contrárias aos princípios da administração pública em razão do cargo ou função pública. Para aquele que cometer este tipo de ato ilegal contra a administração, haverá, dependendo do caso, ressarcimento ao erário, punição e até mesmo exoneração. O termo “erário” é utilizado quando se refere ao tesouro/dinheiro público. NOTA 148 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Alexandrino e Paulo (2011, p. 894) citam o § 4º do art. 37 da Carta de 1988: § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. Esta norma é válida tanto para administração direta quanto para administração indireta. A Lei no 8.429/1992 apresenta as condutas que ferem a administração pública, no caso, os atos de improbidade administrativa. Segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 899), a Lei no 8.429/1992 classifica os atos de improbidade administrativa em três categorias: a) atos de improbidade administrativa que importam em enriquecimento ilícito; b) atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário; c) atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração pública. A prática de atos ilícitos, dentro destas categorias citadas acima, trará consequência ao responsável em função da ilegalidade, segundo Alexandrino e Paulo (2011, p. 899, grifo dos autores): “Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, a prática de atos dessa natureza sujeita o responsável às [...] cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato (art. 12, I) [...]”. É importante destacar ainda que a improbidade administrativa traz dois sujeitos, o sujeito ativo que é o praticante do ato ilícito, e o sujeito passivo que é o Estado, ou quem sofre o dano causado. Conforme Moraes (2005, p. 331-332): Os artigos 1º, caput, e parágrafo único, 2º e 3º da Lei nº 8.429/92 definem como sujeito do ato de improbidade administrativa o agente público, servidor ou não, que exerça, embora transitoriamente, com ou sem remuneração, seja por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na administração direta ou indireta [...] O sujeito passivo é o Estado, uma vez que a Lei nº 8.429/92 tem por escopo proteger o patrimônio público, a administração da coisa pública (bens, direitos, recursos, com ou sem valor econômico). O sujeito passivo imediato é a pessoa juridicamente afetada pelo ato, desde que incluída no [...] rol, previsto no art. 1º, caput, da Lei nº 8.429/92 [...]. Para facilitar o entendimento acerca dos atos de improbidade administrativa, vamos analisar o quadro a seguir: TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 149 QUADRO 6 - ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DEFINIÇÃO/ CARACTERÍSTICA EXEMPLO ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPORTAM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO Este tipo de ato se caracteriza quando o agente tira vantagem patrimonial ou tomada de posse indevida do patrimônio público. João está construindo em local irregular, e para que o fiscal de obras não denuncie ou embargue sua obra, João lhe oferece dinheiro e presentes. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO Este tipo de ato se caracteriza quando, de alguma forma ilegal, o agente provoca prejuízo ao erário. A Prefeitura precisa locar um imóvel para sediar uma unidade de educação infantil no bairro “x”. Pedro, por ser amigo do secretário de Educação, consegue locar seu imóvel com preço superior praticado pelo mercado. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Este tipo de ato de improbidade se caracteriza quando o agente fere os princípios da administração pública. João analisa os processos de restituição de ISS e, para isso, tem um prazo de 15 dias; no entanto, ao receber o pedido de restituição de uma empresa com a qual possui desafetos, não se preocupa em cumprir o prazo estabelecido, ferindo o princípio da eficiência. FONTE: As autoras A seguir, vamos estudar separadamente cada uma das categorias dos atos de improbidade administrativa citados no quadro acima. 5.1 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPORTAM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (ART 9º) Este ato de improbidade administrativa se refere à vantagem patrimonial ou tomada de posse indevida do patrimônio público, são condutas ilícitas e contrárias aos princípios da administração pública em razão do cargo ou função pública. “É considerado ato de improbidade administrativa que importa em enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade públicos (art. 9º).” (ALEXANDRINO; PAULO, 2011, p. 899, grifo dos autores). 150 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Os requisitos que caracterizam esta categoria de improbidade administrativa que importam em enriquecimento ilícito estão previstos no artigo 9º da Lei no 8.429/1992, que segundo Moraes (2005) são: dolo do agente; obtenção de vantagem patrimonial pelo agente; ilicitude da vantagem obtida; existência de nexo causal entre o exercício funcional e a vantagem indevida (nexo de oficialidade). De acordo com a atualização desta lei por meio da lei nº 14.230 de 25 de outubro de 2021, as 12 condutas ilícitas que prevê o artigo 9º são: I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público; II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado; III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado; IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empregados ou de terceiros contratados por essas entidades; V - receber vantagem econômica de qualquernatureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técnico que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei; VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo agente da licitude da origem dessa evolução; VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade; IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado; XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei (BRASIL, 2021). De acordo com a atualização da Lei de outubro de 2021, as penas que podem ser aplicadas para ao agente que praticou ato ilícito são: TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 151 5.2 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO (ART 10º) Este tipo de ato se caracteriza quando, de alguma forma ilegal, o agente provoca prejuízo ao erário. “É considerado ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres do poder público (art. 10)”. (ALEXANDRINO E PAULO, 2011, p. 899, grifo dos autores). Os requisitos que caracterizam esta categoria de improbidade administrativa que causa lesão ao erário estão previstos no artigo 10º, que, segundo Moraes (2005), são: conduta dolosa ou culposa do agente; conduta ilícita; existência de lesão ao erário ou perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres; não exigência de obtenção de vantagem patrimonial pelo agente, e, por fim, existência de nexo causal entre o exercício funcional e o prejuízo concreto gerado ao erário público (nexo de oficialidade). Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021). I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (BRASIL, 2021). Resumidamente, podemos afirmar sobre o “ato de improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito”, que é caracterizado quando o agente tira vantagem do patrimônio público e usa sua função ou cargo público com objetivos próprios, esquecendo-se da finalidade da administração pública, que é o bem comum. Além disso, para que se caracterize o “ato de improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito” é preciso estar de acordo com requisitos citados neste tópico. Vale ressaltar ainda que a prática do “ato de improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito” acarreta punição de acordo com a gravidade do ato. 152 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Moraes (2005, p. 337-338) cita 13 condutas ilícitas que o artigo 10º prevê. Podemos citar algumas como exemplo: [...] facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, [...] permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º da lei, [...] doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistenciais, bem, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º da lei, [...] permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado, [...] realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea [...] Sendo ato de improbidade, haverá punição a quem provocar este tipo de conduta ilícita, conforme a gravidade dos fatos. Segundo a atualização da Lei 8.429 de Improbidade administrativa por meio da Lei 14.230 de outubro de 2021, as penas para quem apresentar condutas ilícitas que causam prejuízo ao erário são: II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos; (BRASIL, 2021). Resumidamente, podemos afirmar sobre o “ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário”, que é caracterizado por causar prejuízo ao erário pelo agente que teve conduta ilícita. Além disso, para que se caracterize o “ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário” é preciso estar de acordo com requisitos citados neste tópico. Vale ressaltar ainda que a prática do “ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário” acarreta em punição conforme a gravidade do ato. “MALBARATAR, v. tr. dir. Vender por menos do custo, vender com perda; gastar ou empregar mal; dissipar, desperdiçar; [...].” Dicionário O Globo (apud FERNANDES; LUFT; GUIMARÃES, 1992, p. 158, grifo dos autores). Nesse caso, os conceitos que mais se adéquam à coisa pública são: gastar ou empregar mal, dissipar e desperdiçar. NOTA TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 153 5.3 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ART 11º) Este tipo de ato de improbidade se caracteriza quando o agente fere os princípios da administração pública. Para relembrar, podemos citar os cinco princípios constitucionais que constam no art. 37: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. De acordo com a atualização da lei Lei 8.429 por meio da Lei 14.230 de outubro de 2021, é caracterizado como sendo Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os Princípios da Administração Pública questões “[...]que atenta contra os princípios da administração pública aação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade” (BRASIL, 2021). Os requisitos que caracterizam esta categoria de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública estão previstos no artigo 11º, que, segundo Moraes (2005), são: conduta dolosa do agente; conduta comissiva ou omissiva ilícita que, em regra, não gera enriquecimento ilícito ou não cause lesão ao patrimônio público; violação dos deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições; atentado contra os princípios da administração; e, por fim, existência de nexo causal entre o exercício funcional e o desrespeito aos princípios da administração. Essas ações podem ser caracterizadas por uma das seguintes condutas: III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco a segurança da sociedade e do Estado; IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou de outras hipóteses instituídas em lei; V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitatório, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros; VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar irregularidades; VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas. XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas; 154 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recursos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco enaltecimento do agente público e personalização de atos, de programas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públicos (BRASIL, 2021). Sendo ato de improbidade, haverá punição a quem provocar este tipo de conduta ilícita, conforme a gravidade dos fatos. A partir de outubro de 2021, com atualização de Lei de Improbidade Administrativa, algumas das punições que deverão ser aplicadas ao agente que praticou o ato ilícito conforme o art. 12, III: III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) [...] (BRASIL, 2021). Resumidamente, podemos afirmar que o “ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública” é caracterizado pela falta para com os princípios da administração pública. Além disso, para que se caracterize o “ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública” é preciso estar de acordo com requisitos citados neste tópico. Vale lembrar que os “atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração pública” acarretam em punição de acordo com a gravidade do ato. TÓPICO 3 | GOVERNO, POLÍTICAS E AGENTES PÚBLICOS 155 LEITURA COMPLEMENTAR Embora nosso país tenha a fama de não condenar agentes públicos que cometam crimes contra a administração pública, essa realidade está aos poucos se alterando. O artigo a seguir é apenas um dos exemplos de agentes públicos que foram condenados nos últimos tempos por atos de improbidade administrativa. JOAQUIM RORIZ É CONDENADO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA O ex-governador do Distrito Federal Joaquim Domingos Roriz e outros dois membros de seu governo (Weligton Luiz Moraes, ex-secretário de Comunicação Social, e Paulo César Ávila e Silva, ex-consultor jurídico) foram condenados na terça-feira (8/10) por improbidade administrativa. Com a decisão, os réus terão os direitos políticos suspensos por cinco anos, deverão pagar multa correspondente a 100 vezes o valor da remuneração recebida à frente dos seus cargos e ficam proibidos, pelos próximos três anos, de firmar contratos públicos e receber benefícios ou incentivos fiscais e creditícios. Ainda cabe recurso contra a sentença, que foi proferida pela 3ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. De acordo com o juiz relator da decisão, Jansen Fialho de Almeida, os condenados cometeram crime doloso ao firmar contrato, sem licitação, com a agência de publicidade Giovanni FCB, durante o terceiro mandato do governador Roriz (1999-2003). O juiz explica que a dispensa de licitação somente é admitida em casos emergenciais, nas quais “a observância do procedimento licitatório pode causar mais danos do que economia” (inciso IV, do artigo 24 da Lei das Licitações), o que não é o caso das divulgações do governo. Os autos levantados pelo Ministério Público mostram que Roriz cancelou, logo na posse de seu terceiro mandato, em janeiro de 1999, todos os contratos de publicidade firmados na gestão anterior. No mesmo dia da publicação do ato de rescisão, o então secretário Weligton Luiz Moraes solicitou a dispensa de licitação para a contratação de uma nova agência. No dia seguinte, o consultor jurídico Paulo César Ávila e Silva lançou parecer favorável à contratação direta da empresa Giovanni FCB, que passou a ter a exclusividade nos contratos. A corte entendeu que houve dolo no ato ilícito, uma vez que Paulo César detinha amplo conhecimento do assunto. Pouco tempo depois, ele seria alçado por Roriz ao cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal — órgão que fiscaliza licitações e contratações públicas. O juiz também explica que a decisão de aplicar a mesma pena para os três acusados baseou-se no fato de todos terem agido pelo mesmo fim. 156 UNIDADE 2 | ESTRUTURA E IMPORTÂNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA “Ainda que cada qual tenha aqui a sua conduta ímproba devidamente individualizada, todos devem ter a mesma reprimenda, a mesma sanção, porquanto a gravidade é manifesta e tinha um fim único: acabar de uma só penada com os contratos de publicidade da gestão do governo anterior — 50 —, e escolher também unilateralmente outra empresa sem licitação, em valores de milhões de reais. Montaram, maquiaram concatenadamente, em diversos atos sequenciais, uma pretensa legalidade, ao reverso dos princípios basilares da administração pública e da Lei de Licitações”, argumentou. Em relação à empresa Giovanni FCB S/A, o tribunal julgou improcedente o pedido de condenação contra ela, uma vez que “os serviços realizados se deram há mais de 14 anos e não há notícias nos autos dando conta de qualquer irregularidade desses e, conforme assentado pela Corte de Contas, o mesmo não foi lesivo ao patrimônio público”. Assim, não havendo o dano ou a prova do dano efetivo ao erário, não se configura o ato de improbidade nos casos previstos no artigo 10 da Lei de ImprobidadeAdministrativa. Com informações da Assessoria de Imprensa do TJ-DF. FONTE: Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-out-09/ex-governador-df-condenado- improbidade-administrativa>. Notícias do dia 09/10/2013. Acesso em: 30 nov. 2013. http://www.conjur.com.br/2013-out-09/ex-governador-df-condenado-improbidade-administrativa http://www.conjur.com.br/2013-out-09/ex-governador-df-condenado-improbidade-administrativa 157 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico vimos que: • O Estado é dirigido pelo governo. É o governo que administra e organiza as ações do Estado. • As políticas públicas são ações do governo para garantir o bem-estar da sociedade. São ações nas áreas de educação, saúde, desenvolvimento, entre outras. • O governo tem a função de órgão regulador. É ele que regula, através de políticas, as ações do Estado e do povo. • Dentre as políticas estabelecidas pelo Estado temos: a política regulatória (ações através de decretos e leis para normatizar situações); política fiscal (ações para arrecadar receita e realizar despesas); e política monetária (ações que envolvem a oferta de dinheiro e de crédito, bem como, a taxa de juros). • O agente público é a figura humana da administração pública, é toda pessoa física que exerce qualquer atividade em função do Estado. • Quando falamos em cargo, estamos nos referindo aos postos existentes no órgão que serão ocupados pelo agente público. Logo, as funções são as tarefas propriamente ditas, impostas para determinado órgão, cargo ou agente. Ou seja, existe o órgão composto pelos cargos, ocupados pelos agentes. A função vai definir a responsabilidade e a atividade a ser executada pelo órgão, cargo ou agente. • Agente público é um conceito empregado em sentido amplo. Há duas espécies de agentes públicos que são mais estudadas: servidor público e empregado público. Servidor público é identificado por ocupar um cargo público, podendo ser efetivo ou em comissão em regime estatutário e sob regime jurídico de direito público. Enquanto o empregado público é contratado sob o regime contratual trabalhista (CLT) e sob regime jurídico privado. • Como vimos, o termo agente público é empregado em sentido amplo, é de suma importância conhecer este conceito minuciosamente. Podem ser classificados da seguinte forma: agentes políticos, agentes administrativos, agentes honoríficos, agentes delegados e agentes credenciados. • Um agente público se torna vinculado ao Estado somente por alguma forma ou ato legal, a forma como o agente público ingressou na administração pública é denominada investidura. 158 • Podemos entender como improbidade administrativa condutas ilícitas e contrárias aos princípios da administração pública em razão do cargo ou função pública. Para aquele que cometer este tipo de ato ilegal contra a administração, haverá, dependendo do caso, ressarcimento ao erário, punição e até mesmo exoneração. • A Lei no 8.429/1992 classifica os atos de improbidade administrativa em três categorias: atos de improbidade administrativa que importam em enriquecimento ilícito, atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário, atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração pública. • A improbidade administrativa traz dois sujeitos, o sujeito ativo que é o praticante do ato ilícito, e o sujeito passivo que é o Estado, ou quem sofre o dano causado. 159 1 Analise as proposições a seguir: I. Governo é a organização necessária para o exercício do poder e conduz o povo no cumprimento das normas que estabeleceu para garantir que o convívio social seja bom. II. Não são todas as organizações que possuem política. III. As políticas estabelecidas pelo governo são ações para organizar e desenvolver o país. IV. A política monetária envolve controle da oferta de moeda, sendo o Conselho Monetário Nacional o único responsável pela elaboração dessas políticas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As proposições I, II e IV estão corretas. b) ( ) As proposições II e III estão corretas. c) ( ) As proposições I e III estão corretas. d) ( ) Todas as proposições estão corretas. 2 Assinale a alternativa CORRETA: I. O agente público é a figura humana da administração pública, é toda pessoa física que exerce qualquer atividade em função do Estado. II. Funções e cargos públicos são sinônimos. III. Existe o órgão composto pelos cargos, ocupados pelos agentes. A função vai definir a responsabilidade e a atividade a ser executada pelo órgão, cargo ou agente. IV. A expressão “funcionário público” não é mais utilizada no direito administrativo. a) ( ) Apenas a assertiva I está correta. b) ( ) As assertivas I, III e IV estão corretas. c) ( ) As assertivas I e III estão corretas. d) ( ) Todas as assertivas estão corretas. AUTOATIVIDADE Assista ao vídeo de resolução da questão 2 160 3 É INCORRETO afirmar: a) ( ) Um agente público se torna vinculado ao Estado somente por alguma forma ou ato legal, a forma como o agente público se infiltrou na administração pública é denominada investidura. b) ( ) Os agentes públicos podem ser classificados da seguinte forma: agentes políticos, agentes administrativos, agentes honoríficos, agentes delegados e agentes credenciados. c) ( ) As investiduras podem ser: administrativa ou política; originária ou derivada; vitalícia, efetiva ou em comissão, e outras formas temporárias. d) ( ) Investidura é a forma de remuneração dos agentes públicos. 4 Complete as lacunas: ( 1 ) Atos de improbidade administrativa que importam em enriquecimento ilícito. ( 2 ) Atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário. ( 3 ) Atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração pública. ( 4 ) Sujeito ativo na improbidade administrativa. ( 5 ) Sujeito passivo na improbidade administrativa. ( ) Sujeito que na improbidade administrativa é o praticante do ato ilícito. ( ) Sujeito que na improbidade administrativa é o Estado, ou quem sofre o dano causado. ( ) Ato de improbidade que se caracteriza quando o agente fere os princípios da administração pública. ( ) Ato de improbidade que se caracteriza por causar prejuízo ao erário pelo agente que teve conduta ilícita. ( ) Ato de improbidade que é caracterizado quando o agente tira vantagem do patrimônio público e usa sua função ou cargo público com objetivos próprios, esquecendo da finalidade da administração pública, que é o bem comum. A sequência CORRETA é: a) ( ) 5 – 3 – 2 – 1 - 4. b) ( ) 4 – 3 – 2 – 5 - 1. c) ( ) 4 – 5 – 3 – 2 - 1. d) ( ) 5 – 4 – 3 – 1 - 2. 5 Assinale a alternativa CORRETA: I. Podemos entender como improbidade administrativa condutas ilícitas e contrárias aos princípios da administração pública em razão do cargo ou função pública. Para aquele que cometer este tipo de ato ilegal contra a administração haverá, dependendo do caso, ressarcimento ao erário, punição e até mesmo exoneração. 161 II. Os atos de improbidade não são motivos de punição a quem provocar este tipo de conduta ilícita. III. Existem requisitos que caracterizam determinado ato como um ato de improbidade administrativa, estes requisitos estão expressos na Lei no 8.429/92. a) ( ) As assertivas I e II estão corretas. b) ( ) Apenas a assertiva III está correta. c) ( ) As assertivas I e III estão corretas. d) ( ) Todas as assertivas estão corretas. 162 163 UNIDADE 3 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você: • aprenderá o que são formas e sistemas de governo; • saberá distinguir as formas puras de governo das impuras; • entenderá as principais características do Parlamentarismo e do Presidencialismo; • conhecerá os modelos de administração pública utilizados; • compreenderá a importância da adoção de modelos eficientes na administração pública; • aprenderá sobre as principais crisese reformas que aconteceram no Estado Brasileiro; • verá a importância da Constituição de 1988; • compreenderá os benefícios trazidos pela aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO TÓPICO 2 – MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TÓPICO 3 – CRISES E REFORMAS DO ESTADO Assista ao vídeo desta unidade. 164 165 TÓPICO 1 FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), você já aprendeu que a convivência em grupo faz parte da vida do homem desde seu início. Aprendeu, também, que foi necessário criar uma entidade que primasse pelo bem da coletividade, surgindo assim, o Estado. E que o funcionamento do Estado só acontece através do governo. Agora você aprenderá sobre as formas e sistemas de governo. Forma de governo é a maneira como se estabelece o poder e a relação entre governantes e governados. As formas de governo são: monarquia, aristocracia e democracia. Para Dallari (2011, p. 222): “A organização das instituições que atuam no poder soberano do Estado e nas relações entre essas instituições fornecem a caracterização das formas de governo.” As formas de governo podem ser puras ou impuras. As formas de governo puras e impuras serão estudadas de forma detalhada nas próximas páginas. Além das formas de governo temos também os sistemas de governo. O sistema de governo representa a forma como os poderes Legislativo e Executivo se relacionam na prática das funções governamentais. Os sistemas de governo são: presidencialismo e parlamentarismo. ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 3 | MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO 166 2 FORMAS PURAS DE GOVERNO Chamamos de formas puras de governo as formas boas de governo, ou seja, aquelas que buscam o bem comum. A classificação das formas de governo recebeu influência dos filósofos Aristóteles, Maquiavel e Montesquieu. Conforme Bächtold (2008, p. 20-21): “A administração pública exige que seja adotada uma forma de governo que é o modo pelo qual o poder se organiza e se exerce. São três as tipologias clássicas das formas de governo: a de Aristóteles, a de Maquiavel e a de Montesquieu.” Para que se possa chegar a uma definição sobre as formas puras de governo, precisamos primeiramente compreender a ideia de cada um desses filósofos. É importante entender que a classificação das formas de governo é feita levando-se em consideração três critérios: o do número de titulares do poder soberano, o da separação de poderes com rigorosa fixação de suas respectivas relações e o dos princípios essenciais que animam as práticas governativas e consequente exercício limitado ou absoluto do poder estatal. (BONAVIDES, 2010). Vamos começar pela classificação de Aristóteles, considerada a mais antiga dos três, foi baseada no número de governantes. Segundo Dallari (2011, p. 223, grifo do autor): Distingue ele [Aristóteles] três espécies de governo: a realeza, quando é um só indivíduo que governa; a aristocracia, que é o governo exercido por um grupo, relativamente reduzido em relação ao todo; e a democracia (ou república, segundo alguns tradutores), que é o governo exercido pela própria multidão no interesse geral. Aristóteles, também, foi quem classificou as formas de governo em puras e impuras. Para ele “Governos puros são [...] aqueles em que os titulares da soberania, quer se trate de um, de alguns ou de todos, exercem o poder soberano tendo invariavelmente em vista o interesse comum [...].” (BONAVIDES, 2010, p. 209). As formas de governo realeza ou monarquia, aristocracia e democracia são as formas puras de governo na classificação de Aristóteles. A classificação das formas de governo para Maquiavel pode ser compreendida já no início de sua famosa obra O Príncipe, onde ele classifica as formas de governo em duas: monarquia, onde o poder é singular, e república, onde o poder é de todos. A república abrange ainda a aristocracia e a democracia. (BONAVIDES, 2010). Observe que a classificação de Maquiavel não contraria a de Aristóteles, apenas a apresenta de duas formas: monarquia e república, ficando a aristocracia dentro da república. TÓPICO 1 | FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO 167 Montesquieu, por sua vez, considera que: Em toda forma de governo distingue [...] a natureza e o princípio desse governo. A natureza do governo se exprime naquilo que faz com que ele seja o que é. O princípio do governo, por sua vez, vem a ser aquilo que o faz atuar, que anima e excita o exercício do poder: as paixões humanas, por exemplo. São formas de governo: a república, a monarquia e o despotismo [...]. (BONAVIDES, 2010, p. 210, grifo do autor). Veja no quadro a seguir as formas de governo apontadas por Montesquieu de acordo com sua natureza e princípio: QUADRO 7 – FORMAS DE GOVERNO APONTADAS POR MONTESQUIEU DE ACORDO COM SUA NATUREZA E PRINCÍPIO Forma de governo Natureza Princípio República (compreende democracia e aristocracia) Democracia – a soberania fica nas mãos do povo. Virtude, traduzida no amor à pátria e na igualdade. Aristocracia – a soberania pertence a alguns. A moderação dos governantes. Monarquia G o v e r n o d e u m s ó ( a organização acontece através de grupos intermediários como o clero, a justiça e a nobreza). Está no sentimento da honra, no amor das distinções, esse amor é com relação à posição, ao título. A honra desperta nos servidores da coroa a fidelidade pessoal e a dedicação. Despotismo Ignorância ou transgressão da lei. Reside no medo. Exist indo desconfiança, insegurança, as relações entre governantes e governados se fazem à base do temor recíproco. O governo nega a liberdade ao povo e também o teme. FONTE: Baseado em Bonavides (2010). Importante observar que na classificação de Montesquieu aparece uma terceira forma de governo, que até então não havia sido apontada nem por Aristóteles, nem por Maquiavel, o despotismo. UNIDADE 3 | MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO 168 “des.po.tis.mo sm 1 Poder absoluto e arbitrário. 2 Opressão.” (MELHORAMENTOS MINIDICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 1997, p. 161). Após conhecer as ideias de cada um desses filósofos acerca das formas puras de governo, vamos estudar com maior ênfase as duas formas que são apontadas pelos três: a monarquia e a república (considerando que dentro da república temos a democracia e a aristocracia). A seguir, você conhecerá as principais características dessas formas de governo. 2.1 MONARQUIA Dentre as formas de governo monarquia e república, a monarquia é a mais antiga e a que foi adotada em praticamente todos os estados do mundo, uma vez que, os reis predominaram por muitos e muitos anos, até mesmo no Brasil, onde essa forma de governo perdurou por 70 anos. O Brasil é o único país das Américas que teve um regime monárquico estável e reconhecido mundialmente. Haiti e México também tiveram suas experiências monárquicas, mas estas duraram pouco, tendo nenhuma relevância na história de ambos. O período monárquico brasileiro, que durou de 1822, ano da independência do país, até 1889, quando foi proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil, marcou de forma indelével a história nacional. (SANTIAGO, 2014). Conforme Dallari (2011), a monarquia foi aos poucos sendo enfraquecida e abandonada, entretanto, com o surgimento do Estado Moderno houve a necessidade de governos fortes e isso favoreceu seu ressurgimento, na época como monarquia absoluta. Porém, a resistência ao absolutismo foi crescendo e no final do século XVIII surgiram as monarquias constitucionais, onde o rei governa, mas deve obedecer limites estabelecidos na constituição. Outra situação que limitou o poder do rei foi a adoção do sistema parlamentar de governo, em que o monarca passa a figurar como chefe de estado, apenas representando, não mais governando, pois o poderde governar é passado para um gabinete de ministros. NOTA IMPORTANT E http://www.infoescola.com/historia/imperio-do-brasil/ http://www.infoescola.com/historia/independencia-do-brasil/ http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/proclamacao-da-republica/ TÓPICO 1 | FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO 169 Atente que na monarquia, sempre existirá a figura do rei, entretanto, com a criação do gabinete de ministros, o poder não está mais nas mãos de apenas uma pessoa. Para entender melhor como funciona a monarquia atualmente, vamos utilizar como exemplo a Inglaterra, onde a Rainha Elizabeth II exerce a função de Chefe de Estado, e David Cameron que exerce a função de Primeiro-Ministro. São características fundamentais da monarquia: vitaliciedade, hereditariedade e irresponsabilidade. Conforme Dallari (2011, p. 225, grifo do autor): Vitaliciedade. O monarca não governa por um tempo certo e limitado, podendo governar enquanto viver ou enquanto tiver condições para continuar governando. Hereditariedade. A escolha do monarca se faz pela simples verificação da linha de sucessão. Quando morre o monarca ou deixa o governo por qualquer outra razão, é imediatamente substituído pelo herdeiro da coroa. Houve alguns casos de monarquias eletivas, em que o monarca era escolhido por meio de eleições, podendo votar apenas os príncipes eleitores. Mas a regra sempre foi a hereditariedade. Irresponsabilidade. O monarca não tem responsabilidade política, isto é, não deve explicações ao povo ou a qualquer órgão sobre os motivos pelos quais adotou certa orientação política. Vamos usar como exemplo a coroa britânica, a Rainha Elizabeth II está no poder há 61 anos, e não existe previsão alguma para deixá-lo e quando isso acontecer herdará o trono seu filho, Charles. Evidentemente, existem grupos que são a favor da monarquia e outros que são contra, em função de suas características. O quadro a seguir aponta os argumentos de quem é a favor e contra essa forma de governo. QUADRO 8 – ARGUMENTOS DE QUEM É A FAVOR E CONTRA ESSA FORMA DE GOVERNO Argumentos a favor Argumentos contra Sendo vitalício e hereditário, o monarca está acima das disputas políticas, podendo assim intervir com grande autoridade nos momentos de crise política. Se o monarca não governa é uma inutilidade, geralmente muito dispendiosa, que sacrifica o povo sem qualquer proveito. O monarca é um fator de unidade do Estado, pois todas as correntes políticas têm nele um elemento superior, comum. A unidade do Estado e a estabilidade das instituições não podem depender de um fator pessoal, mas devem repousar na ordem jurídica, que é um elemento objetivo e muito mais eficaz. UNIDADE 3 | MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO 170 FONTE: Adaptado de: Dallari (2011, p. 225-226) Não se pode negar que toda forma de governo possui vantagens e desvantagens, e em se tratando de pessoas, nunca será possível agradar a todos. O fato é que a monarquia realmente tem alto custo, frequentemente ouvimos nos noticiários sobre os custos altíssimos de se manter um governo monárquico, apesar disso, a Revista Veja apontou em uma de suas reportagens sobre a família real britânica que: “Uma pesquisa recente mostrou que hoje míseros 13% defendem o fim das cabeças coroadas.” (Edição de 27 de abril de 2011, p. 98). Afinal, qual o segredo para fazer tanto sucesso? Na mesma reportagem acima citada, encontramos uma possível resposta para isso: A capacidade de resistência e de adaptação da monarquia, além da relação primal que os britânicos têm com ela, explicada mais pela narrativa mitológica do que pela lógica política, é objeto de constantes e nunca inteiramente satisfatórias explicações. A mais simples delas opera no campo dos arquétipos imemorialmente moldados no inconsciente coletivo. [...] Imperadores, reis, rainhas e princesas continuam a fascinar a humanidade muitíssimo tempo depois que o sistema de um único governo hereditário, mais ou menos contemporâneo da emergência dos estados nacionais, deixou de ter utilidade como fator unificador. (VEJA, 2011, p. 98-99). É importante lembrar que o sistema de governo adotado na monarquia é o Parlamentarismo, que será estudado mais adiante. Sendo o ponto de encontro das correntes políticas, e estando à margem das disputas, o monarca assegura a estabilidade das instituições. Se o monarca efetivamente governa, será extremamente perigoso ligar o destino do povo e do Estado à sorte de um indivíduo e de sua família. Mesmo com a educação especial que se ministra ao herdeiro da coroa, não têm sido raros os exemplos de monarcas desprovidos das qualidades de liderança e de eficiência que se exigem de um governante. Além disso tudo, o monarca é alguém que, desde o nascimento, recebe uma educação especial, preparando-se para governar. Na monarquia não há, portanto, o risco de governantes despreparados. A monarquia é essencialmente antidemocrática, uma vez que não assegura ao povo o direito de escolher seu governante. E como o monarca é hereditário, vitalício e irresponsável dispõe de todos os elementos para sobrepor sua vontade a todas as demais, desaparecendo, pois, a supremacia da vontade popular, que deve ser mantida permanentemente nos governos democráticos. TÓPICO 1 | FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO 171 Confira a lista de países que adotam a monarquia como forma de governo: Andorra, Arábia Saudita, Austrália, Bahrain, Bélgica, Brunei, Butão, Camboja, Canadá, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Jamaica, Japão, Jordânia, Lesoto, Liechtenstein, Luxemburgo, Malásia, Marrocos, Mônaco, Nepal, Noruega, Nova Zelândia, Omã, Países Baixos, Qatar, Reino Unido, Suazilândia, Suécia, Tailândia, Tonga e Vaticano. FONTE: Disponível em: <http://www.causaimperial.org.br/index.php/arquivos/1159>. Acesso em: 14 jan. 2014. 2.2 REPÚBLICA Na forma de governo república está contida a democracia. É importante compreender que nessa forma de governo o poder está nas mãos do povo, que o exerce sempre na busca pelo bem comum. É bem verdade que esse poder está nas mãos do povo de forma indireta, uma vez que este escolhe seus representantes em eleições e esperam que os eleitos os representem de forma satisfatória. Conforme Dallari (2011, p. 226, grifo do autor): “A república, que é a forma de governo que se opõe à monarquia, tem um sentido muito próximo do significado de democracia, uma vez que indica a possibilidade de participação do povo no governo.” A república resultou das lutas contra a monarquia absoluta e pela afirmação da soberania popular. Essas lutas iniciaram no século XVIII, onde vários teóricos buscavam a extinção da monarquia. Paralelo às críticas à monarquia aumentava a reivindicação do povo por maior participação no governo, surgindo a república, cujos benefícios eram: a limitação do poder dos governantes e a atribuição de responsabilidade política. Dentre as vantagens da república estavam: a possibilidade de substituir os governantes periodicamente e a aproximação do povo com o governo. (DALLARI, 2011). São características fundamentais da república: temporariedade, eletividade e responsabilidade. Se você lembrar as características fundamentais da monarquia verá que são exatamente opostas. De acordo com Dallari (2011, p. 227, grifo do autor): Temporariedade. O Chefe do Governo recebe um mandato, com o prazo de duração predeterminado. E, para evitar que as eleições reiteradas do mesmo indivíduo criasse um paralelo com a monarquia, estabeleceu-se a proibição de reeleições sucessivas. IMPORTANT E http://www.causaimperial.org.br/index.php/arquivos/1159 UNIDADE 3 | MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO 172 Eletividade. Na república o Chefe do Governo é eleito pelo povo, não se admitindo a sucessão hereditária ou por qualquer forma que impeça o povo de participar da escolha. Responsabilidade. O Chefe do Governo é politicamente responsável, o que quer dizer que ele deve prestar contas desua orientação política, ou ao povo diretamente ou a um órgão de representação popular. Observe que a forma de governo utilizada no nosso país é a república, proclamada em 15 de novembro de 1889. Nossos governantes são eleitos para um mandato com prazo determinado e possuem responsabilidade sobre seus atos, devendo prestar contas de tudo que fazem. Na república a maior autoridade do país é o presidente, eleito pelo povo, no caso do Brasil, para um mandato de 4 anos, podendo ser reeleito apenas uma vez, isso quer dizer que um presidente poderá ocupar o cargo por no máximo 8 anos consecutivos. São muitos os países que utilizam a república como forma de governo, entre eles: Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Argentina, África do Sul, Chile, Uruguai, Equador, Itália, Israel, Líbano, Peru e Polônia. Estando a democracia contida na república, faz-se necessário, aqui, conhecermos um pouco mais sobre ela. Conforme Gomes (2014, grifo da autora) democracia: “É o governo do povo, para o povo, pelo povo”. “Governo do povo” quer dizer governo com um sentido popular; “para o povo” significa que o objetivo é o bem do povo; “pelo povo” quer dizer realizado pelo próprio povo. Na democracia é o povo quem toma as decisões políticas importantes (direta ou indiretamente por meio de representantes eleitos). A ideia da democracia surgiu na Grécia. Lá, o governo era realmente exercido pelo povo, que se reunia nas ruas para tratar dos assuntos relativos à comunidade, esse tipo de democracia é denominado democracia direta. Com o tempo a população foi aumentando, não sendo mais possível reunir todos e tomar as decisões, por isso, a democracia evoluiu de direta para representativa, onde o povo se reunia e escolhia através do voto seus representantes. IMPORTANT E TÓPICO 1 | FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO 173 As características da democracia podem variar de país para país. Segundo Gomes (2014): “Não é possível contabilizar quantas democracias existem no mundo, mas estima-se que existam mais de 120.” A autora cita também algumas características de uma democracia: “[...] liberdade individual, igualdade perante a lei sem distinção de sexo, raça ou credo, direito ao voto, educação e direito ao livre exercício de qualquer trabalho ou profissão.” Vivemos numa democracia representativa, onde escolhemos nossos representantes de tempos em tempos através do voto, além disso, das características da democracia apontadas por Gomes, podemos dizer que todas estão presentes na nossa. 3 FORMAS IMPURAS DE GOVERNO QUADRO 9 – FORMAS PURAS E IMPURAS DE GOVERNO Forma Pura Passa a ser impura A monarquia Tirania, governo de um só que vota o desprezo da ordem jurídica. A aristocracia Oligarquia, plutocracia ou despotismo, como governo do dinheiro, da riqueza desonesta, dos interesses econômicos antissociais. A democracia Demagogia, governo das multidões rudes, ignaras e despóticas. FONTE: Adaptado de: Bonavides (2010, p. 209) “Chama-se tirania o governo conduzido por um tirano, onde determinada população é oprimida e tem seu livre arbítrio retirado, transformando-se em peças em um jogo de poder.” (SANTIAGO, 2014). Um governo tirânico não se importa em oprimir a população, além disso, utilizará de violência para atingir seus objetivos e manter-se no poder. UNIDADE 3 | MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO 174 De acordo com Santiago (2014): Uma forma comum de implantação do modelo tirânico de governo começa com o controle e distribuição de falsas informações, por exemplo, com a instituição de ministérios da propaganda chamados de “informação pública” ou “marketing”. Outra manobra comum é a da fraude eleitoral, usada para impedir a eleição de reformadores. O tirano irá se utilizar ainda da usurpação de poderes, controle das forças armadas, militarização da aplicação da lei, com medidas aparentemente fortes, como a declaração de uma “guerra contra o crime”, por exemplo, que acaba por gerar uma guerra contra as liberdades civis. Outras formas básicas da tirania é a instituição da prática de espionagem e vigilância interna, supressão de pesquisadores e denunciantes, além da criação de uma classe de funcionários acima da lei. Não faltam exemplos de tiranos pelo mundo, dentre eles, podemos citar Hugo Chavez, ex-presidente da Venezuela, falecido no ano de 2013. Agora vamos estudar um pouco sobre a oligarquia. Oligarquia é um governo de poucas pessoas que exercem o poder em benefício próprio. De acordo com Pacievitch (2014): A palavra oligarquia tem origem grega, e significa literalmente, governo de poucos. [...] O próprio Platão cita em uma de suas obras, os governos oligárquicos da Grécia Antiga, como o dos Trinta Tiranos. Com o aumento do comércio internacional e o crescimento e concentração de riquezas nas mãos de poucos, surgem mais oligarquias, como por exemplo, a oligarquia da família Médice, em Florença, que atingiu seu apogeu entre os séculos XV e XVII. A oligarquia faz parte da história de vários países, inclusive do Brasil. Você já ouviu falar na época chamada política café-com-leite? Pois foi nessa época que a oligarquia prevaleceu no Brasil, entre os anos de 1889 e 1930. Segundo Pacievitch (2014): Nesse período, os “coronéis” de São Paulo e Minas Gerais faziam um revezamento no comando do Brasil, estabelecendo, dessa forma, uma oligarquia. Esses “coronéis” eram os grandes cafeicultores de São Paulo e os grandes pecuaristas, produtores de leite, em Minas Gerais. O PRP (Partido Republicano Paulista) e o PRM (Partido Republicano Mineiro) controlavam as eleições, e alternadamente elegiam o presidente da República, civis ligados ao setor agrário. As políticas nesse período favoreciam o setor agrícola, sobretudo o café (os fazendeiros paulistas) e o leite (os produtores mineiros), daí o nome “política café-com-leite”. http://www.infoescola.com/direito/liberdades-civis/ http://www.infoescola.com/politica/oligarquia/ http://www.infoescola.com/politica/oligarquia/ TÓPICO 1 | FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO 175 Infelizmente, enquanto esses dois estados foram privilegiados com esse sistema, outras regiões do país acabaram sendo prejudicadas, agravando ainda mais seus problemas sociais. A plutocracia, por sua vez, pode ser considerada uma forma de oligarquia. Plutocracia, palavra de origem grega, significa governo da riqueza, sendo um sistema político onde o poder está concentrado nas mãos daqueles que detém as fontes de riqueza da sociedade. A plutocracia acontece quando os representantes políticos atendem interesses apenas daqueles que os apoiaram financeiramente no processo eleitoral, deixando de representar os interesses de toda a população. (GASPARETTO JUNIOR, 2014). Esse financiamento em troca de favores após a eleição é irregular, é crime, mas infelizmente, ainda estamos longe de conseguir fazer com que essa prática seja extinta, muitos candidatos são eleitos devido a esses financiamentos e quando assumem o cargo trabalham de acordo com as vontades de quem financiou sua campanha. No Brasil, um caso de financiamento irregular de partidos políticos aconteceu durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ficou conhecido como Caixa Dois. Esta foi uma das práticas inseridas no processo de maior amplitude conhecido como Mensalão, que ficou conhecido como um dos casos de corrupção mais graves e emblemáticos da história do país. FONTE: GASPARETTO JUNIOR, Antonio. Disponível em: <http://www.infoescola.com/ formas-de-governo/plutocracia/>. Acesso em: 25 fev. 2014. Vimos anteriormente o conceito de despotismo, agora vamos ver como essa forma funciona na prática. No despotismo o governo é concentrado nas mãos de apenas uma pessoa, onde essa pessoa faz o que quer e como quer. Segundo Gasparetto Junior (2014): O Despotismo constitui uma das formas mais autoritárias de se governar um Estado ou uma nação. É uma categoria de governo que se assemelha à ditadura ou à tirania, mas o governante não precisase esforçar para sobrepor-se ao povo, pois o povo é vetado para se expressar, não sabe o que fazer e, principalmente, é tratado como escravo. Assim, há o governo sem leis e regras de um único indivíduo no despotismo, no qual tudo depende de suas vontades. NOTA http://www.infoescola.com/politica/mensalao/ http://www.infoescola.com/formas-de-governo/plutocracia/ http://www.infoescola.com/formas-de-governo/plutocracia/ UNIDADE 3 | MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO 176 Essa forma de governo é muito antiga. Você consegue lembrar nomes de governantes déspotas? De acordo com Gasparetto Junior (2014), o despotismo na sua forma tradicional foi praticado por: Napoleão, Mussolini, Hitler, Stalin, Perón, Fidel Castro, Pinochet e Sadam Hussein. O Brasil teve dois governos despóticos: o do Marechal Floriano Peixoto e do ditador Getúlio Vargas. Observe como essa forma de governo é injusta para com o povo, afinal, quem governa está administrando o dinheiro do povo, logo, este tem o direito de dar sua opinião e de ter suas necessidades básicas supridas (leia-se aqui: saúde, educação e segurança) não podendo ficar refém das vontades de apenas uma pessoa. E para terminar a etapa de estudos sobre as formas impuras de governo, vamos ao estudo da demagogia. Conforme Gasparetto Junior (2014), a palavra demagogia, de origem grega, significa a arte de conduzir o povo. E, inicialmente, representava o indivíduo que tinha a capacidade de conduzir o povo. Aos poucos a palavra demagogia passou a ser usada para descrever políticos que prometem, mas não cumprem com sua palavra. Ora, se demagogia é prometer e não cumprir, no Brasil, muitos de nossos políticos são demagogos! O demagogo utiliza-se das emoções da população para atingir fins políticos que não beneficiam a população, mas ainda assim, eles fazem com que o povo acredite que tudo está perfeito. Nesse sentido, Gasparetto Junior (2014) afirma: Atualmente, no Brasil, a imagem cultural construída em torno do homem político na sociedade gira muito em torno da Demagogia. A descrença do brasileiro com a política é muito grande e é comum de se encontrar declarações que condenem todos os políticos, sem exceção. Quando se ouve dizer que os políticos buscam por apoio do eleitorado e prometem grandes medidas ou fazem grandes propostas para aumentar a popularidade, mas, na prática, agem apenas em benefício próprio, isso é uma acusação típica de Demagogia. Na sua cidade existe algum demagogo? Acreditamos que você já pensou em alguns que conhece logo que começou a estudar sobre o que significa a demagogia. O fato é que a grande maioria das pessoas gosta de ter poder, e para conseguir isso, não mede consequências. É preciso que nós, eleitores, fiquemos bem atentos para evitar que esse tipo de político chegue ao poder, precisamos lutar contra as formas impuras de governo, só assim, as boas formas prevalecerão e beneficiarão a coletividade. NOTA TÓPICO 1 | FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO 177 4 SISTEMA DE GOVERNO: PARLAMENTARISMO No início deste tópico você viu que o sistema de governo é a maneira como se relacionam os poderes Legislativo e Executivo no exercício das funções governamentais, e que existem dois sistemas: o parlamentarismo e o presidencialismo. Vale acrescentar que no parlamentarismo existe maior colaboração entre os poderes, enquanto no presidencialismo existe maior independência. Antes de explicar como funciona o parlamentarismo na prática é preciso que se faça um resumo de como surgiu esse sistema de governo. De acordo com Dallari (2011, p. 229, grifo do autor): O parlamentarismo foi produto de uma longa evolução histórica, não tendo sido previsto por qualquer teórico, nem se tendo constituído em objeto de um movimento político determinado. Suas características foram se definindo paulatinamente, durante muitos séculos, até que se chegasse, no final do século XIX, à forma precisa e bem sistematizada que a doutrina batizou de parlamentarismo [...]. O berço desse sistema de governo é a Inglaterra, talvez se deva isso ao fato desse país ainda utilizar o sistema. Para sua melhor compreensão vamos elaborar aqui um quadro com os anos e principais acontecimentos que resultaram no parlamentarismo. QUADRO 10 - ANOS E PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS QUE RESULTARAM NO PARLAMENTARISMO Ano Acontecimentos 1265 Simon de Montfort, nobre francês, neto de inglesa e grande amigo de barões e eclesiásticos ingleses, chefiou uma revolta contra o rei da Inglaterra, Henrique III, realizando uma reunião que muitos apontam como a criação do parlamento. Simon deu à reunião caráter de assembleia política, reunindo pessoas de igual condição política, econômica e social. Nesse mesmo ano Simon morreu em combate, mas os cavaleiros (nobres que não eram pares do reino), cidadãos e burgueses continuaram se reunindo. 1295 O Rei Eduardo I oficializou essas reuniões, consolidando a criação do Parlamento. 1332 Começa a se definir a criação de duas Casas do Parlamento. Os barões, que eram pares do reino, continuavam a realizar suas assembleias, às quais o clero não mais comparecia. E os cavaleiros, cidadãos e burgueses, designados commoners, formaram sua própria assembleia, que seria a Câmara dos Comuns. UNIDADE 3 | MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRISES/REFORMAS DO ESTADO 178 1 6 8 8 - 1689 A Revolução Inglesa resultou na expulsão do rei Católico Jaime II, este foi substituído por Guilherme de Orange e Maria, ambos protestantes. A partir de 1688 o Parlamento se impõe como a maior força política, chegando ao ponto de alterar a linha de sucessão com a exclusão do ramo católico dos Stuarts, isso teria sérias consequências futuramente. Durante o reinado de Guilherme e Maria e também de sua sucessora Ana, tornou-se hábito a convocação pelo soberano de um Conselho de Gabinete, o conselho era formado por um corpo restrito de conselheiros privados, consultados regularmente sobre assuntos de relações exteriores. 1714 Rainha Ana falece no mês de agosto, subindo ao trono o príncipe alemão Jorge, com o título de Jorge I. Nem ele e tampouco seu sucessor Jorge II conheciam os problemas políticos ingleses e também não revelavam interesse em tê-lo. Nenhum dos dois falava inglês e ao se dirigirem ao Parlamento falavam em latim. A consequência disso foi que o Gabinete continuou a se reunir e a tomar decisões sem a presença do rei. Dentre os ministros do Gabinete, um deles foi se destacando, liderando o Gabinete e expondo e defendendo suas decisões perante o Parlamento, esse ministro era Roberto Walpole, que ironicamente foi chamado de Primeiro-Ministro, pois se destacava dos demais e controlava o rei. A atuação de Walpole foi decisiva para a redução da participação e da autoridade do monarca nas decisões políticas, delineando um dos pontos básicos desse sistema de governo: a distinção entre o Chefe de Governo (Primeiro-Ministro) e o Chefe de Estado (monarca). 1757 John Wilkes, agitador político influente junto às classes mais pobres, foi eleito para a Câmara dos Comuns. Logo que assumiu, Wilkes adotou atitude de hostilidade em relação ao monarca. Isso fez com que fosse acusado de sedição na Câmara dos Lordes resultando na sua expulsão da Câmara dos comuns após a condenação na Câmara dos Lordes. 1770 Na tentativa de reagir contra a submissão da coroa ao Parlamento, o Rei Jorge III escolheu para Primeiro-Ministro Lord North, chamando para si a responsabilidade pela fixação da política do Estado. 1774 John Wilkes foi reeleito para a Câmara dos Comuns, essa reeleição gerou polêmicas sobre a validade da eleição, mas para afirmar sua independência e autoridade, a Câmara dos Comuns o acolheu e ainda o designou Lord Mayor de Londres, ou seja, prefeito. Dois anos depois, as colônias norte-americanas conquistaram sua independência (apoiada por Wilkes) fornecendo pretextos para ataques ao rei e seus conselheiros políticos, acusados de incapacidade para fixar a política do Estado. 1782 O