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RESENHA CRÍTICA DO FILME MIRACLE IN CELL NO. 7

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Disciplina: Teoria do Delito e Princípios Constitucionais Penais
RESENHA CRÍTICA DO FILME: “MIRACLE IN CELL NO. 7”
O filme turco “Milagre na Cela 7”, disponível na Netflix, é um drama muito emocionante.
Logo no início é mostrada a relação de Memo, Ova e Fatma, assim como, a situação social e
econômica em que viviam. Memo tinha deficiência intelectual e juntamente com sua avó
Fatma, criava sua filha Ova. A vida de ambos muda quando Memo está no lugar em que
ocorre o acidente que resulta na morte de Seda, filha de um tenente-coronel importante do
corpo militar turco. Mesmo não sendo o culpado de tal fatalidade, por estar no momento e no
local em que ocorre o acidente, Memo é tido como o culpado e preso “em flagrante”. A partir
de então, ele começa a receber um tratamento deplorável, por parte dos guardas e militares
que estavam conduzindo-o, sendo transferido para a Instituição Penitenciária Restrita. Não
podendo receber visitas de seus familiares, como extensão de sua pena, ou a possibilidade de
uma defesa. Podendo apenas esperar sua sentença. Para que Memo pudesse ver a sua filha,
seus colegas de cela, precisaram tramar um plano muito arriscado para todos, mesmo sendo
direito dos presos verem seus parentes.
Ao longo do filme são abordadas várias situações no ramo do Direito, especialmente em
relação ao Direito Penal. Podemos associar diversas cenas com os Princípios Constitucionais
Penais: Devido Processo Legal, Ampla Defesa, Contraditório, Dignidade da Pessoa Humana.
Traz também, numerosas questões pertinentes aos Direitos Humanos e das garantias
individuais, ou melhor, da falta delas.
Os direitos e garantias individuais dos cidadãos devem ser garantidos de forma ampla e
irrestrita. E no filme ocorre justamente o oposto. Desde sua prisão, Memo foi torturado e
severamente espancado, quase sendo morto em seu primeiro dia. Não houve preservação do
direito fundamental à integridade física e moral do preso, que no direito brasileiro, está
contemplado no art. 5.º, inc. LXIX, da Constituição Federal, que consiste na impossibilidade
de agressão ou ofensa, ainda que mínima, no corpo ou no espírito. Houve também, o
desrespeito ao direito de presunção da inocência (in dubio pro reo). Faltavam, em suma,
qualquer garantia de ampla defesa e contraditório.
Na primeira cena do filme, que data 14 de julho de 2004, a Grande Assembleia Nacional
turca, tomou a decisão de abolir a pena de morte no país, tema bastante debatido da pena
capital. A tão recriminada pena capital é considerada uma pena dura e cruel. E esta, vigorou
até 1984. O filme ocorre em 1983, ou seja, quando ainda era possível tamanha barbaridade. A
União Européia estava pressionado para que a pena de morte fosse abolida, sendo datada a
última pena ocorrida. Essa cena toma um sentido maior no desfecho do filme, assim como, a
caixinha que a jovem estava segurando com tanta emoção.
O filme nos traz um misto de sensações: preocupação, tristeza, indignação, emoção e
choramos a cada injustiça que Memo passava, em virtude da ausência de imparcialidade dos
julgadores. Ele não tinha NENHUMA garantia legal. Quem mais sofria com tudo isso não era
ele, e sim, sua filha Ova. Para não causar “problemas” diziam que Memo era burro.
Era evidente que ele não tinha capacidade para saber o que estava ocorrendo, até fizeram-o
assinar uma confissão, dizendo que havia afogado a menina no lago, tendo inclusive,
“testemunhas”. E foi condenado a morte de acordo com os parágrafos 3º e 4º do artigo 450 do
Código Penal turco.
No Direito Penal, aquele que não possui plena capacidade mental, atestada em perícia
médica, deve ter tratamento obrigatório e não seguir o mesmo rumo dos condenados
“normais”.
No princípio do Devido Processo Legal consta a não exclusão da pessoa ao seu direito à
liberdade e apreensão de seus bens sem a realização do processo legal. Podemos caracterizar
o processo legal com o direito à citação e ao conhecimento da acusação; direito a um juiz
imparcial; ao arrolamento de testemunhas e à elaboração de perguntas; direito ao
contraditório (contrariar provas, inclusive); direito à defesa técnica; à igualdade entre
acusação e defesa; direito de não ser acusado ou processado com base em provas ilícitas;
privilégio contra a autoincriminação. Na jurisprudência cível, o Devido Processo Legal
encontra-se: na igualdade das partes; na garantia do jus actionis; no respeito ao direito de
defesa; e no contraditório.
A síntese deste princípio é a plena garantia de defesa da forma mais abrangente possível a
qualquer pessoa (direito de todos cidadãos). Contudo, durante todo o filme, o princípio é
extremamente ferido e ignorado. A começar pelo fato do personagem principal ser portador
de necessidades especiais, sendo considerado deste modo, incapaz, e durante todo o filme ele
comprova ser portador de deficiência em suas atitudes, a exemplo da carta que fez para sua
filha Ova, descrevendo sua estadia na prisão.
No filme, o princípio foi ofendido também, quando foi declarada a prisão de Memo,
baseado somente em uma mera coincidência, já que ele estava no local onde a criança teria se
acidentado, tendo-se por certo e comprovado que Memo era o culpado. Um completo abuso
de poder vindo do tenente-coronel, pois ordenou a prisão e consequentemente a sentença
condenatória de morte por um crime não cometido (ele queria apenas um culpado para sua
dor). Não sendo garantido o princípio do Devido Processo Legal, ou seja, o acesso a defesa e
a oportunidade de comprovar sua incapacidade e inocência.
Ademais, temos o princípio da dignidade da pessoa humana que é amplo e mais do que
necessário para todos. Firmado no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal, é a forma do
Estado estabelecer normas fundamentais para preservar o cidadão de qualquer ato de cunho
degradante e desumano. Por várias vezes pode ser identificada a aplicação do princípio na
Constituição Federal, como por exemplo: no artigo 5º, incisos III (não submissão a tortura),
VI (inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença), VIII (não privação de direitos
por motivo de crença ou convicção), X (inviolabilidade da vida privada, honra e imagem),
XII (inviolabilidade do sigilo de correspondência), XLVII (vedação de penas indignas), XLIX
(proteção da integridade do preso).
Durante todo filme o princípio acima, foi ignorado inúmeras vezes, das quais podemos
citar o tratamento extremamente cruel recebido pelo personagem principal, pois tem uma
deficiência cognitiva, e por várias vezes foi ridicularizado, excluído e humilhado pela sua
necessidade especial, sendo que deveria receber tratamento igual a qualquer outra pessoa por
ser tão digno quanto os outros. Um outro exemplo de transgressão ao princípio é a pena
extremamente indigna proferida ao personagem por um crime que, evidentemente, ele não
cometeu. Além do desrespeito a dignidade da pessoa humana quando se trata de sua
integridade, no caso específico, da integridade física, pois, logo quando ele chega na
penitenciária é julgado pelos demais presos pelo crime “cometido” e é espancado pelos
demais detentos.
Mesmo quando ele foi espancado pelos seus colegas de cela, que por pouco não resultou
em tragédia, Memo não guardou rancor e logo seus colegas perceberam que ele não tinha
capacidade intelectual para perceber o que estava passando. Utilizavam a expressão “ele tem
o cérebro do tamanho de uma ervilha”. O que mostrou compaixão e senso de justiça.
Na atualidade, é comum definir milagre como a ocorrência de um fato considerado
impossível. E o filme trouxe esta mensagem, o milagre veio de onde menos se esperava. O
título representa o seu desfecho, uma ligação da primeira e última cena. Toda injustiça
vivenciada por ele, acabaram operando um grandioso milagre, O milagre da cela 7.

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