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Literatura Infantil

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Prévia do material em texto

LITERATURA INFANTIL
TAINÁ THIES
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6651-3
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 5 1 3
Código Logístico
59464
Esta obra intenciona esmiuçar a literatura infantil por 
diversos ângulos, se não todos os possíveis, ao menos 
aqueles mais relevantes para entender e trabalhar com 
esse gênero. O estudo sobre a literatura infantil se esta-
belece em uma fronteira entre a Teoria da Literatura e a da 
Pedagogia, uma vez que obras voltadas para as crianças 
são instrumento de trabalho para o campo educacional.
Porém, mais do que auxiliar em um projeto pedagógi-
co, a literatura infantil possui outras tantas funções pecu-
liares e importantes para o desenvolvimento das crianças 
enquanto sujeitos. Assim, a literatura infantil ainda se en-
caixa nos estudos da Psicologia do Desenvolvimento, que 
tenta identificar como se relacionam os elementos literá-
rios com a formação do indivíduo.
Levando em consideração que a leitura é motivadora 
de cidadania e que a literatura é capaz de transformar va-
lores e visões de mundo, esta obra é um ponto de partida 
para expandir a visão sobre o trabalho da literatura infantil 
em sala de aula e em outros espaços, transformando essa 
prática pedagógica em atividade reflexiva.
 Literatura Infantil
Tainá Thies
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
T369L
Thies, Tainá
 Literatura infantil / Tainá Thies. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 
182 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6651-3
1. Literatura infantojuvenil. 2. Literatura infantojuvenil - História. I. 
Título.
20-64170 CDD: 028.5
CDU: 087.5
Tainá Thies Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade 
de Brasília (UnB), especialista em Linguística pela 
Universidade Gama Filho (UGF), graduada em Letras 
Português pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
e graduanda em Psicologia pela Universidade Tuiuti do 
Paraná (UTP). Professora do ensino superior, atuou, 
também, como consultora educacional e coordenadora 
de projetos em educação. Atua na formação de 
professores para o ramo editorial, como professora em 
cursos de pós-graduação e como autora de materiais 
didáticos para o ensino básico e superior, além de 
produzir contos e histórias infantis.
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
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a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
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1 Processo histórico da literatura infantil 9
1.1 Origens da literatura infantil 10
1.2 Literatura infantil do Brasil 16
1.3 Tendências atuais: do impresso ao digital 30
2 Literatura e leitor infantil 36
2.1 O papel da literatura na formação do leitor 37
2.2 Pequenos leitores 45
2.3 A linguagem na literatura infantil 54
3 Estrutura do livro infantil 64
3.1 O projeto editorial do livro infantil 64
3.2 A história contada pela ilustração 75
3.3 Gêneros textuais na literatura infantil 84
4 Temas da Literatura Infantil 94
4.1 Fantasia x realidade 94
4.2 Aventuras e heróis reais e imaginários 99
4.3 A literatura infantil e o desenvolvimento emocional da 
 criança 104
5 Literatura infantil no currículo 112
5.1 Literatura infantil na legislação educacional brasileira 112
5.2 BNCC e literatura infantil 119
5.3 Literatura infantil no livro didático 132
6 Trabalho pedagógico com literatura infantil 141
6.1 Papel do professor 141
6.2 Contação de história 149
6.3 Formando o leitor crítico 155
7 Literariedade e análise de obras infantis 162
7.1 Literariedade na literatura infantil 162
7.2 Análise de obras para educação infantil 172
7.3 Análise de obras para os anos iniciais do ensino fundamental 176
Esta obra intenciona esmiuçar a literatura infantil por diversos ângulos, 
se não todos os possíveis, ao menos aqueles mais relevantes para entender e 
trabalhar com esse gênero. O estudo sobre a literatura infantil se estabelece em 
uma fronteira entre a Teoria da Literatura e a da Pedagogia, uma vez que obras 
voltadas para as crianças são instrumento de trabalho para o campo educacional.
Porém, mais do que auxiliar em um projeto pedagógico, a literatura infantil 
possui outras tantas funções peculiares e importantes para o desenvolvimento 
das crianças enquanto sujeitos. Assim, a literatura infantil ainda se encaixa 
nos estudos da Psicologia do Desenvolvimento, que tenta identificar como se 
relacionam os elementos literários com a formação do indivíduo.
Para realizarmos esse objetivo, portanto, trabalharemos no capítulo inicial 
com uma reconstrução das origens da literatura infantil, buscando identificar 
as ligações de seu surgimento com reflexões sobre o contexto em que surge. 
Também passaremos pelo histórico do gênero no Brasil, apresentando os 
principais autores e identificando possibilidades de leitura em diferentes suportes.
No segundo capítulo, buscamos nos aprofundar no leitor da literatura 
infantil, a criança. Tentaremos traçar um curso para encontrar respostas sobre 
a influência desse gênero sobre a formação do sujeito e do leitor literário. Para 
isso, é necessário identificar quem é esse leitor e como a linguagem influencia 
seu processo de formação.
Uma vez que identificamos um panorama histórico e algumas 
especificidades sobre o leitor, devemos partir para o suporte em si, o livro 
de literatura infantil. Assim, o terceiro capítulo trabalhará a forma do livro, o 
projeto editorial dos gêneros mais empregados nas obras de literatura infantil. 
E para apreendermos a forma desse livro em sua totalidade, votaremos nossa 
análise para a compreensão de como se estabelece a relação entre as imagens 
e o texto em livros de literatura infantil.
Seguindo em frente, discutiremos então o conteúdo dos livros infantis 
no quarto capítulo. Discorreremos sobre a fantasia e a criação de mundos 
maravilhosos, bem como a necessidade do equilíbrio entre fantasia e 
realidade, identificando uma estrutura básica que percorre todas as narrativas 
de heróis. Além disso, buscaremos compreender como a literatura infantil e 
seus cenários conseguem influenciar o desenvolvimento emocional do sujeito.
APRESENTAÇÃO
No quinto capítulo iniciaremos a nossa jornada para o reconhecimento da 
literatura infantil no espaço escolar e, mais notadamente, nos documentos 
que norteiam a educação básica brasileira. Logo, discutiremos a relevância de 
obras literárias na legislação educacional brasileira, como os PCNs, as DCNs e 
a BNCC. Também veremos como estão inseridas obras literárias infantis nos 
livros didáticos, instrumentos tão utilizados nas escolas brasileiras.
Após vermos o lugar da literatura na educação, vamos analisar o papel do 
professor na disseminação e motivação da leitura de livros literários infantis na 
escola. O sexto capítulo, então, lançará luz sobre práticas possíveis de serem 
desenvolvidas em sala de aula, bem como a necessidade de uma formaçãopara a leitura crítica.
No sétimo e último capítulo nos debruçamos sobre práticas em sala de aula 
de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, trazendo roteiros 
que visam trabalhar a apreciação literária e a formação do leitor crítico, além 
de verificarmos possíveis categorias de análise a serem levantadas no estudo 
da literatura infantil.
Levando em consideração que a leitura é motivadora de cidadania e que a 
literatura é capaz de transformar valores e visões de mundo, acreditamos que 
esta obra seja um ponto de partida para expandir a visão sobre o trabalho da 
literatura infantil em sala de aula e em outros espaços, transformando essa 
prática pedagógica em atividade reflexiva.
Processo histórico da literatura infantil 9
1
Processo histórico da 
literatura infantil
Pedrinho, na varanda, lia um jornal. De repente parou e disse à Emília, 
que andava rondando por ali:
— Vá perguntar à vovó o que quer dizer folk-lore.
— Vá? Dobre a sua língua. Eu só faço coisas quando me pedem por 
favor.
Pedrinho, que estava com preguiça de levantar-se, cedeu à exigência 
da ex-boneca.
— Emilinha do coração — disse ele —, faça-me o maravilhoso favor de 
ir perguntar à vovó que coisa significa a palavra folk-lore, sim, teteia?
Emília foi e voltou com a resposta.
— Dona Benta disse que folk quer dizer gente, povo; e lore quer dizer 
sabedoria, ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, 
de um contar para o outro, de pais a filhos – os contos, as histórias, as 
anedotas, as superstições, as bobagens, a sabedoria popular etc. e tal.
Monteiro Lobato, em Histórias de Tia Nastácia
Antes de pensarmos a literatura infantil enquanto forma de es-
crita para um público específico, vamos nos lembrar das histórias 
que conhecemos quando crianças. Você se lembra dessas histó-
rias? Como teve contato com elas? Alguém leu para você? Teve 
acesso a esses livros?
Na maior parte das vezes, as histórias que marcaram nossa 
infância nos foram passadas por outra pessoa, normalmente um 
adulto, seja em casa, seja na escola.
E o mais interessante é que se pensarmos, hoje, em histórias 
para contar para as crianças, verificaremos que elas são as mesmas 
ao longo de várias gerações e em diversos países. Mas qual a sua 
origem? Como tantos povos as contam ao longo de tanto tempo?
Vamos descobrir a resposta para essas perguntas neste 
capítulo!
10 Literatura Infantil
1.1 Origens da literatura infantil 
Vídeo A história da literatura infantil se confunde com a história da lite-
ratura, e elas começam com a humanidade e o desenvolvimento da 
linguagem. Pode até parecer esquisito pensar que sociedades primi-
tivas possuíam literatura, mas esse pensamento só se torna inusitado 
se acreditarmos que literatura é apenas aquela que está escrita, com 
ilustrações bem feitas e em papel brilhante.
Mas se entendermos que literatura não é uma prática ligada somen-
te à escrita, fica mais compreensível sua relação com o desenvolvimen-
to da humanidade e da cultura.
Todos os fenômenos precisavam de explicação com o advento da 
linguagem humana e das línguas. O trovão, a chuva, o nascimento, 
a morte etc. Tudo estava ali para ser descoberto e simbolizado pela 
linguagem.
Entretanto, como explicar tudo se ainda não havia um único ser 
que soubesse como as coisas aconteciam? Como dizer às crianças 
que não deveriam correr sozinhas, pois se fizessem isso seriam de-
voradas por grandes animais? Ou como impor os novos valores so-
ciais e culturais, como o casamento? Pois bem, nasce aí o folclore e 
suas histórias.
Em inglês, o termo folklore significa “tradição do povo”. Assim, o di-
cionário Michaelis (2015) define a palavra folclore como:
fol·clo·re
sm
1 Costumes tradicionais, crenças, superstições, cantos, fes-
tas, indumentárias, lendas, artes etc., conservados no seio de 
um povo; cultura popular, populário: “Heitor Villa-Lobos foi 
o maior compositor erudito do Brasil, apesar da inegável in-
fluência do folclore popular brasileiro em suas composições” 
(TM1).
2 Parte da antropologia cultural que estuda esses elementos.
3 FIG Sequência de acontecimentos reais ou imaginários. [...]
4 FIG Algo meramente criado pela imaginação; fantasia: Essa 
história não passa de folclore.
Temos quase certeza de que 
você aprendeu na escola que, 
para se referir à literatura, usa-se 
a palavra estória, em oposição à 
história, que designa a disciplina 
que estuda os acontecimentos 
no tempo. Certo? Em todo caso, 
estória é um daqueles termos 
arcaicos que as pessoas ainda 
usam, mesmo anos depois de 
cair em desuso. Essa palavra foi 
retirada de nossa norma culta 
em 1943, com uma deliberação 
da Academia Brasileira de Letras, 
e, mesmo assim, continuou 
sendo usada na educação até 
pelo menos os anos 1990!
Saiba mais
Tente lembrar com detalhes de 
uma história que você ouviu ou 
leu quando criança e, se possível, 
anote-a. Depois, procure essa 
história para ver se sua versão 
bate com a que circula hoje 
em dia.
Desafio
Processo histórico da literatura infantil 11
Logo, o folclore é a própria cultura feita pelo povo para explicar o mundo 
a sua volta e dar cores à vida. Fazem parte do folclore as lendas, as fábulas, 
os contos, os poemas, as quadrinhas, as canções e outros gêneros textuais 
que versam sobre os comportamentos e os valores de uma sociedade.
Narrativas de heróis da Antiguidade já davam o tom para uma litera-
tura que traria aspectos de fantasia, mas são as fábulas e os contos popu-
lares que acompanharão a história da literatura infantil desde seu início. 
Os pioneiros nesses gêneros foram Esopo, Fedro, La Fontaine e Perrault.
Esopo foi um escravo que viveu na Grécia Antiga e contava histórias 
com animais personificados, isto é, animais que se comportavam como 
humanos. Suas histórias, ou fábulas, traziam uma moralidade popular, 
como em A cigarra e a formiga e A tartaruga e a lebre, bem conhecidas 
nossas e que vêm sempre acompanhadas de uma moral sobre vícios 
ou virtudes do povo.
Séculos depois, Fedro, um ex-escravo de Roma, aprimorou as fá-
bulas de Esopo, inserindo-as na sociedade romana e disseminando tal 
gênero por todo o Império.
Então, já no século XVII, La Fontaine remodela a obra de Esopo, es-
crevendo novas fábulas e inserindo-as no contexto moderno, sempre 
seguindo o modelo de utilizar animais personificados para criticar com-
portamentos. Sua crítica se valia, sobretudo, de misérias e injustiças 
praticadas especialmente pela corte para expressar seu descontenta-
mento com a sociedade de sua época.
Ainda no século XVII, Charles Perrault escreveu Contos da Mamãe 
Gansa (no título original, Histórias ou narrativas do tempo passado com 
moralidades), abrindo caminho para uma literatura popular específica 
para crianças. Assim, como o próprio título original sugere, a obra traz 
contos populares com o objetivo de demonstrar comportamentos que 
seriam exemplares. Há uma curiosidade aqui que devemos levar em 
consideração: Charles Perrault não quis assinar a obra, para não per-
der seu prestígio, pois uma literatura que se voltasse para crianças era 
considerada de menor valor diante das outras artes e de outros gêne-
ros. Então, quando da sua escrita, Perrault coloca o nome do filho como 
autor, Pierre Darmancourt, e dedica seu livro à neta do rei da França, 
Luís XIV, fazendo com que a obra fosse aceita por “circular entre as 
crianças”. Outro ponto muito importante de sua obra é que com ela se 
Esopo
Perrault
La Fontaine
12 Literatura Infantil
inicia a utilização dos “contos de fadas” como forma literária infantil, 
sobre os quais discorreremos adiante nesta seção.
O folclore não era feito para crianças, mas para todos, e podemos 
perceber em contos que perpetuamos até hoje para nossos pequenos 
qual era o valor dado à criança.
Vejamos o exemplo do conto João e Maria:
Perto de uma grande floresta, vivia um pobre lenhador com sua 
mulher e dois filhos. O menininho chamava-se João e a meni-
na chamava-se Maria. Nunca havia muito o que comer na casadeles, e, durante um período de fome, o lenhador não conseguiu 
mais levar pão para casa. À noite ele ficava na cama aflito, re-
mexendo-se e revirando-se em seu desespero. Com um suspiro, 
disse para sua mulher: “O que vai ser de nós? Como podemos 
cuidar de nossos pobres filhinhos quando não há comida bas-
tante nem para nós dois?”
“Ouça-me”, sua mulher respondeu. “Amanhã, ao romper da au-
rora, vamos levar as crianças até a parte mais profunda da flo-
resta. Faremos uma fogueira para elas e daremos uma crosta de 
pão para cada uma. Depois vamos tratar dos nossos afazeres, 
deixando-as lá sozinhas. Nunca encontrarão o caminho de volta 
para casa e ficaremos livres delas.”
“Oh, não!” disse o marido. “Não posso fazer isso. Quem teria co-
ragem de deixar essas crianças sozinhas na mata quando ani-
mais selvagens vão com certeza encontrá-las e estraçalhá-las?”
“Seu bobo”, ela respondeu. “Nesse caso vamos os quatro morrer 
de fome. É melhor você começar a lixar as tábuas para os nossos 
caixões”. (TATAR, 2004, p. 52-53)
Essa versão do conto é o que podemos chamar de mais próxima 
do original, pois muitas outras versões suavizam a história, contando 
que João e Maria se perderam na floresta ao colher amoras. Assim, é 
possível identificar o pensamento da época nesse conto. Os mais im-
portantes eram os adultos completos, e não os adultos miniaturas, as 
crianças. Estas poderiam ser descartadas no caso de não haver mais 
comida, por exemplo. A sobrevivência falava mais alto, e o abandono 
dos mais frágeis era visto como algo comum.
Compreendemos a literatura infantil também como uma represen-
tação dessas transformações sociais. Aos poucos, os mesmos contos 
que são contados para todos vão sendo modificados para uma lingua-
gem que priorize a criança e seus comportamentos infantis.
Outro gênero bastante lido (e 
principalmente ouvido) por 
todo o povo eram as novelas 
de cavalaria, muito comuns 
por toda a Europa. Aliás, há 
uma delas em particular que 
todos conhecemos de alguma 
forma: as histórias sobre o Rei 
Arthur, Merlin e os Cavaleiros da 
Távola Redonda. Essas novelas 
exaltavam a elevação espiritual 
por meio de valores morais e 
mesclavam o contexto real de 
duelos e cruzadas com elemen-
tos maravilhosos. Você pode 
estar imaginando que nunca viu 
uma dessas novelas e, por isso, 
elas não são tão significativas 
para o nosso contexto. Porém, 
temos um gênero no Brasil que 
bebe diretamente dessa fonte: 
o cordel. Trata-se de uma poesia 
oral que junta elementos reais e 
maravilhosos em um contexto 
de devoção e muita bravura, 
assim como no dos cavaleiros!
Saiba mais
Sabendo que a literatura espe-
cífica para crianças só começa a 
se esboçar no século XVII com 
Charles Perrault, será que não 
existiam crianças antes disso? 
Sim, essa pergunta é absurda 
mesmo, mas se as crianças 
existiam, por que não havia uma 
literatura para elas?
Atividade 1
Processo histórico da literatura infantil 13
Assim, João e Maria passa a ser, hoje, uma história de cooperação, 
de triunfo por união e de retorno feliz à casa.
Dessa forma, a literatura infantil precisou primeiro passar pelo desen-
volvimento do próprio conceito de infância para então ser pensada com es-
tética, forma e conteúdo específicos. Algumas obras ou compilações são 
vistas atualmente como iniciadoras desse processo. O que elas têm em 
comum entre si é exatamente o uso de histórias capazes de moldar com-
portamentos das crianças dentro de um sistema de valores da sociedade 
em que estão inseridas. Coelho (2000, p. 41, grifos do original) nos diz que:
dentre os fatores que podem ser apontados como comuns às 
obras adultas que falaram (ou falam) às crianças, estão os da 
popularidade e da exemplaridade. Todas as que se haviam trans-
formado em clássicos da literatura infantil nasceram no meio 
popular (ou em meio culto e depois se popularizaram em adap-
tações). Portanto, antes de se perpetuarem como literatura in-
fantil, foram literatura popular. Em todas elas havia a intenção 
de passar determinados valores e padrões a serem respeitados 
pela comunidade ou incorporados pelo indivíduo em seu com-
portamento. Mostram as pesquisas que essa literatura inaugural 
nasceu no domínio do mito, da lenda, do maravilhoso.
Conforme Coelho (2000), a literatura popular, que dá origem à lite-
ratura infantil, nasce do domínio do “maravilhoso”, ou seja, aquilo que 
é gerado pela fantasia quando há presença do sobrenatural e de even-
tos misteriosos e sem explicação possível. O elemento maravilhoso é 
capaz de colocar em pauta uma coletividade narrativa, isto é, os fatos 
narrados não são individuais, mas, sim, comuns a diversos povos que 
compartilham mitos e lendas e, logo, valores e crenças.
É justamente por isso que, quando lemos contos de Perrault ou dos 
Irmãos Grimm, as histórias tendem a ser parecidas; até se perde a no-
ção de qual história é de quem.
Temos que lembrar também que essas histórias contadas por eles 
não foram, de fato, inventadas por eles. Charles Perrault e Jacob e 
Wilhelm Grimm compilaram os contos folclóricos comuns na região em 
que viviam e que eram contados por camponeses nas tavernas e nas 
vilas. Acontece que, como já vimos aqui, povos compartilham valores e 
crenças, e também histórias, como no caso de Chapeuzinho Vermelho, 
uma história encontrada em ambas as compilações, com algumas 
diferenças.
estética: estudo da beleza 
na criação artística.
Glossário
Para conhecer um pouco 
sobre a evolução do 
conceito de infância, su-
gerimos a leitura do livro 
História social da criança 
e da família, de Philippe 
Aries, o qual revisita a 
presença da criança em 
obras de arte para tentar 
estabelecer quando ela 
passa a ser uma figura 
importante na história 
das famílias.
ARIES, P. São Paulo: LTC, 1981.
Livro
Você sabia que muitos dos 
contos de fadas não foram 
escritos inicialmente para 
crianças? Um exemplo são os 
contos dos Irmãos Grimm, que 
teriam surgido de uma pesquisa 
acadêmica para adultos. Para 
saber mais sobre esse assunto 
acesse o link a seguir: 
https://tinyurl.com/ya2ougzs
Saiba mais
14 Literatura Infantil
Histórias contadas visando o público de cada época foram sendo 
revistas a cada transformação dos valores sociais. Peguemos o exem-
plo de Chapeuzinho Vermelho. Charles Perrault publicou sua adapta-
ção do conto em 1697, e o final era aquele em que o Lobo devorava 
Chapeuzinho e Vovó. Já a versão dos Irmãos Grimm, de 1812, coloca 
em cena o Caçador para salvar Chapeuzinho, suavizando a violência 
presente no conto e aproximando-o muito mais do público infantil. Se 
procurarmos, encontraremos muitas outras versões da mesma histó-
ria, produzidas ao longo dos séculos. Segundo Coelho (2010, p. 30),
essa violência ou crueldade vai desaparecendo desses contos 
maravilhosos à medida que os tempos passam ou que a huma-
nidade vai refinando seus costumes. Isso é facilmente notado 
nas alterações que se produzem em certos contos, ao passarem 
da versão de Perrault para a de Grimm e desta para as versões 
contemporâneas. Hoje, transformados em literatura infantil, per-
deram toda a agressividade original.
Assim, todos esses contos populares que vão sendo reunidos ao 
longo dos séculos acabam por se tornar o que chamamos de início da 
literatura infantil. Podemos ver que não foi um projeto pensado exclusi-
vamente para as crianças. Porém, como parte da cultura, contendo pa-
drões e normas de comportamentos, eram ótimas ferramentas para os 
pequenos (agora já compreendidos como crianças), que precisavam se 
inserir nos modelos solicitados pela sociedade dos adultos.
Bem, até aqui você já identificou que a literatura se inicia como for-
ma de transmitir valores e comportamentos de uma sociedade por ge-
rações, bem como para preservar sua identidade.
Mas como saltamos disso para uma literatura específica para crian-
ças, já que o folclore não se destinava somente aos pequenos, mas, sim, 
a todo o povo?
Antes de vermos quando se inicia convencionalmente a literatu-
ra infantil, precisamosentender outro ponto: a concepção de criança 
como sujeito. Isso mesmo, a criança só é vista como um sujeito, com 
suas especificidades e diferenças, a partir do século XVII, quando au-
menta o interesse por representar a criança na pintura em suas formas 
harmônicas e apropriadas. Se você observar pinturas da Idade Média, 
verá que não são crianças representadas, e sim adultos menores, des-
proporcionais às formas de uma criança (ARIÈS, 1981).
Será que existem outras versões 
de Chapeuzinho Vermelho? Você 
consegue pensar em alguma? 
Faça uma pesquisa para levantar 
possíveis versões ou adaptações.
Desafio
Processo histórico da literatura infantil 15
Quando ouvimos que não havia crianças na Idade Média ou em 
outras épocas, devemos entender, na verdade, que não havia a com-
preensão das crianças como seres especiais, as quais eram chamadas 
de “adultos tolos”. Exatamente isso! Adultos que ain-
da não tinham a capacidade de um adulto, mas que 
participavam da vida adulta como se fizessem parte 
dela. Então, naquela época, as crianças assistiam às 
execuções em praça pública, estavam presentes du-
rante as relações sexuais dos pais (até mesmo por-
que não havia divisão de cômodos) e trabalhavam 
desde muito cedo, sem questionamento por parte 
da sociedade.
Somente após o século XVIII, com reflexões da fi-
losofia, da arte e da Igreja Católica, a criança passa, 
gradativamente, a ser vista como especial e com a ne-
cessidade de ser protegida. Porém, essa nova visão 
de criança não surge apenas do sentimento de pro-
tegê-la, mas também em decorrência da Revolução 
Industrial e de novos valores trazidos à tona.
Com a Revolução Industrial no século XVIII, a bur-
guesia (donos de indústrias, profissionais liberais, 
comerciantes e artesãos) se estabelece como uma 
classe social forte e precisa garantir sua perpetuação 
ao longo do tempo, ou seja, não bastava conquistar 
status de classe ascendente, era necessário fazer com que seus des-
cendentes protegessem seus valores. Portanto, a burguesia passa a 
olhar para a família e para a criança como pilares para sustentar uma 
nova lógica burguesa, conferindo-lhes novos papéis: ao homem era so-
licitado o sustento da família; à mulher, o cuidado da casa, bem como 
a educação dos filhos; e à criança, um novo olhar para seu desenvol-
vimento enquanto indivíduo que poderia ser moldado pela educação 
para uma sociedade recém-formada.
Ainda nesse período, tanto a pedagogia quanto a psicologia se de-
senvolvem enquanto ciências, e a escola também é solicitada a formar 
crianças e jovens de acordo com os ideais burgueses. Nesse sentido, 
eram necessários produtos específicos para serem utilizados em am-
biente escolar e familiar com intuito educacional. O livro se torna, en-
tão, um produto que se encaixa muito bem nesse novo sistema. Assim, 
W
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m
on
s
BONDONE, G. di. Ognissanti Madonna. 1310. Têmpera sobre painel, color., 204 x 
304 cm. Galeria Uffizi, Florença, Itália.
Figura 1
Ognissanti Madonna, de 
Giotto di Bondone – repre-
sentação da criança.
Para entender melhor 
a evolução do conceito 
de criança e de infância, 
assista ao vídeo Karnal: 
não existiam crianças 
antes do século XX, do 
filósofo Leandro Karnal, 
publicado pelo canal 
Band Jornalismo. 
Disponível em: https://tinyurl.
com/yagawo5s. Acesso em: 30 
mar. 2020.
Vídeo
16 Literatura Infantil
o livro infantil nasce com contos folclóricos e fábulas, a fim de garantir 
comportamentos exemplares, e se aprimora como uma mercadoria 
para assegurar a passagem dos valores da classe que estava no coman-
do dos meios de produção.
A preocupação excessiva com o uso pedagógico e moral da 
literatura infantil acabou por lhe conferir um título de arte com 
menor valor, uma vez que suas características estéticas foram 
sendo deixadas de lado nesse cenário.
Porém, mesmo em meio a esse contexto, algumas obras 
merecem destaque por serem livros que transcenderam o pe-
dagógico e o utilitário, dando ênfase aos elementos estéticos 
que produzem a literatura como forma de arte.
Como exemplo, ainda no século XVIII, temos Robinson Cru-
soé (1719), de Daniel Dafoe, e As viagens de Gulliver (1726), de 
Jonathan Swift.
No século XIX, podemos encontrar Os contos dos Irmãos 
Grimm (1812); Contos (1833), de Hans Christian Andersen; Alice 
no País das Maravilhas (1863), de Lewis Carroll; As aventuras de 
Tom Sawyer (1882), de Mark Twain; e Pinóquio (1883), de Carlo 
Collodi.
Todos esses livros se consolidaram como literatura infantil (e juvenil) 
de qualidade por todo o ocidente, tendo inclusive inúmeras adaptações 
e versões, tanto em linguagem verbal quanto em outras linguagens, 
como a do cinema e a dos quadrinhos. Então, não é de se espantar 
que você conheça a maioria dessas histórias, senão todas! Nossa infân-
cia foi povoada por personagens dos contos de fadas europeus, com 
coleções que traziam adaptações e versões simplificadas para várias 
idades. Mas não só de literatura estrangeira viveram as crianças brasi-
leiras! Nós também fizemos (e continuamos fazendo) muita literatura 
infantil, e da boa, diga-se de passagem! Vamos ver?
1.2 Literatura infantil do Brasil 
Vídeo Entre o período do estabelecimento da colônia e o século XIX, não 
havia produção editorial no Brasil, assim, todos os livros eram im-
pressos em Portugal. Logo, as obras literárias que você viu na seção 
anterior passavam por uma tradução para o português de Portugal, 
Figura 2
Madone des Guidi de 
Faenza, de Sandro Botticelli, 
– representação da criança 
no Renascimento.
BOTTICELLI, S. Madone des Guidi de Faenza. 1470. Têmpera 
sobre painel, color., 73 x 49 cm. Museu do Louvre, Paris, França.
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Entre as obras citadas, 
pesquise a respeito daquelas que 
chamarem mais a sua atenção. 
Quem sabe essa pesquisa possa 
terminar em uma boa leitura!
Desafio
Processo histórico da literatura infantil 17
e assim vinham ao Brasil, para aqueles que podiam pagar. No caso 
do povo em geral, prevaleciam ainda os contos populares da tradição 
oral, vindos em sua maioria da cultura ibérica e com temáticas de ca-
valaria ou religiosas.
Com a vinda da família real para o Brasil, já no século XIX, diversos 
setores se modernizaram para se adequar ao status de nova sede da 
realeza. Assim, setores culturais e educacionais se desenvolveram e foi 
iniciada a produção editorial brasileira, com a Imprensa Régia, implan-
tada em 1808. Em 1810, D. João VI implementou a Biblioteca Nacional, 
com a importação de inúmeros volumes de Portugal.
Tal progresso continuou a avançar a passos largos com a Indepen-
dência proclamada por D. Pedro I, com a estabilidade das recentes uni-
versidades e criação de novas e com o reconhecimento da educação 
como necessidade às elites. Assim, o livro infantil também se estabe-
lece enquanto necessidade pedagógica e, em especial, como artefato 
para a alfabetização. As literaturas escolares, ou livros de leitura, que 
passam a ser produzidas no Brasil no século XIX se firmam – assim 
como na Europa do século XVIII – como utilitárias e ligadas aos valores 
da sociedade brasileira da época. Conforme Coelho (2010, p. 223):
Analisadas em conjunto, essas obras pioneiras (sejam adapta-
ções, traduções ou originais) revelam facilmente a natureza da 
formação ou educação recebida pelos brasileiros desde meados 
do século XIX. Uma educação orientada para a consolidação dos 
valores do Sistema herdado (= mescla de feudalismo, aristocra-
cismo, escravagismo, liberalismo e positivismo).
Coelho (2010) ainda salienta que os valores contidos nos livros 
escolares brasileiros desse período podem ser caracterizados por 
nacionalismo, intelectualismo, tradicionalismo cultural e mora-
lismo e religiosidade. Veja a seguir as características de cada um des-
ses valores:
18 Literatura Infantil
Nacionalismo Intelectualismo Tradicionalismo cultural
Moralismo e 
religiosidade
Maior ênfase na língua 
falada no Brasil, diferen-
ciando-se do Português 
europeu.
Ascensãosocial e econô-
mica por meio do saber 
proporcionado pelo 
estudo e pelo livro.
Valorização de autores 
consagrados e clássicos 
europeus.
Cumprimento dos 
preceitos cristãos de 
caráter, honestidade e 
pureza.
Preocupação com os 
símbolos da Pátria.
Cultura clássica e es-
trangeira a ser utilizada 
como molde para cria-
ções nacionais.
Destaque ao amor pela 
terra e pela vida no cam-
po, incompatível com a 
vida urbana.
Quadro 1
Características dos valores nos livros escolares do século XIX
Fonte: Adaptado de Coelho, 2010, p. 224.
Podemos citar algumas obras que introduzem a literatura para 
crianças enquanto artefato pedagógico. Entre elas:
graphixmania/ Shutterstock
186
1
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7
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2
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0
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3
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5
O livro do povo, de Antônio Marques Rodrigues, traz de modo acessível a doutrina 
cristã e os princípios de economia e ordem. Mesmo com uma literatura utilitarista, acaba 
por ser um precursor da popularização do livro infantil no país.
Método Abílio, de Abílio César Borges, Barão de Macaúba. Com base no modelo 
europeu, escreveu vários livros de leitura e realizou adaptações de outros livros 
europeus para que as escolas empregassem como método de alfabetização e ensino da 
matemática, das ciências, das artes e da leitura.
Livros de leitura e série didática, de Felisberto de Carvalho. Essa série concorria 
diretamente com a de Hilário Ribeiro e instaurava no Brasil um novo método de ensino, 
com divisão por lições e exercícios de recapitulação, ditado, redação e recitação.
Coisas brasileiras, de Romão Puiggari. Sua intenção era a de trazer bom humor para 
os livros didáticos e repensar o uso de autores e valores estrangeiros em detrimento dos 
nacionais. Para ele, poemas, histórias, cenário e assuntos tratados deveriam enaltecer o 
Brasil, inserindo-se, assim, no nacionalismo romântico da época.
Anthologia nacional, de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Um dos livros escolares 
mais populares no início do século XX, sendo adotado em grandes colégios das capitais. 
Era uma antologia de textos a serem trabalhados na escola, sempre dando ênfase à 
produção literária nacional. 
Série Instrutiva, de Hilário Ribeiro, foi uma coleção muito popular em diversos estados 
do Brasil até a década de 1930. Era composta de quatro volumes: Cartilha nacional – 
primeiro livro e silabário; Cenário infantil; Na terra, no mar e no espaço; Pátria e dever – elementos 
de educação moral e cívica. Essa coleção instaura de vez o uso do método silábico para 
a alfabetização nas escolas brasileiras. Conforme Coelho (2010, p. 228), “nessa Série 
Instrutiva, estão bem caracterizados os valores da Sociedade-liberal-burguesa-cristã, que 
alicerçam toda a produção didática e literária da época”.
O livro do nenê, de Joaquim José de Meneses Vieira, autor de vários outros livros 
didáticos 1 . 
20 contos morais (1880), 
Manual para os jardins de 
infância (1882) e Amiguinho 
Nhonhô (1882).
1
método silábico: trabalho de alfa-
betização por meio da compreensão 
de estruturas maiores do que 
somente as letras, as sílabas.
Glossário
Processo histórico da literatura infantil 19
Visualizamos nessas obras a influência incontestável de um pensa-
mento positivista que estava presente em todos os setores. As palavras 
do escritor Francisco Vianna, autor de Leituras infantis (1900), esclare-
cem bem o sentimento que imperava nos livros de leitura do fim do 
século XIX e início do século XX. De acordo com Vianna, citado por 
Pfromm Neto et al. (1977):
ao escrevermos tais livros, não podemos e nem devemos subor-
diná-los exclusivamente ao gosto e às tendências das crianças. 
Toda leitura, qualquer que seja, exerce uma certa reação sobre 
quem a faz, pois, como demonstrou A. Comte, nada há de indi-
ferente ao sentimento. Assim sendo, convém aproveitar em tais 
lições assuntos que concorram para a formação de seus senti-
mentos e de seu caráter, em suma, de seu moral. Isto só se pode 
obter desenvolvendo o altruísmo e comprimindo o egoísmo. 
(apud COELHO, 2010, p. 235)
Logo, podemos entender por esse trecho o quão atreladas ao ensi-
no de valores e da aquisição da habilidade de leitura eram tais obras. 
Além disso, precisamos lembrar que o crescente interesse pelos livros 
didáticos ainda está ligado ao sentimento burguês que descrevemos 
anteriormente. Esses valores, já estabelecidos na Europa, chegavam 
até nós com o amadurecimento de uma sociedade brasileira ainda 
muito jovem. Assim, a necessidade de se educar para a formação do ca-
ráter e da moral, como citado no trecho visto anteriormente, é também 
uma necessidade de perpetuar valores da classe dominante, afinal, no 
século XIX e início do século XX, quem frequentava as escolas?
Pois é, somente pessoas com condições financeiras enviavam seus 
filhos para serem educados e para perpetuarem os valores nascidos 
com a burguesia europeia. Os mais pobres, as meninas e os filhos de 
escravizados recém-alforriados não estavam nessa equação (LAJOLO; 
ZILBERMAN, 2007).
Porém, embora o início da literatura infantil se confunda com o 
dos livros didáticos, não devemos pensar que não havia literatura in-
fantil como forma de arte. Temos, sim, algumas obras que, já no sé-
culo XIX e início do século XX, podem ser consideradas por seu valor 
estético. Veja algumas:
Para trabalhar contos 
em sala, nada melhor 
que utilizar compilações 
com comentários e fatos 
históricos. Para isso, leia 
os livros de Ângela Carter 
e de Maria Tatar, os quais 
trazem inúmeros contos 
(conhecidos ou não) para 
você se encantar.
CARTER, A. 103 contos de fadas. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2005.
TATAR, M. (ed.). Contos de fadas: 
edição comentada e ilustrada. Rio 
de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
Livro
20 Literatura Infantil
 • Contos infantis (1886), de Júlia Lopes de Almeida e Adelina Lopes 
Vieira. São 60 histórias em prosa e em verso, as quais se consa-
gram como o primeiro livro destinado também à diversão, além 
da instrução. Júlia Almeida ainda escreveu outros títulos que se 
ligam ao nacionalismo e à pedagogia, mas sempre trazendo o 
maravilhoso em suas histórias.
 • Contos da carochinha (1896), de Figueiredo Pimentel. Essa foi a 
primeira coletânea de contos infantis, fábulas, lendas, parábolas 
e outros gêneros traduzida para o português do Brasil, dissemi-
nando a cultura dos contos de fadas em território nacional.
 • Livro das crianças (1897), de Francisca Rolim. A poetisa escreveu 
contos em historietas em versos, e seu livro foi adotado para as 
escolas do estado de São Paulo.
 • Livro da infância (1899), de Francisca Júlia, poetisa parnasiana que 
escreveu 40 textos em poesia e prosa, com grande influência de 
escritores alemães. Sua obra também foi adotada pelo estado de 
São Paulo para suas escolas.
 • O tico-tico (1905), jornal infantil que permaneceu no mercado 
por muitos anos. Inaugurou no país uma cultura de histórias em 
quadrinhos (HQs), trazendo inicialmente cópias de ilustrações de 
HQ americana Buster Brown, que, para nossa realidade, foi trans-
formado no personagem travesso Chiquinho. Após Buster Brown 
ser cancelada nos EUA, Chiquinho continuou a aparecer no jornal 
infantil por intermédio de diversos artistas nacionais, que, aos 
poucos, foram criando outros personagens. O jornal também 
trazia quebra-cabeças, jogos e enigmas e esteve em circulação 
por 53 anos. Foi por suas páginas que nós tivemos o primeiro 
contato com O Gato Félix e Mickey Mouse, ambos de Walt Disney.
 • As nossas histórias (1907), de Alexina de Magalhães Pinto, é uma cole-
tânea folclórica produzida em um esforço de renovação da literatura 
infantil.
 • Páginas infantis (1908), de Presciliana Duarte de Almeida, é uma 
coletânea de historietas que intenta divulgar novas ideias educa-
cionais e, também, feministas.
 • Era uma vez (1908), de Viriato Correia, é uma reunião de contos 
maravilhosos e folclóricos, com maior preferência pelas fábulas 
e por tratar temas históricos de maneira divertida.
Processo histórico da literatura infantil21
 • Através do Brasil (1910), de Olavo Bilac e Manuel Bonfim. Um mar-
co na nossa literatura infantil, traz uma única história de aventu-
ra (uma novela), e não vários contos e pequenas histórias como 
seus antecessores. Também insere o gênero de viagem pedagó-
gica, utilizado na Europa, fazendo com que seus personagens 
principais viagem pelo Brasil conhecendo suas diferenças histó-
ricas, geográficas, naturais e culturais.
 • Biblioteca infantil (1915), Arnaldo de Oliveira Barreto. Foram 25 
títulos de contos, como O patinho feio, Gato de Botas, O soldadi-
nho de chumbo, entre outros, todos ilustrados pelos artistas mais 
consagrados da época. Tal coletânea se perpetuou por muitos 
anos e chegou até nós com melhorias gráficas e adaptações.
 • Saudade (1919), de Tales de Andrade. Nos moldes da novela de 
Olavo Bilac e Manuel Bonfim, abriu caminho para uma literatu-
ra infantil com temática rural, a qual foi bastante explorada nos 
anos seguintes. A vida rural se insere aqui com o reconhecimen-
to de novos ideais de paz e justiça social após uma guerra que 
abalou os valores de progresso e urbanização. Saudade mescla 
ficção e realidade e enaltece uma vida simples e desvalorizada 
pela cidade, bem como a natureza.
Tales de Andrade instaurou uma nova categoria a ser perseguida 
por autores de literatura infantil no século XX, a de ruralismo, uma exal-
tação à vida simples e dura do campo, com um quê de bucolismo e 
amor pela natureza.
E aqui estão lançadas as bases para uma literatura infantil genuinamen-
te brasileira e com ênfase em seu estado de arte. Será que você consegue 
pensar em algum escritor que compreende esse cenário em que são ne-
cessários livros para a educação escolar e para o ensino de valores como o 
ruralismo, mas que não deixa de lado o divertimento e o maravilhamento?
1.2.1 Monteiro Lobato e o nascimento da literatura 
infantil brasileira
Como vimos, o cenário brasileiro aos poucos foi se modificando, pas-
sando de uma necessidade por copiar modelos europeus de arte e edu-
bucolismo: temas campestres 
retratados na arte.
Glossário
22 Literatura Infantil
cação para encontrar um tom que fosse brasileiro, levando em conta 
nossa geografia, história e natureza. Assim, a literatura infantil, a partir 
dos anos 1920, leva em conta também algumas das características pro-
duzidas por novos valores da primeira fase do movimento modernista, 
como a liberdade, o humor, o nacionalismo, o relato do cotidiano e uma 
busca pela língua brasileira, pelos falares do povo.
Eis que então surge José Bento Renato Monteiro Lobato, figura que 
inicia sua carreira no jornal O Estado de São Paulo denunciando as quei-
madas no interior do país, pois antes de ser escritor, Monteiro Lobato 
era fazendeiro. Inicialmente, Lobato ficou conhecido por suas críticas 
sociais na figura do Jeca, um caboclo a quem o autor via como um para-
sita, alguém preguiçoso e sem cuidado com a terra. Da mesma forma, 
o escritor também criticava os governos, por estarem mais ligados à 
Primeira Guerra Mundial na Europa do que às necessidades do país.
Aos poucos, Lobato alterou sua visão do homem do interior, do cabo-
clo. Percebeu que sua condição vem da falta de educação e de condições 
básicas para a sobrevivência e entendeu, assim, que seu modo de vida 
não é enaltecido como faziam no Romantismo. No período romântico da 
literatura brasileira, o homem do interior era tido como afortunado por 
poder viver em contato com a natureza; depois, passou a representar 
uma cultura arcaica e simples demais, com seus contos e folclores.
À essa época, a literatura brasileira estava mergulhando no Moder-
nismo, movimento que prezava muito pelas vanguardas europeias e 
por novos rumos para a cultura e sociedade brasileiras. Entretanto, 
Lobato se opunha a esse pensamento modernista, pois pensava que a 
literatura feita em território nacional deveria promover uma literatura 
realmente brasileira – olhando para suas raízes, sua língua, seus folclo-
res –, e não importar estilos europeus de arte.
Ao criticar alguns dos preceitos do movimento modernista, identifican-
do certo vazio de significados nessas obras, Lobato foi colocado à margem 
do movimento e tido como conservador e pré-modernista. O escritor le-
vantava, ainda, que uma arte que não era compreendida pelo povo não 
seria popular, e sim mais um artefato produzido pela e para as elites.
Lobato defendia que era do povo que deveria surgir a arte natu-
ralista brasileira, afirmando que o povo possuía capacidade para de-
senvolver um estilo próprio com base em suas raízes. Dessa forma, 
Processo histórico da literatura infantil 23
contestava a arte canônica de estilo rebuscado e inacessível à popula-
ção, arte essa que vinha do tempo do Império.
O escritor também foi proprietário da Revista do Brasil – periódico 
de cultura que se tornou editora, a qual, anos depois, foi rebatizada 
como Monteiro Lobato & Cia Editores –, publicando seu primeiro livro, 
Urupês, em 1918, com a tiragem de mil exemplares esgotada em um 
mês, um fenômeno para a época, sendo um pioneiro no mercado edi-
torial brasileiro.
Para Lobato, portanto, a arte deveria ser popular, feita das raízes 
do povo e para o povo. Assim, conforme o pesquisador Vitor Lacerda 
(2008, p. 22), citando o pensamento de Lobato:
acreditando que o estilo nacional deveria estar em íntima conso-
nância com o povo, Lobato afirma que ele não poderia ser criado, 
mas que deveria nascer naturalmente “por exigência do meio”. 
Contudo, como essa exigência não estaria colocada no Brasil, ela 
deveria ser provocada não pelos grandes mestres, mas sim pelo 
“artista legião”, o artesão anônimo, capaz de moldar a “feição es-
tética duma cidade”: o marceneiro, o serralheiro, o entalhador, 
o fundidor, o estofador e o ceramista. A formação desse artista 
seria responsabilidade do Liceu de Artes e Ofícios, que deveria 
incitá-lo a “olhar em torno de si e a tirar da natureza circunjacen-
te os assuntos das composições, o motivo dos ornatos, a matéria 
prima, enfim, da sua arte”.
Assim, embora Monteiro Lobato tenha sido um divisor de águas da 
literatura infantil e elevado os padrões estéticos dessa arte, a necessi-
dade de pensar a literatura para crianças enquanto formadora ainda 
permaneceu, porém com maior liberdade criadora e sem os preceitos 
moralizantes das obras anteriores. Sua obra foi um marco, pois ultra-
passa o didatismo e a questão educacional e pedagógica para incentivar 
uma ação leitora de liberdade criadora. Seus livros infantis permitiram 
a criatividade, a curiosidade e a descoberta do mundo.
Com esse desejo, o de levar conhecimento e gosto pelo saber, 
Lobato se colocou a favor de um novo modelo de educação, publican-
do seu primeiro livro infantil, A menina do narizinho arrebitado (1920). 
Com fins escolares, Lobato apresenta, nessa obra, um pensamento que 
mais tarde se aproxima do movimento da Escola Nova, aproximação 
dada tanto por sua afinidade com um novo projeto educacional quanto 
Com uma visão de desenvolvi-
mento nacional, especialmente 
ligado aos meios de extração, 
como poços de petróleo e 
latifúndios, Lobato acreditava 
que as crianças seriam o futuro 
do Brasil e, assim, precisavam 
ser formadas com a cultura 
brasileira, e não estrangeira. 
Também entendia que a literatu-
ra para crianças não deveria ser 
moralizante e nem rebuscada, 
porém, para ele, o processo de 
escrita deveria ser empregado 
com um fim de transmissão de 
uma mensagem, e não apenas 
como forma entretenimento.
Importante
24 Literatura Infantil
por sua amizade com Anísio Teixeira, que travava uma batalha para a 
implantação do novo sistema de ensino. Sendo assim,
Lobato, em sua obra infanto-juvenil, valoriza o dom da inteligên-
cia e o emprego de um tipo de educação que a estimule, que 
a torne criadora, por meio das descobertas e das invenções, 
portanto livre de restrições, repetitivismos e preconceitos. Uma 
didática baseada no vital, no real, no concreto constituiria a via 
para inovações e revelações. Consistiria,pois, numa pedagogia 
para o progresso. (NUNES, 1998, p. 250)
Para alcançar esse intento, Lobato sentiu a necessidade de fazer 
uso de fábulas e mitos brasileiros. O autor criou, então, o que se torna-
ria uma coletânea de 23 obras originais voltadas para o público infantil. 
Essas obras contavam com um estilo simples, reunindo elementos da 
realidade rural e suas peculiaridades com a fantasia, o imaginário fol-
clórico e a mitologia grega, abordando ensinamentos de história, ma-
temática e geografia.
Veja a linha do tempo das principais obras infantis de Monteiro 
Lobato:
Saiba mais
Entre 1952 a 1964, o programa O sítio do Pica-pau Amarelo, exibido pela TV Tupi, foi um grande sucesso tele-
visivo. A série, adaptada por Tatiana Belinky e dirigida por Júlio Gouveia, teve 360 episódios. A segunda versão 
da série para a televisão foi realizada pela Rede Globo entre os anos de 1977 e 1986, com roteiros de Benedito 
Ruy Barbosa, Marcos Rey, Silvan Paezzo e Wilson Rocha, e dirigida, em sua maioria, por Geraldo Casé. Em 2001, 
a TV Globo realizou uma nova versão de O sítio do Pica-pau Amarelo, com inúmeros roteiristas e diretores e 
trazendo uma criança para interpretar o papel de Emília. Para saber mais sobre as adaptações desse clássico da 
nossa literatura infantil, visite o site disponível em: https://tinyurl.com/ybam2p6h. Acesso em 5 abr. 2020.
Monteiro Lobato não é imune a críticas, em especial quando avançamos no sistema de valores vigentes. Há alguns 
anos, começaram discussões a respeito do racismo presente em suas obras. Enquanto escritor, não se retira seu 
peso da história da literatura infantil, mas com certeza não se pode deixar de lado tal discussão. Leia a matéria es-
crita por Adilson Miguel para a Revista Emília e reflita sobre suas impressões acerca da obra de Lobato e sua relação 
com o racismo. Disponível em: https://revistaemilia.com.br/lobato-e-o-racismo/. Acesso em: 7 maio 2020. 
Atividade 2
1921 1935 1937 1941 19441927 19331931
1922 1930 1932 1934 1936 1939 1942 1947
O saci
Aritmética 
da Emília; 
Geografia de 
Dona Benta; 
História das 
invenções
Serões de 
Dona Benta; 
O poço do 
Visconde; 
Histórias de 
Tia Nastácia
 A reforma 
da natureza
Os doze 
trabalhos de 
Hércules (dois 
volumes)
As Aventuras 
de Hans 
Staden
Caçadas de 
Pedrinho e 
História do 
mundo para as 
crianças
Reinações de 
Narizinho (inclui A 
menina do narizinho 
arrebitado e outras 
histórias da década 
de 1920)
Fábulas Peter Pan Viagem ao céu Emília no 
País da 
Gramática
Dom Quixote 
das crianças; 
Memórias da 
Emília
O Pica-pau 
Amarelo; O 
minotauro
A chave do 
tamanho
Histórias 
diversas
https://revistaemilia.com.br/lobato-e-o-racismo/
Processo histórico da literatura infantil 25
por sua amizade com Anísio Teixeira, que travava uma batalha para a 
implantação do novo sistema de ensino. Sendo assim,
Lobato, em sua obra infanto-juvenil, valoriza o dom da inteligên-
cia e o emprego de um tipo de educação que a estimule, que 
a torne criadora, por meio das descobertas e das invenções, 
portanto livre de restrições, repetitivismos e preconceitos. Uma 
didática baseada no vital, no real, no concreto constituiria a via 
para inovações e revelações. Consistiria, pois, numa pedagogia 
para o progresso. (NUNES, 1998, p. 250)
Para alcançar esse intento, Lobato sentiu a necessidade de fazer 
uso de fábulas e mitos brasileiros. O autor criou, então, o que se torna-
ria uma coletânea de 23 obras originais voltadas para o público infantil. 
Essas obras contavam com um estilo simples, reunindo elementos da 
realidade rural e suas peculiaridades com a fantasia, o imaginário fol-
clórico e a mitologia grega, abordando ensinamentos de história, ma-
temática e geografia.
Veja a linha do tempo das principais obras infantis de Monteiro 
Lobato:
Saiba mais
Entre 1952 a 1964, o programa O sítio do Pica-pau Amarelo, exibido pela TV Tupi, foi um grande sucesso tele-
visivo. A série, adaptada por Tatiana Belinky e dirigida por Júlio Gouveia, teve 360 episódios. A segunda versão 
da série para a televisão foi realizada pela Rede Globo entre os anos de 1977 e 1986, com roteiros de Benedito 
Ruy Barbosa, Marcos Rey, Silvan Paezzo e Wilson Rocha, e dirigida, em sua maioria, por Geraldo Casé. Em 2001, 
a TV Globo realizou uma nova versão de O sítio do Pica-pau Amarelo, com inúmeros roteiristas e diretores e 
trazendo uma criança para interpretar o papel de Emília. Para saber mais sobre as adaptações desse clássico da 
nossa literatura infantil, visite o site disponível em: https://tinyurl.com/ybam2p6h. Acesso em 5 abr. 2020.
Monteiro Lobato não é imune a críticas, em especial quando avançamos no sistema de valores vigentes. Há alguns 
anos, começaram discussões a respeito do racismo presente em suas obras. Enquanto escritor, não se retira seu 
peso da história da literatura infantil, mas com certeza não se pode deixar de lado tal discussão. Leia a matéria es-
crita por Adilson Miguel para a Revista Emília e reflita sobre suas impressões acerca da obra de Lobato e sua relação 
com o racismo. Disponível em: https://revistaemilia.com.br/lobato-e-o-racismo/. Acesso em: 7 maio 2020. 
Atividade 2
1921 1935 1937 1941 19441927 19331931
1922 1930 1932 1934 1936 1939 1942 1947
O saci
Aritmética 
da Emília; 
Geografia de 
Dona Benta; 
História das 
invenções
Serões de 
Dona Benta; 
O poço do 
Visconde; 
Histórias de 
Tia Nastácia
 A reforma 
da natureza
Os doze 
trabalhos de 
Hércules (dois 
volumes)
As Aventuras 
de Hans 
Staden
Caçadas de 
Pedrinho e 
História do 
mundo para as 
crianças
Reinações de 
Narizinho (inclui A 
menina do narizinho 
arrebitado e outras 
histórias da década 
de 1920)
Fábulas Peter Pan Viagem ao céu Emília no 
País da 
Gramática
Dom Quixote 
das crianças; 
Memórias da 
Emília
O Pica-pau 
Amarelo; O 
minotauro
A chave do 
tamanho
Histórias 
diversas
https://revistaemilia.com.br/lobato-e-o-racismo/
26 Literatura Infantil
1.2.2 Literatura infantil pós-Lobatiana até os anos 
2000
Após Lobato, os governos e outras esferas sociais passaram a ter 
maior preocupação com o panorama educacional, impulsionando a pro-
dução de literatura infantil. Durante as décadas de 1920, 1930 e 1940, 
somente Lobato se levantou como autor de histórias literárias, e não me-
ramente educativas, com todos os outros autores do período acabando 
por exagerar no tom pedagógico de suas obras infantis. Dessa forma:
o panorama dos anos de 1930-1940 mostra que, além dos livros 
de Lobato e das obras clássicas traduzidas ou adaptadas, apenas 
alguns escritores, entre os que escreveram na época, atingiram a 
desejável literariedade. No geral, predomina o imediatismo das 
informações úteis e da formação cívica. (COELHO, 2010, p. 265)
Segundo Coelho (2010), nas décadas de 1920 e 1930, com o crescen-
te interesse pela educação, instaurou-se uma briga entre a literatura de 
fantasia e a literatura realista. Para a escola em geral, a literatura de fan-
tasia era fútil; a única que deveria ser pensada era a realista, aquela que 
mostrava a realidade do país e preparava alunos para situações da vida 
cotidiana. Assim, a habilidade de sonhar e de criar estava sendo deixada 
de lado pela escola e, consequentemente, pela literatura infantil.
Enfim, nos anos 40, surge um tipo de literatura para crianças e 
jovens que procura eliminar, de sua gramática narrativa, as “ir-
realidades”, o extraordinário e o maravilhoso que sempre carac-
terizaram a Literatura Infantil. Fadas, bruxas, duendes, talismãs, 
gênios, gigantes, castelos, princesas ou príncipes encantados, 
etc. foram sistematicamente combatidos como “mentiras”. De-
fendia-se o princípio de que os contos de fada ou maravilho-
sos em geral falsificavam a realidade e seriam perigosos para a 
criança, pois poderiam provocar em seu espírito uma série de 
alienações como: perda de sentido do concreto, evasão do real, 
distanciamento da realidade, imaginação doentia, etc. (COELHO, 
2010, p. 272)
Enquanto diversão despretensiosa de moralidadese desarticula-
da do cenário didático, seguiam em alta os livros de Lobato e a revis-
ta O Tico-Tico. Além deles, outras revistinhas, que não duraram tanto 
tempo, também foram surgindo, sempre trazendo histórias divertidas 
que eram grande sucesso entre as crianças e os jovens. Com essas re-
vistas, iniciamos uma nova fase na literatura infantil brasileira, a dos 
A era de nascimento dos 
super-heróis coincidiu com 
a quebra da bolsa de valores 
de Nova York em 1929 e o 
período de recessão econômica 
que perdurou até 1933. Nesse 
período, muitos trabalhadores 
perderam seus empregos e os 
índices de criminalidade se 
elevaram sensivelmente. Assim, 
nasceram super-heróis como o 
Batman para proteger cidadãos e 
combater o crime.
Saiba mais
Processo histórico da literatura infantil 27
quadrinhos, especialmente com traduções de HQs americanas de su-
per-heróis, como Batman, Superman, entre outros títulos, e a entrada 
do gênero policial, em especial com Sherlock Holmes.
Se com Lobato tivemos personagens centrais femininas como Narizinho e Emília, 
o que você acha que passou a acontecer a partir da década de 1930?
Você acertou se disse que os protagonistas das grandes histórias 
subsequentes eram todos homens (ou meninos). Inicia-se uma divisão 
de literatura para meninos e para meninas. Para meninos, logicamen-
te, a diversão, o humor, as invenções e a investigação. Para meninas, 
relacionamento e valores morais ligados ao seu papel no lar. Além de 
princesas, é claro!
Vale fazermos uma leitura breve das obras para meninas na me-
tade do século XX, afinal super-heróis e contos policiais não precisam 
de apresentação, pois estão aí até hoje entretendo pessoas de todas 
as idades e conquistando milhões em dinheiro no cinema! Mas essa é 
uma outra história.
A literatura dessa época ficou conhecida como literatura rósea, se-
gundo Coelho (2010). De fato, foi um gênero criado já no Romantismo 
e que formou muitas das mulheres até quase a década de 1960 com 
uma visão de mundo paternalista e dedicada à inserção da mulher na 
vida familiar e doméstica. Eram normalmente coleções, das quais fa-
ziam parte: Coleção Menina e Moça (José Olympio); Biblioteca das Moças 
(Editora Nacional); e Coleção Rosa (Livraria Acadêmica).
Aí você pode se perguntar: e para as crianças? Bem, para meninas, 
assim que conquistassem a alfabetização, dado que, até aqui, a litera-
tura infantil era pensada sempre no sentido educacional, então, antes 
da alfabetização, as histórias contadas eram os velhos contos de fadas 
e fábulas já tão perpetuados no imaginário coletivo, além de histórias 
com linguagem infantilizada, enfatizando as travessuras (e o preço 
pago por elas) e o encorajamento do respeito às ordens dos adultos 
(COELHO, 2010).
Nos anos seguintes (década de 1950), a maior diferença em relação 
a décadas anteriores é que a fantasia começou (muito timidamente, 
veja bem!) a retornar aos livros infantis. Mas as obras ainda seguiam os 
mesmos preceitos de suas antecessoras. Então, o fator mais louvável 
Para você, por que ainda hoje 
encontramos a separação de 
livros para meninos e para 
meninas? Qual o reflexo dessa 
divisão no desenvolvimento das 
crianças?
Atividade 3
Os sites a seguir trazem 
listas de livros que 
trabalham a relação de 
gênero na literatura in-
fantil. É muito importante 
considerarmos obras que 
reflitam a respeito dos 
papéis impostos sobre 
meninos e meninas na 
sociedade e sobre seu re-
flexo no desenvolvimento 
emocional de cada um 
e na construção de suas 
identidades enquanto 
seres sociais. Disponíveis 
em: 
https://tinyurl.com/ya3urhjj
 https://tinyurl.com/yb6dgean
(Acesso em: 5 abr. 2020)
Site
28 Literatura Infantil
nesse campo foi a maior disseminação dos quadrinhos (em especial de-
vido à maior abrangência dos aparelhos de televisão e do cinema), com 
a introdução de Pato Donald nos jornais e nas revistinhas brasileiras.
Mas claramente essa disseminação das HQs não passaria desperce-
bida por uma sociedade tão ligada aos valores tradicionais de ensino 
quanto a sociedade brasileira. Uma comissão, da Secretaria de Educa-
ção de São Paulo, atribuiu aos quadrinhos a “preguiça de ler” crescente 
entre os alunos, vetando sua entrada nas bibliotecas. É claro que, como 
ocorre em toda boa proibição, o mercado editorial se beneficiou mui-
tíssimo dos quadrinhos, ampliando edições, títulos e tiragens.
Na década de 1960, temos a primeira Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional (LDB de 1961), a qual promove o trabalho com li-
teratura para a aquisição da gramática, impulsionando a produção 
de obras voltadas aos públicos infantil e juvenil nas décadas de 1960, 
1970, 1980 e 1990. Nesse impulso, nasceram HQs brasileiras e obras de 
grandes autores em prosa, verso e teatro.
Essas décadas marcaram o florescimento de uma literatura engaja-
da socialmente, em especial pelo período da ditadura militar instaurada 
com o golpe de 1964. O reflexo desse movimento será percebido inclusi-
ve nos anos finais do governo ditatorial e no início da nova democracia.
A seguir, temos uma lista tímida de autores mais importantes nes-
ses 40 anos, mas que continuam em alta até hoje.
Nos quadrinhos: Ziraldo (O menino maluquinho) e Maurício de 
Sousa (Turma da Mônica).
Na prosa:
 • Clarice Lispector – O mistério do coelho pensante (1967) e A 
mulher que matou os peixes (1968).
 • Lygia Bojunga – A bolsa amarela (1976).
 • Ana Maria Machado – suas obras mais famosos são Bisa Bia, Bisa 
Bel (uma novela de 1981) e Menina bonita do laço de fita (2000).
 • Ruth Rocha – escreveu histórias inéditas, como Marcelo, mar-
melo, martelo (1976), e adaptações como, Romeu e Julieta e A 
arca de Noé.
 • Rachel de Queiroz – O menino-mágico (1969) e Cafute e 
Pena-de-prata (1986).
 • Pedro Bandeira – obras como A marca de uma lágrima (1985) 
e É proibido miar (1983).
 • Tatiana Belinky – Limeriques (1987).
Processo histórico da literatura infantil 29
No teatro:
 • Pedro Bandeira – O fantástico mistério da Feiurinha (1985).
 • Ana Maria Machado – O rapto das cebolinhas (1954); Pluft, o 
fantasminha (1955); A menina e o vento (1963); entre muitas 
outras obras.
Na poesia:
 • Marina Colasanti – A centopeia.
 • Mário Quintana – Poeminha do contra.
 • Sérgio Capparelli – Canção para ninar dromedário.
 • Cecília Meireles – Ou isto ou aquilo (1964); A canção dos 
tamanquinhos.
 • José Paulo Paes – Convite.
 • Vinícius de Moraes – As borboletas.
Não podemos deixar de lado um capítulo importantíssimo da lite-
ratura infantil brasileira em versos. O capítulo da Música Popular Bra-
sileira (MPB). Internacionalmente, bandas e estilos musicais diversos 
surgiam, comandados pela banda The Beatles e por estilos como o 
Blues e o Rock. Já no Brasil, o cenário era outro.
Com o golpe militar de 1964 e uma ditadura que acirraria as frontei-
ras da censura, a música viu o desenvolvimento da Bossa Nova, criada 
anos antes, e de todo um movimento de denúncia e crítica daquele mo-
mento histórico brasileiro por meio do lirismo da MPB, a qual ganhou 
os palcos televisionados dos festivais de música brasileira, podendo le-
var uma cultura ímpar para todos os cantos do país.
Compositores e cantores como Chico Buarque (“Os saltimbancos”), 
Vinícius de Moraes (“A casa”), Toquinho (“Aquarela”) e Caetano Veloso 
(“Leãozinho”) fizeram algumas das canções brasileiras mais conheci-
das até hoje, com diversas interpretações e adaptações para teatro e 
cinema.
Nesse novo cenário da literatura infantil brasileira, deixamos para 
trás (quase) todas as características das obras anteriores à década de 
1960. Ao menos com grandes autores. Se espiarmos bem, encontra-
mos ainda muitas obras que servem ao didatismo mais que ao pra-
zer da leitura. Mas, no geral, talvez seja seguro dizer que, com esses e 
tantos outros escritores, a literatura infantil deixou o patamar de “arte 
menor”, conforme as palavras de Coelho (2010, p. 283):
30 Literatura Infantil
A par de inúmeros “continuadores” que seguem nas trilhas bati-
das,surgiram dezenas de escritores e escritoras de “arte maior”, 
sintonizados com a nova palavra de ordem: experimentalismo 
com a linguagem, com a estruturação narrativa e com o visualis-
mo do texto; substituição da literatura confiante/segura por uma 
literatura inquieta/questionadora, que põe em causa as relações 
convencionais existentes entre a criança e o mundo em que ela 
vive, questionando também os valores sobre os quais nossa so-
ciedade está assentada. (2010, p. 283)
A literatura infantil brasileira transitou entre o didatismo e a estética 
para se estabelecer como uma necessidade existencial, de experiência 
da realidade por meio do simbólico. Isto é, nossa história, embora cruel 
e opressora, promoveu o aprimoramento de uma arte que coloca em 
pauta a crítica da realidade, a fantasia e também a própria construção 
do sujeito no mundo.
Nas décadas de 1980 e 1990, inúmeros títulos caíram nas graças 
dos pequenos leitores e das escolas. Tanto obras brasileiras quanto 
estrangeiras foram muito aclamadas, como a série Harry Potter, de J.K. 
Rowling. A década de 1990 viu um mercado literário se adaptar e se 
expandir para dar conta de um público novo (em idade, afinal crianças 
sempre foram movidas a histórias), reconhecendo o valor artístico e de 
mercado de obras para crianças.
O maior desafio (o qual ainda persiste) seria o trabalho com a litera-
tura nas escolas, pois os cursos de formação de professores não acom-
panharam tal evolução, embora atualmente vejamos um movimento 
docente muito mais consciente da necessidade do bom trabalho com 
literatura e arte.
Assim, com tantas obras que trazem à tona uma reflexão sobre a 
realidade do leitor, adentramos o novo século. Mas não sem desafios 
para a literatura infantil. Reinventar-se é preciso, então vamos desco-
brir essas reinvenções do século XXI.
1.3 Tendências atuais: do impresso ao digital 
Vídeo Com o século XXI, vimos florescer o uso da tecnologia em todos os 
setores, e a literatura não ficou de fora. Em primeiro lugar, vemos o uso 
abundante de novos projetos gráficos, com ilustrações de diferentes 
traços, fontes diversas, novos materiais e novas formas de se pensar o 
design e o uso do livro infantil.
Processo histórico da literatura infantil 31
Várias editoras aumentaram seus faturamentos com a publicação 
de livros infantis, especialmente em decorrência de programas gover-
namentais para a aquisição de tais obras, destinadas à escola pública, 
e de novas legislações iniciadas já na década de 1990. Com uma nova 
legislação educacional, outras formas de pensar literatura e educação 
surgiram. Uma delas são os chamados temas transversais, temáticas li-
gadas a outras áreas do conhecimento e que devem ser tratadas em 
livros literários, como ecologia, saúde e cidadania.
Temas transversais também iniciam o movimento de uma literatura 
que coloca em cena a diversidade e as minorias. Porém, com um belo 
caminhar, temos hoje livros que não tratam mais essas temáticas en-
quanto transversais a outras disciplinas, e sim colocam questões de 
gênero, raça, etnia, classe, direitos humanos e marginalização como 
centrais em suas narrativas.
Vemos, então, o estabelecimento de uma visão que privilegia a fun-
ção social e artística da literatura, em comparação com o grande peso 
didático e instrucional dado a ela em décadas anteriores. A linguagem 
acessível às crianças trouxe ainda a valorização das culturas brasileiras 
e a transformação de significados da língua e da sociedade, ampliando 
tanto o vocabulário quanto o arcabouço de conhecimentos e capacida-
de crítica.
Os livros infantis atualmente deveriam ter como objetivo tanto a 
imaginação, a criatividade e a fantasia quanto uma postura questio-
nadora dos contextos sociais. Afinal, se ler é um ato político, isto é, a 
construção de significados capazes de nos inserir nos diferentes con-
textos sociais e transformá-los, a literatura para crianças deve seguir 
esse curso, sempre explorando uma vertente de reflexão crítica, inde-
pendentemente da linha que aderir.
E por falar em linhas, como ficam as características básicas dessa 
literatura crítica e criativa para crianças? Será que para propiciar essas 
discussões é obrigatório termos obras que só trabalhem com o plano 
real? O que você pensa a respeito disso?
Com certeza, não! Podemos usar muitos mundos, reais e imaginá-
rios, para refletir sobre as diferenças, a sociedade e as situações que a 
vida nos apresenta. Veja a seguir as tendências que marcam a literatura 
infantil e juvenil na atualidade:
Relate como você percebe as 
diferenças entre a literatura atual 
e a literatura do início do século 
XX no Brasil.
Atividade 4
Se fôssemos fazer uma 
lista extensa com todas 
as obras relevantes para 
atualidade, não sairíamos 
mais deste capítulo! 
Brincadeiras à parte, as 
listas dos seguintes sites 
podem lhe dar uma boa 
ideia de obras voltadas 
às crianças na atualidade. 
Pesquise aquelas que lhe 
interessarem mais e faça, 
se possível, a leitura de 
algumas, para ter mais 
familiaridade com esse 
universo. Disponíveis em:
https://tinyurl.com/y7fqxhbh
https://tinyurl.com/y9wggzx2
https://tinyurl.com/y7p4jnc3
https://tinyurl.com/
y8a8l347https://tinyurl.com/
yclotqdx
(Acesso em: 4 abr. 2020)
Site
32 Literatura Infantil
Linha realista Linha fantástica Linha híbrida
Testemunha o cotidiano em que 
se insere o leitor e permite o 
contato com outras realidades 
distintas.
Mundo fantástico, maravilho-
so, criado pelo mundo das 
ideias.
Realismo mágico, muito utilizado na 
América Latina por inúmeros escrito-
res, entre eles Monteiro Lobato.
Informa hábitos e costumes de 
diferentes culturas.
Personagens animais; ficção 
científica; espaço atemporal 
do “era uma vez”; metafísica; 
distopias.
Entrada de um contexto irreal, mági-
co, no contexto real do cotidiano. 
Explora situações-problema como 
a poluição e a desigualdade.
Trazem uma atração pelo 
desconhecido, por situações 
que, embora irreais, pode-
riam acontecer.
As narrativas indígenas e africanas 
podem ser híbridas quando misturam 
a história de seus povos com elemen-
tos maravilhosos.
Coloca em pauta dores e 
sofrimentos normais da vida, 
preparando psicologicamente os 
leitores.
Aventuras que não têm lugar 
na realidade concreta.
Livros que demandam interação da 
criança pequena, fazendo a vez de 
livro-objeto, como no caso dos livros 
de borracha para banho ou de livros 
em outros suportes e formatos.
Quadro 2
Tendências da literatura infantojuvenil
Fonte: Adaptado de Coelho 2010, p. 289-291.
Como podemos ver, as linhas realista e fantástica são nossas conhe-
cidas e caminham juntas desde a invenção da literatura. Vamos nos de-
ter um pouco na linha híbrida e, mais especificamente, nas obras que 
promovem interações diferentes entre suporte e leitor.
O livro em formato pop-up não tem nada de novo. A técnica foi in-
ventada já no século XIV, porém, na atualidade, ganhou força, em es-
pecial recontando grandes histórias. Outro formato difundido para 
crianças são os livros com interações, como dedoches, cartões, peda-
ços móveis, peças com velcro, e assim por diante, sempre explorando 
os sentidos de maneira interativa e lúdica.
Mas a maior revolução veio de fato com a tecnologia. A primeira 
revolução se deu com a hipertextualidade, nova possibilidade de lei-
tura que o digital nos proporciona. Com a era do hipertexto, podemos 
apresentar às crianças leituras que não acabam em si. Com os livros 
digitais (e-books), a era da interação com a narrativa se amplificou, en-
globando diversos formatos em uma narrativa que pode ser construída 
com a ajuda do leitor.
Apesar de o nome pop-up re-
meter a algo novo, esse formato 
de livro é bem antigo. Para saber 
mais sobre o livro em formato 
pop-up, acesse o link:
https://tinyurl.com/y9b65q6y
Saiba mais
dedoches: fantoches de dedo.
hipertextualidade: 
possibilidades de colaboração na 
construção do texto, com vídeos, 
imagens, entre outros recursos, 
além de maior contribuição 
do leitorpara a construção dos 
significados da narrativa.
Glossário
Processo histórico da literatura infantil 33
As editoras de materiais didáticos são as que mais investem atual-
mente no formato de livro digital. Ao iniciar a leitura, uma criança (ou 
seu mediador) poderá decidir se continua de modo linear, conforme 
seguem as páginas, ou se clica em vídeos, áudios e jogos atrelados à 
narrativa e ocultos sob links.
Entre as atrações, a realidade aumentada tem sido uma febre, tanto 
para a literatura quanto para conteúdos didáticos. Para essa tecnolo-
gia, as editoras utilizam o livro impresso com imagens que podem “ga-
nhar vida” em 3D ou acionar um jogo com o uso do celular ou tablet.
Aliás, atualmente jogos também são formas literárias, pois muitos 
baseiam seus mundos e personagens em uma narrativa bem formula-
da. Logo,
analisando a natureza dessa literatura, neste limiar do século 
XXI, conclui-se que hoje não há um ideal absoluto de Literatura 
Infantil/Juvenil (nem de nenhuma outra espécie literária). Será 
“ideal” aquela que corresponder a uma certa necessidade do 
tipo de leitor a que ela se destina, em consonância com a época 
em que ele está vivendo... Vista em conjunto, a atual produção 
de Literatura destinada a crianças e jovens, entre nós, apresen-
ta uma crescente diversidade de opções temáticas e estilísticas, 
sintonizadas com a multiplicidade de visões de mundo que se 
superpõem no emaranhado da “aldeia global” em que vivemos. 
(COELHO, 2010, 289)
A próxima etapa com certeza será explorar o uso de óculos de rea-
lidade virtual para interagir com o mundo criado pelas obras infantis, 
inserindo o leitor como um participante que construirá a história den-
tro do cenário. Agora é aguardar pelos próximos capítulos! E você, já 
pensou em como será a literatura infantil do futuro?
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a literatura infantil em tempos 
de avanço das mídias digitais, leia o artigo A literatura infantil digital: o design 
das histórias interativas, de Douglas Luiz Menegazzi e Cristina Sylla, publicado 
pela Revista de Educação, Ciência e Cultura, que trata exatamente sobre o 
design de histórias que são interativas, trazendo categorias de análise para a 
crítica dessas obras digitais.
Acesso em: 6 abr. 2020. 
https://tinyurl.com/yblcqs8j
Artigo
Acesse o vídeo Qual é a 
diferença entre Realidade 
Virtual e Realidade Au-
mentada, publicado pelo 
canal GCFAprendeLivre, 
para saber mais sobre 
as diferenças entre rea-
lidade virtual e realidade 
aumentada. 
Disponível em: https://tinyurl.com/
yd9yd4sp. Acesso em: 5 abr. 2020.
Vídeo
Veja como fazer 
dedoches no vídeo 
Superfácil: Aprenda a fazer 
dedoches, publicado pelo 
canal da revista Crescer. 
Disponível em: https://tinyurl.com/
y7glcyme. Acesso em: 5 abr. 2020.
Vídeo
O aplicativo “O rapto da vaca 
sagrada”, do Centro de Educação 
e Cultura, é gratuito e foi 
desenvolvido para ser um livro 
interativo com atividades educa-
tivas. Baixe-o sem custo algum 
pelo Google Play e navegue pela 
história.
Livro Eletrônico
https://tinyurl.com/yblcqs8j
https://tinyurl.com/yd9yd4sp
https://tinyurl.com/yd9yd4sp
34 Literatura Infantil
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Esperamos que você tenha apreciado esse breve panorama históri-
co da literatura infantil. Foi apenas um resumo, pois não haveria como 
descrever todas as obras em todos os momentos literários através dos 
séculos. Com certeza, faltariam páginas para isso!
Porém, a intenção era a de fazer com que você identificasse como a 
literatura infantil foi se moldando ao longo da história e como ela chegou 
até o patamar em que está hoje.
Reveja os pontos que mais chamaram sua atenção ao longo deste ca-
pítulo e pesquise outras fontes que o auxiliem a se aprofundar no históri-
co da literatura para crianças.
REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História social da criança e da família. São Paulo: LTC, 1981.
COELHO, N. N. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.
COELHO, N. N. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil: das origens indo-europeias 
ao Brasil contemporâneo. Barueri: Manole, 2010.
LACERDA, V. A. Um mergulho na Hélade: mitologia e civilização grega na literatura infantil 
de Monteiro Lobato. Belo Horizonte, 2008. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – 
Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais.
LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. Literatura Infantil brasileira: história e histórias. São Paulo: 
Ática, 2007.
LOBATO, M. Histórias de Tia Nastácia. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2009.
MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 2015. Disponível em: https://
michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 16 abr. 2020.
NUNES, C. Novos estudos sobre Monteiro Lobato. Brasília: UNB, 1998.
TATAR, M. (ed.). Contos de fadas: edição comentada e ilustrada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
2004.
GABARITO
1. Embora existissem crianças, não havia um entendimento delas enquanto sujeitos com 
características próprias e com necessidades de cuidados específicos. As crianças eram 
vistas como adultos em miniatura, pessoas ainda sem toda a capacidade intelectual 
de um adulto formado. Assim, não houve literatura ou práticas pensadas para esse 
público antes de ocorrer uma reflexão sobre a própria infância e suas necessidades.
2. A atividade pede uma resposta pessoal, mas deve trazer elementos que demonstrem 
a compreensão da obra de Monteiro Lobato enquanto um marco na literatura infantil 
brasileira ao mesmo tempo em que, mesmo assim, ela pode conter diversos elemen-
Processo histórico da literatura infantil 35
tos racistas como forma de representação tanto da realidade vigente quanto do posi-
cionamento do autor. Outro ponto relevante trazido pela matéria e que é possível de 
ser incorporado na resposta é que, mesmo que houvesse um cenário racista, muitos 
outros escritores e artistas já questionavam as representações do negro na arte, e 
talvez Lobato não tenha refletido sobre isso e continuado com práticas enraizadas em 
sua construção enquanto um homem branco e da elite agrária.
3. Embora seja uma resposta de cunho pessoal, deve discorrer sobre os valores tradicio-
nais ainda vigentes na nossa sociedade, mas que encontram um cenário que cada vez 
mais compreende a necessidade de desenvolvimento de novas relações de gênero 
para todas as crianças. Além disso, deve demonstrar compreensão da necessidade 
de se questionar os papéis impostos a meninos e meninas, pois eles engessam o ser 
humano e não permitem sua plena expressão. Assim, é necessário que a literatura 
proponha essas discussões para auxiliar as crianças a verem que não existem apenas 
as possibilidades de papéis aceitas até aqui, mas que podem construir outras relações 
emocionais e sociais.
4. A literatura do início do século XX era voltada quase que exclusivamente para o dida-
tismo da alfabetização e dos valores morais das classes dominantes que produziam 
e consumiam tais obras. No Brasil, além dessas características, o ruralismo, o intelec-
tualismo, o tradicionalismo cultural e a religiosidade também estavam presentes. Já 
no século XXI, estão em cena obras que privilegiam a estética literária, a diversidade 
de estilos e temas, as múltiplas visões de mundo, a criatividade, a imaginação e o 
questionamento da realidade.
36 Literatura Infantil
2
Literatura e leitor infantil
As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de 
jiboias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, 
à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis 
anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo 
insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As 
pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para 
as crianças, estar toda hora explicando.
Saint-Exupery, em O pequeno príncipe
As pessoas grandes muitas vezes tolhem os desejos e as ex-
pressões das crianças, tentando fechá-las dentro de caixinhas da-
quilo que entendem como útil, objetivo. Ainda bem que existe a 
literatura

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