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Experiências Midiáticas Sonoras Aula 10: As plataformas de streaming: o embate entre autores, intérpretes, produtores fonográ�cos e sociedades arrecadadoras Apresentação Nesta aula, apresentaremos um panorama sobre algumas plataformas de streaming relacionadas ao audiovisual como um todo. Em seguida, abordaremos as possíveis conexões entre tecnologias emergentes do segmento examinado com a economia criativa. Objetivos Apontar algumas questões relacionadas às plataformas de streaming envolvidas na produção, distribuição e comercialização de conteúdo audiovisual; Identi�car tendências e possibilidades de negócios potencializados por novas tecnologias emergentes no contexto da economia criativa. Primeiras palavras Nas aulas anteriores, abordamos diversos aspectos relacionados à produção fonográ�ca e musical contemporâneas, mais especi�camente às novas tecnologias relacionadas ao som e seus desdobramentos na indústria criativa. Estudamos que a indústria criativa atua no campo da expressão e da materialização das ideias, dos sentimentos e da emoção, já a economia criativa trata do fomento e da viabilização econômica das ideias, dos projetos que envolvem a expressão da cultura e do intelecto humano. A conexão entre o campo das ideias e respectiva materialização e monetização da subjetividade criativa fundamenta-se nas questões jurídicas, que tentam mapear, propor e estabelecer conceitos, direitos e deveres, para que a criação e o produto imaterial possam ser devidamente valorizados e viabilizados economicamente. CD Pirata / Fonte: shutterstock.com As plataformas de streaming, que ao mesmo tempo impactaram profundamente a comercialização e distribuição de música, também acabaram por colaborar, mesmo que indiretamente, no combate à pirataria. A prática da pirataria na indústria fonográ�ca ocorria quando o objeto de desejo era possuir a música, ser dono de um catálogo de músicas digitalizadas e armazenadas no computador ou em mídias digitais. No entanto, a posse de música vem perdendo o interesse do consumidor em detrimento do aluguel de música, disponível nas plataformas de streaming. Outra questão que potencializa ainda mais as opções pelos serviços de streaming de áudio e vídeo é a mobilidade proporcionada pelos smartphones, que, com tecnologias cada vez mais so�sticadas, nos permite assistir e/ou produzir conteúdo audiovisual multimídia, com qualidade cada vez mais so�sticada, aliada à �exibilidade da portabilidade. Os smartphones viabilizam a conexão e a interação entre diversas mídias, (que anteriormente eram isoladas em seus respectivos suportes, tecnologias e interfaces) em um único aparelho, contemplando assim o conceito de convergência. Streaming de música no celular / Fonte: shutterstock.com Nesse contexto, o processo e o produto criativo, compartilhados por meio das tecnologias interativas de informação e comunicação, deslocam a centralidade e a hegemonia das mãos dos grandes e tradicionais produtores de conteúdo, possibilitando a qualquer pessoa atuar ativamente como protagonista no elenco e no cenário da economia criativa. Em relação à convergência, Jenkins (2015, p.44) aponta que: A convergência, como podemos ver, é tanto um processo corporativo, de cima para baixo, quanto um processo de consumidor, de baixo para cima. A convergência corporativa coexiste com a convergência alternativa. Empresas de mídia estão aprendendo a acelerar o �uxo de conteúdo de mídia pelos canais de distribuição para aumentar as oportunidades de lucros, ampliar mercados e consolidar seus compromissos com o público. Consumidores estão aprendendo a utilizar as diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre o �uxo da mídia e para interagir com outros consumidores. As promessas desse novo ambiente de mídia provocam expectativas de um �uxo mais livre de ideias e javascript:void(0); javascript:void(0); conteúdo. Inspirados por esses ideais, os consumidores estão lutando pelo direito de participar mais plenamente de sua cultura. Fonte: Pixabay. Gestão coletiva de direitos Na convergência, em que diversos atores produzem e compartilham conteúdos em diversas mídias, tanto mídias analógicas quanto digitais, que convivem e interagem entre si, emerge uma complexidade de desa�os relacionados às novas oportunidades de negócios, que surgem, progridem e se transformam rapidamente. Vivemos em ambientes de produção e de negócios em constantes e vertiginosas transformações. Na maioria das vezes, o sistema jurídico está sempre a um ou dois passos, ou mais, atrás da demanda de acordos e regras necessários para organizar, tanto ética quanto economicamente, as relações entre criação, tecnologia, direitos envolvidos e viabilidade econômica. No Brasil, os direitos autorais e conexos, relacionados à produção musical e fonográ�ca, são administrados por um sistema de gestão coletiva, em que o ECAD, juntamente com as sociedades arrecadadoras (UBC, ABRAMUS, SOCINPRO etc.) atuam em nome dos autores, intérpretes, músicos e produtores, envolvidos na indústria criativa da música. O surgimento e o desenvolvimento de novas mídias digitais ampliaram ainda mais o campo e a dimensão da gestão desses direitos, trazendo novos meios, mídias interativas e relacionamentos em rede, no universo da informação e da comunicação. Atenção As plataformas de streaming ainda estão no centro das discussões sobre os direitos de uso, distribuição e remuneração entre os diversos atores envolvidos nessa dinâmica. Nos fundamentos jurídicos brasileiros, ainda não existe uma conformidade sobre a exploração da música digital e sua relação com o direito autoral - apesar do download e streaming con�gurarem um serviço de distribuição musical (FRANCISCO; VALENTE, 2016). Em contraponto com as mídias tradicionais, destacamos o YouTube que, além de se comportar como um player tradicional de áudio, vídeos e �lmes, também oferece a possibilidade de interação e criação de canais temáticos para produções pessoais de conteúdo audiovisual e com um sistema próprio de remuneração, atrelado à quantidade de visualizações públicas ou por assinatura. Destaque também para rádios e TVs online com ou sem podcasting, sistemas de comunicação audiovisual, sistemas de conferência com multiusuários e salas de aula virtuais, ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) e jogos (videogames) online. Site de streaming / Fonte: DenPhotos / Shutterstock.com As novas dinâmicas nessas relações que emergem das novas tecnologias digitais, mais especi�camente pelas plataformas de streaming na indústria fonográ�ca, embora economicamente estejam bene�ciando essa indústria com relação à pirataria e a obsolescência do suporte físico, ainda se encontram no centro de polêmicas e do descontentamento de intérpretes, músicos e autores, no que diz respeito à remuneração dos direitos envolvidos. No entanto, as novas tecnologias trouxeram outras dimensões e complexidades nos negócios, envolvendo novas mídias, novos processos e intermediários, em constante transformação. Streaming 5G Com a implantação das redes 5G, conforme comentamos na aula anterior, os serviços de streaming existentes serão alçados a um novo patamar. Hoje A tecnologia 5G reduz drasticamente a latência (atraso) entre as ações executadas à distância, através da internet. Amanhã Com essa velocidade de ação e resposta (feedback), novos serviços de streaming serão desenvolvidos e implementados nas mais diversas áreas, desde carros e transportes sem motoristas a cirurgias e operação de máquinas e equipamentos a distância. Como já citamos anteriormente, será natural que diversos processamentos executados por softwares, instalados localmente em computadores pessoais, passem a ser oferecidos como serviços de streaming, em que os processamentos ocorrerão na nuvem ou em outros computadores remotamente localizados. Podemos vislumbrar que edições e processamento de vídeos, assim como processamento em estúdios de áudio e música, ocorram totalmenteonline, sejam esses estúdios virtuais ou não. javascript:void(0); A partir dessa perspectiva, não só teremos shows e transmissões de lives (transmissões ao vivo) com melhor resolução (qualidade), tanto no áudio quanto no vídeo, como também a possibilidade de performances, entre músicos e intérpretes em tempo real, localizados remotamente, em lugares geogra�camente diferentes! Certamente, novas regras de negociação e remuneração de direitos deverão ser discutidas, desenvolvidas e implementadas. Fonte: Shutterstock.com Do Download ao Streaming: Tecnologias emergentes e novos modelos de negócios Vamos conhecer um pouco dessa história: Clique nos botões para ver as informações. No início dos anos 1990, quando o instituto alemão Fraunhofer lutava pelo reconhecimento o�cial do seu codec de compressão de arquivos de áudio, o mp3, a gigante Philips, pioneira da tecnologia e detentora das patentes dos CDs, também estava presente no embate entre padrões de compressão de áudio e vídeo, tentando impor seu próprio padrão às decisões do MPEG, Moving Picture Experts Group. No Brasil, no mesmo período, a gravadora Polygram, divisão de música da Philips, lançou novamente seu catálogo de fonogramas através dos primeiros CDs comercializados no mercado fonográ�co brasileiro. O que não era divulgado por aqui, é que essa detentora de um dos maiores catálogos de música do mundo, também estava envolvida com a tecnologia digital de compressão de arquivos de áudio, através de um grupo chamado Musicam (formato mp2). Não foi à toa que nos anos seguintes a Philips vendeu a Polygram pois, provavelmente, já vislumbrava uma possível crise na indústria fonográ�ca em decorrência dessas novas tecnologias relacionadas à compressão de arquivos de áudio. 1990 De acordo com Witt (2015, p.46), “os visitantes do estande do Fraunhofer na feira de áudio da Audio Engineering Society em Paris em fevereiro de 1995 tiveram uma visão arrebatadora do futuro da distribuição musical: o disquete com um codi�cador para a criação dos arquivos, o computador pessoal para tocá-los e o player de bolso para ouvi-los onde quer que estivessem. A economia proporcionada por essa tecnologia era surpreendente. O codi�cador era gratuito, o mercado dos PCs estava explodindo e o player de bolso podia ser produzido por qualquer empresa de eletrônicos de consumo por uma taxa mínima de licenciamento a unidade”. 1995 Poucos anos depois, em 1999, surgiu o Napster, que era um serviço de compartilhamento de música baseado em uma tecnologia conhecida como P2P (peer-to-peer), ou seja, através da conexão a um servidor central era possível compartilhar músicas no formato mp3, originalmente armazenadas nos HDs dos computadores pessoais de milhares de pessoas conectadas em rede. Um exemplo de utilização dessa tecnologia é o compartilhamento de arquivos, através da internet, no formato de Torrents. 1999 As gravadoras demoraram para perceber o que estava em curso. De processo em processo, capitaneados pela parceria entre as gigantes da indústria fonográ�ca com a RIAA (Recording Industry Association of America), as empresas que produziam software de players para computadores ou dispositivos eletrônicos para reprodução de arquivos musicais no formato mp3, foram totalmente desencorajadas a comercializar ou disponibilizar seus produtos. Estava declarada a guerra contra a pirataria e o compartilhamento de música digital pela internet. Comentário Do Napster ao streaming foi relativamente rápido o percurso do desenvolvimento tecnológico, juntamente com a evolução do modelo de negócios hoje adotado pela distribuição e comercialização de música através da internet. Esse desenvolvimento continua a passos largos, fomentado por novas perspectivas no contexto da economia criativa. Blockchain Ao mesmo tempo em que as tecnologias de informação e comunicação se desenvolvem e se expandem, potencializadas por algoritmos complexos e pela inteligência arti�cial, a privacidade, a con�abilidade e a segurança dos dados e das informações compartilhadas em rede têm sido alvo frequente de ataques criminosos, fraudes, roubos e os mais variados delitos. Torna-se prioritária a necessidade de estabelecer transações mais seguras e con�áveis no ambiente digital. Atualmente, o que está em foco com esse objetivo é o blockchain, que é uma tecnologia de software que, juntamente com a inteligência arti�cial (AI), abre a possibilidade de negócios através da internet com transparência e con�abilidade, sem o aval e a validação centralizada de intermediários. Essa tecnologia, é a base das criptomoedas, mais precisamente do bitcoin, a moeda virtual que vem anunciando com grande alarde uma verdadeira revolução no mercado �nanceiro. Blockchain / Fonte: Shutterstock.com A inovação aqui é que as transações feitas com o bitcoin não passam por nenhum banco central, ou por qualquer órgão o�cial intermediário, que possa se responsabilizar por dar o aval ou uma certi�cação de credibilidade nas transações realizadas com essa moeda. A característica do blockchain é, justamente, a possibilidade de utilizar criptogra�a e registrar todas as operações realizadas com o bitcoin, de forma que possam ser auditadas e �scalizadas por todos os participantes envolvidos nessas transações com a moeda virtual. javascript:void(0); O blockchain resgata a tecnologia anteriormente utilizada pelo Napster, o P2P (peer-to-peer), com o diferencial de não precisar da mediação de um servidor central. Cada computador pessoal atua, ao mesmo tempo, como cliente e servidor, seja de arquivos ou informações. Open Music O blockchain abre novas perspectivas de negócios no universo digital. Uma dessas perspectivas, além das criptomoedas, é a do Open Music, uma iniciativa lançada em 2016 pelo Berklee College of Music e pelo MIT Media Lab, que tem como missão: Promover padrões abertos para a identi�cação de proprietários de direitos musicais; educar criadores sobre direitos de propriedade intelectual; e coordenar e promover a inovação em todo o ecossistema da indústria da música. Open Music Initiative, [s.d.], tradução nossa Entre os protocolos estabelecidos pelo Open Music, destacamos: 1 Explorar a criação de novas redes comerciais con�áveis. 2 Executar resolução de disputas. 3 Reduzir custos por meio de contratos inteligentes. 4 A profunda experiência entre membros (tais como o MIT Connection Science, IBM e Intel) em novas tecnologias como Blockchain para gerenciar e autenticar transações e links entre gravações de música (ISRC) e obras musicais (ISWC). 5 Novos modelos de negócios que antecipam a proliferação da distribuição de conteúdo gerado pelo usuário. Nestas aulas, pudemos vislumbrar quantas possibilidades, perspectivas e transformações estão em pleno movimento, tanto no campo da indústria criativa quanto na economia criativa. Não são apenas questões relacionadas apenas ao âmbito da dimensão tecnológica, mas, sobretudo, relacionadas às interações, atitudes e comportamentos socioculturais, que emergem, adaptam-se, questionam e estabelecem novos valores. A cibercultura continua em plena expansão, propondo novas respostas, novas questões e novos desa�os. Atividade 1) O que diferencia o streaming de áudio do download de áudio? 2) Dê um exemplo de como a tecnologia 5G poderá potencializar a produção musical. 3) Qual a relação entre a tecnologia blockchain e a tecnologia empregada pelo serviço de compartilhamento de música Napster? 4) Cite como o Open Music poderá impactar novos negócios que envolva música, através da internet? Notas Referências FRANCISCO, Pedro Augusto P.; VALENTE, Mariana Giorgetti. Da Rádio ao Streaming: ECAD, Direito Autoral e Música no Brasil. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2016. JENKINS, H. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2015. OPEN MUSIC INITIATIVE. Disponível em: https://open-music.org <https://open-music.org> . Acesso em: 9 set. 2019. WITT, S. Como a música �cou grátis. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.Explore mais Pesquise sobre as polêmicas envolvendo a revolução do streaming e os direitos autorais. Pesquise na internet para saber mais sobre o que é Torrent. https://open-music.org/
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