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TRAB DIREITO PENAL - IUS PUNIENDI

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TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL: O IUS PUNIENDI
- Aluno
O ius puniendi é definido tradicionalmente como o direito de punir. Em razão da vedação da autotutela, trata-se de uma atribuição exclusivamente do Estado, e, nos países em que impera do Estado Democrático de Direito, é extremamente regulamentado pelo Direito Penal de modo a evitar arbitrariedades. Assim, segundo Capez (2012), o ius puniendi pode ser considerado uma manifestação da soberania estatal, consubstanciada pela prerrogativa de se impor a um indivíduo que venha a agir contra a ordem social, em termos de direito penal. 
Em razão de seu caráter essencialmente social, é possível a criação de paralelos e associações entre diversas teorias desenvolvidas historicamente por grandes nomes da filosofia e da sociologia, relacionadas à sociedade, à justiça e ao próprio direito penal, dentre eles John Locke, Aristóteles e Hobbes. 
De plano, destaca-se que um dos principais objetivos do direito penal e, por consequência, do ius puniendi, é a manutenção da paz social e da ordem jurídica estabelecida pelo Estado. Contudo, esse era um poder atribuído aos particulares, inicialmente, conforme já destacam, em suas teorias, os contratualistas Hobbes e Locke. Foi a partir da formação das sociedades que esse poder passou a ser transferido aos governantes, tratando-se este de um ponto comum entre a teoria dos dois autores. 
Para John Locke, os indivíduos eram dotados de direitos naturais, cuja proteção dependia da criação de uma sociedade e, por consequência, de um sistema de governo. Trata-se, portanto, da ideia de manter a cidadania das pessoas através da garantia de seus direitos mais básicos, quais sejam a liberdade, a vida e a propriedade. É nessa toada que, a partir da transferência do ius puniendi ao Estado, os direitos individuais naturais seriam protegidos. 
Já para Hobbes, deveria ser disponibilizados todos os direitos particulares ao governante, a fim de que este pudesse efetivamente manter a paz na sociedade, conforme demonstra em sua obra mais famosa, O Leviatã. Tal perspectiva, para fins de Direito Penal, é exatamente a aplicada a partir da Teoria Moderna, vez que são transportados todos os direitos de autotutela dos particulares ao Estado. Ou seja, o ius puniendi, que anteriormente pertencia ao indivíduo, passou a ser de uso privativo do Leviatã, o Estado. 
Por óbvio, diferentemente da teoria inicialmente apresentada por Hobbes, os moldes hoje aplicados ao Direito Penal acerca do direito de punir, nos Estados Democráticos de Direito, não admite a arbitrariedade, de modo que há a regulamentação estrita do direito de punição. 
Portanto, é inegável a influência das teorias de Hobbes e de Locke na Teoria aplicada atualmente aos preceitos relacionados ao ius puniendi, o que pode ser extraído de seu próprio conceito e da razão pela qual tal conceito existe. 
É importante ainda destacar ser possível a correlação entre o ius puniendi e a noção de justiça trazida por Aristóteles. 
Ora, segundo o autor, a justiça seria a medida equivalente à igualdade e à equidade. Segundo o filósofo, agir com justiça depende da ação baseada não apenas na vontade humana, como também em sua consciência, sendo injustas as ações nascidas da ignorância, da coação e da paixão. 
Transportando essa ideia aos preceitos já elencados alhures, portanto, a noção de justiça aristotélica associada ao direito estatal de punir estaria relacionada À racionalidade aplicada por este no momento em que estariam sendo resolvidos os conflitos. Nesse sentido, presume-se que a racionalidade estaria sendo prejudicada nas hipóteses em que o ofendido exercesse aa autotutela, vez que seriam altas as chances de estar agindo sob a égide de fortes emoções, fazendo, assim, com que sejam causadas injustiças (GUIMARÃES, 2016). 
Dessa forma, a transferência do ius puniendi ao Estado, de acordo com a noção de justiça trazida por Aristóteles teria ligação com a imparcialidade e com a racionalidade a ser aplicada no momento em que fossem exercidas as ações punitivas. 
Logo, assim como indicado anteriormente, os ideais históricos e filosóficos relacionados à cidadania, à justiça e ao poder do Estado, principalmente ligados às ideias contratualistas, se relacionam intimamente ao conceito e noções acerca do ius puniendi. 
Não se pode esquecer que, acima de tudo, este conceito foi construído ao longo da história da sociedade e do direito penal, de modo que o estudo da filosofia por trás do termo não apenas ajuda a entender o direito penal e sua história em sentido amplo, como também faz compreender os conceitos mais básicos da sociedade e da manutenção da paz social. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Processual Penal. 19ª ed. Saraiva: São Paulo, 2012.
GUIMARÃES, Maurício Moura. Uma introdução da ideia de justiça em Aristóteles. Conjur, 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/47352/uma-introducao-da-ideia-de-justica-em-aristoteles. Acesso em 04 de jul de 2022.

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