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PROC_CIVIL_II_AULA_10_14_05_2021_R9

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL II – PROF. ALEX CADIER - AULA 10 – 14/05/2021
RESUMO DA ÚLTIMA AULA: FASE DECISÓRIA
· SENTENÇA
· Sentenças terminativas x sentenças definitivas;
· Princípio da primazia das decisões de mérito;
· Elementos da sentença (art. 489, CPC);
· Princípio da congruência ou adstrição ao pedido (arts. 490 e 492, CPC);
· Classificação das sentenças de mérito: teoria trinária e teoria quinária;
· Possibilidade de sentença ilíquida (art. 491, CPC);
· Novos fatos no momento da prolação da sentença (art. 493, CPC);
· Possibilidade de alteração da sentença após a sua publicação (art. 494, CPC).
TEMA DE HOJE: SENTENÇA (cont.) / COISA JULGADA
	HIPOTECA JUDICIÁRIA (art. 495, CPC): a sentença que condenar o réu a pagar prestação em dinheiro valerá como título constitutivo de hipoteca judiciária. O autor poderá apresentar cópia da sentença no respectivo registro de imóveis, para constituição da garantia, tornando-se credor hipotecário com direito de preferência nos casos de concurso de credores na penhora do imóvel. O registro poderá ocorrer mesmo antes do trânsito em julgado, conforme disposto no art. 495, §1º do CPC.
	Para se compreender em que consiste essa medida, suponha-se que A ajuizou uma ação de indenização por ato ilícito em face da Empresa B, pleiteando indenização pelos danos sofridos e o pagamento de pensão vitalícia em razão da sua incapacidade permanente para o trabalho. Os pedidos foram julgados procedentes, sendo a ré condenada ao pagamento de prestação mensal vitalícia, em dinheiro, no valor de R$ 3.500,00.
	Todavia, inúmeros fatos podem ocorrer ao longo do cumprimento dessa obrigação pecuniária mensal, podendo a empresa falir, encerrar irregularmente suas atividades ou mesmo parar de efetuar o pagamento. Nesses casos, o credor poderá obter a penhora do imóvel hipotecado como forma de garantia do pagamento da obrigação. Porém, se sobrevier a reforma ou a invalidação da sentença, o credor responderá por perdas e danos, independentemente de culpa, nos termos do art. 495, §5º, do CPC.
	REMESSA NECESSÁRIA (art. 496, CPC): publicada a sentença, a parte sucumbente poderá interpor recurso de apelação, no prazo de quinze dias, objetivando a reapreciação do julgado. O recurso interposto pela parte, nessa hipótese, será voluntário. Por sua vez, há casos em que a reapreciação do julgado será obrigatória, independentemente de recurso interposto pela parte. Trata-se da denominada remessa necessária, nos casos em que a sentença proferida contrariar os interesses da Fazenda Pública. Essa regra tem como escopo garantir mais controle sobre as decisões contrárias à Fazenda Pública em razão do interesse público envolvido.
	Nos termos do art. 496, §3º, do CPC, a remessa necessária não será cabível se a condenação ou proveito econômico perseguido no processo for inferior a: a) 1.000 (mil) salários mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito público; b) 500 (quinhentos) salários mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados e c) 100 (cem) salários mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público.
	A remessa necessária não será cabível, similarmente, se a sentença em desfavor da Fazenda Pública estiver fundamentada em precedentes judiciais do próprio tribunal ou de tribunais superiores. Nessa hipótese, o critério que excepciona a regra do caput do art. 496 do CPC independe do valor da condenação. O Código optou por fortalecer o sistema de precedentes judiciais mesmo quando for contrário aos interesses da Fazenda Pública.
	A remessa necessária permite a ampla revisão do julgado, tanto em intensidade quanto em extensão, assegurando uma análise acurada nas causas em que a Fazenda Pública for condenada.
COISA JULGADA – ARTS. 502-508, CPC
	Em todo processo, independentemente de sua natureza, haverá a prolação de uma sentença (ou acórdão nas ações de competência originária dos tribunais), que em determinado momento torna-se imutável e indiscutível dentro do processo em que foi proferida. Para tanto, basta que não seja interposto o recurso cabível ou ainda que todos os recursos cabíveis já tenham sido interpostos e decididos. A partir do momento em que não for mais cabível qualquer recurso ou tendo ocorrido o exaurimento das vias recursais, a sentença transita em julgado.
	Esse impedimento de modificação da decisão por qualquer meio processual dentro do processo em que foi proferida é chamado tradicionalmente de coisa julgada formal, ou ainda de preclusão máxima, considerando-se tratar de fenômeno processual endoprocessual. Qualquer que seja a espécie de sentença – terminativa ou definitiva – proferida em qualquer espécie de processo – conhecimento (jurisdição contenciosa e voluntária) ou execução – haverá num determinado momento processual o trânsito em julgado e, como consequência, a coisa julgada formal.
	Se todas as sentenças produzem coisa julgada formal, o mesmo não pode ser afirmado a respeito da coisa julgada material. No momento do trânsito em julgado e da consequente geração da coisa julgada formal, determinadas sentenças também produzirão nesse momento procedimental a coisa julgada material, com projeção para fora do processo, tornando a decisão imutável e indiscutível além dos limites do processo em que foi proferida. Pela coisa julgada material, a decisão não mais poderá ser alterada ou desconsiderada em outros processos.
	O fenômeno da coisa julgada, enquanto direito fundamental (art. 5º, XXXVI, CRFB), tem como foco principal estabilizar a decisão judicial que resolveu determinado conflito, após propiciar o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa no decorrer da atividade judicial. O art. 502 do CPC busca trazer uma definição legal do que seria coisa julgada: “Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso”.
	Conceito de Fredie Didier: Coisa julgada é um efeito jurídico (uma situação jurídica, portanto) que nasce a partir do advento de uma decisão jurisdicional sobre o mérito (objeto litigioso), fundada em cognição exauriente, que se tornou inimpugnável no processo em que foi proferida. E este efeito jurídico (coisa julgada) é, exatamente, a imutabilidade do conteúdo do dispositivo da decisão, da norma jurídica ali contida.
LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA (arts. 503-505, CPC):
	Os limites objetivos da coisa julgada correspondem ao tratamento da questão principal expressamente decidida na sentença de mérito. É nessa circunstância que a sentença de mérito tem força de lei, nos termos do art. 503 do CPC. Se for proposta uma ação pleiteando a rescisão contratual por inadimplemento e o juiz acolher o pedido do autor, os limites da coisa julgada englobarão a questão principal debatida (rescisão contratual), não mais podendo ser discutida em outro processo. Todavia, poderá o autor propor nova demanda para pleitear indenização pelo inadimplemento, uma vez que tal pretensão não foi alcançada pelos limites objetivos da coisa julgada. Em outras palavras, o pedido do autor não poderá ser reformulado em outra demanda.
	É na parte dispositiva da sentença, em regra, que se reconhece o limite objetivo da coisa julgada. Por esse motivo, o art. 504 do CPC estatui que não fazem coisa julgada os motivos, ainda que importantes, para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença (art. 504, I) e a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença (art. 504, II).
	Contudo, em alguns casos, a resolução da questão principal dependerá da resolução da questão prejudicial decidida em juízo. Por exemplo, para se decidir sobre se é cabível a reintegração de posse, o juiz deverá, antes de resolver o mérito, apreciar a questão prejudicial alegada, caracterizada pela suposta existência de contrato de locação. A questão principal (reintegração de posse) dependerá da resolução da questão prejudicial (existência de contrato de locação).Em caráter excepcional, o CPC/15 admite a incidência da coisa julgada sobre a questão prejudicial decidida, propiciando a solução integral do mérito (art. 6º). Consoante dispõe o art. 503, §1º, do CPC, a questão prejudicial decidida expressamente fará coisa julgada quando: a) dessa resolução depender o julgamento do mérito; b) a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não aplicando no caso de revelia; e c) o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. Preenchidos os requisitos legais, o julgamento da questão prejudicial fará coisa julgada material.
	A questão prejudicial não será acobertada pela coisa julgada nos casos em que houver restrições probatórias ou limitações à cognição que inviabilizem a análise aprofundada da questão prejudicial. Em tais casos, a questão prejudicial não fará coisa julgada, podendo ser discutida em um novo processo (art. 503, §2º).
RELAÇÃO JURÍDICA DE TRATO SUCESSIVO (Art. 505, CPC)
	O Código deu tratamento diferenciado às relações de trato sucessivo. São as obrigações que se renovam sucessivamente ao longo do tempo, tal como ocorre nas prestações alimentícias. O art. 505 do CPC diz que é vedado ao juiz decidir novamente questões já decididas. Contudo, a regra não se aplicará aos casos que tenham como objeto relação jurídicas de trato continuado e nos quais sobrevier modificação no estado de fato e de direito. Nessas hipóteses, a parte poderá pedir a revisão do que foi estatuído na sentença (art. 505, I). É o que ocorre comumente nas sentenças que fixam alimentos. Havendo aumento das necessidades do alimentando ou redução da possibilidade, o interessado poderá pedir a revisão do percentual estabelecido, mesmo após o trânsito em julgado. É a própria natureza da obrigação, por ser sucessiva, que autoriza o afastamento da incidência da coisa julgada. Enquanto a obrigação perdurar, poderá ser revista nos termos do art. 505, I, do CPC.
LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA (art. 506, CPC):
	Os limites subjetivos da coisa julgada estão relacionados com as pessoas que serão afetadas por ela. Em conformidade com art. 506 do CPC, a sentença faz coisa julgada entre as partes, não prejudicando terceiros. A regra não se aplica nas hipóteses de alienação de bem litigioso. Segundo redação do art. 109, §3º, do CPC, os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias se estendem ao adquirente e ao cessionário.
PRECLUSÃO E EFICÁCIA PRECLUSIVA DA COISA JULGADA (arts. 507-508, CPC)
	O art. 507 do CPC veda à parte discutir, no curso do processo, as questões já decididas anteriormente – cuida-se da preclusão (que poderá ser lógica, temporal ou consumativa). A restrição aplica-se tanto às partes como ao juiz. A preclusão é a perda do direito de se praticar um ato dentro do processo e poderá ocorrer em vários momentos do processo. A principal finalidade da preclusão é assegurar a marcha processual contínua e para a frente, pois, sendo praticado ou não o ato, o processo avançará para a etapa seguinte.
OBS: A preclusão para a prática de uma faculdade processual pode assumir as seguintes formas: (i) preclusão temporal: as partes poderão alegar as nulidades porventura identificadas, devendo fazer na primeira oportunidade que tiverem; (ii) preclusão lógica, em que há inconsistência entre atos praticados sucessivamente pela mesma parte (ex.: requerer a homologação do divórcio e depois recorrer da sentença homologatória); ou (iii) preclusão consumativa, aquela em que há insistência da parte em questão já decidida pelo juiz e não atacada por recurso no momento próprio (ex.: indeferido o pedido de exibição de documento, a parte interessada não agrava e, após algum tempo, renova o pedido sem acrescentar qualquer elemento novo).
	Diversamente, a coisa julgada é um direito fundamental que tem como objetivo primordial estabilizar as questões principais decididas pelo Poder Judiciário e garantir a segurança jurídica.
	Por outro lado, a eficácia preclusiva da coisa julgada (art. 508, CPC) é o fenômeno processual que consiste em considerar, após o trânsito julgado, deduzida e repelida toda sorte de alegações que as partes poderiam citar, mas que, por algum motivo, não citaram. Assim, não poderá a parte autora, que teve sua pretensão indenizatória julgada improcedente, renovar a demanda com novas alegações, que poderiam ter sido articuladas no processo anterior, para tentar obter resultado positivo.
COISA JULGADA NO PROCESSO COLETIVO
	No processo coletivo, a coisa julgada é sensivelmente remodelada. A sentença coletiva, por vezes, afeta o interesse de diversas pessoas, quer integrem a relação jurídica processual, quer não. Isso ocorre porque a sentença genérica tem como objeto os direitos coletivos, difusos ou individuais homogêneos.
	A coisa julgada no processo coletivo tem regime próprio e ocorrerá de acordo com o direito tutelado e com o resultado obtido com o processo. O art. 103 do Código de Defesa do Consumidor apresenta três regras para a incidência da coisa julgada nessas situações. Ocorrerá a coisa julgada: (a) erga omnes, nas ações coletivas, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (art. 103, I); (b) ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas (art. 103, II); e (c) erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores.
	Em observância à própria dimensão do processo coletivo e à extensão de pessoas afetadas pela sentença coletiva, a coisa julgada, em regra, somente incidirá se for procedente ou improcedente, com base em provas que não deixam dúvidas sobre a questão debatida. Nas demais hipóteses, a ação coletiva poderá ser renovada por outro legitimado.
INSTRUMENTOS DE REVISÃO DA COISA JULGADA
	No Brasil, a coisa julgada não é absoluta. Há instrumentos para rever a coisa julgada. Esses instrumentos formam um verdadeiro arsenal contra a coisa julgada. São quatro os principais instrumentos de revisão:
	a) Ação Rescisória: (arts. 966-975, CPC) É o mais comum. Se caracteriza por ter o prazo decadencial de 2 anos e permitir a revisão da coisa julgada por questões de justiça e por questões formais na sentença. É um instrumento muito amplo.
	b) Querella Nulitatis: (sem previsão legal) Não tem prazo e serve para questões formais relativas à citação.
	c) Correção de erros materiais: (art. 494, CPC): não se trata propriamente de revisão, mas mera correção de algum ponto da decisão que não influencia no mérito do julgado. Pode ser feito a qualquer tempo e de ofício. (ver RESP 1685092/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/2020, DJe 21/02/2020).
	d) Revisão de sentença na fase do seu cumprimento, fundada em lei, ato normativo ou em interpretação tidos pelo STF como inconstitucionais: Essa hipótese é uma outra forma de revisar a coisa julgada prevista no art. 525, §§ 12-16 do CPC.
Obs: relativização da coisa julgada

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