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FACULDADE ANHANGUERA SÃO JOSÉ GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA MOLÉSTIAS INFECCIOSAS E ORNITOPATOLOGIA APLICADAS À MEDICINA VETERINÁRIA DOCENTE LAURA KOPSTEIN CORREA MICOPLASMOSES EM PEQUENOS RUMINANTES BEATRIZ SALLES, DANIELA B. ZIMMERMANN, DANIELA FIGUEIRÓ, JORJANE ALINE DE MORAES, MAITÊ FARIAS FELER, MARIA EDUARDA SILVA TEIXEIRA, RAFAELA PIRES DE LIMA PAULO SÃO JOSÉ/SC 2023 Introdução As micoplasmoses são enfermidades que afetam inúmeras espécies, dentre elas, os caprinos e ovinos. Segundo Oliveira et al (2004), os micoplasmas são organismos difundidos na natureza que afetam desde mamíferos a plantas.Se diferenciam das outras espécies de bactérias pelo seu tamanho diminuto e ausência total de parede celular. Usualmente utilizam-se de hospedeiros e tecidos específicos, provavelmente em decorrência da sua exigência nutricional e obrigação do modelo de vida parasitária. As espécies mais importantes relatadas para pequenos ruminantes são M.mycoides sub capri, M. mycoides capricolum e M. mycoides capripneumoniae.(DaMassa et al, 1992; Gutierrez et al, 1993). Em pequenos ruminantes, os micoplasmas são associados a doenças respiratórias, artrite, doenças de esfera reprodutiva e lesões oculares. Destacam-se entre esta enfermidades a Pleuropneumonia Contagiosa dos Caprinos(PPCC), a Agalaxia Contagiosa e a Ceratoconjuntivite Infecciosa, que são designadas pela Organização Internacional de Epizootias (OIE) como enfermidades da lista B pelo impacto econômico que ocasionam nos rebanhos, (Contagius…,2004; Nicholas, 2002). Pleuropneumonia Contagiosa dos Caprinos (PPCC) Segundo Rovid, (2016), a Pleuropneumonia Contagiosa Caprina é causada pelo Mycoplasma capricolum subsp. capripneumoniae, Por serem agentes de rápida disseminação,os mycoplasmas estão enquadrados na lista B da OIE e são doenças de notificação compulsória para o MAPA. (VASCONCELLOS, 2006, p.9) Sobre a patogenia da doença, Vasconcellos (2006) relata que a Pleuropneumonia Contagiosa Caprina, doença nunca relatada no Brasil, ocorre como pneumonia aguda fibrinosa intersticial com presença de pleurisia, acometendo somente caprinos. O agente M. capricolum subsp. capripneumoniae é extremamente patogênico, sendo que a enfermidade apresenta morbidade de 100% e mortalidade de 60 à 100%. Essa enfermidade é transmitida por contato direto, através da inalação de aerossóis. Portadores crônicos podem existir, porém isso ainda não foi comprovado.(ROVID, 2016). De acordo com Oliveira (2005), os primeiros sinais clínicos observados são dificuldade na locomoção e febre, embora os animais continuem se alimentando e ruminando. Posteriormente, são observados sinais de dificuldade respiratória, tosse, corrimento nasal claro até purulento e sialorréia Rovid (2016) descreve as formas superaguda, aguda e crônica da enfermidade. As cabras afetadas pela forma superaguda podem morrer dentro de 1 a 3 dias com sinais clínicos discretos. Na forma aguda, os sinais iniciais são de febre elevada (41-43°C), letargia e anorexia, seguidas de tosse e dispneia. Cabras afetadas na forma aguda geralmente morrem entre 7 a 10 dias. Os casos subagudos ou crônicos tendem a ser mais leves, ocorrendo tosse principalmente após esforço físico. A PPCC crônica é caracterizada por tosse crônica, descarga nasal e prostração. Rovid, 2016, p.2 relata que: O diagnóstico definitivo pode ser feito através da detecção de M. capripneumoniae no tecido pulmonar, exsudato de lesões pulmonares, líquido pleural ou linfonodos regionais colhidos na necropsia. As amostras devem ser retiradas de lesões pulmonares ativas, preferentemente de áreas de transição consolidadas e não consolidadas. Embora a morfologia não forneça resultados definitivos, o M. capripneumoniae possui uma estrutura filamentar ramificada em exsudatos, esfregaços, imprints ou cortes de tecidos examinados ao microscópio. Outros micoplasmas caprinos costumam aparecer como organismos filamentosos curtos ou cocobacilares. O M. capripneumoniae e outros membros do grupo de M. mycoides interagem em testes sorológicos e compartilham semelhanças bioquímicas e antigênicas, tornando a identificação específica desse organismo difícil e demorada, a menos que sejam utilizados testes genéticos como os testes de reação em cadeia da polimerase (PCR). O diagnóstico diferencial deve considerar outros micoplasmas que também causam pleuropneumonia em caprinos, Mycoplasma mycoides subsp. mycoides LC apresenta uma patogenicidade moderada e causa também mastite, artrite e conjuntivite, à necropsia evidencia-se um característico espessamento do septo interlobular; Mycoplasma mycoides subsp. capri apresenta também uma patogenicidade moderada, causa artrite e conjuntivite. Pasteurella spp. são freqüentemente associadas com pneumonia em caprinos e podem dificultar a identificação dos principais agentes etiológicos. ( RODRIGUES, 2005, p. 24 Ceratoconjuntivite em Ovinos e Caprinos Segundo Rodrigues (2005), o agente etiológico mais importante é Mycoplasma conjunctivae, capaz de causar a doença quando inoculado experimentalmente, e em caprinos também pode ser causada pelo Mycoplasma agalactia. Sua ocorrência nos caprinos costumava ser associada a quadros multissistêmicos causados por M. Mycoides subsp. Capri e M. Mycoides subsp. Mycoides LC em caprinos jovens (Nascimento et al., 1986), que manifestavam quadros típicos de pneumonia associada com ceratoconjuntivite e artrite. Os primeiros relatos em ovinos foram expostos por Rodriguez et al. (1996) no sul da Espanha e Janovsky et al. (2001) na Suécia, enquanto que no Brasil, segundo Gregory et al. (2003) o primeiro surto em caprinos adultos ocorreu no estado de São Paulo. De ocorrência mundial, acomete caprinos e ovinos de todas as idades, mas especialmente os jovens. Com surtos nos fins da primavera, verão ou outono, e com maior ocorrência em potreiros com grande concentração de animais e no verão devido às altas temperaturas, ar empoeirado, radiação excessiva e disposição de vetores como moscas e outros insetos. A transmissão pode ser indireta através de moscas, gramíneas com hastes longas e poeira contendo secreções lacrimais e, direta, por meio de gotículas exaladas ou contato direto com secreções lacrimais. Devido a imunidade adquirida após um surto, não costuma acometer rebanhos por cerca de dois a três anos (Rodrigues, 2005). De acordo com Rodrigues (2005), a doença costuma ser aguda disseminando-se rapidamente e animais jovens são mais suscetíveis. Os sinais clínicos iniciam com hiperemia da conjuntiva, secreção seromucosa, lacrimejamento, blefarospasmo e fotofobia. Posteriormente, pode ocorrer ceratite com vascularização e diversos graus de opacidade da córnea, podendo ocorrer ulceração da córnea. Ambos olhos podem ser acometidos podendo levar a cegueira. Em associação com Chlamydia pode ocorrer, simultaneamente, poliartrite em cordeiros e aborto em em caprinos. O curso clínico dos casos costuma ser de 3 a 10 dias, mas dada a severidade das lesões, a cicatrização pode demorar de 3 a 4 semanas. A doença resulta consequentemente em déficits de ganho de peso, produção de lã e fertilidade dos rebanhos. O diagnóstico é dificultado por condições de isolamento, identificação do agente, pela indisponibilidade de anti soro e antígeno nacional para a realização de testes sorológicos e obtenção de dados epidemiológicos existentes que possam distingui-la de outras enfermidades similares. Dentre os vários testes utilizados, destacam-se: fixação de complemento, imunofluorescência direta, hemaglutinação passiva, aglutinação e o ELISA, que vêm demonstrando alta sensibilidade. Entretanto, todos necessitam de componentes como o antisoro e o antígeno para a sorotipagem. Outros métodos de diagnóstico têm sido usados, como a utilização de sonda de DNA em tecido animal e a técnica da Reação de Polimerase em Cadeia (PCR), demonstrando alta sensibilidade e rapidez. Agalaxia Contagiosa Segundo Madanat (2001), a agalaxia contagiosafoi descrita primeiramente por Metaxa na Itália em 1816, atualmente ocorre em vários países que produzem estas espécies intensivamente. A doença não apresenta alta mortalidade, porém, sua taxa de morbidade apresenta-se entre 30% a 60%, sendo o seu agente causador é o Mycoplasma agalactiae, que foi isolado inicialmente em 1923. A agalacia contagiosa é uma síndrome multi-etiológica que afeta caprinos, ovinos e alguns ruminantes silvestres. Os sinais clínicos mais comuns são: mastite, conjuntivite e artrite. Também pode causar problemas respiratórios, reprodutivos (abortos e redução da qualidade espermática) e, em casos raros, nervosos; A gravidade dos sintomas depende da virulência da estirpe implicada e de outros aspectos epidemiológicos (infeções concomitantes, factores stressantes...), podendo causar a morte, sobretudo em animais jovens; Pode manifestar-se sob a forma de surto ou de infeção crónica. As perdas econômicas estão associadas a quebras de produção de leite (até 50%) e de carne, aumento das mastites subclínicas, mortalidade (por vezes > 20%) ou refugo precoce dos animais infectados, rejeições de pulmões no matadouro e custos de diagnóstico e tratamento. (QUINTAS; RODRIGUIZ, 2021, P. 03). Segundo Quintas e Rodriguez (2021) o ponto mais crítico em relação ao controle da doença é a presença de portadores assintomáticos no rebanho vindos de fora, que eliminam as bactérias e infectam outros animais. De acordo com DaMassa e Brooks (1991), a doença se dissemina muito rápido e isto se dá pelo contato de animais sadios com portadores, ou ambientes infectados por descargas nasais, fezes, urina e excreções articulares. Já em animais jovens a contaminação se dá pela ingestão de leite e colostro, sendo que o agente pode ser excretado no leite por no mínimo 12 meses e no máximo 12 anos. O tratamento para Agalaxia contagiosa realizado com antibióticos para Quintas e Rodriguez (2021) tem uma utilidade limitada pois, não eliminam a bactéria, mas ajudam a controlar os sintomas. Segundo eles, é importante determinar a sensibilidade aos antibióticos dos agentes isolados. Surto: Administrar antibióticos e eliminar os animais que não respondem ao tratamento; Testes de sensibilidade aos antibióticos da(s) estirpe(s) do rebanho; Não vacinar em pleno surto clínico; Tratamento térmico do colostro (60 min, a 60 °C) e aleitamento artificial; Avaliar a possibilidade de eliminar todos os animais infetados (uma vez que a cura bacteriológica é dificilmente demonstrável). Infeção crónica: Evitar o contacto com outros rebanhos (pastoreio, bebedouros, feiras, etc.); Não comprar animais de rebanhos infetados; Se o estatuto da exploração de origem for desconhecido: rastreio individual com pelo menos dois tipos diferentes de amostra; Correta rotina de ordenha; Biossegurança e profilaxia médico-sanitária de outras doenças que possam provocar imunossupressão; Implementação de programas voluntários de classificação sanitária com rastreios regulares (semestralmente ou anualmente) e eliminação dos animais infetados. ( QUINTAS; RODRIGUIZ, 2021, P. 06). Diagnóstico Quanto ao diagnóstico, Vasconcellos, 2006 aponta: O diagnóstico é realizado pela observação da sintomatologia clínica mais evidente e através de provas laboratoriais como o isolamento e identificação dos agentes envolvidos, provas sorológicas e/ou moleculares. O principal material clínico utilizado para o diagnóstico laboratorial é o leite, sendo que secreção ocular e de conduto auditivo, muco vaginal ou nasal e líquido articular podem ser analisados, dependendo dos sinais clínicos apresentados pelos animais. Tratamento De acordo com Hannan (2000), Madanat (2001), Nascimento (2003) o tratamento das micoplasmoses é baseado no uso da antibioticoterapia sistêmica, por um longo período de tempo para se evitar recidivas e o aparecimento de novas cepas. Vem sendo utilizados vários antibióticos e quimioterápicos para o tratamento, exceto penicilina e outros antibióticos b-lactâmicos com atuação na parede celular, que são inativos contra o mycoplasma, visto pela ausência de parede celular na mesma. O tratamento sintomático é indicado, em casos de pneumonia preconiza-se secretóliticos, tratamento local em casos de mastite e colírios a base de antibióticos. Os principais quimioterápicos utilizados para o tratamento incluem Enrofloxacina, Oxitetraciclina, Lincomicina, Ciprofloxacina e Norfloxacina. Após o término do tratamento existe a possibilidade do reaparecimento das micoplasmoses, em casos de surtos, o tratamento deve-se ser preconizado até que medidas efetivas sejam adotadas para o controle. Prevenção e controle Segundo Oliveira e col. (2004), as medidas de prevenção consistem: Na aquisição de animais, realizar quarentena (isolamento dos animais e realização de exames), isolamento e separação de animais com sinais clínicos, realização de diagnóstico periódico no rebanho, inspeção dos animais e exames laboratoriais, medidas higiênicas do animal antes, durante e depois da ordenha, implantação de linha de ordenha, em rebanhos infectados é recomendado a separação das crias ao nascimento, impedindo contato com suas mães. Bem como fornecer colostro termizado (60 °C/60 minutos) procedente das mães, limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos de ordenha e cuidados com a saúde e a higiene de quem faz o manejo dos animais. Para a prevenção fora do País existem vacinas para Pleuropneumonia Contagiosa Caprina, mas ainda não são encontradas no Brasil. Também não existem vacinas específicas para Ceratoconjuntivite em ovinos e caprinos disponíveis comercialmente. Quanto a Agalaxia contagiosa existem vacinas, mas elas não previnem a infecção,conferem uma resposta imunitária variável, não superior a 6-9 meses, que pode reduzir a sintomatologia e a excreção de micoplasmas nos animais vacinados. Ambas são de notificação obrigatória em no máximo 24h. Referências AL-MOMANI, W., NICHOLAS, R.A., ABO-SHEHADA, M.N. Risk factors associated with Mycoplasma agalactiae infection of small ruminants in northern Jordan. Preventive veterinary medicine. 83, 1-10, 2008. ALVES, B. H.L.S; SILVA, J. G.; MOTA, A. 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OLIVEIRA, Andréa Alice da Fonseca, ALVES, Francisco Selmo Fernandes, PINHEIRO, Raymundo Rizaldo, CHAPAVAL, Lea, PINHEIRO, Alice Andrioli, Micoplasmose em pequenos ruminantes – Embrapa, Documento 53, ISSN 1676-5679, páginas 10 a 23, Sobral – CE, dezembro de 2004. Acesso em 19/05/2023. QUINTAS, H.; RODRIGUEZ, C. D. L. F. Agalaxia contagiosa, Lentivírus e doenças iceberg em pequenos ruminantes - Copyright Publicações Ciência e Vida, Lda.-Lisboa - PT. p. 1-36, 2021. Anna Rovid, 2016. Pleuropneumonia Contagiosa Caprina. Traduzido e adaptado a situação do Brasil por Mendes, Ricardo, 2019. Disponível em http://www.cfsph.iastate.edu/DiseaseInfo/factsheetspt.php?lang=pt. Vasconcellos Cardoso, Maristela. Biológico, São Paulo, v.68, n.1/2, p.9, jan./dez., 2006. http://www.cfsph.iastate.edu/DiseaseInfo/factsheetspt.php?lang=pt RODRIGUES, Paulo Ricardo Centeno, Medicina de Ovinos e Caprinos, Universidade luterana do Brasil, páginas 102e 103, Canoas – RS, dezembro de 2005. Acesso em 19/05/2023. RODRIGUES, Paulo Ricardo Centeno, Medicina de Ovinos e Caprinos, Universidade Luterana do Brasil, página 24, Canoas - RS, dezembro de 2005. Acesso 21/05/2023
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