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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO JÉSSICA DANTAS DE ANDRADE “SE NÃO RODA, NÃO GANHA”: O SIGNIFICADO DO TRABALHO PARA UMA PARCELA DE TRABALHADORES INFORMAIS SOB A ÓTICA DE ENTREGADORES E MOTORISTAS DE APLICATIVO DE FORTALEZA (CE). FORTALEZA 2022 JÉSSICA DANTAS DE ANDRADE “SE NÃO RODA, NÃO GANHA”: O SIGNIFICADO DO TRABALHO PARA UMA PARCELA DE TRABALHADORES INFORMAIS SOB A ÓTICA DE ENTREGADORES E MOTORISTAS DE APLICATIVO DE FORTALEZA (CE). Monografia apresentada ao Curso de Administração do Departamento de Administração da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Administração. Orientador: Profª. Dra. Elidihara Trigueiro Guimarães. FORTALEZA 2022 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e oportunidade de me desenvolver. Em segundo lugar, agradeço a minha família, em especial a minha mãe, Eliane Dantas e meu pai, João Batista que sempre priorizaram minha educação, e através de muito esforço, formaram quem sou hoje. Agradeço também ao meu irmão, Rayron, por ser o meu eterno laço de confiança e parceria. Em especial, também agradeço aos meus avós, principalmente minha única avó viva, Marlúcia, mulher batalhadora. Agradeço também aos meus tios e primos. Agradeço ao meu esposo, Isac Emerson que por anos tem me dado a força que preciso para continuar, assim como o cuidado, admiração e confiança. Agradeço a essa instituição que por mais de 4 anos ocupou uma parte importante em minha vida, e sempre significará muito. Agradeço, em especial a minha orientadora, Elidihara Trigueiro Guimarães, que ao longo de duas disciplinas e nessa etapa de conclusão de curso, acompanhou meu trajeto neste trabalho e me instigou a evoluir o meu pensamento acerca do tema, e da vida. Agradeço aos demais professores que me acolheram e me fizeram enxergar o mundo com outros olhos e me marcaram profundamente: Vicente Melo, Augusto Cézar de Aquino Cabral, Suzete Suzana Rocha Pitombeira, Ana Paula Moreno Pinho, Marcia Zabdiele Moreira, Luis Carlos Murakami, Cláudio Bezerra Leopoldino. RESUMO O trabalho é uma das esferas mais importantes da nossa vida, sendo, portanto, importante para a existência humana. Naturalmente atribuímos sentidos às coisas, pois há um processo subjetivo a cada indivíduo, sujeito às nossas intencionalidades e habilidades cognitivas (Fiske,1992). MOW (1987) foi a equipe pioneira a estudar sobre o significado do trabalho, criando um modelo para tal e definindo esse construto como uma construção de conhecimentos dos indivíduos de experiências pessoais com o trabalho. Tal modelo possibilitou o surgimento de outros modelos, como o de Borges (1998,1999) que foi utilizado neste trabalho. Borges (1998,1998) propôs um modelo de estudo do significado do trabalho que foi estruturado em quatro dimensões: centralidade do trabalho, atributos valorativos, atributos descritivos e hierarquia de valores. O objetivo geral deste trabalho foi analisar o significado do trabalho para os trabalhadores informais que atuam como entregadores e motoristas de aplicativos, da cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. Os resultados da presente pesquisa mostram que o trabalho é uma esfera central para os trabalhadores de aplicativos de Fortaleza, no entanto, a esfera da família foi elencada como mais importante do que o trabalho. Quanto os atributos valorativos, que envolvem como o trabalho dele ser, a segurança, mais direitos ou valorização por parte das empresas dos aplicativos e suporte, foram os fatores valorativos mais elencados pelos entrevistados. Quanto aos atributos descritivos, que diz respeito a como o trabalho é na forma concreta, os entrevistados relataram que as condições de trabalho e recompensa econômica não são adequadas e sentem um nível de desgaste maior, tanto fisicamente, quanto emocionalmente e psicologicamente. Já em relação a quarta dimensão: hierarquia de atributos, a maioria dos trabalhadores priorizam os atributos descritivos ao escolherem como fator de maior importância: às condições de trabalho, porém, todos expressaram que ambos são importantes e estão conectados. Palavras-chave: Significado do trabalho; Trabalhadores de Aplicativo; Trabalho informal. ABSTRACT Work is one of the most important spheres of our lives and is therefore important for human existence. We naturally attribute meanings to things, as there is a subjective process for each individual, subject to our intentions and cognitive abilities (Fiske, 1992). MOW (1987) was the pioneering team to study the meaning of work, creating a model for it and defining this construct as a construction of individuals' knowledge of personal experiences with work. This model enabled the emergence of other models, such as Borges (1998, 1999) which was used in this work. Borges (1998, 1998) proposed a study model of the meaning of work that was structured in four dimensions: centrality of work, evaluative attributes, descriptive attributes and hierarchy of values. The general objective of this work was to analyze the meaning of work for informal workers who work as delivery people and app drivers in the city of Fortaleza, in the state of Ceará. The results of this research show that work is a central sphere for application workers in Fortaleza, however, the family sphere was listed as more important than work. As for the evaluative attributes, which involve how his work is, security, more rights or appreciation on the part of the applications and support companies, they were the evaluative factors most mentioned by the interviewees. As for the descriptive attributes, which concerns how the work is in a concrete way, the interviewees reported that the working conditions and economic reward are not adequate and they feel a greater level of wear, both physically, emotionally and psychologically. Regarding the fourth dimension: hierarchy of attributes, most workers prioritize descriptive attributes when choosing the most important factor: working conditions, however, all expressed that both are important and are connected. Keywords: Meaning of work; Application Workers; Informal work. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO…………………………………………………...…….. 01 2 SIGNIFICADO DO TRABALHO ……………………………………… 03 2.1 Trabalho como uma cognição subjetiva, sócio-histórica e dinâmica………………………………………………………………… 03 2.2 Definição de Significado do Trabalho…………………………….. 05 2.3 Dimensões que integram o significado do trabalho - The Meaning of Work - MOW (1987)…………………………………….. 07 2.4 Dimensões que integram o significado do trabalho - Borges (1998;1999)……………………………………………………………... 13 3 TRABALHO INFORMAL……………………………………………... 18 3.1 Cenário do Trabalho Informal: No mundo………………………... 18 3.2 Cenário do Trabalho Informal: No Brasil…………………………. 21 3.3 Cenário do Trabalho Informal: No Ceará…………………………. 24 3.4 Cenário do Trabalho Informal: Em Fortaleza…………………….. 26 4 O DIA A DIA DO TRABALHO DOS ENTREGADORES E MOTORISTAS DE APLICATIVO……………………………………... 28 5 METODOLOGIA DA PESQUISA…………………………………….. 33 6 RESULTADOS………………………………………………………….. 39 6.1 Centralidade do Trabalho……………………………………………. 42 6.2 Atributos Valorativos…………………………………………………. 47 6.3 Atributos Descritivos………………………………………………… 51 6.4 Hierarquia de Atributos……………………………………………… 55 6.5 Considerações da Pesquisa………………………………………… 57 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS….……………………………………….. 59 8 REFERÊNCIAS………………………………………………………… 61 APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO …………………………………… 72 APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA………………………. 74 ANEXO A - MOBILIZAÇÃO DA CATEGORIA DE ENTREGADORES DE APLICATIVOS….…………………………... 75 ANEXO B - YURI, ENTREGADOR DE APLICATIVO, FALECE APÓS ACIDENTE DE MOTO ENQUANTO TRABALHAVA……… 75 ANEXO C - MENSAGEM DO SUPORTE DO IFOOD PARA O YURI……………………………………………………………………... 76 1 1 INTRODUÇÃO O trabalho ocupa uma das posições centrais de nossa vida. Desde a nossa infância, incorporamosem nossas brincadeiras as atividades voltadas ao trabalho que temos contato até aquele momento, das quais vemos nossos familiares realizando. Em nossa juventude, temos marcado perguntas como: “O que você quer ser quando crescer? ”, “Com o que você pretende trabalhar? ”. Ou seja, nos preparamos e somos instigados por toda a nossa vida a pensar e agir em busca de um trabalho. Em algumas culturas, o trabalho é uma dimensão central na vida do indivíduo. Dado a sua importância, estudiosos passaram a se dedicar a este tema, como equipe MOW (1987), pioneira no estudo sobre significado do trabalho e inspirou o surgimento de outros modelos como o de Borges (1998;1999). Borges e Tamayo (2001) descrevem que o trabalho é rico, tanto no sentido individual, quanto social, sendo o meio de produção para cada indivíduo, e mais do que possibilitar a sobrevivência através do seu retorno financeiro, é também um meio pelo qual criamos sentidos existenciais. No entanto, para uma parcela considerável da população, a nível mundial e local, o trabalho representa uma forma de sobrevivência, levando-as a vivenciar o trabalho informal. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em relação a 2018, mostraram que duas bilhões de pessoas estavam no trabalho informal, sendo a maioria dessa parcela da população pertencente a países emergentes e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Com a pandemia do COVID-19 e o aumento de delivery, o trabalho como motorista e entregador de aplicativos aumentou, considerando também o aumento do desemprego, no entanto, antes desse período já havia um forte movimento de pessoas que migraram para trabalhar como trabalhadores por aplicativo. Diante do exposto, a relevância do presente trabalho pautou-se na importância de expandirmos a compreensão do significado do trabalho considerando o contexto e o tipo de serviço desses trabalhadores, dado que o significado do trabalho é subjetivo, sócio-histórico e dinâmico (Borges, 1996; 1998; Borges e Tamayo, 2001). Ademais, a autora desta pesquisa dedicou-se por 2 um período em sua vida, meses iniciais da pandemia, a este tipo de serviço, possibilitando-a ter acesso a vivências a partir do contato com outros trabalhadores por aplicativo que instigaram seu interesse pelo tema. O problema da presente, portanto, foi: Qual o significado do trabalho para os entregadores ou motoristas de aplicativo de Fortaleza? O objetivo geral deste trabalho foi analisar o significado do trabalho para entregadores e motoristas de aplicativos, da cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. Para atingir o objetivo geral, foi elencado três objetivos específicos que nortearão a realização da presente pesquisa: a) Revisar literatura, apanhado teórico sobre o significado do trabalho. b) Levantar dados sobre o cenário do trabalho informal no Brasil, com foco nos motoristas e entregadores de aplicativo. c) Interpretar a percepção do significado do trabalho para esses trabalhadores a partir dos dados coletados, por meio das entrevistas. O presente trabalho foi dividido entre (1) Introdução, (2) Significado do Trabalho, (3) Trabalho Informal, (4) O Dia a Dia do Trabalho dos Entregadores e Motoristas de Aplicativo, (5) Metodologia da Pesquisa, (6) Resultados, (7) Considerações Finais, (8) Referências e: APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO, APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA e ANEXO A - FOTOS. 3 2 SIGNIFICADO DO TRABALHO Nas últimas décadas, temos presenciado profundas transformações na sociedade, em todos os âmbitos da vida, principalmente no trabalho. O trabalho é parte importante da existência humana. Em nossa sociedade, predominantemente cristã, há um dito popular que caracteriza essa relação de trabalho e sua significância: "o trabalho dignifica o homem". Segundo Fiske (1992), o processo de atribuir significado é subjetivo para cada indivíduo e está sujeito a sua intencionalidade e habilidades cognitivas, trazendo "as marcas de sua inserção no mundo". Ademais, o caráter central do trabalho para a humanidade foi determinante para a manutenção da vida do homem, individual e coletivamente (SACHUK, ARAÚJO; 2007). 2.1 Trabalho como uma cognição subjetiva, sócio-histórica e dinâmica Para Bendassolli (2007), o trabalho humano é objeto de estudo de múltiplas áreas das ciências, a saber: Antropologia, História, Economia, Sociologia, Psicologia e Filosofia, sendo uma atividade conectada com a história da humanidade, tornando-o confundível e inseparável da nossa existência (JACQUES, 1996). Segundo Borges et. al (2008), a forma de conceber o trabalho, executá-lo e as relações de produção estabelecidas nessa dinâmica, ou seja, tudo o que integra o trabalho, são elementos que foram historicamente criados ao longo do tempo, à medida que evento históricos como a evolução técnico-científica e cultural, em cada sociedade, se concretizaram. Por exemplo, uma problemática da sociedade atual diz respeito ao: Enorme desemprego estrutural, um crescente contingente de trabalhadores em condições precarizadas, além de uma degradação que se amplia, na relação metabólica entre homem e natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de mercadorias e valorização do capital. (ARTUNES, 2005, p. 226). Segundo Marx (1983), no modo de produção capitalista o trabalho aliena, pois, o produto e o processo de produção se tornam estranhos ao trabalhador. Nesse sistema, o trabalhador vende sua força para sobreviver, 4 ressignificando a visão de liberdade frente ao trabalho e o afastando do que ele realiza. Goulart (2009, p. 53) ressalta que no pós-fordismo, o trabalho se reduz a uma natureza instrumental dirigida a fins econômicos para os cidadãos com poucos níveis de proteção social e "ameaçados pela perda das condições mínimas de segurança e proteção". Em seu estudo “O significado do trabalho: delimitações teóricas (1955-2006)”, uma das conclusões que Goulart destaca é que, no momento presente, o significado do trabalho parece refletir uma espécie de incerteza, descontinuidade e vulnerabilidade social e "exigir a pulverização dos modos de pensar, visualizar e enfrentar o futuro laboral". É na propagação do capitalismo flexível e de ideias neoliberais, que a direção de carreira e trabalho modificam-se, "transferindo para o trabalhador toda a responsabilidade de se manter ou conseguir um emprego" (NEVES ET. AL, 2018, p. 322). Nesse contexto, é possível percebermos que as mudanças históricas transformaram profundamente o trabalho e seu significado na vida dos indivíduos. O trabalho perde-se em um sistema complexo, abstrato e desterritorializado, e o sentido do trabalho para os indivíduos é suspenso, uma vez que estes passam a ser avaliados por critérios que não lhes geram sentido (Gaulejac, 2007). Em concordância, Antunes (2000) explica que elevados índices de desemprego, um crescente contingente de trabalhadores em condições precarizadas e a ampliação da degradação do trabalho são problemáticas da sociedade contemporânea. No tocante a afetividade e cognição, Bruner (1997), explica que os significados correspondem a componentes afetivo-cognitivos construídos pelos indivíduos mediante sua inter-relação com a sociedade na qual está inserido, tendo influência dos elementos de sua cultura. Desse modo, podemos compreender o significado do trabalho como uma “cognição subjetiva, sócio histórica e dinâmica", segundo Borges (1996; 1998); Borges e Tamayo (2001), formado por múltiplas facetas nas quais se manifestam na prática e serão descritas posteriormente. Sua subjetividade se dá pela variação individual que ocorre pelo reflexo da história pessoal do trabalhador e como este processa, interpreta e atribui sentido ao seu trabalho. É a capacidade que o ser humano possui de 5 transmitir significado à natureza através de uma atividade planejada, consciente que transforma bilateralmente o homem e a natureza, e isso que diferencia o trabalho humano em relação a outros animais (MARX,1983). É um construto sócio histórico, pois é construído a partir da socialização dos indivíduos que em conjunto compartilham aspectos sobre o trabalho, refletindo em sua significância as condições históricas da sociedade nas quais estão inseridos, ou seja, varia no tempo e na cultura. Além disso, é dinâmica uma vez que o processo da construção quanto o significado do trabalho é inacabado, constante e permanente nas perspectivas já citadas. Dito isso, Borges e Tamayo (2001, p. 13) descrevem: O trabalho, por sua vez, é rico de sentido individual e social. É meio da produção da vida de cada um, provendo a subsistência, criando sentidos existenciais ou contribuindo na estruturação da personalidade e da identidade. Também é categoria central da própria organização societal. Apresenta-se em uma variedade de ocupações, sendo objeto de diversificada classificação. E glorificado desde os defensores mais tradicionais do capitalismo aos marxistas. Mesmo quando utilizado em seu sentido econômico (trabalho remunerado) e restrito ao contexto das organizações formais, continua diversificado, ambíguo e complexo. Considerando todos esses aspectos que caracterizam o significado do trabalho, é importante compreender que esse construto, é considerado pelos pesquisadores como complexo, assim, como Bendasolli (2007) descreveu, tornou-se objeto de pesquisa e estudos por diversas disciplinas acadêmicas. Segundo Silva et. al (2018), as pesquisas relativas a esse construto ''se intensificaram a partir da década de 80, especialmente com os estudos pioneiros dos pesquisadores do “Meaning Of Work Team". Borges et. al (2008) acrescentam que, estudos sobre o significado do trabalho, são mais recentes do que aqueles sobre motivação ao trabalho - construto considerado como um dos antecedentes do significado do trabalho e que, a partir da década de 1980, começaram a surgir “sob a égide do cognitivismo social e/ou de tendências bastante empíricas”. Já no Brasil, os pioneiros pelos estudos desse construto em nosso país foram Soares (1992), Bastos, Pinho e Costa (1995). 2.2 Definição de Significado do Trabalho 6 Os estudos realizados pelos pesquisadores do MOW em oito países: Bélgica, Israel, Iugoslávia, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e Holanda, atingindo uma amostra de quase 15 (quinze) mil pessoas, sendo a maioria do setor privado, tornando-se não apenas um dos estudos de referência sobre significado do trabalho, como também um suporte para o desenvolvimento de outros estudos ou modelos (Silva et. al, 2018). Através destas pesquisas, a equipe MOW definiu o significado do trabalho, de acordo com Silva et. al (2018, p. 173-174) como: (...) uma construção de conhecimentos dos indivíduos de experiências pessoais com o trabalho, das condições do mesmo, o modo como são influenciados e reagem às questões de estruturas sociais, condições econômicas, políticas, psicossociais, culturais, tecnológicas da realidade em que vivem. O caráter dinâmico do significado do trabalho, fortalece a justificativa e necessidade de desenvolver estudos neste campo, além disso, uma vez que os estudos sobre o construto são recentes, e trata-se de uma temática predominantemente contemplada nos estudos sistemáticos na Psicologia Social e do Trabalho, segundo Borges e Tamayo (2001), corroboram a relevância de sua investigação. O significado do trabalho é um construto de múltiplas facetas, no entanto, autores como Borges e Tamayo (2001), na bibliografia não há uma identificação consensual dos conceitos a respeito dessas facetas. O grupo MOW definiu variáveis que integram o entendimento acerca do significado do trabalho, sendo elas: a centralidade, normais sociais e resultados e objetivos valorizados no trabalho. Nos estudos desenvolvidos por Borges (1998;1999), “foi proposto um modelo no qual o significado do trabalho possui quatro facetas: a centralidade do trabalho, os atributos valorativos, os atributos descritivos e a hierarquia dos atributos” (NEIVA, 2016, p. 19). O significado do trabalho, portanto, na prática, não se limita apenas a essas três facetas citadas. Prova disso são os estudos de Borges-Andrade (1995), Borges-Andrade & Nogueira (1994) e Soares (1992) que, ao conduzirem suas pesquisas utilizando o modelo proposto pelo grupo MOW, não conseguiram 7 comprovar a dimensão de normas societais nas amostras brasileiras. Assim, Borges e Tamayo (2001, p. 17), explicam que: A base empírica da identificação dos atributos foi decisiva para a consideração de categorias não incluídas em questionários utilizados em estudos internacionais, mais referidos em estudos no Brasil, como é o caso de sobrevivência (Tamayo, 1994). Da mesma forma, foi importante na consideração da crítica da bibliografia (Brief & Nord, 1990 e Ros, Schwartz & Surkiss, 1995), apontando a necessidade de ampliação do leque de valores nos estudos do significado do trabalho. O presente estudo baseia-se no que foi construído através do trabalho da autora BORGES (1998,1999). Faz-se necessário, explicar brevemente acerca do modelo proposto por MOW (1987), antes de descrever o modelo proposto por BORGES (1998;1999), uma vez que os estudos feitos por MOW, como já citado, é um estudo clássico sobre o construto e influenciou todas as outras pesquisas acerca do significado do trabalho. Quadro 1 - Dimensões do modelo de MOW (1987) e BORGES (1998;1999) - Significado do Trabalho MOW (1987) BORGES (1998;1999) 1. Centralidade do trabalho 2. Normas sociais 3. Objetivos e resultados valorizados 1. Centralidade do trabalho 2. Atributos valorativos 3. Atributos descritivos 4. Hierarquia dos atributos Fonte: Elaborada pela autora 2.3 Dimensões que integram o significado do trabalho - The Meaning of Work - MOW A equipe de investigação do Meaning of Work International Research Team (MOW), entre 1981 e 1983, passou a conduzir pesquisas com amostras representativas em diferente países guiados pelos seguintes objetivos: (1) realizar uma pesquisa entre culturas e nações, (2) verificar a incidência de um dado fenômenos em diferentes ambientes e, (3) conferir como culturas diferentes 8 solucionam na prática alguns fenômenos comportamentais relacionados ao trabalho. Baseado no que fora descrito até aqui, podemos compreender que o significado do trabalho pode ser analisado sob três perspectivas: individual, organizacional e social. O enfoque do trabalho do MOW é individual, dado que analisa esse construto sob a ótica do indivíduo. A pesquisa foi aplicada, por meio de questionários, em oito países, ao todo, sendo eles: Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Israel, Japão, Holanda, Estados Unidos e ex-Iugoslávia. Inicialmente, o modelo MOW estava estruturado considerando as seguintes variáveis: centralidade, normas sociais acerca do trabalho, resultados valorizados do trabalho, objetivos do trabalho e papéis do trabalho. Após uma análise fatorial exploratória, os construtos encontrados foram: centralidade do trabalho, normas sociais orientadas para os direitos, normas sociais orientadas para os deveres, função econômica do trabalho, resultado intrínseco ou expressivo, contrato interpessoal pelo trabalho; sendo agrupados, para melhor entendimento, nas três facetas que já conhecemos: centralidade do trabalho, normas sociais e objetivos e resultados valorizados: Figura 1 - Representação estruturada do significado do trabalho Fonte: MOW (1987) 9 Em seu modelo, a equipe MOW incluiu para a primeira dimensão, a de centralidade do trabalho, o caráter absoluto e relativo, podendo ser observado da seguinte forma: Figura 2 - Facetas do significado do Trabalho - MOW (1987) Fonte: Elaborada pela autora a partir de Andrade, Tolfo e Dellagnelo (2012, p. 203 e 204). I. Centralidade do Trabalho Como exposto, a primeira dimensão do modelo proposto por MOW (1987) corresponde à centralidade do trabalho que é entendido como a posição que o trabalho ocupa na vida do trabalhador em comparação às outras áreas que integram nossavida, ou seja, relaciona-se com o grau de importância para o indivíduo. Assim, para MOW (1987, p.81), a centralidade é compreendida como “o grau de importância geral que o trabalho tem na vida de um indivíduo para um dado ponto no tempo” ou “convicção geral acerca do valor do trabalho na vida de um indivíduo”. Kubo e Gouvêa (2012, p.542 e 543), provocam uma reflexão importante, ao explicar que a centralidade corresponde a importância que do trabalho tem para o trabalhador: Na maior parte das sociedades industrializadas, o tempo gasto no trabalho representa aproximadamente um terço daquele em que a pessoa está acordada. Se adicionalmente for somado todo o tempo em que o indivíduo gasta preocupando-se, planejando, em treinamento e em outras situações relacionadas com o trabalho, uma parte substancial da vida de um adulto será voltada para essa atividade. 10 O homem é complexo, e portanto, não seria possível analisarmos com propriedade a centralidade do trabalho na vida de um indivíduo sem nos atentarmos às “esferas da vida” deste indivíduo. Borges e Yamamoto (2001) propõem que os dois componentes que integram a centralidade do trabalho - são complementares entre si (FREIRE, 2021) - a saber: aspecto absoluto e relativo, observam as esferas da vida, citadas anteriormente, onde o absoluto corresponde a importância do trabalho em si para o indivíduo e o relativo diga respeito a posição do trabalho em relação a família, lazer, comunidade e religião. MOW (1987) evidencia que as experiências da vida humana são distribuídas em sub-esferas, havendo preferências particulares a cada indivíduo em relação ao significado e grau de importância de cada uma delas. A equipe MOW (1987) identificou, através de sua pesquisa, diferentes tipos de padrões de trabalho. Segundo Freire (2021), tais padrões foram denominados por padrão A e F e foram estudados por England e Whiteley (1990), integrantes da equipe MOW (1987). A seguir, note o que indica cada padrão: ● Padrão A - qualquer coisa pode ter valor, ser realizada e ser trocada por dinheiro por seu valor; ● Padrão B - há um vínculo da realização do trabalho, e recebe-se dinheiro em prol de uma contribuição coletiva/social; ● Padrão C - além do salário presente no padrão B, outras pessoas são beneficiadas com o trabalho que o indivíduo exerce; ● Padrão D - o indivíduo recebe dinheiro para realizar seu trabalho, suas atividades são definidas, recebe ordens e o contexto não é considerado como agradável; ● Padrão E - baseia-se no padrão D, mas estende-se para um trabalho que é mentalmente e fisicamente exigente, ainda não sendo agradável; ● Padrão F - a percepção do indivíduo a respeito do trabalho é neutra, uma vez que recebe dinheiro para realizá-lo e entende que as atividades fazem parte do trabalho e que devem ser realizadas em um horário determinado. 11 A partir dos resultados gerado pela pesquisa de MOW (1987) é possível percebermos que a percepção do trabalho varia entre neutro e central, onde, em número, os resultados foram, onde na maioria dos países analisados (55,8% dos participantes), como: Japão, Bélgica, Inglaterra, Israel, Holanda e ex-Iugoslávia, apresentaram uma percepção positiva do trabalho, ficando mais evidente entre os japoneses. Já entre os alemães e americanos (11,8% dos participantes), a percepção acerca do trabalho configurou-se na neutralidade e 32,4% apresentou uma percepção negativa. Considerar que o trabalho só é importante para os trabalhadores sob o ponto de vista financeiro seria um equívoco, e limita nossa compreensão acerca do significado do trabalho. Kubo e Gouvêa (2012) explicam que um fato comprovado é que um percentual significativo de pessoas seguiria trabalhando, ainda que tivesse dinheiro o suficiente para não precisar mais trabalhar. Corroborando estes autores, Goulart (2009) explica que Morse e Weiss (1955) produziram um dos estudos pioneiros sobre o significado do trabalho nos Estados Unidos, cuja pergunta central era o clássico questionamento: "Você continuaria trabalhando se ganhasse na loteria?", e como resultado verificaram que 80% dos participantes afirmaram que continuariam trabalhando, ademais, a faixa etária que mais concentrou respostas afirmativas a essa pergunta foi de 20 a 25 anos, sendo 90% das respostas afirmativas. Um estudo mais recente, Gaggiotti (2004) abordou novamente a ideia desta pergunta, dessa vez descrita da seguinte forma: “Imagine que você ganhe na loteria ou que herde uma fortuna que lhe permitirá viver sem trabalhar pelo resto de sua vida, o que você faria com seu emprego? ”, obtendo os seguintes resultados: 72% participantes afirmaram que continuariam trabalhando, porém mudariam as condições, 22% continuaram trabalhando, apenas 3% deixaria de trabalhar e os outros 3% não responderam. Segundo Goulart (2009), o fato de 90% da amostra investigada afirmar que permaneceria trabalhando, e quase 72% afirmar que mudariam as condições nas quais o trabalho é realizado, pode evidenciar o "contexto de precarização das condições de trabalho na atualidade". Esses dados mostram que o trabalho representa um elo do indivíduo com a sociedade, e um elo de vida para o trabalhador ter um propósito de vida. O trabalho impacta no aspecto econômico, e sociopsicológico (KUBO E GOUVÊA, 12 2012). Os valores de centralidade, portanto, variam de acordo com a atividade, indivíduos e contexto. II. Normas sociais sobre o trabalho As normas sociais do trabalho são compostas pela orientação normativa do trabalho como direito e obrigação, ou seja, relaciona-se com direitos e deveres do indivíduo em relação ao trabalho (MOW,1987). Essas normas sociais podem ser compreendidas como a "pressão da sociedade sobre o comportamento das pessoas sobre a sociedade" (KUBO E GOUVÊA. p. 543) as quais têm influenciado fortemente o trabalho ao longo dos anos. (MOW,1987) já havia descrito essas mudanças como: mudanças tecnológicas, aumento na participação feminina na força de trabalho, aumento do nível educacional, etc. Tais normas sociais podem ser orientadas aos direitos dos trabalhadores ou para os deveres dos trabalhadores. Quando orientadas aos direitos dos trabalhadores, envolvem instrumentos disponibilizados para a realização do seu trabalho, exemplo: treinamento adequado na função, participação nas decisões de trabalho. Já as normas sociais, segundo os autores, são orientadas a deveres dos trabalhadores correspondem às obrigações que o trabalhador tem na sociedade e perante ela, como: é obrigação de todos os trabalhadores atuar em prol de um futuro melhor, valorizar sua categoria e trabalho do próximo e cumprir com as obrigações legais estabelecidas por lei. III. Resultados e objetivos valorizados do trabalho A terceira e última faceta do modelo de MOW (1987) a respeito do significado do trabalho diz respeito às motivações que influenciam o indivíduo a trabalhar, ou seja, os resultados e objetivos valorizados pelo trabalhador. Diversos resultados e objetivos que são valorizados do trabalho foram identificados pela equipe MOW (1987), a saber: a função de fonte de renda do trabalho, onde, apesar de não ser cabível ser o foco principal do que o trabalho pode proporcionar é geralmente considerado o mais importante; o trabalho sendo percebido como interessante e satisfatório para o trabalhador (função intrínseca); 13 o trabalho sendo considerado como um meio para contatos interessantes com outras pessoas, atualmente chamamos de networking, ocupando uma função interpessoal do trabalho. Além dessas funções, os indivíduos também valorizam o trabalho, dado seus resultados e objetivos, considerando que o trabalho é importante para nossa ocupação de tempo, status e prestígio pelo trabalho, e serventia à sociedade através das atividades inerentes ao seu trabalho. Dito isto, FREIRE (2021, p.34) resume, os objetivos relacionados ao trabalho do indivíduo podem estar relacionados a: a uma posição de destaque em seu trabalho (status social);ao financeiro (função econômica); ao se manter ocupado realizando uma atividade (ocupação); às relações sociais (contato social); a servir a sociedade (útil para sociedade); a auto valorização do trabalho e auto realização (interessante e auto realização)”. 2.4 Dimensões que integram o significado do trabalho - Borges (1998;1999) O trabalho desenvolvido por Borges (1998;1999) acerca deste construto, intitulado por Inventário do Significado do Trabalho (IST), tem se tornado cada vez mais relevante para pesquisas em Psicologia, e outras áreas como Administração. Segundo Borges, Alves-Filho e Tamayo (2008), os significados que os indivíduos atribuem ao trabalho estão associados a outro construto: motivação. Dessa forma, a partir do IST, o Inventário de Motivação e Significado do Trabalho (IMST) foi criado para melhor dar suporte aos pesquisadores, “pela absorção de conceitos da teoria da motivação designada como Teoria das Expectativas” (BORGES, ALVES-FILHO E TAMAYO, 2008, p. 218). Ademais, outras pesquisas têm se fundamentado no que fora construído por Borges (1998;1998) - IST - e Borges e Alves-Filho (2001) - IMST. O clássico modelo proposto pela equipe MOW, ao ser utilizado nos estudos de Borges-Andrade (1995), Borges-Andrade & Nogueira (1994) e Soares (1992), não conseguiram comprovar a dimensão de normas sociais em amostras brasileiras. 14 O modelo proposto por Borges (1998,1999) previa que os indivíduos possuíam um conjunto de variáveis, como: característica socioeconômicas e demográficas, concepções pessoais acerca do trabalho e uma estrutura social das organizações que integram o processo de socialização organizacional, cuja relação existente entre esse processo e o significado do trabalho são ilustrados pelo modelo da autora Borges. As variáveis integradas ao processo de socialização organizacional são: tradições organizacionais, qualificação/inclusão, objetivos e competências. Para Borges (1998;1998) o trabalho reflete a história do trabalhador, e seu modelo divide-se em quatro facetas: centralidade do trabalho - é central na vida do indivíduo; atributos descritivos - aquilo que o indivíduo acha que o trabalho é; atributos valorativos - aquilo que o trabalhador acha que o trabalho deve ou deveria ser; e hierarquia dos atributos - organização por ordem de importância. Podemos visualizar o modelo proposto, onde o trabalho reflete a história do trabalhador, da seguinte, maneira: Figura 3 - Modelo de significado do trabalho por Borges, Tamayo e Alves-Filho (2005) Fonte: Borges, Tamayo e Alves-Filho (2005) 15 I. Centralidade do Trabalho Borges (1998; 1999) desenvolveu pesquisas em diferentes estados do Brasil e categorias ocupacionais distintas, verificando que o trabalho é uma das esferas mais relevantes para o indivíduo, sendo precedido apenas pela família. England e Misumi (1986) foram os responsáveis, na Psicologia, pelo estudo no qual o conceito de centralidade do trabalho foi utilizado, sendo popularizado após a publicação do estudo da equipe MOW (1987). A centralidade do trabalho corresponde à importância atribuída ao trabalho pelo indivíduo, ou seja, envolve a análise de qual posição o trabalho ocupa na vida do indivíduo frente às outras esferas da vida, como: comunidade, família, religião, lazer, etc. Segundo Harpaz e Snir (2001, apud Silva et. al, 2018), os trabalhadores que possuem alta centralidade no trabalho apresentam maior grau de comprometimento com o trabalho, organização, satisfação e determinação. Uma vez que este modelo tem suas raízes no estudo clássico feito por MOW (1987), que já fora explicado no presente trabalho acerca desta faceta do significado do trabalho, e que, portanto, sua definição neste modelo assemelha-se ao que fora investigado pela equipe MOW, não será mais necessário estender-se na definição de centralidade do trabalho. II. Atributos valorativos Borges (1977,1998) atentou-se em relação a utilização dos questionários estruturados tomando como base os valores contidos no estudo da equipe MOW, o qual, para a autora, não contemplava as peculiaridades da realidade brasileira, dessa forma, Borges utilizou o termo "atributo" com base na bibliografia a respeito do significado do trabalho por Salmaso e Pombeni (1968), indo além do que estes produziram, uma vez que não fizeram a diferenciação entre atributos valorativos e descritivos, conforme Borges propôs em seu modelo. Os atributos valorativos dizem respeito aos valores atribuídos ao trabalho, melhor, conforme descreveu Schwarts (1994, p. 21) o valor corresponde a um "alvo transituacional variando de importância, que funciona como princípio-guia na vida de uma pessoa ou outra entidade social”. Nas palavras de Borges (1999, p. 110): “são, portanto, os valores do trabalho”. 16 Os atributos valorativos propostos por Borges, Tamayo e Alves-Filho (2005) incluem outros fatores como: justiça no trabalho, auto expressão e realização pessoal, sobrevivência pessoal e familiar e desgaste e desumanização: ● Justiça no trabalho - o ambiente de trabalho deve proporcionar as condições necessárias (material, assistência, segurança, higiene, equipamentos) para o trabalhador executar suas atividades. Além disso, deve proporcionar retorno econômico, os esforços e direitos entre trabalhadores deve ser proporcional. ● Auto-expressão e realização pessoal - os trabalhadores devem ter oportunidades para expressarem-se no trabalho, por meio da criatividade, sentimento de produtividade, habilidades interpessoais, etc, gerando prazer para o trabalhador. ● Sobrevivência pessoal e familiar - o trabalho deve garantir condições econômicas ao trabalhador, de modo que este possa manter sua família, ter estabilidade de emprego mediante aos seus resultados. ● Desgaste e desumanização - o trabalho deve implicar em pressa, atarefamento, despender esforço físico. III. Atributos descritivos Já os atributos descritivos envolvem percepções do trabalho quanto sua forma concreta, ou seja, corresponde à realidade concreta e a interpretação do indivíduo no tocante ao trabalho (Borges, 1999a). Em outras palavras, os atributos descritivos estão relacionados a como o trabalho é. A estrutura fatorial dos atributos descritivos foi identificada por meio da utilização do Inventário do Significado do Trabalho - IST (BORGES, 1998;1999). Neiva (2016), frisa que os atributos valorativos e descritivos são características relacionadas ao trabalho sob perceptivas diferentes, segundo o que Borges, Alves-Filho e Tamayo (2008) propõem, nos auxiliando a compreender essas características e analisar o conflito presente entre o que queremos e o que é concreto: ● Auto-expressão - O trabalho deve ser um meio para o crescimento pessoal do trabalhador, onde ele sinta-se respeitado, tenha 17 relacionamento de confiança com os demais, possa qualificar-se e ser reconhecido pelo que executa. Além de ser um espaço onde esse trabalhador possa expressar suas opiniões. ● Condições de trabalho - O trabalho deve proporcionar assistência, melhores salários e condições adequadas. ● Responsabilidade - O trabalho envolve o cumprimento de tarefas por parte dos trabalhadores, assim como a empresa deve cumprir seus deveres em relação ao trabalhador. ● Recompensa econômica - O trabalho implica na garantia de independência econômica, sustento e sobrevivência. ● Desgaste e desumanização - O trabalho é duro, exigente e necessita de esforço. IV. Hierarquia de atributos A hierarquia de atributos consiste na organização dos múltiplos atributos valorativos e descritivos, de acordo com sua ordem de importância. Para Borges, Alves-Filho e Tamayo (2008), os valores são numerosos sendo possível hierarquizá-los. Segundo Borges e Tamayo (2001), estudiosos voltados para valores humanos como: Rokeach & Ball-Rokeach, 1989; Schwartz & Ros, 1995; Tamayo, 1994; ressaltam que a ordem de prioridade atribuída aos valores é o que diferencia as pessoas e culturas, frente a priorização dos própriosvalores. Para auxiliar na compreensão acerca do significado do trabalho para motoristas e entregadores de aplicativos, sob as dimensões do modelo proposto por Borges (1998;1999), fez-se necessário visualizarmos o contexto do trabalho informal, uma vez que esses trabalhadores são considerados informais por não possuírem vínculo empregatício com as empresas dos aplicativos. 18 3 TRABALHO INFORMAL O trabalho informal é uma realidade que faz parte da vida de uma parcela considerável da população, não apenas da nossa cidade de Fortaleza (CE), como também a nível global. É considerado um contexto perigoso uma vez que sem legalização, governos não conseguem garantir a proteção social e condições decentes de trabalho. As definições de formalidade e informalidade em relação ao trabalho variam para cada lugar, representando um fenômeno social pois está presente em praticamente todo o mundo (GOMES, JÚNIOR, COSTA, 2019). No presente trabalho, consideramos a definição de Targino e Vasconcelos (2015), para o cenário brasileiro: o trabalho é considerado formal quando há um contrato entre empregador e empregado, Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) ou do Estatuto do Servidor Público. Assim, o trabalho que não estiver dentro dessa condição, foi considerado informal, como é o caso dos trabalhadores por aplicativo. É preciso entender que formalizar os trabalhadores, deve ser uma das prioridades da nossa sociedade atual. A transição da informalidade para a formalidade, é inclusive, um alvo crucial para a Agenda Trabalho Digno, da OIT (2020,p.1): O conceito de trabalho digno resume as aspirações de homens e mulheres no domínio profissional e abrange vários elementos: oportunidades para realizar um trabalho produtivo como uma remuneração justa; segurança no local de trabalho e proteção social para as famílias; melhores perspectivas de desenvolvimento pessoal e integração social; liberdade para expressar as suas preocupações; organização e participação nas decisões que afetam as suas vidas; e igualdade de oportunidades e de tratamento. Dado que o presente trabalho busca analisar o significado do trabalho de trabalhadores informais, mais precisamente entregadores e motoristas de aplicativo, faz-se necessário entender o contexto macro de informalidade, para vislumbrar fatores, riscos e a realidade desses trabalhadores e chegarmos até o cenário micro. 3.1 Cenário do Trabalho Informal: No mundo 19 Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2018, dois bilhões de pessoas estavam no trabalho informal, sendo a maioria dessa parcela da população pertencente a países emergentes e em desenvolvimento. O contexto de informalidade integra uma grande diversidade de situações e ampla gama de razões, tanto dentro dos países quanto entre eles (MEDINA,2021). Esse foi um levantamento do relatório produzido pela OIT (2018), intitulado por "Mulheres e homens na economia informal: uma foto estatística", que utilizou critérios de mais de 100 países para retratar o cenário da população global que trabalhava informalmente. Em 2021, foram contabilizados mais de dois bilhões de trabalhadores que integravam a economia informal, onde 6 em cada 10 trabalhadores no mundo vivem sem mão-de-obra ou proteções sociais (THE GUARDIAN, 2021): Na África Ocidental, um vendedor ambulante vende mangas, tomates e outros produtos frescos (...) Na Índia, uma mulher baía e costura botões em roupas enquanto seu filho de 9 meses dorme nas proximidades. Na Argentina, uma mulher passa pelo lixo de outras pessoas, coletando materiais recicláveis para os quais receberá meros pesos em troca. Atividades, vidas e lugares diferentes mas o mesmo cenário: todos esses trabalhadores integram a economia informal, onde as características comuns a esse contexto são: ganhos escassos, carência de benefícios, direitos contratuais e proteções sociais. Importante ressaltar que, não necessariamente, trabalhar informalmente, seja sinônimo de viver na pobreza, no entanto, os trabalhadores informais são mais suscetíveis a ficar abaixo da linha da pobreza, uma vez que não estão inseridos no sistema legal capaz de ampará-los, situação esta que mundialmente ficou mais precária com a crise do COVID-19. Segundo matéria do jornal britânico The Guardian (2021): "Na grande maioria dos cenários de emprego informal, os trabalhadores não estão evitando o sistema; não há sistema para começar". A informalidade pode assumir muitas formas, por exemplo, pode ocorrer quando há empresas e indivíduos que "burlam" o sistema para evitar o pagamento de impostos, ou, quando há indivíduos muito pobres, com baixa escolaridade que carecem de acesso a empregos formais (MEDINA,2021). 20 De acordo com o International Monetary Fund (2021), a América Latina e a África Subsaariana apresentam os maiores níveis de informalidade, em contraponto a Europa e o Leste Asiático são as regiões com os menores níveis de informalidade e registra que, em média, a economia informal corresponde a 35% do PIB de países baixa e média renda, enquanto em economias mais avançadas, corresponde a 15%. Nota-se a proporcionalidade entre a informalidade e níveis econômicos: Figura 4 - Tamanho da economia informal por nível de renda (% do PIB) Fonte: Medina (2021, p.4). Mundialmente, 85% dos trabalhadores informais estão inseridos em pequenas empresas informais, onde essa "empregabilidade" acontece de forma precária (OIT,2018). Acompanhamos as discussões a respeito da igualdade salarial entre gêneros. Tal debate está presente também na informalidade, uma vez que esta também está relacionada à desigualdade de gênero (...) em dois de cada três países de baixa e média renda, as mulheres têm maior probabilidade do que os homens de trabalharem no setor 21 informal e figuram nas categorias mais precárias e mais mal remuneradas do emprego informal. (MEDINA,2021). De acordo com a ONU Mulheres (2016), a diferença salarial de gênero chega a quase 30% no setor informal na África Subsaariana, enquanto no setor formal foi registrado 6%. 3.2 Cenário do Trabalho Informal: No Brasil JESUS (2011) explica que o processo de formação das atividades informais nas capitais brasileiras é oriundo de múltiplos eventos que influenciaram esse cenário. Assim, podemos contemplar três eventos que contribuíram para a consolidação do trabalho informal em nosso país, conforme destaca Gomes, Júnior e Costa (2019): Quadro 2 - Eventos que contribuíram para o trabalho informal no Brasil Ano / Período Contexto 1930 Durante o governo de Getúlio Vargas - A primeira garantia para o trabalhador brasileiro foi estabelecida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), porém, ainda era um cenário instável e não atendia toda a população, por exemplo: trabalhador rural e uma série de categorias de trabalhadores urbanos ficaram de fora da cobertura dessa medida. 1970 Ainda que houvesse crescimento econômico em nosso país, conflitos políticos e sociais desse período, seguiam amparando o trabalho informal. Década de 90 A abertura econômica que se iniciou nessa época reestruturou o trabalho provocando mudanças em nossa sociedade e consolidando ainda mais a informalidade no trabalho que encontrou formas de se adaptar e vincular-se a essas transformações para manter a sobrevivência de indivíduos. 22 Fonte: Elaborado pela autora. O trabalho é considerado formal quando há um contrato entre empregador e empregado, Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) ou do Estatuto do Servidor Público (Targino e Vasconcelos, 2015). O setor informal é representado pelo mercado no qual “os trabalhadores são privados de condições básicas ou mínimas de trabalho e proteção social” (COSTA,2020, p.971), observe o quadro abaixo: Quadro 3 - Classificação das ocupações em formais e informais SETOR FORMAL SETOR INFORMAL • Empregados com carteira • Militares • Funcionários públicos estatutários • Trabalhadores domésticos com carteira • Empregadores com 6 ou mais empregados • Empregadossem carteira • Trabalhadores domésticos sem carteira • Conta própria • Trabalhadores na produção para o próprio consumo •Trabalhadores na construção para o próprio uso • Não remunerados • Empregadores com até 5 empregados Fonte: Targino e Vasconcelos (2015) De acordo com Costa (2020), em 2009 o trabalho informal no Brasil já ultrapassava 50% da população e segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estava em torna de 40,8%, como disposto na tabela abaixo: 23 Tabela 1 - Proporção da População Ocupada por Tipo de Trabalho Formal ou Informal no Brasil (2012-2017) - 14 anos ou mais Proporção (%) 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Formal 58,5 59,7 60,9 61,0 60,9 59,2 Informal 41,5 40,3 39,1 39,9 39,1 40,8 Fonte: IBGE (2018, apud. Costa, 2020) Complementando os eventos destacados por Gomes, Júnior e Costa (2019), vale incluir um quarto evento presente no contexto atual que provocou e segue influenciando uma série de consequências para o nosso cotidiano, especialmente para o trabalho: a pandemia do COVID-19. Uma das consequências dessa crise sanitária é o aumento do desemprego que contribui, consequentemente, para a informalização do trabalho, terceirização das pessoas, subcontratos sendo estabelecidos, a "flexibilização" do trabalho, etc; favorecendo para que atualmente mais de 50% da classe trabalhadora esteja sob o trabalho informal, sem o devido amparo legal, com crescente precarização exacerbada (COSTA, 2020). Em consonância, Puente (2022) levanta que segundo o estudo "Retrato do Trabalho Informal no Brasil: desafios e caminhos de solução, divulgado pela Fundação Aryma e B3 Social, cerca de 60% dos trabalhadores informais no Brasil fazem "bicos" para sobreviver. O último quadro sintético disponibilizado pelo IBGE, em relação aos dados da PNAD Contínua (jun-jul-ago/2022), foi registrado um decrescimento em relação ao número de pessoas desocupadas, comparado ao terceiro trimestre de 2021 e segundo trimestre de 2022: Tabela 2 - Indicadores de subutilização para população de 14 anos ou mais de idade (%) 24 jun-jul-ago/2021 mar-abr-mai/2022 jun-jul-ago/2022 13,1 9,8 8,9 Fonte: Elaborado pela autora, adaptado da PNAD Contínua (2022) Entretanto, apesar de pequenas melhorias, o número de trabalhadores informais em nosso país ainda é alarmante. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, em relação ao segundo trimestre de 2022, registrou que o mercado de trabalho informal do nosso país atingiu o recorde de 39,3 milhões de pessoas. Ou seja, milhares de brasileiros vendem sua força de trabalho, sem nenhum direito trabalhista ou proteção legal. Dentre os trabalhos informais presentes em nossa sociedade, está o de motorista e entregador por aplicativos. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontou que, entre 2016 e 2021, o número de brasileiros que passaram a trabalhar para aplicativos de entrega cresceu 979,8% (CARDOSO, 2022). 3.3 Cenário do Trabalho Informal: No Ceará Segundo dados que compõem o levantamento trimestral do IBGE, em 2021, o Ceará é o 6º Estado do Brasil com maior grau de informalidade, são 53% de trabalhadores sem vínculo formal, ultrapassando a média nacional da informalidade no mercado de trabalho de 39,5% da população ocupada (O POVO, 2021). Maranhão (60,3%) lidera o ranking de informalidade, seguido pelos estados do Pará (59,6%), Piauí (59,1%), Amazonas (58,7%) e Sergipe (54,7%). De acordo com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (SEDET), em 2020, o Ceará detinha a quinta maior taxa de informalidade do país (53,8%), conforme disposto no mapa: Figura 5 - Taxa de informalidade da população de 14 anos ou mais de idade, ocupada na semana de referência, por unidades da federação (%) Brasil – 1º trim./2020 25 Fonte: IBGE/PNADc,2020 De acordo com o jornal FOLHA (2021), Ceará e o Rio de Janeiro foram os que mais perderam empregados na pandemia, conforme evidenciou a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), sendo o comércio, o setor mais afetado. SEDET (2020) destaca que a informalidade perpassa diferentes segmentos das atividades econômicas, formas de inserção ocupacional e territorial, onde em nosso Estado, atinge com maior intensidade nos municípios fora da região metropolitana de Fortaleza (RMF): Figura 6 - Distribuição dos ocupados, segundo níveis geográficos selecionados e tipo (%) - Ceará - 1º trim./2020 26 Fonte: SEDET (2020, p. 22) 3.4 Cenário do Trabalho Informal: Em Fortaleza Apesar do índice de trabalhadores ocupados (35,1%) ser superior do que ao índice de trabalhadores informais (27,8%), em Fortaleza, capital do Ceará, como disposto na figura anterior; é preciso vislumbrar o cenário crítico uma vez que tratam-se de duas taxas próximas, evidenciando uma espécie de linha tênue entre dois contextos: o formal e o informal. Segundo a CAGED (2022), a capital cearense manteve-se em primeiro lugar em relação ao saldo de empregos gerados no Norte e Nordeste, já em relação às capitais das demais regiões brasileiras, ficou em 5º lugar. Segundo a prefeitura, o saldo positivo do número de vagas de emprego (3.449) obtido da diferença entre admissões (25.579) e desligamentos (22.130), registram o crescimento na geração de empregos formais com carteira assinada. Esses foram dados divulgados em maio/2022. Já em matéria do G1 de junho/2022, mostrou que mulheres empreendedoras encontraram como alternativa para pagar as despesas do lar e da família a iniciativa dos bazares. Apesar de tratar-se de um trabalho informal diferente do contemplado no presente trabalho, vale utilizar tal matéria como 27 exemplo do cenário de que apesar dos dados da CAGED, em 2022, trazerem uma espécie de cenário mais positivo, na prática, o desemprego em nosso Estado e Capital ainda são elevados, e levam nossos fortalezenses a procurar outras alternativas de trabalho informal para sobreviverem. Durante este levantamento, não foram encontradas mais referências ou dados a respeito da informalidade em nossa cidade. A pesquisa que foi aplicada para fundamentar os resultados deste trabalho nos auxiliarão a enxergarmos sob a perspectivas dos trabalhadores informais contemplados nesta pesquisa sua realidade. Na próxima seção, a rotina de trabalho dos entregadores e motoristas de aplicativo foi descrita com base nas matérias recentes a respeito do assunto a fim de aprofundar a compreensão acerca da realidade de trabalho desses indivíduos, seus desafios e a luta desta classe trabalhadora. 28 4 O DIA A DIA DO TRABALHO DOS ENTREGADORES E MOTORISTAS DE APLICATIVO Os trabalhadores informais, como já descrito, enfrentam inúmeras dificuldades e desafios diariamente em seu trabalho. Nesta seção, será descrito fatores que integram a realidade dos entregadores e motoristas de aplicativo, de modo a ampliar nosso entendimento acerca das condições de trabalho pelas quais esses trabalhadores estão submersos e como esses fatores poderão ser abordados nas entrevistas com os entregadores e motoristas de aplicativo. Em relação a motoristas de aplicativo, o IPEA informou que, em 2019, houve uma queda de 1,121 milhão para 782 mil, em 2020, de motoristas trabalhando para aplicativos, porém, em 2021 o número cresceu para 945 mil (TOKARNIA,2022). Ademais, a pesquisa ainda revela informações relevantes sobre os perfis desses trabalhadores, onde a maioria desses trabalhadores são: homens, pretos ou pardos, com menos de 50 anos, residentes da região Norte e Nordeste do país, de baixa escolaridade, conforme disposto em nota do IPEA: A distribuição de escolaridade entre os mototaxistas revela que esse subgrupo da Gig Economy - formada por trabalhadores sem carteira assinada, freelancers ou temporários - do setor de transportes é aquele com o menor grau de instrução, com apenas 2,1% possuindo ensino superior completo e 60,1% não tendo concluído o nível médio. O trabalho por aplicativo corresponde a um processo de “plataformização”do trabalho para atividades realizadas através das plataformas digitais (VAN DOORN, 2017). Comumente refere-se ao trabalho informal realizado por entregadores e motoristas de aplicativo como “Uberização”. Motoristas e entregadores de aplicativo não são as únicas formas de trabalho informal através das plataformas digitais, dentre as tipologias descritas por Grohann (2020), os trabalhadores envolvidos nesta pesquisa utilizam plataformas que requerem o trabalhador em uma localização específica, como é o caso de entregadores e motoristas de aplicativos. É crescente o número de manifestações feitas por esses trabalhadores, como as paralisações onde uma parcela de indivíduos que trabalham como entregador ou motorista de aplicativos se unem para lutar pelos seus direitos e melhorias no exercício de seus trabalhos e não ativam seus perfis 29 para "rodar". Sem entregadores e motoristas, o deslocamento de pessoas e mercadorias fica um caos na cidade, e é uma forma de não apenas as empresas donas dos aplicativos compreenderem a luta desses trabalhadores, como também da sociedade que necessita desses serviços. Percebe-se que a relação entre trabalhador, trabalho por aplicativos e empresas, resulta em um processo de contratação que se camufla da força de trabalho desses indivíduos, uma vez que os processos de trabalho são gerenciados, fazendo com que esses trabalhadores sejam subordinados às empresas (ABÍLIO, 2019; AMORIM; MODA, 2020). Para Amorim e Moda (2021, p.109): (...) a síntese entre ausência de contrato formal de trabalho e o controle realizado pelo gerenciamento algorítmico se fundamenta como centro da extração de mais-trabalho tanto do ponto de vista global, isto é, do trabalho cooperado que é realizado pelo conjunto de entregadores/as, quanto do ponto de vista de cada trabalhador considerado isoladamente. É relevante enfatizar que a OIT (2020), descreve que o trabalho digno abrange elementos como: remuneração justa, segurança, organização e participação nas decisões que afetam suas vidas, melhores perspectivas de desenvolvimento pessoal, etc. Trazendo essa perspectiva para a realidade desses trabalhadores, é possível observar a dinâmica da nossa sociedade assim como o que vemos ser noticiado em jornais e redes sociais, que há precarização do trabalho desses trabalhadores. Em parceria do SEBRAE com a Uber, o SEBRAE publicou um artigo em 2021, baseado no podcast Uber Avança realizado através dessa parceria, onde essas duas organizações conversaram sobre os benefícios de formalizar os entregadores e motoristas de aplicativo através do registro do seu Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) (SEBRAE,2021). Essa é uma medida para transformar o trabalhador que atua de forma autônoma e não é dono de empresa, ou seja, não possui registro formal da atividade laboral e portanto é considerado como empreendedor informal; no dono do próprio negócio, para ter acesso ao mercado formal, isenções e descontos em alguns impostos, benefícios previdenciários (SEBRAE,2021). Vale ressaltar que nesse tipo de formalização não é a empresa que auxiliará o entregador ou motorista a “legalizar-se” ou pagar pelos seus direitos trabalhistas. 30 Além disso, nota-se que tal medida não resolve outras problemáticas, como a insegurança de trabalhar nas ruas pelo alto índice de criminalidade, especialmente em nossa capital, bem como, o comprometimento das empresas de aplicativo ofertarem a remuneração justa ou equipamentos necessários para entregadores e motoristas de aplicativo, por exemplo. Em matéria do jornal Brasil de Fato, divulgada em 2020, há relatos de entregadores de aplicativo que reforçam essa precarização, como o do entregador Paulo Lima: A alimentação é a coisa que mais dói, ter que trabalhar com fome carregando comida nas costas (...) As taxas e o fluxo de emprego caíram na pandemia, porque os aplicativos triplicaram o número de empregadores no Brasil. Então, as taxas estão baixas e o serviço diminuiu. Então, o que está pedindo a greve? Melhores condições de trabalho, porque temos condições péssimas. Bloqueios injustos, dívidas injustas, não temos banheiro e nem alimentação. Paulo, foi um dos entregadores de aplicativos como Rappi, Uber e Ifood, a ficar conhecido nas redes sociais após um vídeo seu viralizar, onde nesse registro o mesmo denunciava as péssimas condições de trabalho nos quais os “motoboys” estão imersos, sem sequer receberem, por exemplo, álcool em gel, uma vez que quando o mesmo iniciou essa denúncia estávamos no início da pandemia da COVID-19. E após a viralização do vídeo, tornou-se capa da revista Exame trazendo essa pauta de exigir melhores condições de trabalho, o qual em seguida foi bloqueado em todos os aplicativos que utilizava para trabalhar e levar o sustento para sua família. Segundo Alves (2000,2011,2013,2018) e Antunes (1999,2018,2019), há muito tempo é possível observarmos a precarização do trabalho e os desafios e dificuldades que essa classe trabalhadora enfrenta, e todos os impactos que essas dificuldades geram para a vida e saúde física e/ou mental, desses trabalhadores. Souza (2020), corrobora a relação do impacto da pandemia da COVID-19 e a precarização do trabalho do país, impactando negativamente a vida e saúde mental de diversas categorias de trabalho, essencialmente as que são essenciais na Pandemia, como é o caso dos entregadores. Não podemos desconsiderar também a essencialidade do serviço dos motoristas de aplicativo que sofrem sob as mesmas condições desfavoráveis no trabalho. 31 Esses aspectos se relacionam principalmente com os atributos valorativos e descritivos, no tocante a percepção de significado do trabalho dos entregadores e motoristas de aplicativo. Conforme já mencionado, Borges, Tamayo e Alves-Filho (2005) incluem fatores aos atributos valorativos, como: justiça no trabalho, auto expressão e realização pessoal, sobrevivência pessoal e familiar e desgaste e desumanização. E em relação aos atributos descritivos, os autores incluem os fatores de auto expressão, condições de trabalho, responsabilidade, recompensa econômica e desgaste e desumanização. Dentre as principais pautas das manifestações e paralisações feitas pelos entregadores e motoristas de aplicativo corresponde ao pedido de aumento do valor repassado por entregas/corridas, uma vez que não apenas o combustível aumentou como o valor para esses entregadores já era considerado abaixo do “justo”, uma vez que esses trabalhadores ao assinaram os termos dos aplicativos de entrega e “corridas” ficam cientes dos custos que eles mesmos deverão arcar. Porém, é comum a situação em que a renda produzida no dia de trabalho suprir apenas o que foi consumido pela moto ou carro. Além dos desafios em conseguir a renda necessária para sobreviver e levar sustento para a família, esses trabalhadores estão imersos em um cenário social de extrema violência, o que contribui para o trabalho de entregadores e motoristas de aplicativo ser negativamente afetado. Segundo matéria do Diário do Nordeste, em 2021, os casos de violência contra esses trabalhadores no Ceará e por todo o nosso país, representam o estopim para escancarar as inúmeras vulnerabilidades que acompanham o trabalho desses indivíduos. De acordo com o jornal Brasil de Fato, no mínimo cinco motoristas de aplicativo foram assassinados no Brasil entre os dias 6 e 13 de outubro de 2021, e ressaltam que formas de violência como: pedradas, facadas, cadáveres encontrados enterrados na areia, escancaram a vulnerabilidade e brutalidade contra esses trabalhadores. Há diversas outras formas de violência sofridas pelos entregadores e motoristas de aplicativo, diariamente, enquanto trabalham. Esses trabalhadores só são assistidos, considerando as maiores empresas do setor (Uber e 99), quando é comprovado que o aplicativo estava ligado quando ocorreu o crime. Ainda nesta matéria do Brasil de Fato, Denivaldo da Silva, um dos motoristas mais antigos da Uber em Belo Horizonte(MG), relata: 32 É uma miscelânea de sentimentos. Tristeza, revolta, angústia, a falta de assistência dos aplicativos, da iniciativa pública. Acaba se tornando o assunto do dia, e dá mais medo de sair de casa, a hora que for, no bairro que for. A gente se sente impotente diante de toda a violência e desprotegido de todos os lados. Em maio de 2022, Yuri, entregador de aplicativo, morreu após um acidente de moto enquanto entregava comida pelo Ifood. Após o ocorrido, sua conta do aplicativo foi desativada, sob justificativa de "má conduta", devido o mesmo não ter cumprido a entrega do lanche, esse foi um dos registros do ocorrido e mensagem que o suporte do aplicativo em questão enviou: Yuri, tudo bem por aí? Espero que sim! Tivemos um alto volume de solicitações de esclarecimento de desativação nos últimos dias, e por isso, a demora para análise e resposta do seu caso. Pedimos compreensão. Fizemos uma análise da sua conta e, por meio de denúncia, identificamos que houve má conduta relacionada a comportamento dentro da nossa plataforma. Por isso, por descumprir o nosso Código de Ética, infelizmente, sua conta foi desativada (...). Diante o exposto, fica evidente a necessidade de ouvir essa classe trabalhadora que luta constantemente por melhorias nas condições de trabalho e tem sua luta muitas vezes silenciada ou ignorada pelas empresas de aplicativo ou até mesmo usuários das plataformas. Para isto, na seção a seguir foi descrito como a presente pesquisa foi conduzida a fim de atingir os objetivos traçados. 33 5 METODOLOGIA DA PESQUISA Esta seção é destinada para descrever o caminho metodológico seguido com a finalidade de atingir os objetivos do presente trabalho. A pesquisa é um meio essencial para os descobrimentos de novos fatos, dados, relações ou leis, nos mais diversos campos do conhecimento, tendo como características ser um procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico (ANDER-EGG,1978 apud LAKATOS E MARCONI, 2003, p. 155). Podemos compreender, portanto, a pesquisa como sendo um conjunto de ações que se relacionam com uma série de procedimentos definidos de forma sistêmica, visando encontrar resultados e respostas a respeito do problema em questão (MENEZES et al., 2019). A ciência surge no início da era moderna, distanciando-se da abordagem metafísica do conhecimento, migrando para uma análise mais racional (SEVERINO,2014). No entanto, o que se utilizava no início, segundo o autor, eram formulações matemáticas que aplicavam perfeitamente à física, por exemplo, mas logo os cientistas perceberam a necessidade de outra abordagem que pudesse expandir os parâmetros e critérios dos estudos, surgindo então a abordagem qualitativa. A natureza da presente pesquisa consiste na abordagem qualitativa, uma vez que lida com: aspectos subjetivos, centrando-se na percepção de entregadores e motoristas de aplicativos; fenômenos sociais e do comportamento humano, ao considerar o significado do trabalho para esses trabalhadores dentro de um contexto de informalidade e trabalho por meio de plataformas digitais. Portanto, a presente pesquisa é qualitativa dado que trabalha com significado, aspirações, motivos, atitudes, valores, onde não podem ser reduzidas a variáveis e equações matemáticas/estatísticas. Os dados qualitativos são diversos e significativos, viabilizando uma análise mais profunda acerca do tema estudado, podendo ser gerado a partir das formas de comunicação humana escrita, visual ou auditiva. Dito isto, acrescenta-se que os instrumentos de coleta de dados utilizados foram: (1) questionário sociodemográfico e informações adicionais para compreender melhor o perfil dos participantes da pesquisa (APÊNDICE A) e 34 (2) entrevistas com roteiro semiestruturado para guiar essa interação entre a pesquisadora e o entrevistado, abrindo espaço para possíveis outras indagações não listadas no roteiro, ou seja, mantendo a flexibilidade, se necessário (APÊNDICE B). Quanto aos objetivos, a presente pesquisa possui caráter descritivo. A pesquisa descritiva busca descrever "as características de determinada população ou fenômeno ou (...) o estabelecimento de relações entre variáveis" (Gil, 2002, p. 41). A capacidade de proporcionar novas visões acerca de um tema já conhecido, é uma das características da pesquisa descritiva (GIL,2008). Como já mencionado neste trabalho, estudos acerca do construto de significado do trabalho têm crescido, bem como a análise do trabalho de indivíduos que se dedicam ao trabalho informal, como é o caso de trabalhadores e entregadores de aplicativo. Nesse tipo de pesquisa, os estudos realizam levantamentos de determinadas características de um grupo, observam as opiniões de determinada parte da população ou até relacionam determinadas variáveis (MENEZES et al.,2019). O presente trabalho relaciona o significado do trabalho com o contexto informal dos trabalhadores supracitados. Em relação aos procedimentos, foi realizado um estudo bibliográfico para fornecer à presente pesquisa um instrumento analítico ou embasamento teórico ao estudo. Porém, seu foco é o estudo de caso, pois o que se vislumbra por meio deste trabalho é a obtenção de um conhecimento mais profundo acerca do objeto pesquisado. Yin (2001) afirma que o estudo de caso é o procedimento metodológico mais adequado a ser utilizado na investigação deste fenômeno contemporâneo imerso no contexto real. O modelo teórico utilizado para o presente estudo, trata-se do que fora construído por BORGES (1998;1999). As perguntas elaboradas estão divididas de acordo com as dimensões que integram o seu modelo de significado do trabalho: centralidade do trabalho, atributos valorativos, atributos descritivos e hierarquia de valores, como mostra o quadro abaixo: Quadro 4 – Relação das Dimensões do modelo elaborado de BORGES (1998;1999) com o Roteiro das Entrevistas 35 DIMENSÃO BORGES (1998;1999) ROTEIRO DE ENTREVISTA CENTRALIDADE DO TRABALHO (Posição do trabalho em relação às outras esferas da vida) 1. O que trabalho significa na sua vida? 2. Por que você trabalha com esse tipo de serviço? 3. Se você pudesse mudar de trabalho, você mudaria? Por que? 4. Você acredita que seu trabalho é essencial para a sociedade? Por que? 5. Qual ordem você atribuiria às seguintes esferas: trabalho, família, religião e lazer? ATRIBUTOS VALORATIVOS (Percepção de como o trabalho deve ou deveria ser) 6. O que você acha que as empresas dos aplicativos que você trabalha poderiam fazer para melhorar as condições de trabalho? 7. Para você, como o seu trabalho se tornaria o ideal para você? ATRIBUTOS DESCRITIVOS (Percepção de como o trabalho é na sua forma concreta) 8. Quais são os riscos que afetam seu trabalho? 9. Quais oportunidades e desafios tornam o seu trabalho mais significativo para você? HIERARQUIA DE ATRIBUTOS (Hierarquia dos atributos valorativos e descritivos) 10. O que é mais importante: oportunidades ou condições de trabalho? Fonte: Elaborada pela autora Vergara (1997), explica que o universo ou população engloba uma série de elementos que são objetivos dos estudos, já a amostra, é uma parte do universo escolhido, sendo selecionada por meio de um critério de representatividade. No presente estudo, o universo corresponde a entregadores e motoristas de aplicativo, ou seja, trabalhadores por aplicativo da capital de Fortaleza (CE). Assim, para o presente trabalho foi analisado: 36 Tabela 3 - Universo e Amostra Análise Descrição Nº Referência Universo Motoristas e Entregadores de Aplicativo de Fortaleza (CE) 50.000 Câmara Municipal de Fortaleza (2021) Sindimotos Ceará (2021) Amostra Nº de Trabalhadores Entrevistados 22 - Percentual em da amostra em relação ao universo 0,044% - Fonte: Elaborado pela autora. O acesso a esses trabalhadores se deu através das ruas e canais digitais, como as redes sociais Facebook, WhatsApp e Instagram. A autora deste trabalho divulgou em seus perfis pessoais, assim como recorreua um dos maiores grupos do Facebook de trabalhadores por aplicativo de Fortaleza, o qual não terá seu nome mencionado por ser um grupo privado e não haver permissão do administrador, além da autora haver sido removida de tal grupo após publicar que estava procurando por trabalhadores por aplicativo para o presente trabalho. Neste grupo há mais de 24 mil membros. Ao total, foi possível conversar com 40 trabalhadores por aplicativo, onde 22 se dispuseram a participar das entrevistas. O motivo para divulgar a procura por tais trabalhadores para a condução da presente pesquisa deu-se pela dificuldade de encontrar entregadores e motoristas de aplicativo que estivessem nas ruas, em horário de trabalho e estivessem dispostos a participar da pesquisa, uma vez que poderia haver “chamado” durante a entrevista o que implicaria em interrompê-la. Portanto, foram realizadas 22 entrevistas, onde 2 destas foram feitas presencialmente e as demais, os entrevistados optaram por participar de forma online. 37 As entrevistas foram realizadas do dia 26 de outubro de 2022 até 02 de novembro de 2022. A duração total das entrevistas foi de aproximadamente 5 horas, onde cada entrevista durou em média 13 - 14 minutos, mediante a disponibilidade e interesse dos entrevistados de participarem das perguntas. Cada entrevistado será referenciado por uma sigla: TAn, sendo TA a sigla para Trabalhador (a) de Aplicativo e “n” o número do indivíduo entrevistado. Os critérios para participar da presente pesquisa, consistiram em: 1. Trabalhar como motorista ou entregador (a) de aplicativo por pelo menos 6 meses. 2. Residir em Fortaleza (CE). 3. Possuir nota de avaliação de no mínimo 4 estrelas. Dito isto, a plataforma utilizada para a condução da entrevista foi o Google Meet, o aplicativo utilizado para a gravação da entrevista foi o Gravador de Voz, disponível no Google Play e o site Online Voice Recorder, quando não foi possível utilizar o aplicativo mencionado. Já o site utilizado para a transcrição dos áudios, foi o Reshape. Ressalto que apesar da transcrição ter sido realizada com o auxílio de um site, todas as transcrições geradas foram revisadas pela autora do trabalho, de modo a conferir e corrigir possíveis erros nas respostas dos entrevistados cometidos pela transcrição do site. A transcrição e revisão das entrevistas foram feitas via Google Docs e tabuladas no Google Sheets, para facilitar a análise das respostas dos entrevistados. Gil (2008) explica que em estudos de caso, um dos maiores desafios é a sistematização em relação "à análise e interpretação dos dados", podem utilizar diferentes procedimentos, desde que preserve a totalidade da unidade social. A análise desses dados foi feita de forma interpretativa, dado que a pesquisa qualitativa corresponde a uma atividade que posiciona o observador no mundo, provocando uma postura interpretativa na busca pela compreensão e interpretação dos fenômenos estudados (DENZIN E LINCOLN,2005). Deste modo, os relatos trazidos pelos participantes das entrevistas foram evidenciados na análise de resultados e geração do conhecimento, de modo a valorizar o conhecimento gerado a partir de suas respostas, vivência e exposição da sua 38 realidade de trabalho, uma vez que o sujeito da pesquisa é o protagonista em análises interpretativas. 39 6 RESULTADOS Nessa seção foram expostos os resultados obtidos pela análise dos dados baseados nos conceitos teóricos do modelo elaborado por Borges (1998,1999). Conforme já citado, foram realizadas 22 entrevistas com trabalhadores de aplicativo, que se subdividem em: 1 - entregadores de aplicativo, 2 - motorista de aplicativo e 3 - entregador e motorista de aplicativo. Dessa amostra, 21 entrevistados se identificam pelo sexo masculino e 1 pelo sexo feminino. A faixa etária dos entrevistados mostrou-se bastante variada, sendo a idade mínima obtida na amostra correspondendo a 18 anos e a máxima correspondendo a 58 anos. Grande parte dos entrevistados: ● Autodeclaram-se pardos; ● Possuem apenas o ensino médio completo; ● São casados; ● Possuem pelo menos 1 filho(a). Tabela 4 - Informações pessoais gerais dos entrevistados TA Idad e Sex o Autodeclara -se Escolaridade Status Civil Nº de filhos TA1 30 M Branco Ensino Médio Completo Casado 2 TA2 31 M Branco Ensino Médio Completo Casado 1 TA3 27 M Pardo Ensino Médio Completo Solteiro 0 TA4 24 M Branco Ensino Superior Incompleto Casado 1 TA5 58 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 3 TA6 54 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 2 TA7 39 M Preto Tecnólogo Casado 2 TA8 37 M Branco Ensino Superior Completo Casado 2 TA9 27 M Pardo Ensino Superior Solteiro 1 40 Incompleto TA10 21 M Pardo Ensino Superior Incompleto Solteiro 0 TA11 29 F Preta Ensino Médio Completo Casada 2 TA12 18 M Pardo Ensino Médio Completo Solteiro 0 TA13 27 M Pardo Ensino Fundamental Completo Solteiro 0 TA14 37 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 0 TA15 26 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 1 TA16 18 M Pardo Ensino Médio Incompleto Solteiro 0 TA17 49 M Pardo Ensino Superior Incompleto Divorciad o 3 TA18 24 M Preto Técnico Solteiro 0 TA19 52 M Branco Ensino Médio Completo Casado 3 TA20 39 M Pardo Ensino Médio Completo Solteiro 1 TA21 48 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 3 TA22 33 M Preto Ensino Médio Completo Casado 3 Fonte: Elaborado pela autora Sendo assim, é possível resgatar os dados do IPEA (2019) em relação ao perfil desses trabalhadores de aplicativos: homens, pretos ou pardos, com menos de 50 anos, residentes da região Norte e Nordeste do país, de baixa escolaridade. Portanto, o perfil da amostra obtida nesta pesquisa, corrobora os dados trazidos pelo IPEA. Em relação a informações gerais sobre o trabalho em aplicativos, quase metade dos entrevistados trabalha tanto como entregador quanto motorista de aplicativo, a modalidade Flash sendo considerada como categoria de entrega por esses trabalhadores; a amostra apresenta uma renda mensal de no mínimo 1 salário mínimo e no máximo 4 salários mínimos, onde a família não depende exclusivamente da renda de trabalho de aplicativo, uma vez que segundo os 41 entrevistados financeiramente isso seria inviável. Ademais, os aplicativos mais utilizados pelos entrevistados são: Uber e 99 POP, nos quais os trabalhadores dessa amostra apresentaram uma média de avaliação de no mínimo 4 estrelas e no máximo 5 estrelas. Vale ressaltar que participaram desta pesquisa trabalhadores que estavam trabalhando com aplicativos a no mínimo 6 meses, ou seja, um período mais recente, porém, o trabalhador TA13, por exemplo, já trabalha há 8 anos com esse tipo de serviço através dos aplicativos, pois segundo o mesmo, ele já “rodava” quando outros aplicativos mais antigos de entregas e corridas de moto já estavam disponíveis em nossa cidade, o mesmo usou o exemplo do aplicativo “Tele Moto”. Tabela 5 - Informações gerais sobre o trabalho dos entrevistados TA Categoria RM FDRM APPs TTA AE TA1 Motorista Até 2 SM Não Uber e 99 POP 4 anos 4.99 TA2 Motorista Até 3 SM Não Uber e 99 POP 3 anos 4.98 TA3 Entregador e Motorista Até 2 SM Sim Uber e 99 POP 3 anos 4.98 TA4 Entregador e Motorista Até 4 SM Não Uber, 99 POP e InDriver 8 meses 5 TA5 Motorista Até 3 SM Sim Uber 5 anos 5 TA6 Entregador Até 2 SM Não iFood 1 ano 5 TA7 Entregador e Motorista Até 1 SM Não Uber e 99 POP 8 meses 5 TA8 Motorista Até 2 SM Não Uber e 99 POP 2 anos 4.96 TA9 Entregador Até 3 SM Não iFood 4 anos 5 TA10 Entregador Até 2 SM Não iFood 2 anos 4 TA11 Motorista Até 2 SM Não Uber 6 meses 4 42 TA12 Entregador Até 1 SM Não iFood 6 meses 5 TA13 Entregador e Motorista Até 2 SM Não Uber 8 anos 5 TA14 Motorista Até 1 SM Não Uber e 99 POP 5 anos 4 TA15 Entregador e Motorista Até 2 SM Não Uber 8 meses 4.97 TA16 Entregador Até 1 SM Não iFood 2 anos 4.5 TA17 Entregador e Motorista Até 2 SM Sim Uber e 99 POP 2 anos 5 TA18 Entregador e Motorista Até 2 SM Sim Uber 1 ano 4.99 TA19 Motorista Até 2 SM Sim
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