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TCC Completo SE NÃO RODA, NÃO GANHA O SIGNIFICADO DO TRABALHO PARA UMA PARCELA DE TRABALHADORES INFORMAIS SOB A ÓTICA DE ENTREGADORES E MOTORISTAS DE APLICATIVO DE FORTALEZA (CE).

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E
CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
JÉSSICA DANTAS DE ANDRADE
“SE NÃO RODA, NÃO GANHA”: O SIGNIFICADO DO TRABALHO PARA UMA
PARCELA DE TRABALHADORES INFORMAIS SOB A ÓTICA DE
ENTREGADORES E MOTORISTAS DE APLICATIVO DE FORTALEZA (CE).
FORTALEZA
2022
JÉSSICA DANTAS DE ANDRADE
“SE NÃO RODA, NÃO GANHA”: O SIGNIFICADO DO TRABALHO PARA UMA
PARCELA DE TRABALHADORES INFORMAIS SOB A ÓTICA DE
ENTREGADORES E MOTORISTAS DE APLICATIVO DE FORTALEZA (CE).
Monografia apresentada ao Curso de
Administração do Departamento de
Administração da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial à
obtenção do
título de bacharel em Administração.
Orientador: Profª. Dra. Elidihara
Trigueiro Guimarães.
FORTALEZA
2022
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e oportunidade de me
desenvolver.
Em segundo lugar, agradeço a minha família, em especial a minha mãe,
Eliane Dantas e meu pai, João Batista que sempre priorizaram minha educação,
e através de muito esforço, formaram quem sou hoje. Agradeço também ao meu
irmão, Rayron, por ser o meu eterno laço de confiança e parceria. Em especial,
também agradeço aos meus avós, principalmente minha única avó viva, Marlúcia,
mulher batalhadora. Agradeço também aos meus tios e primos.
Agradeço ao meu esposo, Isac Emerson que por anos tem me dado a
força que preciso para continuar, assim como o cuidado, admiração e confiança.
Agradeço a essa instituição que por mais de 4 anos ocupou uma parte
importante em minha vida, e sempre significará muito.
Agradeço, em especial a minha orientadora, Elidihara Trigueiro Guimarães,
que ao longo de duas disciplinas e nessa etapa de conclusão de curso,
acompanhou meu trajeto neste trabalho e me instigou a evoluir o meu
pensamento acerca do tema, e da vida.
Agradeço aos demais professores que me acolheram e me fizeram enxergar o
mundo com outros olhos e me marcaram profundamente: Vicente Melo, Augusto
Cézar de Aquino Cabral, Suzete Suzana Rocha Pitombeira, Ana Paula Moreno
Pinho, Marcia Zabdiele Moreira, Luis Carlos Murakami, Cláudio Bezerra
Leopoldino.
RESUMO
O trabalho é uma das esferas mais importantes da nossa vida, sendo, portanto,
importante para a existência humana. Naturalmente atribuímos sentidos às
coisas, pois há um processo subjetivo a cada indivíduo, sujeito às nossas
intencionalidades e habilidades cognitivas (Fiske,1992). MOW (1987) foi a equipe
pioneira a estudar sobre o significado do trabalho, criando um modelo para tal e
definindo esse construto como uma construção de conhecimentos dos indivíduos
de experiências pessoais com o trabalho. Tal modelo possibilitou o surgimento de
outros modelos, como o de Borges (1998,1999) que foi utilizado neste trabalho.
Borges (1998,1998) propôs um modelo de estudo do significado do trabalho que
foi estruturado em quatro dimensões: centralidade do trabalho, atributos
valorativos, atributos descritivos e hierarquia de valores. O objetivo geral deste
trabalho foi analisar o significado do trabalho para os trabalhadores informais que
atuam como entregadores e motoristas de aplicativos, da cidade de Fortaleza, no
estado do Ceará. Os resultados da presente pesquisa mostram que o trabalho é
uma esfera central para os trabalhadores de aplicativos de Fortaleza, no entanto,
a esfera da família foi elencada como mais importante do que o trabalho. Quanto
os atributos valorativos, que envolvem como o trabalho dele ser, a segurança,
mais direitos ou valorização por parte das empresas dos aplicativos e suporte,
foram os fatores valorativos mais elencados pelos entrevistados. Quanto aos
atributos descritivos, que diz respeito a como o trabalho é na forma concreta, os
entrevistados relataram que as condições de trabalho e recompensa econômica
não são adequadas e sentem um nível de desgaste maior, tanto fisicamente,
quanto emocionalmente e psicologicamente. Já em relação a quarta dimensão:
hierarquia de atributos, a maioria dos trabalhadores priorizam os atributos
descritivos ao escolherem como fator de maior importância: às condições de
trabalho, porém, todos expressaram que ambos são importantes e estão
conectados.
Palavras-chave: Significado do trabalho; Trabalhadores de Aplicativo; Trabalho
informal.
ABSTRACT
Work is one of the most important spheres of our lives and is therefore important
for human existence. We naturally attribute meanings to things, as there is a
subjective process for each individual, subject to our intentions and cognitive
abilities (Fiske, 1992). MOW (1987) was the pioneering team to study the meaning
of work, creating a model for it and defining this construct as a construction of
individuals' knowledge of personal experiences with work. This model enabled the
emergence of other models, such as Borges (1998, 1999) which was used in this
work. Borges (1998, 1998) proposed a study model of the meaning of work that
was structured in four dimensions: centrality of work, evaluative attributes,
descriptive attributes and hierarchy of values. The general objective of this work
was to analyze the meaning of work for informal workers who work as delivery
people and app drivers in the city of Fortaleza, in the state of Ceará. The results of
this research show that work is a central sphere for application workers in
Fortaleza, however, the family sphere was listed as more important than work. As
for the evaluative attributes, which involve how his work is, security, more rights or
appreciation on the part of the applications and support companies, they were the
evaluative factors most mentioned by the interviewees. As for the descriptive
attributes, which concerns how the work is in a concrete way, the interviewees
reported that the working conditions and economic reward are not adequate and
they feel a greater level of wear, both physically, emotionally and psychologically.
Regarding the fourth dimension: hierarchy of attributes, most workers prioritize
descriptive attributes when choosing the most important factor: working conditions,
however, all expressed that both are important and are connected.
Keywords: Meaning of work; Application Workers; Informal work.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO…………………………………………………...…….. 01
2 SIGNIFICADO DO TRABALHO ……………………………………… 03
2.1 Trabalho como uma cognição subjetiva, sócio-histórica e
dinâmica…………………………………………………………………
03
2.2 Definição de Significado do Trabalho…………………………….. 05
2.3 Dimensões que integram o significado do trabalho - The
Meaning of Work - MOW (1987)……………………………………..
07
2.4 Dimensões que integram o significado do trabalho - Borges
(1998;1999)……………………………………………………………...
13
3 TRABALHO INFORMAL……………………………………………... 18
3.1 Cenário do Trabalho Informal: No mundo………………………... 18
3.2 Cenário do Trabalho Informal: No Brasil…………………………. 21
3.3 Cenário do Trabalho Informal: No Ceará…………………………. 24
3.4 Cenário do Trabalho Informal: Em Fortaleza…………………….. 26
4 O DIA A DIA DO TRABALHO DOS ENTREGADORES E
MOTORISTAS DE APLICATIVO……………………………………...
28
5 METODOLOGIA DA PESQUISA…………………………………….. 33
6 RESULTADOS………………………………………………………….. 39
6.1 Centralidade do Trabalho……………………………………………. 42
6.2 Atributos Valorativos…………………………………………………. 47
6.3 Atributos Descritivos………………………………………………… 51
6.4 Hierarquia de Atributos……………………………………………… 55
6.5 Considerações da Pesquisa………………………………………… 57
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS….……………………………………….. 59
8 REFERÊNCIAS………………………………………………………… 61
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO …………………………………… 72
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA………………………. 74
ANEXO A - MOBILIZAÇÃO DA CATEGORIA DE
ENTREGADORES DE APLICATIVOS….…………………………...
75
ANEXO B - YURI, ENTREGADOR DE APLICATIVO, FALECE
APÓS ACIDENTE DE MOTO ENQUANTO TRABALHAVA………
75
ANEXO C - MENSAGEM DO SUPORTE DO IFOOD PARA O
YURI……………………………………………………………………...
76
1
1 INTRODUÇÃO
O trabalho ocupa uma das posições centrais de nossa vida. Desde a
nossa infância, incorporamosem nossas brincadeiras as atividades voltadas ao
trabalho que temos contato até aquele momento, das quais vemos nossos
familiares realizando. Em nossa juventude, temos marcado perguntas como: “O
que você quer ser quando crescer? ”, “Com o que você pretende trabalhar? ”. Ou
seja, nos preparamos e somos instigados por toda a nossa vida a pensar e agir
em busca de um trabalho.
Em algumas culturas, o trabalho é uma dimensão central na vida do
indivíduo. Dado a sua importância, estudiosos passaram a se dedicar a este
tema, como equipe MOW (1987), pioneira no estudo sobre significado do trabalho
e inspirou o surgimento de outros modelos como o de Borges (1998;1999).
Borges e Tamayo (2001) descrevem que o trabalho é rico, tanto no
sentido individual, quanto social, sendo o meio de produção para cada indivíduo,
e mais do que possibilitar a sobrevivência através do seu retorno financeiro, é
também um meio pelo qual criamos sentidos existenciais.
No entanto, para uma parcela considerável da população, a nível
mundial e local, o trabalho representa uma forma de sobrevivência, levando-as a
vivenciar o trabalho informal. Dados da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), em relação a 2018, mostraram que duas bilhões de pessoas estavam no
trabalho informal, sendo a maioria dessa parcela da população pertencente a
países emergentes e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
Com a pandemia do COVID-19 e o aumento de delivery, o trabalho
como motorista e entregador de aplicativos aumentou, considerando também o
aumento do desemprego, no entanto, antes desse período já havia um forte
movimento de pessoas que migraram para trabalhar como trabalhadores por
aplicativo.
Diante do exposto, a relevância do presente trabalho pautou-se na
importância de expandirmos a compreensão do significado do trabalho
considerando o contexto e o tipo de serviço desses trabalhadores, dado que o
significado do trabalho é subjetivo, sócio-histórico e dinâmico (Borges, 1996;
1998; Borges e Tamayo, 2001). Ademais, a autora desta pesquisa dedicou-se por
2
um período em sua vida, meses iniciais da pandemia, a este tipo de serviço,
possibilitando-a ter acesso a vivências a partir do contato com outros
trabalhadores por aplicativo que instigaram seu interesse pelo tema.
O problema da presente, portanto, foi: Qual o significado do trabalho
para os entregadores ou motoristas de aplicativo de Fortaleza?
O objetivo geral deste trabalho foi analisar o significado do trabalho
para entregadores e motoristas de aplicativos, da cidade de Fortaleza, no estado
do Ceará. Para atingir o objetivo geral, foi elencado três objetivos específicos que
nortearão a realização da presente pesquisa:
a) Revisar literatura, apanhado teórico sobre o significado do trabalho.
b) Levantar dados sobre o cenário do trabalho informal no Brasil, com
foco nos motoristas e entregadores de aplicativo.
c) Interpretar a percepção do significado do trabalho para esses
trabalhadores a partir dos dados coletados, por meio das
entrevistas.
O presente trabalho foi dividido entre (1) Introdução, (2) Significado do
Trabalho, (3) Trabalho Informal, (4) O Dia a Dia do Trabalho dos Entregadores e
Motoristas de Aplicativo, (5) Metodologia da Pesquisa, (6) Resultados, (7)
Considerações Finais, (8) Referências e: APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO,
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA e ANEXO A - FOTOS.
3
2 SIGNIFICADO DO TRABALHO
Nas últimas décadas, temos presenciado profundas transformações na
sociedade, em todos os âmbitos da vida, principalmente no trabalho. O trabalho é
parte importante da existência humana. Em nossa sociedade,
predominantemente cristã, há um dito popular que caracteriza essa relação de
trabalho e sua significância: "o trabalho dignifica o homem".
Segundo Fiske (1992), o processo de atribuir significado é subjetivo
para cada indivíduo e está sujeito a sua intencionalidade e habilidades cognitivas,
trazendo "as marcas de sua inserção no mundo". Ademais, o caráter central do
trabalho para a humanidade foi determinante para a manutenção da vida do
homem, individual e coletivamente (SACHUK, ARAÚJO; 2007).
2.1 Trabalho como uma cognição subjetiva, sócio-histórica e dinâmica
Para Bendassolli (2007), o trabalho humano é objeto de estudo de
múltiplas áreas das ciências, a saber: Antropologia, História, Economia,
Sociologia, Psicologia e Filosofia, sendo uma atividade conectada com a história
da humanidade, tornando-o confundível e inseparável da nossa existência
(JACQUES, 1996).
Segundo Borges et. al (2008), a forma de conceber o trabalho,
executá-lo e as relações de produção estabelecidas nessa dinâmica, ou seja,
tudo o que integra o trabalho, são elementos que foram historicamente criados ao
longo do tempo, à medida que evento históricos como a evolução
técnico-científica e cultural, em cada sociedade, se concretizaram. Por exemplo,
uma problemática da sociedade atual diz respeito ao:
Enorme desemprego estrutural, um crescente contingente de
trabalhadores em condições precarizadas, além de uma degradação que
se amplia, na relação metabólica entre homem e natureza, conduzida
pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de
mercadorias e valorização do capital. (ARTUNES, 2005, p. 226).
Segundo Marx (1983), no modo de produção capitalista o trabalho
aliena, pois, o produto e o processo de produção se tornam estranhos ao
trabalhador. Nesse sistema, o trabalhador vende sua força para sobreviver,
4
ressignificando a visão de liberdade frente ao trabalho e o afastando do que ele
realiza.
Goulart (2009, p. 53) ressalta que no pós-fordismo, o trabalho se reduz
a uma natureza instrumental dirigida a fins econômicos para os cidadãos com
poucos níveis de proteção social e "ameaçados pela perda das condições
mínimas de segurança e proteção". Em seu estudo “O significado do trabalho:
delimitações teóricas (1955-2006)”, uma das conclusões que Goulart destaca é
que, no momento presente, o significado do trabalho parece refletir uma espécie
de incerteza, descontinuidade e vulnerabilidade social e "exigir a pulverização dos
modos de pensar, visualizar e enfrentar o futuro laboral". É na propagação do
capitalismo flexível e de ideias neoliberais, que a direção de carreira e trabalho
modificam-se, "transferindo para o trabalhador toda a responsabilidade de se
manter ou conseguir um emprego" (NEVES ET. AL, 2018, p. 322).
Nesse contexto, é possível percebermos que as mudanças históricas
transformaram profundamente o trabalho e seu significado na vida dos indivíduos.
O trabalho perde-se em um sistema complexo, abstrato e desterritorializado, e o
sentido do trabalho para os indivíduos é suspenso, uma vez que estes passam a
ser avaliados por critérios que não lhes geram sentido (Gaulejac, 2007).
Em concordância, Antunes (2000) explica que elevados índices de
desemprego, um crescente contingente de trabalhadores em condições
precarizadas e a ampliação da degradação do trabalho são problemáticas da
sociedade contemporânea.
No tocante a afetividade e cognição, Bruner (1997), explica que os
significados correspondem a componentes afetivo-cognitivos construídos pelos
indivíduos mediante sua inter-relação com a sociedade na qual está inserido,
tendo influência dos elementos de sua cultura. Desse modo, podemos
compreender o significado do trabalho como uma “cognição subjetiva, sócio
histórica e dinâmica", segundo Borges (1996; 1998); Borges e Tamayo (2001),
formado por múltiplas facetas nas quais se manifestam na prática e serão
descritas posteriormente.
Sua subjetividade se dá pela variação individual que ocorre pelo
reflexo da história pessoal do trabalhador e como este processa, interpreta e
atribui sentido ao seu trabalho. É a capacidade que o ser humano possui de
5
transmitir significado à natureza através de uma atividade planejada, consciente
que transforma bilateralmente o homem e a natureza, e isso que diferencia o
trabalho humano em relação a outros animais (MARX,1983).
É um construto sócio histórico, pois é construído a partir da
socialização dos indivíduos que em conjunto compartilham aspectos sobre o
trabalho, refletindo em sua significância as condições históricas da sociedade nas
quais estão inseridos, ou seja, varia no tempo e na cultura. Além disso, é
dinâmica uma vez que o processo da construção quanto o significado do trabalho
é inacabado, constante e permanente nas perspectivas já citadas. Dito isso,
Borges e Tamayo (2001, p. 13) descrevem:
O trabalho, por sua vez, é rico de sentido individual e social. É meio da
produção da vida de cada um, provendo a subsistência, criando sentidos
existenciais ou contribuindo na estruturação da personalidade e da
identidade. Também é categoria central da própria organização societal.
Apresenta-se em uma variedade de ocupações, sendo objeto de
diversificada classificação. E glorificado desde os defensores mais
tradicionais do capitalismo aos marxistas. Mesmo quando utilizado em
seu sentido econômico (trabalho remunerado) e restrito ao contexto das
organizações formais, continua diversificado, ambíguo e complexo.
Considerando todos esses aspectos que caracterizam o significado do
trabalho, é importante compreender que esse construto, é considerado pelos
pesquisadores como complexo, assim, como Bendasolli (2007) descreveu,
tornou-se objeto de pesquisa e estudos por diversas disciplinas acadêmicas.
Segundo Silva et. al (2018), as pesquisas relativas a esse construto ''se
intensificaram a partir da década de 80, especialmente com os estudos pioneiros
dos pesquisadores do “Meaning Of Work Team". Borges et. al (2008)
acrescentam que, estudos sobre o significado do trabalho, são mais recentes do
que aqueles sobre motivação ao trabalho - construto considerado como um dos
antecedentes do significado do trabalho e que, a partir da década de 1980,
começaram a surgir “sob a égide do cognitivismo social e/ou de tendências
bastante empíricas”. Já no Brasil, os pioneiros pelos estudos desse construto em
nosso país foram Soares (1992), Bastos, Pinho e Costa (1995).
2.2 Definição de Significado do Trabalho
6
Os estudos realizados pelos pesquisadores do MOW em oito países:
Bélgica, Israel, Iugoslávia, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e
Holanda, atingindo uma amostra de quase 15 (quinze) mil pessoas, sendo a
maioria do setor privado, tornando-se não apenas um dos estudos de referência
sobre significado do trabalho, como também um suporte para o desenvolvimento
de outros estudos ou modelos (Silva et. al, 2018). Através destas pesquisas, a
equipe MOW definiu o significado do trabalho, de acordo com Silva et. al (2018, p.
173-174) como:
(...) uma construção de conhecimentos dos indivíduos de experiências
pessoais com o trabalho, das condições do mesmo, o modo como são
influenciados e reagem às questões de estruturas sociais, condições
econômicas, políticas, psicossociais, culturais, tecnológicas da realidade
em que vivem.
O caráter dinâmico do significado do trabalho, fortalece a justificativa e
necessidade de desenvolver estudos neste campo, além disso, uma vez que os
estudos sobre o construto são recentes, e trata-se de uma temática
predominantemente contemplada nos estudos sistemáticos na Psicologia Social e
do Trabalho, segundo Borges e Tamayo (2001), corroboram a relevância de sua
investigação.
O significado do trabalho é um construto de múltiplas facetas, no
entanto, autores como Borges e Tamayo (2001), na bibliografia não há uma
identificação consensual dos conceitos a respeito dessas facetas. O grupo MOW
definiu variáveis que integram o entendimento acerca do significado do trabalho,
sendo elas: a centralidade, normais sociais e resultados e objetivos valorizados
no trabalho.
Nos estudos desenvolvidos por Borges (1998;1999), “foi proposto um
modelo no qual o significado do trabalho possui quatro facetas: a centralidade do
trabalho, os atributos valorativos, os atributos descritivos e a hierarquia dos
atributos” (NEIVA, 2016, p. 19).
O significado do trabalho, portanto, na prática, não se limita apenas a
essas três facetas citadas. Prova disso são os estudos de Borges-Andrade
(1995), Borges-Andrade & Nogueira (1994) e Soares (1992) que, ao conduzirem
suas pesquisas utilizando o modelo proposto pelo grupo MOW, não conseguiram
7
comprovar a dimensão de normas societais nas amostras brasileiras. Assim,
Borges e Tamayo (2001, p. 17), explicam que:
A base empírica da identificação dos atributos foi decisiva para a
consideração de categorias não incluídas em questionários utilizados em
estudos internacionais, mais referidos em estudos no Brasil, como é o
caso de sobrevivência (Tamayo, 1994). Da mesma forma, foi importante
na consideração da crítica da bibliografia (Brief & Nord, 1990 e Ros,
Schwartz & Surkiss, 1995), apontando a necessidade de ampliação do
leque de valores nos estudos do significado do trabalho.
O presente estudo baseia-se no que foi construído através do trabalho
da autora BORGES (1998,1999). Faz-se necessário, explicar brevemente acerca
do modelo proposto por MOW (1987), antes de descrever o modelo proposto por
BORGES (1998;1999), uma vez que os estudos feitos por MOW, como já citado,
é um estudo clássico sobre o construto e influenciou todas as outras pesquisas
acerca do significado do trabalho.
Quadro 1 - Dimensões do modelo de MOW (1987) e BORGES (1998;1999) -
Significado do Trabalho
MOW (1987) BORGES (1998;1999)
1. Centralidade do trabalho
2. Normas sociais
3. Objetivos e resultados
valorizados
1. Centralidade do trabalho
2. Atributos valorativos
3. Atributos descritivos
4. Hierarquia dos atributos
Fonte: Elaborada pela autora
2.3 Dimensões que integram o significado do trabalho - The Meaning of
Work - MOW
A equipe de investigação do Meaning of Work International Research
Team (MOW), entre 1981 e 1983, passou a conduzir pesquisas com amostras
representativas em diferente países guiados pelos seguintes objetivos: (1) realizar
uma pesquisa entre culturas e nações, (2) verificar a incidência de um dado
fenômenos em diferentes ambientes e, (3) conferir como culturas diferentes
8
solucionam na prática alguns fenômenos comportamentais relacionados ao
trabalho.
Baseado no que fora descrito até aqui, podemos compreender que o
significado do trabalho pode ser analisado sob três perspectivas: individual,
organizacional e social. O enfoque do trabalho do MOW é individual, dado que
analisa esse construto sob a ótica do indivíduo. A pesquisa foi aplicada, por meio
de questionários, em oito países, ao todo, sendo eles: Bélgica, Inglaterra,
Alemanha, Israel, Japão, Holanda, Estados Unidos e ex-Iugoslávia.
Inicialmente, o modelo MOW estava estruturado considerando as
seguintes variáveis: centralidade, normas sociais acerca do trabalho, resultados
valorizados do trabalho, objetivos do trabalho e papéis do trabalho. Após uma
análise fatorial exploratória, os construtos encontrados foram: centralidade do
trabalho, normas sociais orientadas para os direitos, normas sociais orientadas
para os deveres, função econômica do trabalho, resultado intrínseco ou
expressivo, contrato interpessoal pelo trabalho; sendo agrupados, para melhor
entendimento, nas três facetas que já conhecemos: centralidade do trabalho,
normas sociais e objetivos e resultados valorizados:
Figura 1 - Representação estruturada do significado do trabalho
Fonte: MOW (1987)
9
Em seu modelo, a equipe MOW incluiu para a primeira dimensão, a de
centralidade do trabalho, o caráter absoluto e relativo, podendo ser observado da
seguinte forma:
Figura 2 - Facetas do significado do Trabalho - MOW (1987)
Fonte: Elaborada pela autora a partir de Andrade, Tolfo e Dellagnelo (2012, p. 203 e 204).
I. Centralidade do Trabalho
Como exposto, a primeira dimensão do modelo proposto por MOW
(1987) corresponde à centralidade do trabalho que é entendido como a posição
que o trabalho ocupa na vida do trabalhador em comparação às outras áreas que
integram nossavida, ou seja, relaciona-se com o grau de importância para o
indivíduo. Assim, para MOW (1987, p.81), a centralidade é compreendida como “o
grau de importância geral que o trabalho tem na vida de um indivíduo para um
dado ponto no tempo” ou “convicção geral acerca do valor do trabalho na vida de
um indivíduo”.
Kubo e Gouvêa (2012, p.542 e 543), provocam uma reflexão
importante, ao explicar que a centralidade corresponde a importância que do
trabalho tem para o trabalhador:
Na maior parte das sociedades industrializadas, o tempo gasto no
trabalho representa aproximadamente um terço daquele em que a
pessoa está acordada. Se adicionalmente for somado todo o tempo em
que o indivíduo gasta preocupando-se, planejando, em treinamento e em
outras situações relacionadas com o trabalho, uma parte substancial da
vida de um adulto será voltada para essa atividade.
10
O homem é complexo, e portanto, não seria possível analisarmos com
propriedade a centralidade do trabalho na vida de um indivíduo sem nos
atentarmos às “esferas da vida” deste indivíduo. Borges e Yamamoto (2001)
propõem que os dois componentes que integram a centralidade do trabalho - são
complementares entre si (FREIRE, 2021) - a saber: aspecto absoluto e relativo,
observam as esferas da vida, citadas anteriormente, onde o absoluto corresponde
a importância do trabalho em si para o indivíduo e o relativo diga respeito a
posição do trabalho em relação a família, lazer, comunidade e religião.
MOW (1987) evidencia que as experiências da vida humana são
distribuídas em sub-esferas, havendo preferências particulares a cada indivíduo
em relação ao significado e grau de importância de cada uma delas.
A equipe MOW (1987) identificou, através de sua pesquisa, diferentes
tipos de padrões de trabalho. Segundo Freire (2021), tais padrões foram
denominados por padrão A e F e foram estudados por England e Whiteley (1990),
integrantes da equipe MOW (1987). A seguir, note o que indica cada padrão:
● Padrão A - qualquer coisa pode ter valor, ser realizada e ser trocada
por dinheiro por seu valor;
● Padrão B - há um vínculo da realização do trabalho, e recebe-se
dinheiro em prol de uma contribuição coletiva/social;
● Padrão C - além do salário presente no padrão B, outras pessoas
são beneficiadas com o trabalho que o indivíduo exerce;
● Padrão D - o indivíduo recebe dinheiro para realizar seu trabalho,
suas atividades são definidas, recebe ordens e o contexto não é
considerado como agradável;
● Padrão E - baseia-se no padrão D, mas estende-se para um
trabalho que é mentalmente e fisicamente exigente, ainda não sendo
agradável;
● Padrão F - a percepção do indivíduo a respeito do trabalho é neutra,
uma vez que recebe dinheiro para realizá-lo e entende que as
atividades fazem parte do trabalho e que devem ser realizadas em
um horário determinado.
11
A partir dos resultados gerado pela pesquisa de MOW (1987) é
possível percebermos que a percepção do trabalho varia entre neutro e central,
onde, em número, os resultados foram, onde na maioria dos países analisados
(55,8% dos participantes), como: Japão, Bélgica, Inglaterra, Israel, Holanda e
ex-Iugoslávia, apresentaram uma percepção positiva do trabalho, ficando mais
evidente entre os japoneses. Já entre os alemães e americanos (11,8% dos
participantes), a percepção acerca do trabalho configurou-se na neutralidade e
32,4% apresentou uma percepção negativa.
Considerar que o trabalho só é importante para os trabalhadores sob o
ponto de vista financeiro seria um equívoco, e limita nossa compreensão acerca
do significado do trabalho. Kubo e Gouvêa (2012) explicam que um fato
comprovado é que um percentual significativo de pessoas seguiria trabalhando,
ainda que tivesse dinheiro o suficiente para não precisar mais trabalhar.
Corroborando estes autores, Goulart (2009) explica que Morse e Weiss
(1955) produziram um dos estudos pioneiros sobre o significado do trabalho nos
Estados Unidos, cuja pergunta central era o clássico questionamento: "Você
continuaria trabalhando se ganhasse na loteria?", e como resultado verificaram
que 80% dos participantes afirmaram que continuariam trabalhando, ademais, a
faixa etária que mais concentrou respostas afirmativas a essa pergunta foi de 20
a 25 anos, sendo 90% das respostas afirmativas.
Um estudo mais recente, Gaggiotti (2004) abordou novamente a ideia
desta pergunta, dessa vez descrita da seguinte forma: “Imagine que você ganhe
na loteria ou que herde uma fortuna que lhe permitirá viver sem trabalhar pelo
resto de sua vida, o que você faria com seu emprego? ”, obtendo os seguintes
resultados: 72% participantes afirmaram que continuariam trabalhando, porém
mudariam as condições, 22% continuaram trabalhando, apenas 3% deixaria de
trabalhar e os outros 3% não responderam. Segundo Goulart (2009), o fato de
90% da amostra investigada afirmar que permaneceria trabalhando, e quase 72%
afirmar que mudariam as condições nas quais o trabalho é realizado, pode
evidenciar o "contexto de precarização das condições de trabalho na atualidade".
Esses dados mostram que o trabalho representa um elo do indivíduo
com a sociedade, e um elo de vida para o trabalhador ter um propósito de vida. O
trabalho impacta no aspecto econômico, e sociopsicológico (KUBO E GOUVÊA,
12
2012). Os valores de centralidade, portanto, variam de acordo com a atividade,
indivíduos e contexto.
II. Normas sociais sobre o trabalho
As normas sociais do trabalho são compostas pela orientação
normativa do trabalho como direito e obrigação, ou seja, relaciona-se com direitos
e deveres do indivíduo em relação ao trabalho (MOW,1987).
Essas normas sociais podem ser compreendidas como a "pressão da
sociedade sobre o comportamento das pessoas sobre a sociedade" (KUBO E
GOUVÊA. p. 543) as quais têm influenciado fortemente o trabalho ao longo dos
anos. (MOW,1987) já havia descrito essas mudanças como: mudanças
tecnológicas, aumento na participação feminina na força de trabalho, aumento do
nível educacional, etc.
Tais normas sociais podem ser orientadas aos direitos dos
trabalhadores ou para os deveres dos trabalhadores. Quando orientadas aos
direitos dos trabalhadores, envolvem instrumentos disponibilizados para a
realização do seu trabalho, exemplo: treinamento adequado na função,
participação nas decisões de trabalho.
Já as normas sociais, segundo os autores, são orientadas a deveres
dos trabalhadores correspondem às obrigações que o trabalhador tem na
sociedade e perante ela, como: é obrigação de todos os trabalhadores atuar em
prol de um futuro melhor, valorizar sua categoria e trabalho do próximo e cumprir
com as obrigações legais estabelecidas por lei.
III. Resultados e objetivos valorizados do trabalho
A terceira e última faceta do modelo de MOW (1987) a respeito do
significado do trabalho diz respeito às motivações que influenciam o indivíduo a
trabalhar, ou seja, os resultados e objetivos valorizados pelo trabalhador. Diversos
resultados e objetivos que são valorizados do trabalho foram identificados pela
equipe MOW (1987), a saber: a função de fonte de renda do trabalho, onde,
apesar de não ser cabível ser o foco principal do que o trabalho pode
proporcionar é geralmente considerado o mais importante; o trabalho sendo
percebido como interessante e satisfatório para o trabalhador (função intrínseca);
13
o trabalho sendo considerado como um meio para contatos interessantes com
outras pessoas, atualmente chamamos de networking, ocupando uma função
interpessoal do trabalho.
Além dessas funções, os indivíduos também valorizam o trabalho,
dado seus resultados e objetivos, considerando que o trabalho é importante para
nossa ocupação de tempo, status e prestígio pelo trabalho, e serventia à
sociedade através das atividades inerentes ao seu trabalho.
Dito isto, FREIRE (2021, p.34) resume, os objetivos relacionados ao
trabalho do indivíduo podem estar relacionados a: a uma posição de destaque em
seu trabalho (status social);ao financeiro (função econômica); ao se manter
ocupado realizando uma atividade (ocupação); às relações sociais (contato
social); a servir a sociedade (útil para sociedade); a auto valorização do trabalho
e auto realização (interessante e auto realização)”.
2.4 Dimensões que integram o significado do trabalho - Borges (1998;1999)
O trabalho desenvolvido por Borges (1998;1999) acerca deste
construto, intitulado por Inventário do Significado do Trabalho (IST), tem se
tornado cada vez mais relevante para pesquisas em Psicologia, e outras áreas
como Administração.
Segundo Borges, Alves-Filho e Tamayo (2008), os significados que os
indivíduos atribuem ao trabalho estão associados a outro construto: motivação.
Dessa forma, a partir do IST, o Inventário de Motivação e Significado do Trabalho
(IMST) foi criado para melhor dar suporte aos pesquisadores, “pela absorção de
conceitos da teoria da motivação designada como Teoria das Expectativas”
(BORGES, ALVES-FILHO E TAMAYO, 2008, p. 218). Ademais, outras pesquisas
têm se fundamentado no que fora construído por Borges (1998;1998) - IST - e
Borges e Alves-Filho (2001) - IMST.
O clássico modelo proposto pela equipe MOW, ao ser utilizado nos
estudos de Borges-Andrade (1995), Borges-Andrade & Nogueira (1994) e Soares
(1992), não conseguiram comprovar a dimensão de normas sociais em amostras
brasileiras.
14
O modelo proposto por Borges (1998,1999) previa que os indivíduos
possuíam um conjunto de variáveis, como: característica socioeconômicas e
demográficas, concepções pessoais acerca do trabalho e uma estrutura social
das organizações que integram o processo de socialização organizacional, cuja
relação existente entre esse processo e o significado do trabalho são ilustrados
pelo modelo da autora Borges. As variáveis integradas ao processo de
socialização organizacional são: tradições organizacionais, qualificação/inclusão,
objetivos e competências.
Para Borges (1998;1998) o trabalho reflete a história do trabalhador, e
seu modelo divide-se em quatro facetas: centralidade do trabalho - é central na
vida do indivíduo; atributos descritivos - aquilo que o indivíduo acha que o
trabalho é; atributos valorativos - aquilo que o trabalhador acha que o trabalho
deve ou deveria ser; e hierarquia dos atributos - organização por ordem de
importância. Podemos visualizar o modelo proposto, onde o trabalho reflete a
história do trabalhador, da seguinte, maneira:
Figura 3 - Modelo de significado do trabalho por Borges, Tamayo e Alves-Filho
(2005)
Fonte: Borges, Tamayo e Alves-Filho (2005)
15
I. Centralidade do Trabalho
Borges (1998; 1999) desenvolveu pesquisas em diferentes estados do
Brasil e categorias ocupacionais distintas, verificando que o trabalho é uma das
esferas mais relevantes para o indivíduo, sendo precedido apenas pela família.
England e Misumi (1986) foram os responsáveis, na Psicologia, pelo
estudo no qual o conceito de centralidade do trabalho foi utilizado, sendo
popularizado após a publicação do estudo da equipe MOW (1987). A centralidade
do trabalho corresponde à importância atribuída ao trabalho pelo indivíduo, ou
seja, envolve a análise de qual posição o trabalho ocupa na vida do indivíduo
frente às outras esferas da vida, como: comunidade, família, religião, lazer, etc.
Segundo Harpaz e Snir (2001, apud Silva et. al, 2018), os
trabalhadores que possuem alta centralidade no trabalho apresentam maior grau
de comprometimento com o trabalho, organização, satisfação e determinação.
Uma vez que este modelo tem suas raízes no estudo clássico feito por
MOW (1987), que já fora explicado no presente trabalho acerca desta faceta do
significado do trabalho, e que, portanto, sua definição neste modelo
assemelha-se ao que fora investigado pela equipe MOW, não será mais
necessário estender-se na definição de centralidade do trabalho.
II. Atributos valorativos
Borges (1977,1998) atentou-se em relação a utilização dos
questionários estruturados tomando como base os valores contidos no estudo da
equipe MOW, o qual, para a autora, não contemplava as peculiaridades da
realidade brasileira, dessa forma, Borges utilizou o termo "atributo" com base na
bibliografia a respeito do significado do trabalho por Salmaso e Pombeni (1968),
indo além do que estes produziram, uma vez que não fizeram a diferenciação
entre atributos valorativos e descritivos, conforme Borges propôs em seu modelo.
Os atributos valorativos dizem respeito aos valores atribuídos ao
trabalho, melhor, conforme descreveu Schwarts (1994, p. 21) o valor corresponde
a um "alvo transituacional variando de importância, que funciona como
princípio-guia na vida de uma pessoa ou outra entidade social”. Nas palavras de
Borges (1999, p. 110): “são, portanto, os valores do trabalho”.
16
Os atributos valorativos propostos por Borges, Tamayo e Alves-Filho
(2005) incluem outros fatores como: justiça no trabalho, auto expressão e
realização pessoal, sobrevivência pessoal e familiar e desgaste e
desumanização:
● Justiça no trabalho - o ambiente de trabalho deve proporcionar as
condições necessárias (material, assistência, segurança, higiene,
equipamentos) para o trabalhador executar suas atividades. Além
disso, deve proporcionar retorno econômico, os esforços e direitos
entre trabalhadores deve ser proporcional.
● Auto-expressão e realização pessoal - os trabalhadores devem ter
oportunidades para expressarem-se no trabalho, por meio da
criatividade, sentimento de produtividade, habilidades interpessoais,
etc, gerando prazer para o trabalhador.
● Sobrevivência pessoal e familiar - o trabalho deve garantir condições
econômicas ao trabalhador, de modo que este possa manter sua
família, ter estabilidade de emprego mediante aos seus resultados.
● Desgaste e desumanização - o trabalho deve implicar em pressa,
atarefamento, despender esforço físico.
III. Atributos descritivos
Já os atributos descritivos envolvem percepções do trabalho quanto
sua forma concreta, ou seja, corresponde à realidade concreta e a interpretação
do indivíduo no tocante ao trabalho (Borges, 1999a). Em outras palavras, os
atributos descritivos estão relacionados a como o trabalho é.
A estrutura fatorial dos atributos descritivos foi identificada por meio da
utilização do Inventário do Significado do Trabalho - IST (BORGES, 1998;1999).
Neiva (2016), frisa que os atributos valorativos e descritivos são características
relacionadas ao trabalho sob perceptivas diferentes, segundo o que Borges,
Alves-Filho e Tamayo (2008) propõem, nos auxiliando a compreender essas
características e analisar o conflito presente entre o que queremos e o que é
concreto:
● Auto-expressão - O trabalho deve ser um meio para o crescimento
pessoal do trabalhador, onde ele sinta-se respeitado, tenha
17
relacionamento de confiança com os demais, possa qualificar-se e
ser reconhecido pelo que executa. Além de ser um espaço onde
esse trabalhador possa expressar suas opiniões.
● Condições de trabalho - O trabalho deve proporcionar assistência,
melhores salários e condições adequadas.
● Responsabilidade - O trabalho envolve o cumprimento de tarefas por
parte dos trabalhadores, assim como a empresa deve cumprir seus
deveres em relação ao trabalhador.
● Recompensa econômica - O trabalho implica na garantia de
independência econômica, sustento e sobrevivência.
● Desgaste e desumanização - O trabalho é duro, exigente e
necessita de esforço.
IV. Hierarquia de atributos
A hierarquia de atributos consiste na organização dos múltiplos
atributos valorativos e descritivos, de acordo com sua ordem de importância. Para
Borges, Alves-Filho e Tamayo (2008), os valores são numerosos sendo possível
hierarquizá-los.
Segundo Borges e Tamayo (2001), estudiosos voltados para valores
humanos como: Rokeach & Ball-Rokeach, 1989; Schwartz & Ros, 1995; Tamayo,
1994; ressaltam que a ordem de prioridade atribuída aos valores é o que
diferencia as pessoas e culturas, frente a priorização dos própriosvalores.
Para auxiliar na compreensão acerca do significado do trabalho para
motoristas e entregadores de aplicativos, sob as dimensões do modelo proposto
por Borges (1998;1999), fez-se necessário visualizarmos o contexto do trabalho
informal, uma vez que esses trabalhadores são considerados informais por não
possuírem vínculo empregatício com as empresas dos aplicativos.
18
3 TRABALHO INFORMAL
O trabalho informal é uma realidade que faz parte da vida de uma
parcela considerável da população, não apenas da nossa cidade de Fortaleza
(CE), como também a nível global. É considerado um contexto perigoso uma vez
que sem legalização, governos não conseguem garantir a proteção social e
condições decentes de trabalho.
As definições de formalidade e informalidade em relação ao trabalho
variam para cada lugar, representando um fenômeno social pois está presente
em praticamente todo o mundo (GOMES, JÚNIOR, COSTA, 2019). No presente
trabalho, consideramos a definição de Targino e Vasconcelos (2015), para o
cenário brasileiro: o trabalho é considerado formal quando há um contrato entre
empregador e empregado, Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) ou do
Estatuto do Servidor Público. Assim, o trabalho que não estiver dentro dessa
condição, foi considerado informal, como é o caso dos trabalhadores por
aplicativo.
É preciso entender que formalizar os trabalhadores, deve ser uma das
prioridades da nossa sociedade atual. A transição da informalidade para a
formalidade, é inclusive, um alvo crucial para a Agenda Trabalho Digno, da OIT
(2020,p.1):
O conceito de trabalho digno resume as aspirações de homens e
mulheres no domínio profissional e abrange vários elementos:
oportunidades para realizar um trabalho produtivo como uma
remuneração justa; segurança no local de trabalho e proteção social
para as famílias; melhores perspectivas de desenvolvimento pessoal e
integração social; liberdade para expressar as suas preocupações;
organização e participação nas decisões que afetam as suas vidas; e
igualdade de oportunidades e de tratamento.
Dado que o presente trabalho busca analisar o significado do trabalho
de trabalhadores informais, mais precisamente entregadores e motoristas de
aplicativo, faz-se necessário entender o contexto macro de informalidade, para
vislumbrar fatores, riscos e a realidade desses trabalhadores e chegarmos até o
cenário micro.
3.1 Cenário do Trabalho Informal: No mundo
19
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2018,
dois bilhões de pessoas estavam no trabalho informal, sendo a maioria dessa
parcela da população pertencente a países emergentes e em desenvolvimento. O
contexto de informalidade integra uma grande diversidade de situações e ampla
gama de razões, tanto dentro dos países quanto entre eles (MEDINA,2021).
Esse foi um levantamento do relatório produzido pela OIT (2018),
intitulado por "Mulheres e homens na economia informal: uma foto estatística",
que utilizou critérios de mais de 100 países para retratar o cenário da população
global que trabalhava informalmente.
Em 2021, foram contabilizados mais de dois bilhões de
trabalhadores que integravam a economia informal, onde 6 em cada 10
trabalhadores no mundo vivem sem mão-de-obra ou proteções sociais (THE
GUARDIAN, 2021):
Na África Ocidental, um vendedor ambulante vende mangas, tomates e
outros produtos frescos (...) Na Índia, uma mulher baía e costura botões
em roupas enquanto seu filho de 9 meses dorme nas proximidades. Na
Argentina, uma mulher passa pelo lixo de outras pessoas, coletando
materiais recicláveis para os quais receberá meros pesos em troca.
Atividades, vidas e lugares diferentes mas o mesmo cenário: todos
esses trabalhadores integram a economia informal, onde as características
comuns a esse contexto são: ganhos escassos, carência de benefícios, direitos
contratuais e proteções sociais.
Importante ressaltar que, não necessariamente, trabalhar
informalmente, seja sinônimo de viver na pobreza, no entanto, os trabalhadores
informais são mais suscetíveis a ficar abaixo da linha da pobreza, uma vez que
não estão inseridos no sistema legal capaz de ampará-los, situação esta que
mundialmente ficou mais precária com a crise do COVID-19. Segundo matéria do
jornal britânico The Guardian (2021): "Na grande maioria dos cenários de
emprego informal, os trabalhadores não estão evitando o sistema; não há sistema
para começar".
A informalidade pode assumir muitas formas, por exemplo, pode
ocorrer quando há empresas e indivíduos que "burlam" o sistema para evitar o
pagamento de impostos, ou, quando há indivíduos muito pobres, com baixa
escolaridade que carecem de acesso a empregos formais (MEDINA,2021).
20
De acordo com o International Monetary Fund (2021), a América Latina
e a África Subsaariana apresentam os maiores níveis de informalidade, em
contraponto a Europa e o Leste Asiático são as regiões com os menores níveis
de informalidade e registra que, em média, a economia informal corresponde a
35% do PIB de países baixa e média renda, enquanto em economias mais
avançadas, corresponde a 15%. Nota-se a proporcionalidade entre a
informalidade e níveis econômicos:
Figura 4 - Tamanho da economia informal por nível de renda (% do PIB)
Fonte: Medina (2021, p.4).
Mundialmente, 85% dos trabalhadores informais estão inseridos em
pequenas empresas informais, onde essa "empregabilidade" acontece de forma
precária (OIT,2018). Acompanhamos as discussões a respeito da igualdade
salarial entre gêneros. Tal debate está presente também na informalidade, uma
vez que esta também está relacionada à desigualdade de gênero
(...) em dois de cada três países de baixa e média renda, as mulheres
têm maior probabilidade do que os homens de trabalharem no setor
21
informal e figuram nas categorias mais precárias e mais mal
remuneradas do emprego informal. (MEDINA,2021).
De acordo com a ONU Mulheres (2016), a diferença salarial de gênero
chega a quase 30% no setor informal na África Subsaariana, enquanto no setor
formal foi registrado 6%.
3.2 Cenário do Trabalho Informal: No Brasil
JESUS (2011) explica que o processo de formação das atividades
informais nas capitais brasileiras é oriundo de múltiplos eventos que influenciaram
esse cenário. Assim, podemos contemplar três eventos que contribuíram para a
consolidação do trabalho informal em nosso país, conforme destaca Gomes,
Júnior e Costa (2019):
Quadro 2 - Eventos que contribuíram para o trabalho informal no Brasil
Ano / Período Contexto
1930 Durante o governo de Getúlio Vargas - A primeira garantia para
o trabalhador brasileiro foi estabelecida pela Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), porém, ainda era um cenário instável e
não atendia toda a população, por exemplo: trabalhador rural e
uma série de categorias de trabalhadores urbanos ficaram de
fora da cobertura dessa medida.
1970 Ainda que houvesse crescimento econômico em nosso país,
conflitos políticos e sociais desse período, seguiam amparando
o trabalho informal.
Década de 90 A abertura econômica que se iniciou nessa época reestruturou
o trabalho provocando mudanças em nossa sociedade e
consolidando ainda mais a informalidade no trabalho que
encontrou formas de se adaptar e vincular-se a essas
transformações para manter a sobrevivência de indivíduos.
22
Fonte: Elaborado pela autora.
O trabalho é considerado formal quando há um contrato entre
empregador e empregado, Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) ou do
Estatuto do Servidor Público (Targino e Vasconcelos, 2015). O setor informal é
representado pelo mercado no qual “os trabalhadores são privados de condições
básicas ou mínimas de trabalho e proteção social” (COSTA,2020, p.971), observe
o quadro abaixo:
Quadro 3 - Classificação das ocupações em formais e informais
SETOR FORMAL SETOR INFORMAL
• Empregados com carteira
• Militares
• Funcionários públicos
estatutários
• Trabalhadores domésticos com
carteira
• Empregadores com 6 ou mais
empregados
• Empregadossem carteira
• Trabalhadores domésticos sem carteira
• Conta própria
• Trabalhadores na produção para o próprio
consumo
•Trabalhadores na construção para o próprio
uso
• Não remunerados
• Empregadores com até 5 empregados
Fonte: Targino e Vasconcelos (2015)
De acordo com Costa (2020), em 2009 o trabalho informal no Brasil já
ultrapassava 50% da população e segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), estava em torna de 40,8%, como disposto na
tabela abaixo:
23
Tabela 1 - Proporção da População Ocupada por Tipo de Trabalho Formal ou
Informal no Brasil (2012-2017) - 14 anos ou mais
Proporção (%) 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Formal 58,5 59,7 60,9 61,0 60,9 59,2
Informal 41,5 40,3 39,1 39,9 39,1 40,8
Fonte: IBGE (2018, apud. Costa, 2020)
Complementando os eventos destacados por Gomes, Júnior e Costa
(2019), vale incluir um quarto evento presente no contexto atual que provocou e
segue influenciando uma série de consequências para o nosso cotidiano,
especialmente para o trabalho: a pandemia do COVID-19. Uma das
consequências dessa crise sanitária é o aumento do desemprego que contribui,
consequentemente, para a informalização do trabalho, terceirização das pessoas,
subcontratos sendo estabelecidos, a "flexibilização" do trabalho, etc; favorecendo
para que atualmente mais de 50% da classe trabalhadora esteja sob o trabalho
informal, sem o devido amparo legal, com crescente precarização exacerbada
(COSTA, 2020).
Em consonância, Puente (2022) levanta que segundo o estudo
"Retrato do Trabalho Informal no Brasil: desafios e caminhos de solução,
divulgado pela Fundação Aryma e B3 Social, cerca de 60% dos trabalhadores
informais no Brasil fazem "bicos" para sobreviver.
O último quadro sintético disponibilizado pelo IBGE, em relação aos
dados da PNAD Contínua (jun-jul-ago/2022), foi registrado um decrescimento em
relação ao número de pessoas desocupadas, comparado ao terceiro trimestre de
2021 e segundo trimestre de 2022:
Tabela 2 - Indicadores de subutilização para população de 14 anos ou mais de
idade (%)
24
jun-jul-ago/2021 mar-abr-mai/2022 jun-jul-ago/2022
13,1 9,8 8,9
Fonte: Elaborado pela autora, adaptado da PNAD Contínua (2022)
Entretanto, apesar de pequenas melhorias, o número de trabalhadores
informais em nosso país ainda é alarmante. A Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) Contínua, em relação ao segundo trimestre de 2022, registrou
que o mercado de trabalho informal do nosso país atingiu o recorde de 39,3
milhões de pessoas. Ou seja, milhares de brasileiros vendem sua força de
trabalho, sem nenhum direito trabalhista ou proteção legal.
Dentre os trabalhos informais presentes em nossa sociedade, está o
de motorista e entregador por aplicativos. O Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA) apontou que, entre 2016 e 2021, o número de brasileiros que
passaram a trabalhar para aplicativos de entrega cresceu 979,8% (CARDOSO,
2022).
3.3 Cenário do Trabalho Informal: No Ceará
Segundo dados que compõem o levantamento trimestral do IBGE, em
2021, o Ceará é o 6º Estado do Brasil com maior grau de informalidade, são 53%
de trabalhadores sem vínculo formal, ultrapassando a média nacional da
informalidade no mercado de trabalho de 39,5% da população ocupada (O
POVO, 2021). Maranhão (60,3%) lidera o ranking de informalidade, seguido pelos
estados do Pará (59,6%), Piauí (59,1%), Amazonas (58,7%) e Sergipe (54,7%).
De acordo com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico e
Trabalho do Ceará (SEDET), em 2020, o Ceará detinha a quinta maior taxa de
informalidade do país (53,8%), conforme disposto no mapa:
Figura 5 - Taxa de informalidade da população de 14 anos ou mais de idade,
ocupada na semana de referência, por unidades da federação (%) Brasil – 1º
trim./2020
25
Fonte: IBGE/PNADc,2020
De acordo com o jornal FOLHA (2021), Ceará e o Rio de Janeiro foram
os que mais perderam empregados na pandemia, conforme evidenciou a Pnad
Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), sendo o
comércio, o setor mais afetado. SEDET (2020) destaca que a informalidade
perpassa diferentes segmentos das atividades econômicas, formas de inserção
ocupacional e territorial, onde em nosso Estado, atinge com maior intensidade
nos municípios fora da região metropolitana de Fortaleza (RMF):
Figura 6 - Distribuição dos ocupados, segundo níveis geográficos selecionados e
tipo (%) - Ceará - 1º trim./2020
26
Fonte: SEDET (2020, p. 22)
3.4 Cenário do Trabalho Informal: Em Fortaleza
Apesar do índice de trabalhadores ocupados (35,1%) ser superior do
que ao índice de trabalhadores informais (27,8%), em Fortaleza, capital do Ceará,
como disposto na figura anterior; é preciso vislumbrar o cenário crítico uma vez
que tratam-se de duas taxas próximas, evidenciando uma espécie de linha tênue
entre dois contextos: o formal e o informal.
Segundo a CAGED (2022), a capital cearense manteve-se em primeiro
lugar em relação ao saldo de empregos gerados no Norte e Nordeste, já em
relação às capitais das demais regiões brasileiras, ficou em 5º lugar. Segundo a
prefeitura, o saldo positivo do número de vagas de emprego (3.449) obtido da
diferença entre admissões (25.579) e desligamentos (22.130), registram o
crescimento na geração de empregos formais com carteira assinada. Esses foram
dados divulgados em maio/2022.
Já em matéria do G1 de junho/2022, mostrou que mulheres
empreendedoras encontraram como alternativa para pagar as despesas do lar e
da família a iniciativa dos bazares. Apesar de tratar-se de um trabalho informal
diferente do contemplado no presente trabalho, vale utilizar tal matéria como
27
exemplo do cenário de que apesar dos dados da CAGED, em 2022, trazerem
uma espécie de cenário mais positivo, na prática, o desemprego em nosso
Estado e Capital ainda são elevados, e levam nossos fortalezenses a procurar
outras alternativas de trabalho informal para sobreviverem.
Durante este levantamento, não foram encontradas mais referências
ou dados a respeito da informalidade em nossa cidade. A pesquisa que foi
aplicada para fundamentar os resultados deste trabalho nos auxiliarão a
enxergarmos sob a perspectivas dos trabalhadores informais contemplados nesta
pesquisa sua realidade.
Na próxima seção, a rotina de trabalho dos entregadores e motoristas
de aplicativo foi descrita com base nas matérias recentes a respeito do assunto a
fim de aprofundar a compreensão acerca da realidade de trabalho desses
indivíduos, seus desafios e a luta desta classe trabalhadora.
28
4 O DIA A DIA DO TRABALHO DOS ENTREGADORES E MOTORISTAS DE
APLICATIVO
Os trabalhadores informais, como já descrito, enfrentam inúmeras
dificuldades e desafios diariamente em seu trabalho. Nesta seção, será descrito
fatores que integram a realidade dos entregadores e motoristas de aplicativo, de
modo a ampliar nosso entendimento acerca das condições de trabalho pelas
quais esses trabalhadores estão submersos e como esses fatores poderão ser
abordados nas entrevistas com os entregadores e motoristas de aplicativo.
Em relação a motoristas de aplicativo, o IPEA informou que, em 2019,
houve uma queda de 1,121 milhão para 782 mil, em 2020, de motoristas
trabalhando para aplicativos, porém, em 2021 o número cresceu para 945 mil
(TOKARNIA,2022). Ademais, a pesquisa ainda revela informações relevantes
sobre os perfis desses trabalhadores, onde a maioria desses trabalhadores são:
homens, pretos ou pardos, com menos de 50 anos, residentes da região Norte e
Nordeste do país, de baixa escolaridade, conforme disposto em nota do IPEA:
A distribuição de escolaridade entre os mototaxistas revela que esse
subgrupo da Gig Economy - formada por trabalhadores sem carteira
assinada, freelancers ou temporários - do setor de transportes é aquele
com o menor grau de instrução, com apenas 2,1% possuindo ensino
superior completo e 60,1% não tendo concluído o nível médio.
O trabalho por aplicativo corresponde a um processo de
“plataformização”do trabalho para atividades realizadas através das plataformas
digitais (VAN DOORN, 2017). Comumente refere-se ao trabalho informal
realizado por entregadores e motoristas de aplicativo como “Uberização”.
Motoristas e entregadores de aplicativo não são as únicas formas de
trabalho informal através das plataformas digitais, dentre as tipologias descritas
por Grohann (2020), os trabalhadores envolvidos nesta pesquisa utilizam
plataformas que requerem o trabalhador em uma localização específica, como é o
caso de entregadores e motoristas de aplicativos.
É crescente o número de manifestações feitas por esses
trabalhadores, como as paralisações onde uma parcela de indivíduos que
trabalham como entregador ou motorista de aplicativos se unem para lutar pelos
seus direitos e melhorias no exercício de seus trabalhos e não ativam seus perfis
29
para "rodar". Sem entregadores e motoristas, o deslocamento de pessoas e
mercadorias fica um caos na cidade, e é uma forma de não apenas as empresas
donas dos aplicativos compreenderem a luta desses trabalhadores, como
também da sociedade que necessita desses serviços.
Percebe-se que a relação entre trabalhador, trabalho por aplicativos e
empresas, resulta em um processo de contratação que se camufla da força de
trabalho desses indivíduos, uma vez que os processos de trabalho são
gerenciados, fazendo com que esses trabalhadores sejam subordinados às
empresas (ABÍLIO, 2019; AMORIM; MODA, 2020). Para Amorim e Moda (2021,
p.109):
(...) a síntese entre ausência de contrato formal de trabalho e o controle
realizado pelo gerenciamento algorítmico se fundamenta como centro da
extração de mais-trabalho tanto do ponto de vista global, isto é, do
trabalho cooperado que é realizado pelo conjunto de entregadores/as,
quanto do ponto de vista de cada trabalhador considerado isoladamente.
É relevante enfatizar que a OIT (2020), descreve que o trabalho digno
abrange elementos como: remuneração justa, segurança, organização e
participação nas decisões que afetam suas vidas, melhores perspectivas de
desenvolvimento pessoal, etc. Trazendo essa perspectiva para a realidade
desses trabalhadores, é possível observar a dinâmica da nossa sociedade assim
como o que vemos ser noticiado em jornais e redes sociais, que há precarização
do trabalho desses trabalhadores.
Em parceria do SEBRAE com a Uber, o SEBRAE publicou um artigo
em 2021, baseado no podcast Uber Avança realizado através dessa parceria,
onde essas duas organizações conversaram sobre os benefícios de formalizar os
entregadores e motoristas de aplicativo através do registro do seu Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) (SEBRAE,2021).
Essa é uma medida para transformar o trabalhador que atua de forma
autônoma e não é dono de empresa, ou seja, não possui registro formal da
atividade laboral e portanto é considerado como empreendedor informal; no dono
do próprio negócio, para ter acesso ao mercado formal, isenções e descontos em
alguns impostos, benefícios previdenciários (SEBRAE,2021). Vale ressaltar que
nesse tipo de formalização não é a empresa que auxiliará o entregador ou
motorista a “legalizar-se” ou pagar pelos seus direitos trabalhistas.
30
Além disso, nota-se que tal medida não resolve outras problemáticas,
como a insegurança de trabalhar nas ruas pelo alto índice de criminalidade,
especialmente em nossa capital, bem como, o comprometimento das empresas
de aplicativo ofertarem a remuneração justa ou equipamentos necessários para
entregadores e motoristas de aplicativo, por exemplo.
Em matéria do jornal Brasil de Fato, divulgada em 2020, há relatos de
entregadores de aplicativo que reforçam essa precarização, como o do
entregador Paulo Lima:
A alimentação é a coisa que mais dói, ter que trabalhar com fome
carregando comida nas costas (...) As taxas e o fluxo de emprego
caíram na pandemia, porque os aplicativos triplicaram o número de
empregadores no Brasil. Então, as taxas estão baixas e o serviço
diminuiu. Então, o que está pedindo a greve? Melhores condições de
trabalho, porque temos condições péssimas. Bloqueios injustos, dívidas
injustas, não temos banheiro e nem alimentação.
Paulo, foi um dos entregadores de aplicativos como Rappi, Uber e
Ifood, a ficar conhecido nas redes sociais após um vídeo seu viralizar, onde nesse
registro o mesmo denunciava as péssimas condições de trabalho nos quais os
“motoboys” estão imersos, sem sequer receberem, por exemplo, álcool em gel,
uma vez que quando o mesmo iniciou essa denúncia estávamos no início da
pandemia da COVID-19. E após a viralização do vídeo, tornou-se capa da revista
Exame trazendo essa pauta de exigir melhores condições de trabalho, o qual em
seguida foi bloqueado em todos os aplicativos que utilizava para trabalhar e levar
o sustento para sua família.
Segundo Alves (2000,2011,2013,2018) e Antunes (1999,2018,2019),
há muito tempo é possível observarmos a precarização do trabalho e os desafios
e dificuldades que essa classe trabalhadora enfrenta, e todos os impactos que
essas dificuldades geram para a vida e saúde física e/ou mental, desses
trabalhadores. Souza (2020), corrobora a relação do impacto da pandemia da
COVID-19 e a precarização do trabalho do país, impactando negativamente a
vida e saúde mental de diversas categorias de trabalho, essencialmente as que
são essenciais na Pandemia, como é o caso dos entregadores. Não podemos
desconsiderar também a essencialidade do serviço dos motoristas de aplicativo
que sofrem sob as mesmas condições desfavoráveis no trabalho.
31
Esses aspectos se relacionam principalmente com os atributos
valorativos e descritivos, no tocante a percepção de significado do trabalho dos
entregadores e motoristas de aplicativo. Conforme já mencionado, Borges,
Tamayo e Alves-Filho (2005) incluem fatores aos atributos valorativos, como:
justiça no trabalho, auto expressão e realização pessoal, sobrevivência pessoal e
familiar e desgaste e desumanização. E em relação aos atributos descritivos, os
autores incluem os fatores de auto expressão, condições de trabalho,
responsabilidade, recompensa econômica e desgaste e desumanização.
Dentre as principais pautas das manifestações e paralisações feitas
pelos entregadores e motoristas de aplicativo corresponde ao pedido de aumento
do valor repassado por entregas/corridas, uma vez que não apenas o combustível
aumentou como o valor para esses entregadores já era considerado abaixo do
“justo”, uma vez que esses trabalhadores ao assinaram os termos dos aplicativos
de entrega e “corridas” ficam cientes dos custos que eles mesmos deverão arcar.
Porém, é comum a situação em que a renda produzida no dia de trabalho suprir
apenas o que foi consumido pela moto ou carro.
Além dos desafios em conseguir a renda necessária para sobreviver e
levar sustento para a família, esses trabalhadores estão imersos em um cenário
social de extrema violência, o que contribui para o trabalho de entregadores e
motoristas de aplicativo ser negativamente afetado. Segundo matéria do Diário do
Nordeste, em 2021, os casos de violência contra esses trabalhadores no Ceará e
por todo o nosso país, representam o estopim para escancarar as inúmeras
vulnerabilidades que acompanham o trabalho desses indivíduos.
De acordo com o jornal Brasil de Fato, no mínimo cinco motoristas de
aplicativo foram assassinados no Brasil entre os dias 6 e 13 de outubro de 2021,
e ressaltam que formas de violência como: pedradas, facadas, cadáveres
encontrados enterrados na areia, escancaram a vulnerabilidade e brutalidade
contra esses trabalhadores. Há diversas outras formas de violência sofridas pelos
entregadores e motoristas de aplicativo, diariamente, enquanto trabalham. Esses
trabalhadores só são assistidos, considerando as maiores empresas do setor
(Uber e 99), quando é comprovado que o aplicativo estava ligado quando ocorreu
o crime. Ainda nesta matéria do Brasil de Fato, Denivaldo da Silva, um dos
motoristas mais antigos da Uber em Belo Horizonte(MG), relata:
32
É uma miscelânea de sentimentos. Tristeza, revolta, angústia, a falta de
assistência dos aplicativos, da iniciativa pública. Acaba se tornando o
assunto do dia, e dá mais medo de sair de casa, a hora que for, no bairro
que for. A gente se sente impotente diante de toda a violência e
desprotegido de todos os lados.
Em maio de 2022, Yuri, entregador de aplicativo, morreu após um
acidente de moto enquanto entregava comida pelo Ifood. Após o ocorrido, sua
conta do aplicativo foi desativada, sob justificativa de "má conduta", devido o
mesmo não ter cumprido a entrega do lanche, esse foi um dos registros do
ocorrido e mensagem que o suporte do aplicativo em questão enviou:
Yuri, tudo bem por aí? Espero que sim!
Tivemos um alto volume de solicitações de esclarecimento de
desativação nos últimos dias, e por isso, a demora para análise e
resposta do seu caso. Pedimos compreensão.
Fizemos uma análise da sua conta e, por meio de denúncia,
identificamos que houve má conduta relacionada a comportamento
dentro da nossa plataforma.
Por isso, por descumprir o nosso Código de Ética, infelizmente, sua
conta foi desativada (...).
Diante o exposto, fica evidente a necessidade de ouvir essa classe
trabalhadora que luta constantemente por melhorias nas condições de trabalho e
tem sua luta muitas vezes silenciada ou ignorada pelas empresas de aplicativo ou
até mesmo usuários das plataformas. Para isto, na seção a seguir foi descrito
como a presente pesquisa foi conduzida a fim de atingir os objetivos traçados.
33
5 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta seção é destinada para descrever o caminho metodológico
seguido com a finalidade de atingir os objetivos do presente trabalho.
A pesquisa é um meio essencial para os descobrimentos de novos
fatos, dados, relações ou leis, nos mais diversos campos do conhecimento, tendo
como características ser um procedimento reflexivo sistemático, controlado e
crítico (ANDER-EGG,1978 apud LAKATOS E MARCONI, 2003, p. 155). Podemos
compreender, portanto, a pesquisa como sendo um conjunto de ações que se
relacionam com uma série de procedimentos definidos de forma sistêmica,
visando encontrar resultados e respostas a respeito do problema em questão
(MENEZES et al., 2019).
A ciência surge no início da era moderna, distanciando-se da
abordagem metafísica do conhecimento, migrando para uma análise mais
racional (SEVERINO,2014). No entanto, o que se utilizava no início, segundo o
autor, eram formulações matemáticas que aplicavam perfeitamente à física, por
exemplo, mas logo os cientistas perceberam a necessidade de outra abordagem
que pudesse expandir os parâmetros e critérios dos estudos, surgindo então a
abordagem qualitativa.
A natureza da presente pesquisa consiste na abordagem qualitativa,
uma vez que lida com: aspectos subjetivos, centrando-se na percepção de
entregadores e motoristas de aplicativos; fenômenos sociais e do comportamento
humano, ao considerar o significado do trabalho para esses trabalhadores dentro
de um contexto de informalidade e trabalho por meio de plataformas digitais.
Portanto, a presente pesquisa é qualitativa dado que trabalha com
significado, aspirações, motivos, atitudes, valores, onde não podem ser reduzidas
a variáveis e equações matemáticas/estatísticas. Os dados qualitativos são
diversos e significativos, viabilizando uma análise mais profunda acerca do tema
estudado, podendo ser gerado a partir das formas de comunicação humana
escrita, visual ou auditiva.
Dito isto, acrescenta-se que os instrumentos de coleta de dados
utilizados foram: (1) questionário sociodemográfico e informações adicionais
para compreender melhor o perfil dos participantes da pesquisa (APÊNDICE A) e
34
(2) entrevistas com roteiro semiestruturado para guiar essa interação entre a
pesquisadora e o entrevistado, abrindo espaço para possíveis outras indagações
não listadas no roteiro, ou seja, mantendo a flexibilidade, se necessário
(APÊNDICE B).
Quanto aos objetivos, a presente pesquisa possui caráter descritivo. A
pesquisa descritiva busca descrever "as características de determinada
população ou fenômeno ou (...) o estabelecimento de relações entre variáveis"
(Gil, 2002, p. 41). A capacidade de proporcionar novas visões acerca de um tema
já conhecido, é uma das características da pesquisa descritiva (GIL,2008). Como
já mencionado neste trabalho, estudos acerca do construto de significado do
trabalho têm crescido, bem como a análise do trabalho de indivíduos que se
dedicam ao trabalho informal, como é o caso de trabalhadores e entregadores de
aplicativo.
Nesse tipo de pesquisa, os estudos realizam levantamentos de
determinadas características de um grupo, observam as opiniões de determinada
parte da população ou até relacionam determinadas variáveis (MENEZES et
al.,2019). O presente trabalho relaciona o significado do trabalho com o contexto
informal dos trabalhadores supracitados.
Em relação aos procedimentos, foi realizado um estudo bibliográfico
para fornecer à presente pesquisa um instrumento analítico ou embasamento
teórico ao estudo. Porém, seu foco é o estudo de caso, pois o que se vislumbra
por meio deste trabalho é a obtenção de um conhecimento mais profundo acerca
do objeto pesquisado. Yin (2001) afirma que o estudo de caso é o procedimento
metodológico mais adequado a ser utilizado na investigação deste fenômeno
contemporâneo imerso no contexto real.
O modelo teórico utilizado para o presente estudo, trata-se do que fora
construído por BORGES (1998;1999). As perguntas elaboradas estão divididas
de acordo com as dimensões que integram o seu modelo de significado do
trabalho: centralidade do trabalho, atributos valorativos, atributos descritivos e
hierarquia de valores, como mostra o quadro abaixo:
Quadro 4 – Relação das Dimensões do modelo elaborado de BORGES
(1998;1999) com o Roteiro das Entrevistas
35
DIMENSÃO BORGES
(1998;1999)
ROTEIRO DE ENTREVISTA
CENTRALIDADE DO TRABALHO
(Posição do trabalho em relação
às outras esferas da vida)
1. O que trabalho significa na sua vida?
2. Por que você trabalha com esse tipo de
serviço?
3. Se você pudesse mudar de trabalho, você
mudaria? Por que?
4. Você acredita que seu trabalho é essencial
para a sociedade? Por que?
5. Qual ordem você atribuiria às seguintes
esferas: trabalho, família, religião e lazer?
ATRIBUTOS VALORATIVOS
(Percepção de como o trabalho
deve ou deveria ser)
6. O que você acha que as empresas dos
aplicativos que você trabalha poderiam fazer
para melhorar as condições de trabalho?
7. Para você, como o seu trabalho se tornaria
o ideal para você?
ATRIBUTOS DESCRITIVOS
(Percepção de como o trabalho é
na sua forma concreta)
8. Quais são os riscos que afetam seu
trabalho?
9. Quais oportunidades e desafios tornam o
seu trabalho mais significativo para você?
HIERARQUIA DE ATRIBUTOS
(Hierarquia dos atributos
valorativos e descritivos)
10. O que é mais importante: oportunidades
ou condições de trabalho?
Fonte: Elaborada pela autora
Vergara (1997), explica que o universo ou população engloba uma
série de elementos que são objetivos dos estudos, já a amostra, é uma parte do
universo escolhido, sendo selecionada por meio de um critério de
representatividade. No presente estudo, o universo corresponde a entregadores e
motoristas de aplicativo, ou seja, trabalhadores por aplicativo da capital de
Fortaleza (CE). Assim, para o presente trabalho foi analisado:
36
Tabela 3 - Universo e Amostra
Análise Descrição Nº Referência
Universo Motoristas e Entregadores de
Aplicativo de Fortaleza (CE)
50.000 Câmara Municipal de
Fortaleza (2021)
Sindimotos Ceará
(2021)
Amostra
Nº de Trabalhadores
Entrevistados
22
-
Percentual em da amostra em
relação ao universo
0,044%
-
Fonte: Elaborado pela autora.
O acesso a esses trabalhadores se deu através das ruas e canais
digitais, como as redes sociais Facebook, WhatsApp e Instagram. A autora deste
trabalho divulgou em seus perfis pessoais, assim como recorreua um dos
maiores grupos do Facebook de trabalhadores por aplicativo de Fortaleza, o qual
não terá seu nome mencionado por ser um grupo privado e não haver permissão
do administrador, além da autora haver sido removida de tal grupo após publicar
que estava procurando por trabalhadores por aplicativo para o presente trabalho.
Neste grupo há mais de 24 mil membros.
Ao total, foi possível conversar com 40 trabalhadores por aplicativo,
onde 22 se dispuseram a participar das entrevistas. O motivo para divulgar a
procura por tais trabalhadores para a condução da presente pesquisa deu-se pela
dificuldade de encontrar entregadores e motoristas de aplicativo que estivessem
nas ruas, em horário de trabalho e estivessem dispostos a participar da pesquisa,
uma vez que poderia haver “chamado” durante a entrevista o que implicaria em
interrompê-la. Portanto, foram realizadas 22 entrevistas, onde 2 destas foram
feitas presencialmente e as demais, os entrevistados optaram por participar de
forma online.
37
As entrevistas foram realizadas do dia 26 de outubro de 2022 até 02 de
novembro de 2022. A duração total das entrevistas foi de aproximadamente 5
horas, onde cada entrevista durou em média 13 - 14 minutos, mediante a
disponibilidade e interesse dos entrevistados de participarem das perguntas.
Cada entrevistado será referenciado por uma sigla: TAn, sendo TA a sigla para
Trabalhador (a) de Aplicativo e “n” o número do indivíduo entrevistado. Os
critérios para participar da presente pesquisa, consistiram em:
1. Trabalhar como motorista ou entregador (a) de aplicativo por pelo
menos 6 meses.
2. Residir em Fortaleza (CE).
3. Possuir nota de avaliação de no mínimo 4 estrelas.
Dito isto, a plataforma utilizada para a condução da entrevista foi o
Google Meet, o aplicativo utilizado para a gravação da entrevista foi o Gravador
de Voz, disponível no Google Play e o site Online Voice Recorder, quando não foi
possível utilizar o aplicativo mencionado. Já o site utilizado para a transcrição dos
áudios, foi o Reshape. Ressalto que apesar da transcrição ter sido realizada com
o auxílio de um site, todas as transcrições geradas foram revisadas pela autora
do trabalho, de modo a conferir e corrigir possíveis erros nas respostas dos
entrevistados cometidos pela transcrição do site. A transcrição e revisão das
entrevistas foram feitas via Google Docs e tabuladas no Google Sheets, para
facilitar a análise das respostas dos entrevistados.
Gil (2008) explica que em estudos de caso, um dos maiores desafios é
a sistematização em relação "à análise e interpretação dos dados", podem utilizar
diferentes procedimentos, desde que preserve a totalidade da unidade social. A
análise desses dados foi feita de forma interpretativa, dado que a pesquisa
qualitativa corresponde a uma atividade que posiciona o observador no mundo,
provocando uma postura interpretativa na busca pela compreensão e
interpretação dos fenômenos estudados (DENZIN E LINCOLN,2005). Deste
modo, os relatos trazidos pelos participantes das entrevistas foram evidenciados
na análise de resultados e geração do conhecimento, de modo a valorizar o
conhecimento gerado a partir de suas respostas, vivência e exposição da sua
38
realidade de trabalho, uma vez que o sujeito da pesquisa é o protagonista em
análises interpretativas.
39
6 RESULTADOS
Nessa seção foram expostos os resultados obtidos pela análise dos
dados baseados nos conceitos teóricos do modelo elaborado por Borges
(1998,1999).
Conforme já citado, foram realizadas 22 entrevistas com trabalhadores
de aplicativo, que se subdividem em: 1 - entregadores de aplicativo, 2 - motorista
de aplicativo e 3 - entregador e motorista de aplicativo. Dessa amostra, 21
entrevistados se identificam pelo sexo masculino e 1 pelo sexo feminino.
A faixa etária dos entrevistados mostrou-se bastante variada, sendo a
idade mínima obtida na amostra correspondendo a 18 anos e a máxima
correspondendo a 58 anos. Grande parte dos entrevistados:
● Autodeclaram-se pardos;
● Possuem apenas o ensino médio completo;
● São casados;
● Possuem pelo menos 1 filho(a).
Tabela 4 - Informações pessoais gerais dos entrevistados
TA Idad
e
Sex
o
Autodeclara
-se
Escolaridade Status
Civil
Nº de
filhos
TA1 30 M Branco Ensino Médio Completo Casado 2
TA2 31 M Branco Ensino Médio Completo Casado 1
TA3 27 M Pardo Ensino Médio Completo Solteiro 0
TA4 24 M Branco Ensino Superior
Incompleto
Casado 1
TA5 58 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 3
TA6 54 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 2
TA7 39 M Preto Tecnólogo Casado 2
TA8 37 M Branco Ensino Superior
Completo
Casado 2
TA9 27 M Pardo Ensino Superior Solteiro 1
40
Incompleto
TA10 21 M Pardo Ensino Superior
Incompleto
Solteiro 0
TA11 29 F Preta Ensino Médio Completo Casada 2
TA12 18 M Pardo Ensino Médio Completo Solteiro 0
TA13 27 M Pardo Ensino Fundamental
Completo
Solteiro 0
TA14 37 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 0
TA15 26 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 1
TA16 18 M Pardo Ensino Médio
Incompleto
Solteiro 0
TA17 49 M Pardo Ensino Superior
Incompleto
Divorciad
o
3
TA18 24 M Preto Técnico Solteiro 0
TA19 52 M Branco Ensino Médio Completo Casado 3
TA20 39 M Pardo Ensino Médio Completo Solteiro 1
TA21 48 M Pardo Ensino Médio Completo Casado 3
TA22 33 M Preto Ensino Médio Completo Casado 3
Fonte: Elaborado pela autora
Sendo assim, é possível resgatar os dados do IPEA (2019) em relação
ao perfil desses trabalhadores de aplicativos: homens, pretos ou pardos, com
menos de 50 anos, residentes da região Norte e Nordeste do país, de baixa
escolaridade. Portanto, o perfil da amostra obtida nesta pesquisa, corrobora os
dados trazidos pelo IPEA.
Em relação a informações gerais sobre o trabalho em aplicativos,
quase metade dos entrevistados trabalha tanto como entregador quanto motorista
de aplicativo, a modalidade Flash sendo considerada como categoria de entrega
por esses trabalhadores; a amostra apresenta uma renda mensal de no mínimo 1
salário mínimo e no máximo 4 salários mínimos, onde a família não depende
exclusivamente da renda de trabalho de aplicativo, uma vez que segundo os
41
entrevistados financeiramente isso seria inviável. Ademais, os aplicativos mais
utilizados pelos entrevistados são: Uber e 99 POP, nos quais os trabalhadores
dessa amostra apresentaram uma média de avaliação de no mínimo 4 estrelas e
no máximo 5 estrelas.
Vale ressaltar que participaram desta pesquisa trabalhadores que
estavam trabalhando com aplicativos a no mínimo 6 meses, ou seja, um período
mais recente, porém, o trabalhador TA13, por exemplo, já trabalha há 8 anos com
esse tipo de serviço através dos aplicativos, pois segundo o mesmo, ele já
“rodava” quando outros aplicativos mais antigos de entregas e corridas de moto já
estavam disponíveis em nossa cidade, o mesmo usou o exemplo do aplicativo
“Tele Moto”.
Tabela 5 - Informações gerais sobre o trabalho dos entrevistados
TA Categoria RM FDRM APPs TTA AE
TA1 Motorista Até 2 SM Não Uber e 99
POP
4 anos 4.99
TA2 Motorista Até 3 SM Não Uber e 99
POP
3 anos 4.98
TA3 Entregador e
Motorista
Até 2 SM Sim Uber e 99
POP
3 anos 4.98
TA4 Entregador e
Motorista
Até 4 SM Não Uber, 99 POP
e InDriver
8
meses
5
TA5 Motorista Até 3 SM Sim Uber 5 anos 5
TA6 Entregador Até 2 SM Não iFood 1 ano 5
TA7 Entregador e
Motorista
Até 1 SM Não Uber e 99
POP
8
meses
5
TA8 Motorista Até 2 SM Não Uber e 99
POP
2 anos 4.96
TA9 Entregador Até 3 SM Não iFood 4 anos 5
TA10 Entregador Até 2 SM Não iFood 2 anos 4
TA11 Motorista Até 2 SM Não Uber 6
meses
4
42
TA12 Entregador Até 1 SM Não iFood 6
meses
5
TA13 Entregador e
Motorista
Até 2 SM Não Uber 8 anos 5
TA14 Motorista Até 1 SM Não Uber e 99
POP
5 anos 4
TA15 Entregador e
Motorista
Até 2 SM Não Uber 8
meses
4.97
TA16 Entregador Até 1 SM Não iFood 2 anos 4.5
TA17 Entregador e
Motorista
Até 2 SM Sim Uber e 99
POP
2 anos 5
TA18 Entregador e
Motorista
Até 2 SM Sim Uber 1 ano 4.99
TA19 Motorista Até 2 SM Sim

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