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APOSTILA 3 UNIDADE 2 O DRAMA E A LINGUA PORTUGUESA

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ESTUDOS DE 
LITERATURA – 
DRAMA
Caroline Costa Nunes Lima
O drama romântico 
em língua portuguesa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar a estética romântica na literatura dramática.
  Analisar elementos de destaque na obra de Almeida Garrett.
  Interpretar textos dramáticos de Martins Pena e Qorpo Santo.
Introdução
O teatro faz parte da história brasileira desde que, na colonização, foi 
utilizado como meio educativo e de catequização dos índios. Por meio 
de peças que relacionavam o contexto local dos considerados “gentios” 
com fundamentos do cristianismo, a dramaturgia já era inserida no País.
Ao longo do tempo, a produção de dramas em língua portuguesa 
se vinculou a diversos movimentos artísticos, tanto no Brasil quanto 
em Portugal e outros países. Neste capítulo, você vai estudar a estética 
romântica na literatura dramática e conhecer alguns dos principais autores 
de peças românticas escritas em língua portuguesa.
A estética romântica na literatura dramática
Em diferentes momentos da história, é possível identifi car, na análise de obras 
literárias, especifi cidades relacionadas com contextos históricos, sociais e 
culturais. Como você sabe, os diferentes movimentos artísticos e intelectuais 
de abrangência mundial compreendem características comuns, compartilhadas 
por escritores e outros artistas de cada período.
Aqui, você vai estudar o período romântico, que se originou a partir de uma 
tendência de oposição ao pensamento neoclássico. É importante você notar 
que não há como precisar em qual local surgiu a primeira manifestação do 
romantismo, tendo em vista que os movimentos artísticos vão se construindo 
de forma gradual em diferentes lugares, como uma forma natural de evolução 
dos estilos. Para conhecer melhor as características que constituem as obras do 
estilo romântico e que estão presentes em diferentes manifestações artísticas 
desse período, observe o Quadro 1, a seguir.
Característica Descrição
Individualismo 
e subjetivismo
A atitude romântica é pessoal e íntima. É o mundo 
visto por meio da personalidade do artista. O que se 
revela é a atitude pessoal, do mundo interior, ou seja, 
o estado de alma provocado pela realidade exterior.
Ilogismo
Não há “lógica” na atitude romântica: a regra é 
a oscilação entre os polos opostos de alegria 
e melancolia, entusiasmo e tristeza.
Senso de mistério O espírito romântico é atraído pelo mistério da existência.
Escapismo
O romântico deseja fugir da realidade para o 
mundo idealizado, criado à imagem de suas 
emoções e anseios mediante a imaginação.
Reformismo
A busca por um mundo novo é responsável pelo 
sentimento revolucionário do romântico.
Sonho
A procura por um mundo ideal também é responsável 
pelo aspecto sonhador do temperamento romântico. Em 
lugar do mundo conhecido, deseja-se a terra incógnita do 
sonho, muitas vezes representada por símbolos e mitos.
Fé
Em vez da razão, é a fé que comanda o espírito romântico. 
O romântico valoriza a faculdade mística e a intuição.
Culto à natureza
Supervalorizada pelo romantismo, a natureza é encarada 
como um lugar de refúgio, puro, não contaminado 
pela sociedade. É um lugar de cura física e espiritual.
Retorno ao 
passado
O escapismo romântico se traduz em fuga para 
a natureza, em retorno ao passado, idealizando 
uma civilização diferente daquela do presente.
Quadro 1. Características do romantismo
(Continua)
O drama romântico em língua portuguesa2
Característica Descrição
Pitoresco
Além de desejar a remotidão no tempo, o romântico 
também é atraído pela vastidão do espaço. 
Entra em cena o gosto pelas florestas selvagens, 
orientais, ricas de pitoresco ou simplesmente 
com diferentes fisionomias e costumes.
Exagero
Na sua busca pela perfeição, o romântico foge para 
um mundo em que coloca tudo o que imagina 
de bom, bravo, belo, amoroso, puro. Tal mundo 
se situa no passado e no futuro, ou em um lugar 
distante, um universo de perfeição e sonho.
Quadro 1. Características do romantismo
A partir das características mostradas no Quadro 1, você pode identificar 
elementos da estética romântica em diferentes manifestações artísticas, in-
clusive no gênero dramático, objeto de seus estudos aqui. A revolução teatral 
no romantismo se desenvolveu em oposição às regras presentes no período 
neoclássico. Nesse período, os artistas desejavam um “[...] retorno ao equilí-
brio e à simplicidade da arte clássica, à naturalidade e clareza dos modelos 
primitivos greco-romanos [...]” (COUTINHO, 1972, p. 130). O romantismo 
assume tendências que se voltam ora para o passado nacional, ora para a história 
moderna. Ele busca formas que traduzem costumes e conexões entre nobre 
e grotesco, belo e feio, “[...] no pressuposto de que o contraste é que chama a 
atenção, além de assim mostrar-se mais fiel à realidade. Por último, o drama 
romântico misturou o verso e a prosa [...]” (COUTINHO, 1972, p. 150).
Outros aspectos apontados por Moisés (2001) consideram que o teatro 
romântico se apoiou nos elementos tradicionais clássicos das obras de Shakespe-
are e no cotidiano burguês, porém rompendo com o modo como tempo, espaço 
e ação tradicionalmente se apresentavam no teatro clássico. Naquele período, 
“[...] as unidades de ação — particularmente as observadas por Aristóteles, de 
espaço e de tempo — são também por Shakespeare preservadas, evidenciando 
a importância do encadeamento dos fatos e da ação livre dos personagens para 
a trama [...]” (FREITAS, 2011, p. 8). A partir de um novo modo de construção 
literária, há nos dramas românticos o foco em temas que perpassam questões 
existenciais humanas, sociais e morais.
(Continuação)
3O drama romântico em língua portuguesa
Outro ponto a ser destacado é que esse movimento romântico ocidental, 
que se manifestou como um estilo de vida, de cultura e de arte em diferentes 
partes da Europa e da América, contou com gerações de indivíduos cujas 
obras apresentaram características distintas. Há uma fase conhecida como 
pré-romantismo presente na Alemanha e Inglaterra no século XVIII. Nessa 
fase, destacam-se nomes tais como James Macpherson, Johann Wolfgang von 
Goethe e Edward Young (COUTINHO, 1972).
Já a primeira geração, identificada com personalidades nascidas aproximada-
mente na década de 1770, é representada por nomes como William Blake, Ludwig 
Van Beethoven e Samuel Taylor Coleridge. Nessa geração, há algumas marcas do 
estilo clássico e um esforço para alcançar a sensibilidade. A segunda geração, por 
sua vez, tem como representantes escritores nascidos entre 1788 e 1802, tais como 
George Gordon Byron (Lord Byron), Almeida Garrett e Heinrich Heine, que já 
se encontram em um universo romântico mais consolidado. Por fim, a terceira 
geração inclui personalidades nascidas entre 1810 e 1820, tais como Edgar Allan 
Poe, Alexandre Herculano e Vissarion Belinsky (COUTINHO, 1972).
Como você pode notar, no decorrer desse período, as manifestações da 
estética romântica literária consolidaram esse movimento repleto de criações 
individualistas e livres da rigidez do período anterior. Quando se fala especifi-
camente da produção dramática, destaca-se um gosto pelos marcos históricos 
com inclinações para o trágico.
Autores dramáticos românticos — tais como Almeida Garrett e Júlio Dinis 
em Portugal e Martins Pena e Qorpo Santo no Brasil — tinham predileção por 
essas temáticas, acreditando que o teatro era um eficiente meio de se difundir a 
história e valorizar os feitos nacionais. Assim, a partir da contribuição de per-
sonalidades que deixaram a sua marca por meio de suas obras revolucionárias, 
emergiu o romantismo, um movimento que contrapôs a estética neoclássica 
racional e rígida e que colocou o indivíduo como centro da criação.
A obra de Almeida Garrett
João Batista Leitão de Almeida Garrett nasceu na cidade do Porto, em Portugal, 
em 4 de fevereiro de 1799. Durante sua vida, ocorreram situações históricas 
trágicas importantes,como a invasão napoleônica. Além disso, Garrett pas-
sou por períodos de exílio na Inglaterra devido às suas ideias liberalistas e a 
missões diplomáticas.
O contexto histórico em que o autor viveu foi marcado pelo progresso do libera-
lismo, trazendo transformações nas esferas políticas, culturais, artísticas e sociais. 
O drama romântico em língua portuguesa4
Assim, elementos nacionais identitários advindos dessas mudanças podem ser 
encontrados em suas construções literárias.
O romantismo de Garrett não é predominantemente subjetivista e escapista, como o 
romantismo de outros autores da Europa. Em suas obras, encontram-se bases filosóficas 
e sociológicas advindas do Iluminismo, sem um esforço de afastar-se de fontes da 
literatura clássica (MACHADO, 2011).
A respeito das relações entre o gênero dramático e a obra do autor, você pode 
considerar que o teatro foi um instrumento educativo pelo qual Garrett lutou, 
participando de uma campanha em prol do teatro nacional em 1838 e fundando 
o Teatro de D. Maria II e o Conservatório Dramático (MOISÉS, 2002). Quanto 
às suas produções, em linhas gerais, há na obra dramática de Garrett:
[...] um contraponto positivo, de educação, de forma que o romantismo garret-
tiano foi construtivista e muito mais iluminista, com um empenho e consciência 
de que a literatura deveria ser propedêutica. Ele retoma na História o espírito 
educativo do teatro, predispondo sua produção a continuar o princípio de que 
o texto literário tem lições válidas a todos. A valorização do passado através 
do teatro traz a percepção de que em algum momento, sobretudo de formação 
nacional, no passado é possível empreender um resgate ficcional que contraste 
com o mundo contemporâneo (MACHADO, 2011, p. 6).
Entre as contribuições de Garrett para a arte dramática, encontra-se a peça 
Um auto de Gil Vicente, de 1838, considerada um marco em sua trajetória na 
dramaturgia nacional romântica. No título, figura o nome de Gil Vicente, um 
dramaturgo e poeta português considerado pelos críticos como pioneiro do 
teatro em seu país. Garrett foi se afastando gradativamente das influências 
neoclássicas para aproximar-se de um drama nacionalista histórico escrito em 
três atos, em ações que se passavam na corte do Rei D. Manuel I. Veja o que 
afirma o próprio Garrett (1966, p. 1.326):
O drama de Gil Vicente que tomei para título deste não é um episódio, é o 
assunto mesmo do meu drama; é o ponto em que se enlaça e do qual se de-
senlaça depois a acção; por consequência a minha fábula, o meu enredo ficou 
até certo ponto obrigado. Mas eu não quis só fazer um drama, mas sim um 
drama de outro drama e ressuscitar Gil Vicente a ver se ressuscitava o teatro.
5O drama romântico em língua portuguesa
Entre os elementos de destaque dessa obra, encontram-se as marcas da 
pureza de estilo e de linguagem, as ações bem desenvolvidas e de transições 
harmônicas. Em um viés nacionalista, há a indicação de grandes feitos heroicos 
de antepassados, “[...] apurando o gosto da nação, deleitando e instruindo, 
servindo para propagar os princípios e máximas salutares da moral, e alimen-
tando nos corações a sagrada chama do patriotismo, sem o qual não existe 
liberdade civil [...]” (ATALAIA, 1838, p. 57).
Outra produção literária tida como referência é o drama Frei Luís de Sousa. 
A tragédia é composta em três atos e teve sua primeira apresentação em 1843, 
sendo publicada em 1844. O drama gira em torno de Manuel de Sousa Coutinho, 
que se tornaria mais tarde Frei Luís. Os personagens Madalena de Vilhena 
e Manuel contraíram núpcias acreditando que D. João de Portugal, até então 
esposo de Madalena, desaparecido na Batalha de Alcácer-Quibir juntamente 
a D. Sebastião, havia morrido. No entanto, ele estava vivo e é em seu retorno 
ao lar que a trama se desenrola. De acordo com Machado (2011, p. 8):
Há um elemento interessante no olhar de Almeida Garrett, pois ele elegeu uma 
matéria histórica para reescrevê-la numa perspectiva contemporânea a ele e a seus 
leitores. A História foi utilizada como mestra da vida. Em Frei Luís de Souza se 
faz presente a releitura da matéria histórica. Nela se imbrica a representação do 
destino trágico com os desdobramentos históricos. Esta obra é pautada na óptica 
da intertextualidade, pois utiliza fontes literárias e históricas em sua confecção.
No decorrer do drama, é possível notar o quanto Garrett está voltado para 
um sentimento de nacionalismo, trazendo elementos históricos do passado de 
Portugal. Em Frei Luís de Sousa, o próprio título da obra remete a um personagem 
histórico, um fidalgo cavaleiro da Ordem Militar de Malta que tornou-se frade. 
Além disso, toda a trama se relaciona ao período sebastianista, durante o qual, 
na batalha de Alcácer-Quibir, D. Sebastião desapareceu. Em diferentes atos, o 
possível reaparecimento do rei é mencionado pelos personagens. Tal reaparecimento 
serviria para que o país tivesse a sua independência restaurada (NOBLE, 2012).
Você ainda pode considerar que os dramas históricos românticos, tais como 
as obras de Garrett, tratam de questões sociopolíticas, conflitos passionais 
e crises. Além disso, no caso de Garrett, os “[...] contornos de personalidade 
e atitudes [estão] em conformidade com o testemunho histórico e com a 
projeção ficcional que o autor lhe imprimiu [...]” (VASCONCELOS, 2003, 
p. 442). Tanto em Um auto de Gil Vicente, que restaurou o teatro português, 
como em Frei Luís de Sousa, aparece, nos elementos textuais, o pensamento 
romântico nacionalista. Assim, Garrett deixou para Portugal obras de referência 
no acervo histórico e literário nacional.
O drama romântico em língua portuguesa6
Textos dramáticos de Martins Pena 
e Qorpo Santo
Dois autores brasileiros trouxeram signifi cativas contribuições para o drama 
romântico em língua portuguesa. São eles: Martins Pena e Qorpo Santo. Você 
já ouviu falar sobre as obras desses escritores?
Luís Carlos Martins Pena nasceu no Rio de Janeiro em 1815. Ele ficou órfão 
ainda criança, sendo cuidado pelos seus tutores. Martins Pena faleceu jovem, 
aos 33 anos de idade, em 7 de dezembro de 1848, depois de complicações de 
saúde ocorridas em uma viagem para Portugal. Segundo Paula (2016, p. 27):
Apesar do curto espaço de tempo em que escrevera seus textos dramáticos, 
tendo iniciado sua elaboração teatral logo após o término do curso de Co-
mércio, no ano de 1835, e sendo datada ao ano de 1838 a primeira encenação 
de O juiz de paz na roça (totalizando dez anos de produção dramática), o 
dramaturgo, como todo grande nome do campo das artes, despertou interesse 
por parte da crítica, seja pelo incrível sucesso que suas peças obtiveram com 
relação ao público, seja pela proposta inovadora em trazer certa brasilidade 
ao texto teatral, não apenas fazendo com que as produções cênicas tivessem 
como cenário as terras brasileiras, mas abordando temáticas, personagens 
e modos intimamente ligados à configuração sociopolítica e econômica de 
nossa nação recém-independente.
Os textos dramáticos de Pena, com destaque para a peça O juiz de paz na 
roça, provocavam diferentes reações devido ao seu caráter cômico e ridículo, 
trabalhado por meio de uma linguagem coloquial bem explorada (BOSI, 2000). 
Críticos literários afirmam que Pena está para a literatura brasileira como Gil 
Vicente para a literatura portuguesa, no sentido da espontaneidade de seus 
textos, que não se apoiam em outras tradições do gênero dramático, como 
aponta Moisés (2001, p. 404):
[...] Martins Pena parece não dever nada aos predecessores, não só porque 
escassos mas também irrelevantes. Tão insólita quanto a de Gil Vicente é, 
consequentemente, sua aparição no cenário das nossas letras, sobretudo por 
termos herdado de Portugal a débil inclinação para os negócios teatrais.
Por ter se dedicado exclusivamente à dramaturgia, Martins Pena foi reco-
nhecido por sua contribuição às comédias de costume. Veja um fragmento 
de O juiz de paz na roça, considerada sua obra-prima (PENA,1838, p. 31):
7Odrama romântico em língua portuguesa
Juiz — Assim meu povo! Esquenta, esquenta!
Manuel João — Aferventa!...
Tocador — Em cima daquele morro
Há um pé de ananás;
Não há homem neste mundo
Como o nosso juiz de paz.
Todos — Se me dás que comê,
Se me dás que bebê,
Se me pagas as casas,
Vou morá com você.
Juiz — Aferventa, aferventa!
Estudada por muitos críticos, como Bosi (2000), essa peça tem um final que 
chama a atenção, pois nele se destacam as ações do juiz de paz. Convocado 
para apaziguar alguns ânimos alterados, o juiz promove a confraternização 
em sua sala de despacho, com um fado ao fundo. De maneira geral, os textos 
de Martins Pena não só apresentavam cenários que reproduziam o País, mas 
neles estavam presentes questões sociais, políticas e econômicas de um Brasil 
independente há pouco tempo. Pena trazia para o teatro os maus cidadãos e 
costumes que iam de encontro aos valores das classes que se apropriavam de 
sua arte. A comédia de Martins Pena, de acordo com Moisés (2001, p. 406),
[...] exige apenas a participação antes sensorial que intelectual do auditório, 
e manipula recursos de efeito certo, apesar de óbvios e constantes. Cômico à 
brasileira, puxado à farsa, à chalaça, ao carnavalesco, ao desabrimento come-
dido de uma sociedade que, posto se imagina europeia, é agitada por acessos 
de tropicalidade sem freio. Humor da piada de salão, que estruge em riso 
desopilante, malicioso e, durante um instante fugaz, morre sem consequências.
A partir desses aspectos, é possível identificar as marcas deixadas por 
um autor que, em seus 33 anos de vida, contribuiu para o acervo do drama 
nacional retratando os costumes brasileiros. Suas peças têm como temática 
“[...] relações envolvendo sexo e amor entre diferentes níveis da sociedade, 
entre jovens da mesma condição econômica, outros mais pobres, entre velhos 
casados e ricos [...] com empregadas, entre um moço rico e vários tipos de 
mulher [...]” (ARÊAS, 2006, p. 4).
O drama romântico em língua portuguesa8
A comédia de costume foi um gênero que caiu no gosto popular e se adaptou ao 
teatro formal. Fazendo uma crítica social por meio “[...] da utilização da troça e da ironia, 
esse gênero teve ampla aceitação no Brasil [...]” (GARCIA, 2013, p. 16).
Outro autor de destaque chama-se Qorpo Santo, pseudônimo de Joaquim 
de Campos Leão. O pseudônimo foi escolhido pelo autor com base na crença 
de que tinha um corpo santo, já que, diante de tantas adversidades, como 
problemas mentais e injustiças sociais, conseguira realizar criações literárias 
no campo da dramaturgia. Qorpo Santo nasceu no Rio Grande do Sul, em 
1829, e trabalhou como professor, comerciante, vereador e delegado antes de 
produzir seus dramas. Ele faleceu em 1883, no mesmo estado em que nasceu.
Acesse o link a seguir para conhecer as obras de Qorpo Santo no site Domínio Público, 
que reúne suas peças e romances.
https://qrgo.page.link/2rFP
De acordo com críticos de seus textos dramáticos, como Moisés (2001), 
Qorpo Santo alcança uma visão projetada para o futuro. Ele criou peças que 
não se moldavam ao teatro de seu tempo, apresentando uma linguagem com-
plexa, se aproximando de um caos nos mais minuciosos detalhes e oscilando 
entre realidade e fantasia. Assim, foi considerado por alguns críticos como 
um precursor do “[...] teatro do absurdo, em nosso país, uma tendência teatral 
originada na França na década de 1960 [...]” (HOLLAND, 2010, p. 15).
Qorpo Santo estava ciente de que suas peças não obedeciam aos padrões da 
dramaturgia tradicional. As peças que começam por comédia e terminam por 
tragédia ou romance são constantes e, possivelmente, o autor ainda não havia 
visto obras em que as personagens conversassem com o público e o levassem 
à reflexão. Mesmo sendo possível encontrar elementos que aproximem as suas 
17 peças, aparentemente inclassificáveis, ao teatro do absurdo, ao surrealista, 
9O drama romântico em língua portuguesa
ao brechtiniano, ou qualquer corrente teatral moderna, não existe referência 
anterior à escrita qorpo-santense que indique uma “inspiração” para a sua 
dramaturgia.
Assim, Qorpo Santo apresentava temáticas cotidianas permeadas pelas 
relações interpessoais, com predileção pelas temáticas sexuais nos casamen-
tos. Veja, por exemplo, a cena a seguir, da peça Duas Páginas em Branco 
(SANTO, 1866, p. 364):
Ato segundo, cena primeira — Personagens: Mancília, Espertalínio, Pedro, 
Paulo e soldados, um chamado Lagartixa.
Cenário: sala da casa de Mancília.
Há dois bilhares no cenário. Pedro e Paulo jogam e conversam. Mancília 
e Espertalínio saem do quarto espantados porque a sala de visitas se 
transformou em sala de jogos. Tentam expulsar os dois jogadores que 
disseram ter entrado ao ver os bilhares. Neste instante, ouve-se alguém 
gritar várias vezes “Às armas!”. Espertalínio se prepara para sair e ajudar, 
mas é impedido por Mancília, que tem medo que ele morra. Abraçam-
-se e beijam-se e vão jogar bilhar. Assim que pegam nos tacos, soldados 
entram para prender Espertalínio, que foi acusado de roubar os bilhares 
e uma moça. Mesmo gritando que é inocente, os soldados o levam.
Cena segunda — Personagens: Mancília e Tenente.
Cenário: sala da casa de Mancília.
Mancília aparece descabelada e chorosa, lamentando o que aconteceu. 
Cai de joelhos pedindo misericórdia de Deus. Sente fortes dores de ca-
beça. Diz não acreditar mais em Deus por não ver fim em seu sofrimento. 
Soldados entram para prendê-la, ela cai como morta. Os soldados fogem. 
Passados alguns minutos, entra um tenente, por achar que a casa é um 
hotel. Acode Mancília, que havia tomado por bêbada. Ela pergunta de seu 
marido, esclarece ao tenente que ali não é hotel, mas que pode matar-lhe 
a fome com seus seios. Empolgado com a proposta, o tenente informa 
que ficará também para dormir.
Ao analisar o fragmento anterior, note as relações sociais e sexuais entre 
os personagens, em trechos como “matar-lhe a fome com seus seios”. Esses 
são elementos de um “profano” que entra em relação com o sagrado quando, 
por exemplo, a personagem pede a misericórdia de Deus (HOLLAND, 2010).
Qorpo Santo, com todas as suas produções, deixou um legado de peças 
que desenvolvem situações absurdas, organizadas de modo estruturalmente 
fragmentado e com ações realizadas por meio de personagens caracterizados 
O drama romântico em língua portuguesa10
como estranhos, causando impacto no público que consumia os dramas no 
século XIX. Com essas criações, Qorpo Santo coloca sua marca na história 
literária, retratando o cotidiano e os costumes de personagens em situações 
diferenciadas. Até hoje, seus textos são estudados e analisados devido às suas 
inovações, inusitadas para a época vivida pelo autor.
ARÊAS, V. A comédia no romantismo brasileiro: Martins Pena e Joaquim Manuel de 
Macedo. Novos Estudos, São Paulo, n. 76, p. 197-217, nov. 2006. Disponível em: http://
www.scielo.br/pdf/nec/n76/10.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019.
ATALAIA NACIONAL DOS THEATROS, [s. l.], n. 15, p. 57-58, 16 ago. 1838.
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 36. ed. São Paulo: Cultrix, 2000.
COUTINHO, A. Introdução à literatura no Brasil. 7. ed. Rio de Janeiro: Distribuidora de 
Livros Escolares, 1972.
FREITAS, J. G. S. Sobre a teoria dos gêneros dramáticos, segundo Diderot, e sua apro-
ximação da Poética de Aristóteles. In: ENCONTRO D EPESQUISA NA GRADUAÇÃO EM 
FILOSOFIA DA UNESP, 6., 2011, Marília. Anais [...]. Marília: Unesp, 2011. Disponível em: 
https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE/JussaraGomes-
daSilvadeFreitas.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019
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ximações. Cadernos Letra e Ato, Campinas, v. 3, n. 3, p. 13-26, jul. 2013. Disponível em: 
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11O drama romântico em língua portuguesa
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-Graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016. Disponível 
em: http://www.ple.uem.br/defesas/pdf/jgpnpaula.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019. 
PENA, M. O juiz de paz na roça. [S. l.: s. n.], 1838. Disponível em: http://www.bdteatro.ufu.
br/bitstream/123456789/120/1/TT00149.pdf. Acesso em: 4 abr. 2019.
SANTO, Q. Duas páginas em branco: apontamentos para uma comédia. [S. l.: s. n.], 1866.
VASCONCELOS, A. I. P. T. O drama histórico português do século XIX: 1836-56. Lisboa: 
Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
Leitura recomendada
HIBBARD, A. Writers of the Western world. Boston: Houghton Mifflin, 1942.
O drama romântico em língua portuguesa12

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