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Parecer Técnico

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DIREITO CIVIL- NEGÓCIOS JURÍDICOS
PARECER E ANÁLISE DO CASO
Salvador-BA
2023
DIREITO CIVIL- NEGÓCIOS JURÍDICOS
PARECER E ANÁLISE DO CASO
Trabalho para obtenção de nota parcial em
Direito, pela Universidade Jorge Amado campus Paralela.
Docente: Patrícia Alves
Discentes: Amanda Dias, Mariana Pinto, Laylla Estanislau
Salvador-BA
2023
SUMÁRIO
1. Relatório
2. Fundamentação
3. Conclusão
PARECER TÉCNICO JURÍDICO
EMENTA: Extorsão de uma Igreja Evangélica com um fiel
INTERESSADO: Virgulino Ferreiro da Silva Lampião
DATA: 01/06/2023
1. RELATÓRIO
Trata- se de parecer sobre a análise do caso de extorsão de uma igreja contra um
fiel, a fim de verificar se é cabível a anulabilidade do negócio jurídico, na existência
de um defeito.
As condições da presente análise envolvem o Virgulino Ferreiro da Silva Lampião,
idoso, semi analfabeto, trabalhador rural aposentado, residente e domiciliado na
cidade de Serrinha- BA, que recebe mensalmente a quantia de R$ 1.320,00 por mês
do INSS, portador de neoplasia maligna. O mesmo decidiu ir na Igreja Protestante
denominada Vale da Mansidão, chegando no local, alega ter sido influenciado
fortemente pelo Pastor Bandeirante do Brasil Paulistano, que lhe garantiu promessa
de cura para o seu grave problema de saúde e que para a tal cura seja efetivada,
Virgulino deveria realizar uma grandiosa oferta de sacrifício naquele culto das
enfermidades. Ademais, asseverou veementemente que quanto maior fosse a oferta
mais célere seria a solução do restabelecimento de sua saúde. Em face do
prometimento de cura feita pelo líder religioso, Virgulino doou no dia seguinte a
quantia de R$ 10.000,00, (dez mil reais), mediante transferência bancária. Vale
salientar, que o referido valor doado a instituição religiosa foi fruto de anos de
sacrifício que o agricultor conseguiu juntar em sua velha conta poupança. Imperioso
destacar, que o referido valor doado seria imprescindível para auxiliar no seu
tratamento de saúde. Decorrido seis meses ele não alcançou a cura como
prometido o pastor.
2. FUNDAMENTOS JURÍDICOS
O direito relacionado ao objeto do presente parecer vem primordialmente
estruturado no Código Civil, em especial em seu art. 151 que dispõe em seu caput a
coação, ‘’para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente
temor de dano iminente e considerando á sua pessoa, á sua família ou aos seus
bens’’.
Ou seja, observa- se no negócio jurídico entre Virgulino e Pastor Bandeirante a
coação moral, também chamada de vis compulsiva, prevista no atual Código Civil,
tem como características qualquer pressão ou ameaça exercidas contra uma
pessoa, seus bens, sua honra e dignidade, e pode também ser exercida contra
pessoas da família da vítima ou bastante próximas a ela, deve o magistrado então
analisar o sexo, a idade, condição, a saúde e o temperameto da vítima e demais
circunstâncias que a influenciaram como determina o art.152/ CC; então no caso de
Virgulino ele além de ser analfabeto, ele está em uma condição de saúde debilitada,
o pastor aproveitando-se disso o coagiu dizendo que quando maior a oferta maior
seria a melhora da sua saúde. .
Em sentido lato, a coação, segundo Francisco Amaral, é ‘’a ameaça com que se
constrange alguém a prática de uma ato jurídico’’; o autor ainda acrescenta que ‘’a
coação, ou violência, é defeito do negócio jurídico porque impede a livre
manifestação de vontade’’. Gonçalves acrescenta que ‘’não é a coação que em si
um vício de vontade e sim, o temor que ela inspira, tornando defeituosa a
manifestação do querer do agente’’.
Ou seja, diante do fato, como já destacado anteriormente, a melhor técnica
jurídica orienta para a anulação do negócio jurídico, fazendo com que o pastor
Bandeirante devolva a quantia de dinheiro doada por Virgulino, conforme cita
precedentes sobre o tema, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em um caso
semelhante em que a Igreja Mundial do Poder de Deus prometeu uma cura de um
câncer a fiel com câncer e que quanto maior a oferta doada mais a sua saúde iria
melhorar1. Inclusive o redator da sentença, o desembargador redator Carlos
Eduardo Rachitini em seu voto declarou que ‘’pessoas fragilizadas, seja pela pouca
instrução, seja pela miséria de suas vidas – ou, como no caso dos autos, tudo isso
1 TJ- RS, Nº 70069531150 (Nº CNJ: 0163309-37.2016.8.21.7000) 2016/CÍVEL, des.rel. Miguel
Ângelo da Silva.
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
somado ao desespero de uma doença grave –, buscam consolo nas igrejas, que se
espalham por todos os cantos: físicos, televisivos ou mesmo no meio virtual.
Depositam nelas a esperança de uma vida melhor’’.
Também foi decidido no TJ-RS que uma igreja evangélica deve indenizar em R$ 20
mil, por danos morais, fiel portadora de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB). A decisão,
unânime, é da 9ª Câmara Cível do TJRS e reformou a sentença proferida em 1ª
Grau na Comarca de Esteio. O Tribunal considerou que a mulher foi coagida
moralmente a efetuar doações mediante promessas de graças divinas. A autora
ajuizou ação de indenização contra a igreja sustentando que enfrentava uma crise
conjugal, a qual culminou na sua separação.2
O TJ-RS também decidiu anular o negócio jurídico entre um fiel e a Igreja
Universal do Reino de Deus e condenar a igreja por danos morais, o pastor coagiu a
vítima a fazer uma doação a igreja como promessa de cura da AIDS e que prova de
sua confiança ela deveria interromper o tratamento da doença. Acontece que após a
doação ela não melhorou a sua saúde, pelo contrário, piorou justamente com a falta
do tratamento, chegando a ficar hospitalizada por 77 dias e ficou em coma induzida
por 40 dias.3
A semelhança entre os casos dos julgados trazidos e esse do parecer, é que
ambos foram coagidos por pastores a fazer uma doação de uma grande quantia
para uma igreja em busca da cura da sua doença, aproveitando-se então da
condição debilitada de saúde deles.
Nesse sentido, diante do art. 151; da citação de dois autores civilistas sobre o
referido defeito do negócio jurídico e de precedentes judiciais semelhantes, a melhor
orientação para o caso é o magistrado anular o referido negócio jurídico e condenar
o pastor Bandeirante a pagar indenização por danos morais.
3. CONCLUSÃO
Considerando todo o abordado, em especial pela a análise do Código Civil,
doutrina e jurisprudências. Tem-se como conclusão ao presente parecer que o mais
indicado, pela análise jurídica realizada, é que haja a anulação do negócio jurídico e
3TJ- RS, Ap. 70064055668, des. rel. Eugênio Fanchini Neto, 2018.
2TJ- RS, Ap. 70039957287, des. rel. Iris Helena Cristina, 02/2/21.
a condenação ao pastor Bandeirante do Brasil Paulistano a pagar indenização por
danos morais
REFERÊNCIAS
■ AMARAL, Francisco. Título: Direito Civil: Introdução. 9ª edição. São Paulo-
SP: Saraiva, 2017.
■ GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Parte Geral (vol.1). 17ª
edição. São Paulo- SP: Saraiva, 2019.
■ TJ- RS, APELAÇÃO CÍVEL NONA CÂMARA CÍVEL Nº 70069531150 (Nº
CNJ: 0163309- 37.2016.8.21.7000) COMARCA DE NOVA PETRÓPOLIS
■ TJ- RS, 70064055668
■ OAB SP, 02/02/2011 . Disponível em: www.https://www.oabsp.org.br/
subs/santoanastacio/institucional/artigos/igreja-e-condenada-por-coacao-mor
al-de-fiel. Igreja é condenada por coação moral de fiel.
■ Jusbrasil, 2016. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-coacao-como-especie-de-vicio-do-nego
cio-juridico/399439639#:~:text=A%20coa%C3%A7%C3%A3o%20moral%2C
%20tamb%C3%A9m%20chamada,ou%20bastante%20pr%C3%B3ximas%20
a%20ela. . A coação como espécie de vício do negócio jurídico

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