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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E O GERENCIAMENTO DE CAPITAL AULA 4 Prof. Daniel Weigert Cavagnari 2 CONVERSA INICIAL Uma questão importante para as empresas são as condições para o controle e tratamento das informações. É surpreendente como algumas delas lidam com a inteligência de negócios. Ou melhor, com a falta dela. Como profissionais de consultoria e especialistas em TI, percebemos que em grande parte a visão de muitos empresários em relação à tecnologia (sistemas corporativos) é ofuscada pelo excesso de confiança. Pessoas mal treinadas, ou mesmo mal remuneradas, alimentam sistemas corporativos, que também são por vezes ora mal elaborados pela falta de um administrador de empresas, ora vítimas de uma implantação falha e precária. Esse problema se agrava mais ainda quando o sistema é famoso. A confiança é tanta que qualquer questionamento pode ser ignorado. Quando a empresa é pequena ou média, não há muita dificuldade em perceber possíveis erros. Mas quando o volume de dados é grande, não há o que fazer senão, cuidadosamente, acompanhar as movimentações. Mas o futuro é promissor, quanto mais conhecemos a tecnologia mais percebemos que, no mesmo grau em que ela facilita a vida do administrador, também pode dificultar. Esse cuidado com as fontes de informação é fundamental para tomadas de decisão precisa. Lembre-se que “errar é humano” e essa frase só serve para os seres vivos. Máquinas não pensam nem reagem por conta própria. Qualquer deficiência computacional tem relação direta com o erro humano. Sempre. CONTEXTUALIZANDO Saiba mais Leia o artigo “Saiba como gerenciar o capital de giro na sua empresa”, de Flavio Logullo, e conheça melhor conceitos como capital de giro, ativo e passivo circulante, entre outros. Disponível em: <http://controlefinanceiro.granatum.com.br/dicas/saiba-como-gerenciar-o- capital-de-giro-na-sua-empresa/>. 3 Pesquise De acordo com o artigo, para manter uma saúde financeira na empresa o controle do capital de giro é primordial. O autor diz que o ideal é receber dos clientes antes de pagar os fornecedores. Mas será que isso é sempre possível? Com base nessa dúvida, pesquise e faça as seguintes atividades: 1. Apresente uma empresa em que, devido a suas características, essa condição não seja possível. Justifique sua escolha, esclarecendo o fluxo de entradas e saídas com essa imprecisão. 2. Apresente uma empresa em que isso facilmente se solidifica. Do mesmo modo, justifique. 3. Por fim, apresente um caso em que um descompasso no capital de giro ocorra por descontrole administrativo. Lembre-se de embasar suas alegações. A partir desses dados, fique atento às discussões sobre controle e descontrole no ciclo de capital de giro. TEMA 1 – GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO 1.1 Necessidades de giro Para controlar as capacidades de pagamento da empresa o comum é recorrer ao fluxo de caixa. Para se chegar a esse controle é preciso agrupar entradas financeiras às saídas financeiras. Mas o fluxo de caixa dá apenas uma noção das necessidades (ou não) de cobertura em determinados períodos. Quando não há recursos, esses devem ser cobertos imediatamente, caso contrário a empresa substitui seu conceito de bom pagador para mau pagador. Isso significa que cada vez que se somam variáveis de risco a determinada empresa, menor será a capacidade de se administrarem valores e períodos e, por consequência, maiores serão os custos de financiamento (taxas de juros). Recebimentos = Pagamentos Equilíbrio financeiro Recebimentos Pagamentos Aumento do patrimônio, riqueza, investimentos. Recebimentos Pagamentos Necessidade de cobertura 4 Um equilíbrio financeiro é sempre uma boa situação para a empresa. Embora ele não aumente sua riqueza, o equilíbrio manterá a saúde financeira de forma que projetos futuros possam ser elaborados. Quando o equilíbrio financeiro for natural (coberturas normais do fluxo de caixa), haverá sempre uma preocupação com o futuro da empresa. Sobre o aumento da riqueza, é preciso considerar que quanto maior o patrimônio líquido da empresa, maior sua capacidade de estabilidade e investimento futuro, tanto em infraestrutura como financeira. É o plano ideal. Todo ativo da empresa está relacionado aos lucros. Portanto, até mesmo uma simples gestão de almoxarifado faz parte do negócio. Ou seja, ganhar dinheiro e acumular riqueza. Sempre que o fluxo de caixa aponta para necessidades de cobertura, significa que é preciso buscar meios para que os compromissos junto aos fornecedores sejam cumpridos. Os meios são sempre uma forma de “apagar incêndios”. Ou seja, formas de cobertura (empréstimos) para resolver problemas pontuais. A partir do momento em que a empresa não puder mais cumprir com seus compromissos, o risco de crédito aumenta, as proporções do incêndio são maiores do que a capacidade de apagá-lo. Segundo Nascimento (2015), é difícil uma empresa manter a liquidez de seus pagamentos e de seus recebimentos, pois os prazos entre os pagamentos e recebimentos do ciclo operacional não ocorrem ao mesmo tempo. Trocando em miúdos, se a produção não for vendida no tempo em que se espera, a necessidade de giro será maior ainda. Para o cálculo da necessidade de giro, temos a diferença entre nosso ativo circulante operacional (contas a receber e estoques) menos o passivo circulante operacional (fornecedores, despesas e impostos). 1.2 Capital de giro Capital de giro é todo e qualquer ativo circulante da empresa formado pelo seu dinheiro em caixa e bancos, mais seu estoque de matéria-prima, mais suas mercadorias produzidas (aguardando a venda), mais os valores a receber. CG = caixa + bancos + MP + estoque venda + a receber 5 Sempre que há uma previsão de vendas (pedidos) maior do que o capital de giro, é necessário recorrer a financiamentos, geralmente de curto prazo. As empresas que aplicam seus saldos de caixa sempre estarão prontas para atender tal demanda, uma vez que a liquidez desses ativos é quase sempre imediata. Qualquer perda de investimento é melhor que o pagamento de juros; disso não há dúvidas, mas nem sempre isso é possível. Outro problema é a má administração dos estoques, principal vilão do giro nas empresas. Total de estoque = Total de vendas Ideal Total de estoque > Total de vendas Necessidade de giro Total de estoque < Total de vendas Risco de liquidez futura Além da falta de liquidez, produtos encalhados na empresa geralmente comprometem uma série de outras finanças, como: • Despesas com infraestrutura de armazenamento e logística; • Despesa com pessoal (administração de estoques); • Vida útil ou obsolescência; • Liquidação do passivo. E é exatamente a necessidade de giro que faz com que esse problema seja resolvido da pior forma possível: • Visão otimista: promoção com preços abaixo do custo (liquidez baixa). • Visão realista: em muitos casos, desmontar o produto (criar outros) ou desperdiçá-lo é mais vantajoso. • Visão pessimista: entregar ao fornecedor como liquidação de títulos. TEMA 2 – MATÉRIA-PRIMA E O ESTOQUE EXCEDENTE Além do estoque de produtos acabados, é possível haver também excesso de matéria-prima. Esse excesso enfrenta os mesmos problemas que o da produção de bens finais e geralmente é consequência do mau investimento das sobras de caixa. Muitas vezes não se dá muita atenção a essa possibilidade, e quando acontece investe-se em matéria-prima para produção futura. 6 O correto uso dos saldos de caixa é sempre o investimento financeiro ou o pagamento à vista de recursos geralmente a prazo. Nesse caso, um desconto aumenta os recursos de caixa e traz maior liquidez à empresa. Saldo de caixa zero é o ideal, se possível em cada período de caixa. Outra questão é o financiamento do própriocliente. Em vez de especular com as sobras de caixa, financiar seu próprio cliente pode render mais que qualquer aplicação financeira, ou até mesmo reduzir seus preços no tempo em relação à concorrência. As empresas devem controlar seus materiais de produção da mesma forma que o mercado de perecíveis controla seus estoques, exceto para obras de arte ou de bens que valorizam com o tempo, como é o caso de terrenos. Investimento em matéria-prima excessiva Necessidade de liquidez futura instabilidade financeira Leitura complementar “Gestão de estoque”. In: NASCIMENTO, André do (Org.). Gestão do capital de giro. São Paulo: Pearson, 2014, pp. 91-103. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788543010229/page s/91>. Saiba mais DETONI, D. J.; MOREIRA, V. C. C. A importância da administração do capital de giro para a sobrevivência de uma empresa. In: Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 8, 2011. Anais... Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos11/35114611.pdf>. Acesso em 22 maio 2017. TEMA 3 – EFICIÊNCIA DE GIRO E ESTOQUE Duas marcas operacionais são importantes para gestão do capital de giro e que determinam a eficiência do giro de estoque: o tempo de reposição da mercadoria (necessidade, pedido e entrega) e a embalagem mínima exigida pelo fornecedor para aquisição, o lote econômico. Vejamos alguns fundamentos disso. 7 3.1 Estoque Segundo Viana (2000), controle de estoque é o procedimento adotado para registrar, fiscalizar e gerir as entradas e saídas dos produtos (capital circulante) do estoque, tanto de materiais fabricados como para revenda. Um dos principais instrumentos de controle, principalmente financeiro, é a política de estocagem e movimentação do estoque. Ela estabelece a necessidade de controle do volume de entradas e saídas e os custos que podem acarretar, determinando desde prazos (entrada e saída) até a margem de segurança necessária. A questão principal é como atender uma empresa em que existem um departamento comercial, que exige um estoque cheio para melhor atender a demanda, e um departamento financeiro, que necessita de estoques reduzidos para diminuir o capital investido e melhorar seu fluxo de caixa e depender o mínimo possível de capital de terceiros. Existem duas principais ferramentas de controle do estoque: 1. Entrada e saída – Desde o momento que um produto entra na empresa até a sua respectiva saída, seja ela para revenda ou após manufatura, as entradas e saídas fazem parte de seu controle principal, e, portanto devem ser controlados à risca. Dados como origem, data e documentação são necessários desde a entrada do produto como no registro de suas transferências, consumo (manufatura) e saída. 2. Saldo do estoque – Necessário para controle do volume de estoque. Geralmente é o que exige o controle correto e efetivo, principalmente das entradas e saídas. O mal controle dos saldos pode acarretar em grande prejuízo, desde a necessidade de inventário de estoque até o recálculo de experiências do estoque. 3.2 Principais variáveis de controle do estoque O controle de estoque tem sua ciência e princípios específicos. Contudo, algumas variáveis, embora simples e cotidianas, influenciam em tempo real o controle financeiro da empresa. 8 3.2.1. Consumo médio mensal (CMM) É a média de consumo, em sua quantidade de medida, de determinado produto em certo período, geralmente em 30 dias. Pode variar de acordo com a sazonalidade da empresa, podendo ser dividido em vários níveis (CMM verão, CMM inverno etc.). CMM = Soma de todo consumo diário em 30 dias CMM = Consumo do ano / 12 CMM = Consumo do semestre / 6 Variante dessa é o consumo médio diário (CMD) = CMM / 30 3.2.2. Estoque mínimo (estoque de segurança/ponto de pedido) O estoque mínimo (EM) muitas vezes pode ser considerado estoque de segurança ou ponto de pedido, mas isso depende de cada empresa e de seu sistema de controle e reposição (descanso de produtos, teste de qualidade etc.). Portanto, esses conceitos podem ser sinônimos para algumas empresas, mas para outras mantêm suas particularidades. Do que o EM mais depende é do tempo de reposição, um cálculo que, apesar de simples, é importantíssimo que seja analisado com cautela, pois a não observância de alguns fatores poderá acarretar a falta do produto: • Emissão da requisição de compra, pedido, verificação de orçamento – tempo previsto para chegar o pedido ao fornecedor selecionado. • Preparação do pedido – tempo que o fornecedor leva para fabricar, embalar, faturar e deixá-lo em condições de ser transportado. • Transporte – tempo que leva para sair do fornecedor até o recebimento do solicitante. Assim, o EM será definido quando o saldo de estoque estiver abaixo ou igual à determinada quantidade, estabelecida como estoque mínimo. • Estoque mínimo = Consumo médio mensal / 30 * Tempo de Reposição média 9 • Ponto de pedido = Consumo médio mensal / 30 * Tempo de Reposição média + prazo burocrático Atenção: para o tempo de reposição média, considere o prazo de entrega e o tempo ágil suficiente para efetuar os pedidos. Por exemplo: se meu fornecedor entrega em três dias e levo geralmente dois dias para preparar o pedido, então, nesse caso, o tempo de reposição média é igual a 5 (3+2). 3.2.3. Estoque máximo (ou estoque econômico) É a quantidade máxima de estoque permitida para que se evitem excessos de ordem financeira. O estoque máximo tem relação direta com a necessidade de giro do estoque (demanda): EMAX = (consumo médio mensal / 30) * (Tempo de reposição máxima) 3.2.4. Lote econômico É o pacote mínimo que se pode adquirir, de acordo com a embalagem do fornecedor, baseado no estoque mínimo (ponto de pedido). Por exemplo: se meu estoque mínimo é de 10 unidades e a embalagem mínima do fornecedor é pacote com 100 unidades, então meu lote econômico é de 100 unidades. Se meu estoque mínimo for de 120 unidades, no mesmo caso, meu lote econômico será de 200 unidades, ou seja, sempre em embalagens, conforme o fornecedor. LE = embalagem x INTEIRO ((EM / embalagem) + 0,99) Exemplo de uma embalagem maior que o estoque mínimo: LE = 100 x INT [(10 / 100) + 0,99] LE = 100 x INT (0,1 + 0,99) LE = 100 x INT (1,09) LE = 100 x 1 LE = 100 (Exemplo de uma embalagem menor que o estoque mínimo) LE = 100 x INT ((235 / 100) + 0,99) LE = 100 x INT (2,35 + 0,99) 10 LE = 100 x INT (3,34) LE = 100 x 3 LE = 300 3.2.5. Prazo de entrega Baseado no tempo de reposição de estoque por parte do fornecedor. O prazo de entrega do fornecedor baseia-se geralmente no tempo de pedido (compras) e pode variar conforme: produto, fornecedor, localização, entre outros. É ele que determina o quanto pode ser um benefício ou prejuízo para a empresa, pois depende principalmente de questões externas e de administração indireta (negociação). Quanto maior o prazo de entrega, maior o custo do produto. 3.2.6. Custo do estoque • Direto: Baseado no seu custo e seu consumo médio. • Indireto: Baseado no volume de estoque parado (estoque máximo e lote econômico). 3.3 Índice de eficiência logística do estoque (IELE) Para determinar essa eficiência, relacionamos o custo do estoque mínimo (mínimo de estoque que permita trabalhar enquanto não é reposto) à embalagem mínima, ou seja, o custo do lote econômico ao custo das mercadorias vendidas (consumo). IELE = (Custo do lote econômico) / (Custo do consumo) Se esse índice for menor que 1, temos um lote econômico eficiente, dado o prazo de entrega do produto. E quanto mais baixo for esse índice, mais eficiente é a logística do giro de estoque. Se o índice for maior que 1, ocorre um problema que poderá onerar o estoque (o prazo de entrega pode estar muito alto, ou a embalagemmínima pode ser incompatível com o uso). Por outro lado, isso só será mesmo um problema se o produto pesar no custo total do estoque (ver Curva ABC de estoques). 11 Observe na Tabela 1 a seguir o custo de adquirir um lote de cada vez, baseado no prazo de entrega e o custo do estoque em relação de consumo (revenda ou fabricação). Ordem do mais oneroso para o menos. Tabela 1 – Custo do estoque e lote econômico PRODUTO UNID CUSTO UNITÁRIO CONSUMO MÉDIO MENSAL LOTE ECONÔMICO PRAZO DE ENTREGA (dias) CUSTO DO ESTOQUE (Lote Econômico) CUSTO DO ESTOQUE (consumo médio) Contrafilé sem osso kg 26,6670 264,0 72,0 8 1.920,00 7.040,00 Batata kg 2,0000 1.155,0 193,0 5 386,00 2.310,00 Alface un 0,8000 1.892,0 64,0 1 51,20 1.513,60 Cebola kg 0,9000 896,5 30,0 1 27,00 806,85 Alho un 0,4000 1.309,0 219,0 5 87,60 523,60 Arroz kg 0,6000 709,5 475,0 20 285,00 425,70 Farinha de rosca kg 0,7000 528,0 90,0 5 63,00 369,60 Azeite de oliva litro 9,8000 20,9 37,0 53 362,60 204,82 Limão kg 2,0000 41,8 3 2 6,00 83,60 Molho de tomate kg 0,9000 66 20 9 18,00 59,40 Luva par 0,0040 4.730,00 5.550,00 35 19,98 17,03 3.226,38 13.354,20 Fonte: O autor. Vejamos no exemplo a seguir como a média geral do estoque apresentado, de 43,92% (IELE 0,44), identifica um estoque com giro eficiente, caracterizando os custos de giro de matéria-prima como controláveis. Porém, isso pode variar de acordo com o tipo de empresa e dos produtos, se perecíveis ou bens duráveis, por exemplo. Essa relação unitária deve ser comparada ao comprometimento do custo total do estoque, ou seja, é necessário organizar desde o produto que mais pesa no custo do estoque até o de menor relevância. 12 Tabela 2: Eficiência de giro do estoque PRODUTO CUSTO DO ESTOQUE (lote econômico) CUSTO DO ESTOQUE (consumo médio) Relação Custo LE e Custo das VENDAS (eficiência) % sobre Custo Total do Estoque Contrafilé sem osso 1.920,00 7.040,00 27,30% 33,10% Batata 386,00 2.310,00 16,70% 10,90% Alface 51,20 1.513,60 3,40% 7,10% Cebola 27,00 806,85 3,30% 3,80% Alho 87,60 523,60 16,70% 2,50% Arroz 285,00 425,70 66,90% 2,00% Farinha de rosca 63,00 369,60 17,00% 1,70% Azeite de oliva 362,60 204,82 177,00% 1,00% Limão 6,00 83,60 7,20% 0,40% Molho de tomate 18,00 59,40 30,30% 0,30% Luva 19,98 17,03 117,30% 0,10% 3.226,38 13.354,20 43,92% 100,00% Fonte: O autor. Repare que os produtos menos eficientes e que poderiam onerar o estoque (azeite de oliva com IELE de 1,770 e a Luva com 1,173) não representam custos significativos ao estoque (1% e 0,1% respectivamente). Percebe-se que o vilão de ambos seriam os altos prazos de entrega. Uma nota importante Repare no texto que as eficiências de 177%, 117,3% e 43,92% mencionadas representam um IELE de 1,770; 1,173; e, 0,439 (ou 0,44) respectivamente. Ou seja, IELE = % de eficiência / 100 Já os dois primeiros itens, contrafilé e batata, apesar de representarem grande fatia do estoque em relação aos custos, são eficientes logisticamente. Enfim, muitos são os fatores que influenciam o peso nos custos em relação ao capital de giro. Na sequência, veremos alguns índices financeiros que ajudam na administração do passivo circulante. 13 Leitura complementar “Variáveis que interferem no capital de giro”. In: NASCIMENTO, André do (org.). Gestão do capital de giro. São Paulo: Pearson, 2014, pp. 74-90. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788543010229/page s/73> TEMA 4 – INDICADORES FINANCEIROS Vimos até aqui que o suporte financeiro necessário para operarmos o capital de giro é grande e, embora complexo, tem seus métodos para facilitar e simplificar sua dinâmica. Os indicadores financeiros são ferramentas importantes para medirmos o desempenho da empresa ou pelo menos determinarmos o quanto um dia de estoque, pagamento ou recebimento podem ser cruciais na desenvoltura dos lucros. Ganhar ou perder pode depender do prazo de recebimento de um cliente, do pagamento a fornecedores, a até mesmo do simples prazo de entrega, tanto do fornecedor até do estoque, assim como a entrega dos produtos ao consumidor final. Um simples empecilho operacional, quase que imperceptível, pode levar a margens de prejuízo extensos ao longo do tempo. 4.1 Ciclos e prazos Sabemos que, de modo geral, os prazos são os aliados do progresso da empresa. Mas se por um lado o tempo nos faz enriquecer ou até mesmo adiar determinados desembolsos, por outro pode ser fundamental ao desempenho da empresa quando enxutos. Vejamos alguns exemplos importantes desses prazos e ciclos apontados por Nascimento (2015). 4.1.1 Ciclo econômico Também conhecido como ciclo de capital, representa o tempo em que os produtos acabados permanecem na empresa, dentro do giro do estoque. Ou seja, foram produzidos, oneraram o estoque (capital de giro), mas ainda não 14 saíram dele. Assim, é a soma das operações de compra, venda, salários, encargos, despesas, lucro ou prejuízo gerado até o final do processo. O ciclo econômico (ou ciclo de capital) começa, portanto, a partir da compra da matéria- prima até a venda do produto final. Vale observar ainda que cada processo conta com um prazo médio de estoque, sendo: CE (ciclo econômico) = PME (prazo médio de estoque) PME = PMP (prazo médio de matéria prima) + PMF (prazo médio de produtos em fabricação) + PMA (prazo médio de produtos acabados) PME = (estoque médio) / (custo dos produtos vendidos) * 360 4.1.2 Ciclo financeiro Também conhecido como ciclo de caixa, é reflexo direto do ciclo econômico, e inicia no momento do pagamento da matéria-prima e segue até o recebimento pela venda do produto acabado. Sua função é o monitoramento do movimento de caixa da empresa em relação à movimentação dos estoques. CF (ciclo financeiro) = PME (prazo médio de estoques) + PMR (prazo médio de recebimento) – PMP (prazo médio de pagamentos) PMR = (duplicatas a receber) / (receita de vendas) * 360 PMP = (duplicatas a pagar) / pagamentos * 360 4.1.3 Ciclo operacional É a combinação dos ciclos econômicos e financeiros. Ou seja, inicia quando a empresa adquire a matéria-prima e finaliza quando recebe o pagamento de seus clientes. Assim: CO = CE + CF ou CO = PME + PMR 15 TEMA 5 – ÍNDICES FINANCEIROS Os índices financeiros podem ser nossos grandes aliados ao desempenho da empresa. Como diz o ditado: “onde há fumaça, há fogo”. Por outro lado, não podemos nos esquecer de que o que pode parecer um incêndio, às vezes não passa de uma névoa simples e suave. A questão é, se qualquer índice indicar grande desvios, devemos ter o cuidado de não os avaliar como respostas definitivas ao problema, ou até mesmo a bons resultados. Lembre-se também de que um único índice pode não ser o suficiente para concluir um resultado, por mais prévio ou superficial que seja. A combinação de vários índices é sempre um resultado mais preciso do que apenas a conclusão de um – “a união faz a força”. Fique atento também às sazonalidades do negócio. Altos e baixos em períodos contrapostos, principalmente entre exercícios diferentes, podem apresentar dados imprecisos ou medianos demais. Ainda, tenha a certeza de que a veracidade dos dados colhidos, principalmente com base em sistemas de informação (sistemas corporativos) passíveis de erros de dados. Portanto, ao analisarmos todo e qualquer índice financeiro, devemos nos lembrar de que um apontamento mais preciso e uma observação mais detalhada deve ser promovida. Caso contrário, o que parecia um problema e não passava de um pico momentâneo, pode passar a ser um tempo perdido. Assim, tenha-o como um sinalizador do desempenho e não como resultado definitivo. Ao acender a luz, fique de prontidão e observecom cuidado. 5.1 Índices de liquidez Os índices de liquidez apresentam a capacidade da empresa em honrar suas obrigações financeiras no curto prazo contábil (geralmente um ano). Ou seja, refere-se à solvência geral da empresa, dados seus recebimentos e pagamentos. 16 5.1.1. Índice de liquidez corrente Um dos índices mais comuns à atividade da empresa. Demonstra sua capacidade em honrar seus pagamentos em dia. Empresas com problemas de fluxo de caixa apresentam características típicas de baixos índices de liquidez corrente. Um exemplo: eu pago meu fornecedor em 20 dias, mas recebo somente depois de 40 dias da compra. Temos nesse exemplo um passivo circulante maior que o ativo circulante. O cálculo do ILC é o seguinte: ILC = (ativo circulante)/(passivo circulante) Basicamente, o resultado desse ILC, quando menor do que 1, significa que a empresa não tem condições de honrar seus compromissos, podendo ter problemas sérios de fluxo de caixa, ainda no curto prazo. Se for igual ou maior do que 1, temos uma empresa saudável no seu fluxo de caixa, mas isso também pode depender muito do tipo de atividade. Se você adquire mercadorias para revender, deve se lembrar de que, além do prazo que oferece ao seu cliente como pagamento, tem o tempo de armazenagem dessa mercadoria em estoque. Em uma empresa de prestação de serviços, em que a folha de pagamento é a que mais onera, e que gira em torno de precisos 30 dias, um prazo similar, de 30 dias, ao seu cliente é perfeitamente aceitável. Assim, sendo cada caso um caso, lembre-se de que, quanto maior esse índice, mais saudável será sua conta corrente. 5.1.2. Índice de liquidez seca Semelhante à liquidez corrente, com a diferença de deduzir o custo com estoques do cálculo: ILS = (Ativo circulante, estoques) / (passivo circulante) O que precisamos frisar a respeito desse índice é que para alguns negócios os custos com estoque podem ofuscar a visão corrente do fluxo de caixa. Isso ocorre porque muitos desses estoques ou são desembolsados para 17 produtos que levam um certo tempo para serem vendidos (ou produzidos e vendidos), ou então têm seus prazos de faturamento alongados (30 dias em média). Uma vez retirada a conta de estoques do cálculo, o índice tende a ser menor e, portanto, mais realista. Se esse índice for de 1, acima disso a empresa está em condições boas; abaixo de 1, tem liquidez problemática ainda no curto prazo. Por outro lado, se os estoques das empresas forem facilmente convertidos em caixa (alto giro) ou com prazos de recebimentos imediatos, convém avaliar essas empresas pelo ILC. 5.2 Índices de atividade Esses índices medem a velocidade em que os valores são convertidos em faturamento, a receber ou recebidos, sejam estes baseados em ativos ou em passivos. 5.2.1. Giro do estoque Apresenta o tempo de giro do estoque. Quanto mais baixo esse giro (em dias), mais rápido os custos com matérias-primas, por exemplo, convertem-se em ativos. GE = (Custo com matéria-prima) / (Estoque de matéria-prima) O resultado do GE se dá em dias. Quanto mais baixo, menor. Porém, não há um número tipicamente padrão para todos os negócios. Comprar peças para fabricar um automóvel pode resultar em ativo em até 15 dias ou menos. Por outro lado, para se fabricar um navio, 180 dias ou bem mais. Cada ramo de negócios tem seu índice padrão. 5.2.2. Prazo médio de recebimento Também conhecido por idade média das contas a receber, mede o tempo médio de financiamento dos clientes. Em grande parte dos negócios, esse índice trata entre 15 a 20 dias, como uma normalidade. 18 PMR = (Contas a receber) / (Receita média diária) Embora o resultado do PMR seja melhor em números menores, isso é bem relativo, pois não pode ser observado isoladamente. A parte que sugere o financiamento das vendas dependerá do prazo em que pago os fornecedores. 5.2.3. Prazo médio de pagamento Enquanto o PMR aponta o prazo médio de recebimento dos clientes, o PMP define o quanto somos financiados pelos fornecedores. A diferença, se positiva (PMR maior que o PMP), corresponde ao prazo de financiamento do cliente. Ou seja, quanto eu tenho que ter em caixa, a mais, para financiar meu cliente? PMP = (Contas a pagar) / (Média de pagamentos diário) Exemplo: PMR = 20 dias. PMP = 10 dias. 20 dias para receber, 10 dias para pagar, 10 dias para financiar o cliente. Se não tiver 10 dias em dinheiro, devo emprestar de outros recursos (bancos). Por outro lado, um PMR menor que o PMP, sobra de recursos. Fôlego extra. 5.2 Outros índices Há várias outras formas de avaliar as condições da empresa além da sua liquidez e operações. Como valor de mercado, endividamento, rentabilidade e atividade. Você encontra mais detalhes desses índices na Leitura Obrigatória. Leitura complementar GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010, pp. 53 a 65. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053323/page s/53> 19 Saiba mais ÍNDICES e Indicadores Financeiros. Ynvestimentos. Disponível em: <http://ynvestimentos.com.br/2014/01/indices-e-indicadores-financeiros/>. Acesso em: 21 maio 2017. TROCANDO IDEIAS Busque na internet um balanço patrimonial qualquer, de exemplo ou de publicação de uma empresa. Se preferir, utilize um balancete da empresa na qual você trabalha. A partir desse balanço, calcule o ILC e aponte suas conclusões para o resultado, expressando se é positivo ou negativo em sua opinião. NA PRÁTICA Na leitura complementar e obrigatória temos a classificação dos produtos do estoque pela Curva ABC, a qual nos orienta para os produtos mais relevantes em matéria de custo do estoque. Você encontra o texto no seguinte link: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788543010229/pages/95>. Depois da leitura, resolva o seguinte exercício: Dada a tabela de consumo a seguir, calcule o custo do estoque e os totais. O custo do estoque é dado pela seguinte fórmula: Custo do estoque = custo unitário x consumo médio mensal http://ynvestimentos.com.br/2014/01/indices-e-indicadores-financeiros/ 20 PRODUTO UNIDADE CUSTO UNITÁRIO CONSUMO MÉDIO MENSAL CUSTO DO ESTOQUE (consumo médio) Alface un 0,8000 1.892,0 Alho un 0,4000 1.309,0 Arroz kg 0,6000 709,5 Azeite de oliva litro 9,8000 20,9 Batata kg 2,0000 1.155,0 Cebola kg 0,9000 183,7 Contrafilé sem osso kg 26,6667 264,0 Farinha de rosca kg 0,7000 528,0 Limão kg 2,0000 41,8 LUVA par 0,1800 4.730,0 Molho de tomate kg 0,9000 66,0 Óleo de Soja litro 2,5000 288,2 Ovos dz 1,5000 220,0 Palmito kg 1,0000 104,5 PAPEL TOALHA un 0,0333 4.730,0 Peito de Frango kg 5,8500 313,5 Presunto kg 14,0000 52,8 Queijo muçarela kg 10,4000 52,8 Sal kg 1,1000 9,5 Tomate kg 1,3000 209,0 TOUCA DESCARTÁVEL un 0,1500 4.730,0 TOTAL GERAL Com base na tabela de custo de estoque anterior, preencha a tabela de classificação ABC a seguir. Uma vez preenchida a tabela, estabeleça a classificação ABC do estoque: Produto Valor do consumo Valor acumulado % sobre total acumulado Class. (ordenada) A A A A B B B B B B C C C C C C C C C C C 21 FINALIZANDO Vimos nessa aula que o raciocínio matemático da gestão financeira vai além das taxas de juros da matemática financeira. Utilizamos constantemente de ferramentas que medem nossa movimentação operacional e que refletem diretamente no dia a dia do negócio. Alguns poucos cálculos e muitos agentes podem resultar em dados importantes para tomadas de decisões. Percebemos ainda que o mais importante dos cálculos são os resultados. Compreender o que significa cada índicee cada custo pode ser fundamental para estabelecermos nossas estratégias como administradores financeiros. 22 REFERÊNCIAS ANDRICH, E. G.; CRUZ, J. A. W. Gestão financeira moderna: uma abordagem prática. Curitiba: InterSaberes, 2013. ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006. ÍNDICES e Indicadores Financeiros. Ynvestimentos. Disponível em: <http://ynvestimentos.com.br/2014/01/indices-e-indicadores-financeiros/>. Acesso em: 21 maio 2017. LOGULLO, F. O que é capital de giro? Controle Financeiro. Disponível em: <http://controlefinanceiro.granatum.com.br/dicas/o-que-e-capital-de-giro/>. Acesso em: 22 maio 2015. NASCIMENTO, A. do (Org.). Gestão do capital de giro. São Paulo: Pearson, 2014. VIANA, J. J. Administração de materiais: um enfoque prático. São Paulo: Atlas, 2000. WESTON, J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da administração financeira. 10. ed. São Paulo: Makron Books, 2004. http://ynvestimentos.com.br/2014/01/indices-e-indicadores-financeiros/ Conversa inicial Contextualizando pesquise PMR = (Contas a receber) / (Receita média diária) Embora o resultado do PMR seja melhor em números menores, isso é bem relativo, pois não pode ser observado isoladamente. A parte que sugere o financiamento das vendas dependerá do prazo em que pago os fornecedores. Enquanto o PMR aponta o prazo médio de recebimento dos clientes, o PMP define o quanto somos financiados pelos fornecedores. A diferença, se positiva (PMR maior que o PMP), corresponde ao prazo de financiamento do cliente. Ou seja, quanto eu tenho que... PMP = (Contas a pagar) / (Média de pagamentos diário) Exemplo: PMR = 20 dias. PMP = 10 dias. 20 dias para receber, 10 dias para pagar, 10 dias para financiar o cliente. Se não tiver 10 dias em dinheiro, devo emprestar de outros recursos (bancos). Por outro lado, um PMR menor que o PMP, sobra de recursos. Fôlego extra. Leitura complementar GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010, pp. 53 a 65. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053323/pages/53> Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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