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CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er LITERATURA 3ª EDIÇÃO - 2019 CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 3 3 Agradecimentos, Agradecimentos, Em primeiro lugar, meu agradecimento especial e minha consideração a dois professores extraordinários – aqueles que me levaram a gostar de ensinar com excelência – Dometildes Tinoco e Euzébio Cidade. (Olá, Mamãe e Papai! In Momorian) Um agradecimento sincero aos meus queridos alunos e a excelente e dedicada equipe de professores do Preparatório para a EsPCEx, profissionais liderados pela Prof. Adriana e que reúnem as qualidades de verdadeiros líderes e que me apoiaram nesse trabalho. Esperamos que você utilize esta obra, exercitando com atenção cada redação proposta para que possa obter um excelente desempenho no concurso. Aceite nossa companhia nesta viagem de treinamento Rumo à EsPCEx. Bons Estudos!! Luiz Cidade Diretor CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 4 4 EQUIPE EQUIPE Diretor Geral Luiz Alberto Tinoco Cidade Diretora Executiva Clara Marisa May Diretor de Artes Fabiano Rangel Cidade Gerente Operacional Laura Maciel Cruz Coordenação Geral dos Cursos Preparatórios Profº Luiz Alberto Tinoco Cidade Coordenação dos Cursos de Idiomas EAD Profº Dr. Daniel Soares Filho Secretaria Evilin Drunoski Mache Suporte Técnico Fernnanda Moreira Teodoro Lídia Maciel Cruz Editoração Gráfica Edilva de Lima do Nascimento Fonoaudióloga e Psicopedagoga Mariana Ramos – CRFa 12482-RJ/T-DF Assessoria Jurídica Luiza May Schmitz – OAB/DF – 24.164 Assessoria de Línguas Estrangeiras Monike Rangel Cidade (Poliglota-Suíça) Professores dos Concursos Sormany Fernandes – História Geral e do Brasil Djalma Augusto – História Geral e do Brasil Atila Abiorana – Língua Portuguesa Valber Freitas Santos – Gramática (EAD) Adriana Bitencourt – Redação e Literatura Drº Adriano Andrade – Geografia geral e do Brasil Enio Botelho – Geografia Geral e do Brasil Drª Janaina Mourão – Geografia Geral e do Brasil (EAD) Ms Rubia de Paula Rubio – Geografia Geral e do Brasil Luiz Alberto Tinoco Cidade – Espanhol Drº Daniel Soares Filho – Espanhol (EAD) Maristella Mattos Silva – Espanhol (EAD) Monike Cidade – Espanhol e Alemão (EAD) Ivana Mara Ferreira Costa - Inglês Márcia Mattos da Silva – Francês (EAD) Marcos Henrique – Francês Edson Antonio S. Gomes – Administração de Empresas Tomé de Souza – Administração de Empresas (EAD) Alexandre Santos de Oliveira – Direito Drº Evilásio dos Santos Moura – Direito Rafael – Direito Cirelene E. Martins - Direito Genilson Vaz Silva Sousa – Ciências Contábeis Rodrigo Flórido Brum – Ciências Contábeis Ricardo Sant'Ana – Informática Fausto Santos – Informática Rômulo Santos – Informática Cintia Lobo César – Enfermagem Maria Luiza - Enfermagem Marcelo Herculano – Enfermagem Lacerda – Enfermagem Murilo Roballo – Matemática Fernando Cunha Córes - Matemática Marcos Massaki – Física I, II e III Andrei Buslik – Física e Matemática Mauro – Química Antenor Nagi Passamani – Química CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 5 5 CONTEÚDO CONTEÚDO A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA ........................................................... 7 OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) .................................................................. 11 TROVADORISMO ............................................................................................................. 17 JÁ DEMOS UMA PANORÂMICA NA TEORIA. VAMOS VER UM TEXTO COMO EXEMPLO? ....................................................................................................................... 19 HUMANISMO .................................................................................................................... 31 CLASSICISMO .................................................................................................................. 36 QUINHENTISMO ............................................................................................................... 43 BARROCO ........................................................................................................................ 49 ARCADISMO ..................................................................................................................... 61 ROMANTISMO I ................................................................................................................ 72 ROMANTISMO II ............................................................................................................... 81 REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO ........................................................ 98 SIMBOLISMO .................................................................................................................. 107 PRÉ-MODERNISMO ....................................................................................................... 112 VANGUARDAS EUROPEIAS ......................................................................................... 116 VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO BRASILEIRO ..................................... 128 MODERNISMO BRASILEIRO ......................................................................................... 130 (AS 3 GERAÇÕES) ......................................................................................................... 130 TENDÊNCIAS ATUAIS DA LITERATURA BRASILEIRA .............................................. 138 GABARITOS ................................................................................................................... 141 OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS).............................................................................................. 141 TROVADORISMO ......................................................................................................................................... 141 HUMANISMO ................................................................................................................................................ 141 CLASSICISMO .............................................................................................................................................. 142 CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 6 6 CONTEÚDO QUINHENTISMO ........................................................................................................................................... 142 BARROCO .................................................................................................................................................... 142 ARCADISMO ................................................................................................................................................. 143 ROMANTISMO I ............................................................................................................................................ 143 REALISMO – NATURALISMO - PARNASIANISMO ................................................................................... 143 SIMBOLISMO ................................................................................................................................................ 144 PRÉ-MODERNISMO ..................................................................................................................................... 144 VANGUARDAS EUROPEIAS .......................................................................................................................144 VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO BRASILEIRO.................................................................. 145 CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 7 7 A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA Antes de iniciarmos nossas aulas, vamos pensar um pouco sobre o que é literatura e qual é a sua função no mundo. Vamos pensar um pouco para que serve a literatura (principalmente a brasileira) e o que uma pessoa com um nível de escolaridade compatível com o concurso que vamos fazer deve saber sobre literatura. No site INFOESCOLA vemos um texto introdutório sobre literatura de Cristina Gomes que nos auxiliará a refletir sobre as questões propostas no parágrafo anterior. Antes de transcrevermos o texto, gostaríamos de lembrar que para conhecer literatura, a forma correta é LER… LER… e LER…. Portanto, não desanime se nossas aulas apresentarem propostas de leituras. Lembre-se: você está se preparando para um concurso de um nível elevado, onde cada questão acertada é mais uma chance de aprovação. Feita esta pequena (mas necessária) digressão, passemos ao texto de Gomes: A história da literatura procura entender todas as modificações que a produção literária passou ao longo da evolução da sociedade. Para este estudo, a análise e compreensão dos textos literários são muito importantes, pois nos ajudam a entender melhor o contexto histórico em que o texto foi escrito. Quando estudamos a história ou origem da literatura deparamos com um conceito: o de estilos literários ou estilos de época. - Estilos de época: é o nome dado conjunto de obras escritas em uma determinada época. O critério usado para dividir os estilos de época varia muito: às vezes, o autor publica uma obra revolucionária e ela acaba se tornando o marco inicial de um determinado período, outras vezes um fato histórico influencia uma infinidade de obras que darão origem a um determinado movimento literário. É importante ressaltar que as datas estabelecidas para um determinado período não são tão rigorosas quanto parecem, são apenas recursos didáticos usados para facilitar o estudo, já que é quase impossível estabelecer precisamente quando iniciou ou terminou um período. Também é bom sabermos que um estilo de época não “morre” por completo e que a passagem de um estilo para outro não é tão rápida assim. Muitas ideias adotadas em um período podem ser aproveitadas por outros estilos literários que fazem uma releitura ou uma reinterpretação de textos já escritos. A Literatura busca influência nela mesma para sempre ter a possibilidade de abrir novos caminhos e novas ideias. É por esta razão que o entendimento correto sobre cada estilo é tão importante, pois através dessa compreensão temos uma visão geral da Literatura e da sociedade que a produziu. (http://www.infoescola.com/literatura/historia-e-origem-da-literatura/) Como pudemos ver, conhecer as épocas literárias, as obras, seus autores e as formas como escrevem cada um em seus “tempos” auxiliam-nos a compreender os períodos históricos nos quais foram produzidos os textos. Chegadas a estas primeiras conclusões, vamos adiante: Conhecer a “história da literatura” é mergulhar no universo dos movimentos literários (um estudo da época, dos autores e seus textos). Ao analisar as estruturas, os temas, as formas de escrituras e etc, os teóricos estabelecem uma espécie de relação entre as produções escritas de uma época e as categorizam em “períodos” (que apresentam, em linhas gerais, características e tópicos semelhantes). Desta forma, podemos dizer que a história da literatura (seja ela em qual nível for: mundial, nacional, continental ou outra atribuição) se divide em “movimentos” que costumamos chamar de estilos de época ou escolas literárias. Cada um desses movimentos é estudado a partir de suas características estéticas (temas, formas de escrever, abordagens, etc). Isto configura uma “época” literária. Desde muito tempo, a necessidade de “categorizar” os textos existiu. Muitos desses estudos são importantes e utilizados até hoje. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 8 8 A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA Um exemplo claro desta afirmação acima é a divisão dos “Gêneros” literários: Todos os gêneros, porém, partem de uma classificação padrão, adotada desde a Antiguidade: narrativo ou épico; lírico e dramático. Deste tronco principal partem as ramificações menores, ou seja, os subgêneros. (http://www.infoescola.com/generos-literarios/) E quais são as características (gerais) de cada um dos 3 gêneros? Épico: narrativas de fatos e acontecimentos grandiosos. Há, de um modo geral, a figura de um grande herói. Na Antiguidade, eram comuns os textos que descreviam feitos de conquista (reais ou fictícias) e que eram “cantadas” para que todo o povo soubesse e tomasse conhecimento. Com o tempo, estes textos passaram a ser escritos (também narrando fatos, mas sem a necessidade obrigatória de ser sobre conquistas grandiosas). A vida social passou também a fazer parte desse gênero. Temos então: No gênero narrativo o autor estrutura uma história, quase sempre em prosa, que pode se inspirar em eventos reais ou ser apenas de natureza fictícia. Nessa modalidade as cenas se desenrolam de forma consecutiva no espaço e no tempo. Ele pode ser classificado nos subgêneros romance, conto, crônicas, novelas, entre outros. Esta modalidade se distingue, estruturalmente, por apresentar uma trama com início, um clímax e uma conclusão. (http://www.infoescola.com/generos-literarios/) Lírico: A palavra “lírico” tem sua origem no instrumento musical LIRA. E qual a razão de um gênero literário estar ligado a um instrumento? No período medieval, os poemas declamados eram acompanhados pelo som da lira. Assim, associavam-se os temas amorosos, os de cunho sentimental, pessoais, etc. (compostos em formas de versos) às questões subjetivas da alma. Com o passar do tempo, ainda que os poemas não fossem mais declamados ao som das liras, o gênero ficou conhecido.Em outras palavras, o gênero lírico tem por principais características a expressão da subjetividade (o “eu-lírico” se manifesta) através da versificação. Duas perguntas cabem aqui: a) Todo poema pertence ao gênero lírico? b) Só podemos classificar um texto como gênero lírico se ele estiver escrito em forma de poema? A resposta para as duas perguntas é a mesma: NÃO! Mas como assim??? Vejamos: Existem poemas que não são subjetivos, que não expressam sentimentos do personagem que está falando ou do autor que escreveu o poema. Como também, existem textos que não foram escritos na forma de versos (textos em prosa) que envolvem questões absolutamente emocionais e pontos de vistas particulares de quem escreve. http://www.infoescola.com/generos-literarios/ CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 9 9 A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA Assim sendo, podemos concluir que se nem todo poema revela subjetividade e há outras formas de textos (em prosa e não em verso) que são absolutamente sentimentais, logo, o gênero lírico não é só poema e os textos em prosa podem ser classificados como líricos. Tudo dependerá das características do texto analisado. É bem verdade que é mais fácil entender um texto lírico quando ele está escrito em versos. Tanto é assim que muitos manuais de estudos de literatura classificam os poemas líricos em algumas categorias, a saber: Soneto – De origem italiana, surgido no século XIII, é um poema composto por quatro estrofes, sendo as duas primeiras com quatro versos (quartetos) e as duas últimas com três (tercetos). Essa forma perpetuou-se por todos os estilos literários, atingindo a contemporaneidade. Elegia – Originado na Grécia, trata-se de um poema no qual a temática pauta-se pela morte ou outros acontecimentos tristes. Écloga – poema queretrata a vida bucólica, os acontecimentos ligados à vida pastoril. Idílio – Retratado sob a forma de diálogos, também traduz a temática campesina. Ode – É um poema originário da Grécia, exaltando valores nobres sob um tom entusiástico. Hino – Ode destinada à exaltação dos deuses da pátria. Dramático: mais uma vez iniciamos nossa exposição a partir da origem do termo. Quando lemos “dramático” o que nos vem à cabeça é a palavra “DRAMA” (que significa “ação”) e para que haja uma ação são necessários alguns elementos como: personagens (que desenvolvem as ações), em um determinado momento (tempo) e dentro de um determinado local (espaço). Um tipo de texto onde isto fica mais claro para que entendamos é a peça de teatro. Nela vemos os personagens que dialogam sobre suas vidas, seus feitos, suas angústias, seus dilemas. Tudo isto ocorre dentro de um período de tempo e em lugares determinados. Um texto de apoio para entendermos melhor o que é o gênero dramático: O drama tem a sua origem no Séc. V a.C., na Grécia, onde aparecem as relações entre os personagens, com seus conflitos, e sem a necessidade de interferência do narrador para que a ação dramática seja compreendida pelo público. Os personagens nesse período são autonarrativos em seus diálogos e atitudes. A poética aristotélica classifica o drama como categoria literária, ao lado do lírico e do épico. As tragédias gregas são exemplos de dramas que chegam, ainda hoje, com toda a sua dramaticidade, por sobreposições de conflitos. A maioria das tragédias gregas possui um narrador, porém o foco central do drama são os diálogos travados entre os personagens, e os problemas que precisam ser resolvidos no tempo e espaço definido pelo autor da obra, o dramaturgo. A dramaturgia é a arte ou ciência da construção teatral, envolvendo personagem(ns), o contexto da ação, e o conflito teatral, ou melhor, a ação dramática. O drama litúrgico foi o marco do teatro na Idade Média, período que a igreja não aceitava em suas propriedades, as artes de caráter profano. Este drama medieval era apresentado como parte dos serviços religiosos para divulgar a moralidade e os mistérios da religião dominante. Mas na Idade Média os menestréis também desenvolveram sua arte de múltiplas habilidades, onde a ação dramática era parte integrante dos espetáculos de rua. Com as novas descobertas, no Renascimento, o homem passa ser o centro de todas as coisas, e a monarquia começa a exigir um teatro que venha enaltecer a nobreza. Então surge o drama histórico, que pretende colocar em cena os heróis segundo as encomendas dos monarcas e da nobreza, com destaque àqueles bem sucedidos em guerras e batalhas. A exemplo deste drama temos “Ricardo III” e “Henrique V”, obras de Shakespeare. Na França do Séc. XVIII surgiu um novo gênero de teatro, o drama burguês, no qual se pretendia unir as linguagens próprias da tragédia e da comédia. A proposta mais conhecida nas teorias do teatro é a de Denis Diderot, que em seus discursos sobre o teatro daquele momento, dizia que seria necessária a produção de uma estética que expressasse a realidade contemporânea da época, a criação de personagens que produzissem um elo de identificação com o cidadão comum, para que desta forma a ação dramática fosse interessante para este espectador. Seu sonho seria colocar o drama burguês no lugar da tragédia resgatada no Renascimento. Do drama burguês surge o melodrama, que inicialmente buscava expressar elementos da tragédia, inserindo música e a própria ação dramática, muito similar a ópera por possuir esses elementos. O melodrama caracteriza-se pelo forte apelo emocional, e entra o Séc. XX, com maior ênfase no sofrimento, sentimentalismo e tudo que possibilita impressionar e comover o espectador. Hoje ainda é forte o uso do melodrama no palco e nas diferentes mídias de entretenimento. (http://www.infoescola.com/artes/drama/) CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 10 10 A LITERATURA E A HISTÓRIA DA LITERATURA Muitas informações ao mesmo tempo, não é mesmo? Que tal pararmos um pouco para descansar, tomar um copo d'água e retornarmos à aula? Baseado em tudo que vimos até o momento, responda: 1. Por que o estudo dos textos literários é importante? _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ 2. O que são “estilos de época” (quando nos referimos à literatura)? _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Cite um marco especial que pode definir o começo de um período literário? _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Quais é a divisão clássica dos gêneros literários? _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ 5. Cite as principais características de cada gênero literário. _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ Na aula anterior, tivemos uma visão geral sobre os gêneros literários. Agora, daremos prosseguimento ao assunto e aprofundaremos as questões que envolvem estilos de época. Estamos prontos? CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 11 11 OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) 1ª parte A partir das características gerais sobre os estilos de época, vamos estudar mais detalhadamente cada um deles: Para esta aula, tomaremos como referência a obra do Professor Domício Proença Filho “Estilos de época na literatura”, da editora Ática (1995). Sabemos que escrever não é uma “receita de bolo” pois, caso contrário, quando cada escritor, em uma determinada época da história, escrevesse, não haveria obras diferentes e originais. Tudo seria igual. E reconhecemos que não é bem assim. Há diferentes formas de abordar e relatar a realidade, ainda que possamos perceber determinadas características que se repetem. Aqui está a diferença entre ESTILO INDIVIDUAL (a liberdade criativa do escritor) e o ESTILO DE ÉPOCA (características similares e formas semelhantes de expressar a percepção da realidade) A seguir estão algumas citações de diversos autores que o professor PROENÇA FILHO transcreve em seu livro e que nos ajudarão entender o assunto: Há em todas as épocas o tipo ideal daquela época, o homem medieval, o homem renascentistas, o homem barroco, o homem classicista, o homem romântico; e esses homens seriam mudos e por consequência esquecidos se certos entre eles não tivessem o dom da expressão artística, realizando-se em obras que ficam. Há um estilo que empresta fisionomia própria e inconfundível a cada época e que se traduz em características comuns aos vários escritos representativos desta mesma época. A atividade de uma cultura que surge com tendências análogas nas manifestações artísticas, na religião, na psicologia, na sociologia, nas formas de polidez, nos costumes, nos vestuários, gestos, etc. No que diz respeito à literatura, o estilo de época só pode ser avaliado pelas contribuições do estilo, ambíguas em si mesmas, constituindo uma constelação que aparece em diferentes obras e autores da mesma era e aparece informada pelos mesmos princípios perceptíveis nas artes vizinhas. Agora que entendemos um pouco o que é um estilo de época, surge uma pergunta: Como se denominam esses Estilos dentro da história da literatura ocidental? Em um painel amplo temos: (fonte: http://www.coladaweb.com/literatura/estilos-de-epoca-literatura)CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 12 12 OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) Dentro da realidade brasileira (lembrando que a Europa já produzia textos escritos antes da descoberta do Brasil), teremos o seguinte resumo: Era colonial Era Nacional Fonte (tabelas): DE NICOLA, José. Painel da literatura em língua portuguesa: teoria e estilos de época do Brasil e Portugal. São Paulo: Scipione, 2006 CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 13 13 OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) Duas considerações devemos fazer aqui: 1.Não devemos tomar as datas apresentadas em cada período como algo rígido. Não aconteceu de um dia, em um determinado ano, um autor escrever um texto e dizer: “A partir de hoje está inaugurado o período literário 'tal'!” Lembremo-nos de que as datas são somente referências de um momento histórico, onde tanto o início do período como o seu final estão mesclados com o período anterior ou o posterior a ele. Por esta razão, muitas vezes, não é tão fácil determinar a que período literário pertence um texto, devido a uma confluência de características ou sob a influência da época anterior, ou já com marcos das novas tendências literárias posteriores. 2.Ao se estudar um período literário (o estilo de uma época) devemos ter sempre em mente que são as características históricas daquele tempo que influenciarão as características dos textos produzidos naqueles momentos. Desta maneira, será inevitável que para estudar literatura devamos ter uma visão histórica (fatos, acontecimentos, política, economia, etc.) do período analisado. Agora que já temos uma visão panorâmica do que venha a ser “estilo de época” na literatura, antes de passarmos a estudar cada um deles, vejamos alguns conceitos literários que serão importantes na hora de analisarmos os textos produzidos ao longo da história da literatura ocidental. Mantenha o foco! 2ª parte - A linguagem poética; - Os elementos da Narrativa. Quando mencionamos os dois tópicos acima, o que nos vem à cabeça? O que é linguagem poética? Quais são os elementos de uma narrativa? Em ambos os casos estamos nos referindo somente a textos escritos? Mais dúvidas lançadas aqui, não é mesmo? Mas fique calmo… Com tempo e leitura, vamos sanando as questões. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 14 14 OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) Ao falarmos em LINGUAGEM não queremos dizer especificamente texto escrito e sim COMUNICAÇÃO que pode ser feita através de palavras (escritas e orais) e também através de gestos, símbolos ou até mesmo silêncio. Não é verdade? Este é o primeiro ponto a se considerar. Muito bem. Prossigamos para entender, então, o que é LINGUAGEM POÉTICA. Quando usamos das palavras para relatar um fato, descrever uma situação ou tecer um comentário e só usamos a palavra com o objetivo de informar, temos um uso referencial da comunicação (ou seja, tudo que é dito – ou escrito – está empregado com referências denotativas). Agora, se para expressar uma visão de determinado acontecimento ou sentimento, prestamos um cuidado maior à escolha das palavras, à ordem em que elas deverão aparecer, que sinônimos empregar, que lugar do texto colocar frases e pontuações, estamos imprimindo uma função primordial da literatura que é a LINGUAGEM POÉTICA. Então, devemos entender que LINGUAGEM POÉTICA não se refere somente à poesia e sim a todo texto que demonstra um cuidado na seleção e na forma de apresentação do tema ou assunto. Em resumo: A linguagem exerce função poética quando valoriza o texto na sua elaboração, ou seja, quando o autor faz uso de combinação de palavras, figuras de linguagem (metáfora, antítese, hipérbole, aliteração, etc.), exploração dos sentidos e sentimentos, expressão do chamado eu-lírico, dentre outros. Assim, é mais comum em textos literários, especialmente nos poemas que enfatizam com mais frequência a subjetividade. No entanto, podemos encontrar esse tipo de função nos anúncios publicitários e na prosa, bem como aliada aos demais tipos de função, como a emotiva. É muito comum a utilização de palavras no seu sentido conotativo (figurado) ao invés do denotativo (do dicionário). (http://brasilescola.uol.com.br/redacao/funcao-poetica-linguagem.htm) Podemos seguir com a aula? Quando você lê um texto (seja um romance, uma história de ação, policial, suspense, etc.) que elementos é capaz de destacar que compõem a narração? Eis a resposta: O texto narrativo é baseado na ação que envolve personagens, num determinado tempo, dentro de um limite espacial. Seus elementos são: narrador, enredo, personagens, espaço e tempo. Dessa forma, o texto narrativo apresenta uma determinada estrutura que, mais ou menos, sempre está assim esquematizada: - Apresentação; - Complicação ou desenvolvimento; - Clímax; - Desfecho. Vamos analisar cada um destes elementos? CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 15 15 OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) Narrador Antes de mais nada, não confunda NARRADOR de um texto com o AUTOR. Ainda que alguém esteja escrevendo sobre um fato de sua própria vida, a “voz” que “fala” no texto é de um narrador e a autoria do texto é de seu escritor. Ué? Não entendi! Como assim? Se uma pessoa escreve um texto narrando coisas da vida dela, ela não é o narrador do texto? Claro que sim… Mas para que você possa entender melhor, lembre-se de que um texto, quando é escrito, quando as palavras são selecionadas para serem colocadas nos lugares certos, há uma visão pessoal dos acontecimentos. E isto permite a que os relatos possam não ser a expressão fiel da realidade (e sim a subjetividade de quem está contando o fato). Desta forma, teremos alguém que escrevendo (pessoa física) e uma voz que estará narrando as ações. Esta noção é muito importante para o momento de analisar uma obra literária. NÃO SE ESQUEÇA! Em resumo: O autor revela-se como uma pessoa de carne e osso, como é o caso de Machado de Assis, Eça de Queiroz, Clarice Lispector, como também pode ser qualquer outra pessoa, não apenas representante da arte literária em si. O narrador é quem se revela como uma personagem de total autonomia para dar rumo aos fatos que deseja relatar, pois o enredo somente se materializa porque ele existe. E quais são os tipos de narradores que podem existir? * Narrador-personagem – quem conta a ação está participando dela de algum modo, por esta razão, a narrativa, geralmente, está em 1ª pessoa. * Narrador-observador – o narrador só tem a função de contar algo. Ele está afastado da trama e não participa dos atos. Geralmente, a sua voz está em 3ª pessoa. Ele está do “lado de fora”. Só observa e conta. * Narrador-onisciente – Ter “onisciência” é saber de tudo. Isto inclui saber sobre a história e conhecer também até mesmo o que vai dentro dos pensamentos e sentimentos dos personagens. Personagens – São os agentes responsáveis pelos acontecimentos das narrativas. As ações são desencadeadas por personagens com descrição de tipos físicos, psicológicos ou outras caracterizações quaisquer que queira o autor. Podem ser protagonistas (heróis ou personagens principais); antagonistas e personagens secundários (que colaboram para a sustentação da trama). Tempo – é a duração em que se dão as ações. Podemos ter um tempo mais linear ou cronológico onde o desenrolar da trama se marca por horas, dias, meses, anos, séculos. Mas há também um tempo psicológico que não precisa, necessariamente seguir uma ordem natural, pois pode se referir a acontecimentos ligados a lembranças e emoções que nem sempre são claras para o narrador ou os personagens. Espaço Do mesmo modo como podemos ter dois tipos de tempo numa narrativa, também as ações podem ocorrer em diferentes tipos de espaços. Um espaço físico – oqual revela o ambiente onde se movem as personagens, podendo ser ao ar livre, em uma casa, um lugar criado, mas com descrição de ambiente, etc. e um espaço psicológico ligado muito mais às experiências subjetiva e emocionais vividas pelos personagens. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 16 16 OS ESTILOS DE ÉPOCA (OU LITERÁRIOS) Falta-nos, ainda, falar de um elemento muito importante para um texto: a própria forma de escrever, ou seja, o DISCURSO é a própria mensagem transmitida e sobre que forma. Podemos ter diferentes tipos de discursos também: - Direto – a fala das personagens é revelada na íntegra (tal e qual acontecem). Para isso, o uso dos diálogos é a tônica do texto (com base nos sinais de pontuação adequados, com os chamados verbos de elocução, tais como: dizer, afirmar, interrogar, retrucar, gritar, negar, entre outros. - Indireto – neste tipo de discurso é o narrador quem conta as ações através de suas próprias palavras. - Indireto livre – no discurso indireto livre, o narrador pode colocar de modo sutil o que vai na alma das personagens (seus sentimentos, pensamentos e emoções). Em alguns momentos desse discurso, o leitor pode chegar a se confundir sobre quem está falando, se a personagem ou é o narrador quem fala. Novamente tivemos nesta aula muita informação, não é? Vamos então a nossa pequena “parada” e descansemos um pouco antes de voltar para os exercícios. ara responder as questões, não hesite em reler a matéria. Isto é uma forma a mais de estudar (vamos usar muito da nossa lógica para responder algumas questões): 1. Por que não temos o período do Trovadorismo? _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ 2. Por que o Romantismo pode ser estudado na Era Nacional e o Barroco não? _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Por linguagem devemos entender somente textos escritos? Justifique sua resposta. _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Cite 3 elementos da narrativa que você conhece. _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ 5. Todo narrador é personagem da narrativa? Justifique sua resposta. _______________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________ CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 17 17 TROVADORISMO TROVADORISMO Para esta aula, vamos tomar como referência o texto do site http://www.coladaweb.com/ Ao que tudo indica, através de pesquisas históricas e textos recuperados ao longo da história, o TROVADORISMO parece haver surgido entre os séculos X e XI da Era Cristã e teve grande destaque e expansão na Península Ibérica entre os séculos XII e XIV. Por que este nome de TROVADORISMO? Os trovadores eram compositores de diversos tipos de cantigas (amorosas, religiosas ou satíricas) e eram muito respeitados na Idade Média, porque deles provinha a música que servia para acompanhar as festividades ou as reuniões solenes das cortes, assim como os banquetes ou as cerimônias de casamentos. Continuando a nossa aula… Do trovadorismo português poucas partituras sobreviveram até nós: o que temos, na maioria, são apenas as letras das cantigas coletadas em grandes livros manuscritos e ilustrados, chamados Cancioneiros. Chegaram até nós apenas três cancioneiros: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca Nacional. São aproximadamente 1680 cantigas de 153 trovadores. Relembrando: Idade Média: um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna. Estes “poetas” além do texto que escreviam, faziam suas composições ligadas à música, o que permitia que a declamação dos textos (as trovas ou cantigas) fossem acompanhadas por instrumentos musicais. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 18 18 TROVADORISMO A função dos trovadores nas cortes medievais era compor os textos (e as músicas). Executar a música (tocar e cantar) era função de grupos de artistas pagos para esse trabalho, liderados por menestréis, segréis (músicos) e jograis (cantores). Para ter acesso livre à vida na corte, o trovador também precisava de ser nobre, em geral um nobre de baixa linhagem — filho bastardo ou vassalo empobrecido ou desertor de lutas e batalhas. Com o transcorrer da Idade Média, foram surgindo trovadores de altas linhagens da nobreza — como os reis don Sancho (século XII), don Afonso X (século XIII) e don Dinis (séculos XIII-XIV) —, o que prova o prestígio e a influência da arte trovadoresca nas cortes ibéricas. Agora que entendemos o que é TROVADORISMO, em que período da história se encontra e quem são os autores desse estilo, vamos ver os textos literários da época. Cantigas lírico-amorosas; Cantigas satíricas; Cantigas religiosas. Vejamos cada uma delas CANTIGAS LÍRICO-AMOROSAS Quando vemos a referência a “lírico”, logo nos lembramos das aulas anteriores quando estudamos que a linguagem poética tem como uma de suas características a presença do eu-lírico. Lembra-se disso? Pois bem, se assim é, estes tipos de “cantigas” terão um forte amparo na questão dos sentimentos e da subjetividade. Por esta razão, as Cantigas lírico-amorosas serão de dois tipos: de amor e de amigo. CANTIGAS DE AMOR Refletiam sentimentos de um eu-lírico masculino, que reclama de sua coita (sofrimento por um amor rejeitado). A mulher que o faz sofrer é retratada sempre como superior, ingrata, cruel até, impiedosa. Mas, mesmo assim, o tratamento que dispensa a ela é respeitoso, na justa medida do amor cortês: não divulga o nome da amada, nem se excede na exposição emocional. Essa amada é chamada apenas de “senhor” ou “dona” – no galego-português (língua falada na época) não havia ainda a distinção de gênero em senhor/senhora; a pronúncia, aliás, era a mesma para o masculino e para o feminino (“o senhor”, “a senhor”). As cantigas de amor têm como modelo as cantigas provençais. Nos cantares de amor, por conta do sentimento platônico do compositor e do traçado idealizante da mulher amada, percebemos uma linguagem mais refinada, com influências provençais no vocabulário. Todavia, essa linguagem não se distinguia muito do falar geral galego-português. Na Idade Média, a linguagem da corte e a do povo eram muito próximas: a oralidade imperava mesmo entre os nobres. Não nos esqueçamos de que a leitura e a escrita eram restritas em geral à nobreza real e a altos cargos religiosos. Eram três os tipos de cantigas (ou cantares): As cortes de Provença, na França, eram um rico posto de passagem de caravanas de comércio e de peregrinação religiosa a Roma ou à Terra Santa. A moda trovadoresca parece ter sido criada em Provença e difundida a outras partes pelos viajantes. Você se lembra do significado do adjetivo platônico? É referência ao filósofo e matemático grego Platão. Popularmente, o termo passou a ser utilizado com o significado de algo ideal ou casto, sem interesses materiais. Por exemplo, um amor platônico é aquele que fica apenas pelo plano espiritual, sem contato carnal ou sexual. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 19 19 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? A situação de vítimado amor em que se coloca o trovador e o respeito servil à mulher amada refletem o contexto das relações suserano-vassalo próprias das cortes medievais. É o que chamamos de vassalagem amorosa. Como vimos até aqui, como é o homem que fala do seu sentimento pela mulher. Mas quem é esta mulher amada? A dualidade com que é apresentada a figura feminina nas cantigas de amor reflete uma dualidade típica da época. Por um lado, a mulher é vista como um ser estranho, cruel, próximo do sobrenatural, do demoníaco — a bruxa: afinal, ela expele sangue, dá à luz, muda de humor facilmente… Por outro lado, a mulher traz parentesco com o divino: sua figura maternal, sensível, aproxima- se da imagem de Nossa Senhora. Essa imagem santa da mulher foi disseminada pela Igreja Católica e assimilada pelos códigos do amor cortês. MAS ATENÇÃO: Temo-nos referido à figura feminina como “amada”, mas não devemos esquecer que um trovador jamais empregaria essa palavra. Na época, “amada” era a pessoa com quem já se tinha travado um contato mais íntimo (a amante), fato que o trovador não podia de modo algum mencionar, segundo os códigos do amor cortês. Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? Se eu pudesse desamar a quen me sempre desamou, e pudess’algum mal buscar a quen me sempre mal buscou! Assi me vingaria eu, se eu pudesse coita dar a quen me sempre coita deu. Mais non poss’eu enganar meu coraçon, que m’enganou, por quanto me fez desejar a quen me nunca desejou. E por esto non dórmio eu, se eu pudesse coita dar a quen me sempre coita deu. Pero da Ponte, Portugal (séc XIII) Vocabulário: coita: sofrimento de amor desemparar: desamparar dórmio: durmo Vejamos agora o outro tipo de cantiga lírico-amorosa: CANTIGAS DE AMIGO Não podemos dizer que esse tipo de cantiga é o oposto da de amor, pois, como veremos mais adiante, eram também compostas por homens, mas as cantigas de amigo dão lugar à exposição do sentimento amoroso de um eu-lírico feminino. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 20 20 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? Os textos mostram uma moça do povo que revela suas saudades do amado ausente. Aqui, emprega-se a palavra “amado” com frequência, pois a intimidade amorosa existe de fato, não há idealizações. O que ocorre é que o amado está distante — a trabalho ou em luta ou no mar. Muitas vezes, esse amado era um homem da corte, que buscava experiência sexual com moças menos “difíceis” que as vigiadas donzelas da nobreza. Não devemos estranhar o termo “amigo”. Na época, era sinônimo de “amante” ou “namorado”, quando aplicado à relação entre homem e mulher. Resquício desse significado temos hoje na expressão popular “amigados”, que se refere a um casal que vive junto sem confirmação legal ou religiosa. Numa linguagem bem simples e repetitiva, com elementos próprios do universo popular ibérico, com versos curtos e refrões fáceis de memorizar, a moça saudosa conversa com a mãe, com as irmãs, com as amigas, com o mar, com os seres da natureza, com Deus, e vai com eles compartilhando seus anseios de rever o namorado. É de se notar a ausência de interlocutores masculinos — o que revela a itinerância dos homens do povo, na época, por conta das obrigações militares, de trabalho em outras terras ou no mar. Embora o eu-lírico seja feminino, o autor das cantigas de amigo é o trovador. Em geral, quem cantava essas cantigas eram homens mesmo, e também as jogralesas (esposas dos jograis) e as soldadeiras (cantoras-dançarinas). Não há notícia de que tenha havido trovadoras em Portugal, como houve em Provença (a Condessa de Die, do século XII). Vamos a um exemplo: Ondas do mar de Vigo Se vistes meu amigo E ai Deus se verra cedo. Ondas do mar levado Se vistes meu amado E ai Deus se verra cedo. Se vistes meu amigo O por que eu sospiro E ai Deus se verra cedo. Se vistes meu amado O por que ei gran cuidado E ai Deus se verra cedo. Matim Codax (sec XIII-XVI) Vocabulário Vigo: cidade litorânea da Galícia, destino de peregrinações religiosas verrá: voltará, virá levado: agitado o por que: aquele por quemei cuidado: por quem tenho carinho, atenção Aqui cabe uma pergunta: Se os temas falam de uma relação até mesmo física e trata de um sentimento amoroso, por que chama “amigo” e não “amante”? CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 21 21 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? Passemos para outro tipo de Cantiga – as Satíricas. CANTIGAS SATÍRICAS Não só de amor vivia a Idade Média. Também, como em qualquer sociedade, ha os momentos de relaxar e os de extravasar as frustrações e as pressões sociais vividas. Lembrando que sátira é uma técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema (indivíduos, organizações, estados). Eram cantigas para situações mais descontraídas. Propunham ridicularizar os costumes sociais e as pessoas mal-queridas das cortes a que o trovador servia. Eram de dois tipos: de maldizer e de escárnio. CANTIGAS DE MALDIZER Eram composições onde se viam críticas diretas, muitas vezes mencionando o nome da pessoa criticada ou alguma característica tão evidente que as pessoas logo sabiam sobre quem se estava falando. Por vezes, grosseiras, essas cantigas empregavam até palavrões e insultos. Vamos a um exemplo: Don Foão, que eu sei que á preço de livão, vedes que fez ena guerra (d’aquesto soõ certão): sol que viu os genetes, come boi que fer tarvão, sacudiu-s’e revolveu-se, alçou rafe foi sa via a Portugal. Don Foão, que eu sei que á preço de ligeiro, vedes que fez ena guerra (d’aquesto son verdadeiro): sol que viu os genetes, come bezerro tenreiro, sacudiu-s’e revolveu-se, alçou rab’e foisa via a Portugal. Don Foão, que eu sei que á prez de liveldade, vedes que fez ena guerra (sabede-o por verdade): sol que viu os genetes, come can que sal de grade, CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 22 22 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? sacudiu-s’e revolveu-se, alçou rab’e foi sa via a Portugal. D. Afonso Mendes de Besteiros (sec XIII) Vocabulário: Foão: fulano (embora não mencione o nome, os ouvintes certamente sabiam de quem se tratava a cantiga, por conta do gesto de covardia relatada nela; trata-se de João Pires de Vasconcelos, que ficou famoso na corte por fugir do campo de batalha, na guerra de Granada) preço de livão: reputação de pessoa leviana soõ certão: estou certo sol: assim que genetes: ginetes, cavalos come boi que fer tarvão: como boi que vespa ferra (como boi ferrado por vespa) alçou rab’e foi sa via: levantou o rabo e foi embora tenreiro: novo (apelido de João Pires de Vasconcelos) prez de liveldade: mérito de ligeireza cam que sai de grade: cão que sai da gaiola CANTIGAS DE ESCÁRNIO Eram textos onde as críticas eram mais indireta. Usavam mais a ironia. Eram mais sugestivas. Não se revelava o nome do criticado, nem se deixava clara a crítica. Como eram criadas para provocar suspense entre os ouvintes, essas cantigas prendiam- se bastante a situações cotidianas específicas de uma corte, o que dificulta para os leitores atuais detectar qual a real intenção do escárnio. Veja uma cantiga de Pero Garcia Burgalês (século XIII) em uma linguagem mais próxima de nós: Embora não me queirais, donzela, já que vos amo, vou dar-vos um conselho; como vós não sabeis vos entoucar, fazei quanto vos direi: buscai quem vos entouque melhor e vos corrija, pelo meu amor, as formas do corpo e o cós que tendes. E se isso fizerdes, tereis, assim me valha Nosso Senhor, beleza e um corpo elegante, e sereis muito formosa e de boa cor; se cada vez que essa touca torcer e cada vez que tiverdes quem voscorrija, então serás muito bela. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 23 23 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? Ai, minha senhora, por Deus em que credes, já que a outro ser não ouso pedir por vós; como sempre trazeis a touca mal posta, crede no que vou aconselhar: em vez de alguém a corrigir por vós, que essa pessoa corrija as formas de vosso corpo e a maneira como falais, e se não, nem faleis. Observe que na cantiga acima o trovador chama a atenção de uma donzela sobre o mau gosto que ela tem em se “entoucar”, que quer dizer “pentear-se”. Porém, “entoucar” também podia significar “colocar touca [de dormir]”. Ficamos, então, em dúvida: será que o trovador não estaria satirizando uma mulher — ironicamente chamada de “donzela” — com a qual ele dormiu? Veja a insistência em relação aos dotes físicos dela, que precisam ser “corrigidos”, melhorados, assim como sua fala — ao final, ele pede que a moça corrija a fala ou então que se cale! Falta-nos somente mais um tipo de Cantiga: CANTIGAS RELIGIOSAS Como podemos ver pelo próprio nome, essas cantigas apresentavam uma temática religiosa. Eram de cunho devocional (exaltação à imagem de um santo) ou hagiográfico (narrativas dos feitos milagrosos de um santo). O alvo mais frequente dos cantares trovadorescos religiosos era Santa Maria, a mãe de Cristo. As Novelas De Cavalaria São composições originárias das “Canções de gesta” francesas (narrativas de assuntos guerreiros), onde havia sempre a presença de herois cavaleiros que passavam por situações perigosíssimas para defender o bem e vencer o mal. Sobressai nas novelas a presença do cavaleiro medieval, concebido segundo os padrões da Igreja Católica (por quem luta): O cavaleiro medieval é casto, fiel, dedicado, disposto a qualquer sacrifício para defender a honra cristã. Esta concepção de cavaleiro medieval opunha-se à do cavaleiro da corte, geralmente sedutor e envolvido em amores ilícitos. A origem do cavaleiro-heroi das novelas é feudal e nos remete às Cruzadas: ele está diretamente envolvido na luta em defesa da Europa Ocidental contra sarracenos, eslavos, magiares e dinamarqueses, inimigos da cristandade. As novelas de cavalaria estão divididas em três ciclos e se classificam pelo tipo de herói que apresentam. Ciclo Clássico (novelas que narram a guerra de Tróia, as aventuras de Alexandre, o grande). Apresentam heróis da mitologia greco-romana; Ciclo Arturiano ou Bretão (A Demanda do Santo Graal). Apresentam o Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda; Ciclo Carolíngeo (a história de Carlos Magno).Apresentam o rei Carlos Magno e os doze pares de França. Geralmente, as novelas de cavalaria não apresentam um autor específico. Sã textos que circulavam pela Europa como verdadeiras propagandas das Cruzadas, e tinham o objetivo de estimular a fé cristã e angariar para este movimento o apoio das populações. As novelas Amandis de Gaula e A Demanda do Santo Graal foram as histórias mais populares que circulavam entre os portugueses. Ufa! Terminamos… Espere… não é bem assim!!!! Nem só de poesia viveu o Trovadorismo. Também floresceu um tipo de prosa ficcional, as novelas de cavalaria. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 24 24 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? As novelas eram tidas em alto apreço e foi muito grande a sua influência sobre os hábitos e os costumes da população da época. Tomando como base uma cantiga do trovador galego Airas Nunes, de Santiago (século XIII), e o poema Confessor Medieval, de Cecília Meireles (1901-1964), responda as questões 1 e 2. Cantiga Bailemos nós já todas três, ai amigas, So aquestas avelaneiras frolidas, (frolidas = floridas) E quem for velida, como nós, velidas, (velida = formosa) Se amigo amar, So aquestas avelaneiras frolidas (aquestas = estas) Verrá bailar. (verrá = virá) Bailemos nós já todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs) So aqueste ramo destas avelanas, (aqueste = este) E quem for louçana, como nós, louçanas, (louçana = formosa) Se amigo amar, So aqueste ramo destas avelanas (avelanas = avelaneiras) Verrá bailar. Por Deus, ai amigas, mentr’al non fazemos, (mentr’al = enquanto outras coisas) So aqueste ramo frolido bailemos, E quem bem parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto) Se amigo amar, So aqueste ramo so lo que bailemos Verrá bailar. (Airas Nunes, de Santiago. In: SPINA, Segismundo. Presença da Literatura Portuguesa - I. Era Medieval. 2ª ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966.) O parágrafo acima nos faz lembrar nossa aula sobre estilos de época. Lembra-se de que falamos da importância da literatura para entender os modos e costumes de um período da história da humanidade? É isto que está dito sobre a influência das novelas naquelas sociedades. E dá-lhe informações, não é? Vamos a já conhecida pausa antes dos exercícios. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 25 25 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? Confessor Medieval (1960) Irias à bailia com teu amigo, Se ele não te dera saia de sirgo? (sirgo = seda) Se te dera apenas um anel de vidro Irias com ele por sombra e perigo? Irias à bailia sem teu amigo, Se ele não pudesse ir bailar contigo? Irias com ele se te houvessem dito Que o amigo que amavas é teu inimigo? Sem a flor no peito, sem saia de sirgo, Irias sem ele, e sem anel de vidro? Irias à bailia, já sem teu amigo, E sem nenhum suspiro? (Cecília Meireles. Poesias completas de Cecília Meireles - v. 8. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.) As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois gêneros na poesia trovadoresca: as “cantigas de amor”, em que o eu-poemático (eu-lírico) representa a figura do namorado (o “amigo”), e as “cantigas de amigo”, em que o eu-poemático representa a figura da mulher amada (a “amiga”) falando de seu amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-se a ele ou dialogando com ele, com outras “amigas” ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a irmã, etc.). De posse desta informação, responda: 1. Classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a justificativa dessa resposta. _____________________________________________________________________________ 2. Identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu-poemático do poema de Cecília Meireles representa. _____________________________________________________________________________ CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 26 26 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 3. A partir da leitura dos textos I e II abaixo, assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo. _____________________________________________________________________________ Texto I Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai Deus, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! E ai Deus, se verrá cedo! (Martim Codax) Obs.: verrá = virá levado = agitado Texto II 1. Me sinto com a cara no chão, mas a verdade precisa ser dita ao 2. menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava a admirável forma lírica da 3. canção paralelística (...). 4. O “Cantar deamor” foi fruto de meses de leitura dos cancioneiros. 5. Li tanto e tão seguidamente aquelas deliciosas cantigas, que fiquei 6. com a cabeça cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”; 7. sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias a San Servando. 8. O único jeito de me livrar da obsessão era fazer uma cantiga. (Manuel Bandeira) (A) Um dos temas mais explorados por esse estilo de época é a exaltação do amor sensual entre nobres e mulheres camponesas. (B) Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura antropocêntrica. (C) Devido ao grande prestígio que teve durante toda a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da Renascença, época em que alcançou níveis estéticos insuperáveis. (D) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a função de produzir efeito musical, como também a função de facilitar a memorização, já que as composições eram transmitidas oralmente. (E) Tanto no plano temático como no plano expressivo, esse estilo de época absorveu a influência dos padrões estéticos greco-romanos. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 27 27 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? 4. Ainda sobre o TEXTO I acima, assinale a afirmativa correta: (A) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta a Deus seu sofrimento amoroso. (B) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino dirige-se a Deus para lamentar a morte do ser amado. (C) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta às ondas do mar sua angústia pela perda do amigo em trágico naufrágio. (D) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculino dirige-se às ondas do mar para expressar sua solidão. (E) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino dirige-se às ondas do mar para expressar sua ansiedade com relação à volta do amado. 5. Leia o texto abaixo para responder à questão: Endechas à escrava Bárbara Aquela cativa, que me tem cativo porque nela vivo, já não quer que viva. Eu nunca vi rosa em suaves molhos, que para meus olhos fosse mais formosa. Uma graça viva, que neles lhe mora, para ser senhora de quem é cativa. Pretos os cabelos, onde o povo vão perde opinião que os louros são belos. Pretidão de Amor, tão doce a figura, que a neve lhe jura que trocara a cor. Leda mansidão que o siso acompanha; bem parece estranha, mas bárbara não. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 28 28 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? Vocabulário: Endechas: Versos em redondilha menor (cinco sílabas). Molhos: feixes. Leda: risonha. Vão: fútil. Em sua obra, Camões continua a tradição da conduta amorosa das cantigas medievais. Nela, a mulher amada era considerada: (A) responsável pelas contradições e insatisfações do homem. (B) símbolo do amor erótico. (C) incapaz de levar o homem a atingir o Bem. (D) um ser impuro e prejudicial ao homem. (E) uma pessoa superior, fonte de virtudes. 6. Senhor feudal Se Pedro Segundo Vier aqui Com história Eu boto ele na cadeia. (Oswald de Andrade) O título do poema, apesar de moderno, remete o leitor à Idade Média. Nele, assim como nas cantigas de amor, a ideia de poder retoma o conceito de: (A) fé religiosa. (B) relação de vassalagem. (C) idealização do amor. (D) saudade de um ente distante. (E) igualdade entre as pessoas. 7. Leia os 5 textos a seguir para responder à questão: Texto I Ao longo do sereno Tejo, suave e brando, Num vale de altas árvores sombrio, Estava o triste Almeno CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 29 29 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? Suspiros espalhando Ao vento, e doces lágrimas ao rio. (Luís de Camões, Ao longo do sereno.) Texto II Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas, so aqueste ramo destas auelanas e quen for louçana, como nós, louçanas, se amigo amar, so aqueste ramo destas auelanas uerrá baylar. (Aires Nunes. In Nunes, J. J., Crestomatia arcaica.) Texto III Tão cedo passa tudo quanto passa! morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada. (Fernando Pessoa, Obra poética.) Texto IV Os privilégios que os Reis Não podem dar, pode Amor, Que faz qualquer amador Livre das humanas leis. mortes e guerras cruéis, Ferro, frio, fogo e neve, Tudo sofre quem o serve. (Luís de Camões, Obra completa.) Texto V As minhas grandes saudades São do que nunca enlacei. Ai, como eu tenho saudades CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 30 30 Já demos uma panorâmica na teoria. Vamos ver um texto como exemplo? Dos sonhos que não sonhei!…) (Mário de Sá Carneiro, Poesias.) A alternativa que indica texto que faz parte da poesia medieval da fase trovadoresca é: (A) I (B) II (C) III (D) IV (E) V CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 31 31 HUMANISMO HUMANISMO Um período literário não acaba em um dia e no dia seguinte começa outro. Há um momento de transição que deve ser percebido. Surge a primeira reflexão que gostaríamos que você pensasse tomando como base as aulas anteriores: Quem (ou o que) nos indica essas mudanças? Em outras palavras, o que nos ajuda a entender essas transições e a instauração de um novo período? A resposta, obviamente, é a HISTÓRIA. Ao entender os processos pelos quais a humanidade vai passando, ao perceber o caminho que as relações sociais vão tomando e ao notar as tendências que vão surgindo (hábitos, política, relações econômicas, etc.) podemos “desenhar” as características das sociedades e perceber os reflexos dessas mudanças na literatura. O humanismo foi uma época de transição entre a Idade Média e o Renascimento. Como o próprio nome já diz, o ser humano passou a ser valorizado. Foi nessa época que surgiu uma nova classe social: a burguesia. Os burgueses não eram nem servos e nem comerciantes. Com o aparecimento desta nova classe social foram aparecendo as cidades e muitos homens que moravam no campo se mudaram para morar nestas cidades, como consequência o regime feudal de servidão desapareceu. Foram criadas novas leis e o poder parou nas mãos daqueles que, apesar de não serem nobres, eram ricos. O “status” econômico passou a ser muito valorizado, muito mais do que o título de nobreza. As Grandes Navegações trouxeram ao homem confiança de sua capacidade e vontade de conhecer e descobrir várias coisas. A religião começou a decair (mas não desapareceu) e o teocentrismo deu lugar ao antropocentrismo, ou seja, o homem passou a ser o centro de tudo e não mais Deus. Os artistas começaram a dar mais valor às emoções humanas. O próximo período da história é um marco importantíssimo para a humanidade. Passamos do que pejorativamente era chamada “Era das trevas” para uma fase “de luz” na história. O foco dessa “iluminação” passa a ser o próprio HOMEM. Descobre-se que é através da própria inteligência humana que tudo se movimenta. Com esta valorização do humano, do racional, da criatividade, etc. surge uma nova etapa: a Idade Moderna. Renasce assim a credibilidade no homem. Estamos falando do Renascimento. E quais são os feitos humanos que colaboram para esta “entrada” em uma nova Era, a renascentista? O que vemos aqui é um momento onde o ser humano procura se valorizar mais, ou seja: o Teocentrismo (Deus no centro de tudo) e o domínio da Igreja Católica são substituídos pelo Antropocentrismo (o homem no centro de tudo). É uma época de grandes avanços científicos (destaque para Galileu Galilei, que provou que o sol era o centro do Sistema – teoriaheliocêntrica) e, assim, o homem passa a ser mais racional (Racionalismo). Já que a valorização do homem é o tópico central do período, a literatura espelhará isto. Os textos, antes mais voltados para as questões de entretenimento da corte, passa a ser mais valorizada no sentido de mais elaboração, mais cuidado formal. Afinal, o gênio (a inteligência) humano é capaz de burilar as palavras e buscar trabalhos mais minuciosos. Saímos das “cantigas” para a poesia “palaciana”. Ao ganhar mais credibilidade como centro dos acontecimentos, o homem se permitiu ousar mais nas artes e nas ciências. Prova disto está nos novos intentos de busca de soluções para seus problemas comerciais. Evitando assim depender mais dos comerciantes que abusivamente cobravam por mercadorias que traziam de longe. Vemos surgir um investimento grande nas navegações. Para que possamos fixar mais ainda o que é este período, vejamos o resumo a seguir: Recapitulemos: Na Idade Média, o Trovadorismo tinha por características as “cantigas” declamadas e acompanhadas por instrumentos musicais. Vimos os diversos tipos de composições e suas peculiaridades. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 32 32 HUMANISMO Veja o vídeo sobre um “resumão” sobre essa época. https://www.youtube.com/watch?v=jSbyeCXcl38 Para que você tenha uma ideia de como o HUMANISMO é importante para a história da literatura, pois marca uma transição capital para o pensamento humano entre as produções TROVADORESCAS (Idade Média) e o CLASSICISMO (Renascimento), observe uma questão que já caiu na seleção para ingresso de uma Universidade como a PUC/SP. Leia a questão, tente respondê-la e só aí então, vá à nota de pé de página para verificar a resposta certa. Considerando a peça "Auto da Barca do Inferno" como um todo, indique a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino.1 (A) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar. (B) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóricas, não estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e o Mal. (C) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o perfil que apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os instrumentos de sua culpa. (D) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da época, porém poupa, por questões ideológicas e políticas, a Igreja e a Nobreza. (E) Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas do teatro clássico. Até aqui a teoria. Agora, partamos para a prática. Veja alguns exemplos de textos pertencentes ao HUMANISMO. Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém. Tão tristes, tão saudosos, tão doentes da partida, tão cansados, tão chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tão tristes os tristes, tão fora d’esperar bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém. João Ruiz de Castelo Branco viveu na segunda metade do século XV. É um dos inúmeros poetas do Cancioneiro Geral. A “Cantiga sua partindo-se” é, merecidamente, um dos mais conhecidos poemas do período humanista. A delicadeza expressiva dessa pequena cantiga bastou para perpetuar o nome de seu autor. Você tem 8 minutinhos para fecharmos este assunto sobre HUMANISMO? CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 33 33 HUMANISMO A DRAMATURGIA também foi importante no HUMANISMO. Já comentamos anteriormente sobre o escritor GIL VICENTE. Vejamos as características do seu teatro. Considerado o criador do teatro português pela apresentação, em 1502 de seu Monologo do Vaqueiro (também conhecido como Auto da Visitação). Sobre sua vida pouco se sabe. Supõe-se que tenha nascido por vota de 1465 e morrido cerca de 1536. Se nada se sabe a respeito de sua origem, podemos afirmar que viveu a vida palaciana como funcionário da corte e que possuía bons conhecimentos da língua portuguesa, bem como do castelhano, do latim e de assuntos teológicos. O teatro vicentino é basicamente caracterizado pela sátira, criticando o comportamento de todas as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo. Apesar de sua religiosidade, seu “tipo” mais comumente satirizado é o frade que se entrega a amores proibidos (chegando a enlouquecer de amor), à ganância (na venda de indulgências), ao exagerado misticismo, ao mundanismo, à depravação dos costumes. Criticou desde o frade de aldeia até o alto clero dos bispos, cardeais e mesmo o papa. A baixa nobreza representada pelo fidalgo decadente e pelo escudeiro é outra faixa social criticada pelo autor. Também satiriza o povo que abandona o campo em direção à cidade ou mesmo aqueles que sempre viveram na cidade, mas que, em ambos os casos, se deixam corromper pela perspectiva do lucro fácil. Riquíssima é a galeria de tipos humanos que formam o teatro vicentino: o velho apaixonado que se deixa roubar; a alcoviteira; a velha beata; o sapateiro que rouba o povo; o escudeiro fanfarrão; o médico incompetente; o judeu ganancioso; o fidalgo decadente; a mulher adultera; o padre corrupto. Gil Vicente não tem a preocupação de fixar tipos psicológicos, e sim a de fixar tipos sociais. Observe que a maior parte dos personagens do teatro vicentino não tem nome de batismo: os personagens são normalmente designados pela profissão ou pelo tipo humano que representam. Quanto à forma, a utilização de cenários e montagens, o teatro de Gil Vicente é extremamente simples. Pouco obedece às três unidades do teatro clássico – ação, lugar e tempo. Seu texto apresenta uma estrutura poética, com o predomínio da redondilha maior (sete sílabas), havendo mesmo várias cantigas no corpo de suas peças. Bem… chegamos ao final de nossa aula. Como você pode notar HÁ MUITO para se ler. Lembre-se que aqui damos as informações principais sobre cada tema, mas você DEVE buscar ler mais sobre os assuntos, estudar mais textos literários e se preparar para as questões da prova. Feitas essas observações, damos uma dica: Descanse um pouco antes partir para os exercícios. Baseado em nossa aula, atenda os pedidos: 1. Tomando como referência o período do Renascimento, coloque V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas. 1. ( ) As “trovas” ganham caráter mais sarcásticos. 2. ( ) Vemos surgir a valorização do antropocentrismo. 3. ( ) Galileu Galilei e a sua teocêntrica tem lugar na história. 4. ( ) A burguesia e a nobreza, classes sociais que despontam no final da Idade Média, passam a dividir o poderio com a Igreja. 5. ( ) As grandes navegações caracterizam este período. (A) F – F – V – V – F CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 34 34 HUMANISMO (B) F – V – V – V – V (C) V – V – F – F – F (D) V – F – F – V – F (E) F – V – V – F – V 2. Ao estudarmos o HUMANISMO, vimos diversas de suas características histórico-culturais. Das afirmações abaixo, qual a que NÃO está correta em relação ao período: (A) estendeu do final do século XVI ao início do século XVII (séc XV ao XVI) (B) foi notória a expansão da burguesia, classe que não pertencia nem à nobreza e nem à classe dos servos. (C) a posição econômica se tornava privilegiada em detrimento à simples títulos de nobreza. (D) a crise do feudalismo também se acentuou no plano espiritual, visto que vários outros movimentos chegavam para contrariar os princípios ligados à doutrina cristã. (E) tiveram início as grandes navegações com vistas à expansão marítima e comercial. 3. Sobre o Humanismo, identifique a alternativa falsa: (A) Em sentido amplo, designa a atitude de valorização dohomem, de seus atributos e realizações. (B) Configura-se na máxima de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”. (C) Rejeita a noção do homem regido por leis sobrenaturais e opõe-se ao misticismo. (D) Designa tanto uma atitude filosófica intemporal quanto um período especifico da evolução da cultura ocidental. (E) Fundamenta-se na noção bíblica de que o homem é pó e ao pó retornará, e de que só a transcendência liberta o homem de seu insignificância terrena. 4. Ainda sobre o Humanismo, assinale a afirmação incorreta: (A) Associa-se à noção de antropocentrismo e representou a base filosófica e cultural do Renascimento. (B) Teve como centro irradiador a Itália e como precursor Dante Alighieri, Boccaccio e Petrarca. (C) Denomina-se também Pré-Renascentismo, ou Quatrocentismo, e corresponde ao século XV. (D) Representa o apogeu da cultura provençal que se irradia da França para os demais países, por meio dos trovadores e jograis. (E) Retorna os clássicos da Antiguidade greco-latina como modelos de Verdade, Beleza e Perfeição. 5. Sobre a poesia palaciana, assinale a alternativa falsa: (A) É mais espontânea que a poesia trovadoresca, pela superação da influência provençal, pela ausência de normas para a composição poética e pelo retorno á medida velha. (B) A poesia, que no trovadorismo era canto, separa-se da música, passando a ser fala. Destina-se à leitura individual ou à recitação, sem o apoio de instrumentos musicais. (C) A diversidade métrica da poesia trovadoresca foi praticamente reduzida a duas medidas: os versos de 7 sílabas métricas (redondilhas menores). (D) A utilização sistemática dos versos redondilhas denominou-se medida velha, por oposição à medida nova, denominação que recebemos os versos decassílabos, trazidos da Itália por Sá de Miranda, em 1527. (E) A poesia palaciana foi compilada em 1516, por Garcia de Resende, no Cancioneiro Geral, antologia que reúne 880 composições, de 286 autores, dos quais 29 escreviam em castelhano. Abrange a produção poética dos reinados de D. Afonso V (1438-1481), de D. João II (1481-1495) e de D. Manuel I – O Venturoso (1495-1521). CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 35 35 HUMANISMO Relembrando: Veja uma linha temporal das eras da história do mundo para se lembrar das datas que marcam esses eventos. Agora vamos entrar no próximo período literário, depois de passadas as modificações sociais (o surgimento da burguesia, a busca pela valorização do homem, as novas descobertas, etc.) que foram impressas nas expressões artísticas do HUMANISMO. Desta maneira, nossa próxima aula, já dento da Idade Moderna, vamos estudar: CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 36 36 CLASSICISMO CLASSICISMO (O nascimento de Vênus – Sandro Botticelli 1486) A valorização do homem e as novas descobertas mudaram a visão de mundo. As novas relações sociais, a busca da perfeição e do conceito de beleza e estética mudaram os destinos da humanidade. Isto vimos ter início no HUMANISMO e veremos ter prosseguimento ao longo do século XV e XVI. Estamos em pleno “Renascimento” dos valores humanos e isto será expresso nas artes de um modo geral. Estamos vivendo o período do CLASSICISMO. Entendamos melhor o contexto histórico do Classicismo para depois podermos analisar as obras literárias daquele período. Depois de ler este resumo acima, começamos com as perguntas: Classismo e Renascimento são a mesma coisa? Quais são as características, então, do Classicismo? De onde vem a inspiração artística para as artes? Quais os principais artistas do período? Vamos com calma e por partes: Para podermos entender o que representou o Classicismo, devemos estudar o que caracterizou o Renascimento como época histórica da humanidade. Entre os anos de 1400 e 1650, a Europa viu surgir um movimento artístico que acabou sendo o agente transformador de diversas ideologias do homem da época, afetando áreas como a fé, a política e a filosofia. Este movimento é conhecido nos dias de hoje como Renascimento. Tal nome é dado pelo fato de tal escola buscar uma verdadeira retomada dos ideais e características artísticas da antiga Grécia. O classicismo é considerado o retrato vivo do Renascimento, que surgiu principalmente por conta do intercâmbio cultural que começou a acontecer entre o Oriente e o Ocidente, nessa época. A urbanização e o aperfeiçoamento da imprensa também foram fatores importantes para que a corrente se desenvolvesse. (http://www.zun.com.br/classicismo-contexto-historico-e-caracteristicas/) CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 37 37 CLASSICISMO Renascimento, Renascença ou Renascentismo são os termos usados para identificar o período da História da Europa aproximadamente entre fins do século XIV e o fim do século XVI. Este período foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana. Apesar de tais transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus efeitos nas artes, na filosofia e nas ciências. Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças do período em direção a um ideal humanista e naturalista. Como disse o escritor Jacob Burckhardt, foi a época de "descoberta do mundo e do homem". O Renascimento cultural manifestou-se primeiro na região italiana da Toscana, tendo como principais centros as cidades de Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto da península Itálica e depois para praticamente todos os países da Europa Ocidental, impulsionado pelo desenvolvimento da imprensa por Gutenberg. A Itália permaneceu sempre como o local onde o movimento apresentou maior expressão, porém manifestações renascentistas de grande importância também ocorreram na Inglaterra, Alemanha, Países Baixos, Portugal e Espanha. Costumamos dizer que no Renascimento a ideia de mundo se modificou: Neste período foram inventados diversos instrumentos científicos, e foram descobertas diversas leis naturais e objetos físicos antes desconhecidos; a própria face do planeta se modificou nos mapas depois dos descobrimentos das grandes navegações, levando consigo a física, a matemática, a medicina, a astronomia, a filosofia, a engenharia, a filologia e vários outros ramos do saber a um nível de complexidade, eficiência e exatidão sem precedentes, cada qual contribuindo para um crescimento exponencial do conhecimento total, o que levou a se conceber a história da humanidade como uma expansão contínua e sempre para melhor. Talvez seja esse espírito de confiança na vida e no homem o que mais liga o Renascimento à Antiguidade Clássica e o que melhor define a essência do seu legado. Todas as disciplinas são agora ressuscitadas, as línguas estabelecidas: Grego, sem o conhecimento do qual é uma vergonha alguém chamar-se erudito, Hebraico, Caldeu, Latim[...] O mundo inteiro está cheio de acadêmicos, pedagogos altamente cultivados, bibliotecas muito ricas, de tal modo que me parece que nem nos tempos de Platão, de Cícero ou Papiniano, o estudo era tão confortável como o que se vê a nossa volta. [...] Eu vejo que os ladrões de rua, os carrascos, os empregados do estábulo hoje em dia são mais eruditos do que os doutores e pregadores do meu tempo. (fragmento do texto Pantagruel – 1532 – de François Rabelais) Como estamos vendo, o Classicismo é um período de expressões artísticas dentro do Renascimento. CP F 0 67 .10 9.8 41 -17 - L ali ne W int er 38 38 CLASSICISMO Somente a título de explicar