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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE BIOQUÍMICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE BIOQUÍMICA MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO 2 NOÇÕES GERAIS DE QUÍMICA ORGÂNICA 3 ÁGUA 4 AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS MÓDULO II 5 ENZIMAS 6 CARBOIDRATOS 7 LIPÍDEOS 8 ÁCIDOS NUCLEICOS MÓDULO III 9 METABOLISMO E BIOENERGÉTICA 10 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS 10.1 GLICÓLISE 10.2 GLICONEOGÊNESE 10.3 GLICOGENÓLISE 10.4 GLICOGÊNESE MÓDULO IV 11 CICLO DE KREBS 12 CADEIA RESPIRATÓRIA 12.1 TRANSPORTE DE ELÉTRONS 12.2 FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA AN02FREV001/REV 4.0 4 MÓDULO V 13 METABOLISMO DE LIPÍDEOS 14 CASO CLÍNICO: HIPERLIPIDEMIA 15 METABOLISMO DOS ÁCIDOS NUCLEICOS 16 CASO CLÍNICO: GOTA 17 METABOLISMO DE PROTEÍNAS 18 CABOLISMO DE AMINOÁCIDOS 19 CICLO DA UREIA 20 CASO CLÍNICO: INTOXICAÇÃO POR AMÔNIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 5 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno, saudações! Esta é a primeira aula do nosso curso de Bioquímica, denominado Biomoléculas e Metabolismo, dedicado à exposição teórica dos seguintes itens da ementa da disciplina: • Noções Gerais de Química Orgânica; • Propriedades do carbono; • Funções orgânicas; • Biomoléculas; • Água; • Propriedades da água e sua importância biológica; • Aminoácidos e proteínas; • Definição, classificação, propriedades e importância biológica dos aminoácidos; • Definição de peptídeos e ligação peptídica; • Peptídeos de importância biológica; • Proteínas: definição, níveis de organização, classificação e importância biológica. Os dois primeiros itens são introdutórios e necessários para uma completa compreensão do conteúdo abordado neste curso. São a partir dos conceitos apresentados nesta primeira aula que você irá entender o comportamento de cada classe de compostos envolvido nos processos bioquímicos, assim como os ciclos e os metabolismos em si. O terceiro item já inicia nossos estudos em biomoléculas, apresentando a primeira classe que veremos: os aminoácidos e as proteínas. Boa aula! AN02FREV001/REV 4.0 6 2 NOÇÕES GERAIS DE QUÍMICA ORGÂNICA A bioquímica é uma ciência que visa estudar as formas e as funções biológicas a partir de termos químicos. E dentre os elementos químicos presentes nos organismos vivos o carbono é o que permite uma maior versatilidade de ligações, o que poderia explicar o porquê de termos evoluído utilizando este elemento químico para a formação de moléculas de diferentes tamanhos e formas. As biomoléculas são formadas a partir da ligação covalente entre átomos de carbonos, formando cadeias lineares, ramificadas e/ou estruturas cíclicas. A esta cadeia carbônica podem ser adicionados “grupos funcionais”, compostos por outros átomos, por exemplo, o oxigênio e o nitrogênio, que conferem propriedades químicas específicas às moléculas. A estrutura do carbono, unidade fundamental dos compostos orgânicos, começou a ser estudada no final do século XIX por Archibald Scott Couper e Friedrich August Kekulé, e suas propriedades hoje são descritas pelos postulados de Couper-Kekulé: 1) O átomo de carbono é tetravalente: isso significa que o carbono pode formar até quatro ligações covalentes, possibilitando uma grande variedade de compostos derivados dele. Os quatro pares eletrônicos disponíveis no carbono permitem que essas ligações sejam realizadas com diversos outros elementos: 2) As quatro valências do carbono são iguais: isso significa que se, por exemplo, temos um carbono ligado a um átomo de cloro, temos o composto clorometano independente de qual seja a posição do cloro: AN02FREV001/REV 4.0 7 3) Encadeamento: essa ligação direta entre átomos de carbono permite formar as cadeias carbônicas, que são a base para a formação de uma variedade de compostos orgânicos, como o composto da figura abaixo: Agora que você já conhece um pouco mais sobre o carbono, vamos passar às funções orgânicas. O nome “funções” é dado para compostos que possuem estrutura química semelhante, apresentando como consequência comportamento químico também semelhante. Neste curso apresentaremos as 11 principais funções orgânicas, começando pelos hidrocarbonetos, que são as estruturas mais simples existentes, constituídas somente por átomos de C e de H. Muitos combustíveis têm em sua composição os hidrocarbonetos. Outras funções são a dos alcoóis, que são as cadeias de hidrocarbonetos ligadas a uma ou mais hidroxilas (OH), a dos fenóis, que também apresentam o OH, porém ligados a uma cadeia carbônica fechada, dita aromática, e a dos éteres, que é composta por moléculas contendo um átomo de O que liga duas cadeias carbônicas. Estes compostos estão representados na tabela abaixo: Função Orgânica Exemplo Hidrocarbonetos octano AN02FREV001/REV 4.0 8 Alcoóis octanol Fenóis hidroxibenzeno Éteres metoxietano Continuando nossa apresentação sobre as funções orgânicas, temos os ácidos carboxílicos, que são cadeias carbônicas ligados ao grupo COOH, chamado de grupo carboxílico. Muito semelhante a eles são os ésteres, que onde o H do grupo carboxílico é substituído por uma cadeia carbônica, as cetonas, que possuem o grupo OH substituído por uma cadeia carbônica, e os aldeídos, que possuem o grupo OH substituídos por um H, como abaixo: Função Orgânica Exemplo Ácidos carboxílicos ácido etanoico Ésteres etanoato de etila Cetonas 2-propanona Aldeídos pentanal Ainda temos as amidas, que diferem do ácido carboxílico pela substituição do grupo OH por N, as aminas, que apresentam de uma a três cadeias carbônicas ligadas pelo N, e os haletos orgânicos, que são compostos contendo um halogênio (cloro, bromo e iodo): http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Acetic-acid.png� http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ethyl_acetate2.png� http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Acetone-structural.png� http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pentanal_structure.png� AN02FREV001/REV 4.0 9 Função Orgânica Exemplo Amidas etanamida Aminas etilmetilpropanamina Haletos Cloreto de fenila Agora que você já conhece as principais funções orgânicas, faremos alguns comentários para que você possa conhecer um pouco mais sobre algumas delas. Os hidrocarbonetos apresentam uma propriedade comum: eles se oxidam facilmente liberando calor e por isso são utilizados muitas vezes como combustíveis. São formados a grandes pressões no interior da Terra (abaixo de 150 km de profundidade) e depois são trazidos para zonas de menor pressão pelos processos geológicos, sendo acumulados na forma de petróleo, gás natural e carvão. Os aldeídos são irritantes quando apresentam peso molecular baixo. Os de maior peso molecular (que apresentam entre oito e 12 átomos de carbono) são muito utilizados na indústria de cosméticos para fabricação de perfumes. Já os ácidos carboxílicos, de odor característico, são utilizados pelos cães, que apresentam olfato bastante aguçado, para o reconhecimento de pessoas pelo cheiro, já que o metabolismo entre os indivíduos se difere em alguns aspectos, produzindo umacomposição diferente de ácidos carboxílicos para cada indivíduo. Para finalizar estas apresentações, os ésteres são muito utilizados na produção de flavorizantes em refrescos, doces e xaropes, além do seu uso na produção de sabões, medicamentos, perfumes, biocombustíveis entre outras inúmeras aplicações. O acetato de amila, por exemplo, é utilizado como essência de AN02FREV001/REV 4.0 10 banana. Na natureza são encontrados em óleos e gorduras, nas essências de frutas, de madeiras e de flores, nas ceras (carnaúba e de abelhas) e nos fosfatídeos (em ovos e no cérebro). Passamos agora a outro tópico importante: as biomoléculas! Estas são os compostos químicos apresentados anteriormente, com uma diferença fundamental, são sintetizadas pelos seres vivos. As biomoléculas compõem a estrutura e participam do funcionamento dos organismos. De agora em diante até o final do Módulo 2 vamos estudar as definições, nomenclaturas, propriedades e importâncias biológicas de cada classe de biomoléculas, para podermos entender ao final do curso como estas participam dos processos metabólicos que ocorrem no ser humano. As biomoléculas são formadas a partir de “unidades monoméricas”, que são compostos mais simples que se juntam para formar as macromoléculas. Mas você pode estar se perguntando: existem milhares de tipos de moléculas diferentes, e agora? E eu tenho uma boa notícia. Existem milhares de tipos de moléculas diferentes, mas acontece que elas vão se organizando nestas unidades monoméricas que eu citei acima, resultando em compostos de propriedades similares, facilitando o entendimento dos processos bioquímicos. Assim, a gente irá estudar, por exemplo, as proteínas, que são compostas por apenas 20 tipos de aminoácidos, e também os ácidos nucleicos, compostos por oito nucleotídeos, além dos polissacarídeos, formados a partir de oito tipos de açúcares. E vamos começar pela principal biomolécula no nosso organismo: a água. AN02FREV001/REV 4.0 11 FIGURA 1 - ESQUEMA DE PROTEÍNA Fonte: AREADETREINO, 2011 3 ÁGUA Você lembra quando comentei que as biomoléculas são sintetizadas pelos seres vivos? Então, toda regra tem uma exceção e a água é a exceção desta regra. Ela não é sintetizada pelos organismos e está disponível para adquirirmos pela alimentação, mas é classificada como biomolécula pela sua importância para nós. Todos os indivíduos possuem a água em sua constituição, e na maioria dos casos ela é responsável por 70% do peso dos organismos. É a partir dela e de suas propriedades que as estruturas biológicas e as reações bioquímicas ocorrem e são essas propriedades que vamos estudar nas próximas páginas. As ligações de hidrogênio entre as moléculas de água são as responsáveis por suas propriedades e embora sejam ligações consideradas “fracas” quando comparadas às ligações covalentes, em conjunto elas são fundamentais para a manutenção das estruturas tridimensionais das biomoléculas. Tecnicamente as ligações de hidrogênio podem ser descritas como as ligações formadas entre um grupo fracamente ácido (dito “doador) como, por exemplo, o N-H ou o O-H e um grupo carregando um par de elétrons não AN02FREV001/REV 4.0 12 compartilhado (fracamente básico, ou “receptor”), como um N ou O. A figura abaixo ilustra uma ligação de hidrogênio entre moléculas de água: (as moléculas de água estão representadas em azul e as ligações de hidrogênio em vermelho) Dica: talvez você já tenha lido sobre essas ligações sob o nome “ponte de hidrogênio”, porém o termo recomendado pela IUPAC (União Internacional de Química Pura e Aplicada, da sigla em inglês) é “ligação de hidrogênio”. Uma das consequências das ligações de hidrogênio são os altos pontos de fusão e de ebulição da água em relação aos outros solventes comuns, já que devido à estrutura tetraédrica da água, cada molécula realiza em torno de três a quatro ligações de hidrogênio com outras moléculas, o que exige uma alta energia térmica para quebrar essas ligações. Biologicamente essas ligações são muito importantes por possibilitar à água o seu uso como solvente, por exemplo, na diluição dos açúcares, devido aos efeitos estabilizantes das ligações de hidrogênio entre os grupos hidroxila ou o oxigênio da carbonila dos açúcares e as moléculas polares da água. A água, devido a sua polaridade e às atrações eletrostáticas/ligações de hidrogênio, dissolve ainda sais, ácidos carboxílicos ionizados, aminas protonadas, ésteres de fosfato ou anidridos, funções orgânicas que estudamos anteriormente e vimos estar presente nas biomoléculas. As interações fracas também são muito importantes para manter a estrutura, e consequentemente as funções das biomoléculas, já que em conjunto elas possuem um efeito cumulativo significante e mantém as moléculas em seus estados AN02FREV001/REV 4.0 13 ideais para funcionamento mesmo com quebras e formações de novas ligações, já que estas ocorrem de maneira aleatória e rompimentos simultâneos de ligações fracas são improváveis. Quanto maior a possibilidade de interações fracas, mais estável é a macromolécula (por exemplo: proteínas, DNA e RNA), sendo que a forma tridimensional destas é determinada justamente por essas ligações fracas, responsáveis também pela ligação entre antígenos-anticorpos, hormônios, neurotransmissores e receptores. Para muitas proteínas, as moléculas de água ligadas a elas são essenciais para suas funções. Olha só a importância das ligações de hidrogênio e da água em nosso organismo. Como eu disse anteriormente, é partir dela e de suas propriedades que as estruturas biológicas e as reações bioquímicas ocorrem. O que me faz lembrar outra propriedade muito importante da água: a sua fraca ionização, formando íons hidrogênio (H+) e hidróxido (OH- Dica: prótons livres como indicado na equação acima não existem em solução, os íons hidrogênio formados na água são imediatamente hidratados a íons hidroxônios (H ), segundo a equação: 3O+), devido às ligações de hidrogênio presentes. Biologicamente essa ionização da água é importante por permitir uma mobilidade iônica entre as moléculas, mobilidade esta presente nas reações de transferência de prótons. Quantitativamente, por meio de medidas de condutividade elétrica, podemos definir a constante de equilíbrio da reação acima (Keq) como 1,8x10-16 M a 25oC e a concentração de H+ como 10-7 O pH é dito neutro se possuir valor 7, sendo que valores maiores de pH caracterizam soluções alcalinas e pH com valores menores soluções ácidas, sendo M, valores importantes (principalmente este último) quando vamos calcular o pH das soluções, já que a escala de pH é baseada no produto iônico da água. AN02FREV001/REV 4.0 14 que este valor não foi obtido por acaso ou por conveniência, e sim a partir de cálculos envolvendo o valor do produto iônico da água a 25oC. Mas você pode estar pensando: em nosso organismo diversas reações ocorrem, logo elas podem alterar o pH do meio, isso não seria perigoso para a vida? E a resposta que eu te trago: Sim, seria perigoso, mas essas alterações bruscas não ocorrem por causa dos tampões. Os tampões são sistemas aquosos que tendem a resistir às alterações no pH quando pequenas quantidades de ácido ou base são adicionadas. Ele é composto por um ácido fraco (doador de prótons) e sua base conjugada (aceptor de prótons). Quando um ácido um uma base fraca entra em contato com o tampão reage com os ácidos e bases presentes, resultando em duas reações reversíveis que entram em equilíbrio, tendo como resultado apenas uma pequena alteração na razão das concentrações relativas do ácido fraco e sua base conjugada e, portanto, uma pequena alterações do pH, compatível com os processos fisiológicos. Toda equação de dissolução apresenta umvalor de Ka Essa é uma equação que vale a pena ser memorizada, pois possibilita calcular o pH de uma mistura de ácido-base conjugada, muito importante no preparo de tampões (uma rotina para quem trabalha na área bioquímica). A seguir daremos um exemplo da aplicação da equação de Henderson-Hasselbalch. Tente repetir o exercício sem olhar a resposta para fixar a equação e a forma de preparo de tampões: característico, e a relação entre ele, o pH e a concentração de determinado tampão é definida pela equação de Henderson-Hasselbalch: Exercício: Calcule o pH de uma mistura de 0,10 M de ácido acético e 0,20 M de acetato de sódio, sabendo que o pKa do ácido acético é 4,76. AN02FREV001/REV 4.0 15 Resposta: pH = pKa + log [A-/HA] pH = 4,76 + log [acetato/ácido acético] pH = 4,76 + log (0,20/0,10) ph = 5,1 Um mecanismo importante do sistema tamponante ocorre durante a respiração. O tampão bicarbonato é efetivo em pH próximo a 7,4 e envolve três equilíbrios reversíveis entre o CO2 gasoso nos pulmões e o bicarbonato (HCO3- ) no plasma sanguíneo. Esse tampão aberto é o responsável por manter a homeostasia e a vida por intermédio da respiração. Agora que você já entendeu a importância da água para nossa sobrevivência e tem em mente que é ela o solvente utilizado durante as reações metabólicas em muitos processos bioquímicos, podemos seguir nossos estudos em biomoléculas, e para finalizar este primeiro módulos, vamos estudar os aminoácidos e as proteínas. 4 AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS Em geral, um aminoácido é uma estrutura química que contém um grupo amina e um grupo carboxila, sendo diferenciados por radicais substituintes (R) característicos: AN02FREV001/REV 4.0 16 FIGURA 2 – AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS FONTE: QUINTEIRO, H. R. G., 2011 Assim, por exemplo, quando o grupamento R é igual a um grupo –CH3, este aminoácido é chamado alanina, já se o grupamento R for igual a um grupo –CH2OH é denominado serina, e assim para todos os outros aminoácidos existentes e descobertos até hoje. Falando em descoberta, o primeiro aminoácido descrito foi a asparagina (em 1806) e o último a treonina (em 1938). Atualmente são descritos 20 aminoácidos principais que formam por meio de ligações entre si (estudaremos elas mais para frente neste módulo) uma diversidade incontável de compostos de diversos tamanhos e formas, incluindo enzimas, hormônios, anticorpos, transportadores, fibras musculares, proteína do cristalino do olho, penas, teia de aranha, chifre do rinoceronte, proteínas do leite, antibióticos, venenos de cogumelos e mais uma infinidade de compostos. Algumas convenções de nomenclatura definiram os aminoácidos em abreviações de três letras e em símbolos de uma letra. Assim, o aminoácido alanina citado anteriormente é representado pelo conjunto de letras Ala e/ou pelo símbolo A, já a serina é representada pelo conjunto de letras Ser e/ou pelo símbolo S. A tabela na página seguinte apresenta todos os 20 aminoácidos mais comuns encontrados em nosso organismo como constituintes de proteínas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:AminoAcidball.svg� AN02FREV001/REV 4.0 17 FIGURA 3 - AMINOÁCIDOS FONTE: SOARES, H. F., 2011 Uma curiosidade interessante é sobre a quiralidade envolvendo o C central dos aminoácidos, que poderia levar à formação de D-isômeros ou L-isômeros, porém na natureza somente a forma L dos aminoácidos é encontrada como ativa, já que os sítios enzimáticos são assimétricos. Não entraremos em detalhes neste AN02FREV001/REV 4.0 18 curso, mas se você tiver curiosidade, vale a pena uma busca pela internet em torno dos conceitos de quiralidade. A tabela que você acabou de ver apresenta a classificação dos aminoácidos quanto à natureza do seu grupamento R, esta classificação é dita “quanto ao substituinte”, havendo os aminoácidos apolares, polares neutros (ou não carregados), ácidos e básicos. Outra classificação é a dita “nutricional” e envolve a essencialidade dos aminoácidos para nós, havendo os não essenciais (que nosso organismo consegue sintetizar): alanina, asparagina, ácido aspártico, ácido glutâmico e serina; aminoácidos essenciais (que devem ser ingeridos por meio da alimentação, já que não conseguimos sintetizar em nosso corpo): fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, treonina, triptofano, histidina e valina; e ainda os aminoácidos condicionalmente essenciais (é necessário obtê-los pela alimentação, porém somente para determinadas situações fisiológicas): arginina, cisteína, glicina, glutamina, prolina e tirosina. Existe uma classificação menos comum que é determinada quanto ao destino do aminoácido após sua metabolização (excreção do grupamento amina). Os de destino cetogênico são os que formam alcoóis, que vão para qualquer fase do ciclo de Krebs. Os aminoácidos leucina e lisina são exclusivamente cetogênicos. Já outro grupo é o dos aminoácidos de destino glicogênico, quando o álcool resultante da quebra dos aminoácidos vai para a via glicolítica. Os aminoácidos fenilalanina, triptofano, isoleucina e tirosina são tanto cetogênicos quanto glicogênicos, e os outros 14 restantes são exclusivamente glicogênicos. Porém, não fique preocupado agora com essa classificação, você compreenderá melhor quando estudarmos essas vias metabólicas nos próximos módulos. Eu já comentei um pouquinho sobre a quiralidade anteriormente e além desta propriedade de atividade óptica dos aminoácidos (com exceção da glicina), os aminoácidos podem ser definidos como incolores e a maioria de sabor adocicado quanto às suas propriedades organolépticas. Já fisicamente, as propriedades dos aminoácidos englobam sua solubilidade em água variável e todas se encontram na forma sólida nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP). AN02FREV001/REV 4.0 19 Quimicamente os aminoácidos podem ser definidos como anfóteros, já que possuem na molécula um grupamento de característica ácida (-COOH) e um grupamento de característica básica (-NH2), o que os tornam muito interessantes por reagirem tanto com ácidos quanto com bases para formar sais orgânicos. Para finalizar nosso conteúdo de aminoácidos, vale ressaltar que estes 20 aminoácidos apresentados (ditos α -aminoácidos) não são os únicos presentes na natureza. Mais de 700 aminoácidos já foram descritos, muitos sem ainda ter um papel biológico definido. Alguns são simplesmente derivados dos aminoácidos que estudamos, outros possuem estruturas incomum, alguns ainda são até tóxicos para alguns organismos (a azasserina, por exemplo, é utilizada como antibiótico). Quanto à importância biológica dos aminoácidos, além da sua participação na composição de todos os produtos descritos anteriormente, temos também as funções especializadas dos aminoácidos. Essas incluem a utilização dos aminoácidos como mensageiros químicos na comunicação entre células. Por exemplo, a glicina, o GABA e a dopamina são neurotransmissores, já a histamina é um potente mediador local em reações alérgicas, e a tiroxina é um hormônio tireóideo, que contém iodo e que geralmente estimula o metabolismo em vertebrados. Alguns aminoácidos são importantes como intermediários em vários processos metabólicos, entre eles a citrulina e a ornitina, intermediários na biossíntese da ureia, a homocisteína, um intermediário do metabolismo dos aminoácidos e a S-adenossilmetionina, um reagente biológico para metilações. Os aminoácidos podem reagir entre si, unindo-se por ligações ditas peptídicas. A reação para esta formação é chamada de “condensação” ou “desidratação”, já que libera uma molécula de água após o grupo carboxila de um aminoácido se ligar ao grupo amino de outro aminoácido, formando uma amida com ligação covalente C-N, segundo a equaçãoquímica abaixo: AN02FREV001/REV 4.0 20 Fonte: CASTRO, F. F., 2011 Vemos na figura acima a ligação entre dois aminoácidos, mas repare que as extremidades dos aminoácidos ainda podem reagir com outros aminoácidos, formando cadeias de tamanhos variados, desde muito pequenos com dois ou três milhares de resíduos de aminoácidos até grandes cadeias. Essas ligações são muito estáveis, tendo meia-vida média de sete anos nas condições intracelulares e, por convenção, o terminal amino é sempre representado à esquerda, de onde começamos a dar o nome para a cadeia de aminoácidos. Quanto à nomenclatura, dois aminoácidos unidos pela ligação peptídica são ditos dipeptídeos, três aminoácidos nas mesmas condições formam um tripeptídeo, e assim segue até que alguns aminoácidos unidos passam a ser chamados de oligopeptídeos. Muitos aminoácidos unidos formam um polipeptídeo, e embora muitas vezes os termos se confundam, quando o peso molecular do composto ultrapassa os 10.000 Da, temos uma proteína. Muitos peptídeos apresentam importante biológica e isso independe de seu tamanho. O aspartame, um conhecido adoçante artificial, por exemplo, é formado pelo dipeptídeo L-aspartil-L-fenilalanil metil éster. Alguns hormônios são peptídeos pequenos também, e mesmo em concentrações muito baixas exercem seus efeitos, por exemplo, a ocitocina, que contém nove resíduos de aminoácidos e é responsável por estimular as contrações uterinas durante o parto. Ainda, alguns polipeptídeos pequenos (ou oligopeptídeos) também possuem importância biológica, como o glucagon, um hormônio pancreático, composto por 29 resíduos e a corticotropina, um hormônio de 30 resíduos de aminoácidos da glândula hipofisária anterior que estimula o córtex adrenal. Em geral, os peptídeos AN02FREV001/REV 4.0 21 não ultrapassam 2.000 resíduos de aminoácidos (e aqui já temos uma proteína!), mas a titina, uma constituinte do músculo de vertebrados chega a 27.000 resíduos. Quanto às proteínas, além do peso molecular citado anteriormente, podemos dizer que elas sempre possuem mais de 20 aminoácidos. Uma grande parte delas são completamente sintetizada no citosol das nossas células pela tradução do RNA, e após sua síntese são destinadas ao local em que exercerá sua função por intermédio de “sinais” de reconhecimento pela célula. Do ponto de vista estrutural são as biomoléculas mais importantes para o organismo e sua importância já era reconhecida desde o começo dos estudos com proteínas, conforme podemos notar pela frase do químico sueco Jöns Jacob Berzelius em uma carta ao também químico Gerardus Johannes Mulderm, em 1838: A palavra proteína que proponho a você... gostaria que derivasse de proteios, porque ela parece ser a substância principal ou primitiva da nutrição animal que as plantas preparam para os herbívoros, e que esses depois fornecem aos carnívoros (Jöns Jacob Berzelius,1838). Dependendo dos tipos de aminoácidos que constituem a proteína, assim como do tamanho da cadeia, temos uma configuração espacial desta cadeia, e assim podemos dividir, didaticamente, nos níveis de organização das proteínas em estruturas: primária, secundária, terciária e quaternária. - Estrutura primária: Esse nível é composto pela sequência dos aminoácidos ao longo da cadeia polipeptídica. Assim, embora o primeiro e mais simples nível de organização seja também o mais importante, pois as características químicas e físicas de cada resíduo de aminoácido utilizado contribuirão para toda a organização espacial final da proteína. Esta sequência é determinada geneticamente e é representada por meio das ligações peptídicas entre os resíduos de aminoácidos, conforme vimos anteriormente. - Estrutura secundária: Como as ligações peptídicas podem sofrer rotações afim de minimizar a energia em contato com o meio em que se encontram, os aminoácidos próximos entre si sofrem um arranjo espacial, resultando nas estruturas secundárias. Muitas vezes os arranjos secundários ocorrem de forma AN02FREV001/REV 4.0 22 regular, isto é, os ângulos das ligações se repetem ao longo de um segmento da proteína, resultando em estruturas cilíndricas estabilizadas por ligações de hidrogênio entre os resíduos de aminoácidos (α -hélice) ou em estruturas achatadas e rígidas por ligações de hidrogênio entre regiões vizinhas (folha β -pregueada). Uma ilustração destas duas possibilidades de estrutura secundária das proteínas é apresentada a seguir. - Estrutura terciária: Ligações de hidrogênio e pontes dissulfeto, além de interações hidrofóbicas e eletrostáticas, estabilizam as estruturas secundárias resultando em um enrolamento desta. Esta estrutura é o dobramento final da proteína, sendo caracterizada por ligações entre regiões de longa distância entre os aminoácidos (lembre-se que na estrutura secundária as ligações ocorrem a curta distância). Como as sequências de aminoácidos são diferentes, as proteínas apresentam estruturas terciárias diferentes, responsáveis por diferentes efeitos biológicos. - Estrutura quaternária: Esta estrutura é menos comum, mas ocorrem quando a proteína é composta por mais de uma cadeia polipeptídica, unidas entre si pelas ligações químicas citadas anteriormente, podendo resultar em funções diferentes para a estrutura resultante. Um exemplo clássico de estrutura quaternária é a hemoglobina, formada por quatro cadeias polipeptídicas. AN02FREV001/REV 4.0 23 FIGURA 4 – ESTRUTURA QUATERNÁRIA FONTE: NELSON & COX, 2006 As proteínas podem conter em sua composição outros compostos que não aminoácidos. Caso isso ocorra a proteína é dita conjugada e o radical não peptídico dela é dito grupo prostético. Exemplos deste caso são as metaloproteínas, que contém metal em sua composição, hemeproteínas, lipoproteínas, glicoproteínas, dentre outras. Outra classificação das proteínas se dá pelo número de cadeias polipeptídicas, sendo monoméricas quando formadas por apenas uma cadeia ou oligoméricas quando formadas por mais de uma cadeia (em geral são proteínas estruturais e de funções mais complexas em nosso organismo). As proteínas podem, ainda, ser classificadas em fibrosas ou globulares de acordo com sua forma. As primeiras são insolúveis em água, possuem peso molecular elevado e geralmente são formadas por longas moléculas mais ou menos retilíneas e paralelas ao eixo das fibras. Temos nesse grupo as proteínas de estrutura, como o colágeno, a queratina e a miosina. Uma proteína interessante deste grupo é a tubulina, que embora apresente múltiplas subunidades globulares, classifica-se como fibrosa pela sua disposição helicoidal. Já as proteínas globulares são mais ou menos esféricas, espacialmente mais complexas, geralmente solúveis no meio aquoso e incluem as proteínas ativas, como as enzimas e os transportadores. Quanto à importância biológica das proteínas, poderíamos ficar discutindo durante muitas páginas todas as contribuições que temos por esta classe de AN02FREV001/REV 4.0 24 biomoléculas. Mas vou apenas citar alguns exemplos que mostram a participação das proteínas em nosso corpo para ilustrar sua importância. As proteínas podem desempenhar funções hormonais, especificamente em algum órgão ou estrutura, como a insulina, que retira a glicose em excesso do sangue. Podem ainda participar das funções de defesa do organismo, como os anticorpos, especializados no reconhecimento e neutralização de vírus, bactérias e substâncias exógenas. Outras proteínas de defesa são o fibrinogênio e a trombina, responsáveis pela coagulação sanguínea em caso de cortes e ferimentos. As proteínas também estão presentes na nutrição, exercendo função energética e fornecendo aminoácidos. Deficientes proteicas nutricionais podem levar a um desequilíbrio homeostático e na infância à deficiênciano crescimento. O recomendado por nutricionistas é a ingestão diária de 0,8 a 0,9 gramas de proteínas por kg do nosso corpo na fase adulta. As enzimas também são proteínas importantes que atuam nas reações químicas e serão abordadas em um tópico, no próximo módulo. Além destas funções, as proteínas ainda são encontradas no transporte dos gases (principalmente do oxigênio), como por exemplo, a hemoglobina e a hemocianina, e no armazenamento, como a ferritina, localizada no fígado e responsável pela reserva do ferro. Para finalizar o tópico sobre Aminoácidos e Proteínas falaremos sobre a desnaturação das proteínas, que é a perda da sua estrutura secundária e/ou terciária, ou seja, seu arranjo tridimensional, fazendo com que sua atividade biológica seja perdida na maioria dos casos. A desnaturação não rompe as ligações peptídicas (lembra que estas são muito fortes e podem sobreviver por anos no nosso organismo?) e pode ser causada pelo aumento da temperatura (de importância relevante quando temos febres altas), extremos de pH, solventes orgânicos (por exemplo, a acetona ou o etanol), solutos (ureia), exposição a detergentes e agitações vigorosas (estas últimas de maior aplicação em laboratórios de pesquisa e análises clínicas). A renaturação pode ocorrer caso o meio volte à sua composição anterior, como visto para a ribonuclease, porém nem sempre isso acontece. FIM DO MÓDULO I