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AULA 6 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL PARA DEPRESSÃO E TRANSTORNOS DE HUMOR Prof.ª Bruna Carla Ribeiro 2 INTRODUÇÃO A aplicação da terapia cognitivo-comportamental (TCC) no transtorno bipolar compreende de modo geral os conceitos fundamentais da TCC, ou seja, a exposição do paciente ao modelo cognitivo, no qual o paciente é ensinado a identificar as mudanças cognitivas e comportamentais relacionadas às alterações de humor; a psicoeducação do transtorno (desde sua apresentação, prevenção a recaídas e a importância da adesão ao tratamento); o desenvolvimento de uma sólida relação terapêutica; a utilização de técnicas cognitivas e comportamentais para manejo dos sintomas agudos e do estresse, e nas questões interpessoais, o desenvolvimento de habilidades sociais e habilidades para resolução de problemas. Esta aula tem como objetivo compreender a aplicação e o desenvolvimento da terapia cognitivo-comportamental no transtorno bipolar e será dividida da seguinte forma: 1. Psicoeducação da abordagem e do transtorno; 2. Detecção precoce para prevenir recaídas; 3. Intervenções cognitivas e comportamentais; 4. Gerenciamento do estresse e dos problemas psicossociais; 5. Estudo de caso. TEMA 1 – PSICOEDUCAÇÃO DA ABORDAGEM E DO TRANSTORNO Na psicoeducação, entende-se que quanto mais o paciente conhece a respeito do tratamento e do transtorno que apresenta, mais aprende a lidar com os sintomas e mais se envolve no tratamento. Informações sobre o transtorno bipolar, enfatizando as características dos episódios, o reconhecimento dos sintomas precoces, os fatores de risco de recaída e informações sobre a importância do uso correto da medicação bem como de aderir à psicoterapia proporcionam o aprendizado do paciente e familiares (Knapp, 2004). Com isso, busca-se diminuir os estigmas relacionados à doença, aumentar a aceitação do transtorno e a adesão ao tratamento e promover práticas mais saudáveis visando à eficácia do tratamento e à estabilidade do quadro. A Psicoeducação auxilia paciente e familiares a compreenderem a complexa relação entre personalidade, sintomas, ambiente, efeitos colaterais da medicação, o que contribui para que haja a colaboração ativa em relação ao tratamento (Colom; Vieta, 2004). 3 A sua aplicação acontece principalmente nas sessões iniciais, mas também durante o desenvolvimento do tratamento, conforme a apresentação e curso da doença, e deve ser aplicada sempre que necessário. Figueiredo et al (2009) descreve que, na maioria dos protocolos da TCC, o processo educativo se dá desde o início até o final do tratamento. E nesse processo, podem-se utilizar como complemento várias ferramentas, tais como: livros direcionados a pacientes, folhetos informativos, filmes e programas de computador (Wright; Basco; Thase, 2008). O envolvimento da família no processo de psicoeducação bem como a participação ativa desta no desenvolvimento do tratamento trazem benefícios significativos, potencializando os resultados terapêuticos, pois isso aumenta o conhecimento por parte dos familiares e proporciona a estes um aprendizado e um manejo mais adequado de situações de estresse pertinentes ao quadro. Segundo Knapp (2004), as intervenções com familiares têm como principais objetivos: 1. modificar as interações familiares que interferem no tratamento; 2. psicoeducação para os pacientes e para os seus familiares sobre o transtorno e o tratamento; 3. desenvolvimento de habilidades de comunicação e de resolução de problemas. Pontos importantes para trabalhar na psicoeducação: Transtorno: características diagnósticas, etiologia, epidemiologia, enfatizando o reconhecimento dos sintomas precoces, os fatores de risco de recaída; Tratamento: modelo cognitivo, destacando-se a importância de aderir ao tratamento farmacológico e psicoterápico, bem como os riscos associados à sua interrupção; Hábitos regulares e manejo do estresse: estilo de vida saudável (evitando sobrecarga), alimentação adequada, atividade física, sono regular, relacionamentos saudáveis, lazer sem superestimulação, evitando abuso de substâncias. TEMA 2 – DETECÇÃO PRECOCE PARA PREVENIR RECAÍDAS Auxiliar o paciente a reconhecer precocemente os sintomas, para diminuir recorrências e recaídas, é uma das grandes utilidades e metas da TCC, assim, são proporcionadas oportunidades de intervenção, a fim de estabilizar a sintomatologia maníaco-depressiva e proporcionar ao paciente um melhor funcionamento e mais qualidade de vida (Knapp, 2004). 4 Para ajudar os pacientes a lidarem de forma mais efetiva com as suas alterações de humor e a se planejarem antecipadamente contra as recorrências, é necessário entender e reconhecer a apresentação mais inicial dos sintomas, ou seja, quais sintomas antecedem a depressão e a mania, quais fatores podem precipitar as mudanças de humor e as reações dos pacientes que favorecem o controle dos sintomas ou que fazem com que eles piorem (Basco; Rush, 2009) Segundo os mesmos autores, alguns instrumentos da TCC auxiliam no desenvolvimento de um sistema de alerta precoce, entre eles: o gráfico da vida, a planilha de resumo dos sintomas e o gráfico de monitoramento do humor. 2.1 O gráfico da vida O gráfico ou o mapeamento da vida é um instrumento bastante utilizado na terapia que mostra a evolução da doença desde o seu início até o presente, e consiste em o paciente desenhar uma linha do tempo que represente graficamente a intensidade e a duração de cada episódio da doença, incluindo as condições comórbidas, como os períodos de ansiedade ou de abuso de substância, bem como o impacto do tratamento e de acontecimentos importantes da vida (como perdas, doença ou problemas físicos, ou mudanças de empregos, familiares ou de casa, e outros fatores de estresse) (Basco; Rush, 2009). 2.2 Planilha de resumo dos sintomas Identificar as mudanças cognitivas, afetivas e comportamentais relacionadas aos episódios depressivos, maníacos e hipomaníacos proporciona ao paciente, familiares ao terapeuta informações que o auxiliam a perceber as diferenças entre as mudanças atribuídas à doença (estados sintomáticos) e as flutuações de humor normais (estado eutímico). A planilha, de modo geral, resume os sintomas principais da depressão, da mania e da hipomania específicos do paciente e os contrasta com o estado normal ou eutímico do indivíduo (Basco; Rush, 2009). Deve-se solicitar que o paciente descreva como ele se apresenta em períodos assintomáticos, considerando aspectos de sua personalidade, gostos, temperamento, senso de humor, hábitos e também as características apresentadas antes de se desenvolver a doença. Da mesma forma, o paciente deve listar os sintomas experimentados nas fases depressivas, maníacas e/ou hipomaníacas. Cada sintoma é listado na coluna apropriada da planilha, de acordo com o respectivo episódio. 5 O auxílio da família e dos amigos pode ser de grande utilidade para realizar essa tarefa, servindo de complemento às informações e possibilitando uma visão mais ampla da sintomatologia e mudanças apresentadas pelo paciente. Berk (2011) aponta alguns sinais de alerta que antecedem os respectivos episódios: Sinais de alerta para a mania e a hipomania: diminuição da necessidade do sono, energia aumentada (estar mais ativo ou com mais objetivos), maior sociabilidade, irritabilidade, loquacidade, dificuldade em concentrar-se/distração, otimismo e autoconfiança elevado, humor elevado, fuga de ideias, pensamento mais acelerado, aumento do desejo sexual, abuso de álcool, sentidos mais apurados Sinais de alerta para depressão: baixa na energia e cansaço, diminuição do interesse e prazer, tristeza, cognições negativas, diminuição das atividades sociais, alterações no sono e na alimentação.2.3 Gráfico de monitoramento do humor/afetivograma Nesse monitoramento, o foco principal é acompanhar as mudanças diárias do humor, dos pensamentos e comportamentos. Isso permite identificar as flutuações de humor e os sintomas subsindrômicos que precedem os episódios de mania e depressão. Informações sobre as situações que estão relacionadas às alterações de humor podem ser anotadas para auxiliar o terapeuta em possíveis intervenções (Neto, 2004) A planilha de resumo dos sintomas e o gráfico de monitoramento do humor auxiliam os pacientes a correlacionar as alterações de humor com os eventos internos (mudanças nos pensamentos e sentimentos) e externos (situações precipitadoras). Com esse conhecimento, é possível ajudar o paciente a se planejar antecipadamente e evitar o agravamento dos sintomas (Basco; Rush, 2009). TEMA 3 – INTERVENÇÕES COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS Considerando os conceitos fundamentais da TCC que propõem a interconexão entre os pensamentos, os sentimentos e o comportamento e a influência destes, como sugerem estudos, na bioquímica cerebral, Knapp (2004) descreve que, nos episódios de depressão e mania, ocorrem mudanças no humor e alterações nas cognições, o que, inevitavelmente, desencadeia alterações no comportamento. Essas respostas 6 comportamentais, por consequência, reforçam o defeituoso processo de informações e estados afetivos, gerando um ciclo vicioso que vem a intensificar os sintomas. Nessa etapa, espera-se que o paciente esteja familiarizado com o modelo cognitivo, ou seja, os conceitos de pensamentos automáticos, das crenças e esquemas, da tríade cognitiva, das distorções cognitivas, bem como da inter-relação entre as cognições, o afeto e o comportamento (Beck et al, 1979). Em muitos casos, as técnicas cognitivo-comportamentais podem ser usadas em ambos os episódios, porém, neste tópico, as intervenções serão direcionadas ao episódio maníaco ou hipomaníaco, considerando que as intervenções para o episódio depressivo foram abordadas anteriormente, nos transtornos depressivos. Cabe relembrar que muitas técnicas afetam tanto os processos de pensamento quanto os padrões de comportamento do paciente, e que as mudanças cognitivas geram mudanças comportamentais, e vice-versa (Knapp, 2008). As técnicas da TCC no transtorno bipolar de modo geral visam à identificação precoce do início de uma fase e à prevenção de recaídas, modificando cognições e comportamentos e auxiliam o desenvolvimento de habilidades sociais e de resolução de problemas. Knapp (2004) aponta que, após o paciente estar consciente de seus padrões afetivos, cognitivos e comportamentais, utilizam-se as técnicas para “quebrar o ciclo”, alterando as respostas cognitivas e comportamentais habituais. 3.1 Aspectos comportamentais Os fatores mais comuns que contribuem para o desenvolvimento ou o agravamento da mania são a interrupção da medicação, a privação do sono, a superestimulação e o uso de álcool e drogas. É extremamente importante conscientizar o paciente sobre os comportamentos que podem precipitar ou agravar os sintomas maníacos, bem como auxiliá-lo a desenvolver hábitos saldáveis e acrescentar ao seu dia a dia comportamentos que favoreçam a sua estabilidade. Conforme Basco e Rush (2009), é mais fácil acrescentar comportamentos positivos do que eliminar comportamentos negativos da rotina. Algumas estratégias importantes que auxiliam o paciente a manter-se estável: Higiene do sono; Uso adequado da medicação, com hábitos que evitem o esquecimento; Estabelecimento de rotina com equilíbrio, evitando sobrecarga e estresse Exercício físico e dieta saudável; 7 Lazer sem superestimulação, se envolver em atividades saudáveis que gerem gratificações e prazer; Evitar abuso de álcool ou uso drogas, ou outras substâncias que possam interferir. Um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento ou agravamento da mania é a superestimulação. Segundo Basco e Rush (2009), o estímulo em excesso gera um aumento nas atividades, prejudica o sono, intensifica os pensamentos e estimula os comportamentos de risco. Assim, o monitoramento da busca por estimulação, bem como os sentimentos associados à superestimulação deve ser realizado para a prevenção ou para o controle da mania. Os mesmos autores também citam que o aumento das atividades (comportamento), ideias e interesses (cognições), associado à autoconfiança exacerbada pela mania, cria um ciclo de atividade que por si só pode perpetuar e intensificar a mania. A fim de estabelecer uma rotina com equilíbrio, evitar a sobrecarga e auxiliar o paciente a diminuir o nível de atividades comum na mania, para que possa se concentrar e se organizar melhor, podem-se utilizar as técnicas de plano de atividades/agendamento de tarefas e a prescrição de tarefas graduais para que os pacientes priorizem as atividades mais importantes e desenvolvam as ideias com maior chance de sucesso e menor chance de consequências negativas (Basco; Rush, 2009). 3.2 Aspectos cognitivos Os sintomas cognitivos no transtorno bipolar incluem mudanças no conteúdo (grandiosidade/aumento do otimismo, tendência a ignorar os riscos, paranoia/desconfiança, aumento da autoconfiança, desejo de fazer mudanças) e mudanças no processamento (aumento da fluência das ideias, distração e falta de concentração, pensamento rápido e desorganizado, julgamento prejudicado) (Basco; Rush, 2009). 3.2.1 Mudanças de conteúdo Cabe ao terapeuta auxiliar o paciente na identificação dos pensamentos automáticos, a reconhecer as distorções cognitivas, corrigi-las e modificar os comportamentos disfuncionais consequentes. 8 Assim como visto no transtorno depressivo, esse processo se dá de forma colaborativa e psicoeducativa, com o intuito de ensinar os pacientes a: 1. monitorar e identificar pensamentos automáticos; 2. reconhecer as relações entre cognição, afeto e comportamento; 3. testar a validade de pensamentos automáticos e crenças nucleares; 4. corrigir conceitualizações tendenciosas, substituindo pensamentos distorcidos por cognições mais realistas (Beck, 1976). Quanto aos erros cognitivos, Basco e Rush (2009) citam quatro categorias de distorções, que comumente influenciam os estados emocionais e o processamento de informações nos pacientes bipolares: Visão em túnel: o paciente focaliza a atenção em informações compatíveis com o humor e desconsidera as informações contraditórias. Ex.: ver os benefícios de uma situação e ignorar os riscos; Adivinhação: o paciente preenche com ideias compatíveis com o seu estado de humor as lacunas geradas pela falta de informação. Ex.: paranoia, em que acredita que os outros estão prejudicando-o; Absolutismo: ideias rígidas e polarizadas. Ex.: as novas ideias são vistas como perfeitas e urgentes; Percepções distorcidas: informações distorcidas com base na minimização ou no exagero. Ex.: autoconfiança exagerada e fraqueza rejeitada. Durante a mania, esses erros de lógica levam a pessoa a ter interpretações equivocadas sobre os eventos, como subestimar riscos, exagerar possibilidades de ganhos ou acertos, superestimar capacidades, minimizar problemas da vida e valorizar gratificação imediata, o que influencia diretamente nos estados de humor e comportamentos, acarretando prejuízos importantes na vida do paciente e perpetuando a doença. (Lotufo Neto, 2004) O autor complementa exemplificando algumas distorções: 1. Aumento do interesse sexual e ideias de que está sendo correspondido; 2. Impressão de que os outros estão muito lentos; 3. Humor sarcástico e inadequado; 4. Supervalorização da apreciação de suas ideias pelos outros; 5. A não aceitação de suas ideias é vista como sinal de burrice ou desinteresse; 6. Consideração de que acham que não precisam de remédio, por se sentirem bem; 9 7. Impressão de quesó ele está certo e, por isso, não leva em consideração a opinião dos outros; Algumas técnicas podem ser úteis neste processo e devem ser empregadas conforme a necessidade e perfil do paciente, dentre elas: evocar e testar os pensamentos automáticos, questionamento socrático, registro de pensamentos disfuncionais, lista de vantagens e desvantagens, soluções de problemas. 3.2.2 Mudanças no processo Os déficits no processamento cognitivo podem provocar prejuízos importantes na vida do paciente, pois comprometem a sua capacidade de lidar com os problemas do dia a dia, sua percepção e suas habilidades quanto à tomada de decisão, desencadeando, assim, novos estressores psicossociais. (Basco; Rush, 2009) Exemplos de problemas no processamento cognitivo na mania: Resposta aos estímulos: facilmente distraído, sons parecem mais altos, cores parecem mais vivas; Velocidade de pensamento: pensamento rápido, aumento na fluência de ideias; Organização: dificuldade para compreender e organizar os pensamentos; Concentração: pensamentos em demasia para se processar, distração, perda do rumo dos pensamentos; Tomada de decisões: Incapacidade de priorizar, julgamento prejudicado, problemas para seguir as atividades. Com algumas estratégias, é possível prevenir ou reduzir as ações impulsivas, a hiperatividade e auxiliar os pacientes a lidarem de uma forma mais saudável com os problemas e as questões do cotidiano (Basco; Rush, 2009). Diminuir o ritmo do processamento de pensamento: técnicas de relaxamento (meditação, ioga, mindfulness, massagem muscular ou estratégias informais) e reduzir os estímulos (internos e externos); Focalize: priorizar (restringir atividades, estabelecer limites e organizar as ideias), estabelecer metas, escolher uma atividade por vez; Estruture o pensamento: redução da lista mental (revisar aspectos do dia a fim de evitar ruminações), Solução de problemas (identificar o problema, levantar riscos e benefícios, possíveis estratégias, plano de ação), tomada de decisões, 10 lista de vantagens e desvantagens, regra das 24 horas (período de reflexão entre pensamentos e ações). TEMA 4 – GERENCIAMENTO DO ESTRESSE E DOS PROBLEMAS PSICOSSOCIAIS É sabido que o estresse ajuda a suscitar sintomas no transtorno de humor (Barlow, 2016) e que os eventos da vida estão intimamente relacionados às recaídas, tanto nos episódios depressivos quanto nos episódios maníacos (Johnson, 2005). Assim, a prevenção a recorrências e recaídas é, em parte, alcançada por meio do controle do estresse, por meio da prevenção, do gerenciamento de situações inevitáveis e na intervenção de episódios agudos de estresse (Basco; Rush, 2009). De acordo com Berk (2011), os pacientes com TB têm uma sensibilidade às mudanças e a interações estressantes, o que favorece as recorrências e recaídas. Nesse contexto, os conflitos familiares e os relacionamentos interpessoais podem ser precursores de novos episódios ou do agravamento da doença. Assim, o estresse causado por problemas psicossociais, quer seja no âmbito familiar, trabalho, saúde, finanças, exacerba os sintomas como concentração, fadiga, irritabilidade, distração, que, por sua vez, agravam mais ainda a capacidade de lidar de forma mais eficaz com a situação (Basco; Rush, 2009) As interações individuais negativas não podem ser eliminadas por completo, mas podem se tornar mais funcionais e saudáveis por meio de técnicas de comunicação e treinamento de habilidades para a solução de problemas (Barlow, 2016). A técnica de solução de problemas é bastante utilizada no tratamento e pode ser útil em diversos momentos da doença, podendo ser aplicada para lidar com as consequências de um episódio grave (reparar papéis profissionais e sociais, prejuízos financeiros) em situações estressoras (conflitos em relações e situações de vida) ou mesmo para atenuar a constante dificuldade desses pacientes em estabelecer uma rotina regular, favorável a um bom prognóstico (Gomes, 2010) Knapp (2004) aponta alguns passos para se desenvolver essa técnica: Identificar e especificar o problema, gerar possíveis soluções, avaliar as consequências das possíveis soluções, escolher e colocar em prática a solução aparentemente mais adequada, avaliar os resultados e, se necessário, promover modificações. Desenvolver habilidades de comunicação é fundamental para reduzir o estresse vivido por esses pacientes em diversos ambientes, como visto, diminuindo a probabilidade de novos episódios. O treinamento para a melhora da comunicação, da assertividade e da escuta ativa, incluindo técnicas como a dramatização, ensaio 11 cognitivo, inversão de papéis, pode ser útil para promover estas habilidades e auxiliar o paciente a expressar de forma mais adequada os seus pensamentos e sentimentos, ouvir o outro de forma mais empática e ter comportamentos mais assertivos frente às situações adversas. TEMA 5 – ESTUDO DE CASO Dados gerais: Sexo: feminino / Idade: 31 anos / Escolaridade: superior Completo / Profissão: bancária / Estado civil: solteira / Religião: católica / Outros profissionais que atendem a paciente: psiquiatra (em uso de Sertralina) Motivo da busca de atendimento: sintomas depressivos recorrentes (tristeza, anedonia, ansiedade, oscilações de humor, alterações no sono, pesadelos, sentimento de vazio, timidez). História atual: trabalhou em banco por dez anos e, no momento, busca recolocar-se no mercado de trabalho. Mora com a mãe, pai e irmão mais novo. Por conta de sua retração, não tem qualidade em seus relacionamentos interpessoais. História passada: aos 8 anos de idade aproximadamente, abuso sexual por parte do tio paterno. Pai com perfil crítico e exigente, com aparente transtorno de humor não tratado. Mãe, com histórico de tratamento devido a crises de pânico, faz uso de antidepressivo. Irmão faz uso de medicação, devido a sintomas de ansiedade e humor. Tratamentos anteriores: realizou tratamento psiquiátrico na adolescência devido a quadro de anorexia. Desde então, uso de medicação. Algumas tentativas anteriores de tratamento psicológico sem sucesso. Diagnostico ateórico: transtorno de estresse pós-traumático/transtorno de humor bipolar. Diagnóstico teórico/tríade cognitiva Self: “Sou um lixo, diferente, culpada, um atrapalho”; Mundo: “normais”, privilegiados, críticos, abusadores e rejeitadores; Futuro: desesperança, incerteza e solidão. Plano de tratamento Objetivos e metas: inicialmente, remissão dos sintomas depressivos, melhora do relacionamento com pai e interpessoais. Após mais informações, atenuar trauma do abuso e estabilidade quanto ao transtorno bipolar; 12 Intervenções: avaliação, psicoeducação do modelo cognitivo e do transtorno, conceitualização cognitiva compartilhada, programação de atividades, prescrição de tarefas graduais e de domínio e prazer, RPD, Seta descendente, reatribuição cognitiva (torta de responsabilidades), resolução de problemas, ensaio cognitivo, imagens mentais, cartões de enfrentamento, reestruturação cognitiva, gráfico da vida, planilha de resumo de sintomas, monitoramento do humor; Pontos fortes e recursos: bom vínculo com terapeuta, comprometimento com o tratamento psicoterápico; Obstáculos: falta de comunicação com o psiquiatra, resistência quanto ao diagnóstico. Saiba mais BASCO, M. R. Vencendo o transtorno bipolar com terapia cognitivo- comportamental. Tratamentos que funcionam: manual do paciente. Porto Alegre: Artmed, 2009. 13 REFERÊNCIAS BARLOW, D. H. Manual clínico dos transtornos psicológicos: tratamento passo a passo. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. BASCO, M. R.; RUSH, J. A. Terapia cognitivo-comportamental para transtorno bipolar. Tratamentos que funcionam: guia do terapeuta. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. BECK, A. T. Cognitive therapy and the emotional disorders.New York: International Universities Press, 1976 BECK A. T. et al. Cognitive therapy of depression. New York: Guilford Press; 1979. BERK, L. Guia de cuidadores de pessoas com transtorno bipolar. São Paulo: Segmento Farma, 2011. COLOM, F.; VIETA, E. A perspective on the use of psychoeducation, cognitive- behavioral therapy and interpersonal therapy for bipolar patients. Bipolar Disorder, v. 6. n. 6, p. 480-6, 2004. FIGUEIREDO, A. L. et al. O uso da psicoeducação no tratamento do transtorno bipolar. 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