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VÍdeo aula 1 Apresentação da disciplina de Teorias do Currículo O objetivo da disciplina é familiarizar os estudantes com as diferentes teorias do currículo, que são perspectivas e abordagens distintas sobre como a prática pedagógica e a organização curricular acontecem nas escolas Os principais objetivos da disciplina são: • Conhecer as teorias do currículo: Entender como as diferentes teorias moldam a ação pedagógica e a organização curricular nas escolas. • Identificar as transformações sociais que impactaram as teorias curriculares: Estudar como as teorias do currículo foram modificadas ao longo do tempo, de acordo com as mudanças na sociedade. • Compreender as teorias tradicionais, críticas e pós-críticas do currículo: Analisar as abordagens curriculares que têm diferentes perspectivas em relação à transformação da sociedade e ao propósito da educação. • Estudar as políticas curriculares: Investigar como os documentos curriculares são elaborados e implementados, incluindo as diretrizes curriculares nacionais, a base nacional comum curricular e o currículo paulista. • Compreender o projeto político-pedagógico: Entender o papel e a função desse documento como um guia para a prática curricular da escola. O professor, durante as aulas, pretende explorar as teorias tradicionais, críticas e pós-críticas do currículo, fornecendo aos estudantes referenciais contemporâneos para refletirem sobre suas futuras práticas como professores e compreender como as políticas curriculares afetam a educação A disciplina terá uma duração de oito semanas, com uma carga horária de 80 horas, e incluirá fóruns, atividades avaliativas, exercícios e outras atividades variadas. Vídeo aula 2 O vídeo apresenta uma discussão sobre o currículo, sua história e concepções. O objetivo da videoaula 2, é conhecer as diferentes teorias curriculares, identificar as transformações sociais que influenciaram essas teorias e compreender como as políticas curriculares operam. Definição de currículo O currículo é definido como um percurso, um programa, uma pista de corrida, que sempre foi considerado como um conjunto de conhecimentos a serem ensinados. Desde a idade média, nas escolas jesuítas, o currículo era dividido em duas partes: o trivium (gramática, retórica e dialética) e o cuadrivium (astronomia, geometria, aritmética e música). Ao longo do tempo, o currículo foi se tornando mais organizado e distribuído em anos e conteúdos, seguindo uma ordem sequenciada externa, influenciada pelo processo de planejamento industrial. O conceito de currículo como conteúdo também é abordado. Hoje em dia, entende-se que o conteúdo não é apenas um conhecimento pronto e imutável, mas sim uma construção social, resultado de embates e disputas políticas. O currículo é uma tradição inventada e não é neutro, universal ou imóvel. Ele é uma opção política e está a serviço de determinados interesses. O professor, durante a aula, destaca a importância de compreender que o currículo é um processo, uma interpretação do professor e dos alunos, e não apenas uma lista de objetivos e atividades a serem cumpridos. O professor e a professora são autores do currículo, selecionando as práticas que serão realizadas e interpretando as propostas curriculares a partir de sua formação e experiência. Além disso, o currículo é visto como um texto da cultura, uma produção da linguagem que traz efeitos reais na prática educacional, embora nem sempre todos esses efeitos possam ser comprovados. Por fim, o currículo é considerado como um território contestado, resultado de embates e disputas de valorizações. Os currículos de ciências são citados como exemplo de como os conhecimentos ensinados na escola são resultados de lutas políticas e mudanças históricas. Em resumo o professor, na vídeo aula, explora diferentes concepções de currículo, desde sua origem como um programa de ensino até sua compreensão contemporânea como uma construção social e política, enfatizando o papel do professor como autor do currículo e o caráter contestado e dinâmico do currículo ao longo do tempo. Texto base Oque é currículo O currículo é um conceito complexo que pode ser percebido de forma contraditória. Por um lado, é visto como algo óbvio e evidente, representando aquilo que um aluno estuda e aprende. Por outro lado, quando exploramos suas origens, implicações e os agentes envolvidos, percebemos que envolve diversas dimensões e dilemas que demandam posicionamento. A palavra "currículo" deriva do termo latino "curriculum", que originalmente significava "carreira" ou "percurso". Na Roma Antiga, referia-se ao "cursus honorum", a soma das honras acumuladas por um cidadão ao ocupar cargos eletivos e judiciais. Em nosso idioma, o termo possui dois sentidos: refere-se ao percurso profissional e suas conquistas (currículo vitae ou curriculum vitae) e também se relaciona à trajetória educacional do estudante, ou seja, os conteúdos que ele deve aprender e sua organização. Assim, o currículo possui a potencialidade reguladora de definir o que deve ser ensinado e aprendido pelos alunos em um contexto educacional. No entanto, seu entendimento é mais complexo, pois envolve várias dimensões e situações que exigem reflexão e posicionamento por parte dos envolvidos no processo educativo. Origem do currículo O conceito de currículo tem origens antigas e remonta à ideia de um território demarcado e regulado de conhecimento que professores e centros de educação deveriam cobrir. Inicialmente, na Idade Média, o currículo era composto pelo "trivium" (Gramática, Retórica e Dialética) e o "cuadrivium" (Astronomia, Geometria, Aritmética e Música). Essas categorias classificavam o conhecimento em disciplinas instrumentais e práticas. O currículo surgiu como uma seleção organizada dos conteúdos a serem ensinados, e sua função era ordenar e unificar o processo de ensino e aprendizagem. Ele determinava o que seria ensinado e aprendido, proporcionando coerência vertical ao desenvolvimento educacional. Com o tempo, o currículo se tornou um importante regulador da organização do ensino, estabelecendo níveis de exigência para cada grau escolar e associando conteúdos às idades dos estudantes. Sua incorporação na educação seguiu os pressupostos eficientistas da sociedade, buscando introduzir uma ordem intermediária por meio de unidades de tempo menores dentro da escolaridade total. Isso resultou em um controle externo sobre o ensino e aprendizagem, definindo a estrutura e sequência do processo educacional. Em suma, o currículo é um conceito que evoluiu ao longo do tempo, passando de uma seleção de conteúdos organizados a uma estrutura reguladora do ensino e aprendizagem, influenciando diretamente a escolarização e o desenvolvimento dos estudantes. O conceito de currículo desempenha um papel fundamental na escolarização moderna, proporcionando uma ordem e regulação dos conteúdos de ensino e aprendizagem. Ao longo da história, ele se associou a outros conceitos, como classe, grau e método, formando um dispositivo para a normalização do que deve ser ensinado e como deve ser ensinado. O agrupamento dos alunos em classes facilita o controle e a organização da diversidade dos estudantes. O método pedagógico estrutura uma sequência ordenada de atividades que podem ser repetidas. A adoção da ideia de curso ou grau estabelece a regulação do tempo total da escolaridade em etapas sucessivas e ordenadas. O conceito de currículo apareceu tardiamente no contexto educacional, mas sua presença e utilização aumentaram significativamente desde a década de 1990. Isso se deve a fatores como a influência de produções científicas em inglês traduzidas para o espanhol, contatos internacionais de acadêmicos e a adoção do termo pelas legislações e autoridades educacionais. Ocurrículo tornou-se crucial para entender a escolaridade em massa, pois sua aplicação é essencial para garantir a igualdade de oportunidades educacionais. Ele desempenha um papel relevante na prática escolar e também tem implicações na sociedade em geral. Resumindo, o conceito de currículo desempenha um papel central na organização e regulação do ensino e aprendizagem na escolaridade moderna, sendo essencial para compreender a prática educacional e suas implicações sociais. O currículo: Recipiente não neutro dos conteúdos O currículo é um instrumento regulador que molda a escolarização e práticas pedagógicas, transmitindo e impondo regras e normas que determinam o processo de ensino e aprendizagem. Ele exerce poder regulador sobre diversos aspectos, como o momento da aprendizagem, os conhecimentos adquiridos, as atividades possíveis, os processos desencadeados e o ritmo da progressão. Os conteúdos do currículo estão sujeitos a essa rede de determinações, e é nela que adquirem sua real importância na prática educacional. A cultura constituída pelos conteúdos do currículo é uma construção peculiar A cultura incorporada nos conteúdos curriculares é uma construção peculiar, selecionada, ordenada e lecionada de forma especial. Ela é "curricularizada" e adquire significado específico dentro do contexto escolar, constituindo o conhecimento escolar. O ensino não transmite conhecimentos de forma abstrata, mas os modela de acordo com os usos e contextos escolares, resultando em processos culturais de mediação específicos. O conhecimento ensinado em determinado tema não é simplesmente uma informação sobre a Terra, por exemplo, mas é moldado pelos códigos que estruturam o currículo. Observe a tabela abaixo: O conhecimento escolar é diferente do conhecimento adquirido fora do contexto escolar. A cultura escolar é uma construção peculiar que seleciona, ordena, empacota, leciona e comprova o conhecimento de maneira específica, moldando-o de acordo com os usos e contextos da escola. Essa cultura é intermediada por agentes como os professores e os materiais didáticos, resultando no conhecimento escolar transmitido aos alunos. A intermediação didática desempenha um papel crucial na transformação do conhecimento em saber escolar, sendo os professores e os materiais didáticos os mediadores imediatos. Além disso, existem tradições e políticas editoriais que também influenciam essa intermediação. A mudança significativa na cultura escolar só será possível se os mecanismos de intermediação didática forem alterados. As dimensões estruturantes do currículo, que moldam a cultura escolar, são frequentemente implícitas e invisíveis para os profissionais da educação. Elas se originam das forças da tradição, cristalizando-se no habitus dos professores e em diversas práticas institucionais e regulamentos. Essas dimensões estruturantes têm um poder significativo na organização do ensino e da aprendizagem. Para promover mudanças significativas na cultura da escolaridade, é essencial considerar essas dimensões estruturantes e a intermediação didática, buscando orientar a ação pedagógica para uma direção mais adequada e consciente. O currículo é tratado como um conjunto de conteúdos, regras e objetivos que moldam a experiência educacional dos alunos. O autor destaca que o currículo não é algo fixo, neutro ou universal, mas sim uma construção que reflete decisões e opções feitas por indivíduos e instituições, influenciadas por interesses, valores e visões de sociedade. O currículo é visto como um território controverso e conflituoso, uma vez que diferentes grupos e atores sociais têm interesses diversos em relação ao que deve ser ensinado e aprendido nas escolas. Isso implica em avaliar o sentido e o valor das escolhas feitas no currículo e compreender o impacto que essas escolhas têm sobre os indivíduos e a sociedade como um todo. O texto também ressalta a importância de ir além dos conteúdos tradicionais do currículo, como gramática e disciplinas específicas, e considerar os objetivos educacionais mais amplos. O currículo é visto como expressão de um projeto cultural e educacional, refletindo valores e aspirações da sociedade. No entanto, muitas vezes, o currículo idealizado não se alinha completamente com a realidade educacional, gerando conflitos e desafios na implementação prática.Além disso, o autor enfatiza que a educação é um impulso humano baseado em desejos e aspirações de melhoria, tanto pessoal quanto social. O currículo é visto como uma ferramenta para alcançar esses objetivos e promover o desenvolvimento humano e social. Em suma, o texto destaca a complexidade do currículo educacional, sua natureza reguladora e o impacto de suas escolhas sobre indivíduos e sociedade. Ele ressalta a importância de considerar não apenas os conteúdos, mas também os objetivos educacionais mais amplos ao pensar em currículos significativos e efetivos. O currículo, segundo a visão de Bernstein (1988), é mais abrangente do que tradicionalmente considerado, pois engloba tudo o que ocupa o tempo escolar, incluindo não apenas os conteúdos acadêmicos, mas também aspectos relacionados à educação moral, formação de atitudes, sensibilidades e preparo para entender o mundo. O objetivo da educação é servir para o desenvolvimento integral do ser humano como indivíduo e cidadão, abrangendo sua mente, corpo e sensibilidade. Para concretizar esses objetivos, é necessário ir além da cultura acadêmica tradicional e desenvolver um currículo expresso em um texto abrangente, contemplando toda a complexidade dos fins educacionais. Isso implica em evitar a visão reducionista que limita o currículo ao ensino de conteúdos específicos, e reconhecer que os objetivos educacionais são mais amplos e fundamentais. Os fins educacionais incluem a ampliação das possibilidades e referências vitais dos indivíduos, a formação de cidadãos solidários, colaborativos e responsáveis, a promoção de tolerância, o desenvolvimento da racionalidade nas relações com os outros e no entendimento do mundo, a consciência da complexidade e diversidade do mundo, e a capacitação para a tomada democrática de decisões. Esses objetivos devem ser perseguidos na prática educativa, não se limitando apenas a constar no texto curricular, e são considerados direitos dos alunos que devem ser cumpridos pelos professores. O currículo, portanto, deve abranger e promover a formação integral dos estudantes, indo além do mero ensino de conteúdos acadêmicos. O currículo é reconhecido no processo de seu desenvolvimento O texto aborda a perspectiva processual do currículo, enfatizando três elementos interconectados, mas distintos: os objetivos e metas do currículo (fins), as práticas e métodos de ensino (ações) e os efeitos reais que essas ações provocam nos alunos (resultados). Cada um desses aspectos pertence a uma ordem de realidade diferente. Os objetivos e metas do currículo são explicitados no texto curricular e nos projetos educacionais. As práticas de ensino, por sua vez, representam o desenvolvimento do currículo, como a música que emerge a partir da partitura. É na interação entre os professores e os alunos que ocorre a influência mútua, criando significados subjacentes para quem ensina e para quem aprende. Os resultados reais da aprendizagem são subjetivos e não diretamente visíveis, necessitando de inferências por meio de observações e manifestações dos alunos, como provas de avaliação. Apesar de haver uma relação entre os objetivos do currículo e os resultados da aprendizagem, eles não são simétricos e podem variar consideravelmente. Essa visão processual do currículo reconhece que o currículo oficial proposto pode sofrer alterações significativas quando interpretado e adotado pelos professores na prática. Os materiais curriculares também exercem um papelimportante na tradução do currículo em ações concretas. Em resumo, o currículo é compreendido como um processo dinâmico, onde os objetivos e metas se relacionam com as práticas de ensino, culminando em efeitos reais na aprendizagem dos alunos. Essa abordagem destaca a importância da interação entre professores e estudantes na construção dos significados e na implementação efetiva do currículo. O texto aborda a complexidade do currículo e sua implementação na prática. São apresentados diferentes planos do currículo, incluindo o currículo realizado em práticas concretas com sujeitos específicos, o currículo que corresponde aos efeitos reais da educação nos alunos e o currículo expresso nos resultados educacionais comprováveis. Esses planos podem não se corresponder exatamente e destacam-se as implicações disso para compreender a aprendizagem. A visão processual do currículo enfatiza que os objetivos e intenções declaradas no texto curricular nem sempre se refletem exatamente nas práticas de ensino e nos resultados da aprendizagem. É importante olhar para a experiência do aprendiz e como os efeitos do ensino são reproduzidos e produzidos nos receptores do currículo. Isso requer uma abordagem centrada no aprendiz, valorizando os resultados reais da aprendizagem, e não apenas as intenções do ensino. O texto também menciona a importância do texto curricular, que dissemina os códigos sobre o que deve ser a cultura nas escolas, tornando-os públicos. No entanto, reconhece a separação entre a prescrição de conteúdos no currículo e sua organização pedagógica para provocar a experiência de aprendizagem. Em relação aos conteúdos culturais do currículo, o texto destaca que as escolhas sobre eles têm implicações sobre o papel da escolarização nas sociedades, a responsabilidade da instituição escolar perante a cultura, a capacitação dos cidadãos e a divisão do capital cultural entre os grupos sociais. Há polêmicas em torno desses conteúdos, com contraposições entre abordagens progressistas e conservadoras, mas é essencial diferenciar as formas culturais como conhecimento cultural e a cultura que elas representam. Resumindo, o texto ressalta a importância de considerar os efeitos reais da educação na aprendizagem dos alunos, além das intenções e propostas do currículo, e enfatiza a relevância do texto curricular e da seleção de conteúdos culturais, reconhecendo as complexidades e desafios envolvidos na prática educacional. O texto nos mostra que o currículo atual enfrenta desafios e incertezas devido à diversidade cultural e social da sociedade. A cultura escolar reflete conflitos e polêmicas relacionados aos conteúdos a serem ensinados, e não há consensos fáceis sobre como abordá-los. A natureza aberta e dinâmica da sociedade e da cultura exige respostas flexíveis e diálogo no âmbito educacional. A ideia de um currículo assepticamente consensual é questionada, e a introdução de debates e controvérsias nos conteúdos poderia enriquecer a educação. A pluralidade de fins da educação, a ampliação de valores e a universalização da escolaridade criam desafios para atender às necessidades e aspirações de um público diversificado. A educação inclusiva, que visa misturar diferentes grupos sociais, requer um processo de diálogo político e social para definir quais conteúdos serão compartilhados. O conhecimento escolar não é homogêneo, pois historicamente diferentes níveis educacionais atendiam a públicos distintos. A busca por uma cultura comum a uma sociedade heterogênea revela conflitos culturais, exigindo uma reflexão sobre quais conteúdos devem ser ensinados. O texto enfatiza que o currículo está sujeito a incertezas e debates contínuos devido à diversidade cultural e social da sociedade atual. A busca por consensos é complexa, mas o diálogo é essencial para encontrar respostas flexíveis e adequadas para a educação. O texto aborda a importância da experiência pedagógica e da ação didática como mediadoras do encontro entre um sujeito que busca aprender e outro que detém o conteúdo ou habilidades a serem ensinadas. O objetivo desse encontro é transformar e enriquecer as funções e capacidades do sujeito, promovendo a aprendizagem. Para que a aprendizagem seja frutífera, o conteúdo deve ser significativo, relevante e desafiador. O encontro entre o sujeito e o conteúdo deve ser adequadamente mediado e motivador para alcançar esses resultados desejados. Os processos de aprendizagem resultantes desse contato são valorizados de maneira diferente, dependendo da orientação educativa adotada e das visões individuais sobre o que é desejável e possível em termos educacionais. O texto traz a diversidade de perspectivas em relação aos processos internos da aprendizagem e seus resultados no currículo educacional. Esses processos são denominados de diferentes maneiras, como a aquisição de habilidades, reflexão crítica, assimilação cultural, entre outros. Há diferentes abordagens em relação ao valor dos conteúdos curriculares, desde uma visão tradicional que os considera como verdades inquestionáveis até uma perspectiva construtivista que os vê como elementos que interagem e se relacionam com a experiência prévia dos alunos. A crítica progressista ao academicismo e a ênfase na aprendizagem como um processo de construção de significados são mencionadas, ressaltando que os conteúdos escolares devem ser selecionados e organizados considerando a experiência prévia dos alunos. No entanto, essa abordagem também é vista como tendo efeitos contraditórios e desintegradores. Além disso, o texto destaca a mudança epistemológica em relação ao conhecimento, no qual o saber é valorizado pela sua utilidade prática na produção industrial e na sociedade pós-industrial. Isso levou à vocacionalização dos currículos, com ênfase em saberes aplicados em detrimento das humanidades e ciências sociais. Em geral, o texto apresenta uma análise crítica das diversas abordagens em relação aos processos de aprendizagem, conteúdos curriculares e sua utilidade prática, apontando para a necessidade de considerar diferentes perspectivas para a construção de um currículo educacional mais relevante e significativo. O texto aborda a crítica frequente ao sistema educacional em relação ao desajuste da escola em relação ao mercado de trabalho. Com o aumento do desemprego e a restrição do mercado de trabalho, a pressão sobre a educação aumenta para se ajustar às necessidades do mercado. No entanto, há vozes alarmistas que questionam a ideia de progresso técnico-científico, devido às desigualdades sociais, à degradação ambiental e a outros problemas relacionados à tecnologia e ciência. No texto autor ressalta a necessidade de buscar outras formas de conhecimento escolar, resgatando o sentido da formação geral e revisando a racionalidade baseada na cultura erudita. A crise do conceito de formação laboral específica para postos de trabalho em constante mudança torna difícil um ajuste perfeito entre conhecimentos e tarefas. Além disso, o vocacionismo pode reforçar desigualdades sociais. O autor enfatiza a importância de abordagens interdisciplinares e mais holísticas na discussão do currículo, superando visões burocráticas e se apoiando em pesquisas sociológicas, históricas e críticas sobre o tema. A busca por esclarecer as ideias básicas sobre o currículo é vista como um objetivo essencial para avançar nesse campo de pesquisa. O autor também menciona uma obra anterior que aborda mais detalhadamente o tema do currículo. NOTAS 1 Primeira aparição conhecida do termo curriculum, em uma versão de Professio Regia, de Peter Ramus, publicada como obra póstuma por Thomas Fregius da Basileia, em 1575. (Biblioteca da Universidade de Glasgow). O Oxford English Dictionary indica os registros da Universidade de Glasgow de 1633 como a primeirafonte do termo curriculum.A presença progressiva do termo currículo nas sucessivas leis educacionais espanholas nos indica como o novo conceito foi incorporado. A Lei Geral de Educação de 1970 não chega a mencionar nenhum desses dois termos, enquanto a Lei de Ordenamento Geral do Sistema Educacional Espanhol (LOGSE) de 1990 o faz três vezes e a Lei Orgânica da Educação (LOE) de 2006 o menciona um total de seis vezes. 2 A acepção moderna de “classe” aparece em 1509, nos estatutos do Colégio de Montaigu, em Paris, em cujo programa se encontra pela primeira vez a divisão em classes. 3 Unidades que também denominamos de anos, termo que designa conteúdos em períodos de tempo que geralmente correspondem ao ano letivo. 4 Para Bourdieeu, o habitus é uma estrutura estruturada e estruturante, um sistema de disposições duradouras que os indivíduos interiorizam, organizando as práticas e a percepção destas. São sistemas de esquemas geradores de práticas e representações da realidade. (La distinción. Madrid: Taurus, 1988.) 5 Um exemplo significativo da separação entre a tradição anglo-saxã e a nossa pode ser inferido do dado de que o eminente pedagogo espanhol Lorenzo Luzuriaga, ao traduzir, em 1944, obras tão significativas como The child and the curriculum, de Dewey, adotou o título El niño e el programa escolar. (Buenos Aires: Losada)De nossa parte, no começo da década de 1980, buscando modernizar o pensamento pedagógico por meio de sua abertura a correntes estrangeiras, tratamos de articular uma síntese entre as orientações de origem anglo-saxã, basicamente, com as tradições mais centro-europeias e meridionais e publicamos a obra Teoría de la enseñanza y desarrollo del currículum em 1981 (Salamanca: Anaya) na Espanha, que, alguns anos depois, foi publicada também em Buenos Aires.
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