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parvovirose INTRODUÇÃO O intestino delgado é um órgão que faz parte do processo digestivo, enzimático e é especializado em fazer absorção de nutrientes. O intestino apresenta as seguintes especializações que aumentam a superfície de contato (melhora a absorção): -Vilosidades intestinais; -Microvilosidades. As vilosidades são divididas em: -Cristas intestinais: região que está mais em contato com o bolo alimentar. Consequentemente é mais agredida e desgastada. -Criptas intestinais: é um local mais profundo, formado por células em alta taxa de mitose que promovem a renovação de todo o epitélio intestinal. -Plexo mioentérico O intestino se alto regula em termos de contração da musculatura através do plexo nervoso miontérico. Apesar da autonomia o plexo mioentérico, é supervisionado e alterado de acordo com a ação do sistema nervoso autônomo (parassimpático) Caso haja uma agressão na mucosa intestinal, o plexo mioentérico é irritado, consequentemente ele reage aumentando o peristaltismo. O aumento do peristaltismo tem o intuito de eliminar rapidamente o conteúdo presente na luz do órgão. Consequentemente temos um quadro de diarreia. Além disso também podemos ter um retroperistaltismo, que faz com que o animal desenvolva um quadro de vômito. -Tropismo do Vírus O vírus da parvovirose tem tropismo por células de alta taxa de mitose, desta forma ele parasita as criptas intestinais. ETIOLOGIA A parvovirose é causada pelo parvovírus canino tipo 2b ou 2c. Principais características: -Seu material genético é o DNA de fita simples; - É um vírus não envelopado; - Apresenta formato esférico; - Apresenta simetria icosaédrica; - Seu tamanho varia de 18 a 26 nanômetros (parvo =pequeno) RESISTÊNCIA VIRAL Por ser um vírus sem envelope, ele é altamente resistente, principalmente a: -Alterações de temperatura: até 6 meses a 4 oC; -Solventes lipídicos e enzimas proteolíticas, em como a maioria dos desinfetantes. O parvovírus canino é sensível a: -Hipoclorito de sódio 1:30 (principal utilizado na clínica e em casas); -Formalina a 0.5%; -Solução de propiolactona; -Agentes oxidantes; -Radiação UV; -Hidroxilamina. REPLICAÇÃO VIRAL A replicação dos vírus ocorre no núcleo célula, desta forma formam corpúsculos de inclusão intracelular ou pseudocitoplasmático. Como ele não apresenta DNA polimerase para realizar o processo de duplicação do DNA, ele tem tropismo por células com alta taxa de mitose, onde se tem grande produção de DNA polimerase. Principais tecidos com altas taxas de replicação: -Criptas do intestino delgado; -Tecido linfoide: os neutrófilos são as células da medula com maior taxa de mitose, pois sua meia vida é muito curta. Leucopenia (neutrofilia e linfopenia); -Músculo cardíaco jovem: leva a miocardite, podendo ocasionar morte súbita em cães, muitas vezes sem apresentar diarreia. EPIDEMIOLOGIA É um vírus que está presente no mundo inteiro. A transmissão do parvovirus se dá melhor em épocas de calor, mesmo que o parvovírus seja mais resistente ao frio. As mutações nãos são muito frequentes, pois é um vírus DNA. Entretanto, quando ele sofre mutações ocorrem os surtos. Os cães de até 6 meses fazem parte do grupo de risco para parvovirose, porém pode acometer cães de qualquer idade (menos frequente). A incidência (filme) é maior que a prevalência (foto) por ser uma doença aguda. Algumas raças são mais susceptíveis à infecção e ao desenvolvimento da doença, são elas: -Rottweiler; -Dobermann pinscher. FATORES PREDISPONENTES Os principais fatores predisponentes são: -Idade; -Falta de imunidade protetora (maternal/vacinal): o animal que não recebeu anticorpo está exposto; -Parasitismo intestinal; -Condições ambientais insalubres; -Fator estresse. -PARASITISMO INTESTINAL O parasitismo causa dois problemas principais, são eles: -Desvio a resposta imunológica de Th1 para Th2; -Irritação da mucosa favorecendo o aumento da taxa de mitose. -Desvio de Th1 para Th2 A presença de parasitos intestinais mobiliza de forma intensa o sistema imune. Essa resposta é do tipo Th2, onde temos alta produção de IgE e mobilização de eosinófilos, basófilos e mastócitos. A intensa mobilização do sistema imune, na resposta contra helminto, deixa o animal mais vulnerável à parvo, pois não haverá uma resposta do tipo Th1 significativa. -Aumento da taxa de mitose Os helmintos causam irritação e desgaste das cristas intestinais., consequentemente estimula mais mitose nas criptas. O aumento da taxa de mitose nas criptas acaba favorecendo o parvovirus. -CONDIÇÕES INSALUBRES Animais em condições insalubres estão mais expostos a diferentes tipos de patógenos deixando o sistema imune sobrecarregado em combater diferentes origens de infecção. Desta forma, o animal não monta uma resposta direcionada quando infectado com o parvovírus, ficando mais susceptível ao desenvolvimento da doença. -FATOR ESTRESSE Animais que são colocados em situações estressantes liberam mais cortisol, o que suprime a resposta imunológica. O desmame brusco e antes do tempo (momento crítico) é extremamente estressante para o filhote. -Desmame correto: O desmame deve ser feito com 4 a 8 semanas e ele deverá ser feito de forma gradual. Primeiramente deve-se separar os filhotes da mãe, e 3 dias antes da adoção o filhote deverá permanecer em uma baia sozinho (sem os irmãos). IMUNIDADE O título de anti-CPV-2 maternos no neonato varia com: -Quantidade de colostro ingerido nas primeiras 72horas; -A quantidade (título) de anticorpo apresentada pela cadela (A mãe passa 50% do título de anticorpo para os filhotes); -Tamanho da ninhada. Normalmente, entre 10 a 14 semanas de idade os anticorpos maternos diminuem para níveis não protetores (são capazes de neutralizar o antígeno da vacina). MECANISMO DE INFECÇÃO -VIA DE INFECÇÃO Principais vias de infecção: -Fecal-oral (principal, podendo ser por vômito também); -Respiratória (inalação de partículas); -Transplacentária (sangue):pode causar desde aborto até miocardite (principal), hipoplasia cerebelar e hidrocefalia. -FONTES DE INFECÇÃO Temos: -Fezes (principal); -Vômito; -Fômites; -Água; -Alimentos contendo fezes contaminadas. -VIAS DE ELIMINAÇÃO A principal via de eliminação é a digestiva: -Fecal (principal); -Vômito. PATOGÊNESE Após o vírus penetrar pela via oral, ele inicia a replicação no tecido linfoide da orofaringe. Posteriormente atinge a correte sanguínea causando a 1a viremia transitória (pródomos: febre, falta de apetite, apatia – sutil e melhora) entre o 1 o e 5o dia após a infecção. Posteriormente o vírus é conduzido para outros tecidos com alta taxa de mitose. O CPV-2 liga-se aos receptores de tranferrina, presentes nas células em divisão ativa. Com 4 a 14 dias, após a infecção surge a segunda viremia com sinais clínicos específicos da doença. -LESÃO INTESTINAL A disseminação do vírus nas as criptas intestinais, causa lise celular, com necrose celular das células das criptas. Diante da morte das células das criptas, não ocorre a renovação das células das cristas intestinas, consequentemente ocorre sangramento e má absorção. Essas lesões geram o achatamento das vilosidades, que se apresentam com a lâmina própria exposta (piora mais a absorção e aumenta mais o peristaltismo). LESÕES CLASSICAS As lesões clássicas são: -Necrose e achatamento de vilosidades; -Necrose de tecidos linfoides; -Depleção de linfócitos são achados evidentes nas placas de Peyer, linfonodo, baço e timo (imunossupressão); -Miocárdio com infiltrado linfoplasmocitário (miocardite); -Eritema cutâneo (raramente); -Glossite, esofagite (neonatos); -Lesão em coxins (lesão em tegumento de neonatos). -LESÕES MACROSCÓPICAS As principais lesões macroscópicas são: -Gastroenterite hemorrágica, que pode ser necrosante; -Destacamento da mucosa (pedaços nas fezes); -Lesões podem estar por todo o TGI. SINAIS CLÍNICOS Os principais sinais clínicos são: - Diarreia; -Melena e/ou hematoquezia: como a diarreia é de ID, é comum a presença de sangue digerido. Com o aumento de peristaltismo, junto com a perda da capacidade digestiva, a diarreia pode ser comsangue vivo. -Febre; -Anorexia; -Prostração; -Imunossupressão por fazer leucopenia (neutropenia): predispões a infecções secundárias); -Vômitos; -Desidratação: o animal pode desenvolver acidose metabólica; -Hipoglicemia; -Palidez de mucosas (anemia); -Tríade neonatal: hipovolemia (por desidratação), hipoglicemia e hipotermia. -Dor abdominal; -Choque; ->Neurogênico: dor; ->Hipovolêmico: desidratação causada pela diarreia intensa; ->Distributivo: secundário a sepse; ->Cardiogênico: miocardite. -Morte súbita em neonatos com miocardite. O CPV também destrói mitoticamente precursores ativos de leucócitos circulantes e células linfoides. Nas infecções graves, os resultados costumam ser neutropenia e linfopenia. Infecções bacterianas secundárias por flora gram negativa e anaeróbica causam complicações adicionais relacionadas com dano intestinal, bacteriemia e entotoxemia, além de coagulação intravascular disseminada. -SEPSE BACTERIANA SECUNDÁRIA Nesses casos monta-se a síndrome da resposta inflamatória sistêmica devido à alta bacteremia, causando intensa vasodilatação, liberação de mediadores inflamatórios e hipotensão. A bacteremia cursa com endotoxemia e favorece as lesões vasculares, a vasculite intensa, e ativa substâncias pró-trombóticas podendo levar à CID. Com o consumo excessivo dos mecanismos da coagulação pela CID ocorre a coagulopatia de consumo e o organismo se encontra incapaz de conter as vasculites desenvolvendo hemorragia. DIAGNÓSTICO É baseado no: -Histórico; -Exame físico; -Hemograma: 85% dos casos tem leucopenia grave (neutropenia +, linfopenia); -Teste rápido: Elisa para CPV-2 em fezes (detecta 2b e 2c). Animais não diarreicos podem eliminar mais de 109 partículas virais por grama de fezes. TRATAMENTO É baseado na terapia suporte: -Antibiótico profilaxia (por conta do risco de translocação bacteriana); ->Cefazolina ou amoxilina + enrofloxacina; ->Risco de SEPSE: cefazolina ou amox + metronidazol + enro -Fluidoterapia (60 a 80 ml/kg/dia + perdas contínuas); -Correção de eletrólitos; -Correção da glicemia (adição de 2,5 a5% de dextrose aos fluidos); -Manutenção da pressão oncótica (soluções coloides); -Nutrição adequada (parenteral ou enteral); -Eliminação de outras causas de irritações intestinais (helmintos, dietas pesadas ou estranhas); ->Anti-helmínticos: evitar o estímulo à renovação epitelial. -Antieméticos e protetores gástricos; -Inibidor de bomba de prótons (omeprazol) e antiácidos; -Suporte de vida intensivo e monitoramento. -OUTRAS MEDIDAS Temos: -Interferon (alfa humano ou omêga felino): atua nos órgãos linfoides na orofaringe; -Imunoestimuladores: ->Acemannam (derivado da babosa); ->Levamisole; ->Echinacea; -Oseltamivir (Tamiflu); -Sulfato de zinco: melhora a resistência das mucosas; -Glutamina: melhora a resistência das mucosas; -Soro anti-parvovirus por via SC (Enteroglobulin); -Filgrastim (hiperestimulante de colônias de granulócitos): não recomenda, pois estimula a mitose em precursores de neutrófilos o que ajudaria o parvovirus. PROGNÓSTICO Se o animal é sintomático e recebe o tratamento adequado, o prognostico é favorável. Sem o tratamento, a letalidade é alta (prognóstico ruim). Em filhotes com miocardite prognóstico é ruim. PREVENÇÃO E PROFILAXIA -VACINAÇÃO A vacina atenuada é mais eficaz que a inativada. A primovacinação de filhotes pode ser com 3 ou 4 doses (melhor): -1a dose com 45 (mais utilizada) a 60 dias; -2a dose após 21 a 30 (mais utilizada) dias da 1a; -3a dose após 21 a 30 dias da 2a; -4a dose após 21 a 30 dias da 3a. Primovacinação de cães adultos: -1a dose; -1a dose: 30 dias após a 1a. A vacinação é feita com vírus recombinante atenuado e, portanto, ocorre replicação no hospedeiro e pode ocorrer reversão de virulência. Desta forma, o animal vacinado pode eliminar o vírus no ambiente, mesmo sem manifestar a doença. Caso uma cadela gestante, que se encontra imunologicamente debilitada (progesterona), entre em contato com o vírus ou receba a vacina, o vírus poderá migrar para a placenta e infectar os fetos. É contraindicado realizar a vacinação de animais contactantes com fêmeas gestantes ou neonatos, pois ocorre a eliminação do vírus nas fezes, podendo infectar ambos. -PROFILAXIA Deve-se realizar a higienização adequada ambiental com hipoclorito de sódio (solução 1:30) por 10 minutos no mínimo. Lembrando que antes deve-se remover a matéria orgânica com sabão. Realizar o vazio sanitário quando o método anterior não é possível. O tempo varia de acordo com o ambiente. Tomar cuidado ao manipular animais doentes para não propagar o vírus. Higiene e desinfecção de fômites. INFECÇÃO PELO CPV-1 Costuma causar infecções subclínicas (vírus de minuto do cão). Pode causar diarreia branda, pneumonia e miocardite. Pode relacionar-se com abortamentos, natimortalidade e neonatos que definham. Os corpúsculos de inclusão são semelhantes ao do CPV-2, porém são sorologicamente distinguíveis, porém é difícil de distinguir através do teste rápido e da PCR. coronavirose canina ETIOLOGIA Pertence ao gênero Alphcoronavirus e a família Coronaviridae (CVC). É um vírus RNA (são mais mutáveis que o DNA), com simetria helicoidal (corona = coroa). É um vírus envelopado (pouco resistente), consequentemente é inativado pela maioria dos detergentes e desinfetantes. Ele realiza a replicação no citoplasma da célula. As proteínas S (spike) da superfície viral atuam como receptores para penetração na célula alvo e também são alvos imunológicos. No processo de exocitose, as partículas virais ficam aderidas à membrana plasmática, consequentemente o sistema imune é ativado e as células são destruídas (lesões imunomediadas). Mesmo sendo um vírus envelopado, ele é capaz de chegar integro no intestino (não sofre ação no estomago). SUSCEPTIBILIDADE Os cães de todas as idades e raças são susceptíveis à infecção pelo CoVC. Filhotes possuem mais susceptibilidade e maior morbidade. A fase neonatal é mais crítica que o desmame, pois ainda não se tem produção de IgA. As raças mais predispostas são (apresentam o intestino mais frágil): -Doberman; -Labrador; -Pastor Alemão; -Pitbull; -Rottweiler. -VACINA O coronavírus não realiza migração pela via sanguínea e linfática, ou seja, ele permanece principalmente no TGI. A vacina estimula a produção das imunoglobulinas séricas IgM e IgG, como o vírus só é inativado por IgA (via enteral), a vacina é considerada ineficaz. A passagem de anticorpos durante a gestação não faz com que o animal esteja protegido, pois a IgA é adquirida com o tempo e pode estar presente no colostro. EPIDEMIOLOGIA É um vírus endêmico e com distribuição mundial (cosmopolita). Por conta de ser um vírus RNA, a chance de fazer mutação e causar surtos esporádicos de gastroenterites é grande. Tem maior frequência em canis e abrigos, pois caso tenha alta densidade demográfica a chance de transmissão aumenta. É uma doença altamente contagiosa (vírus altamente transmissível), porém se o animal já foi exposto previamente a ele, a produção de IgA irá neutralizará o vírus. O estresse predispõe. -PARVO + CORONA Quando a infecção de coronavirose ocorre juntamente com a parvovirose, a doença é grave e frequentemente fata para filhotes (prognostico ruim). O coronavírus promove um maior desgaste das cristas intestinais, consequentemente as células da cripta são estimuladas a se multiplicar (aumento da taxa de mitose). Com o aumento da taxa de mitose, o parvovirus se favorece e se prolifera ainda mais, consequentemente aumenta infecção da parvo e suas consequências. MECANISMO DE INFECÇÃO -FONTE DE INFECÇÂO As principais são: -Fezes de cães infectados; -Água e fômites contaminados com fezes. -VIA DE INFECÇÃO A principal via de infecção é a oral. -VIAS DE ELIMINAÇÃO A principal via de eliminação do vírus é a fecal. -PERÍODO DE INCUBAÇÃO O período de incubação da doença varia de 24 a 48 horas. PARVO X CORONA Na infecção pelo CPV-2 ocorrem a 1a viremia, nos primeiros 4 a 5 dias após a infecção. Essa viremia apresenta os seguintes sinais clínicosinespecíficos (pródomos). O animal apresenta melhora inesperada. 5 a 7 dias após a melhora inesperada, o animal inicia os sinais clínicos específicos da parvovirose: -Diarreia; -Vômito; -Melena; -Hematoquezia. No caso do coronavírus, de24 a48 horas após a infecção o animal já pode apresentar sinais clínicos. -PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE O período de transmissibilidade é de mais ou menos 2 semanas mesmo que o hospedeiro tenha ou não sinais clínicos. Hospedeiros assintomáticos podem eliminar o vírus (fonte de infecção). PATOGENIA Após a ingestão, o vírus passa pelo estômago, resistindo ao pH ácido e segue para o ID. O CVC infecta do duodeno até o íleo e replica-se nas células epiteliais das vilosidades (raramente chega a linfonodos mesentéricos, fígado e baço). Os sinais clínicos iniciam-se entre 1 a 4 dias após a infecção. O vírus é eliminado nas fezes do cão infectado. -DIARREIA OSMÓTICA Ocorre em principalmente em animais lactantes (neonatos). Quando o vírus ataca o terço apical das vilosidades, podendo levar a necrose e achatamento dos vilos. Causa irritação local e reduz a absorção. Além disso, a morte dessas células faz com que a produção de lactase diminua. Desta forma, ocorre uma concentração de lactose no lúmen intestinal do filhote, consequentemente atrai água para o lúmen (fezes liquidas). Quando se tem disponibilidade de lactose por falta de lactase, as bactérias intestinais realizam a fermentação da lactose. O produto da fermentação é o ácido lático que é extremamente irritativo (aumenta o peristaltismo). LESÕES MACROSCÓPICAS O ID encontra-se dilatado, o conteúdo é líquido e de coloração amarelo-alaranjada. A mucosa intestinal estará hiperêmica e em alguns casos hemorrágica. Ocorre necrose e achatamento do ápice das vilosidades e os linfonodos mesentéricos podem estar edemaciados. SINAIS CLÍNICOS Os principais sinais clínicos são: -Diarreia de início súbito e algumas vezes precedida por vômitos (aumento do peristaltismo); -Diarreia com coloração alaranjada, de odor desagradável e raramente contem sangue; -Presença de febre está relacionada a translocação bacteriana; -A leucopenia não costuma ser um achado; -Em casos graves, a diarreia pode se tornar aquosa e resultar em desidratação e desequilíbrio eletrolítico; -Fatores complicantes secundários tornam a recuperação mais prolongada; -Filhotes podem desenvolver a tríade neonatal (desidratação com hipotensão, hipoglicemia e hipotermia); -A maioria dos cães acometidos recuperam-se naturalmente com 8 a 10 dias. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito através do: -Histórico; -Exame físico; -Laboratorial: ->Hemograma sem leucopenia, na maioria das vezes (se não houver co-infecção); ->Diagnóstico laboratorial: microscopia eletrônica (partícula viral) e isolamento em cultura de células. Não são utilizados na rotina; ->RT-PCR: detecção do genoma viral -> O teste rápido (ELISA) é o mais utilizado na rotina. Ele busca o antígeno (deve ser feito com amostra de fezes, assim como o da parvovirose). A sorologia é pouco útil pois: - O CVC é amplamente disseminado entre a população canina e frequentemente causa infecções subclínicas; -Títulos elevados não necessariamente indicam infecção recente. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL TRATAMENTO Temos: -Redistribuição do equilíbrio hidroeletrolítico, através do tratamento suporte; -Controle de infecções bacterianas secundárias (probióticos) e parasitas concomitantes; -Considerações sobre diarreias PROGNÓSTICO No geral o prognostico é bom, porém para neonatos temos o prognostico reservado. Quando se tem a co-infecção de CVC e CVP-2 o prognostico é ruim. PREVENÇÃO E PROFILAXIA As vacinas inativadas, como a V8 e V10, o valor de proteção é controverso (IgM e IgG). As vacinas vivas atenuadas foram testadas, e tiveram ótimos resultados, pois ela é feita por via oral/intranasal e faz a estimulação da produção de IgA. Deve-se realizar a higienização adequada do ambiente (calor e/ou desinfetantes comuns). A importância do manejo adequado durante o as condições estressantes (desmame brusco e/ou antes do tempo, separação, etc). cinomose É uma doença infecciosa viral grave, multissistêmica (tropismo por diversos tecidos, principalmente epitelial e nervoso), frequentemente fatal e altamente contagiosa. Acomete os cães domésticos e vários animais silvestres. A mortalidade e letalidade em cães é alta, principalmente em animais com idade entre 2 a 6 meses. Apresenta relação antigênica com o vírus do Sarampo e o da Peste Bovina. Os anticorpos maternos anti-cinomose, começam a declinar com 4 a 5 semanas no neonato (predispõe a cinomose). Com 6 semanas esse animal já pode estra desprotegido. A vacinação inicia com 6 semanas por conta da cinomose, e termina com 16 semanas ou mais por conta do parvovirus. ETIOLOGIA Pertence a ordem Monegavirales, família Paramyxoviridae e gênero Morbilivirus. Principais características do vírus da cinomose canina (CDV): -Apresenta envelope (mais frágil); -Apresenta grande dimensões (150 a 270 nanômetros); -Apresenta cadeia com simetria helicoidal; -Seu material genético é o RNA; -É envolto por invólucro lipoproteico proveniente da célula hospedeira e com proteínas virais altamente imunogênicas. -Apresenta resistência a temperaturas próximas ou abaixo de zero; -É sensível às altas temperaturas, ao ressecamento, à maioria dos desinfetantes, detergentes, éter, clorofórmio e outros. O vírus é capaz de sobreviver no ambiente por cerca de 1h em secreções (37oC) e cerca de 3h no ambiente (25 oC). CICLO REPRODUTIVO O vírus utiliza as proteínas de superfície F (fusão do vírus com a membrana celular) e H (inserção que permite a internalização do vírus) para entrar no citoplasma das células e poder se replicar. Dentro do citoplasma forma-se um agregado de proteínas virais, denominado de corpúsculo de Sinegaglia Lentz. As proteínas do envelope se inserem em algum sistema de membrana (realizado pelo complexo de golgi) e irão coalescer na membrana da célula do hospedeiro, formando proteínas virais altamente imunogênicas (envelope). Por fim, temos o vírus promovendo a citólise imunomediada. Esse mecanismo é ocasionado por uma reação do próprio sistema imunológico (resposta citotóxica) contra as proteínas virais imunogênicas. EPIDEMIOLOGIA -SUSCEPTIBILIDADE EM CÃES OS filhotes de 3 a 6 meses e acima de 6 anos são mais susceptíveis. Porém, pode acometer cães de qualquer idade. Essa doença é mais grave na infância, e caso haja cura, pode deixar mais sequelas. A corticoterapia ou outras causas de imunossupressão podem deixar o animal mais susceptível. Os cães dolicocefálicos (pastor, collies, dobermman) são imunossuceptíveis ao vírus (menos resistente). -SUSCEPTIBILIDADE EM OUTRAS ESPÉCIES Vários animais são susceptíveis a vírus da cinomose, são eles: -Canidae: cães, raposas, dingos, coiotes, lobos e chacais; -Mustelidae: furões, visões, doninhas, martas, cangambás, texugos e lontras; -Procyonidae: guaxininx, juparás, quatis, panda pequeno; -Felidae: guepardos, leões, onça-pintada, maracajás, tigres e jaguatiricas; -Hyaenidae: hienas; -Viveridae: fossas, mangustos e civetas; -Ursidae: ursos e pandas. -DADOS EPIDEMIOLÓGICOS É uma doença com alta morbidade e mortalidade. Também apresenta elevada letalidade. As taxas são influenciadas por diversos fatores: -Cepa viral (vírus RNA muta muito); -Idade do cão (em filhotes é pior); -Status imunológico; -Raça (dolicocefálicos são mais susceptíveis); -Presença e natureza de comorbidades. TRANSMISSÃO -VIAS DE INFECÇÃO O animal vai se infecta via digestiva, respiratória, conjuntival ou genital. A transmissão pode ser classificada em: -Direta: ->Aerossóis (via respiratória); ->Coito (genital); ->Lambedura (via digestiva); ->Vertical (da mãe para os filhotes). -Indireta: ->Fômites (via oral); ->Água contaminada com secreções de animais doentes (via oral); ->Iatrogênica. -FONTES DE INFECÇÃO Compreendem o material biológico que contém o vírus. As principais fontes de infecção são: -Aerossóis; -Secreções oculares; -Secreçõesnasais; -Fezes; -Urina; -Sêmen. -VIAS DE ELIMINAÇÃO Temos: -Ocular; -Nasal; -Oral; -Digestiva; -Urogenital. -PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE Os hospedeiros assintomáticos são um problema, pois são difíceis de identificar e combater a infecção, enquanto isso continua eliminado o vírus silenciosamente. A eliminação do vírus pode perdurar até 90 dias após a infecção (há relatos de períodos mais longos). A taxa de infecção é maior que a taxa de morbidade, pois nem todos os animais que são infectados desenvolvem a doença. PATOGENIA As lesões podem ser ocasionadas por duas vias, são elas: -Via clássica; -Via alternativa. -VIA CLÁSSICA O vírus entra pela cavidade nasal, via aerossóis, e se replica nos tecidos linfoides da orofaringe (tonsilas e linfonodos retrofaríngeos). Os macrófagos na tentativa de apresentar o antígeno para os linfócitos, para que eles montem uma resposta, internalizam o vírus e os carregam pelo seguinte caminho: via linfática -> grandes vasos linfáticos torácicos -> veia cava -> coração. Após o chegar no coração, ocorre a distribuição desses vírus em diversos órgãos, como: -TGI: primeiro local que ele faz estragos, por isso os sinais mais precoces de cinomose são digestivos. Esse desequilíbrio pode ser sutil; -Olhos; -Epitélios; -Pele; -Trato respiratório. Após acometer o TGI ou ao mesmo tempo, o vírus acomete o trato respiratório, provocando: -Infecção dos epitélios, brônquios, traqueia, oro e nasofaringe; -Pneumonia intersticial (é típica da cinomose). O acesso do vírus ao SNC ocorre via sanguínea, fazendo uma infecção perivascular nos pequenos vasos cerebrais. Isso permite que o vírus migre do meio intra para o extravascular. Após entrar no espaço extravascular, o vírus provoca uma infecção periventricular (ventrículos cerebrais). Posteriormente o vírus chega ao tecido nervoso e instala a encefalite, onde os sinais neurológicos aparecem. -Infecção sistêmica Após 24 da infecção, o vírus replica-se nos macrófagos do epitélio respiratório e segue para as tonsilas e LN retro faríngeos. De 2 a 4 dias ocorre um aumento do número de vírus nos macrófagos e tonsilas e diminui o número de células nos demais órgãos linfoides. De 4 a 6 dias ocorre a multiplicação do vírus nos folículos linfoides do baço, nas células de Kupffer (fígado), no MALT do estômago e intestino delgado e nos LN mesentéricos. Entre 3 e 6 dias ocorre febre e leucopenia (pródromos). -Imunossupressão Uma vez que a viremia se inicia, as células mononucleares são o alvo direto destes vírus: -As moléculas do SLAM (molécula sinalizadora na ativação linfocitária) serão afetadas; -Disseminação facilitada em células do sistema imune; -Causa citolise imunomediada dessas células também; -Inibe a produção de interferon e da citocina antiviral das células linfoides. Com a queda da imunidade, o animal ficará susceptível a outras doenças oportunistas (toxoplasmose, parvovirose, erlichiose). -VIA ALTERNATIVA O vírus entra pela cavidade nasal, via aerossóis, e se replica nos tecidos linfoides locais. Posteriormente o vírus pode seguir o seguinte caminho: vias nasais -> lâmina cribriforme -> nervo olfatório -> bulbo olfatório. Após chegar ao SNC, o vírus provoca a encefalite, onde os sinais neurológicos aparecem. Nesse caso o animal chegará apresentando sinais neurológicos sem nunca ter desenvolvido outros sinais clínicos (diarreia, secreções oculares e nasais, pneumonia intersticial). -DESMIELINIZAÇÃO A desmielinização dos neurônios ocorre por conta do vírus se replicar em células do SNC, principalmente os oligodendrócitos que são responsáveis por manter a bainha de mielina intacta. A mioclonia (espasmos ou tremores involuntários dos músculos) é um sinal muito característico de desmielinização. -Encefalomielite imunomediada A ativação dos astrócitos, reflexa a destruição dos oligodendócitos e desmielinização, gera um processo inflamatório neuronal. Esse processo inflamatório neuronal leva a vasodilatação, consequentemente provoca edema e aumenta a entrada do vírus no SNC. SINAIS CLÍNICOS -PRÓDROMOS Os principais sinais inespecíficos são: -Febre (viremia); -Anorexia (o animal não come por estar afetado por uma doença sistêmica); -Secreção nasala e ocular serosa (pode ser que o vírus esteja replicando no local, etc); -Sinais TGI (diarreia). -SINAIS EXPRESSIVOS Temos: -Sinais mais graves no TGI; -Secreção ocular e nasal purulenta (destruição do epitélio e infecção bacteriana secundária); -Sinusite, bronquite, pneumonia; -Infecções secundárias por conta de baixa imunidade; -Dermatites e hiperqueratose de coxins (se tiver presentes em adultos, é hiperadreno ou cinomose); -Sinais neurológicos. Os filhotes que se infectam antes da erupção dos dentes podem ter displasia do esmalte dentário. Nesse caso o vírus ataca as células ameloblásticas. Essa alteração mostra que o animal foi infectado ainda no útero ou quando era bem novinho. -SINAIS DERMATOLÓGICOS Ocorre por replicação do vírus no local e imunossupressão. Hiperqueratose de coxins: deve sempre ser avaliado de acordo com o paciente. Para animais filhotes os coxins mais ásperos não são normais. Em animais mais velhos é comum nos que andam na rua. Impetigo: não é comum em animais adultos e pode ser um sinal de imunossupressão. -SINAIS NEUROLOGICOS Medulares: -Paresias e paralisias: queda de membros pélvicos (abrir os quartos); -Perda de propriocepção. Cerebelares: -Ataxia; -Dismetrias; -Desequilíbrio; -Incoordenação. Cerebrais: -Mioclonias (contração, tremor ou espasmo involuntário do músculo); -Cegueira; -Status convulsivo; -Agressividade/depressão; -Coma.
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