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TECNOLOGIA DE BEBIDAS AULA 1 Profª Adriana Helfenberger Coleto Assis 2 CONVERSA INICIAL Bebida é um líquido preparado para o consumo humano, usado com o objetivo de suprir a necessidade fisiológica de hidratação. A água é a substância mais abundante no organismo humano, sendo que a quantidade varia em função da faixa etária, sexo e quantidade de tecido adiposo. Segundo Waitzberg (2009), essa substância é essencial à vida, uma vez que todos os processos metabólicos são realizados em meio aquoso, além de ser responsável por exercer diferentes funções como a de transporte, solvente, lubrificante, fluidificador, regulador térmico e estrutural. Estima-se que um adulto deva ingerir 1300 ml de água por dia; outra parte da necessidade diária é produzida pelo próprio corpo, em quantidade insuficiente para todas as necessidades diárias, por isso o consumo intermediário é tão importante. Portanto a ingestão hídrica é uma necessidade humana básica. Para atender a essa necessidade de forma prazerosa são utilizadas substâncias que conferem sabor e aroma, estimulando o paladar, como refrigerantes, sucos, chás, cafés, néctares, cervejas, vinhos e bebidas lácteas, por exemplo. Nesta etapa, vamos conversar a respeito da recepção e controle da matéria-prima para produção de bebidas, sobre a produção de matéria-prima, sobre qualidade produtiva, a respeito de supervisão da linha produtiva e sobre evolução e diversidade de bebidas. TEMA 1 – RECEPÇÃO E CONTROLE DA MATÉRIA-PRIMA PARA PRODUÇÃO DE BEBIDAS Segundo a legislação brasileira, no Decreto n. 6.871 de 4 de junho de 2009, consideram-se: II - bebida: o produto de origem vegetal industrializado, destinado a ingestão humana em estado líquido, sem finalidade medicamentosa ou terapêutica; III - também bebida: a polpa de fruta, o xarope sem finalidade medicamentosa ou terapêutica, os preparados sólidos e líquidos para bebidas, a soda e os fermentados alcoólicos de origem animal, os destilados alcoólicos de origem animal e as bebidas elaboradas com a mistura de substâncias de origem vegetal e animal. (Brasil, 2009) 3 São muitas as possibilidades associadas à obtenção de bebidas, obtidas por misturas, fermentação e destilação, o que permite a elaboração de diferentes produtos, os quais podem ser divididos em grupos, conforme disposto no Quadro 1: Quadro 1 – Classificação de bebidas Tipo Exemplo Bebidas naturais Água, leite e suco de fruta Infusões Chá e café Bebidas alimentares Á base de soja, leite ou cacau e bebidas lácteas Bebidas refrescantes Coquetéis, sucos, xaropes de refrigerantes etc. Bebidas alcoólicas Fermentadas, destiladas e destiladas xaroposas (como vinho, aguardente e licores) Cada bebida precisa de uma matéria-prima diferente, a qual é a substância submetida a um processo produtivo a fim de obter-se um produto acabado. Esse processo consiste em um tratamento ou transformação de natureza física, química ou biológica. As matérias-primas podem ter origem animal, vegetal ou mineral e podem apresentar-se no estado sólido, líquido ou gasoso. A produção de bebidas conta com uma variedade bastante significativa de matérias-primas, alterando de bebida para bebida, que envolvem grãos, leite, mel, frutas etc. Para garantir a qualidade da bebida gerada, é muito importante verificar a conformidade dos produtos recebidos, para assim produzir com segurança e qualidade. Durante o processo produtivo, uma das etapas mais importantes diz respeito ao recebimento da matéria-prima, em conformidade com os padrões a fim de garantir a qualidade. Nesta etapa é necessária uma aferição dos produtos recebidos, para que seja possível controlar e identificar produtos com características fora das especificações exigidas, o que acarretaria baixa qualidade do produto final e até no comprometimento da segurança alimentar da bebida produzida. 4 Para que o recebimento das matérias-primas seja eficiente, os processos e especificações devem ser bem definidos, para que as condições acordadas com o fornecedor sejam alcançadas. Do recebimento é necessário conferir a nota fiscal, data de entrega, validade, embalagem, quantidade/peso e fazer uma inspeção visual qualitativa de forma a qualificar o material recebido. A matéria-prima para produção de bebidas deve ser acondicionada em embalagens descartáveis e quando da entrega é necessário que ocorra em área protegida de chuva, sol e poeira, totalmente livre de resíduos e materiais inservíveis. O local de recebimento deve ser organizado de forma a garantir a segurança dos produtos, sendo proibida a entrada de veículos de transporte em áreas destinadas ao armazenamento destas matérias primas. Nem os alimentos, tampouco as embalagens para alimentos, mesmo as descartáveis, devem ser dispostos diretamente sobre o piso, da mesma forma que os produtos devem permanecer nessa área apenas o tempo necessário para realização das atividades relacionadas com a avaliação e conferência das mercadorias, devendo ser encaminhados imediatamente ao ambiente destinado ao armazenamento. Não é permitido o armazenamento de alimentos, bebidas, embalagens para alimentos e descartáveis nos pátios e em plataformas de recebimento. No momento da recepção de mercadorias, devem ser observadas as condições de conservação e limpeza dos veículos de transporte e a higiene e a uniformização dos entregadores. Os alimentos devem ser inspecionados, no momento da recepção, considerando-se o padrão de identidade e qualidade previamente acordado por contrato. Deve-se, ainda, observar: I. Integridade e legibilidade da rotulagem; II. Denominação de venda; III. Data de validade; IV. Número de registro no órgão oficial; V. Identificação de origem: razão social e endereço do fabricante, do distribuidor quando proprietário da marca e do importador, para alimentos importados; 5 VI. Temperatura dos alimentos perecíveis que, quando do recebimento, devem obedecer a parâmetros dos quais: • Produtos congelados: no máximo a -12 °C ou conforme a especificação do fabricante; leite e derivados, frutas, verduras e legumes higienizados, fracionados ou descascados, sucos e polpas: no máximo a 10 °C ou conforme especificação do fabricante; • Indícios de descongelamento e recongelamento de produtos congelados, tais como: amolecimento e deformações nos produtos, embalagens molhadas ou deformadas, com camada de gelo, acúmulo de líquidos ou cristais de gelo; • As características sensoriais: cor, aparência, odor, textura; • A integridade, limpeza e presença ou vestígios de animais sinantrópicos (formigas, baratas, moscas, aranhas, abelha etc.) nas embalagens e nos recipientes de transporte dos alimentos. Os alimentos que não atenderem aos critérios e parâmetros de qualidade e segurança apresentados anteriormente não devem ser recebidos. Caso seja necessário recusar o recebimento do produto, o procedimento deve ser feito imediatamente e, se isso não for possível, o material deve ser identificado e armazenado em um local separado para posterior devolução. Outro fator essencial é o agendamento da entrega para evitar que mercadorias sejam recebidas em horários que envolvem variações de temperaturas de grande movimento no estabelecimento. Quanto ao acondicionamento as matérias-primas, devem ser armazenados em local organizado, com iluminação, temperatura, umidade e ventilação adequadas. O local deve apresentar dimensões compatíveís com o volume a ser armazenado, isolado por barreiras físicas do ambiente externo e das demais áreas com atividades distintas e atender aos seguintes critérios: I. Protegidos da incidência de raios solares; II. Separados por categorias; III. Separados de todos os materiais de limpeza, higiene, perfumaria e outros produtos químicos;IV. Separados dos alimentos que exalem odores; 6 V. Dispostos de acordo com as recomendações dos fabricantes e de forma a não comprometer a qualidade e a integridade das embalagens e dos produtos; VI. Organizados de forma a garantir a ventilação, higienização e circulação de pessoas; VII. Dispostos distantes do piso, sobre estrados com acabamento liso, mantidos em bom estado de conservação e limpeza; VIII. Acondicionados em embalagens íntegras, sem deformações, sujidades e ferrugem, com identificação visível e apresentando todos os dados necessários para garantir sua rastreabilidade e o controle da data de validade; IX. Utilizar, ferramentas da qualidade para controle de estoque, como o sistema PVPS – primeiro que vence, primeiro que sai ou PEPS – primeiro que entra, primeiro que sai. Algumas bebidas, como vinhos, cervejas e destilados, utilizam durante o processo produtivo tambores, barricas, sacos e caixas de matérias-primas com ingredientes específicos, alguns produtos intermediários e finais que nesse caso devem ser mantidos fechados, limpos, identificados e mantidos fora de contato direto com o piso e paredes. Os alimentos estocados em câmaras frias, como frutas, devem ser armazenados distantes das paredes e sob arrumação modular, de forma a garantir a circulação do ar frio. As câmaras frias são ideais na conservação de alimentos por evitarem a proliferação de agentes que alteram a composição do destes em função do controle da temperatura e da atividade água, o que permite diminuir a ação química, enzimática e microbiana responsável por alterações na constituição dos alimentos. Esses materiais não devem estar dispostos sob os evaporadores. As frutas, verduras e legumes higienizados, fracionados ou descascados, sucos, polpas, caldo de cana devem permanecer no máximo por 3 dias a 5 °C. A higienização de frutas utilizados na confecção de bebidas deve contemplar as seguintes etapas: I. Seleção para retirada de partes e unidades deterioradas; II. Seleção para retirada de unidades brotadas, de sujidades, pragas e vetores; 7 III. Lavagem cuidadosa efetuada em água corrente e potável: cacho por cacho, fruta por fruta; IV. Desinfecção realizada conforme a recomendação do fabricante do produto saneante utilizado; V. Enxágue efetuado de forma cuidadosa em água corrente e potável ou conforme a recomendação do fabricante. A principal matéria-prima para produção de bebidas é a água, pois seja qual for o grupo de bebidas a ser ingerida, ela estará em sua base, e para ser utilizada como base das mais diferentes bebidas, deve seguir os padrões de potabilidade estabelecidos na Portaria n. 518/2004 do Ministério da Saúde. Vale ressaltar que a água da torneira é compatível com os padrões estabelecidos, uma vez que as companhias de abastecimentos seguem o sugerido por lei. Mesmo assim, sempre que a água utilizada for diretamente da torneira, deve-se ficar atento à limpeza e à desinfecção dos locais de armazenamento da água – cisternas, caixas d’água etc. TEMA 2 – DO CAMPO PARA A INDÚSTRIA: PRODUÇÃO DE MATÉRIA- PRIMA A produção bem-sucedida de bebidas requer o aproveitamento máximo das matérias-primas, com garantia das características organolépticas para gerar um produto final confiável, econômico e sustentável. As bebidas que trazem as características organolépticas da matéria-prima deverão apresentar quantidades mínimas conforme estabelecido por lei. Por exemplo, refrigerante com o nome das frutas (laranja/uva) deve conter no mínimo 10 % de suco natural. Os denominados xaropes, refrescos, liofilizados etc. serão denominados como artificiais se não apresentarem em sua formulação matéria- prima, animal ou vegetal original, devendo conter obrigatoriamente a expressão “sabor de...”, acrescido do nome da matéria-prima substituta. Outro parâmetro está associado aos aspectos olfativos e visuais, (coloração e aromatização artificial), sendo que essas informações também devem ser compartilhadas, com descrições do tipo “aromatizado artificialmente”, “colorido artificialmente”. 8 A adição de matérias-primas como vitaminas, sais minerais ou outros nutrientes, deve seguir parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento e/ou Ministério da saúde, e as substâncias discriminadas no rótulo com suas respectivas quantidades. 2.1 Sucos de frutas Os sucos de frutas são bebidas naturais geradas pela extração do sumo de frutas limpas, sadias e íntegras utilizando-se de método higiênico-sanitário, pasteurização ou esterilização com adição ou não de açúcar ou aditivos químicos. As principais frutas utilizadas são: maça, uva, laranja, acerola, graviola, umbu, abacaxi, morango, amora, framboesa etc. Para elaborar sucos de qualidade, é importante investir em variedade, identificar o estado de maturação da fruta (quantidade de ácidos e açúcares), formas de colheita (de modo a não danificar a fruta o que pode gerar alterações químicas, microbiológicas e enzimáticas). O transporte também interfere na qualidade da matéria-prima (principalmente frutas perecíveis como amoras, morangos e framboesas que devem ser transportada sob refrigeração e com maior brevidade). 2.2 Chás A legislação brasileira define chá como uma bebida constituída de uma ou mais partes de espécie(s) vegetal(is) inteira(s), fragmentada(s) ou moída(s), com ou sem fermentação, tostada(s) ou não. É permitido, ainda, serem adicionadas a esse produto substâncias e ou especiaria para conferir aroma e ou sabor. (Brasil, 2005). A base para a produção de chás está associada a folhas e flores, as quais são secas, com o intuito de reduzir a umidade, até que o seu peso seja 55% do peso da folha original. Posteriormente, as folhas são quebradas para que ocorra libertação de oxidases (incluindo as enzimas polifenoloxidase e a peroxidase). Dependendo da matéria-prima, essas podem ser fermentadas por aproximadamente 6 horas, período em que ocorrem a oxidação e dimerização das catequinas, etapa muito importante para o desenvolvimento da cor e sabor da bebida (Graham, 1992; Crespy; Willianson, 2004). 9 Após o tempo de 6 horas, o produto é seco, com o intuito de remover a umidade que ainda contém, para assim minimizar a proliferação de microrganismos a cerca de 3%. Existem outros métodos que não se associam aos processos de fermentação/oxidação, nas quais as folhas podem ser secas ao sol, ou artificialmente, durante 1 a 3 horas, para que percam cerca 30% da sua umidade inicial (Ahmed; Stepp, 2013). Nesse procedimento, promovem-se a hidrólise de alguns hidratos de carbono insolúveis em água e a formação de catequinas. Em outras situações, é necessário expor as folhas a uma fonte de calor por um período de 10 a 15 minutos, para provocar a inativação das enzimas (polifenoloxidases), o que impede a fermentação e mantém a cor verde escura das folhas (Rosa; Afonso, 2004). 2.3 Café O café é uma semente beneficiada do fruto maduro de diversas espécies do gênero Coffea, principalmente, arábica, Coffea liberica hiern e Coffea robusta. O café produz flores com aroma de jasmim e frutos conhecidos como cerejas. Conforme a Instrução Normativa n. 16, de 24 de maio de 2010, do Mapa, a bebida (café) pode ser preparada com o café torrado em grão, ou do café torrado e moído. O café torrado em grão é aquele que foi submetido a tratamento térmico adequado, até atingir o ponto de torra desejado, sendo que o intervalo de temperatura entre 205 e 220 °C é a temperatura de torra associado ao pico sabor. O café torrado é então submetido a um processo de moagem, cuja granulometria facilita a extração de aromas e sabores (Brasil, 2010). O grão de café (café verde) possui uma grande variedade de minerais como: potássio, magnésio, cálcio, sódio, ferro etc. Os aminoácidos encontradossão a alanina, arginina, asparagina, cisteína, entres outros. Os lipídeos são os triglicerídeos e ácidos graxos livres; os açúcares são a sucrose, glicose, frutose, arabinose, galactose, maltose e polissacarídeos. Possui, também, uma vitamina do complexo B, a niacina (vitamina B3) e, em maior quantidade que todos os demais componentes, os ácidos clorogênicos, na proporção de 7 a 10 %, isto é, 3 a 5 vezes mais que a cafeína (Café Point, 2018). 10 2.4 Cervejas A cerveja é produzida a partir de água e malte que corresponde ao grão de cereal (normalmente cevada) que passou por um processo de malteação, o qual consiste em inativar a enzima presente no cereal para essas atuem apenas durante o cozimento do grão, para que então essas enzimas quebrem o amido, fornecendo carboidratos. O grão utilizado como matéria-prima vai ser fonte de proteínas, aminoácidos e de outros nutrientes como zinco, magnésio e cálcio, que são elementos essenciais para a composição do mosto cervejeiro e para uma fermentação saudável, por auxiliarem o metabolismo da levedura (Muxel, 2016). 2.5 Vinho A matéria-prima base para produção de vinho são os componentes presentes na uva, como os açúcares, sais minerais, compostos fenólicos, pigmentos e compostos voláteis e aromáticos, outros gerados no processo de fermentação, como os alcoóis e glicerol, e ainda aqueles que são adicionados intencionalmente para prolongar a vida de prateleira do mesmo, como os sais e anidridos sulfurosos (Souza et al., 2006; Ali et al., 2010). Dentre todos esses, alguns são mais importantes, como a quantidade de açúcares, composto quase que exclusivamente de glicose e frutose, que pode varia entre 15 e 30 %, dependendo da variedade da uva, estágio de maturação e clima (Góes, 2005). 2.6 Destilados A matéria prima utilizada para a obtenção de destilados varia em função do processo fermentativo inicial. Sendo que as principais bebidas destiladas são: • Uísque: obtida a partir da destilação da vinhaça gerada pela fermentação de cereais envelhecidos e milho especial; • Pinga: obtida a partir da destilação da vinhaça gerada pela fermentação da cana-de-açúcar; • Conhaque: obtida a partir da destilação do vinho; • Vodca: obtida de destilação do mosto formado pela fermentação da batata e trigo. 11 A qualidade da bebida gerada está diretamente associada às características da matéria-prima, sendo importante ressaltar que não é possível eliminar 100% à presença de agrotóxicos da superfície dos alimentos. Qualquer vegetal produzido na estação certa está preparado e se defende naturalmente de pragas, sendo necessários menos insumos, e entre eles agrotóxicos. Outra possibilidade consiste em retirar a casca. Mas é importante entender que alguns agrotóxicos têm ação sistêmica, ou seja, penetram na polpa dos alimentos. Por isso é importante selecionar a matéria-prima para a produção de bebidas. TEMA 3 – QUALIDADE Para garantir a qualidade do produto final, as empresas fabricantes precisam redobrar a atenção com o controle de qualidade. Além disso, é preciso analisar os componentes do produto e fiscalizar os processos de produção em cada etapa do processo. Os processos associados à produção de bebidas é suscetível a contaminações, sendo o mais frequente a contaminação cruzada da bebida com substâncias nocivas, como alérgicos, agentes microbianos e contaminação química. Para garantir a qualidade e segurança desses processos, é importante um rigoroso controle dos componentes e dos equipamentos utilizados. Bebidas de leite, água mineral natural e engarrafada, refrigerantes, chá, café, sumos e smoothies, bebidas para desportistas, suplementos, bebidas alcoólicas, fórmula para lactentes etc., todos devem passar por um rigoroso controle de qualidade antes de chegar ao mercado consumidor. O procedimento deve ser conduzido seguindo as características da bebida em diferentes frentes, como inspeção predial, auditorias de controle e testes de laboratório para análise de parâmetros produtivos, possibilitando que as bebidas sejam produzidas, armazenadas e transportadas conforme suas especificações. Uma maneira de ter um procedimento bem estruturado é por meio do uso de um POP (procedimento operacional padrão) para recebimento de matérias- primas, ingredientes e embalagens. 12 Destaca-se que cada serviço de alimentação tem suas particularidades e deve apresentar um POP (Figura 1) que seja condizente com a sua realidade, sendo eficaz e seguro. Figura 1 – POP: limpeza As análises químicas devem gerar relatórios com dados e informações que permitam a rápida e assertiva tomada de decisão. Dessa forma, é possível saber especificações de cada lote produzido, antes de enviá-lo para a cadeia de abastecimento. TEMA 4 – SUPERVISÃO DA LINHA DE PRODUÇÃO Para realizar o controlar do processo de produção de bebidas, é necessário o desenvolvimento de um monitoramento produtivo e controle de processos. Esse monitoramento ocorre por meio de auditorias de higiene, verificações e testes. Os testes mais importantes são associados a: • Teste microbiológico; 13 • Teste químico para identificar pesticidas, metais pesados e outros contaminantes; • Teste de tempo de vida na prateleira e estabilidade; • Testes radiológicos. Alguns equipamentos úteis na análise e produção de bebidas: • Medidores de PH; • Refratômetro analógico; • Termômetro digital; • Estufas de cultura bacteriológica; • Balança de precisão analítica; • Autoclave; • Agitador magnético; • Espectrofotômetro; • Destilador de nitrogênio; • Medidor de densidade de massa específica; • Chapa aquecedora; • Placas de Petri; • Bomba peristáltica; TEMA 5 – EVOLUÇÃO E DIVERSIDADE DE BEBIDAS O suco de uva é uma bebida muito antiga, já consumida pelos gregos e romanos. Essas civilizações já concentravam o mosto da uva pelo do aquecimento, o que permitia sua conservação. Posteriormente esses eram usados como substituto do mel, muito usado para adoçar. Com base nos estudos realizados por Louis Pasteur (1822-1895), foi possível estabelecer e usar os princípios da pasteurização, o suco de uva passou então a ser conservado sob a forma integral, e seu consumo foi expandido (Marzarotto, 2005). Outra bebida bastante antiga é o chá. Estima-se que ele já é usado na China há mais de 5.000 anos. Atualmente presente em todo o mundo, é a segunda bebida mais consumida no planeta (a primeira é a água) (Saberi, 2010). A princípio, a planta do chá era cultivada para fins medicinais, mas ganhou popularidade pelo seu sabor agradável e efeito estimulante. 14 Mas segundo a lenda, o imperador Shen Nung, que só bebia água fervida por questões de higiene, durante um de seus passeios, parou para descansar à sombra de uma árvore, quando algumas folhas caíram no recipiente em que ele havia colocado a água para ferver. Ele não as retirou, observou-as e notou que a água ficou colorida. Impressionado, decidiu provar e achou a bebida saborosa e revitalizante (Trevisanato, 2000; Senna, 2013). As folhas e flores, normalmente usadas para produção de chá, apresentam diversos tipos de substâncias, como hidratos de carbono, proteínas, aminoácidos, lipídios, polifenóis, cafeína, compostos aromáticos, dentre vários outros (Carvalho, 2016). A bebida mais consumida no mundo é a água, mas a regulamentação do comércio de águas minerais ocorreu apenas no século XVII, na França, pelo rei Henri IV, em maio de 1605. O envase ocorreu ao longo do século XIX quando se associou à água mineral, propriedades medicinais A produção brasileira de água engarrafada manteve-se estável no século XX, até que no ano de 1968, houve o surgimento do garrafão de 20 litros, responsável pela ampliação do consumo e do mercado. Em 1970, foram as garrafinhas plásticas de polietileno, de baixa densidade,(PEBD) que conquistaram o consumidor e, em 1979, a introdução do garrafão de plástico (policarbonato) contribuiu para o crescimento do mercado (Macêdo, 2001) Uma bebida bastante inovadora surgiu por volta do ano de1960, quando um treinador de um time de futebol americano, que buscava alternativas para suprir o baixo rendimento do seu time, desenvolveu uma solução que resolvesse seu problema. Foi produzida uma bebida rica em carboidratos e sais minerais, os principais compostos perdidos durante os treinos e jogos. Na década de 80, essa bebida isotônica começou a ser produzida industrialmente, difundida e ingerida em todo o mundo (Cury, 2010). Outra bebida muito consumida, cuja primeira referência está associada à lenda de Kaldi, é descrita no ano de 575, em manuscrito do Iêmen, em que temos a história de Kaldi, um pastor. Segundo a descrição, o senhor dono de cabras na Etiópia foi quem, certo dia, notou em seu rebanho o efeito excitante das folhas e frutos de determinado arbusto. O pastor, ao experimentar aos frutos, também verificou que estes tinham propriedades estimulantes. Essa propriedade virou 15 notícia, iniciando o consumo, pela região, na sua forma macerada. Assim teria nascido o café. Os etíopes iniciaram seu consumo na forma de fruto. Alimentavam-se de sua polpa doce, por vezes macerada, ou a misturavam em gordura animal (suína), para refeição. Também, produziam um suco que era fermentado, produzindo uma bebida alcoólica. As folhas eram mastigadas, ou utilizadas, no preparo de chá. A África foi o território de origem do café, mas coube aos árabes o domínio inicial da técnica de plantio. Já o hábito de consumir destilados iniciou-se no século XVI e difundiu-se pela Europa, principalmente pelas propriedades místico-medicinais. Atribuía-se à aguardente o poder de proteger de doenças, de cicatrizar feridas e de facilitar a digestão (Flandrin; Montanari, 1998). A partir do século XVI, o conhecimento sobre o processo de destilação passa a ser difundido por todo o mundo, gerando vários tipos de destilados, a saber: na China e Japão, o arroz é a matéria-prima para o saquê; na Escócia, a cevada para o uísque; na Rússia, o centeio para a vodca; na Itália, a uva é a matéria-prima para a graspa. Estima-se que a cerveja foi desenvolvida há cerca de 8000 anos, pelos sumérios e assírios (Rosa, 2014). Posteriormente a bebida chegou ao Egito e, nesse país, começou a ser produzida de diferentes formas e com diferentes substratos. Os egípcios divulgaram a cerveja entre os povos orientais e a difundiram na bacia do mediterrâneo e, de lá, para o resto da Europa (Ferreira et al., 2011). Dentre os povos bárbaros que ocuparam a Europa, durante o Império Romano, os de origem germânica destacaram-se na arte de fabricar a cerveja. Na Idade Média, século XIII, os cervejeiros germânicos foram os primeiros a empregar o lúpulo na cerveja, conferindo as características básicas da bebida atual (Mega, 2011). NA PRÁTICA As frutas são matéria-prima importante na produção de bebidas, e seus valores nutritivos satisfazem as necessidades alimentares dos seres humanos, devido ao grande conteúdo de vitaminas e sais minerais. A polpa da fruta é obtida por esmagamento das partes comestíveis por processos tecnológicos 16 adequados. Aquelas que apresentam atividade de água (Aa) maior que 0,98 são bastante suscetíveis à deteriorização por microrganismos. Na casca das frutas existe uma grande variedade de microrganismos, sendo que, por ocasião do rompimento, de forma natural ou forçada, eles penetram e proliferam rapidamente (Gray, 1959; Evangelista, 1989). Essa decomposição causa alteração na aparência, cor, textura, sabor e na qualidade nutricional, além do fato de alguns microrganismos serem causadores de infecção e intoxicação. Mas, afinal, qual é a origem desses microrganismos? Um dos mais importantes vetores de leveduras em frutas maduras e em decomposição são as Drosophila melanogaster (Figura 2). Figura 2 – Ciclo de vida da Drosophila Crédito: Kazakova Maryia/Shutterstock. Esses insetos, sejam adultos ou larvas, se alimentam de leveduras, pois elas representam uma importante fonte nutricional. Ao se aproximarem das leveduras, os insetos se tornam vetores, pois acabam dispersando as leveduras (Figura 3) para outros locais. 17 Figura 3 – Saccharomyces Crédito: Kateryna Kon/Shutterstock. As leveduras chegam aos novos locais por estarem aderidas a alguma parte do corpo do inseto (asas, pernas, tegumento) ou por excreção (são expelidas pelas fezes). Neste último caso ocorre uma seleção, pois somente algumas leveduras que foram ingeridas sobrevivem à digestão e acabam sendo depositadas em outros substratos, juntamente com as excreções dos insetos. Dessa forma, os insetos influenciam diretamente na comunidade de leveduras do substrato, pois ocorre uma seleção de leveduras, e as espécies sobreviventes podem ser favorecidas no novo substrato. FINALIZANDO Nesta etapa, conversamos sobre a importância da recepção e controle no recebimento da matéria-prima usada na produção de bebidas, conversamos sobre as possibilidades de contaminação química e biologia, principalmente por microrganismos decompositores. Estudamos também a importância dos 18 controles operacionais associados à linha de produção e a evolução e diversidade das bebidas ao longo dos anos. 19 REFERÊNCIAS ALI, K. et al. Metabolic constituents of grapevine and grape-derived products. Phytochemistry Reviews, v. 9, n. 3, p. 357-378, 2010. AHMED, S.; STEPP, J.R. 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