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2013 Análise de BAlAnço e ConCessão de Crédito Prof. Luciano Fernandes Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Copyright © UNIASSELVI 2013 Elaboração: Prof. Luciano Fernandes Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 658.15076 F363a Fernandes, Luciano Análise de balanço e concessão de crédito / Luciano Fernandes, José Alfredo Pareja Gomez de La Torre. Indaial : Uniasselvi, 2013. 283 p. : il ISBN 978-85-7830-826-1 1. Contabilidade. 2. Balanço contábil. 3. Análise de crédito. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III ApresentAção Caro(a) acadêmico(a)! Conceder crédito implica em uma relação de confiança com seu cliente, e neste processo deve-se observar, entre outras coisas, a segurança, a liquidez e a rentabilidade de seus clientes, para oferecer crédito com certa margem de segurança, que garanta a eficiência e eficácia das operações. Neste livro serão estudados todos os aspectos que envolvem a análise de balanço e concessão de crédito, e para se conseguir atingir este propósito, dividiremos este caderno em três unidades. A Unidade 1 abordará os conceitos básicos para introdução à análise das demonstrações contábeis. Para isto, serão vistos de forma sucinta os tipos de sociedades existentes em nossa legislação atual, as principais demonstrações contábeis obrigatórias pela Lei 6.404/76 e atualizada pelas leis 11/638/07 e 11.941/09, conhecidas como Leis das Sociedades por Ações – LSA. Por fim, serão apresentados os conceitos teóricos relacionados ao seu fundamento, objetivos, processo e metodologia, padronização e reclassificação das demonstrações contábeis. Na Unidade 2 será abordada a análise das demonstrações contábeis propriamente ditas, quanto ao seu método e principais indicadores de análises, bem como os indicadores fundamentalistas, os métodos quantitativos para previsão de insolvência e a etapa final quanto à elaboração do relatório ou parecer de análise das demonstrações contábeis. Finalmente, na Unidade 3 será abordada a análise para concessão de crédito, explicitando seus fundamentos, o papel da informação no processo de crédito, os principais títulos de crédito e tipos de garantias, os riscos na concessão do crédito e a formação do parecer de crédito. Bons estudos! Luciano Fernandes José Alfredo Pareja Gomez de La Torre IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ........................................................................... 1 TÓPICO 1 – CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL ............................................ 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 OS TIPOS DE SOCIEDADES ............................................................................................................ 3 3 A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE NA ATIVIDADE EMPRESARIAL ..................... 5 4 PRINCÍPIOS CONTÁBEIS ................................................................................................................. 7 5 REGIME DE COMPETÊNCIA VERSUS REGIME DE CAIXA .................................................... 7 6 PROVISÕES, DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES ....................................... 9 6.1 PROVISÕES ...................................................................................................................................... 9 6.2 DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES ............................................................... 10 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 13 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 14 TÓPICO 2 – ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS .......................................... 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17 2 BALANÇO PATRIMONIAL ............................................................................................................... 20 2.1 ATIVO CIRCULANTE .................................................................................................................... 24 2.2 ATIVO NÃO CIRCULANTE .......................................................................................................... 26 2.3 PASSIVO CIRCULANTE ................................................................................................................ 27 2.4 PASSIVO NÃO CIRCULANTE ..................................................................................................... 29 2.5 PATRIMÔNIO LÍQUIDO ................................................................................................................ 30 3 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO – DRE ................................................. 34 3.1 DEMONSTRAÇÃO DE LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS - DLPA. ...................... 40 4 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO – DMPL .................. 44 5 DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA - DFC .................................................................. 44 6 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO – DVA ............................................................ 51 7 NOTAS EXPLICATIVAS E RELATÓRIOS QUE ACOMPANHAM AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS .................................................................................................. 55 7.1 NOTAS EXPLICATIVAS ................................................................................................................. 56 7.2 RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE .........................................................................56 7.3 RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO .......................................................................................... 57 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 58 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 60 TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ...... 63 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63 2 FUNDAMENTOS PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRACÕES CONTÁBEIS ....................... 63 2.1 OBJETIVOS DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ...................................... 64 2.2 USUÁRIOS DA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ....................................... 64 2.3 PROCESSO, METODOLOGIA E ETAPAS DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ..................................................................................................................................... 65 2.4 PADRONIZAÇÃO E RECLASSIFICAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PARA EFEITOS DE PREPARAÇÃO DA ANÁLISE ........................................... 71 sumário VIII LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 75 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 80 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 81 UNIDADE 2 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE BALANÇOS .............................................. 83 TÓPICO 1 – ANÁLISE POR ÍNDICE OU QUOCIENTES ........................................................... 85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 85 2 INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS ÍNDICES OU QUOCIENTES ..................................... 86 3 ÍNDICES DE LIQUIDEZ (OU SOLVÊNCIA) ............................................................................... 90 3.1 ÍNDICE DE LIQUIDEZ CORRENTE OU LIQUIDEZ COMUM (LC) ................... 91 3.2 ÍNDICE DE LIQUIDEZ SECA (LS) .................................................................................... 92 3.3 ÍNDICE DE LIQUIDEZ IMEDIATA (LI).......................................................................... 93 3.4 ÍNDICE DE LIQUIDEZ GERAL (LG) ............................................................................... 94 4 ÍNDICES DA ESTRUTURA DE CAPITAL ................................................................................... 96 4.1 PARTICIPAÇÃO DE CAPITAIS DE TERCEIROS (GRAU DE ENDIVIDAMENTO) ......... 97 4.2 COMPOSIÇÃO DO ENDIVIDAMENTO.................................................................................. 98 4.3 IMOBILIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ...................................................................... 99 4.4 IMOBILIZAÇÃO DOS RECURSOS NÃO CORRENTES ........................................................ 100 5 ÍNDICES DE RENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE ............................................................ 101 5.1 GIRO DO ATIVO .......................................................................................................................... 102 5.2 MARGEM LÍQUIDA .................................................................................................................... 103 5.3 RENTABILIDADE OU RETORNO DO ATIVO (ROI OU ROA) ............................................ 104 5.4 RENTABILIDADE OU RETORNO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO (ROE) ........................... 104 5.5 ANÁLISE DO ROI PELO MÉTODO DUPONT ....................................................................... 105 5.6 GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA (GAF) ............................................................... 107 5.7 ALAVANCAGEM OPERACIONAL ............................................................................................ 115 5.8 ÍNDICE DE ATIVIDADE, PRAZO MÉDIO OU ROTATIVIDADE ....................................... 118 5.8.1 Prazo Médio de Estoques – PME ....................................................................................... 118 5.8.2 Prazo Médio de Clientes – PMC ........................................................................................ 120 5.8.3 Prazo Médio de Pagamento – PMP ................................................................................... 121 5.8.4 Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro ................................................................................ 123 5.9 ÍNDICE-PADRÃO ........................................................................................................................ 127 5.10 ATRIBUIÇÃO DE PESOS NA ESTRUTURA DE ÍNDICE-PADRÃO ................................. 131 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 137 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 139 TÓPICO 2 – ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL .................................................................. 143 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 143 2 TÉCNICA DA ANÁLISE VERTICAL (AV) .................................................................................. 143 3 TÉCNICA DA ANÁLISE HORIZONTAL (AH)........................................................................... 145 4 ANÁLISE CONJUNTA – ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL ........................................ 148 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 152 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 153 TÓPICO 3 –ANÁLISE DA DINÂMICA DE CAPITAL DE GIRO .............................................. 157 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 157 2 MODELO FLEURIET – RECLASSIFICAÇÃO DAS CONTAS DO ATIVO E PASSIVO CIRCULANTE .................................................................................................................................... 157 3 APLICAÇÃO DA ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO NA GESTÃO EMPRESARIAL ...... 163 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 166 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 167 IX TÓPICO 4 – ANÁLISE FINANCEIRA AVANÇADA .....................................................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 VALOR ECONÔMICO ADICIONADO NAS EMPRESAS .......................................................169 3 EBITDA – EARNING BEFORE INTEREST, TAXES, DEPRECIATION AND AMORTIZATION OU LAJIDA – LUCRO ANTES DE JUROS, IMPOSTOS, DEPRECIAÇÃO E AMORTIZAÇÃO ..............................................................................................173 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................177 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................178 TÓPICO 5 – MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA .....................................................181 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1812 MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIA .........................................................................182 2.1 MODELO ALTMANN ..................................................................................................................182 2.2 MODELO ELIZABETSKY ............................................................................................................182 2.3 MODELO MATIAS ........................................................................................................................183 2.4 MODELO PEREIRA ......................................................................................................................184 3 MODELO DE KANITZ ......................................................................................................................184 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................188 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................189 TÓPICO 6 – RELATÓRIO DE ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ...............193 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................193 2 PASSOS PARA ELABORAR UM RELATÓRIO DE ANÁLISE .................................................193 3 ESTRUTURA DE UM RELATÓRIO DE ANÁLISE .....................................................................195 3.1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................195 3.2 SUMÁRIO .......................................................................................................................................195 3.3 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .......................................................................................196 3.4 CORPO ............................................................................................................................................196 3.5 ANEXOS ..........................................................................................................................................197 RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................198 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................199 UNIDADE 3 – PROCESSO DE CRÉDITO, GARANTIAS E ELABORAÇÃO DE PARECERES ..........................................................................................................201 TÓPICO 1 – ANÁLISE DE CRÉDITO ...............................................................................................203 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203 2 OBJETIVOS E CONCEITO ..............................................................................................................203 3 FUNDAMENTOS DA ANÁLISE.....................................................................................................204 4 O BOM SENSO E O PROCESSO DE DECISÃO..........................................................................205 4.1 OS 4 “C” DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO ..............................................................................206 4.1.1 C.1 Caráter ............................................................................................................................206 4.1.2 C.2 Capacidade ....................................................................................................................207 4.1.3 C.3 Capital..............................................................................................................................208 4.1.4 C.4 Condições ........................................................................................................................209 4.1.5 Colateral .................................................................................................................................210 5 DECISÕES ANALISANDO OS 4 “C” NAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO ...........................210 6 SEGURANÇA NA DOCUMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES ....................................................211 6.1 INFORMAÇÕES E DADOS CADASTRAIS ..............................................................................212 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................213 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................217 X TÓPICO 2 – RISCOS E LIMITES DE CRÉDITO.............................................................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................219 2 ANÁLISE DO RISCO NA OPERAÇÃO .........................................................................................220 3 LINHAS E LIMITES DE CRÉDITO ................................................................................................222 3.1 TIPOS E COMPATIBILIDADES DE LINHAS DE CRÉDITO ..................................................224 3.1.1. Crédito Pessoas Físicas ........................................................................................................224 3.1.1.1 Rotativas, crédito pessoal .......................................................................................224 3.1.1.2 Específicas, Crédito Pessoal ...................................................................................225 3.1.2. Crédito Empresas.................................................................................................................226 3.2 CONTROLE E GESTÃO DO RISCO EM FUNÇÃO DOS LIMITES DE CRÉDITO .............228 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................230 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................234 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................235 TÓPICO 3 – GARANTIAS NAS OPERAÇÕES ...............................................................................237 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................237 2 FONTES DE PAGAMENTO .............................................................................................................238 3 TIPOS DE GARANTIAS EM FUNÇÃO DOS LIMITES DE CRÉDITO .................................239 3.1 GARANTIAS PESSOAIS ..............................................................................................................239 3.1.1. Aval ........................................................................................................................................240 3.1.1.1 Fiança ...................................................................................................................................241 3.2 GARANTIAS REAIS .....................................................................................................................241 3.2.1 Hipotecas ...............................................................................................................................242 3.2.2 Alienação fiduciária ..............................................................................................................243 3.2.3 Penhor Mercantil ...................................................................................................................2443.2.4 Caução de duplicatas e cheques .........................................................................................244 3.2.5 Caução de cheques ...............................................................................................................245 4 PROCESSOS DE COBRANÇA E CONTROLE DAS GARANTIAS ........................................245 4.1 ALERTAS DE RISCO .....................................................................................................................246 4.2 PERFIL DEVEDOR ........................................................................................................................247 4.3 MEDIDAS PREVENTIVAS ...........................................................................................................248 4.4 PROCEDIMENTOS DE COBRANÇA ........................................................................................249 4.4.1 Contato telefônico .................................................................................................................250 4.4.2 Mensagens .............................................................................................................................250 4.4.3 Visita in loco ...........................................................................................................................250 4.4.4 Agência de cobrança e protesto ..........................................................................................251 4.4.5 Processo Judicial ...................................................................................................................251 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................252 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................256 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................257 TÓPICO 4 – ELABORAÇÃO DE PARECERES ................................................................................259 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................259 2 MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DE PARECERES .......................................................................259 3 PROCESSOS NA GESTÃO DE ELABORAÇÃO DE PARECERES ..........................................260 4 ANÁLISE COM TÉCNICAS ESTATÍSTICAS ..............................................................................262 5 RATINGS DE CRÉDITO ....................................................................................................................266 5.1. GRAUS DE RATINGS ...................................................................................................................267 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................271 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................274 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................275 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................277 1 UNIDADE 1 ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade você será capaz de: • conhecer os principais tipos de sociedades; • conhecer os principais princípios contábeis e sua influência nas entidades; • identificar conceitos relacionados aos eventos contábeis; • conhecer as principais demonstrações e relatórios contábeis obrigatórios; • identificar os principais fundamentos e objetivos de análise das demons- trações contábeis; • conhecer e aplicar o processo e a metodologia de análise; • conhecer as formas de padronização e reclassificação durante a prepara- ção para as demonstrações contábeis. Esta unidade está dividida em três tópicos. No primeiro você conhecerá os principais tipos de sociedades relacionadas com a legislação atual, o funcionamento da empresa, os postulados, princípios e convenções contábeis. Também será abordada a diferença entre regime de competência e caixa e ainda serão tratados conceitos envolvendo eventos contábeis. No segundo tópico será abordada a estrutura e apresentação das demonstrações contábeis obrigatórias pela Lei das Sociedades por Ações – LSA. No terceiro tópico serão abordados os principais fundamentos, processo, padronização e reclassificação das demonstrações contábeis. TÓPICO 1 – CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL TÓPICO 2 – ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO PARA ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 1 INTRODUÇÃO A necessidade de atender aos seus mais diversos usuários ao longo da história fez da Contabilidade uma ciência que acompanhou a evolução da necessidade de seus usuários. Isto se deu desde seus proprietários, que de forma rudimentar controlavam sua riqueza, até o surgimento do método das partidas dobradas para evidenciar as transações e garantir aporte de recursos nas atividades empresariais. Aliás, a atividade empresarial sempre existiu, desde os tempos mais remotos, concebida através do meio de troca das mercadorias excedentes da produção (escambo). Mais tarde a produção passou a ser trocada por moeda (dinheiro), estabelecendo um comércio mais dinâmico, estruturado e organizado. Como tema relevante no estudo desta disciplina, este tópico abordará uma visão contábil focada em conceitos, estruturas e relatórios adequados aos novos padrões harmonizados com os padrões internacionais. Além destas, a compreensão do tipo de sociedade analisado poderá influenciar em seus aspectos legais, tributários e fiscais, entre outros, sendo determinante sua compreensão. 2 OS TIPOS DE SOCIEDADES Caro acadêmico! Imagine que você tenha uma ideia que possa lhe render economicamente e queira abrir um negócio! Qual é o primeiro questionamento que provavelmente virá à sua mente? Acredito que você deva se perguntar: – Qual o tipo de sociedade mais compatível com a atividade empresarial que pretendo desenvolver? Talvez você já tenha pensado ou vivido tal situação. O fato é que o tipo de sociedade pode ser preponderante, dependendo do tipo de negócio que se queira desenvolver economicamente. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 4 Para compreender melhor este assunto, vamos abordar os conceitos dos principais tipos de sociedades, mas lembre-se de que maiores detalhes podem ser estudados no Caderno de Estudos da disciplina de Direito. ATENCAO Na realidade, a constituição de um negócio implica na junção de capitais alheios. A necessidade de criação de uma sociedade se torna imprescindível para separar o patrimônio dos sócios do patrimônio da sociedade. No Brasil, em se tratando do direito societário e empresarial, a legislação que regulamenta os tipos de sociedades empresariais está definida no novo Código Civil, conforme Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, nos artigos 1.039 a 1.096. Porém, as sociedades anônimas são regidas pela Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, conforme preceitua o próprio Código Civil no artigo 1.089. Então, conforme a Lei 10.406/2002 (novo Código Civil), as sociedades passam a ser classificadas quanto à sua natureza como: sociedade simples ou sociedade empresária. A diferença entre uma e outra se baseia na presença ou não de uma estrutura empresarial organizada, de forma a exercer uma atividade empresarial, que caracteriza a sociedade empresária. Portanto, sua personificação jurídica implica na existência de atividades deprodução de bens e serviços, com patrimônio constituído com o objetivo de gerar lucro, enquanto as sociedades simples se aplicam a atividades não empresariais, por não possuírem uma estrutura organizacional. Nestas são exploradas as atividades de intelecto literário, artístico, entre outras. QUADRO 1 – PRINCIPAIS TIPOS DE SOCIEDADES EMPRESARIAIS NO BRASIL Sociedade em Nome Coletivo (arts.1.039 a 1.044). Tipo de sociedade composta apenas e tão somente por pessoas físicas. Possui responsabilidade solidária e ilimitada, isto requer dizer que os sócios respondem com seu patrimônio pelo excedente das dívidas da empresa. Sociedade em Comandita Simples (arts. 1.045 a 1.051). Este tipo de sociedade possui dois tipos de sócios: comanditados e comanditários. Os comanditados são pessoas físicas que respondem de forma solidária e ilimitada, ou seja, com seu próprio patrimônio, em caso de excedente das dívidas da sociedade. Os comanditários respondem apenas pelos valores de suas quotas. TÓPICO 1 | CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 5 Sociedade Limitada (arts. 1.052 a 1.087), Neste tipo de sociedade a responsabilidade dos sócios perante o capital social é limitado, ou seja, responde de forma limitada à sua participação ao capital social, que é composto por quotas proporcionais à sua participação. Sociedade Anônima (arts. 1.088 e 1.089). Neste tipo de sociedade o capital social é dividido em ações e os sócios ou acionistas respondem de forma limitada ao capital social, baseado no preço da emissão das ações que subscrever ou adquirir. Pode ser de capital fechado ou aberto. Sociedade em Comandita por Ações (arts. 1.090 a 1.092). Este tipo de sociedade é regido por normas especiais da sociedade anônima. Da mesma forma que na sociedade em Comandita Simples, existem os sócios comanditados, que respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações contraídas pela sociedade, e os comanditários, que respondem apenas pelas ações subscritas. Trata-se de uma sociedade de capitais em que somente o acionista pode ser diretor e exercer função de administrador. FONTE: Adaptado de: Lei 10.406/2002 – Código Civil 3 A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE NA ATIVIDADE EMPRESARIAL A contabilidade nunca foi tão necessária como nos dias atuais. A razão é muito simples, eis que vivemos na era da informação e o sistema contábil em uma empresa é o principal gerador de informação para tomada de decisão. A estrutura contábil em uma empresa depende fundamentalmente do seu tamanho. Empresas de pequeno porte dificilmente terão profissionais da área contábil dentro da empresa para atender à sua demanda, e empresas de grande porte poderão ter profissionais especializados por área: tributária, contábil, societária, gerencial, fiscal, custos, entre outros. Contudo, a realidade é bem outra! Muitas empresas fecham suas portas pouco tempo após o início de suas atividades, e os motivos são diversos, porém os mais impactantes são a falta de conhecimentos básicos acerca de informações financeiras e contábeis que ajudariam a gerir sua atividade e torná-la lucrativa a longo prazo para garantir sua sobrevivência. Você sabia que, em geral, calcula-se que mais de 50% das empresas se extinguem antes de completar cinco anos? ATENCAO UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 6 Outro fator preponderante é que no Brasil existe uma forte influência normativa que acabou por desenvolver uma cultura para atender muito mais ao fisco do que aos interesses societários. Assim, há uma nítida preferência da contabilidade para fins de apuração dos tributos do que propriamente voltados para a eficiência e eficácia das operações. Se nem todas as empresas podem ter contadores exclusivos, contudo seus empreendedores deveriam ter profundo conhecimento contábil para extrair e interpretar informações para a gestão financeira, como: fluxo de caixa, resultado econômico e financeiro, previsão de insolvência, formação de preços, entre outros. IMPORTANT E Mas, então, para que serve a Contabilidade, afinal? Atkinson (2000, p. 37) define a contabilidade financeira como “Processo de elaboração de demonstrativos financeiros para propósitos externos: pessoal externo à organização, como acionistas, credores e autoridades governamentais”. Desta forma, a contabilidade financeira deve gerar informações aos seus usuários sempre baseadas em normas governamentais (aspectos tributários) e conforme os princípios fundamentais da Contabilidade (aspectos societários), levando-se em conta a objetividade, clareza e precisão das informações. Neste contexto, pode-se inferir que um sistema de informação contábil é o resultado das extrações de dados do sistema contábil para alimentar o processo de gestão de uma empresa que se compõe de vários subsistemas e que, segundo Crepaldi (2004, p. 28), são assim relacionados: • Subsistema contabilidade financeira. • Subsistema contabilidade gerencial. • Subsistema contabilidade em outras moedas. • Subsistema custos e orçamento. • Subsistema contabilidade por unidades de negócios. • Subsistema gestão de impostos. • Subsistema análise financeira e de balanço. • Subsistema gestão de tesouraria. • Subsistema de controladoria. Caro acadêmico! Perceba que todos esses subsistemas alimentam o sistema contábil responsável pela geração de informações úteis ao processo de gestão das empresas. Entre eles, o subsistema de análise financeira e balanço, que gera a seus usuários informações de qualidade para uma boa tomada de decisão. TÓPICO 1 | CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 7 4 PRINCÍPIOS CONTÁBEIS Para que o analista obtenha informações úteis e com qualidade, extraídas da Contabilidade, é necessário que as demonstrações contábeis estejam conforme os Princípios de Contabilidade, descritos na Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº. 750/93, que foi atualizada pela Resolução nº 1.282/10. Conforme explica Iudícibus (2009, p. 11): “A formação dos princípios contábeis deveu-se principalmente a respostas graduais que os contadores foram desenvolvendo, ao longo dos séculos, a problemas e desafios formulados pelas necessidades práticas”. Não há pretensão de discutirmos os Princípios de Contabilidade em sua profunda reflexão teórica, mas tão somente discutir os pontos principais que levam ao entendimento básico e compreender uma base de informações contábeis geradas pelas demonstrações contábeis. Segundo a Resolução CFC 750/93, o conceito pode ser assim disposto: Art. 2º. Os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso país. Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades. (Redação dada pela Resolução CFC nº. 1282/10) (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 1993). Tem-se desta forma, nos Princípios de Contabilidade, um arcabouço teórico que orienta a padronização das práticas contábeis aplicáveis à interpretação e uniformidade das demonstrações contábeis. 5 REGIME DE COMPETÊNCIA VERSUS REGIME DE CAIXA Administradores e contadores possuem visões diferenciadas sob a ótica da gestão e, naturalmente, suas análises possuem objetivos diferentes. Contudo, compreender estas visões se faz necessário para uma análise das informações econômico-financeiras geradas pelas demonstrações contábeis. O interesse do administrador se volta para a solvência da empresa, logo seu foco principal está relacionado à gestão financeira no que se refere à capacidade de pagamento de suas obrigações assumidas, mediante a gestão adequada dos fluxos de caixa da empresa. No regime de caixa as receitas são reconhecidas no momento em que os recursos financeiros entram (entradas) no caixa da empresa e as despesas são reconhecidas no momento em que os recursos saem (saídas) do caixa da empresa. Estes movimentos de entradase saídas responsáveis pela gestão adequada dos investimentos, financiamento e operações, denominamos de fluxo de caixa. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 8 O interesse do contador se direciona mais para a eficiência econômica das operações, logo, segue os Princípios Contábeis, já estudados neste tópico, em que as receitas são reconhecidas no momento das vendas e as despesas no momento em que incorrem. IMPORTANT E O regime de competência se baseia nos Princípios Contábeis, portanto utiliza o Princípio da Competência para estabelecer que receitas são integralmente reconhecidas com a confrontação de todas as despesas incorridas, enquanto o regime de caixa se baseia nos fluxos monetários. Caro acadêmico, veja o exemplo a seguir. QUADRO 2 – QUADRO DAS OPERAÇÕES REALIZADAS Atividades realizadas pela empresa Vendebem Ltda. no ano 20x1 Vendas Realizadas R$ 400.000 (50% das vendas a prazo) Custo das Operações R$ 160.000 (Pagamento à vista) Despesas Gerais R$ 140.000 (Pagamento à vista) FONTE: Os autores Vamos agora ver as diferenças que ocorrem em cada uma das formas (regime de competência versus regime de caixa). QUADRO 3 – COMPARATIVOS ENTRE REGIME DE COMPETÊNCIA E CAIXA Demonstração Resumos em 20x1 COMPETÊNCIA CAIXA Vendas R$ 400.000 R$ 200.000 (-) Custo das Operações R$ (160.000) R$ (160.000) (=) Margem Bruta R$ 240.000 R$ (40,000) (-) Despesas Gerais R$ (140.000) R$ (140.000) Lucro (Prejuízo)/Saldo de caixa R$ 100.000 R$(100.000) FONTE: Os autores TÓPICO 1 | CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 9 Comparativamente, observa-se que o regime de competência enfocou o resultado real das operações, cujo lucro representou o valor de R$ 100.000,00, enquanto o regime de caixa enfocou o fluxo financeiro e considerou apenas as entradas e saídas efetivas do caixa da empresa. Desta forma, representando um déficit de caixa no valor de R$ 100.000,00 que deverão ser financiados e suportados por outras fontes de recursos. Neste contexto, infere-se que o administrador financeiro utiliza-se das informações das demonstrações contábeis para a correta tomada de decisão quanto ao adequado tratamento dos fluxos monetários e quanto aos investimentos frente às fontes de financiamento disponíveis na organização. 6 PROVISÕES, DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES Caro acadêmico! Vamos aqui esgotar mais alguns conceitos contábeis importantes, cujos elementos encontram-se evidenciados nas demonstrações contábeis e devem ser objetos de análise. 6.1 PROVISÕES As provisões se constituem em um importante componente contábil, pois tais provisionamentos em determinadas contas contábeis garantem o cumprimento ao Princípio da Competência. A provisão refere-se à constituição de um valor estimado, com base em métodos e técnicas, que seja certo ou com alta probabilidade de ocorrência, cuja expectativa gere perdas de ativo ou da existência de obrigações no futuro. Quanto ao reconhecimento de uma provisão, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC (2009) descreve da seguinte forma: Uma provisão deve ser reconhecida quando: (a) a entidade tem uma obrigação presente (legal ou não formalizada) como resultado de evento passado; (b) seja provável que será necessária uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos para liquidar a obrigação; e (c) possa ser feita uma estimativa confiável do valor da obrigação. Se essas condições não forem satisfeitas, nenhuma provisão deve ser reconhecida. Existem casos clássicos na contabilidade, como, por exemplo: a) Provisão para férias. b) Provisão para 13º salário. c) Provisão para contingências trabalhistas. d) Provisão para Imposto de Renda e Contribuição Social, entre outras. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 10 Importa relatar que tais provisionamentos ocorrem pela certeza do desembolso e pela incerteza do valor a ser realizado em determinado momento futuro. Contudo, quando de fato acontecem, deixam de ser provisões para se tornarem obrigações. Por exemplo, a constituição da provisão para o Imposto de Renda se torna imposto de renda a pagar, as provisões para férias se transformam em salários a pagar, e assim por diante. 6.2 DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES Todos os bens corpóreos que compõem o ativo permanente da empresa possuem certa limitação em sua vida útil e econômica, quer pela ação da natureza ou mesmo pelo seu uso na atividade operacional para geração de fluxos de caixa. O processo de desgaste do bem ao longo do tempo determinará um valor residual que poderá ser vendido, porém, ao recuperar este valor, caso não tenha efetuado nenhuma reserva financeira, terá que repor o bem pelo seu valor de mercado quando comprar um novo. Com a finalidade de garantir uma reserva técnica para reposição do bem ao final de sua vida útil, atendendo ao princípio da competência e evitando antecipar lucros, utiliza-se do método de depreciação para apropriar valores e bens destinados ao uso em suas operações. Apesar de tratar-se de uma reserva técnica com a finalidade de repor o bem no final de sua vida útil, este não gera desembolso de caixa, mas tão somente apropria o resultado econômico do período (princípio da competência) em confrontação com as receitas reconhecidas em decorrência dos custos e despesas incorridos. No balanço patrimonial a depreciação é representada como uma conta retificadora do ativo, com a denominação de “Depreciação Acumulada”, cujo bem a subtrai e seu saldo deduzido do valor de custo do bem, resulta no valor contábil conforme se demonstra na figura a seguir: TÓPICO 1 | CONTABILIDADE E A ATIVIDADE EMPRESARIAL 11 FIGURA 1 – EXEMPLO DE “DEPRECIAÇÃO ACUMULADA” FONTE: Os autores Ativo 2.350 Ativo Circulante 1.000 Ativo Não Circulante 1.350 Realizavel de Longo Prazo 1.000 Investimentos 50 Imobilizado 200 Equipamentos 500 (-) Depreciação Acumulada -300 Intangível 100 Para estimativa dos valores da depreciação utilizam-se vários métodos, entre eles: (i) linear ou cotas constantes; (ii) soma dos dígitos (método cole); (iii) unidade de tempo trabalhada ou unidades produzidas. IMPORTANT E Caro acadêmico! Os métodos aplicáveis para realização do cálculo estimativo das depreciações não são o foco do estudo deste Caderno de Estudos. A amortização constitui-se com a mesma finalidade que a depreciação, porém refere-se aos bens incorpóreos e diferenciando-se no que tange ao fator de limite “tempo” e não pelo desgaste em relação ao uso. Portanto, a amortização reconhece a perda de valor de um ativo intangível ao longo de sua vida útil. A exaustão decorre do desgaste na exploração de recursos minerais, florestais ou quaisquer fontes de recursos naturais esgotáveis de bens destinados a esta exploração. Portanto, é reconhecida a perda de valor durante o período em que os recursos minerais ou florestais são extraídos. Sua estimativa de exaustão pode ocorrer pelo (i) volume de produção no período e sua relação com a reserva potencial de exploração conhecida, ou ainda (ii) pelo prazo de concessão dado pela autoridade governamental. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 12 IMPORTANT E Caro acadêmico! Os métodos aplicáveis para realização do cálculo estimativo das exaustões não são o foco do estudo deste Caderno de Estudos. Agora que você viu os principais conceitos a respeito da contabilidade, vamos conhecer as principais demonstrações contábeis exigidas por lei e suas implicações na análise de performance econômico-financeira das empresas. 13 Neste tópico você estudou que: • Foi a partir da Lei 10.406/2002 (novo Código Civil) que as sociedades passaram a ter uma nova classificação quanto à sua natureza, denominando-as como sociedade simples ou sociedade empresária. • Os principais tipos de sociedade são: • Sociedade em Nome Coletivo (arts. 1.039 a 1.044). • Sociedade em Comandita Simples (arts. 1.045 a 1.051). •Sociedade Limitada (arts. 1.052 a 1.087). • Sociedade Anônima (arts. 1.088 e 1.089). • Sociedade em Comandita por Ações (arts. 1.090 a 1.092). • Em uma empresa, a estrutura contábil depende do tipo da estrutura organizacional, a qual determinará a demanda de profissionais mais especializados. • Os Princípios de Contabilidade referem-se a um arcabouço teórico que orienta a padronização das práticas contábeis aplicáveis à interpretação e uniformidade das demonstrações contábeis. • Os Princípios de Contabilidade, definidos conforme a Resolução CFC 750/93, são: • O princípio da ENTIDADE. • O princípio da CONTINUIDADE. • O princípio da OPORTUNIDADE. • O princípio do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL. • O princípio da COMPETÊNCIA. • O princípio da PRUDÊNCIA. • Voltando-se à continuidade da empresa, o interesse do administrador está na solvência da empresa, logo seu foco principal está relacionado à gestão financeira, ou seja, garantir a capacidade de pagamento de suas obrigações assumidas, mediante a gestão adequada dos fluxos de caixa da empresa. • Já o contador volta seu interesse mais para a eficiência econômica das operações, logo, segue os Princípios Contábeis, em que as receitas são reconhecidas no momento das vendas e as despesas no momento em que incorrem. • Desta forma, a gestão financeira deve compreender ambos os regimes, competência e caixa. Eis que o regime de competência deve sinalizar ao administrador a eficiência econômica da empresa relacionada com as ameaças e oportunidades das atividades em qualquer tipo de negócio. RESUMO DO TÓPICO 1 14 1 O novo Código Civil define os tipos de sociedades empresariais, excluídas as sociedades anônimas que são regidas pela Lei das Sociedades por Ações. Associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Sociedade em Nome Coletivo. II- Sociedade em Comandita Simples. III- Sociedade Limitada. IV- Sociedade Anônima. V- Sociedade em Comandita por Ações. ( ) Sociedade com dois tipos de sócios, denominados de comanditados e comanditários. Responsabilidade perante o capital pelos sócios comanditados é ilimitada e pelos comanditários no limite de suas cotas. ( ) Sociedade dividida em ações e os acionistas respondem de forma limitada, de acordo com o preço das ações subscritas. ( ) Sociedade de capital, portanto regida pela Lei das Sociedades por Ações. Responsabilidade dos comanditados é ilimitada e os comanditários respondem limitados ao número de ações subscritas. ( ) Composta por pessoas físicas e seus sócios respondem com seu próprio patrimônio o excedente das dívidas. ( ) Responde de forma limitada ao capital social na proporcionalidade de suas cotas de participação. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) IV - I - V - II - III. b) ( ) II - I - III - IV - V. c) ( ) V - III - IV - II - I. d) ( ) I - II - V - IV - III. 2 Complete as lacunas da sentença a seguir: No Brasil, a forte influência normativa sobre a Contabilidade permeou uma cultura muito mais voltada para atender ao interesse do fisco do que aos interesses societários. A Contabilidade deve atender seus ____________ para suprir informação referente aos aspectos tributários emanados pelas normas _____________ e referente aos aspectos societários emanados pelos ____________ de Contabilidade. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) usuários – governamentais – princípios fundamentais. b) ( ) proprietários – fundamentais – regimes tributários. AUTOATIVIDADE 15 c) ( ) executivos – reguladoras – sistemas. d) ( ) aspectos normativos – contábeis – registros. 3 As demonstrações contábeis são alvo de contadores e administradores. O primeiro produz as demonstrações contábeis para servir de suporte informacional aos administradores. Contudo, o interesse nas informações é diferente, pois possuem objetivos diferentes. Partindo desse pressuposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) No regime de caixa as receitas são reconhecidas no momento da saída de recursos no caixa e as despesas no momento da entrada de recursos do caixa. ( ) O interesse do administrador nas demonstrações contábeis busca identificar a eficiência econômica das operações, por isto, baseia-se sempre nos princípios contábeis. ( ) Fluxo de caixa refere-se à gestão adequada dos recursos de entradas e saídas do caixa para investimentos, financiamentos e operações. ( ) O regime de competência baseia-se no princípio contábil da competência, em que as receitas devem ser reconhecidas e confrontadas com as despesas no momento em que foram incorridas. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F - F - V - V. b) ( ) V - V - V - F. c) ( ) F - V - V - F. d) ( ) V - F - F - V. 4 As provisões são importantes mecanismos contábeis que, seguindo alguns critérios de reconhecimento, determinam a constituição de um valor com desembolso certo, mas valor estimado. Partindo desse pressuposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Uma estimativa confiável do valor a ser provisionado é pré-requisito. ( ) Um dos requisitos que definem uma provisão é a improvável saída de recurso que poderia incorporar benefícios econômicos no momento da liquidação da obrigação. ( ) Uma provisão será sempre uma provisão e jamais uma obrigação. ( ) Em uma constituição de provisão existe a certeza do desembolso e a incerteza do valor que será realizado em determinado período futuro. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F - V. b) ( ) F - F - V - V. c) ( ) F - V - V - F. d) ( ) F - F - V - V. 16 17 TÓPICO 2 ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A expressão análise de balanço surgiu devido à análise inicialmente se referir apenas ao balanço patrimonial. Com o passar do tempo e o aprimoramento da contabilidade, surgiram novas demonstrações contábeis, como a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), entre outras. Então, passou a denominar-se de análise das demonstrações contábeis, contudo, o primeiro nome ainda é muito utilizado. Este termo também será encontrado na literatura, principalmente quando relacionado com a legislação, denominando-se Demonstrações Financeiras, devido à forte relação e interesse com a situação econômico-financeira. A análise das demonstrações contábeis tem grande importância na tomada de decisão no que se refere ao interesse de investidores para tornarem-se acionistas das empresas, na avaliação de desempenho das organizações, concorrentes, sindicatos, empregados, entre outros. Numa visão de processos, pode-se inferir que as demonstrações contábeis são os relatórios que representam o produto final (saída) do processo contábil que será o insumo (entradas) no processo de finanças, em que o administrador se utilizará para analisar as informações e torná-las úteis na sua tomada de decisão. Segundo relata Marion (2009, p. 2): “Relatório contábil é a exposição resumida de dados colhidos pela contabilidade. Objetiva relatar às pessoas que se utilizam da contabilidade (usuários da contabilidade) os principais fatos registrados pela contabilidade em determinado período”. Os relatórios contábeis são os mais importantes e mais utilizados, conforme a Lei 6.404/76, conhecida como Lei das Sociedades por Ações (LSA). Além disto, a estrutura e divulgação das demonstrações contábeis também são regidas pela Lei 10.406/02, conhecida como o Novo Código Civil (NCC). Contudo, a Contabilidade sofreu profundas alterações em sua forma de contabilizar e evidenciar fatos contábeis no Brasil. Estas alterações foram alinhadas com os padrões contábeis internacionais, depois da Lei das Sociedades por Ações (LSA) ser editada e alterada pelas leis 11.638/07 e 11.941/09, que foi editada pela Medida Provisória 449/08. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃOPARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 18 No Brasil, alguns segmentos, como as instituições financeiras, seguros e concessionárias de serviços públicos (energia elétrica, telefonia e saúde), emitem suas regulamentações contábeis e, por força de lei, não podem delegar seus poderes constituídos. O processo de harmonização contábil no Brasil partiu da criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que passou a emitir pronunciamentos técnicos, os quais eram automaticamente transformados em normas nos diversos órgãos participantes das audiências públicas, como, por exemplo: (i) Conselho Federal de Contabilidade – CFC; (ii) Comissão de Valores Mobiliários – CVM; (iii) Banco Central – BACEN; (iv) Superintendência de Seguros Privados – SUSEP; (v) Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. Na figura a seguir demonstram-se, como exemplo, as deliberações dos órgãos em relação ao pronunciamento técnico emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis. FIGURA 2 – EMISSÃO DAS NORMAS DOS ÓRGÃOS REGULADORES CONFORME CPC FONTE: Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pronunciamentosIndex.php>. Acesso em: 13 out. 2013. CPC 23 - Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro Aprovado por: CVM - Deliberação CVM n°. 592/09; CFC - NBC TG 23 - Resolução n°. 1.179/09; CMN - Resolução n°. 4.007/11 (Banco Central do Brasil); ANEEL - Despacho n° 4.722/09; ANS - Instrução Normativa n°. 37/09; SUSEP - Circular n°. 424/11, anexos, anexo IV Observe que cada órgão emite sua regulamentação em consonância com o CPC, tornando, desta forma, as práticas contábeis adotadas no Brasil unificadas e em convergência com as normas contábeis internacionais. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 19 IMPORTANT E Caro acadêmico! Você pode consultar diretamente todas as normas emitidas pelos órgãos reguladores diretamente no site do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: <www.cpc.org.br>. O pronunciamento técnico CPC 26 (2011) conceitua as demonstrações contábeis da seguinte forma: As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo das demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômicas. As demonstrações contábeis também objetivam apresentar os resultados da atuação da administração, em face de seus deveres e responsabilidades na gestão diligente dos recursos que lhe foram confiados. Para satisfazer a esse objetivo, as demonstrações contábeis proporcionam informação da entidade acerca do seguinte: (a) ativos; (b) passivos; (c) patrimônio líquido; (d) receitas e despesas, incluindo ganhos e perdas; (e) alterações no capital próprio mediante integralizações dos proprietários e distribuições a eles; e (f) fluxos de caixa. Essas informações, juntamente com outras informações constantes das notas explicativas, ajudam os usuários das demonstrações contábeis a prever os futuros fluxos de caixa da entidade e, em particular, a época e o grau de certeza de sua geração. Entende-se, segundo o conceito do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a importância das demonstrações contábeis como geradora de informações patrimonial, financeira, econômica das entidades, para controle e gestão de usuários nas análises e tomada de decisão. As principais demonstrações contábeis exigidas pela Lei das Sociedades por Ações (LSA) são: (i) Balanço Patrimonial, (ii) Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), (iii) Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA), (iv) Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e (v) Demonstração do Valor Adicionado (DVA), esta somente para companhias abertas, e (vi) Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido, que substituirá no caso de sociedades anônimas a DLPA. Estão dispensadas da elaboração e publicação da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) , segundo a Lei 11.638/07, as companhias fechadas com patrimônio líquido inferior a dois milhões de reais, na data do fechamento do balanço patrimonial. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 20 Outra alteração importante, a partir da Lei 11.638/07, determina a obrigatoriedade de empresas de sociedade limitada por quotas, consideradas de grande porte, cujo ativo seja superior a 240 milhões ou tenham receita bruta superior a 300 milhões, a elaborar e publicar suas demonstrações contábeis de acordo com a regulamentação da Lei das Sociedades por Ações (LSA). As notas explicativas, e no caso das companhias abertas, o Relatório do Auditor Independente e o Relatório da Administração, complementam as demonstrações contábeis. Caro acadêmico! Vamos agora compreender cada uma das demonstrações contábeis. 2 BALANÇO PATRIMONIAL O Balanço Patrimonial é a principal demonstração contábil, pois evidencia a situação patrimonial e financeira de uma empresa em um determinado momento. Pode ser comparado a uma fotografia da empresa, na qual você registra todos os bens em seu poder, valores a receber ou a pagar em algum momento. Segundo Silva (2010, p. 41), o Balanço Patrimonial “deve representar de forma quantitativa e qualitativa a posição financeira e patrimonial da empresa, a qual é composta por bens, direitos e obrigações em um determinado momento”. Na sua estrutura serão classificados os elementos patrimoniais de acordo com a natureza de seus registros e agrupados de forma compreensiva ao entendimento da situação patrimonial e financeira da entidade. Desta forma, o Balanço Patrimonial é dividido em três grandes grupos e demonstrado em duas colunas, sendo o lado esquerdo representado pelo Ativo e o lado esquerdo pelo Passivo e pelo Patrimônio Líquido, conforme a figura a seguir. FIGURA 3 – EQUILÍBRIO PATRIMONIAL FONTE: Os autores BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 21 Nestes três grupos, Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido, são classificadas as contas que representam o patrimônio da empresa, que é o objeto de estudo da contabilidade. O termo “balanço” deriva do sentido figurado representativo do equilíbrio dos saldos das contas do patrimônio. Demonstra a igualdade da balança entre os dois lados, ou seja, o ativo sempre deverá ter o mesmo saldo do passivo mais o patrimônio líquido. Isto nos leva à primeira e mais importante equação da teoria contábil, sendo: ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO O ativo representa os bens e direitos que estão em poder ou sob controle da entidade adquiridos em momento anterior ao Balanço Patrimonial e sob os quais existe a expectativa de geração de fluxos de caixa futuro. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2011), em sua Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, define ativo como “um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade”, ou seja, um ativo pode ser um bem que esteja apenas em posse ou ainda possua de fato a propriedade. Um exemplo clássico é o leasing financeiro, em que o bem é do arrendador (portanto o proprietário de direito), porém na contabilidade do arrendatário deverá ser contabilizado no ativo como bem do mesmo, visto que o leasing financeiro nada mais é do que uma operação financeira disfarçada, em que o arrendatário já fez a opção de compra do bem, inclusive lhe proporciona benefícios futuros (fluxos de caixa). O passivo é representado pelas obrigações presentes que a empresa possui, ou seja, aquelas que já ocorrem e espera a sua liquidação para que seja capaz de produzir benefícios futuros para a empresa. De acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis(2011), em sua Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro, o “passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos”. Todas as obrigações decorrentes de operações que a empresa assume no presente com promessa de pagamento futuro devem ser registradas no passivo, portanto, representam as dívidas com terceiros. As dívidas com os sócios ou proprietários são representadas pelo grupo do patrimônio líquido. Em sua Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2011) define patrimônio líquido como “o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos”. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 22 Os valores do patrimônio líquido representam os investimentos aplicados pelos sócios quotistas ou acionistas na entidade, com a finalidade de obter vantagens econômicas derivadas das riquezas geradas pelas atividades do negócio. DICAS Na teoria contábil denominamos o lado direito do Balanço Patrimonial como Passivo e Patrimônio Líquido, mas pela Lei das Sociedades por Ações é denominado apenas de Passivo. Caro acadêmico, você pode visualizar os principais agrupamentos de contas do Balanço Patrimonial na figura a seguir. FIGURA 4 – AGRUPAMENTO DE CONTAS DO BALANÇO PATRIMONIAL FONTE: Adaptado de Silva (2010, p. 41) ATIVO PASSIVO + PATRIMÓNIO LÍQUIDO Ativo Circulante Passivo Circulante Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante Realizável a Longo Prazo Patrimônio Líquido Investimentos Capital Social Imobilizado Reservas de Capital Intangível Reservas de Lucros Ajuste Aval. Patrimonial (-) Ações em Tesouraria Prejuízo Acumulado Mas você deve estar se perguntando: – Por que as contas são agrupadas e classificadas nesta ordem? Como já explicamos anteriormente, as contas devem ser agrupadas de forma compreensível e que demonstre a real situação patrimonial e financeira da empresa, lembra? Portanto, para uma adequada análise do Balanço Patrimonial, imaginando a possibilidade de uma descontinuidade das operações, seria importante que as contas do ativo fossem agrupadas pelo seu grau de liquidez, ou seja, pela capacidade de converter seu patrimônio (ativo) em dinheiro mais rapidamente. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 23 Por outro lado, partindo do pressuposto de uma descontinuidade de operações, também seria interessante que as contas do passivo fossem agrupadas pelo seu grau de exigibilidade, ou seja, as dívidas que devem ser pagas mais rapidamente. Desta forma, o Balanço Patrimonial foi dividido em Circulantes e Não Circulantes. O grupo Circulantes deve compreender um período superior a 12 meses após o encerramento do exercício social e são as contas de curto prazo, enquanto o Não Circulantes compreende um período superior a 12 meses após o encerramento do exercício e são as contas de longo prazo, conforme se pode observar na figura a seguir. FIGURA 5 – CICLO CONTÁBIL FONTE: Os autores Dentro desses dois grupos, Circulantes e Não Circulantes, são agrupadas as contas segundo seu grau de liquidez para ativos e exigibilidade para passivos em ordem decrescente, conforme apresentamos na figura a seguir: FIGURA 6 – DEMONSTRATIVO DE CONVERSIBILIDADE DAS CONTAS PATRIMONIAIS FONTE: Adaptado de Marion (2009, p. 64) Grau de Liquidez Decrescente Ativo Passivo e Patrimônio Líquido Rápida Circulante Circulante Lenta Não Circulante> Realizável a LP Não Circulante > Exigível de Longo Prazo Não há Bens de uso (não paravenda) Patrimônio Líquido Capital (Sócios) * Excepcionalmente a empresa vende bens de uso. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 24 Como podemos observar, comparativamente com o agrupamento de contas, as contas que compreendem o grupo circulante, como as disponibilidades de caixa e bancos, clientes, estoques, entre outras contas que compõem as operações da empresa, terão conversão mais rápida em dinheiro do que as contas do grupo Realizável a Longo Prazo. Como exemplos das contas do grupo Realizável a Longo Prazo temos os créditos a receber em longo prazo, ou seja, os bens da empresa, os quais praticamente não há velocidade na conversão, visto que os bens não são destinados à venda, mas, sim, destinados às operações para gerar benefícios futuros ao longo de sua vida útil. 2.1 ATIVO CIRCULANTE O grupo de ativo circulante compreende as contas das movimentações que se espera dentro de suas operações normais, em até 12 meses após o encerramento do exercício social da entidade. Desta forma, para que este grupo seja classificado como um ativo, ele deve atender alguns pré-requisitos descritos no pronunciamento técnico CPC 26 (2011), sendo que: O ativo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos seguintes critérios: (a) espera-se que seja realizado, ou pretende-se que seja vendido ou consumido no decurso normal do ciclo operacional da entidade; (b) está mantido essencialmente com o propósito de ser negociado; (c) espera-se que seja realizado até doze meses após a data do balanço; ou (d) é caixa ou equivalente de caixa (conforme definido no Pronunciamento Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa), a menos que sua troca ou uso para liquidação de passivo se encontre vedada durante pelo menos doze meses após a data do balanço. Com base nestes critérios, demonstramos, na figura a seguir, as principais contas deste agrupamento. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 25 FIGURA 7 – ESTRUTURA DO ATIVO CIRCULANTE FONTE: Os autores ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE - Disponibilidades (caixa e bancos e aplicações financeiras) - Clientes ou duplicatas a receber - Estoques - Despesas pagas antecipadamente PASSIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO A composição do Disponível é formada pelas contas: caixa, depósitos bancários à vista e clientes ou duplicatas a receber. Na conta caixa o saldo representa o dinheiro disponível em espécie ou cheques em poder, mas ainda não depositados, porém são recebíveis de imediata realização. A conta Depósito Bancários à Vista representa os saldos da movimentação bancária da empresa, juntamente com os cheques, depósitos efetuados e recebimentos de cobranças, entre outros. A conta Clientes ou Duplicatas a Receber representa os saldos das vendas de mercadorias e/ou serviços prestados a prazo, pela emissão de títulos em cobranças no prazo acordado com o cliente. Porém, devido à incerteza no recebimento e aos riscos de crédito, a empresa registra em uma conta redutora, denominada de Provisão para Devedores Duvidosos, os valores que reconhecidamente não serão recebidos, que venceram e não serão recebidos no fim do exercício social. A contrapartida desta conta deverá ser a conta de despesas com devedores duvidosos, reduzindo o lucro das operações. FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DA PROVISÃO PARA DEVEDORES DUVIDOSOS FONTE: Os autores Ativo R$ Ativo Circulante Disponivel Clientes 300.000 (-) Provisão p/ Dev. Duvidosos -30.000 270.000 Ativo Não Circulante UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 26 A conta Estoques representa os saldos das mercadorias destinadas a vendas e mercadorias inacabadas (em transformação) e matéria-prima in natura, aguardando para ser consumida no processo de fabricação. A conta Despesas Pagas Antecipadamente representa saldos de despesas pagas que trarão benefícios até o próximo exercício social e que somente neste período é que devem ser apropriados, independente do desembolso. As despesas Pagas Antecipadamente mais conhecidas são: seguros, juros, aluguéis, impressos e materiais de uso personalizado. 2.2 ATIVO NÃO CIRCULANTE Todos os demais ativosque não se enquadram no circulante deverão ser classificados como Não Circulantes. Após a edição da Lei 11.941/09, que extinguiu o grupo de Realizável e o incorporou ao Não Circulante, este passou a ser estruturado com as contas: (i) Realizável a Longo Prazo, (ii) Investimentos, (iii) Imobilizado e (iv) Intangível, conforme a figura a seguir. FIGURA 9 – ESTRUTURA DO ATIVO NÃO CIRCULANTE FONTE: Os autores ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE - Realizável de longo prazo - Investimentos - Imobilizado - Intangível PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO A conta Realizável de Longo Prazo representa menor liquidez às contas do grupo circulante, conforme já discutido anteriormente. Segundo Lima (2010, p. 42), nesta conta são classificados: [...] os direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia. Na conta Investimentos são classificadas as participações em outras sociedades, não mantidas para venda (caráter permanente), e as aplicações permanentes que não se destinam à atividade operacional da empresa, como, por exemplo, terrenos, imóveis alugados a terceiros, obras de arte, entre outros. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 27 A conta Imobilizado representa os saldos em que são classificados os bens corpóreos da empresa que tenham sido destinados às atividades operacionais que promovam benefícios futuros e estejam sob controle e risco da empresa. IMPORTANT E São características obrigatórias de um Ativo Não Circulante – Imobilizado para tal classificação: (i) ser de natureza duradoura (vida útil superior ao exercício social); (ii) ser utilizado nas operações da empresa; e (iii) não se destinar à venda. A conta Intangível representa os saldos em que são classificados todos os direitos que tenham como objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da empresa, inclusive os fundos de comércio adquiridos (SILVA, 2010). Caro acadêmico! Agora que estudamos o ativo, passaremos a conceituar o passivo e o patrimônio líquido. 2.3 PASSIVO CIRCULANTE O grupo de passivo circulante compreende as contas em que existe uma obrigação presente, cujo pagamento resulte em benefícios futuros. Em outras palavras, são obrigações assumidas pela empresa que tenham como vencimento para liquidação dentro do exercício social seguinte. Desta forma, para que seja classificado como um passivo, este grupo deve atender alguns pré-requisitos descritos no pronunciamento técnico CPC 26 (2011), sendo que: O passivo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos seguintes critérios: (a) espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade; (b) está mantido essencialmente para a finalidade de ser negociado; (c) deve ser liquidado no período de até doze meses após a data do balanço; ou (d) a entidade não tem direito incondicional de diferir a liquidação do passivo durante pelo menos doze meses após a data do balanço (ver item 73). Os termos de um passivo que podem, à opção da contraparte, resultar na sua liquidação por meio da emissão de instrumentos patrimoniais não devem afetar a sua classificação. Com base neste critério, têm-se as contas, demonstradas na figura a seguir, como principais neste agrupamento. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 28 FIGURA 10 – ESTRUTURA DO PASSIVO CIRCULANTE FONTE: Os autores BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE - Fornecedores; - Salários a Pagar; - Encargos Sociais a recolher; - Impostos a recolher; - Imposto de Renda e Provisões; - Empréstimos Bancários; e - Outras Obrigações. ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO A conta Fornecedores representa os saldos das compras realizadas, dos insumos adquiridos para o processo produtivo (indústrias) ou compras para revenda (comércio). A conta Salários a Pagar representa os saldos de dívidas com salários dos colaboradores da empresa, cujo pagamento somente ocorrerá no quinto dia útil após o fechamento do balanço. A conta Encargos Sociais a Recolher representa os saldos das despesas incorridas e decorrentes da folha de pagamento dos colaboradores que ainda serão pagos, portanto se tornam obrigações. A conta Impostos a recolher representa os saldos dos impostos aferidos sobre vendas ou lucros, devidamente apuradas suas compensações, quando lhe couber, cujas despesas incorreram e obrigação de pagamento tem vencimento futuro. Como exemplos podemos citar o Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços – ICMS, entre outros. A conta Imposto de Renda a Pagar representa os saldos da obrigação existente, proveniente da apuração do lucro do exercício que deverá ser recolhido no exercício seguinte ao fechamento. A conta Provisões representa os saldos de obrigações presentes existentes para com terceiros, cujo valor não pode ser aferido com precisão, portanto representa estimativas de valores. A constituição de provisões mais conhecidas refere-se a férias, gratificação a empregados, 13º salário e contingências. TÓPICO 2 | ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 29 A conta Empréstimos Bancários representa os saldos dos empréstimos realizados com instituições financeiras, cujas obrigações têm vencimento dentro do próximo exercício social. As outras obrigações representam os saldos correspondentes a valores adiantados de clientes, dados em garantia da entrega do bem ou execução do serviço no futuro, a contas a pagar referente a gastos de pequena monta, como água, telefone, energia elétrica, e ainda aos dividendos a pagar que são a distribuição sobre os lucros. Agora que você conheceu sobre as principais contas do passivo circulante, veremos as contas do passivo não circulante. 2.4 PASSIVO NÃO CIRCULANTE Todas as demais obrigações que sejam superiores a 12 meses após o encerramento do exercício devem ser contabilizadas no Passivo Não Circulante. A partir da Lei 11.941/09 (Medida Provisória 449/08), o grupo de contas denominado de Exigível de Longo Prazo foi substituído pelo Passivo Não Circulante, e este, por sua vez, tornou-se um subgrupo. As principais contas dentro do Exigível de Longo Prazo podem ser: (i) Financiamentos, (ii) Debêntures, entre outras. FIGURA 11 – ESTRUTURA DO PASSIVO NÃO CIRCULANTE FONTE: Os autores ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE - Exigível a longo prazo PATRIMÔNIO LÍQUIDO A conta Financiamento representa os saldos de empréstimos nacionais e internacionais realizados pela empresa com pagamento em longo prazo. Os juros devem ser calculados e apropriados de acordo com o sistema de amortização contratado que corresponda aos juros que deverão incorrer em longo prazo. A conta Debêntures representa os saldos das dívidas com os detentores dos direitos de crédito contra a empresa pela emissão dos títulos que apresentam característica de vencimento em longo prazo. UNIDADE 1 | ESTRUTURA E PREPARAÇÃO PARA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 30 Agora que você conheceu sobre as principais contas do passivo não circulante, veremos as contas do patrimônio líquido. 2.5 PATRIMÔNIO LÍQUIDO O Patrimônio Líquido pode ser compreendido como uma diferença residual entre ativos e passivos exigíveis. Os passivos exigíveis representam os recursos aplicados no ativo e reclamados por terceiros (fornecedores, bancos, entre outros) no momento de seu vencimento. Neste contexto, o Patrimônio Líquido representa os recursos aplicados no ativo pelos sócios quotistas ou acionistas que não possuem data de vencimento, ou seja, trata-se de recursos não exigíveis, porém esperam que uma remuneração lhes
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