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HERMENÊUTICA, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA - 4º PERÍODO Fichamento "Lógica Formal Lógica Dialética", pag.170 à 210 Professor: Luiz Roberto Rezende Martins Aluno: Arthur Bastos 1. A DIALÉTICA MODERNA Vamos nos voltar diretamente para o mundo e para as coisas em si - o conteúdo. Livremo-nos de todo formalismo e das sutilezas metafísicas obscuras que se tornaram uma abstração escolástica, assim como ocorreu na Idade Média. Deixemos de lado os "problemas" insolúveis dessa abordagem. Sejamos decididamente modernos. Se a realidade está em constante movimento, então nosso pensamento também deve acompanhar esse movimento e estar consciente dessa contradição. Para satisfazer a necessidade de um contato direto com o conteúdo, sem perdermos nosso caráter pensante, devemos estabelecê-lo com rigor. 2. MOVIMENTO DA FORMA E DO CONTEÚDO Portanto, vamos nos situar exatamente onde deixamos a lógica formal propriamente dita. Vamos reconsiderar a noção mais geral, a noção de "ser", como expressa em "A é A". Fomos obrigados a constatar que esse "ser" em geral, que caracteriza a forma do pensamento "puro", é apenas um ser abstrato. Ele não possui significado nem se refere a um ser determinado. Ainda não tem nenhum conteúdo; é, claramente, uma redução desse conteúdo ao mínimo absoluto, ao "zero" do conteúdo. Portanto, esse ser vazio, abstrato, é "nada". Vamos refletir sobre essa formulação. Ao afirmarmos explicitamente que o ser (abstrato) não é nada, estaremos negando o próprio pensamento do ser? Não. Também afirmamos explicitamente que esse ser se aplica a tudo o que existe. Tudo o que é pode ser expresso na fórmula da identidade abstrata: "a árvore é a árvore", "o círculo é o círculo", "o homem é o homem". No entanto, esse pensamento tautológico é vazio, exatamente por ser geral, não nos diz o que cada um desses elementos "é" concretamente. Não nos diz sobre a árvore, o círculo, o homem, especificamente, pois abrange tudo. Esse ser abstrato e geral não se aplica a nada em particular. Logo, estamos diante de um ponto-limite: o pensamento sobre o "ser" em geral é um pensamento vazio e sem existência. O conteúdo é anulado. O que resta, então? Bem, resta o pensamento, o pensamento situado em seu próprio plano, em seu devido lugar! E o conteúdo - anulado - não é destruído nem esquecido; ele persiste, e sabemos disso. Sabemos também que é necessário retornar a ele e dizer o que esses elementos, como o homem, o círculo, a árvore, realmente "são". A técnica do diálogo e da discussão foi praticada pelos sofistas, mas com o objetivo de confrontar e desacreditar várias teses umas contra as outras. As teses em questão revelam-se então como incompletas, superficiais, meras aparências momentâneas, fragmentos de verdade. 3. MOVIMENTOS DA PESQUISA A contradição dialética. As pessoas "espirituosas" (com seu humor, brincadeiras e trocadilhos) frequentemente identificam contradições, mas sem alcançar uma compreensão dialética precisa. Apenas a razão aguça a diversidade obscurecida das diferenças, a simples variedade de impressões e pensamentos, a fim de alcançar a essência, a contradição. É nesse ponto aguçado da consciência que as diversidades entram em movimento, revelam suas relações e nos apresentam novamente (em nosso pensamento) o caráter dialético, que é "a pulsação interna do movimento espontâneo e da vida" (Hegel). No entanto, a dialética não é uma apologia da contradição. A contradição interna é uma lei da natureza e da vida, uma lei dolorosa. Por exemplo, uma mãe que carrega um filho no ventre, fornecendo-lhe sua substância e correndo o risco de sua própria morte para que ele nasça, está sujeita a essa lei, mesmo que não a conheça. No entanto, a contradição por si só é insuportável. O devir, que tem suas raízes na contradição e é essencialmente uma "tendência", busca sair da contradição e restabelecer a unidade. Nas lutas da contradição, as forças presentes se confrontam e se destroem, mas também se penetram mutuamente. A unidade delas - o movimento que as une e as atravessa - tende, por sua própria natureza, em direção a algo diferente, mais concreto e mais determinado. Isso ocorre porque esse "terceiro termo" compreenderá o que há de positivo em cada uma das forças contraditórias, negando apenas seu aspecto negativo, limitado e destrutivo. 4. A CIÊNCIA ADQUIRIDA E O MOVIMENTO OBJETIVO Um organismo vivo, como o nosso, parece ser suficiente em si mesmo, aparentando ser um todo separado? Isso não é verdade. Através de trocas térmicas, alimentação, entre outros processos, ele se integra ao ambiente, não se separa dele. Além disso, ele é inseparável da espécie, que habita em nós nas células germinativas. A espécie em si é um todo e, por sua vez, é inseparável do conjunto da evolução e do processo vital. Embora a vida possa parecer separada da "matéria inerte", essa separação, que pode parecer evidente no mundo cotidiano, tem sido amplamente explorada pela metafísica. A metafísica argumenta a existência de um "princípio vital" ou um "princípio espiritual da vida" separado da natureza material. No entanto, essa separação, em termos absolutos, é falsa. A matéria é inerte apenas em aparência e para nós, devido aos seus ritmos e vibrações que são muito diferentes dos nossos. Ela contém energias imensuráveis. Hoje em dia, não podemos mais afirmar que ela recebe ou contém energia; ela é concretamente energia. O movimento é o modo de existência da matéria; não há matéria sem movimento, e há movimento sem "matéria" ou realidade objetiva. Por exemplo, dentro de um pedaço de metal, milhões e milhões de corpúsculos vibram. Além disso, a morte não implica a ausência de um princípio metafísico. A morte é um processo, e foram descobertos intermediários entre a matéria e a vida, como os vírus orgânicos, que se cristalizam como corpos químicos materiais, mas provocam o contágio de doenças. 5. O PRINCÍPIO DA IDENTIDADE. SUA NATUREZA DIALÉTICA Após discutir a necessidade de uma lógica concreta que supere a lógica formal, é importante revisitar, em um nível mais avançado, as proposições e afirmações já estudadas, especialmente o princípio da identidade e a teoria lógica da contradição. A lógica formal afirma que o ser (cada ser) é o que é, e a metafísica tentou extrair uma definição absoluta do ser (e das verdades eternas sobre o ser) a partir dessa afirmação. No entanto, essa frase mencionada contém elementos suspeitos de idealismo, como a referência ao céu. Se nos referirmos ao céu no sentido astronômico, é válido considerar que as estrelas também nascem e morrem, e sua velocidade de movimento é muito maior do que a das moléculas de explosivos. Mas se estamos nos referindo ao céu teológico, Hegel argumenta que um deus que contém o nada não é mais um deus, e um absoluto que contém sua negação não é mais absoluto. Hegel, em certos aspectos, acaba se contradizendo. No entanto, é possível observar inúmeras representações dessa relação dialética entre o ser e o nada ao nosso redor, sendo a relação entre vida e morte a mais evidente. Quando se trata do ser abstrato, sua transição para o nada e sua unidade com o nada não deixam dúvidas nem apresentam dificuldades. O ser abstrato é "nada", mas mesmo essa operação de diferenciação já implica um enriquecimento, uma síntese ou, mais precisamente, uma negação da negação. O devir, no pensamento abstrato, manifesta-se como a negação simultânea do ser e do nada. Ao se transformarem um no outro, o ser e o nada se tornam devir. O devir, como terceiro termo, abrange e supera ambos, preservando o que têm de determinado: a constante conversão de um no outro. As determinações mais concretas implicam e superam as determinações mais abstratas. Todo devir real acrescenta algo à noção abstrata de devir, mas também implica uma determinação específica. Aquilo que ainda não é tende a sere nasce, agindo como um começo, enquanto aquilo que era deixará de ser. O devir é uma tendência em direção a algo, um "fim" que será um novo começo. 6. O PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE O princípio da causalidade é classicamente formulado como "todo efeito tem uma causa". Nessa formulação, é um princípio lógico rigoroso e tautológico, pois não há efeito sem causa, e a ideia de causa implica a de efeito. No entanto, quando o princípio da causalidade é formulado como "tudo tem uma causa e a mesma causa precede o mesmo efeito", ainda permanecemos na esfera da tautologia. Como poderíamos saber que a causa é a mesma, a menos que observemos o mesmo efeito? Nesse caso, por que a causa e o efeito se identificam? 7. O PRINCÍPIO DA FINALIDADE. FINS SEM PROPÓSITO O princípio da finalidade é classicamente formulado como "tudo tem um fim". Quando assumido de forma metafísica, esse princípio sugere que a natureza tem intenções e propósitos, assim como a vontade humana. Seres seriam criados pela natureza da mesma forma que um artesão fabrica cadeiras e mesas, seguindo uma "ideia" prévia do objetivo a ser alcançado e dos procedimentos mecânicos necessários para atingi-lo. Bernardin de Saint-Pierre, partindo desse princípio metafísico, chegou a conclusões surpreendentemente infantis em sua obra "Harmonies de la nature": afirmou que o melão possui lados para serem compartilhados em família e que as pulgas negras foram criadas pela natureza para serem visíveis na pele, entre outros exemplos. 8. QUALIDADE E QUANTIDADE Acabamos de constatar que cada ser possui uma qualidade finita e que a interação universal representa a conexão entre essas qualidades. A qualidade tem um aspecto infinito, uma vez que o universo se constitui como um conjunto de qualidades. Adentramos no domínio da qualidade, que agora será integrado aos momentos subsequentes da pesquisa e da objetividade determinada. A qualidade se revelou com seus aspectos positivo e negativo. O ser qualitativamente determinado, sendo algo em si mesmo, só existe em relação a outra coisa; está conectado a outra coisa e é impulsionado para o devir por algo além dele mesmo. O ser trará consigo algo mais em sua existência, transformando-se ou sendo aniquilado. Estudamos a qualidade e a interação em conjunto, mas a interação se situa em um grau mais elevado de realidade e verdade. Portanto, não devemos nos contentar apenas com a análise das partes e, em seguida, afirmar abstratamente que elas não podem ser isoladas. É sempre necessário retornar das partes para o todo, pois é nele que reside a realidade, a verdade e a razão de ser das partes. Na razão, encontramos algo além da qualidade em seu sentido geral. A razão, considerada como um devir determinado, pode ser mais ou menos real, objetiva e verdadeira. Ela introduz, de dentro, um esboço de qualidade. Além disso, podemos raciocinar por absurdo e supor que a natureza seja puramente qualitativa, como na metafísica de Bergson. Isso nos leva a duas alternativas: ou o devir seria completamente contínuo, o que é defendido por Bergson e justificado por argumentos psicológicos, nos quais ele busca eliminar tudo o que não é pura qualidade em si, ou o devir seria absolutamente descontínuo, isto é, uma soma de qualidades sem nenhuma conexão. Essas são algumas das ideias e conceitos abordados na pesquisa até o momento. A dialética, a relação entre a matéria e a vida, a contradição, o movimento objetivo, o princípio da identidade e da causalidade, o princípio da finalidade, e a relação entre qualidade e quantidade são temas centrais que têm sido analisados à luz de uma abordagem filosófica.
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