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INTRODUÇÃO

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~jtl!'·' 
~~41:,: 
. ....... . . .. ......... ........ -.... ------- .-·-···----·-~· ' 
DIREITOS -TUTELADOS PELO 
MICROSSISTEMA COLETIVO 
Sumário: 6.1. Direitós ou interesses? - 6.2. Direito difuso - 6.3. Direito coletivo - 6.4. Oi- · 
reitos individuais homogêneos - 6.5. Direitos individuais indisponíveis - 6.6. Identidades 
e diferenças entre os direitos coletivos lato sensu. 
t··'-"',í?i ,·, _ 
,~,; ~.1. DIREITOS OU INTERESSES? 
j;t~ Há div~rs:-pa~~a~e:-~:-~::t:: ·1:~:·s-~~::·~; s~ r~ferirem ao objeto de 
if~jf[/ tutela do processo coletivo, mencionam "direitos,, e "interesses', difusos, coletivos 
·lii_ e :individuais homogêneos. O art. 81 do CDC, responsável pela conceituação do 
· .J) gue ·seja difuso; ·coletivo e individual homogêneo, faz expressa menção a internsse 
:J/> e direitos; o art. 21 da LACP, ao prever a aplicação subsidiária do CDC, tam-
t~Jn::-- b~m faz alusão a direitos e interesses; o art. 129, III, da CF prevê como função 
]~/-! ½lstitucional do Ministério Pú_blico a instauração de inquérito civil e a aç~o civil 
fl\/ : pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de 
~i:\ outros interesses difusos e coletivos. 
~---~- -t-.~-~-t- _:_:_~_Z_·_'.:_- 1° daHf ;;;t::. d~t;:!~;~so qi~eet;~:~~t:~ ~! :~~º:iv~0~~i~t~:i;a :~ 
;..::.:~;: _ inciso III bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisa-
fjfS\ gístico, e no inciso IV, a tutela de qualquer outro interesse difuso ou coletivo. O 
~ 0 ,! · mesmo se verifica em decisões do Superior Tribunal de Justiça, que se referem 
Sem qualquer preocupação a ambos os termos, a cada momento alternando-os 
como se fossem sinônimos•. 
H '~-.- 1 STJ, 2'Turma, AgRg no REsp 1.545.352/SC, rei. Mln. Herman Benjamln,J. 15/12/201S, DJe OS/02n016; STJ, l i ~:::tr::~~~10;,~9::~l~~ii~:~. Paulo de Tarso Sanseverlno, rei. p/ acórdão Mln. Ricardo Vlllas 8óas 
160 
MANUAL DE PROCESSO COLETIVO • V0t.UME Ú111co - Daniel Amor
im Assumpçdo N~e$ 
Por fim, o art. 21, parágrafo único, da Lei 12.016/2009 prevê e
m seus dois 
incisos a tutela de direitos coletivos e individuais homogêne
os por meio do 
mandado de segurança coletivo, sem qualquer menção ao term
o interesses. 
Afinal, o objeto de tutela por meio do processo coletivo são
 os direitos 
difusos, coletivos e individuais homogêneos, os interesses difu
sos, coletivos e 
individuais homogêneos ou ambos? 
É possível indicar na doutrina a existência de três correntes so
bre o tema: 
(a) os que entendem tratar-se de tern1os sinônimos
2
; (b) os que entendem mais 
apropriada a adoção do termo interesse
3
; (c) os que defendem a utilização do 
termo direito4. 
Acredito que para o direito pátrio a distinção entre direito e in
teresse não 
tenha mais a relevância de outrora e que até hoje é mantida em a
lguns outros 
países. A necessidade de tutelar a coletividade ou uma comunida
de surgiu como 
algo incompreensível diante da concepção clássica de direito sub
jetivo, dividido 
entre direito privado (de titularidade de um indivíduo) e públ
ico (de titulari-
dade do Estado). Não havendo espaço para esses novos titular
es (coletividade 
e comunidade), criou-se o termo interesses para designar esse n
ovo fenômeno. 
Como bem demonstrado pela melhor doutrina, a exclusão do ch
amado "in-
teresse'' coletivo e difuso do âmbito dos direitos só pode ser exp
licada por uma 
estreita concepção de direito subjetivo, com nítidas marcas de 
um liberalismo 
individualista, que exigia a determinação de titular como condi
ção para a exis-
tência de um direito5• E, até mesmo dentro dessa visão clássica
 e ultrapassada, 
passou a se admitir uma distinção entre os chamados interesses
, que foram de-
finidos como interesses simples - não tuteláveis jurisdicionalmen
te - e interesses 
legítimos (jurídicos) - tuteláveis da mesma forma que os direitos sub
jetivos. 
Como se pode notar, é possível que a distinção pretendida e
ntre direito 
subjetivo e interesse legítimo tenha algum interesse em países qu
e mantêm dife-
rentes estruturas jurisdicionais para tutelar cada um deles. É o ca
so, por exemplo, 
da Itália, país no qual os direitos subjetivos são postulados p
erante a Justiça 
ordinária ou . contenciosa civil, enquanto os interesses legítimos
 são postulados 
perante a Justiça administrativà. Não é esse, entretanto, o caso do Br
asil, que tem 
uma jurisdição una e indivisível, que tutelará tanto o interesse l
egítimo como o 
direito subjetivo, caso efetivamente existam diferenças entre eles
. 
Na realidade, os valores de interesse da coletividade ou de um
a comuni-
dade, que um dia foram considerados meros interesses e dep
ois passaram a 
ser vistos como interesses legítimos, atualmente devem ser cons
iderados ~orno 
direitos subjetivos. Daí a absoluta desnecessidade de continuar, ta
nto em âmbito 
legislativo como doutrinário e jurisprudencial, a se referir a int
eresses quando 
2 Watanabe, Código, p. 70; Assagra, Direito, p. 487; Rlzzatto Nune
s, As ações, pp. 443-444. 
3 Vigliar, Tutela, pp. 60-61; Mazzllli, A defesa, p. 62. 
• Didier Jr.-Zanetl Jr., Curso, pp. 92-93; Carvalho Filho, Aç:io, p
. 28. 
s Watanabe, Código, p. 70. 
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C,p. 6 • DIREITOS TUTELADOS PELO MICROSSISTEMA COLETIVO 161 i~~~:/i.- ?. 
tr~~{ ~·,,;~ ··L ~i?i.:~·--.\ .......... ----------~-----------------------
M. --::-'""t·' -·~·-.,, 
~\~-~t·:.:· 
Jt{i'.·:\ se ,_ tratar de tutela coletiva, bastando para a compreensão do tema a utilização 
~~:i.:~~'···· .d "d· . ,, tN:t1.,- ·· >. · o termo ire1to . , · · :.- ,:-.,:-i 
6'-~~~~::~"\. .. ·.. 
. . ' ·'·. 
~~if\\{::_:_.· Compreende-se a corrente doutrinária que prefere a utilização do termo 
~~!~?~;?{ . .interesse a direito por considerar que nesse caso amplia-se o objeto de tutela por 
lf,jt/'.·/ tneio_ do processo coletivo6• Contudo, tenho a impressão de que essa preocupação, 
;-,,,:.,_;\i~tf apesar de legítima e bem-vinda, não tem qualquer consequência prática, porque 
\;!{\não consigo imaginar um "interesse" difuso, coletivo e individual homogêneo 
\l\{.que não possa ser tratado como direito subjetivo
7• 
. ~, 1i~{}<- Diante de todas as considerações tecidas a respeito da diferença de inte-
:..·;,r,~·:.:~<::-:-·---. · 
/if.N,~,\\}\ tesse - em especial o legítimo - e o direito subjetivo, e constatada a absoluta 
·t{ irrelevância de distinção entre ambos no tocante à tutela jurisdicional no plano 
;-,,~·f•/J.~~;\· coletivo, prefiro me valer exclusivamente do termo direito. 
~~t.-?i:!~;:{,·;:· ... : · ... 
!i[ilif/-/ = · Existem fundamentalmente três espécies de direitos materiais tutelados pelo 
~Jfr~If/}/-ni.icrossistema coletivo: difusos, coletivos e individuais homogêneos. É preciso 
i!i!}f_.\/ também incluir as_ previsões específicas no Estatuto da Criança e Adolescente 
fif;;;Jl!\?; e no Estatuto do Idoso a respeito da defesa pelo Ministério Público de direitos 
líri§\7~\f.(.-individuais indisponíveis por meio de ação coletiva, que também serão tratadas 
j[?{~si//no presente capítulo. 
}~~~0::;\j:.--, . .- , O art. 81, parágrafo único, da Lei 8.078/1990 conceitua essas três espécies 
~~
1~1{\1:{/( de· direitos coletivos lato sensu, sendo relevante sua distinção sob a ótica acadê-
~![~1~\( ínica e mesmo prática, em especial a diferença entre os direitos genuinamente 
...... ;_;:<~_ .. :,.. ,. • • . 
f~,;it/{:f> êoletivos e aqueles apenas acidentalmente coletivos. 
~lt::.::~:::>··' .. 
it~'.:,:'~°':~::'.:=.- ·6!2 DIREITO DIFUSO 
~~t~:::_( --~ ~ ·-----·-----·-··------------ -··-· ·-···-·-···· ·-··--·· ············ ....... ... . 
•f···•······· .. 
~tW~H'.~t:_.· >,· Nos termos do art. 81, parágrafo único, I, do CDC, os interessesou direitos 
~l~Jtf/;\-·· difüsos· s'aô-a1reítô's"fransindividuais, de natureza indivisível. de que sejam titula-
;i~~ft{~}/ ~es pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.- Como se pode 
@~:.:Jt n_otar do conceito legal de direito difuso. essa espécie de direito é composta por 
füBl}tV· quatro elementos cumulativos. . 
~~;W/: :·.'.:· · Afirmar que o dfreito difuso é transindividual é determinar a espécie de 
~f:ff}·\ ~ireito pelo seu aspecto subjetivo, qual seja, o seu titular. O direito transindiví-
f?i;~fb} dual, também chamado de ·metaindividual ou supraindividual. é aquele que não 
~i;,.~·;~;--_:: tem como titular um indivíduoª. 
:7,.. · ~,;.:-~~· ·.'. 
f1~/\/: ··._. Nota-se que o conceito de direito transindividual é residual, aplicando-se 
;:~:Jl/ ;}.· i · todo direito material que não seja de titularidade de um indivíduo, seja ele 
f~?.t/::.· pessoa humana ou jurídica, de direito privado ou público. No caso específico do 
~fif:/':· direito difuso, o titular é a coletividade, representada por sujeitos indetermina-
~ti~t:~~;·.-~ ~ -.. \· · -··. 
-~l\: ,,. ~-..~--. 
~,;1:.:r~~~-l 
~b-, , -. 
Leonel, Manual, 3.1, p. 79. 
Carvalho Filho, Ação, p. 28; Venturl, Processo, p. 49; Lenza, Teoria, p. 50. 
Zavasckl, Processo coletivo, p. 42. 
. •: ._:._ 
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162 
MANUAL DE PROCESSO COLETIVO • VOlUME ÚNICO - Donicl Amorim
 Assum~do N~es 
dos e indetermináveis. São direitos que não têm por titular uma 
só pessoa nem 
mesmo um grupo bem determinado de pessoas, conc~rnindo a
 todo o grupo 
social, a toda a coletividade, ou mesmo à parcela significativa dela. 
O segundo elemento é a natureza indivisível, voltado para a incind
ibilidade 
do direito, ou seja, o dir_eito difuso é um direito que não pode 
ser fracionado 
entre os membros que compõem a coletividade. Dessa forma, 
havendo uma 
violação ao direito difuso, todos suportarão por igual tal viola
ção, o mesmo 
ocorrendo com a tutela jurisdicional, que uma vez obtida aprov
eitará a todos 
indistintamente9• 
Ao prever o terceiro elemento que compõe o direito difuso, o ar
t. 81, pa-
rágrafo único, I, do CDC comete um equívoco ao afirmar · que
 a titularidade 
desse direito é de pessoas indeterminadas. Na realidade, os titu
lares não são 
sujeitos indeterminados, mas sim a coletividade. Essa coletividade,
 naturalmente, 
é formada por pessoas humanas, mas o direito difuso não as co
nsidera como 
indivíduos, 1nas tão somente como sujeitos que compõem a colet
ividade, como 
integrantes desta10• 
Com essas considerações deve ser interpretado o dispositivo 
legal ora 
mencionado, e nesses termos compreende-se que o titular do dire
ito difuso é· a 
coletividade, por sua vez composta por sujeitos indeterminados e ind
etermináveis, 
ou seja, sujeitos que não são nem podem ser determinados individ
ualmente. Na 
realidade, como lembra a melhor doutrina, admite-se uma indete
rminabilidade 
relativa; mesmo que seja possível a determinação, sendo esta extrem
amente difícil 
e trabalhosa, o direito continua a ser difuso
11• 
Por fim, o último elemento apontado pelo dispositivo legal ora-
analisado 
na conceituação do direito difuso é a circunstância de estarem tod
os os sujeitos 
que compõem a coletividade ligados por uma situação de fato, sen
do dispensável 
que entre eles exista qualquer relação jurídica
12
• . 
Exen1plo classicamente dado de direito difuso é o da propaganda en
ganosa 13• 
Por meio de anúncio que induz o consumidor a erro, um fornecedo
r tenta vender 
produto ou serviço que jamais será apto a atender as expectativas
 deixadas pela 
propaganda. O simples fato de ser veiculada ~m~ campanha pub
licitária enga-
nosa . é o suficiente para que todos os consumidores, potencialmente expostos 
a)âI° 'campanha, passem a compor a coletividade . consumerista afrontada pela 
violação cometida pelo fornecedor. .- ... ,_. . 
. 
... . ,.. Qutrq interessante exemplo é o da colocação no mercado de p
rodutos com 
àlt~-_g"~âü 4~ r .~dvidade ou periculosidade à s~úde ou segurança dos consu~ido-
.· . . . . .. . ; 
' · . C.fr. Ação . civil pública: p. 151. 
,o Arruda Alvim, Ação clvll pública, RePro 87, p. 151, Gldl, Coi
sa julgada, p. ~4. 
11 Moreira. A ação, Temas, pp. 112-113. 
n Nunes, Ações. ln: Mazzel-Nolasco (coord.), Processo, p. 87. 
u Arruda Alvfm, Apontamentos, Processo, 28; Didier Jr.-Zanetf 
Jr., Curso, p. 74; Watanabe, Código, p. 72; Vlgliar, 
Tutela, p. 71. 
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(,, Jtif Cap. 1 • DIREITOS TUTELADOS PELO MICROSSISTEMA COLETIVO ,, • . ' . •• '• .'•. '. : :2_?·_;·~ .•• _'1_;\_;, 
~~-,ti.\'(, . . '. ' i~s~~:b:.:., ·.'. :: . - . . .. ·1 
l;-W1~}\ .:·; rcs1 ... Novaincntc, será uma circunstância de fato que reunirá os ~onsul)lidores · : ·.·· -::; 
(ti~~/,·(:··-::cm uma coletividade afrontada pela conduta do ~orneced~r. :ambem,tradicionàl · ·. -·;") 
~is};~:/ ·:--a ·-menção à violação do meio ambiente, por n1e10 de enussao de poluentes-por . ·/1 
~\{~1/~~ \/.'· fábrica acima do admitido em lei. .- : · -:·.- '.: > ·· .:'.~l ·. · ·: ~ 
l~l::tJ~:~. Dl~~~T0_~()_LE_!!~~---- - ------~----· _ _ _ . -. . ' ', : 
~;}(:>~:;-· -· Nos termos do art. 81, parágrafo único, II, do CDC, os interesses ou direitos 
:\{?:.\ :·oletivos são direitos transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular 
~t~1\}igrupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou con: a parte con~rá~ia 
\}~{{t\: p·dr uma relação jurídica base. Como se pode notar do conceito legal de d~re1to 
fY,;f}.- coletivo, essa espécie de direito é composta por quatro elementos cumulativos. 
l}\\ ·t·. Exatamente como ocorre no direito difuso, o direito coletivo é transindividual 
?¾~~!sf;:~'.;\}::"'·: (metaindividual ou supraindividual) porque seu titular não é um indivíduo. Por r' ···\t:\ terem a natureza transindividual como característica comum, o direito difuso 
\fritdt.!'.]/::f ~, o direito coletivo são considerados direitos essencialmente coletivos15• Há, 
~ i~f~{(/eiltretanto, uma diferença. Enquanto no direito difuso o titular do direito é a 
?lt.);.ffe./t\" coletividade, no direito coletivo é uma comunidade, determinada por um grupo, 
:,, __ · ·1lt/ classc ou categoria de pessoas. 
{~ttJf}}( <-' · · A natureza indivisível também é elemento do direito coletivo, exatamente 
~f2fAf-~{'.(-' dii' mesma forma como ocorre no direito difuso. Nesse aspecto, as duas espécies 
I~{fe;~:M/. de direito transindividual são idênticas, comungando a característica de serem 
· ~ -· ·}f\<--. ~irei tos que não podem ser divididos e usufruídos particularmente pelos sujeitos 
if;it~:i;r.;~~-,:{.:; que compõem a coletividade ou comunidade. Como ocorre no direito difuso, 
~f-{?}ff{ também no direito coletivo todos os indivíduos que compõem a titularidade do; 
~? ,, _.)/{/ ~ireito - grupo, classe ou categoria de pessoas - suportam uniformemente todos 
· ;:~{F\:: os-efeitos.que .. atinjam o direito -material. · .. 
\;;,,,}~ti~( :: No terceiro elemento do direito coletivo, o art. 81, parági:afo único, Ú, do 
l}~;.t(\ : CDC foi extremamente feliz em apontar como titular do direito um grupo, classe 
f&tfK./? ou categoria de pessoas, deixando claro que não são os sujeitos individualmente 
~B,;:i'(i1f\} ~()nsiderados os titulares do direito, mas sim o grupo, classe ou categoria da 
~};f::/\( q~al façam parte. Essa limitação do direito coletivo a sujeitos que componham 
~.¾t}?\ ·uma determinada comunidade leva a doutrina a corretamente afirmar· que esses 
ffiffl ~ujeitos são indeterminaqos, mas determináveis16• 
=ifl~ .. ;.;;.;i"';:<:· 
'?fll?;/;:\\ ,:, O último elemento indispensável ao direito coletivo é a existência de uma 
êffgf;:: :" relação jurídica base. Conforme betn ensinado pela doutrina, essa relação jurídica 
~ff{(/:. base não se confunde com a relação Jurídica controvertida que será analisada 
~}&WI ~:: no processo coletivo, sempre preexistente à lesão ou ameaça de lesão do direi-
*t?~·: .. 
}j:?i 
f }\: 
:,-::: ·1 .. _ 
•• Watanabe, Código, p. 72. . 
" Moreira, Aç:ío, Revista, n. 3, pp. 24; Mendes, Ações, pp. 210·211. ' .·-~ ·;'. 
,. Leonel, Manual, p. 106; Arruda Alvim, Apontamentos, p. 30; Marlnoni-Arenhart. Manual, p. 72S. : · · -· : , ,-. ' 
.i 
16
4 
MANUAL DE PROCESSO COLETIVO, V01.UME Ú N1Co - Dan/e/ Amorim Assumpç,fo Ntves 
to do grupo, categoria ou classe de pess?as
11
• Sig~i~ca que o direito coletivo 
depende de uma relação jurídica que reuna os suJe1tos . ~m u~ grupo, ~la~se 
ou categoria antes de qualquer violação ou ameaça-de v10laçao a um direito 
indivisível dessa comunidade. 
A forma mais simples de visualizar a diferença e~tre essas d~as ~el~ç~es 
jurídicas de direito material é imaginando que, soluc1ü'nada a' cnse Jund1ca 
envolvendo O grupo, classe ou categoria de pessoas, essa
 unidade entre elas 
continuará a existir, porque a relação jurídica base existente entre elas não se 
confunde com aquela relação jurídica resolvida em juízo. Consumidores que 
tenham adquirido um mesmo modelo de carro e tenham 4ireito a um recall 
não realizado pela montadora estarão reunidos em uma relação .jurídica base 
que preexiste e sobreviverá à solução da relação jurídica conflituosa gerada pelo 
problema derivado da produção do veículo e a resistência da montadora em 
resolvê-lo espontaneamente. 
· A relação jurídica base da qual depende a existência do direito coletivo 
pode se dar de duas formas distintas: entre os próprios sujeitos que compõem 
o grupo, classe ou categoria ou desses sujeitos com um sujeito comum que viole 
ou ameace de violação o direito da comunidade. Nas palavras da melhor doutri-
na, essa relação jurídica base pode ocorrer entre os membros do grupo affectio 
societatis ( como, por exemplo, entre os advogados inscritos na OAB) ou pela 
sua ligação com a "parte contrária" ( como, por exemplo, contribuintes ligados 
ao e~te estatal responsável pela tributação)
18
• 
É natural imaginar ser o direito coletivo mais coeso que o direito difuso, 
porque existe uma relação jurídica base que torna determináveis os sujeitos 
beneficiados por sua tutela. A coesão desse direito, entretanto, não significa 
uma necessária organização, como bem demonstrado por autorizada doutriná, 
considerando-se que sua natureza indivisível apresenta uma. identidade tal que, 
independentemente de sua harmonização formal ou amalgamação pela reunião 
de seus titulares em torno de uma entidade representativa, constituem uma só 
unidade, o que· já é suficiente para a proteção jurisdicional coletiva
19• 
São variados os exemplos de direito coletivo. Quando se analisa a relação 
jurídica base derivada de uma vinculação entre os· ·membros do grupo, classe 
ou categoria, pode.se imaginar os associados de uma associação de proteção 
aos direitos do consumidor. Ou mesmo uma associação de classe, tal como a 
OAB, na tutela de direito de todos os seus associados, como direito de todos os 
advogados a terem acesso ao Fórwn em horários razoáveis. Analisada a relação 
jurídica base no tocante à "parte contrária': um bom exemplo é o grupo de alunos 
de uma escola quando discutem a reformulação da grade curricular. 
17 Watanabe, Código, p. 73. 
11 Didier Jr.-Zaneti Jr .. Curso, p. 75. 
19 Watanabe, Código, p. 75. 
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. ' .. , \.f,~ ' :' ~'., . . . ~ ' . '• \ 
: \·.-~~-~·~: · .. 6.4. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOG~NEOS 
;\ ·i~,,,;,'-:\;·~ ,· 
-~ . \ ~ l~, . .. .., 1 O \ - _,,, ... .. , . .. O . ... . , .. .. _ , .. ,,,, ..
 , ,, . • , _,_, , oM- 00-," ,O " O ' ' 
CAp. 6 • DIREITOS TUTELADOS PELO MICROSSISTEMA COLETIVO 16S 
. \~\/~\)' ,· ' . 
. · .. _;:~;~;·~:.(::_ .. · :.,:_. O art. 81, pnrngrafo t'mico, 111, do CDC foi bastante sucinto no conceito de 
. t,/.-~\,/y .. · direitos individuais homogêneos, prevendo apenas como exigência que tal direito 
":~.~'{\ :--',_·:.decorra de uma origem comum. A singeleza do dispositivo, entretanto, limita-se 
,'\,,,,.';i l., ' ' ... 
: ·S:\i}\(_:,/'°: ~o aspecto literal, havendo sérias divergências a respeito de seu conteúdo. 
S:~.~){\·/_:(/::!.: ,,. · Diante do conceito lega], é imprescindível que se determine o alcance da 
.'' r.·_,:}H<t ,') expressão "origem comum·: Para a melhor doutrina a origem comum pode ser 
·.: ~\/~f~I\f/.:· fática ou jurídica (de direito), dcvendo·se ter em conta não ser necessária uma 
:·. ,/;\1~?:(:::.·=. unidade factual e temporal. Excelente exemplo é a hipótese de vítimas de uma 
:· ,:}}:l:{?i.:;.:·:.::publicidadc enganosa veiculada por viírios órgãos de imprensa e em repetidos 
:, )J\~f(--f : dias. Apesar da inexistência de identidade factual, os danos gerados aos consu-
:' \)i.!l~'t/:·,· midores enganados pela propaganda têm origem comum20• 
. ··::::/',1\,t.,;· \ . 
. : \~ ;Yi(}\',: .. : .... : · Em termos processuais, à origem comum decorre dos dois elementos que 
: \?{f,,f,iSt ·;<_ compõem a causa de pedir: fato e fundamento jurídico. Havendo um dano a 
:_ 'i\;:'.i~f~{t-;\>grupo de pessoas cm razão de um mesmo fato, ou ainda de fatos asseme~hados, 
. >i}\.(,·::.·:·:= ·pode-se afirmar que os direitos individuais de cada um deles ao ressarcimento 
, fi.\,D:/,]//·, por seus danos são de origem comum. Da mesma forma, sendo possível que, 
, >-}J/i)J·: mesmo diante de fatos distintos, um grupo de sujeitos possa postular por um 
· 1;·:'.·'ii:i:\\,·'. . .''(: direito com base em um mesmo fundamento jurídico, também se poderá afirmar 
({'.~~.:·/;'.:..' ( · que seus direitos individuais decorrem de uma origem comum. 
\:··?''-·.\·r··· ;/~i~~(),'::·: . : Essa origem comum, entretanto, parece não ser o suficiente para que se 
})tf:\~.\f·:.: tenha um direito individual homogêneo. Apesar de ser o único requisito previsto 
, :(~\~'.)ri·--i·>: pelo dispositivo legal ora analisado, para que a reunião de direitos individuais 
.~A:):;(}\(: resulte em um direito individua] homogêneo é necessário que exista entre eles 
Y,\it) \:' ... uma homogeneidade, não sendo suficiente apenas a origem comum. A homo-
_(\ittf )\; gencidade, .portanto,. seria o segundo elemento dessa espécie de direito. , . 
//\(}.?:.: · ;· Com amparo em realidade já existente nas class. actions d<? direito norte-
) ~i\)'-'::>.· americano (regra 23 das Federal Rufes de 1966), corrente doutrinária entende 
1'\:;1 •1· ' . • 
J}i?\/·\ que a homogeneidade dependerá da prevalência da diinensão coletiva sobre a 
t ;;/( _:,:: individual. Significa que, havendo tal prevalência, os direitos, além de· terem 
~\\?~· :/:· origc!n comum, serão homogêneos e poderão ser tut_elados pelo micro~siste~a 
I(~; (· ··· .. coletivo. Por outro lado, se, apesar de terem uma ongem comum, a d1mensao 
;,./ _·:/) · ·. individual se sobrepor .\ coletiva, os direitos serão heterogêneos e não poderão 
~tf5:· :' .. ser tratados à luz da tutela coletiva. 
t?~t '.: · Nas ações cujo objeto seja o direito individual homogêneo, busca-se uma 
ti{\·~·-.:. ~entença condenatória genérica, que possa aproveitar a todos os titulares do direito, 
''i(~\/;>·· sendo que cabed a cada wn deles ingressar com uma liquidação de sentença 
$~:;~;~\ ·, individual para se comprovarem o nexo de causalidade e o dano individualmente 
\~:,l{'{\ suportado pelo liquidante. Para a melhor doutrina, a prevalência das questões 
:·\\\'\~::.,·· 
,t?'-:i~' :,•: \' ·;·)~. ·: l \ ·.~ 
' '\• ... ,,J, . 
1:,:~-'J,1~ (1· .\ 
".~\ ~ ''.'.",' 
~\~'.\ :{\ .; 
20 Watanabe, Código, p. 76. 
~ ... i1rl ., " 
~..::\~!. {! 
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166 
MANUAL DE PROCESSO COLETIVO • V0t.UME Úr-tico - Dan/ti Amorim Anumpçdo N~tJ 
)letivas sobre as individuais se mostrará sempre que. não.. houver maior difi-
~~ldade de O indivíduo provar o nexo de causalidade e q:uantificar seu dano
21 
• 
Conforme esse entendimento, quando não for possível de forma simples 
a determinação do nexo causal do direito individual e daquele que seria reco-
nhecido na sentença coletiva, não haverá interesse de agir para a ação coletiva, 
dado que tal ação não será útil nem adequada para. resolver a crise jurídica 
enfrentada pelos indivíduos. Por outro lado, a sentença não será eficaz, porque 
de pouco proveito será aos titulares dos direitos individuais, considerando que 
a liquidação da sentença nesse caso em tudo se assemelhará a um verdadeiro 
processo de conhecimento condenatório individual2
2 
• 
A preocupação demonstrada pela doutrina ao exigir algo mais além da 
mera origem comum para caracterizar o direito individual homogêneo se presta 
essencialmente para diferenciar o direito individual homogêneo de um mero 
litisconsórcio disfarçado. Segundo parcela da doutrina, a ação coletiva por inte-
resses individuais homogêneos tem como característica uma tese jurídica geral, 
referente a determinados fatos, que pode aproveitar a muitas pessoas, o que seria 
diferente de inúmeras pretensões singularizadas
23
• 
O argumento é comum e impressiona, mas entendo que não tenha como 
prosperar. A origem comum está presente, em uma maior ou menor intensi-
dade, nas hipóteses de cabimento do ·litisconsórcio, salvo na hipótese prevista 
no art. 113, I, do CPC, que . trata de un1 mesmo direito ou obrigação com 
pluralidade de titulares. Tanto que a proteção poderá se dar por tutela coletiva 
ou por tutela individual com a formação do litisconsórcio, respeitando-se o 
art. 113, § 1 o, do CPC24. 
Justamente em razão desta circunstância, tenho · dificuldade de aceitar o 
tratamento coletivo de qualquer soma de direitos individuais, ainda que de ori-
gem comum e homogêneos. Penso que para se justificar a tutela coletiva deve a 
violação do direito ter repercussão significativa, atingindo um número razoável 
de indivíduo~, sob pena de se tutelarem coletivamente direitos individuais que 
não tenham grande repercussão subjetivais. 
Para justificar o que se alega, basta imaginar dois consumidores que, ao 
dividirem uma mesma garrafa de cerveja, tiveram sérias complicações médicas 
em razão de defeito do produto (líquido apodrecido). A origem dos direitos 
ao ressarcimento dos danos é naturalmente comum, bem como não há como 
negar a homogeneidade dos direitos, considerando a simples prova do nexo 
de causalidade entre os direitos individuais e a eventual sentença condenatória · 
genérica. No entanto, seria legítimo que uma associação de defesa dos con-
11 _Grlnover, Código, p. 135. . 
22 Grlnover, Código, pp. 13S-136; Mendes, Ações; p. 221. 
11 Araújo Filho apud Didier Jr.-Zanetl Jr., Curso, p. 78; Rluatto Nunes, As ações, p. 91. 
24 2.avasckl, Processo coletivo, p. 43. 
H Mendes, Ações, p, 221, fala em ·número expressivo de pessoas· e •fenômenos típicos de massa':. 
}" ,\~'.\ 
., 11· " ~ . , . . , .. . rr 
1 1,,.. . Cap. & , DIREITOS TUTELADOS PEl.0 MICROSSISTEMA COLETIVO 167 
v., ~·-~ .. ________ .:.._ ________________ ______ ~~ 
~ v ' ~. ~,(·:,<~'. 
t ;.~-.;~( ·~!"-:,_,.:'·.'' ~~~)i_,., __ ,,,, 
i \rt}t~1/} ;umidores ingressasse c~m uma ação civil pública requeren~o a condenação 
f~)ii,i>\::?rdo · fornecedor da cervcJa pelos danos suportados pelos dois consumidores 
l \irtt;_. .=\l~sados? Teria sido esse o objetivo de se tutelarem coletivamente os. direitos 
i~~~:iitJtt/.individuais homogêneos? .. , .. 
\.Jtt#ic. ~ preciso concordar que no texto legal não existe qualquer espééfé ·de 
tI%~Y,}Lexigência expressa para um nútnero mínimo de lesados, o que tem levado, 
:s};{-)ínclusive, parcela da doutrina a entender que essa circunstância é irrelevante. 
:~f\?Entendo, entretanto, que deve existir um número razoável de lesados a per-
ê(?;;:;/:_,·roitir a aplicação do microssistema . coletivo, única forma de compatibilizar o 
:/~{:\:direito individual homogêneo e a tutela coletiva. No exemplo da cerveja, caso 
}~f}/o·· problema tivesse afetado um número maior de consumidores, em razão de 
~'\{\:(:diversas garrafas com defeito de produção, seria adequada a tutela coletiva, mas 
~ff,\-'.::p'ara somente dois consumidores - ou poucos - entendo como único caminho 
i0/:\ viável a tutela individual. 
-~~-:., .. :·: 
~?)\: No sentido de exigir número razoável de lesados, há interessante lição dou-
;}}\ Jrinária que se vale de dispositivos legais do próprio CDC para fundamentar tal 
::~l\/>condusão: (a) o art. 94 prevê a publicação de editais, o que só se justifica quando 
,~J}?)\forem desconhecidos ou incertos aqueles a quem se pretende informar; (b) o art. 
{}(?'::' 95 prevê sentença condenatória genérica, não identificando os tutelados por ela, 
,.}i(\_.:·_:_o que só se justifica quando um número considerável tenha sido beneficiado; (c) ~~~~~·-f:_.~-o art. 100 prevê a execução coletiva por fluid recovery determinando a análise da 
i,::H,\-L:::extensão do dano, o que demonstra a necessidade de um número considerável 
Ó\, ' de sujeitos tutelados26• 
;::·:_·: ··: O Superior Tribunal de Justiça tem decisões nesse sentido, exigindo para a 
(\\:_configuração de direito individual homogêneo, e consequente utilização da ação 
'f{}/ ·,çoletiva, um número considerável de indivíduos tutelados27• 
i.i)~i(_;-:-'··· _ .. · ·cumpré.firiálriiente uma consideração. Diferente dos direitos difusos e cole-
!liji;::'..-' .'t:ivos, o direito individual h01nogêneo não é um direito transindividual, visto que 
~II=r.·. seu titular não é a coletividade nem uma comunidade, mas sim os indivíduos. 
-~~\ ··:e, na lição da melhor doutrina, a soma de 'direitos individuais ligados entre si 
{.:?_· · por uma relação de afinidade, de semelhança, ou de homogeneidade28• ·-/.:.J_ ••• 
:~~ :.'fi..\{ . Justamente por n~o ser transindividual, o objeto do direito individual homo-
~~JJ;Jt,j.\ gêneo não é indivisível, como ocorre no direito difuso e coletivo, sendo divisível · f;5f.A'{i·: ~ decomponível entre ,cada uin dos indivíduos. Co~o não existe a incindibilidade 
}J.$:{{f::· ·· · _1iatural dos direitos trarisfndividuais, o direito individual homogêneo é apenas a f??f/'.:: ~orna de direitos individuais, que fundados em uma tese geral podem ser tratados 
tJ}if;_;;/ conjuntamente como se fossem um só em um processo coletivo. 
26 Abelha Rodrigues. Aç~o, pp. 353-354. 
27 Informativo 491/STJ: 41 Turma, REsp 823.063-PR, rei. Mln. Raul Araújo, J. 14.02.2012; STJ, 31 Turma, AgRg no 
REsp 710337/SP, rei. Min. Sidnei Beneti, J. 15.12.2009, DJe 18.12.2009. 
21 Zavasckl, Processo coletlvo, pp. 42-43. 
168 MANUAL DE PROCESSO COLETIVO • VOLUME ÚNICO - Daniel Amorim Assumpç6
o Nevt1 
A doutrina majoritariamente entende pela natureza individual do direito 
individual homogêneo29, dadas a sua titularidade e d~visibilidade, havendo, 
inclusive, expressões consagradas na doutrina que demonstram de forma clara 
essa característica dos direitos individuais homogêneos e a consequente diferença 
destes com os direitos difusos e coletivos (transindividuais). 
José Carlos Darbosa Moreira consagrou a ideia de que os direitos difusos e 
coletivos são direitos essencialmente coletivos, enquanto os direitos individuais 
homogêneos são apenas acidentalmente coletivos30• Teori Albino Zavascki fala 
em defesa de direitos coletivos para se referir aos direitos difusos e coletivos, e 
em defesa coletiva de direitos para se referir a direitos individuais homogêneos31• 
As tentativas de defender uma natureza transindividualdos direitos individuais 
homogêneos são raras32 e praticamente sem repercussão, não impressionando 
por vezes a menção a tal circunstância em corpo de julgados consideravelmente 
despreocupados com a melhor técnica. 
6.5. DIREITOS INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS 
--- --·-------- ------------·---·---·····--. ..,....-----·~---........ .-.•..•..•.•.......•. , ...... ... . , ............ .. ..... ........ . 
Conforme exposto anteriormente, ·apesar de o inicrossistema coletivo se 
preocupar com a tutela de direitos transindividuais e individuais, nesse segundo 
caso - direitos individuais homogêneos - há uma prevalência da dimensão cole-
tiva sobre a dimensão individual, inclusive. sob o aspecto subjetivo, o que exigirá 
uma quantidade razoável de titulares de direitos. individuais de origem comum a 
justificar a aplic'ação das regras procedimentais do microssistema coletivo. 
Ocorre, entretanto, que em duas passagens legais que versam sobre o direito 
coletivo lato sensu, e mais precisamente sobre a aplicabilidade do microssistema 
coletivo, encontra-se a tutela de direitos individuais puros, que podem até mesmo 
ter apenas um sujeito como titular. Trata~sc do art. 201, V, da Lei 8.069/1990 
(ECA) e art. 74, I, da Lei 10.741/2001 (Estatuto do Idoso), que expressamente 
atribuem legitimidade ao Ministério Público na tutela de direitos individuais 
indisponíveis por meio de instrumentos exclusivos do microssistema coletivo: 
inquérito civil e ação civil pública, e do art. 98 da Lei' 13.146/2015 (Estatuto da 
Pessoa com Deficiência), que prevê legitimidade ainda mais ampla. 
Conforme já tive oportunidade de afirma·r, será objeto de tutela por meio 
do microssistema coletivo a espécie de direito q~~- o legislador desejar, sendo 
ele transindividual ou individual. Nas hipóteses ora analisadas, entretanto, não 
vejo qualquer sentido lógico ou jurídico que legitime ·a aplicação das especiais e 
diferenciadas regras do microssistema coletivo a direitos essencialmente indivi-
29 Marlnonl-Arenhart, Curso, p. 726; Abelha, Ação, p. 353; Assagra, Manual, p. 492; Vigllar, Tutela, 79; Mendes, 
Ações, pp. 220-221; Mazzllli, p. 57; Zavasckl, p. 43. 
JO Moreira, Processo, pp. 42-43. 
11 Zavasckl, Tutela, pp. 195-196. 
u Didier Jr.-Zanetl Jr~ Curso, pp. 80-82. 
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~ ~,1'-~t\:' ~ ~ .. ·: C•p. 6 • DIREITOS TUTELADOS PELO MICROSSISTEMA COLETIVO 169 
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Í~ \\i\\:·_duais, ainda que indisponíveis e de titularidade de idosos, crianças e adolescentes. 
ritt~\/-Entendo que se trata de ampliação indevida e injustificável, mas não se póde 
f~itW{{\:.deixar de reconhecer a opção legislativa. 
f{~l{l~N~/':._/'. O que não parece correto é tentar explicar a tutela processual coletiva de 
f~~~\t(<:idiréit~ individual indisponível adequando essa espécie de direito ao direito 
}lilf?{?) ndividual homogêneo. Essa indevida confusão, notada em julgamentos do Su-
t}~;t/:)/i erior Tribunal de Justiça33, é absolutamente indesejável porque não distingue 
·i~J~t~~.{:)'ôs .elementos objetivos e subjetivos dos direitos materiais. Ser indisponível diz 
·.i~~i:t}'.)/\\espeito ao conteúdo do direito, enquanto ser individual homogêneo concerne 
,:~}lf:tt/{:a9s sujeitos que são seus titulares, tanto assim que não existe qualquer exigência 
'i-~~f.t~;{_/:/·ge, que essa segunda espécie de direito= seja indisponível. Há, inclusive, decisões 
. }}?;{f{,.·;:/·do próprio Superior Tribunal de Justiça que, corretamente, fazem questão de 
1l\~1st\\:(<l.iferenciar direito individual indisponível de direito individual homogêneol-l. 
) •\',• \'~•""\.' ' ·: -' ·· ;. , 
!~.,:~;:~~~?.;S<_,· Há_ inúmeras _de_cisõ:s. rc~o'n_hecendo a · 1egitimida~e _do _Ivli~1istér~o Públ~co 
f~~;~iI/'.·':_::·e · o cabimento da açao civil publica para a tutela de d1re1to md1spon1vel de m-
if~;~}1,}\}d1víduo, seja menor35 ou idoso36, nos termos dos art. 201, V, da Lei 8.069/1990 
~}}:}1Jlf(?XECA) e art. 74, I, da Lei 10. 741/2001 (Es.tatuto · do Idoso). 
. · \" ,\-.. ~-~j!;' , _. _-; ·~:~:·-~-.. 
• • • : • 
. W~-};;}:it· ·:.:,,_~:.~ ., O problema é a interpretação extensiva que se vem fazendo de tais dispo-
'Tt¾~{;::_\\ iüvos para admitir a ação civil p{1blica em favor de indivíduos, mesmo fora 
J H;ff\'i>>das proteções legais, com fundamento que, apesar de interessante, parece não se 
)\~ft:.:J?.:.\::: ~"i1stentar. Alega-se que, indiretamente, a tutela desses indivíduos estará atendendo 
{~~t?;/Cf tim interesse difuso da coletividade em ver os hipossuficientcs e - com ainda 
lf~}tf/ ;:J n _aior razão - os hipervulneráveis protegidos pela tutela jurisdicional. Dessa 
· }:üt:'.':':\J?i-ina, apesar de se tratar de direito individual indisponível não previsto em 
}tttf/)/)ei como tutelável pelo microssistcma coletivo, o respeito ao pacto coletivo de 
· JHP:~\\·\ }riclusão social imperativa desses sujeitos atenderia a um direito difuso, o que 
S1%;}{}:i, justifica.ria . a Títiliià\ãO. do microssistema coletivo37• 
1~~1)\\::~~ .(/ .. ~ •.. . 
?~W~W)ff.:;;-:. . Exemplos concretos dessa ampliação, além das hipóteses legais, são encon-
t;t~{::r _trados _cn1 precedentes do Superior Tribunal de Justiça ao reconhecer a legiti-
Jft·t·:::_. -~ ,idade do Ministério Público para a propositura de ação civil pública en1 favor 
f:,fl:::Y:~;.'.-.. : 'ele indivíduo economicamente hipossuficiente no acesso a medicamento
38 e em 
l!tt .. 
};t.~i-i-\.·_,>. STJ, 1" Turma, AgRg no REsp · 1 .086:BOS/RS, rei. Mln. Arnaldo Esteves lima, J. 02.08.2011, Dle 15.09.2011; STJ, 
1,/f{·:::;>, 2-Turma, AgRg no Ag 1.156.930/RJ, rei. Mln. Humberto Martlns,j. 10.11.2009, DJe 20.11.2009. 
?t:1./;;<.: : · ~- STJ, 21 Turma, AgRg no REsp 1.045.750/RS, rei. Mln. Castro Melra, J. 23.06.2009, DJe 04.08.2009; STJ, 1 • Se-
~?{·X:·/. . çao, EREsp 819.010/SP, rei. Min. Eliana Calmon, rei. p/ acórdão Mln. Teorl Albino Zavasckl, j . 13.02.2008, DJe ~.,->,,,,.,.. .. • .. 2 
:}t_~,l :.-:~ .. - ·, 9.09.2008. 
'A~~~lf>' u STJ, 3• Turma, REsp 976.021/MG, rei. Min. Nancy Andrlghl, J. 14.12.2010, Dle 03.02.2011. 
·,~l!!.-c.J ... · 16 STJ ~ RE 5 /PR I M ST li A Rg no Ag l'•i',f:--"} :.,:·. .. ,1•,urma, spl.00 .587 ,re. ln. LulzFux.j. 02,12.2010,DJe14.12.2010; J,1ª urma. 9 
' J~Jit:_.:::··: ;· 1.131.833/SP, rei. Mln. Teorl Albino Zavasckl, j. 18.08.2009, Dle 26.08.2009. \1{tt\ !' STJ, P Seçfo, REsp 931.513/RS, rei. Mln. Carlos Fernando Mathias, rei. pi acõrd3o Min. Herman Benjamin. J . 
. ~~s!'.-..:;~~;';?:: \.· 25.11 .2009, D)e 27.09.2010. ·· · l : 
: t• ,. STJ, 21 Turma, AgRg no REsp 1.297.893/SE, rei. Mln. Castro Melra. j. 25/06/2013, OJe 05/08/2013/ · · · · ... 
• .. .. i'>.:· ,:._,:::\:. ' ~~~tl (:;:-
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170 
MANUAL DE PROCESSO COLETIVO • VOWME ÚHKo - Danie
l Amorim Auumpçdo Ne,m 
favo( d~ .deficiente físico para a ob~enção de prótese
39
, tendo essa última hipótese 
sid~· coiltemplada pela nova redaçao dada pelo art. 98 da
 Lei 13.146/2015 ao art. 
'jo'. caput, da Lei 7.853/1989. 
·. .. Não tenho qualquer dúvida de que os hipervulner
áveis merecem toda a 
.P~~~~~ç·ã·o estatal possf_vel, inclusiv~ a jurisdicional, mas n
~o _vejo_ a ~e~essi_da_de ~e 
aplicação do micross1stema colet1:'o na d~f~sa_ de seus d1
re1t~s 1~diV1dua~s ,1n?1~-
po~iveis. Que se admita a excepc10nal legitinu~ade ex~r
~?r~mána ~o M1ni~teno 
Publico para esse caso, uma vez que essa espécie de leg1
tunidade nao precisa de 
previsão expressa em lei, mas para a propositura de pro
cesso individual. 
.. · A opção do legislador em incluir direitos individu
ais indisponíveis de de-
terminados sujeitos (idoso, criança e adolescente) no m
icrossistema coletivo já 
se mostra incongruente e desnecessária. Ampliaro âmbi
to dessa tutela contém o 
mesmo vício, mas, por derivar de interpretação extensiva
, é ainda niais perigoso, 
podendo até, no extre1no, descaracterizar o microssistem
a coletivo. 
Meu receio de tal a1npliação foi, infelizmente, confirma
do por julgamento 
do Superior Tribunal de Justiça sob o rito do julgame
nto repetitivo. Em pre-
cedenté vinculante o tribunal decidiu pela legitimidad
e ampla do Ministério 
Público a tutelar direitos individuais indisponíveis po
r meio de processo co-
letivo, com fundamento no art. l º da Lei 8.625/1993 (Le
i Orgânica Nacional 
do Ministério Público)
40
• 
Já deixei claro que entendo que tutelar o direito individual indi
sponível 
por meio de ação coletiva é um equívoco e um grande
 desserviço para a tutela 
coletiva. Embora não concorde, portanto, com a premi
ssa criada pelo Superior 
Tribunal de Justiça, não é possível limitá-la a legitin1id
ade ativa do Ministério 
Público. Se a justificativa encontrada pelo tribunal para c
oncluir pela legitimidade 
ativa é sua finalidade institucional, nos termos de sua lei orgânica, o mesmo
 deve 
ser aplicado para a Defensoria Pública. . , 
Nos termos do art. 1 º, caput, da Ld Complementar 8
0/94 (Lei Orgânica 
da Defensoria Pública) é função institucional da Defe
nsoria Pública a defesa 
integral dos necessitados, inclusive, naturalmente,' de se
us direitos indisponíveis. 
. Se a finalidade institucional do Ministério Público·
 (art.· 1 ° da Lei 8.256/93) 
somada a'Iegitimidade ativa para ações coletivas (ári. s0 ; I, da Lei 7.347/85), bas-
ta para concluir por sua legitimidade ativa na ação col
etiva de tutela de direito 
individual indisponível, o mes1no raciocínio deve ser e
mpregado à Defensoria 
Pública, entendimento resultante da combinação.do . .art. 
1 ~ da Lei Complementar 
. . . . . 
J, STJ, 1 • Seção, REsp 931 .513/RS, rei. Min. Carlos F
ernandes Mathfas (desembargador convocado do R
TF 1 • 
Regl3o), rei. p/ acórdão Mln. Herman Benjamin, J. 25/11/2009. DJe 27/09/
2010. . 
·"° STJ, 1• Seção, REsp 1.682.836/SP, rei. Mln. Og Fernandes, j. 25/04/2018, DJe 
30/04/2018:"TéseJurfdlca firmada: 
O Ministério Público é parte legitima para pleitear 
tratamento médico ou entrega de medicamentos n
as 
: , demandas de saúde propostas contra os entes 
federativos, mesmo quando se tratar de feitos con
tendo 
beneficiários Individualizados, porque se refere a dir
eitos Individuais indisponíveis, na forma do art. 1º 
da 
Lei n. 8.625/1993 (Lei Orginica Nacional do Ministér
io Público)': 
• • , •. i 
•. :ta,(=.!.;· ,, t,· . ·.·:1• 
~ ~ 1 ~-~ t ::-..: -·~;·~ 
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~lffeJ'- .-: .. . Cap. 6 • DIREITOS TUTELADOS PELO MICROSSISTEMf\ COLETIVO · . \l-< 171 
:~1~{f} . . ·.. ··-/ .. 
i,i{f!::'i\\: ... _\\ 
~~\:?>so/94 e art. 5°, II, da Lei 7.347/85). Há naturaln1ente, uma diferençà··entre:/~~'. 
,;,J.~l-)-·~F···: .. ·. . • d . . .... : ... : ;-:;. '/t,..f!:{-~:·~:_;-</ dois legitima os. . .. ·. ,_.. . '._, !·:'_: 
....... { 1'.,, .\ - ~ ' • • • • • lJFl~:i/\ Enquanto o Ministério Público só pode participar do_ process_o como aútÔt'dê 
~s~Ifr{_:'dção coletiva, a Defensoria Pública por ser autora da açao co~etiva ou r~presen-
2' · if.i(fante do assistido em ação individual. Essa dualidade de quahda_de~ processuais, 
g(}!:(-i depender da natureza da ação judicial, permite à Defens~ria Publica optar pela 
t~f:/êspécie de processo que se mostre mais adequado e eficiente para a tutela do 
}::)\necessitado no caso concreto . 
. {;t-f·-: ·. Registre-se, por oportuno, já · existir uma previsão legal expressa a at~ib~ir 
:f(:) egitimidade ativa à Defensoria Pública para a ação coletiva na tutela de d1re1to 
J/)hídividual indisponível: art. 3° da Lei 7.853/89. 
gi}:}\\:' 
:fe}:)6.6. IDENTIDADES E DIFERENÇAS ENTRE OS_ DIREITOS COLETIVOS 
".tt;_:.- ··.: · LATO SENSU 
'·~~~:(:~ :·... . . . --------------- --·- -·--·--------·-- --·-·--··---·---------.--... ----········ .. ,....... ... . .. . . . . . . 
:=tY\;<--~··:-.: .. . 
,J}(\i-' · Na doutrina é tranquilo o entendimento de que nem sempre será fácil 
i~}YJ~-operador do direito distinguir as diferentes espécies de direito coletivo lato 
_,,lfa~~>_sê.nsu existentes em nosso microssistema processual coletivo. A constatação é 
=;.M(H}{·_corroborada pela identidade dé alguns elementos comuns a mais de urna dessas 
~lit/4.:ç/i ::_,: ·: ... , . d dº . ,t,%t.,.YtY,._espec1es e 1re1to. 
· ~t;;y_··.ii· · Tanto o direito difuso como o coletivo são transindividuais, visto que nenhum 
}}\:··~eles pertence a um indivíduo. Apesar de scr~m diferentes os titulares desses 
0.t}i\4ifeitos - a coletividade no primeiro caso e un1a comunidade no segundo -, a 
~~i,$\,·i fiansindividualidade é característica comum a ambos. Também a indivisibilidade 
~f{t:;\,\ é característica presente tanto no direito difuso como no direito coletivo, não 
(,, .;lik:'..s~ndo p~s~!Y.~J.a. .(r_t~_iç_~.º _desse direito apenas por aJguns membros da coletividade 
~iifíf\'./OU da comumdade, e nao pelos demais. · 
r- , ··,./·· : . .,. ... . : ' . 
J/j\T· As identidades entre o direito difuso e coletivo, entretantõ, se limitam à 
· :4}?).· ~~ansiridividualidade· e à indivisibilidade, porque entre ambos há ao menos duas 
itltr:· y?·po~tanles diferenças. . . 
W-tt/2-/>. ·_ : . Conforme já analisado, enquanto no direito difuso não existe uma relação 
r-:);-,·~· ...; 1 í,,'.• ~{J,f\· ju~ídica ,que vincule os indivíduos q~e. compõem a col~tiv!da,d~, no direito co-
r~~-1\'.\ l_çhvo ha entre os mcm_bros da colet1.v1dade wna relaçao JUnd1ca base, que os 
1$t~(,: _ _yincula entre si ou ~o~~ a parte contrária. Po:tant~, no direito difuso a con?iç_ão 
fJ//i[i-X-.: ~e membro da coletiv1dade decorre de uma s1tuaçao de fato, enquanto no d1re1to 
~~;\i~\;:: coletivo existe uma relação jurídica que vincula os indivíduos que compõem a 
''f}; ·..'1, ~-. • 1 
~~~}/-·. ~ asse, grupo _ou categoria de pessoas . 
. ·-',<)~-·: . . . flffí~';(' , .. · f:nquanto n~ ~ircito difuso há uma indeterminabilidade dos sujeitos _qu_e 
Jf,J{i: compoe~ a cole~1v1dade ~not~-~c, não h~, como indevidam~nte s~gere o art. 81, 
.(~M'k< I, do CDC, uma mdctermmab1lidade de titulares, porque o titular e sempre deter-
ii~fQ'./ min~d~: a cole!ividade), ainda que relati~a, conforme ~á devi~a~ente an1!~~~o, lf)i\{\· no d1re1to coletivo os membros que compoem a comumdade sao 1ndeterm1nados; 
i' ~ç1,::t· . ..,, .. 
J);.J,l 'h,,. 
. 
1 
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. . 
172 
MANUAL DE PROCESSO COLETIVO • VOLUME ÚNICO - Dan/e/ Amorim Auumpçôo N~es 
mas determináveis (novamente o titular do direito é determinado; o grupo, classe 
ou categoria de pessoas, sendo indeterminados, mas de~ermináveis somente os 
sujeitos que compõem essa comunidade). 
: . . · .A.questão mais importante que deve se~ r~spo~dida, entret~nto, diz respeito 
à utilidade prática dessa distinção entre o d1re1to difuso e c~le~1vo. Para parcela 
da doutrina a questão se resolve no plano ~uramente academ_1c?,. sem grandes 
consequências práticas"1• Por outro l~do, existe co~rente _dou!nnana que defe~-
de a precisa distinção dos direitos difusos e coletivos nao so por uma questao 
acadêmica, observando que também existirão consequências práticas relevantes 
dessa tarefa42• 
Feita a diferenciação entre os direitos que se mostram transindividuais, é 
ainda necessária a distinção desses com o direito individual homogêneo, também 
tutelado pelo microssistema coletivo. 
A p:rimeira e principal diferença diz respeito ao titul~ do d,i:eito, _ç_~rac~e-
rística essa, inclusive, que demonstra de forma clara a opçao poht1co-leg1slat1va 
de se tratar coletivamente, em termos processuais, os direitos individuais homo-
gêneos. O titular do direito individual homogêneo é o indivíduo, considerando 
que nesse caso haverá uma soma de direitos individuais, sendo cada um desses 
direitos somados de titularidade definida a um indivíduo. 
Por outro lado, a indivisibilidade - ou unitariedade - presente nos direitos 
transindividuais não é encontrada no direito individual homogêneo,porque neste 
os direitos individuais somados podem ser fruídos ou sacrificados individual-
mente diante de cada um de seus titulares. Parece ser exatamente nesse ponto 
o aspecto diferenciador mais importante para fins de distinção, na prática, da 
natureza do direito defendido em juízo. 
Quando uma ação civil pública é proposta para reparar ·os danos de con-
sumidores que se vitimaram em um acidente em transporte oferecido por uma 
~mpresa turística, cada qual dos consumidores lesados terá um direito individual 
de: reparação, que uma vez somados poderão resultar erh um direito individual 
hôrifogêneo. Por outro lado, quando em uma ação civil pública se pretende con-
?.:ºªr _º réu a modificar a propaganda de um produto, em razão· das informações 
mcorretas que contém, toda a coletividade será beneficiada com a eventual con-
deháção; sendo nítida a natureza transindividual do direito tutelado nesse caso. E, 
a,~~d~·,,_·se é buscada em uma ação civil pública a alteração na grade curricular de 
~~a.;:_:scola,· todos os alu~os que lá estudam serão· beneficiados ou prejudicados 
pe!~ _- mudança, mas será mv!ável a modificação curricular somente para alguns 
dos · alunos e para outros, nao. 
' .:.. ~ di~,tinção do direito individual hom:ogêneo do difuso e coletívo parece 
t~r:_-g:r~n~~s_'_r_~~erc_~ssões práticas: (i) a legitimidade tem pequena diferença no 
. . ·. . . . : , . •. , _·: . . · · ·.· . . 
. : . . .. . . .. , : : . ;: _ . . : : 
• 1 · Za'vasckl; Pr~esso·col~tivo: p. 46. 
u ·' MerideS: Ações; p. 218; MazzlllL· A defesa, p. 60; Mancuso, Interesses difusos, p. 79. 
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\ ~\"'l.,\'.,_t({ Cap. 6 • DIREITOS TUTELADOS PELO MICROSSISTEMA COLETIVO 173 
,: ~~;e~·~'-, .. ------------------~-----______ _:.:.::.. 
;tt~~r-·}i;~--· -=---- ., . 
:-rl~~~~rt10cante ao Ministério Público, que, conforme analisado no item 8.2.2, tem legiti-
Ji'!~--'/ n1idade plena nos direitos transindividuais e encontra alguma limitação na defesa 
;~i)7l/{\do direito individual homogêneo; (ii) não se admitirá em uma ação individual 
~ · ;J\<a defesa de direitos difusos e coletivos, o mesmo não ocorrendo com o direito 
1
~~\:?individual homogêneo; (iii) no direito individual homogêneo é admissível o in-
:t;~f:gresso de qualquer titular de direito como assistente litisconsorcial do autor, o 
0'.:ih'.que não se admite nos direitos difusos e coletivos; (iv) a liquidação e execução 
fiVi/ seguirão regras procedimentais totalmente diferentes, conforme amplamente 
~l{analisado nos Capítulos 15 e 16. 
~-:~f)/ Entretanto, como bem anotado pela melhor doutrina, não há somente 
'.l{Odiferenças entre os direitos transindividuais, em especial o coletivo e o direito 
:{{_'"individual homogêneo. Nessas duas espécies de direito existirá um grupo, classe 
t{\-e categoria de pessoas, sendo a determinação, ou quando muito a determinabi-
:~{)idade desses sujeitos, um elemento comum a essas duas espécies de direito43• 
,:?:~ Apesar das diferenças entre os direitos tuteláveis pelo microssistema coletivo, 
}t/conforme ensina a doutrina, é possível a cumulação de todos eles, ou de dois 
U?}_deles, em um mesmo processo, desde que respeitadas as exigências processuais 
;f{específicas de cada um44• Dessa forma, é possível, por exemplo, em uma mesma 
{{_ação civil pública pedir a condenação do réu a parar de veicular propaganda 
;~}'./enganosa (direito difuso), bem como a condenação ao ressarcimento de todos 
]~/\-os consumidores prejudicados por terem acreditado na propaganda (direito 
·''f~~); individual homogêneo). 
~--~~ .... -: 
,., .. ~. -/·. E, por fim, ainda seguindo as lições da melhor doutrina, é possível que 
~1;;,:,:de uma mesma situação fático-jurídica derivem direitos coletivos lato sensu de 
1
~]// cliferentes espécies. Não que o mesmo direito possa ser, por exemplo, difuso 
{f{f·ê individual homogêneo, mas que de uma mesma situação fática possam ser 
·:·.J;{gerad.as. .. ~if~~~l:J.~t -~spécies de direitos tuteláveis por meio da tutela coletiva45• 
f]i{/l/(~ o ;aso, por exemplo, de um vazamento de óleo em uma determinada região 
;1~7} 1toranea: desse mesmo fato haverá um direito da coletividade à reparação do 
-~?:)~ano causado ao meio ambiente ( direito difuso) e um direito dos pescadores 
f{f(da região prejudicados pelo vazamento, visto que não puderam continuar no 
~{}f\ exercício de seu ofício (direito individual homogêneo). 
-~;~:}/ <· 
-~f{/ ·I. · 
ir "-.~ ·· -.. s 
~i~( 
rr 
i;/~ 
STJ, 1-Turma, REsp 799.669/RJ, rei. Mln. Luiz Fux,J. 02.10.2007, DJ 18.02.2008, p. 25. 
Mazzill, A defesa, p. 58. 
Mazzlll, A defesa, p. 59; Nery Jr., Código Brasileiro, p. 225. 
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