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HPV E LESÕES PRECURSORAS DE CA NO COLO UTERINO O câncer de colo uterino é o 3° câncer mais comum entre mulheres. No Brasil, há déficit na coleta de Papanicolau e baixo índice vacinal, principalmente se comparado com países desenvolvidos. Na Austrália, está em processo de erradicação (alta cobertura vacinal: >95%). E o HPV é o principal fator de risco para esse tipo de CA. A transmissão do vírus é essencialmente sexual e precoce. O preservativo reduz risco, mas não evita totalmente. A transmissão vertical ocorre em cerca de 20-30% das gestantes com infecção ativa. 80% dos adultos irão adquirir HPV ao longo da vida, o que determina se a infecção será precursora de lesões de gravidade, são fatores imunológicos. 10% apresentarão infecção persistente e apenas 1 a 2% irão desenvolver câncer de colo uterino HPV 16 e 18. Existe mais de 40 subtipos de HPV que acometem humanos. Doze subtipos são oncogênicos (maior incidência: 16, 18, 31, 33), oito subtipos potencialmente oncogênicos, onze de baixo risco (verrugas genitais) e quatorze são detectados em testes comerciais. FISIOPATOGENIA DA INFECÇÃO POR HPV O vírus entra em epitélios e infecta as células basais. Provoca alteração do mecanismo celular hospedeiro (retrovírus) e perda de diferenciação. O vírus induz a produção de proteínas afetando a replicação celular da célula hospedeira (produzindo conteúdo viral nas replicações): E6 viral: ligação à P53: defeito na fase S, célula não faz apoptose (e se divide com fenótipo de célula cancerígena) e regulação G1. E7 viral: interação com protooncogen RB: descontrole do ciclo (G1-S). O HPV tem pouca circulação sistêmica, visto que é restrito ao epitélio (baixa viremia e sintomas sistêmica). Desse modo, provoca uma lenta indução de anticorpos. Após 1 ano de infecção 40 a 70% estarão livres do vírus. Jovens: 70 a 100% entre 2 e 5 anos. Idosas (>50): índices baixos. Homens: 75% em 1 ano. HPV PERSISTENTE (acima de 6 a 12 meses) Potencial de 2-3% de evolução ao câncer de colo uterino se não acompanhar. Estudo holândes (2017): mulheres com diagnóstico de NIC 3 x controle saudável em número idêntico. Avaliou 15 anos em relação a outras neoplasias associadas ao HPV. Risco relativo: câncer anal (3,85), NIA 3 (6,68), câncer de vulva (4,97), NIV 3 (13,66), câncer de vagina (86,08), NIVA 3 (25,65), câncer de orofaringe (5,51). Risco mantido após 20 anos do tratamento de NIC 3. Potencialização de dano celular e mutações em sequência; Aparecimento gradativo de NIC e evolução se não houver rastreamento; Intervalo de evolução NIC II ao câncer – 23,5 anos (mediana) (grande intervalo de tempo – rastreamento); 1,6% dos casos de câncer a progressão de NIC II são menores que 10 anos (2,6% em HPV 16). Ausência e/ou deficiência de resposta imune elevam o potencial (tabagismo, desnutrição, imunossupressores, HIV sem controle etc.) NIC I - Citologia: atipias leves com manutenção de diferenciação celular – alguns coilócitos (halo claro perinuclear - ação de HPV). Histologia: atipias leves restritas à porção basal do epitélio com boa diferenciação celular na superfície – alguns coilócitos (halo claro perinuclear). NIC II – Citologia: atipia moderada com pouca diferenciação celular – aumento da relação núcleo citoplasmática e hipercromasia. Histologia: atipias no terço médio do epitélio com pouca diferenciação celular na superfície – vasos sanguíneos dilatados. NIC III – Citologia: atipia severa, perda de diferenciação celular – núcleos com cromatina grosseira e polarizada, aumento da relação núcleo-citoplasma e nucléolos proeminentes. Histologia: atipias presentes em todos os níveis do epitélio com perda total da diferenciação celular na superfície – múltiplos coilócitos na superfície + vasos sanguíneos dilatados. RASTREAMENTO POPULACIONAL Bases racionais para o rastreamento: redução de risco de Carcinoma Invasor do Colo Uterino: ▪ 64,1% com intervalo de 10 anos; ▪ 83,6% com intervalo de 5 anos; ▪ 90,8% com intervalo de 3 anos; ▪ 93,5% com intervalo de 1 ano. Pico de incidência: NIC I e II (displasias leve e moderada): 30 a 35 anos de idade. NIC III (displasia acentuada e carcinoma “in situ”: 35 a 40 anos. Carcinoma invasor: 45 a 50 anos de idade. Menor intervalo = 35 a 45 anos = 10 anos e maior intervalo 30 a 50 anos = 20 anos (mais comum). A faixa de cobertura do rastreamento populacional é de 25 – 65 anos de idade. A periodicidade de exames é anual (2 primeiros exames) e de 3/3 anos após. População alvo do rastreamento: Mulheres com vida sexual ativa iniciada; Pós-menopausa (até 65 anos) – falso positivos (HSIL ou NIC II) pela alta incidência de atrofia = tratamento tópico prévio se alteração (estriol ou promestrieno); Gestantes – apenas se estiverem em prazo de recoleta; Histerectomizadas – encerrar rastreamento (sem relação a NIC e/ou câncer prévio) (contraditório: estudos mostram a relação com outras neoplasias); Imunossuprimidas (HIV positivo e transplantadas) – rastreamento semestral inicial e anual após (rápida progressão da doença). Variações no rastreamento nacional: países desenvolvidos estão substituindo citologia oncótica por HPV test (hrHPV) (Austrália, Reino Unido, ACOG). Nos EUA iniciam rastreamento aos 21 anos – eficácia entre 21 e 25 questionável com aumento de falsos positivos e reversão espontânea de lesão por imunidade ao HPV. O padrão EUA: 21 a 29 anos faz a citologia oncótica de 3/3 anos, dos 30 até 65 anos faz-se citologia oncótica isolada (3/3 anos), HPV test (5/5 anos), Co- testing (5/5anos) e não se restringe apenas a quem tem vida sexual ativa. CONDUTA EM CITOLOGIA ONCÓTICA ALTERADA - INCA COLPOSCOPIA Lesões menores: mosaico fino, pontilhado fino, epitélio acetobranco com borda fina, plano e periorificial. Lesões maiores: mosaico grosseiro, pontilhado grosseiro, epitélio acetobranco denso, acetobranqueamento de aparecimento rápido, orifícios glandulares espessados, margem demarcada; sinal da margem interna, Leucoplasia. Suspeita de invasão: vasos atípicos, erosão/ulceração, lesão vegetante. CITOLOGIA X COLPOSCOPIA - Correlação de achado citológico e colposcópico: Convergência de achados: ▪ Alto grau x lesão maior = conduta: ver e tratar (CAF). ▪ Baixo grau x lesão menor = seguimento colposcópico. Discrepância de achados: ▪ Alto grau x lesão menor = biópsia dirigida. ▪ Baixo grau x lesão maior = biópsia dirigida. Ausência de achado colposcópico: colposcopia e citologia semestrais por 2 anos. TRATAMENTO DE LESÕES ALTO GRAU Tratamento ablativo: ausência de material histológico. ▪ Laser de CO2 (caro e inacessível); ▪ Criocauterização (pouco acessível – menor dor); ▪ Eletrocauterização (facilmente acessível – mais doloroso). Tratamento cirúrgico excisional: ressecção cervical compromete gestação posterior (parto prematuro e baixo peso ao nascer) ▪ CAF – cirurgia de alta frequência (método de escolha). ▪ Exérese a bisturi ou tesoura (casos especiais). SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO Em tratamento com ressecção de peça: Margens cirúrgicas livres: seguimento de 6 em 6 meses por 1 ano; Margens comprometidas: seguimento de 6 em 6 meses por 2 anos. Após seguimento semestral passar a anual até 5 anos. Após 5 anos volta a seguir de 3 em 3 anos. Em qualquer das hipóteses anteriores, se citologia e/ou colposcopia alterados: novo CAF. Pacientes com tratamento destrutivo,material fragmentado ou inconclusivo (em relação às margens): seguimento por 2 anos de 6 em 6 meses. POSSIBILIDADES COMPLEMENTARES • Terapia da lesão NIC com drogas imunomoduladoras como Imiquimod 5% (nível C de evidência). • Vacinação convencional em pacientes tratadas de NIC (nível B de evidência mulheres < 40 anos e nível C mulheres > 40). • Intensificação de rastreamento com autocoleta de citologia e/ou hrHPV. • Vacina terapêutica anti-E6/E7 – trial em andamento fase III. HPV DE BAIXO RISCO - LESÕES Aspecto clínico: lesões verrucosas anogenitais provocadas pelos HPV 6 e 11. Não há correlação de evolução da lesão de baixo risco para o câncer. O aspecto epidemiológico de exposição – possibilidade de coinfecção com alto risco. Os fatores de aparecimento de lesão são: imunossupressão, gestação, uso de corticoides ou qualquer imunossupressor, fatores locais de queda de resistência. TRATAMENTO CLÍNICO – HPV BAIXO RISCO Ácido Tricloroacético 90%: semanal em aplicação médica supervisionada e é a escolha em gestantes. * Podofilina Solução 0,5%: 2 aplicações ao dia por 3 dias seguidos/semana por semana. Autoaplicação devido baixo risco de queimadura ou ulceração. Imiquimod Creme 5%: aplicação pessoal 3x por semana durante 3 meses. Ação imunomoduladora com ativação de Interleucinas, TNF e Interferon. Resposta variada com necessidade de interrupção em pacientes hipersensíveis. TRATAMENTO CIRÚRGICO – HPV BAIXO RISCO Indicação: lesões extensas e/ou sem resposta a tratamento clínico prévio ou ainda quando se deseja biópsia em lesão suspeita (especialmente na vulva). Opções cirúrgicas: Exérese cirúrgica – exceção. Eletrocauterização – é a mais utilizada. Laser – é o ideal, porém limitada por acesso e custo. VACINAÇÃO PARA HPV Protocolos para profilaxia em jovens: meninas de 6 a 13 anos de idade devem receber apenas 2 doses (0 e 6 meses). Acima de 13 anos, portadores de HIV, outras imunossupressões: 3 doses completas em (0, 1 ou 2, e 6 meses). Não há mais limite para vacinação acima de 40 anos (FDA aprova até 45 anos). ▪ Mulheres com vida sexual ativa devem ser vacinadas. ▪ A vacina apresenta títulos de anticorpo residual muito superiores que a infecção pelo vírus selvagem. ▪ Meninos devem ser vacinados também pois há risco de câncer peniano e anal e diminui a dispersão do vírus às parceiras. ▪ Ausência de riscos relevantes quando comparado às do calendário vacinal em Guillain Barret (ou qualquer complicação).* Vacinas disponíveis no mercado: Gardasil (Merck): subtipos 6, 11, 16, 18; Cervarix (GSK): subtipos 16 e 18 (crossreaction 31, 33, 45). Gardasil 9 (Merck) – subtipos 6, 11, 16, 18, 31, 45, 52 e 58. É liberada nos EUA (FDA e recomendação de uso CDC). Está em avaliação pela ANVISA. • A utilização da vacina profilática em portadoras de lesão é confirmada em estudos variados (inclusive na nova Gradasil9). • Vacinas terapêuticas (anti E6 e anti E7): trial fase 3. SITUAÇÃO VACINAL NO BRASIL Disponibilizada quadrivalente para meninas de 9 anos a 14 anos 11 meses e meninos de 11 a 14 anos e 11 meses: esquema vacinal é feito em doses 0 e 6 meses. Pacientes com HIV, transplante, doenças imunossupressoras ou oncológicas podem ser vacinados até 26 anos: 0/2/6 meses • A cobertura vacinal para 2017 foi de: meninas 1ª dose (79,21%) e 2ª dose (48,74%). Meninos 1ª dose (43,8%). • De 2014 a 2017, 4,9 milhões de meninas (48,7%) de 9 a 14 anos completaram o esquema vacinal contra HPV.
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