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Fichamento IV Maria Antônia Machini Costa PECEQUILO, Cristina. A União Europeia: os desafios, a crise e o futuro da integração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Capítulo III. ● Cristina Soreanu Pecequilo é uma doutora em Ciência Política pela USP, professora tanto de graduação quanto de pós-graduação em Relações Internacionais. Suas principais áreas de estudo são Relações Internacionais bilaterais e multilaterais; Política Externa e Integração Internacional; ● Neste capítulo, a autora objetiva analisar a forma como o bloco europeu evoluiu durante o século XXI e “ (...) as encruzilhadas geradas pelas crises internas e externas ao bloco na política, estratégia e economia” (PECEQUILO, 2014, p. 65); ● A União Europeia, o exemplo mais consolidado e difundido ao redor do mundo de integração regional, atrai o olhar e atenção de muitos estudiosos, devido à sua amplitude e profundidade de suas políticas; ● É importante frisar, no entanto, que sua consolidação como integração regional foi gradual e perpassou por outros modelos de cooperação, suscitando debates nas teorias até aqui estudadas, principalmente entre o Intergovernamentalismo e o Neo-Funcionalismo; ● Sua origem se deu em 1951, com o Tratado de Paris , quando foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA): ○ Signatários: Alemanha, França, Bélgica, Itália, Holanda e Luxemburgo; ○ A CECA demonstra princípios do funcionalismo, já que surgiu a partir da aproximação de setores técnicos - o do carvão e o do aço. ● Já em 1957, a CECA se torna a Comunidade Econômica Europeia (CCE) a partir do Tratado de Roma : ○ Deixa-se para trás, portanto, a simplicidade encontrada em sua primeira formação, regida por reuniões entre técnicos, para uma integração mais complexa e forte; ○ É a partir daqui que se nota o efeito de spillover → a aproximação das políticas agrícolas, por exemplo, passa a ter efeitos sobre outras, como a ambiental e comercial; ○ É constituída uma União Aduaneira - regras, procedimentos e direitos aduaneiros comuns - e a introdução de um Mercado Comum - além da união aduaneira, adiciona-se a liberdade de circulação dos fatores de produção; ○ Implementa-se uma Política Agrícola Comum, Política Comercial Comum, Política de Transportes, entre outras. ● Mais tarde, em 1986, com o intuito de revisar o Tratado de Roma e concluir a implementação de um Mercado Comum, tem-se o Ato Único Europeu : ○ O documento foi responsável por modificar as regras do funcionamento das instituições da cooperação e ampliar competências/políticas comunitárias, uma Política Externa Comum (PEC), por exemplo; ○ Entre as alterações institucionais realizadas, vale citar: ■ Maior número de casos passíveis de deliberação do Conselho por maioria qualificada → extermina-se o veto; ■ Criação do Conselho Europeu, responsável pela oficialização das conferências e cúpulas dos chefes de Estado e de Governo. Esta mudança contribui para a visão de que a União Europeia também passou por momentos de INTERGOVERNAMENTALISMO , em que não se tratava de uma supranacionalidade totalmente autônoma e, portanto, não se encaixa nos moldes neo-funcionalistas de Haas; ■ Poder do Parlamento Europeu é reforçado, podendo acrescentar às resoluções feitas pelo Conselho e levar o debate adiante; ■ A competência de execução dos atos passa a ser atribuída à Comissão, e não ao Conselho de Ministros. ○ PEC → A Política Externa nacional ainda estava a cargo dos Estados, mas estes se comprometeram a consultar os demais para a formulação das políticas referentes às áreas de interesse comum. Pode-se dizer que isso foi o pontapé inicial para o reconhecimento da União Europeia como um ator no Sistema Internacional (consolidado de fato apenas em 1992). ● O Tratado de Maastricht se deu em 1992 e foi responsável por aprofundar os laços políticos de integração, apresentando os 3 pilares da União Europeia : I) assuntos comunitários; III) políticas comuns nas áreas externa e de segurança; IV) cooperação no âmbito jurídico e nos assuntos internos. ○ Instituição da Cidadania Europeia: não há trocas de representatividade, portanto, alguém com cidadania francesa passa a ter ambas: cidadania francesa e europeia; entretanto, não pode-se chamar de um caso de dupla cidadania, já que não se trata de dois Estados nacionais; ○ Supranacionalidade Extrema: c ria-se um novo ator com capacidade de se relacionar com o resto do mundo como, com certos limites, outro país; ○ 5 objetivos fundamentais do Tratado de Maastricht : ■ I) fortalecer a legitimidade democrática das instituições, ou seja, passam a ser eleitas; ■ II) aumentar a eficácia das instituições, munindo-as de maior autonomia de decisão; ■ III) implementar uma União Econômica e Monetária, que mais tarde se consolidaria com a inclusão do euro; ■ IV) estabelecer uma Política Externa e de Segurança Comum, tema que causa implicações para/com a OTAN; ■ V) ampliar o lado social da Comunidade, ir além da esfera econômica. ○ Principais instituições da União Europeia: ■ Parlamento Europeu : eleito de forma direta, representante dos cidadãos europeus; ■ Conselho da União Europeia : constituída pelos ministros dos Estados-membros, com o intuito de representá-los; ■ Comissão Europeia : independente dos governos nacionais, responsável por defender os interesses da União Europeia; ■ Tribunal de Justiça : responsável por assegurar o cumprimento da legislação europeia; ■ Tribunal de Contas : tem a função de fiscalizar o financiamento das atividades da União; ○ A partir de um olhar atento ao Conselho da União Europeia e à Comissão Europeia, nota-se a perda do elemento intergovernamentalista presente em 1986. Isso se dá pela ausência dos Chefes de Estados em suas respectivas direções. Importante ressaltar, entretanto, que a supranacionalidade aqui exposta foi construída gradualmente e a partir da fase intergovernamentalista antes exposta. ● Já o Tratado de Amsterdã (1997) e o Tratado de Nice (2001) objetivavam ajustar as instituições da União a fim de alargar seu escopo para os países do Leste Europeu. Além disso, tinham a intenção de produzir uma Constituição Europeia a partir das diversas diretivas apresentadas ao bloco. No entanto, é fácil visualizar como este aparato, do ponto de vista jurídico, ameaçava a soberania dos Estados e, portanto, este documento não foi criado. ● Em 1999, tem-se a criação da Zona do Euro , consolidando-se assim a união econômica e monetária. O único empecilho encontrado a esta implementação da nova moeda foi a resistência britânica, acarretando na manutenção da libra esterlina. ● Mais recentemente, em 2008, foi assinado o Tratado de Lisboa , com o objetivo de reger o funcionamento cotidiano da União Europeia, bem como o de alinhar diretrizes em diferentes pautas, como a ambiental e de suscitar, novamente, o debate acerca da Política Externa de Segurança, mal vista pela Grã-Bretanha; além disso, tem-se: ○ Criação do presidente do Conselho Europeu, que, em moldes simplistas,seria um “chefe de Estado” do bloco; ○ Criação do cargo de Alto Representante para a PEX de Segurança, uma espécie de Chanceler da união; ○ Instituição de um novo processo decisório baseado no sistema de dupla maioria; ○ Instituição de eleições para o Presidente da Comissão, as quais seriam feitas pelo Parlamento sob proposta do Conselho. Ou seja, não se trata de uma eleição direta e, portanto, foi constituído um “governo parlamentar para a União Europeia”. ● Com este levantamento de dados, nota-se que a União Europeia vem passando por aprofundamento , e não por alargamentos. Outros pontos levantados pela autora são as crises sofridas pela região, como o aumento exponencial de refugiados, a quebra da economia da Grécia, a saída da Grã-bretanha e a mais recente delas a Guerra da Ucrânia (não citada pela autora). Mesmo não fazendo parte do bloco, sua localização entre a Europa e a Rússia apresenta complicações para o restante dos países europeus. ● Além disso, Pecequilo chama atenção para os processos de xenofobia e conflitos internos acerca da União que vêm crescendo nos últimos tempos. Por fim, cabe a citação presente em sua conclusão: Às ameaças relacionadas à crise da União Europeia precisam ser somadas as relativas aos desequilíbrios da economia dos Estados Unidos que forneceram o estopim para o desenrolar da crise do núcleo capitalista ocidental em 2008. Indicadores que apontam a recuperação lenta dos níveis de crescimento norte-americano e europeu devem ser matizados. Além disso, a desaceleração das economias emergentes dos BRICS, que não deixaram de crescer, mas diminuíram sua expansão, sugere a possibilidade do aumento de suas vulnerabilidades sociais devido a problemas como inflação, desemprego e diminuição do crescimento da renda (PECEQUILO, 2014, p. 103).
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