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Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lidia Cicarone Nesta unidade, vamos tratar do tema “A constituição dos objetos, métodos e práticas da Antropologia”. Percorreremos todo o período que antecedeu a sistematização da Antropologia desenvolvida no séc. XIX, já como ciência, profundamente matizada pela perspectiva evolucionista, como instrumento de legitimação da dominação imperialista neocolonial e validadora de uma pretensa superioridade europeia e estadunidense sobre povos africanos, asiáticos e latino-americanos. Compreenderemos a Antropologia a partir da necessidade humana de explicar a diversidade dos povos, tanto em termos físicos quanto culturais. O ímpeto que seria chamado, no séc. XIX, de antropológico já existiria desde que existiram as sociedades, muito antes, portanto, do séc. XIX. Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Acesse o link http://www.youtube.com/watch?v=4ImdnAvvflU do site YouTube, para assistir ao vídeo da versão acústica da música “Índios” (gravado em 1992 para a MTV Brasil), da banda Legião Urbana, acompanhando a letra transcrita abaixo, uma das mais célebres composições de Renato Russo: Índios Quem me dera ao menos uma vez Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem Conseguiu me convencer que era prova de amizade Se alguém levasse embora até o que eu não tinha. Quem me dera ao menos uma vez Esquecer que acreditei que era por brincadeira Que se cortava sempre um pano-de-chão De linho nobre e pura seda. Quem me dera ao menos uma vez Explicar o que ninguém consegue entender Que o que aconteceu ainda está por vir E o futuro não é mais como era antigamente. Quem me dera ao menos uma vez Provar que quem tem mais do que precisa ter Quase sempre se convence que não tem o bastante Fala demais por não ter nada a dizer. Quem me dera ao menos uma vez Que o mais simples fosse visto Como o mais importante Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Quem me dera ao menos uma vez Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três E esse mesmo Deus foi morto por vocês Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste. Eu quis o perigo e até sangrei sozinho Entenda Assim pude trazer você de volta pra mim Quando descobri que é sempre só você Que me entende do início ao fim. E é só você que tem a cura pro meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto De tudo que eu ainda não vi. Quem me dera ao menos uma vez Acreditar por um instante em tudo que existe E acreditar que o mundo é perfeito E que todas as pessoas são felizes. Contextualização http://www.youtube.com/watch?v=4ImdnAvvflU Quem me dera ao menos uma vez Fazer com que o mundo saiba que seu nome Está em tudo e mesmo assim Ninguém lhe diz ao menos, obrigado. Quem me dera ao menos uma vez Como a mais bela tribo Dos mais belos índios Não ser atacado por ser inocente. Eu quis o perigo e até sangrei sozinho Entenda Assim pude trazer você de volta pra mim Quando descobri que é sempre só você Que me entende do início ao fim. E é só você que tem a cura pro meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto De tudo que eu ainda não vi. Nos deram espelhos e vimos um mundo doente Tentei chorar e não consegui. O que esta canção, que aparentemente trata da questão do estranhamento cultural entre europeus e índios no contato com o Novo Mundo, tem de atual? Muito! E é um pouco disso que veremos nesta unidade, perscrutando os primórdios de um comportamento antropológico, antes mesmo da sistematização da Antropologia como ciência no séc. XIX. A proposta é a de compreender a Antropologia a partir da necessidade humana de explicar a diversidade dos povos, tanto em termos físicos quanto culturais. Sendo assim, o ímpeto que seria chamado, no séc. XIX, de antropológico já existiria desde que existiram as sociedades, muito antes, portanto, desse séc. XIX. Se tomarmos a dimensão da violência explicitada no contato com o desconhecido, este sendo representado como o “índio”, pode-se dizer que seriam “índios” (em termos alegóricos e metafóricos) todos aqueles entendidos como estranhos em relação a um determinando repertório conhecido, uma vez que, neste caso, representam o desconhecido. Há registros acerca de povos considerados estranhos, pelas diferenças que guardavam, desde as primeiras civilizações no Médio-Oriente (Egito e Mesopotâmia), aparecendo também em documentos escritos romanos, por exemplo, na forma de referências a povos externos aos limites de Roma, nominados como bárbaros. O mesmo pode-se dizer acerca de povos que praticaram o comércio marítimo, como várias cidades-estado gregas, que estreitaram contatos com sociedades muito distintas da sua ou, até mesmo, desconhecidas. Nesta unidade, enveredaremos pelo período histórico anterior à constituição da ciência antropológica, primordialmente focada na compreensão das diferenças entre os povos, das quais fenômenos como o da violência, referido na música, derivam. Em busca de um objeto eminentemente antropológico Como vimos na unidade anterior, a Antropologia desenvolvida no séc. XIX esteve profundamente matizada pela perspectiva evolucionista, tendo sido ainda instrumento de legitimação da dominação imperialista neocolonial, focando seus esforços na validação de uma pretensa superioridade europeia e estadunidense sobre povos africanos, asiáticos e latino-americanos. Dessa forma, a perspectiva evolucionista aplicada à compreensão das sociedades humanas levou as categorias rácicas darwinistas, determinantes dos mais ou menos aptos, a explicar as sociedades a partir do binômio civilizadas / primitivas, quando o quadro histórico revela o binômio real: exploradores / explorados. Como instrumento de compreensão para a dominação e mesmo como ferramenta para a gestão de povos, o foco inicial dessa primeira Antropologia foram as sociedades então referidas como “primitivas”, tidas como “atrasadas” quando comparadas às sociedades europeias. O ímpeto valorativo salta aos olhos quando tomamos contato com as designações dadas às sociedades consideradas de tipo simples, como “sociedades primitivas”, “sociedades arcaicas” ou “sociedades frias”. Contudo, se compreendermos a Antropologia a partir da necessidade humana de explicar a diversidade dos povos, tanto em termos físicos quanto culturais, temos que aceitar que o ímpeto que seria chamado, no séc. XIX, de antropológico já existia desde que as sociedades existem, muito antes, portanto, desse séc. XIX. Há registros acerca de povos considerados estranhos, pelas diferenças que guardavam, desde as primeiras civilizações no Médio-Oriente (Egito e Mesopotâmia), aparecendo também em documentos escritos romanos, por exemplo, na forma de referências a povos externos aos limites de Roma, nominados como bárbaros. O mesmo pode-se dizer acerca de povos que praticaram o comércio marítimo, como várias cidades-estado gregas que estreitaram contatos com sociedades muito distintas da sua ou até mesmo desconhecidas. Material Teórico Desta forma, podemos inferir que sociedades fechadas pouco se preocuparam em compreender questões antropológicas, enquanto, em períodos nos quais foram descobertas populações e territórios até então estranhos, essas preocupações foram agudizadas. Motivo pelo qual o período do Mercantilismo, entre o séc. XV e o final do séc. XVIII (no qual se intensificaram os contatos de europeus com os continentes africano e asiático, e, após os descobrimentos do séc. XVI, com o Novo Mundo), assistiu a significativastentativas de compreensão das diferenças que guardavam, então, povos considerados exóticos ou selvagens. Coincide com essas balizas temporais o fenômeno histórico-social do Humanismo, decorrente do declínio do poder político da Igreja, que resultou em uma espécie de “abandono espiritual” dos povos europeus, com o consequente afastamento das instituições eclesiásticas de seu cotidiano. O Humanismo superava o teocentrismo vigente durante os quase mil anos de Idade Média (segundo a cronologia histórica, o período que iria de 476 a 1453, da queda do Império Romano à tomada de Constantinopla pelos turcos), estrutura na qual as explicações de caráter religioso determinavam o próprio entendimento humano, disciplinado pelo controle das instituições eclesiásticas, o que incluía o Tribunal do Santo Ofício (ou a Santa Inquisição), responsável pelas fogueiras que deram cabo à vida daqueles considerados desviados da fé católica. Ao contrário, o Humanismo, como filosofia moral, elegia não a Deus, mas o Homem (com primazia para o atributo da razão), como centro das explicações acerca dos mistérios que permeavam a natureza e constitutivos da condição humana. O Humanismo teve, como contributo fundamental, a intensificação do contato com povos africanos e asiáticos, bem como ameríndios após a conquista europeia do Novo Mundo. Neste sentido, a necessidade de compreender o outro impôs à Europa também uma espécie de espelho, por meio do qual povos europeus foram obrigados a repensar a si mesmos. Esse é o sentido de grande parte da produção humanista do período designado Renascimento, como o ensaio de Michel Eyquem de Montaigne, “Dos Canibais”, escrito em 1580; de Étienne de La Boétie, “Discurso sobre a Servidão Voluntária”, de 1563; e de Thomas More, “Utopia”, de 1516. Para o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, segundo sua obra “Antropologia Estrutural”, foram três as etapas do Humanismo: Humanismo da Renascença; Humanismo dos séculos XVIII e XIX; Humanismo atual. Referindo-se à primeira etapa do Humanismo, o sentido de renascimento alude ao entendimento do tempo e do desenvolvimento da própria Civilização Ocidental a partir de alegorias do universo biológico, mais propriamente dito, humano. Ou seja, a intelectualidade do Renascimento era aquela que acreditava mesmo estar renascendo, em termos metafóricos. O nascimento do Ocidente seria referido ao passado greco-romano, ou seja, às civilizações clássicas, enquanto a Idade Média, por sua vez, teria sido um período de obscurecimento do entendimento humano, dado o controle exercido pela Igreja, com as guerras religiosas, as fogueiras da Inquisição e a violência das Cruzadas. Superado o período medieval, a intelectualidade europeia entendia o novo momento como o de renascimento para a erudição, para as artes e para as ciências, fora dos limites, antes, regrados pelo poder eclesiástico. O Humanismo do Renascimento consistiria, nesses termos, na redescoberta das civilizações clássicas, da própria filiação da Europa a um passado idealizado como o tempo das glórias e grandezas de civilizações que precisavam, nesses termos, serem compreendidas para que a própria Europa compreendesse a si mesma, desvelando suas raízes. É exatamente na literatura antiga que a “técnica do estranhamento”, elaborada após o contato das civilizações clássicas com outros povos, serviu para que a intelectualidade do renascimento se debruçasse sobre o estudo de outras sociedades, no tempo e no espaço. Já o Humanismo posterior, dos séculos XVIII e XIX, está relacionado à consolidação do capitalismo industrial, decorrente da profusão do modelo de atividades produtivas desenvolvidas no bojo da Revolução Industrial inglesa. Relacionado às próprias necessidades de expansão das economias industrializadas em direção à periferia do sistema capitalista, em busca de matérias-primas e de mercados consumidores, este humanismo (circunscrito ao fenômeno do imperialismo e do neocolonialismo), no contexto da concorrência capitalista que envolvia os países centrais, é caracterizado por um profundo etnocentrismo. Coroação do Rei George V como Imperador da Índia - 1911 Designamos etnocentrismo a valoração inferiorizante de uma cultura estranha ao observador, que elege, como referência para sua análise, a sua própria cultura. Assim sendo, uma cultura sob enfoque etnocentrista jamais pode ser compreendida, uma vez que sempre é tomada por aquilo que lhe falta ou que diverge em relação à cultura do observador. Evidentemente, entre os séculos XVIII e XIX, esse etnocentrismo manifestava-se de forma gravemente eurocentrista, ou seja, o repertório cultural europeu era tomado como referencial para a análise de civilizações milenares, como Índia, China e América Latina, inferiorizadas, portanto, por quão distintas eram da cultura europeia, motivo pelo qual foram tratadas como culturas primitivas. No entanto o humanismo atual é aquele que já conta com uma antropologia pós-colonialista, ou seja, desvencilhada dos interesses imperialistas e neocoloniais. Compreender os povos a partir das diferenças que guardam não é mais uma tarefa antropológica voltada para a política de dominação dessas sociedades, mas constitui uma tarefa científica de um campo já firmemente consolidado. Ocorre que, pensando nos objetos de interesse da Antropologia, as significativas mudanças concernentes ao uso social dado a esta disciplina modificaram, consubstancialmente, seus enfoques. Como vimos, no séc. XIX, matizada pelo evolucionismo e a serviço do imperialismo, a Antropologia focou as sociedades designadas como “primitivas”, na periferia do sistema, a partir de uma postura etnocentrista e eurocentrista, enquanto a Sociologia ocupou-se das sociedades “civilizadas”, no centro do sistema capitalista, motivo pelo qual seus objetos estavam, nitidamente, diferenciados. No período pós-colonial, em que várias sociedades tidas como primitivas deixaram de ser compreendidas dessa forma, ou desapareceram ou foram assimiladas por suas antigas metrópoles, a Antropologia experimentou sua mais grave crise, tendo que redefinir seus objetos. Charles George Gordon – Enviado para proteger as possessões britânicas na África. Buscando designações menos valorativas, o termo “sociedades primitivas” foi dando lugar, por influência da Sociologia, ao termo “sociedades simples”, caracterizadas, segundo Émile Durkheim (um dos pais da Sociologia moderna), no modelo mais simples possível, pela ausência de escrita (sociedades ágrafas), pela ausência de instituições, de complexas estratificações ou hierarquias sociais, de processos de burocratização, normatização e de jurisdização. Evidentemente, no extremo oposto, temos sociedades tipificadas, portanto, como complexas. Estudando, ainda, as sociedades de tipo simples, no presente, a Antropologia avançou sobre o campo de interesse da Sociologia, buscando, dentro de sociedades complexas, unidades de convívio social que obedecessem a estruturas simples. É o caso, por exemplo, da contraposição “campo / cidade”, esta ocupada então pela Sociologia e aquela pela Antropologia. Ocorre que a Antropologia teria avançado ainda mais sobre os objetos de interesse sociológico, buscando compreender sociedades tribais na forma urbana, ou melhor dizendo, tribos urbanas, cujas lógicas organizativas podem ser caracterizadas de tipo simples, mas com lócus de organização no seio de sociedades complexas. Sobrepondo-se e acotovelando-se na disputa pelos mesmos objetos, muitas vezes os estudos antropológicos, pelo caráter sociológico que guardam, ou os estudos sociológicos, pela inclinação antropológica que manifestam, tornam impossível distinguir o que é uma ciência e o que é outra, ou ainda, se determinado objeto é de interesse antropológico ou sociológico. Comrelação a outra ciência, a História, a questão se verifica um tanto mais simples, uma vez que sociedades do passado portadoras de escrita, na forma simples ou complexa, são de interesse eminentemente histórico, enquanto a Antropologia se ocupa, tratando de sociedades do passado, daquelas não-portadoras de escrita. Com isso, a Antropologia contemporânea, segundo nos esclarece Lévi-Strauss, interessa-se tanto por sociedades simples como pelas complexas, tendo suas teorias e métodos, erigidos para a compreensão de sociedades simples, contribuído, sobremaneira, para a compreensão de todos os tipos de sociedades, inclusive as complexas. Teria havido, ainda, uma espécie de democratização do uso social do conhecimento antropológico, uma vez que seus saberes teriam deixado de servir apenas aos atores dominantes em sociedade, servindo para a transformação das condições de vida de segmentos menos privilegiados, alijados do desenvolvimento social e das estruturas de poder. Aliada a um novo humanismo, a Antropologia projeta-se para a contemporaneidade a partir, primordialmente, de uma postura universalista. Para isso, o etnocentrismo vem dando lugar ao princípio da alteridade, que implica em “ver-se do outro”, ou seja, reconhecer-se naquele que, de ímpeto, somos compelidos a compreender como “estranhos”. Reconhecer o outro, por quão distinto seja, implica em reconhecer fundamentalmente o direito (como valor) à diferença. O princípio fundamental é que cada cultura tem, para si, um repertório moral que se desdobra num conjunto de valores e práticas sociais. Nesse sentido, é preciso que o observador externo àquela cultura não permita que suas próprias referências, na forma de moral, valores e práticas, sirvam de base comparativa para a compreensão daquela cultura. É preciso, antes de tudo, chegar à moral e aos valores da cultura que se pretende analisar, para, então, compreender, mais adequadamente, os sentidos e significados das práticas sociais sob investigação. Os diferentes objetos, etapas do método e as diferentes antropologias O século XX foi o período no qual, tendo se libertado das amarras do evolucionismo, a Antropologia pôde ampliar seu foco, almejando a totalidade da condição humana, a totalidade das sociedades e das épocas nas quais poderiam ser esquadrinhados seus objetos de investigação. Tentando uma compreensão completa e totalizante a respeito do Homem, não se pode dizer de uma Antropologia tão somente, mas de várias antropologias. A primeira distinção que se faz, atinente às duas dimensões primordiais da existência humana, é entre uma dimensão física e outra cultural, da qual se desdobram a Antropologia Física e a Antropologia Cultural. Referindo o intelecto humano, temos uma terceira Antropologia, a Filosófica. Uma série, ainda, de outras antropologias ramifica-se desses troncos principais, subdividindo a ciência de acordo com as características específicas de seus objetos, que aparecem como unidades simples do todo complexo que constitui o Homem. A Antropologia Cultural, conforme se consolidou esta corrente nos Estados Unidos, algumas vezes referida como Antropologia Social, forma nominada pela antropologia britânica, foca a dimensão cultural da existência humana, a partir das criações humanas materiais (de existência concreta ou objetiva) ou imateriais (de existência abstrata ou subjetiva). Como Antropologia Social, primordialmente da forma como a definiu Radcliffe- Brown, focam-se especificamente as formas de organização das sociedades humanas, seus sistemas de parentesco, estruturas familiares, hierarquias sociais, sistemas políticos, relações de poder etc. Especificamente, seu objeto de investigação seriam as relações sociais e a estrutura social. Segundo a proposta de Radcliff-Brown, a Antropologia Cultural focaria o homo faber, ou seja, o Homem como produtor de cultura material e imaterial, enquanto a Antropologia Social se interessaria pelas sociedades humanas, na medida de sistemas culturais partilhados em sociedade. Por sua vez, a Antropologia Cultural ou Social desdobra-se em duas outras dimensões: a etnografia, que se refere às práticas de pesquisa de campo, nas quais uma cultura é objeto de observação e registro; e a etnologia, que se refere à etapa posterior de análise das descrições acerca de determinada cultura, o que inclui a mobilização ou mesmo redefinição dos marcos teóricos cabíveis para a análise. ETNOGRAFIA práticas de pesquisa de campo, nas quais uma cultura é objeto de observação e registro. ETNOLOGIA etapa posterior de análise das descrições acerca de determinada cultura, o que inclui a mobilização, ou mesmo, redefinição dos marcos teóricos cabíveis para a análise. A relação entre etnografia, etnologia e Antropologia refere-se, exatamente, às etapas do método em Antropologia Cultural ou Social, a saber: observação, descrição e análise de grupos humanos e de fenômenos culturais a ele relativos, o que inclui sua sistemática classificação e taxionomia, tanto para a dimensão de cultura material quanto imaterial. Antropologia Física dimensão física da existência humana Antropologia Cultural dimensão cultural da existência humana Antropologia Filosófica dimensão intelectual da existência humana Na dimensão etnológica, a pesquisa antropológica pode enveredar por três distintas posturas. A etnologia geográfica é aquela na qual os hábitos recolhidos são associados àqueles de grupos humanos circunvizinhos, buscando-se correlações que possam explicar o fenômeno cultural observado. A etnologia histórica empreende abordagens comparativas parecidas com a geográfica, contudo privilegiam-se grupos humanos distintos no tempo, não no espaço, buscando-se as origens de sistemas culturais em práticas tradicionais do passado, legadas à posteridade de forma geracional. A etnologia sistemática, por sua vez, é aquela que isola o sistema cultural enfocado, buscando identificar suas particularidades sem contrastá-las com nenhum outro grupo humano. Sendo assim, etnografia, etnologia e Antropologia não devem ser consideradas disciplinas distintas, apesar do grau relativo de autonomia que lhes vem constituindo, mas devem ser compreendidas, articuladamente, como áreas complementares e que desvelam etapas distintas da pesquisa antropológica. A Antropologia Física ou Biológica é aquela focada nos aspectos biotípicos do homem, seus caracteres físicos e herdados hereditariamente. Características morfológicas, anatômicas, fisiológicas e genéticas são relativizadas a partir da influência que o meio físico exerceria sobre aspectos evolutivos humanos. Ambas, Antropologia Cultural e Antropologia Física, constituem as principais dimensões do saber antropológico, seguindo o ambicioso mas possível objetivo de elucidar os enigmas da existência humana. Para o caso de você desejar se aprofundar em algumas questões trabalhadas no conteúdo, disponibilizamos, aqui, uma relação de materiais complementares que podem ser extremamente elucidativos. Livros: CARVALHO, Eide M. Murta (org.). O pensamento vivo de Darwin. São Paulo: Martin Claret, 1986. MORE, Thomas. A utopia. São Paulo: Martin Claret, 2008. ROTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura. São Paulo: Hemus, 19--. VIERTLER, Renate Brigitte. A refeição das almas. São Paulo: Hucitec-EDUSP, 1991. Filmes: “A Missão”; dir.: Roland Joffé “O último dos moicanos”; dir.: Michael Mann “Alexandre”; dir.: Oliver Stone Material Complementar CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à África, São Paulo, Brasiliense, 1985. DURKHEIM, Émile e Marcel MAUSS, “Algumas formas primitivas de classificação: contribuição para o estudo das representações coletivas”. Em Ensaios de Sociologia, São Paulo, Perspectiva, 1981, pp. 399-455.EVANS-PRITCHARD, E.E. Os Nuer. São Paulo, Editora Perspectiva, 2002. MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a Dádiva”. Em Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro, Cosac & Naify, 2004. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978. SAHLINS, Marshall. Ilhas de História, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1990. LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. São Paulo, Companhia Ed. Nacional, 1976. MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Brasília, Editora da UnB, 2003. MATTA, Roberto da. “Carnavais, malandros e heróis". Em Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 4 ed. Zahar, 1983. 272 p. MATTA, Roberto da. “Relativizando". Em Relativizando: uma introdução à antropologia social. 4 ed. Rocco, 1993. 246 p. RIBEIRO, Darcy. "Os Índios e a civilização". Em Os Índios e a civilização: A integração das populações indígenas no Brasil moderno. 6 ed. Vozes, 1993. 508 p. OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. "O índio e o mundo dos brancos". Em O índio e o mundo dos brancos. 3 ed. Universidade de Brasília, 1981. 131 p. v. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Perspectivismo e Multinaturalismo na América Indígena”. Em A Inconstância de Alma Selvagem, São Paulo, Cosac & Naify, 2002, pp. 345-399. Referências _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Anotações
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