Buscar

teorico 2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Responsável pelo Conteúdo: 
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni 
 
Revisão Textual: 
Profa. Esp. Vera Lidia Cicarone 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesta unidade, vamos tratar do tema “A constituição dos 
objetos, métodos e práticas da Antropologia”. 
Percorreremos todo o período que antecedeu a sistematização 
da Antropologia desenvolvida no séc. XIX, já como ciência, 
profundamente matizada pela perspectiva evolucionista, como 
instrumento de legitimação da dominação imperialista 
neocolonial e validadora de uma pretensa superioridade 
europeia e estadunidense sobre povos africanos, asiáticos e 
latino-americanos. 
Compreenderemos a Antropologia a partir da necessidade 
humana de explicar a diversidade dos povos, tanto em termos 
físicos quanto culturais. O ímpeto que seria chamado, no séc. 
XIX, de antropológico já existiria desde que existiram as 
sociedades, muito antes, portanto, do séc. XIX. 
Atenção 
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar 
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 
 
 
 
 
 
 
Acesse o link http://www.youtube.com/watch?v=4ImdnAvvflU do site YouTube, para 
assistir ao vídeo da versão acústica da música “Índios” (gravado em 1992 para a MTV Brasil), 
da banda Legião Urbana, acompanhando a letra transcrita abaixo, uma das mais célebres 
composições de Renato Russo: 
Índios 
Quem me dera ao menos uma vez 
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem 
Conseguiu me convencer que era prova de amizade 
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha. 
Quem me dera ao menos uma vez 
Esquecer que acreditei que era por brincadeira 
Que se cortava sempre um pano-de-chão 
De linho nobre e pura seda. 
Quem me dera ao menos uma vez 
Explicar o que ninguém consegue entender 
Que o que aconteceu ainda está por vir 
E o futuro não é mais como era antigamente. 
Quem me dera ao menos uma vez 
Provar que quem tem mais do que precisa ter 
Quase sempre se convence que não tem o bastante 
Fala demais por não ter nada a dizer. 
Quem me dera ao menos uma vez 
Que o mais simples fosse visto 
Como o mais importante 
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente. 
Quem me dera ao menos uma vez 
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três 
E esse mesmo Deus foi morto por vocês 
Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste. 
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho 
Entenda 
Assim pude trazer você de volta pra mim 
Quando descobri que é sempre só você 
Que me entende do início ao fim. 
E é só você que tem a cura pro meu vício 
De insistir nessa saudade que eu sinto 
De tudo que eu ainda não vi. 
Quem me dera ao menos uma vez 
Acreditar por um instante em tudo que existe 
E acreditar que o mundo é perfeito 
E que todas as pessoas são felizes. 
Contextualização 
http://www.youtube.com/watch?v=4ImdnAvvflU
 
 
Quem me dera ao menos uma vez 
Fazer com que o mundo saiba que seu nome 
Está em tudo e mesmo assim 
Ninguém lhe diz ao menos, obrigado. 
Quem me dera ao menos uma vez 
Como a mais bela tribo 
Dos mais belos índios 
Não ser atacado por ser inocente. 
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho 
Entenda 
Assim pude trazer você de volta pra mim 
Quando descobri que é sempre só você 
Que me entende do início ao fim. 
E é só você que tem a cura pro meu vício 
De insistir nessa saudade que eu sinto 
De tudo que eu ainda não vi. 
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente 
Tentei chorar e não consegui. 
 
O que esta canção, que aparentemente trata da questão do estranhamento cultural 
entre europeus e índios no contato com o Novo Mundo, tem de atual? Muito! E é um pouco 
disso que veremos nesta unidade, perscrutando os primórdios de um comportamento 
antropológico, antes mesmo da sistematização da Antropologia como ciência no séc. XIX. 
A proposta é a de compreender a Antropologia a partir da necessidade humana de 
explicar a diversidade dos povos, tanto em termos físicos quanto culturais. Sendo assim, o 
ímpeto que seria chamado, no séc. XIX, de antropológico já existiria desde que existiram as 
sociedades, muito antes, portanto, desse séc. XIX. 
Se tomarmos a dimensão da violência explicitada no contato com o desconhecido, 
este sendo representado como o “índio”, pode-se dizer que seriam “índios” (em termos 
alegóricos e metafóricos) todos aqueles entendidos como estranhos em relação a um 
determinando repertório conhecido, uma vez que, neste caso, representam o desconhecido. 
Há registros acerca de povos considerados estranhos, pelas diferenças que 
guardavam, desde as primeiras civilizações no Médio-Oriente (Egito e Mesopotâmia), 
aparecendo também em documentos escritos romanos, por exemplo, na forma de referências 
a povos externos aos limites de Roma, nominados como bárbaros. O mesmo pode-se dizer 
acerca de povos que praticaram o comércio marítimo, como várias cidades-estado gregas, que 
estreitaram contatos com sociedades muito distintas da sua ou, até mesmo, desconhecidas. 
Nesta unidade, enveredaremos pelo período histórico anterior à constituição da 
ciência antropológica, primordialmente focada na compreensão das diferenças entre os povos, 
das quais fenômenos como o da violência, referido na música, derivam. 
 
 
 
 
 
Em busca de um objeto eminentemente antropológico 
 
Como vimos na unidade anterior, a Antropologia desenvolvida no séc. XIX esteve 
profundamente matizada pela perspectiva evolucionista, tendo sido ainda instrumento de 
legitimação da dominação imperialista neocolonial, focando seus esforços na validação de 
uma pretensa superioridade europeia e estadunidense sobre povos africanos, asiáticos e 
latino-americanos. 
Dessa forma, a perspectiva evolucionista aplicada à compreensão das sociedades 
humanas levou as categorias rácicas darwinistas, determinantes dos mais ou menos aptos, a 
explicar as sociedades a partir do binômio civilizadas / primitivas, quando o quadro histórico 
revela o binômio real: exploradores / explorados. Como instrumento de compreensão para a 
dominação e mesmo como ferramenta para a gestão de povos, o foco inicial dessa primeira 
Antropologia foram as sociedades então referidas como “primitivas”, tidas como “atrasadas” 
quando comparadas às sociedades europeias. 
O ímpeto valorativo salta aos olhos 
quando tomamos contato com as 
designações dadas às sociedades 
consideradas de tipo simples, como 
“sociedades primitivas”, “sociedades 
arcaicas” ou “sociedades frias”. 
Contudo, se compreendermos a 
Antropologia a partir da necessidade 
humana de explicar a diversidade dos 
povos, tanto em termos físicos quanto 
culturais, temos que aceitar que o ímpeto 
que seria chamado, no séc. XIX, de antropológico já existia desde que as sociedades existem, 
muito antes, portanto, desse séc. XIX. 
Há registros acerca de povos considerados estranhos, pelas diferenças que guardavam, 
desde as primeiras civilizações no Médio-Oriente (Egito e Mesopotâmia), aparecendo também 
em documentos escritos romanos, por exemplo, na forma de referências a povos externos aos 
limites de Roma, nominados como bárbaros. O mesmo pode-se dizer acerca de povos que 
praticaram o comércio marítimo, como várias cidades-estado gregas que estreitaram contatos 
com sociedades muito distintas da sua ou até mesmo desconhecidas. 
 
Material Teórico 
 
 
Desta forma, podemos inferir que sociedades fechadas pouco se preocuparam em 
compreender questões antropológicas, enquanto, em períodos nos quais foram descobertas 
populações e territórios até então estranhos, essas preocupações foram agudizadas. Motivo 
pelo qual o período do Mercantilismo, entre o séc. XV e o final do séc. XVIII (no qual se 
intensificaram os contatos de europeus com os continentes africano e asiático, e, após os 
descobrimentos do séc. XVI, com o Novo Mundo), assistiu a significativastentativas de 
compreensão das diferenças que guardavam, então, povos considerados exóticos ou 
selvagens. 
 
Coincide com essas balizas temporais o fenômeno histórico-social do Humanismo, 
decorrente do declínio do poder político da Igreja, que resultou em uma espécie de 
“abandono espiritual” dos povos europeus, com o consequente afastamento das instituições 
eclesiásticas de seu cotidiano. O Humanismo superava o teocentrismo vigente durante os 
quase mil anos de Idade Média (segundo a cronologia histórica, o período que iria de 476 a 
1453, da queda do Império Romano à tomada de Constantinopla pelos turcos), estrutura na 
qual as explicações de caráter religioso determinavam o próprio entendimento humano, 
disciplinado pelo controle das instituições eclesiásticas, o que incluía o Tribunal do Santo 
Ofício (ou a Santa Inquisição), responsável pelas fogueiras que deram cabo à vida daqueles 
considerados desviados da fé católica. Ao contrário, o Humanismo, como filosofia moral, 
elegia não a Deus, mas o Homem (com primazia para o atributo da razão), como centro das 
explicações acerca dos mistérios que permeavam a natureza e constitutivos da condição 
humana. 
O Humanismo teve, como contributo fundamental, a 
intensificação do contato com povos africanos e asiáticos, bem como 
ameríndios após a conquista europeia do Novo Mundo. Neste 
sentido, a necessidade de compreender o outro impôs à Europa 
também uma espécie de espelho, por meio do qual povos europeus 
foram obrigados a repensar a si mesmos. Esse é o sentido de grande 
parte da produção humanista do período designado Renascimento, 
como o ensaio de Michel Eyquem de Montaigne, “Dos Canibais”, 
escrito em 1580; de Étienne de La Boétie, “Discurso sobre a Servidão 
Voluntária”, de 1563; e de Thomas More, “Utopia”, de 1516. 
 
 
Para o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, segundo sua obra “Antropologia 
Estrutural”, foram três as etapas do Humanismo: 
 Humanismo da Renascença; 
 Humanismo dos séculos XVIII e XIX; 
 Humanismo atual. 
 
Referindo-se à primeira etapa do Humanismo, o sentido de renascimento alude ao 
entendimento do tempo e do desenvolvimento da própria Civilização Ocidental a partir de 
alegorias do universo biológico, mais propriamente dito, humano. Ou seja, a intelectualidade 
do Renascimento era aquela que acreditava mesmo estar renascendo, em termos metafóricos. 
O nascimento do Ocidente seria referido ao passado greco-romano, ou seja, às civilizações 
clássicas, enquanto a Idade Média, por sua vez, teria sido um período de obscurecimento do 
entendimento humano, dado o controle exercido pela Igreja, com as guerras religiosas, as 
fogueiras da Inquisição e a violência das Cruzadas. Superado o período medieval, a 
intelectualidade europeia entendia o novo momento como o de renascimento para a 
erudição, para as artes e para as ciências, fora dos limites, antes, regrados pelo poder 
eclesiástico. 
O Humanismo do Renascimento consistiria, nesses 
termos, na redescoberta das civilizações clássicas, da 
própria filiação da Europa a um passado idealizado como o 
tempo das glórias e grandezas de civilizações que 
precisavam, nesses termos, serem compreendidas para que 
a própria Europa compreendesse a si mesma, desvelando 
suas raízes. É exatamente na literatura antiga que a “técnica 
do estranhamento”, elaborada após o contato das 
civilizações clássicas com outros povos, serviu para que a 
intelectualidade do renascimento se debruçasse sobre o 
estudo de outras sociedades, no tempo e no espaço. 
Já o Humanismo posterior, dos séculos XVIII e XIX, 
está relacionado à consolidação do capitalismo industrial, 
decorrente da profusão do modelo de atividades produtivas 
desenvolvidas no bojo da Revolução Industrial inglesa. 
Relacionado às próprias necessidades de expansão das economias industrializadas em direção 
à periferia do sistema capitalista, em busca de matérias-primas e de mercados consumidores, 
este humanismo (circunscrito ao fenômeno do imperialismo e do neocolonialismo), no 
contexto da concorrência capitalista que envolvia os países centrais, é caracterizado por um 
profundo etnocentrismo. 
Coroação do Rei George V como 
Imperador da Índia - 1911 
 
 
Designamos etnocentrismo a valoração 
inferiorizante de uma cultura estranha ao observador, 
que elege, como referência para sua análise, a sua 
própria cultura. Assim sendo, uma cultura sob enfoque 
etnocentrista jamais pode ser compreendida, uma vez 
que sempre é tomada por aquilo que lhe falta ou que 
diverge em relação à cultura do observador. 
Evidentemente, entre os séculos XVIII e XIX, esse 
etnocentrismo manifestava-se de forma gravemente 
eurocentrista, ou seja, o repertório cultural europeu era 
tomado como referencial para a análise de civilizações 
milenares, como Índia, China e América Latina, 
inferiorizadas, portanto, por quão distintas eram da 
cultura europeia, motivo pelo qual foram tratadas como 
culturas primitivas. 
No entanto o humanismo atual é aquele que já 
conta com uma antropologia pós-colonialista, ou seja, 
desvencilhada dos interesses imperialistas e 
neocoloniais. Compreender os povos a partir das 
diferenças que guardam não é mais uma tarefa 
antropológica voltada para a política de dominação dessas sociedades, mas constitui uma 
tarefa científica de um campo já firmemente consolidado. 
Ocorre que, pensando nos objetos de interesse da Antropologia, as significativas 
mudanças concernentes ao uso social dado a esta disciplina modificaram, 
consubstancialmente, seus enfoques. 
Como vimos, no séc. XIX, matizada pelo evolucionismo e a serviço do imperialismo, a 
Antropologia focou as sociedades designadas como “primitivas”, na periferia do sistema, a 
partir de uma postura etnocentrista e eurocentrista, enquanto a Sociologia ocupou-se das 
sociedades “civilizadas”, no centro do sistema capitalista, motivo pelo qual seus objetos 
estavam, nitidamente, diferenciados. No período pós-colonial, em que várias sociedades tidas 
como primitivas deixaram de ser compreendidas dessa forma, ou desapareceram ou foram 
assimiladas por suas antigas metrópoles, a Antropologia experimentou sua mais grave crise, 
tendo que redefinir seus objetos. 
 
 
 
 
 
Charles George Gordon – Enviado 
para proteger as possessões britânicas 
na África. 
 
 
 
Buscando designações menos valorativas, o termo “sociedades primitivas” foi dando 
lugar, por influência da Sociologia, ao termo “sociedades simples”, caracterizadas, segundo 
Émile Durkheim (um dos pais da Sociologia moderna), no modelo mais simples possível, pela 
ausência de escrita (sociedades ágrafas), pela ausência de instituições, de complexas 
estratificações ou hierarquias sociais, de processos de burocratização, normatização e de 
jurisdização. Evidentemente, no extremo oposto, temos sociedades tipificadas, portanto, como 
complexas. 
Estudando, ainda, as sociedades de tipo simples, no presente, a Antropologia avançou 
sobre o campo de interesse da Sociologia, buscando, dentro de sociedades complexas, 
unidades de convívio social que obedecessem a estruturas simples. É o caso, por exemplo, da 
contraposição “campo / cidade”, esta ocupada então pela Sociologia e aquela pela 
Antropologia. 
Ocorre que a Antropologia teria avançado ainda mais sobre os objetos de interesse 
sociológico, buscando compreender sociedades tribais na forma urbana, ou melhor dizendo, 
tribos urbanas, cujas lógicas organizativas podem ser caracterizadas de tipo simples, mas com 
lócus de organização no seio de sociedades complexas. 
Sobrepondo-se e acotovelando-se na disputa pelos mesmos objetos, muitas vezes os 
estudos antropológicos, pelo caráter sociológico que guardam, ou os estudos sociológicos, 
pela inclinação antropológica que manifestam, tornam impossível distinguir o que é uma 
ciência e o que é outra, ou ainda, se determinado objeto é de interesse antropológico ou 
sociológico. 
Comrelação a outra ciência, a História, a questão se verifica um tanto mais simples, 
uma vez que sociedades do passado portadoras de escrita, na forma simples ou complexa, são 
de interesse eminentemente histórico, enquanto a Antropologia se ocupa, tratando de 
sociedades do passado, daquelas não-portadoras de escrita. 
 
 
Com isso, a Antropologia contemporânea, segundo nos esclarece Lévi-Strauss, 
interessa-se tanto por sociedades simples como pelas complexas, tendo suas teorias e 
métodos, erigidos para a compreensão de sociedades simples, contribuído, sobremaneira, 
para a compreensão de todos os tipos de sociedades, inclusive as complexas. Teria havido, 
ainda, uma espécie de democratização do uso social do conhecimento antropológico, uma vez 
que seus saberes teriam deixado de servir apenas aos atores dominantes em sociedade, 
servindo para a transformação das condições de vida de segmentos menos privilegiados, 
alijados do desenvolvimento social e das estruturas de poder. 
Aliada a um novo humanismo, a Antropologia projeta-se para a contemporaneidade a 
partir, primordialmente, de uma postura universalista. 
Para isso, o etnocentrismo vem dando lugar ao princípio da alteridade, que implica em 
“ver-se do outro”, ou seja, reconhecer-se naquele que, de ímpeto, somos compelidos a 
compreender como “estranhos”. Reconhecer o outro, por quão distinto seja, implica em 
reconhecer fundamentalmente o direito (como valor) à diferença. 
O princípio fundamental é que cada cultura tem, para si, um repertório moral que se 
desdobra num conjunto de valores e práticas sociais. Nesse sentido, é preciso que o 
observador externo àquela cultura não permita que suas próprias referências, na forma de 
moral, valores e práticas, sirvam de base comparativa para a compreensão daquela cultura. É 
preciso, antes de tudo, chegar à moral e aos valores da cultura que se pretende analisar, para, 
então, compreender, mais adequadamente, os sentidos e significados das práticas sociais sob 
investigação. 
 
 
Os diferentes objetos, etapas do método e as diferentes antropologias 
 
O século XX foi o período no qual, tendo se libertado das amarras do evolucionismo, a 
Antropologia pôde ampliar seu foco, almejando a totalidade da condição humana, a 
totalidade das sociedades e das épocas nas quais poderiam ser esquadrinhados seus objetos 
de investigação. Tentando uma compreensão completa e totalizante a respeito do Homem, 
não se pode dizer de uma Antropologia tão somente, mas de várias antropologias. 
A primeira distinção que se faz, atinente às duas dimensões primordiais da existência 
humana, é entre uma dimensão física e outra cultural, da qual se desdobram a Antropologia 
Física e a Antropologia Cultural. Referindo o intelecto humano, temos uma terceira 
Antropologia, a Filosófica. Uma série, ainda, de outras antropologias ramifica-se desses 
troncos principais, subdividindo a ciência de acordo com as características específicas de seus 
objetos, que aparecem como unidades simples do todo complexo que constitui o Homem. 
 
 
 
A Antropologia Cultural, conforme se consolidou esta corrente nos Estados Unidos, 
algumas vezes referida como Antropologia Social, forma nominada pela antropologia 
britânica, foca a dimensão cultural da existência humana, a partir das criações humanas 
materiais (de existência concreta ou objetiva) ou imateriais (de existência abstrata ou 
subjetiva). Como Antropologia Social, primordialmente da forma como a definiu Radcliffe-
Brown, focam-se especificamente as formas de organização das sociedades humanas, seus 
sistemas de parentesco, estruturas familiares, hierarquias sociais, sistemas políticos, relações de 
poder etc. Especificamente, seu objeto de investigação seriam as relações sociais e a estrutura 
social. 
Segundo a proposta de Radcliff-Brown, a Antropologia Cultural focaria o homo faber, 
ou seja, o Homem como produtor de cultura material e imaterial, enquanto a Antropologia 
Social se interessaria pelas sociedades humanas, na medida de sistemas culturais partilhados 
em sociedade. 
Por sua vez, a Antropologia Cultural ou Social desdobra-se em duas outras dimensões: 
a etnografia, que se refere às práticas de pesquisa de campo, nas quais uma cultura é objeto 
de observação e registro; e a etnologia, que se refere à etapa posterior de análise das 
descrições acerca de determinada cultura, o que inclui a mobilização ou mesmo redefinição 
dos marcos teóricos cabíveis para a análise. 
ETNOGRAFIA 
práticas de pesquisa de campo, nas quais uma cultura é objeto 
de observação e registro. 
ETNOLOGIA 
etapa posterior de análise das descrições acerca de determinada 
cultura, o que inclui a mobilização, ou mesmo, redefinição dos 
marcos teóricos cabíveis para a análise. 
 
A relação entre etnografia, etnologia e Antropologia refere-se, exatamente, às etapas do 
método em Antropologia Cultural ou Social, a saber: observação, descrição e análise de 
grupos humanos e de fenômenos culturais a ele relativos, o que inclui sua sistemática 
classificação e taxionomia, tanto para a dimensão de cultura material quanto imaterial. 
 
Antropologia Física dimensão física da existência humana 
Antropologia Cultural dimensão cultural da existência humana 
Antropologia 
Filosófica 
dimensão intelectual da existência humana 
 
 
Na dimensão etnológica, a pesquisa antropológica pode enveredar por três distintas 
posturas. A etnologia geográfica é aquela na qual os hábitos recolhidos são associados àqueles 
de grupos humanos circunvizinhos, buscando-se correlações que possam explicar o fenômeno 
cultural observado. A etnologia histórica empreende abordagens comparativas parecidas com 
a geográfica, contudo privilegiam-se grupos humanos distintos no tempo, não no espaço, 
buscando-se as origens de sistemas culturais em práticas tradicionais do passado, legadas à 
posteridade de forma geracional. A etnologia sistemática, por sua vez, é aquela que isola o 
sistema cultural enfocado, buscando identificar suas particularidades sem contrastá-las com 
nenhum outro grupo humano. 
Sendo assim, etnografia, etnologia e Antropologia não devem ser consideradas 
disciplinas distintas, apesar do grau relativo de autonomia que lhes vem constituindo, mas 
devem ser compreendidas, articuladamente, como áreas complementares e que desvelam 
etapas distintas da pesquisa antropológica. 
A Antropologia Física ou Biológica é aquela focada nos aspectos biotípicos do homem, 
seus caracteres físicos e herdados hereditariamente. Características morfológicas, anatômicas, 
fisiológicas e genéticas são relativizadas a partir da influência que o meio físico exerceria sobre 
aspectos evolutivos humanos. 
Ambas, Antropologia Cultural e Antropologia Física, constituem as principais 
dimensões do saber antropológico, seguindo o ambicioso mas possível objetivo de elucidar os 
enigmas da existência humana. 
 
 
 
 
 
Para o caso de você desejar se aprofundar em algumas questões trabalhadas no conteúdo, 
disponibilizamos, aqui, uma relação de materiais complementares que podem ser 
extremamente elucidativos. 
 
Livros: 
CARVALHO, Eide M. Murta (org.). O pensamento vivo de Darwin. São Paulo: Martin Claret, 
1986. 
MORE, Thomas. A utopia. São Paulo: Martin Claret, 2008. 
ROTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura. São Paulo: Hemus, 19--. 
VIERTLER, Renate Brigitte. A refeição das almas. São Paulo: Hucitec-EDUSP, 1991. 
 
Filmes: 
“A Missão”; dir.: Roland Joffé 
“O último dos moicanos”; dir.: Michael Mann 
“Alexandre”; dir.: Oliver Stone 
 
 
 
 
Material Complementar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à 
África, São Paulo, Brasiliense, 1985. 
DURKHEIM, Émile e Marcel MAUSS, “Algumas formas primitivas de classificação: 
contribuição para o estudo das representações coletivas”. Em Ensaios de Sociologia, São 
Paulo, Perspectiva, 1981, pp. 399-455.EVANS-PRITCHARD, E.E. Os Nuer. São Paulo, Editora Perspectiva, 2002. 
MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a Dádiva”. Em Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro, 
Cosac & Naify, 2004. 
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978. 
SAHLINS, Marshall. Ilhas de História, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1990. 
LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. São Paulo, Companhia Ed. Nacional, 
1976. 
MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Brasília, Editora 
da UnB, 2003. 
MATTA, Roberto da. “Carnavais, malandros e heróis". Em Carnavais, malandros e heróis: 
para uma sociologia do dilema brasileiro. 4 ed. Zahar, 1983. 272 p. 
MATTA, Roberto da. “Relativizando". Em Relativizando: uma introdução à antropologia 
social. 4 ed. Rocco, 1993. 246 p. 
RIBEIRO, Darcy. "Os Índios e a civilização". Em Os Índios e a civilização: A integração das 
populações indígenas no Brasil moderno. 6 ed. Vozes, 1993. 508 p. 
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. "O índio e o mundo dos brancos". Em O índio e o mundo 
dos brancos. 3 ed. Universidade de Brasília, 1981. 131 p. v. 
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Perspectivismo e Multinaturalismo na América Indígena”. 
Em A Inconstância de Alma Selvagem, São Paulo, Cosac & Naify, 2002, pp. 345-399. 
 
 
Referências 
 
 
 
 
 
 
 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
_________________________________________________________________________________ 
 
Anotações

Continue navegando