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Lei 10 639 2003 - obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira

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Lei 10.639/2003 - obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira"
DIREITO À EDUCAÇÃOEDUCAÇÃORACISMOLDB 9394/96LEI 10.639/2003
Lei 10.639/2003 - obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira"
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Publicado por Camila Moreira
há 3 meses
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Pelas alterações propostas pela lei em epígrafe, o texto da LDB passou a determinar o seguinte:
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
§ 3o (VETADO)"
"Art. 79-A. (VETADO)"
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’."
Neste contexto, cumpre mencionar que o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no Brasil sempre foi lembrado nas aulas de História com o tema da escravidão negra africana. A Lei 10.639/03 propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro-brasileira e africana. Por exemplo, os professores devem ressaltar em sala de aula a cultura afro-brasileira como constituinte e formadora da sociedade brasileira, na qual os negros são considerados como sujeitos históricos, valorizando-se, portanto, o pensamento e as ideias de importantes intelectuais negros brasileiros, a cultura (música, culinária, dança) e as religiões de matrizes africanas.
Com isso, o conteúdo programático do ensino médio e fundamental passou a incluir o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. Conforme dispõe a lei, esses conteúdos devem ser ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, mas especialmente nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
O ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, após a aprovação da Lei 10.639/03, fez-se necessário para garantir uma ressignificação e valorização cultural das matrizes africanas que formam a diversidade cultural brasileira. Portanto, os professores exercem importante papel no processo da luta contra o preconceito e a discriminação racial no Brasil. Para o cumprimento da legislação neste formato, é necessário a desconstrução de saberes reproduzidos anteriormente à lei e disseminados pela existência de uma literatura que sempre apresentou o negro africano na condição de escravo submisso e passivo, e promover formação continuada aos profissionais que devem abordar a temática.
De forma geral, os livros didáticos já estão quase todos adaptados com o conteúdo da Lei 10.639/03, mas, as ferramentas que os professores podem utilizar em sala de aula são múltiplas, e para tanto a formação é essencial.
A fim de aprofundar o tema e estabelecer orientações às instituições de ensino, o Ministério da Educação publicou em 2004 a Diretriz Nacional para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, através da qual confirma a necessidade de políticas de reparação, bem como busca a desmistificação da democracia racial no país. O texto explicita uma série de equívocos comuns no momento da abordagem da questão racial e direciona os professores quanto ao tratamento adequado ao tema.
Na parte introdutória dessa diretriz, o MEC propõe a divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial - descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.
Nesse viés, propõe políticas de reparações, de reconhecimento e valorização, de ações afirmativas por compreender que a demanda por reparações objetiva que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também a que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de discriminações.
Ao discorrer sobre essa temática, cumpre-nos registrar que em 2008 foi sancionada a Lei nº 10.645/2008, que igualmente alterou a LDB para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Nesse sentido, esta prática educativa pautada no reconhecimento da diversidade é considerada um importante instrumento no combate ao racismo, como também para reverter a imagem negativa que se formou em torno das populações não brancas como consequência do processo colonizador de sua cultura; pois segundo Munanga (2005), a questão da memória coletiva, da história, da cultura e da identidade dos alunos negros, afrodescendentes e indígenas são apagadas no sistema educativo baseado no modelo eurocêntrico. O resgate da memória coletiva e da história destas comunidades não interessa apenas aos alunos desses grupos étnico-raciais, mas também aos alunos de outras ascendências étnicas, principalmente branca, pois ao receber uma educação envenenada pelos preconceitos, eles também tiveram suas estruturas psíquicas afetadas.
Por fim, é importante ressaltar que, entre os significativos avanços na legislação brasileira, se destacam ainda o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/2010) e a Lei de Cotas para ingresso nas universidades e instituições de ensino técnico federais (Lei nº 12.711/2012), frutos do reconhecimento aos esforços dos movimentos sociais antirracistas, e sobretudo, o histórico pronunciamento unânime do Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade das ações afirmativas que consagra a legitimidade e a necessidade de políticas públicas de promoção da igualdade racial.
INDICADORES DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO – RELAÇÕES RACIAIS NA ESCOLA
Trata-se de um instrumento que permite à comunidade escolar avaliar suas práticas, ao tempo em que descobre novos caminhos para construção de uma educação com a marca da igualdade racial. Essa metodologia participativa orientou a própria elaboração dos indicadores, desenvolvidos por meio de amplo trabalho coletivo por iniciativa da organização não governamental Ação Educativa.
Este instrumento aduz que toda criança e todo o adolescente têm direito a uma educação de qualidade e inclusiva, baseada no reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos diversos povos que ajudaram a formar nossa sociedade multiétnica e multirracial. Nesse sentido, todos os setores do Estado e da sociedade, assim como cada cidadão e cidadã, são agentes indispensáveis na tarefa de assegurar a inclusão equânime de todos os grupos sociais nos processos de desenvolvimento do país. Isso só será possível por meio da universalização de uma educação anti-discriminatória e de qualidade.
O racismo ainda é um problema pouco assumido na sociedade brasileira. Muita gente diz: aqui na minha escola ele não existe! Ou: Aqui a gente não vê racismo! Porém, as estatísticas oficiais e diversas situações cotidianas dizem o contrário: o racismo existe, está presente entrenós. É necessário nos dispormos a reeducar nossos olhares, ouvidos e atitudes para reconhecê-lo, e atuar para superá-lo, bem como outras discriminações presentes na sociedade e nas escolas, sejam elas contra mulheres, homossexuais, deficientes, nordestinos, imigrantes, entre outras.
O racismo afeta profundamente a qualidade das instituições educacionais, prejudicando a trajetória escolar e comprometendo a garantia do direito humano à educação de milhões de crianças, adolescentes, jovens e adultos de nosso país. Enfrentá-lo é um desafio de toda sociedade brasileira, conforme destaca o Parecer das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico--raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana , aprovado pelo Conselho Nacional de Educação em 2004.
Os Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola foram desenvolvidos em decorrência da magnitude e da complexidade da questão racial no Brasil e, especificamente, na educação do país. Eles podem ser usados de forma articulada com outros Indicadores da Qualidade na Educação (Ensino Fundamental e Educação Infantil) e também com demais materiais da coleção Educação e Relações Raciais. São eles:
• o Guia Metodológico;
• o vídeo Educação e relações raciais: apostando na participação da comunidade escolar;
• o vídeo Educação e relações raciais: diálogos Brasil e África do Sul;
• os nove cartazes Afro-brasilidades em Imagem.
Assim como os outros Indicadores da Qualidade na Educação, existem muitos jeitos de utilizar os Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola. O material é um instrumento de autoavaliação escolar bastante flexível que pode ser utilizado e adaptado de acordo com a criatividade, a experiência, as condições e a realidade de cada escola. A seguir, vamos apresentar algumas ideias para alimentar o processo de utilização dos Indicadores por parte de sua escola.
• É importante que a escola constitua um grupo de pessoas para organizar o processo de utilização dos Indicadores. Na medida do possível, o grupo deve ser composto por gestores/as escolares, coordenadores/as pedagógicos/as, professores/as, familiares e estudantes, com diferentes pertencimentos raciais presentes na comunidade escolar.
• É fundamental que o Conselho Escolar esteja envolvido em todo o processo de utilização dos Indicadores, contribuindo também para mobilizar o conjunto da escola. Lembramos que o racismo é um obstáculo para a melhoria da qualidade da educação e um desafio a ser enfrentado por todos e todas, não somente por ativistas e educadores/as que sempre trabalharam com a questão racial.
• Os Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola foram elaborados para escolas de Ensino Fundamental. O trabalho com eles pode ser desenvolvido em articulação com os Indicadores da Qualidade na Educação (Ensino Fundamental). Parte dos Indicadores da Qualidade de Educação – Relações Raciais na Escola também pode ser adaptada para a Educação Infantil e usada em articulação com os Indicadores da Qualidade na Educação (Educação Infantil). O mesmo grupo da escola/creche pode avaliar a pertinência de articular esses processos e fazer as adaptações necessárias à etapa (Educação Fundamental, Educação Infantil e Ensino Médio) e modalidade educacional, às condições e à realidade da instituição educativa.
• O planejamento do trabalho com os Indicadores deve prever a mobilização da comunidade escolar, definir o tempo necessário, preparar o espaço físico para que ele seja acolhedor e providenciar os materiais que serão usados nas atividades.
A mobilização da comunidade escolar (estudantes, familiares, profissionais de educação, integrantes de organizações comunitárias etc.) para participar da avaliação é um ponto-chave de todo o processo. Quanto mais pessoas dos diversos segmentos se envolverem em ações para a melhoria da qualidade educacional, maiores serão os ganhos para crianças, adolescentes, jovens e adultos que estudam; maiores serão os ganhos para a escola, a sociedade e a educação do país. O uso dos indicadores pode fortalecer os vínculos entre escola e a comunidade do entorno, pois o cumprimento das leis 10.639/2003 e 11.645/2008 também depende de mudanças culturais envolvendo toda a comunidade escolar.
Este material foi elaborado para apoiar a escola no diagnóstico dos seus problemas e na busca de soluções para a melhoria da qualidade educacional, tendo como focos a superação do racismo no cotidiano escolar e a implementação da Lei n. 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional ( LDB). Os Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola são compostos por sete dimensões:
(1) Relacionamentos e atitudes – é a dimensão que introduz e concretiza, por meio de perguntas aos/às participantes, o que significa abordar as relações raciais no cotidiano escolar em seus diferentes aspectos.
(2) Currículo e prática pedagógica – a dimensão estimula discussões sobre quais perspectivas e conteúdos a escola prioriza nos processos de ensino-aprendizagem e como eles são aborda-dos junto aos alunos no sentido de promover uma escola mais sintonizada com a realidade, a diversidade de saberes, experiências, histórias e estéticas, e com a igualdade racial e os direi-tos humanos.
(3) Recursos e materiais didáticos – a dimensão aborda a existência, o acesso, o uso e a organização de recursos e materiais didáticos que apoiem processos pedagógicos comprometidos com o ensino da história e da educação brasileira, bem como a educação das relações raciais, previstos na Lei n. 10.639/2003 e em suas Diretrizes.
(4) Acompanhamento, permanência e sucesso dos/das estudantes na escola – a dimensão problematiza as condições da escola para garantir a permanência e o sucesso de todos os seus estudantes na aprendizagem, em especial dos alunos e alunas negras e de outros grupos social e historicamente discriminados.
(5) A atuação das/dos profissionais de educação – a dimensão chama a atenção para o papel fundamental dos profissionais da educação na construção de uma educação antirracista e não discriminatória. Apresenta questões que estimulam a reflexão dos profissionais sobre suas concepções de relações raciais e de como elas impactam o cotidiano escolar.
(6) Gestão democrática – a dimensão traz um conjunto de questões que partem do entendimento de que o desenvolvimento de uma gestão democrática “pra valer” anda de mãos dadas com o reconhecimento e a valorização efetiva da diversidade na escola. Faz perguntas que provocam a escola a refletir até que ponto seus processos e condições estimulam e garantem a participação da comunidade escolar e quais os mecanismos que operam contra isso.
(7) Para além da escola – a dimensão estimula a escola a refletir que o avanço na garantia do direito humano à educação passa por sua maior articulação com a comunidade do entorno, com os movimentos sociais – entre eles, os movimentos negros e com outras instituições, setores governamentais e grupos que devem compor a rede de proteção dos direitos da criança e do adolescente, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente ( ECA/1990), como conselhos tutelares, unidades de saúde, serviços de assistência social, sistema de justiça etc.
Cada uma dessas sete dimensões do material reúne um conjunto de indicadores. Cada indicador é composto por duas partes: um pequeno texto que explica o que ele é e um grupo de perguntas bem concretas para estimular o debate da comunidade escolar, que estará reunida para avaliar os desafios da escola e, posteriormente, construir um plano de ação.
As metodologias baseiam-se no seguinte triângulo conceitual:
É importante que todos e todas as participantes entendam os objetivos dos Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola e também os principais conceitos utilizados. Todo o material, bem como as instruções de uso está disponível no site http://www.indicadoreseducacao.org.br./
Trata-se de uma iniciativa com o apoio do UNICEF (Fundo das Nações Unidas paraa Infância e Juventude), INEP/MEC (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Ministério da Educação), Governo Federal, UNDIME (União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação, entre outros.
Registramos ainda, que o texto da Base Nacional Comum Curricular passou por inúmeras leituras e análises; coleta de contribuições e audiências públicas, gerou três versões antes de que chegasse ao atual texto em reflexão. A BNCC dentro de suas competências gerais estabelecidas, traz alguns pontos que nos interessam mais detidamente, são eles:
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. (BNCC, 2018 p. 9;10)
No item 6 das competências gerais é preciso que as equipes de construção de conteúdos se monitorem para compreender a “diversidade de saberes” que cada lugar abriga, desvinculando-se de projetar um quadro irreal de imagens, valores e interesses, abster-se de valorizar excessivamente imagens e representatividades que pouco tenham a ver com o universo onde os estudantes se inserem, ou seja, embora se possa ensinar como outras culturas e povos vivem, é contraproducente diminuir os valores e símbolos próprios da localidade, do estado ou do país. Mais que isso, é necessário que o cidadão em formação (não só na educação infantil) possa se ver como alguém que em algum momento estará contribuindo para a coletividade e usufruindo das contribuições dos demais.
No item 8 destacam-se que é impossível cuidar da “saúde física e emocional” própria ou dos convivas em um meio social agressivo, desrespeitoso, diminuído de valores por meio de depreciações geradas por racismo, xenofobia e demais preconceitos. Veja que não se trata de permissividade ou vitimíssimo, mas respeitabilidade entre os seres na medida dos deveres de cada um no meio social que seja sala de aula, quer sejam espaços de urbanidade, neste ponto faz todo o sentido os termos “consciência crítica e responsabilidade” de todos os envolvidos, incluindo profissionais da educação.
No item 9 compreende-se que “exercitar a empatia” significa reconhecer que existe possivelmente uma pré-formação social que ainda não é o da empatia por aqueles que não se parecem comigo, essa pré-formação advém muitas vezes da exposição às violências (reais ou virtuais) em famílias pouco ou de nenhuma estrutura; uso de mídias interativas sem filtro crítico-moral dos pais e/ou responsáveis ou vivência em comunidades de risco.
Na unidade temática "O sujeito e seu lugar no mundo", focalizam-se as noções de pertencimento e identidade. No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, busca-se ampliar as experiências com o espaço e o tempo vivenciadas pelas crianças em jogos e brincadeiras na Educação Infantil, por meio do aprofundamento de seu conhecimento sobre si mesmas e de sua comunidade, valorizando-se os contextos mais próximos da vida cotidiana. Espera-se que as crianças percebam e compreendam a dinâmica de suas relações sociais e étnico-raciais, identificando-se com a sua comunidade e respeitando os diferentes contextos socioculturais. (BNCC, 2018; p. 360)
Professores e gestores naturalmente reconhecem quais as procedências dos seus públicos com maior ou menor acuidade. Então, a existência de jogos, projetos, atividades que melhorem ou desenvolvam a empatia pelo outro podem prevenir choques geradores de possível bullying ou racismo, por exemplo. O desenrolar do item corrobora esse entendimento, portanto, neste ponto esta competência dirige-se aos conteúdos destinados a convivência entre os indivíduos.
Para tanto, requer o desenvolvimento de competências para aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades. (BNCC, 2018; p. 14)
É necessário um pensar da escola em sua integralidade, ou seja, entender, analisar e se preciso, modificar a atuação, organização e funcionamento daquilo quem ou daquele setor que esteja alheio ao compromisso de erradicar posturas de má convivência, resgatar inclusive aspectos de cordialidade e cumprimentos sociais, estendendo a boa convivência também aos demais servidores da escola que comumente passam desconsiderados no ambiente escolar. A integralidade não significa somente a extensão de tempo de permanência na escola ou o acumulado de conteúdos meramente teóricos e avaliativos.
A BNCC privilegiou ou preferiu adensar as questões de cumprimento da Lei Federal 10.639 nos conteúdos de Língua Portuguesa, Artes e História, mas aparecem também em Geografia e Ciências. Neste contexto é importante fazer levantamento sobre os autores negros clássicos e da contemporaneidade, de foram a que o estudante possa se inteirar de que existem proeminentes construtores do conhecimento em diferentes indivíduos que muitas vezes ficam invisibilizados pela cor da pele ou se apresentam branqueados nas mídias e nos livros.
Assim como no conteúdo que se desenvolva para a Língua Portuguesa, é importante que os elaboradores saibam buscar referências artísticas do universo negro além dos tradicionais artistas de origem europeia e dos EUA. Contemporaneamente quais os representante negros mais expressivos? Essa marcação de espaço tende a servir de referência para estudantes negros e vista de despertar neles a visão positiva e a possibilidade de carreira futura.
Na área de Geografia é possível trabalhar diversos aspectos da formação de grupos sociais distintos e sua relação com o grau de inclusão existente na unidades de ensino e atendimentos por parte das políticas públicas. No trecho em destaque acima a observação é que cada lugar, cada contexto localizado precisa ser levado em conta tendo em vista focar no interesse da comunidade local e contemplar de seus pertencimentos.
Compreender as razões econômicas e sociais que levam a êxodos, afastamento dos cidadãos do campo, das comunidades quilombolas para buscar meios de subsistência, bem como a desvalorização da cultura de origem pelo não acolhimento dos pares nas escolas públicas e particulares é tema a ser explorado para fomentas cultura de inclusão.
Na área de História é que se encontra a maior parte das indicações para a construção de conteúdos com foco em Educação para as Relações ÉtnicoRaciais, para o Ensino de história e Cultura Afro-brasileira, quilombola e Cigana, respaldados nos conceitos de “formação dos povos”; condições sociais, grupos migrantes, diversidade cultural e cidadania tendo em vista o acumulado dos séculos de formação da civilização brasileira e as relações advindas de conflitos e modificação de conceito.
Por fim, no que diz respeito a área de Ensino Religioso, convém verificar sempre os textos legais das diretrizes específicas que respaldam cada conteúdo. Fazer firme oposição a qualquer tipo de proselitismo na conduta profissional e barrar depreciação de valores que não são homogêneos na sociedade e diante dos públicos. Observar a bagagem trazida pelo aluno do seio familiar, procurando não violentar as crenças, criando obrigações constrangedoras e desprezando a ação voluntária de aprendizado.Primar pelo ensino de religiosidades presentes no país do ponto de vista de amostragem e reconhecimento, dando a condição de que cada indivíduo permaneça com sua profissão de fé, caso ela se manifeste.
Por todo o exposto, temos que a Educação para as Relações Étnico-Raciais é um conjunto de práticas, conceitos, e referenciais implícitos e explícitos que pretende formar no âmbito das instituições de ensino público e particular uma cultura de convivência respeitosa, solidária, humana entre públicos de diferentes origens, pertencimentos étnico-raciais presentes no Brasil e que se encontram nos espaços coletivos de aprendizagem (escolas, faculdades, centros formativos). Impulsiona-se esta política a partir das demandas nacionais e internacionais para o combate ao racismo, xenofobia e todas os preconceitos e intolerâncias que geram violências na sociedade e atingem também os espaços de educação (escolar ou superior). Estas demandas levantadas historicamente pelos públicos-vítimas (negros, mulheres, ciganos, indígenas, homossexuais, entre outros), com destaque para os movimentos de libertação, emancipação e reconhecimento do Movimento Negro a partir principalmente dos levantes e organização de Zumbi dos Palmares e Ganga Zumba no Brasil do século dezessete até o ano 2001, quando aconteceu a Conferência Internacional de Durban na África do Sul onde o governo brasileiro torna-se signatário de uma Declaração com diversos compromissos a implementar.
Diversos marcos legais foram criados antes e depois da Conferência de Durban, mas uma política educacional para fazer enfrentamento aos racismo só começa realmente a ter forma com a promulgação da Lei nº 10.639/2003 onde fica determinada a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na educação básica. Essa lei, embora longe de contemplar tudo o que a população negra necessita, representou um avanço que poderia ser praticado.
Por conclusão, a Base Nacional Comum Curricular não pode ser levada em conta como o único documento utilizado para construção de conhecimentos, programas, materiais didáticos, paradidáticos, cursos e instrumentos normativos em educação para as relações étnico-raciais, mas deve ser considerada e consultada como ponto de partida para localizar nos Marcos Regulatórios já existentes as definições e conceituações, objetivos e metas didático-pedagógicas.
É preciso ainda levar em conta que a BNCC precisa não somente ser entendida e estudada, mas sua prática ser efetivada na mudança, construção ou atualização dos Projetos Políticos Pedagógicos e Programas de Cursos dos Sistemas e instituições, bem como nas atitudes reproduzidas pela comunidade escolar.
Como estabelecem os Pareceres Curriculares do Conselho Nacional de Educação no que se referem à Educação Étnica, continua sendo altamente recomendável ouvir representantes das comunidades, grupos étnicos organizados e especializados nas melhores abordagens temáticas evitando reforço de estereótipos e perpetuação de agressões, racismos e exclusões nos ambientes educativos.
Camila F. Moreira - Pedagoga

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