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DIFERENÇAS, DIVERSIDADES E DESIGUALDADES NA EDUCAÇÃO INFANTIL FICHA CATALOGRÁFICA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA FICHA TÉCNICA APRESENTAÇÃO Bem-vindo à disciplina Diferenças, diversidades e desigualdades na educação infantil. Será um prazer embarcar contigo neste percurso pelo estudo dos principais conceitos e práticas que envolvem essa importante discussão. Nessa unidade, estudaremos aspectos a serem considerados sobre a diversidade cultural na formação continuada. Vamos lá? UNIDADE 4 Diversidade e diferença e a formação continuada de professores Objetivos • Historicizar brevemente a diversidade cultural da formação inicial • Apresentar aspectos a serem considerados sobre a diversidade cultural na formação continuada. 4 1. Diversidade e diferença e a formação continuada de professores Faz parte do protagonismo docente o estudo e a pesquisa constantes. Atuar na educação é assumir posturas humanizadoras, críticas e reflexivas para a elaboração de estratégias pedagógicas que correspondam aos documentos oficiais, mas com autoria pedagógica. O debate e a valorização das diferenças vêm ao encontro da formação docente como caminho para a redução e possível eliminação e luta contra situações de preconceito, racismo e discriminação. Existem posturas a serem assumidas quando nos dedicamos a compreender melhor e nos responsabilizarmos por uma educação que respeita e valoriza as diferenças e diversidades. Lembrando que que diversidade é a pluralidade de realidades, a valorização do diferente, promoção da interação social independentemente de raça, etnia, sexualidade, classe ou gênero. Educadoras e educadores têm grande responsabilidade por estarem frente a mediação de bebês, crianças e jovens não apenas de temas pedagógicos, mas todos os assuntos da esfera social que adentram as escolas. Diante disso, o estudo permanente precisa fazer parte da rotina docente. É preciso assumir as próprias fragilidades em relação aos conhecimentos de temas e assuntos que não foram tratados em sua formação inicial e se dedicar a entendê-los. Diversidade, inclusão e acessibilidade são termos que se complementam, mas tem diferenças pontuais e que precisam estar bem claros para a realização de um trabalho que visa transformar e não aceitar injustiças e desigualdades. Quando a educação é a prática da liberdade, os alunos não são os únicos chamados a partilhar, a confessar. A pedagogia engajada não busca simplesmente fortalecer e capacitar os alunos. Toda a sala de aula em que for aplicado um modelo holístico de aprendizado será também um local de crescimento para o professor, que será fortalecido e capacitado por esse processo. Esse fortalecimento não ocorrerá se nos recusarmos a nos abrir ao mesmo tempo em que encorajamos os alunos a correr riscos.” (HOOKS 2017 pg. 35) É nesse processo coletivo que se concretiza a formação continuada e permanente, a partir do reconhecimento de que todas as pessoas envolvidas estão caminhando para o mesmo objetivo que é a construção de uma sociedade mais justa. Sabemos que a formação inicial não garante todo o repertório teórico do currículo dos cursos de formação de professores que já estão dentro de suas especificações. Dessa forma, temas que têm ganhado relevância e ampliação de pesquisas na contemporaneidade, como diversidade, inclusão e sustentabilidade, por exemplo, tem tratamento mais simplório na maioria dos cursos de formação pedagógica, fato que aumenta a urgência da formação continuada e permanente a respeito de tais temáticas. A inovação no que tange aos cursos de Pedagogia não está na negação da polivalência na formação do futuro docente, mas na superação de um tratamento disciplinar e descoordenado dos conteúdos e das metodologias, fragmentando o conhecimento e comprometendo a ideia de professor polivalente que só se apropria e articula os conhecimentos básicos das diferentes áreas do conhecimento a serem trabalhadas nas etapas de ensino em questão. (PEDROSO et al. 2017, p.31) Considerando essa fragilidade da formação inicial, precisamos pensar as alternativas para as lacunas que podem ter sido deixadas pelo caminho. Sendo um grande desafio da atualidade, a superação das desigualdades educacionais e de oportunidades em geral, que os povos indígenas, a população negra, a comunidade LGBTQIA+, os povos migrantes e as pessoas com deficiência sofrem como decorrência de opressão, racismo, preconceito e discriminação decorrente processos históricos e complexos, o enfrentamento e a ruptura com tais situações necessita de novas posturas e práticas educativas. Caso contrário, as práticas docentes pautadas em currículos e projetos pedagógicos que não consideram uma perspectiva multicultural nas escolas estarão sempre em desacordo com as demandas atuais da comunidade escolar e de toda a sociedade. Saiba mais Para conhecer melhor os programas do MEC voltados à formação continuada de professores, acesse: http://portal.mec.gov.br/formacao http://portal.mec.gov.br/formacao 2. Estratégias formativas Vale a pena lançarmos mão do que os documentos oficiais dizem para termos embasamento legal ao abrirmos as discussões sobre educação para a diversidade. No artigo n° 206 da Constituição Federal, além da liberdade de aprender e de ensinar, o texto estabelece o pluralismo de ideias. Já a Lei de Diretrizes e Bases para Educação (LDB) de 1996 coloca entre os princípios da Educação, o respeito à liberdade e o apreço à tolerância. Dessa forma, vamos mostrando que estudar sobre diversidade na formação de professores é uma forma de atender ao princípio constitucional de pluralismo de ideias, mas também de construir ações e posturas para garantir tolerância entre as diversas maneiras de se expressar, de pensar e de viver. Segue a lista de alguns documentos que marcam a importância da educação para a diversidade: Educação das Relações Étnico-Raciais Parecer CNE/CEB nº 2/2007, aprovado em 31 de janeiro de 2007: Parecer quanto à abrangência das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Parecer CNE/CEB nº 6/2011, aprovado em 1º de junho de 2011 - Reexame do Parecer CNE/CEB nº 15/2010, com orientações para que material utilizado na Educação Básica se coadune com as políticas públicas para uma educação antirracista. Educação Escolar para Populações em Situação de Itinerância Parecer CNE/CEB nº 14/2011, aprovado em 7 de dezembro de 2011 – Diretrizes para o atendimento de educação escolar de crianças, adolescentes e jovens em situação de itinerância. Resolução CNE/CEB nº 3, de 16 de maio de 2012 - Define diretrizes para o atendimento de educação escolar para populações em situação de itinerância. Educação Especial Parecer CNE/CEB nº 17/2001, aprovado em 3 de julho de 2001 - Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de 2009 - Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Educação Indígena Parecer CNE/CP nº 6/2014, aprovado em 2 de abril de 2014 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores Indígenas. A dinâmica das unidades escolares precisa da construção de diálogos constantes entre o coletivo e os momentos internos de formação precisam ser permeados por questões que envolvam uma educação multicultural. Além da necessidade de que diálogos aconteçam cotidianamente, as equipes de educadores e gestores precisam pautar seus estudos e debates se aproximandodas questões e demandas culturais que envolvem as experiências da própria comunidade. Dessa forma, amplia-se o interesse do coletivo, pois há reconhecimento e identificação com as necessidades dessa formação. Os estudos vão ganhando coerência e as estratégias são estudadas e elaboradas a partir de situações concretas. A marca individual é construída a partir da rede de relações que participamos durante a vida. O indivíduo está sempre inacabado e é a sua historicidade que permite compreender a sociedade como uma rede, constituída de pessoas em constante crescimento e transformação, pois cada um depende das relações que estabelece com os outros e se transforma a partir do entrelaçamento que estabelece com eles: estamos constantemente nos moldando e remoldando uns em relação aos outros. (WARSCHAUER 2017, pg. 126) Segundo Charlot (2005), para que a pessoa se mobilize intelectualmente é preciso que a situação de aprendizagem tenha um sentido. Consequentemente, a prática reflexiva se torna decorrente de um permanente processo de significação para as experiências docentes vividas pelos professores e identificação com a prática vai construindo um caminho para os planejamentos e projetos ficarem cada vez mais próximos das necessidades de bebês, crianças e estudantes. A ampliação de conhecimentos acerca da diversidade cultural, quando leva em consideração os contextos multiculturais vivenciados por docentes e sua comunidade escolar, constrói um repertório pautado em um contexto específico e evita equívocos de tratamento homogeneizado aos temas. No entanto, é importante pontuarmos que a educação para a diversidade é um tema universal na educação e suas diferentes camadas, temas e contextos devem ser estudados e debatidos constantemente. A educação para a diversidade deve reconhecer e responder às diversas demandas de sua comunidade, considerando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem, também. Sendo assim, assegurar uma educação humanizada e respeitosa em relação às diferenças requer uma grande mudança não apenas nos estudos, mas eles precisam reverberar na prática cotidiana, nas posturas e tomadas de atitudes de toda a comunidade escolar. A revisão curricular e a escrita de documentos internos como o Projeto Político Pedagógico devem ser revistos para modificações e inclusões necessárias tanto de termos e vocabulários, como para inclusão de estratégias de ensino. No entanto, uma transformação significativa exigirá novos posicionamentos por parte da escola, de seus gestores e do corpo docente. Consideramos que não será efetivo criar projetos pedagógicos, pesquisas, palestras, oficinas se a equipe silenciar diante de situações cotidianas de racismo, machismo, homofobia, xenofobia, gordofobia ou qualquer outra situação de preconceito e discriminação. Isso envolve intervenções em situações que ocorram entre bebês, crianças e estudantes, tanto quanto entre funcionários e familiares. Não basta ter documentos e projetos que declarem tolerância e respeito, é preciso ter atitude combativa e de enfrentamento aos problemas do dia a dia. A realização das ações pedagógicas necessita olhar para sistema educacional como um todo que atua para a construção de novas atitudes diante de uma sociedade que tem problemas com a diversidade e que precisa ser transformada, não é suficiente tratar as questões identificadas em uma turma ou um grupo de bebês, crianças e estudantes como estruturas descoladas da realidade do restante do grupo. É preciso enfrentamento e discussões que envolvam o coletivo. Desafios para os educadores Educadores e gestores devem estar dispostos a romper com paradigmas e reconhecer a necessidade de constantes mudanças educacionais. Reconhecer também que não se modifica nem transforma a sociedade de um dia para o outro ou apenas com a construção de um projeto pedagógico pontual. Os esforços são cotidianos e é comum que desafios novos surjam, novas demandas apareçam. Para isso, o coletivo precisa estar fortalecido para saber onde se apoiar teoricamente e ter respaldo para construir resolução para os problemas. Os estudos de Tardif (2002) apontam que a prática de educadores integra diferentes saberes, com os quais mantêm diferentes relações. De acordo com o autor, os professores, se relacionam com os diferentes saberes de maneira a valorizar e se reconhecer mais facilmente naqueles advindos da experiência pois, a partir deles é que julgam e apreciam o que está a sua volta. Vamos praticar? Faça a leitura do texto de Tardif, conforme link fornecido abaixo e faça um mapa mental com o essencial da concepção de Tardif. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1755381/mod_resource/content/1/Saberes%20docentes%2 0e%20forma%C3%A7%C3%A3o%20profissional.pdf Conclusão A educação para a diversidade é um desafio cotidiano diante do confronto que é necessário em qualquer situação de ruptura com tradições e conservadorismo. Mas pode fluir melhor nos diálogos e estudos se encarada como uma oportunidade para que educadores mobilizem esforços para a multiplicação e disseminação de ações que realmente impactam na vida das pessoas. Esse é um campo de estudos e práticas que ricos para o intercâmbio de experiências e quanto mais inclusivo, mais respeitoso, mais bebês, crianças, estudantes e familiares se sentirão pertencentes. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1755381/mod_resource/content/1/Saberes%20docentes%20e%20forma%C3%A7%C3%A3o%20profissional.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1755381/mod_resource/content/1/Saberes%20docentes%20e%20forma%C3%A7%C3%A3o%20profissional.pdf Referências É HORA DE DISCUTIR A DIVERSIDADE NA ESCOLA. TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020. DISPONÍVEL EM: HTTPS://TODOSPELAEDUCACAO.ORG.BR/NOTICIAS/E-HORA-DE-DISCUTIR-DIVERSIDADE-DENTRO-DA-ESCOLA/. ACESSO EM: 2 DE JUNHO DE 2022. HOOKS, BEL. ENSINANDO A TRANSGREDIR: A EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DE LIBERDADE. 2ª ED. – SÃO PAULO : EDITORA WMF MARTINS FONTES, 2017. WENDT, GUILHERME WELTER; SCHOLL, RAPHAEL CASTANHEIRA. FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A DIVERSIDADE: ENFRENTANDO O DESAFIO. IN: PRO-POSIÇÕES - DOSSIÊ: PEDAGOGIAS, RACIONALIDADES E REPRESENTAÇÕES DO/SOBRE O CORPO (XIX-XX) - V. 22, N. 3 (2011) PEDROSO, CRISTINA CINTO ARAÚJO; ET AL. CURSOS DE PEDAGOGIA: INOVAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES POLIVALENTES. – 1ª ED. – SÃO PAULO: CORTEZ, 2019 REDE DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE. DISPONÍVEL EM HTTP://PORTAL.MEC.GOV.BR/REDE-DE-EDUCACAO- PARA-A-DIVERSIDADE/APRESENTACAO. ACESSO EM 24/06/2022 WARSHAUER, CECÍLIA. RODAS EM REDE: OPORTUNIDADES FORMATIVAS NA ESCOLA E FORA DELA. 2ª ED. VER. AMPL. RIO DE JANEIRO: PAZ E TERRA, 2017.